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A revolta não aparece explicitamente nas cenas narradas pelo longa metragem, há um
breve momento de confronto com a enfermeira Susie em que Vivian se recusa a fazer
exames, e afirma que não gostaria de fazer agora, é necessário que a enfermeira olhe de
maneira mais severa e autoritária. A cena é seguida por outra marcadamente depressiva, onde
a paciente se mostra mais desesperançosa, recita um poema de John Donne para dizer que a
morte está próxima, também afirma que o poema era muito mais interessante quando não
vivenciado por ela. Segundo a personagem não há mais alívio em sua vida, apenas “a
próxima coisa a ser feita”, Simonet afirma que a rotina do paciente na posição da depressão é
sem graça, sem cor, não há prazer, as coisas são feitas apenas por fazer.
A fase do enfrentamento trata-se do momento em que o paciente pode encarar sua
doença de uma maneira realista, é marcada pelo uso de luto e força entrelaçados. Em certo
ponto do tratamento Vivan começa a aceitar que está no posição de vítima admite que
gostaria de um contato mais humanizado, há uma conversa franca com Susie na qual a
paciente encara a morte e admite que no fundo já entendia que o tratamento não estava
funcionando, as duas trabalham em conjunto definindo quais são as vontades de Vivan
quando ocorrer a parada cardíaca. Essa atitude vai de encontro ao que Simonetti (2016)
considera vivenciar a fase do enfrentamento. “ Não estamos livre das contingências e
limitações da vida, mas somos livres para decidir o que vamos fazer a partir delas”.
O diagnóstico médico é mais direto e preciso, segue parâmetros da medicina e deve
conter: o nome da doença, sua condição aguda ou crônica, os sintomas principais, o
tratamento proposto, a medicação em uso, a aderência ao tratamento, o prognóstico, o risco
de contágio e o nível de proteção requerido, além das comorbidades.
Dra. Bearing tem câncer metastático avançado nos ovários, detectado no estágio 4, ele
era indetectável nas fases iniciais, o tratamento proposto contém 8 ciclos de quimioterapia,
utilizando as doses máximas de hexametofosfacil e Vinplatin, também seriam necessários
exames agressivos e que danificam suas células saudáveis, resultando em dores agudas,
tempo de isolamento, vômito, dificuldades digerir alimentos entre outas comorbidades.
Vivian aderiu ao tratamento de maneira responsiva. O filme dá a entender que o prognóstico
da doença não resultaria em cura da paciente, apenas em diminuição do tumor, o que seria
relevante para fins acadêmicos.
O diagnóstico situacional trata-se de uma visão holística do paciente, observando
áreas indiretamente relacionadas com a doença: vida psíquica, vida social, vida cultural, e
dimensão corporal. Esse diagnóstico aponta uma grande diferença entre a psicologia e a
medicina, visto que a medicina não se atém a esses aspectos. No filme não há interesse por
parte dos médicos, quem ocupa esse papel é a enfermeira Susie que abre espaço para
conversar e escutar Vivian, entretanto o apoio ainda é mínimo. Mas é possível perceber que
Vivian tem um ciclo social restrito, durante toda a hospitalização apenas uma pessoa a visita.
Já a vida cultural é movimentada, visto que ela é uma estudiosa de poesia do século
XV, não há muitos detalhes sobre a percepção física do corpo mas Vivian parece estar
satisfeita ou não dar muita importância para seu corpo, é uma pessoa discreta em seu jeito de
se portar e de vestir. Alguns traços que são possíveis de enxergar em sua personalidade é a
reflexão, introspecção, rigidez, organicidade, com o agravamento do adoecimento é possível
notar culpa e arrependimento por ter sido uma professora muito exigente que deixou a “parte
humana” de lado, e agora percebe como isso faz falta pois seu médico foi um de seus alunos.
No diagnóstico transferencial será buscado entender como a pessoa se relaciona com
o ambiente em que está adoecendo, considera-se a relação com a equipe, médico, instituição,
família e psicólogo. No caso de vida não existe psicólogo hospitalar e tampouco relação com
a família, mas relações com médicos e equipe são bem marcantes. Os médicos a veem de
maneira fragmentada, em uma de suas reflexões ela admite que não é sua pessoa que está
sendo tratada e estudada ali, são os seus ovários. A relação beneficia em que Vivian pode se
apoiar é com a enfermeira Susie que a encontra em momentos de solidão e se preocupa em
garantir as vontades dela sobre realizar o protocolo total.
Simonetti (2016) aborda que as técnicas do psicólogo hospitalar não devem ser vistas
como receitas rígidas, mas sim, que devem adequar-se a cada situação. Alguns pontos
expostos pelo autor são, primeiramente, olhar para uma perspectiva de buscar identificar os
pensamentos e sentimentos do indivíduo que está hospitalizado, ou seja, exercer escuta ativa.
Como mencionado, não há um psicólogo hospitalar no caso de Vivian. Felizmente,
Susie desempenha um papel muito importante desenvolvendo a escuta e uma boa
comunicação juntamente dela. Nesse caso, se houvesse a presença do psicólogo, seria muito
benéfico para a possibilidade da paciente expressar seus pensamentos e emoções, assim como
na maior parte do tempo, ela fala para a câmera no filme. Além disso, o profissional poderia
repetir algumas informações ou finalidades de alguns procedimentos que os médicos traziam
com uma linguagem difícil e totalmente acadêmica.
Outra estratégia importante, é proporcionar um ambiente de acolhimento e afeto em
que o paciente possa ter a possibilidade de estar naquele local mantendo sua subjetividade,
tendo sempre como objetivo principal a minimização do sofrimento para aquele indivíduo.
No caso de Vivian, seria essencial que o profissional psicólogo procurasse contatar a
rede de apoio, e de certa forma, estabelecer uma relação de possibilitar uma roupa individual,
sapatos quando possível, conversas sobre auto-imagem e autoestima, proporcionar comidas
que a agradasse e deixar livros a disposição ou uma televisão. Entretanto, o principal ainda é
ter a presença de alguém que a proporcionasse apoio e a sensação de estar segura, onde ela
pudesse expressar seus medos e angústias.
REFERÊNCIAS