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Universidade Federal Rural do Semiárido

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde - Curso de Medicina


Eixo de Atenção Primária da Saúde
Disciplina de Ferramentas da Medicina de Família e Práticas Integrativas

Discente: Isadora Pereira Bandeira - Semestre 2023.1

Narrativa Crítico Reflexiva sobre o filme e a relação médico-pessoa

O filme ‘’Golpe do Destino’’ retrata parte da vida de um médico cirurgião, Jack Mackee,
que descobre um tumor maligno na laringe, o deixando impossibilitado de exercer partes de
suas atividades pessoais, entre elas, a prática médica. Antes mesmo do diagnóstico de
Jack, é perceptível a relação do médico com seus pacientes e com alguns colegas de
trabalho, de modo que podemos observar um distanciamento entre ele e seus pacientes,
além de uma visão subestimada sobre todos os processos da doença, dos sintomas, das
dores, do respeito e da autonomia do paciente e sobre o que ele sente. Essa distorção é,
infelizmente, ainda muito percebida na realidade, visto que a relação médico-paciente ainda
se revela muito distante, o que reforça uma frágil sensação de confiança, acolhimento e
cuidado do paciente para com o médico.
Nessa perspectiva, parafraseando a médica de cuidados paliativos, Dra. Cláudia
Quintana Arantes, existe, diversas vezes, na visão do médico a ideia de que aquele próximo
paciente é ‘’só mais um’’, enquanto que para o paciente aquele próximo ou primeiro médico
pode ser a ‘’solução’’ ou o ‘’auxílio’’ dos seu problema de saúde, das suas dores crônicas,
entre outros. No filme, podemos observar que, para além disso, Jack ainda tinha práticas
condenáveis e imorais, quando, por exemplo, zombava do quadro de alguns pacientes,
devido ao seu problema de saúde. Contudo, quando ele ficou doente e assumiu a posição
de ‘’vulnerabilidade’’ por estar enfermo, começou a ser tratado por alguns profissionais da
mesma maneira como ele tratava seus pacientes. Nesses momentos do filme, podíamos ver
seu desconforto com a maneira que era tratado, além da cobrança que ele fazia aos
profissionais em ser ‘’melhor tratado’’ já que era médico daquele hospital; nessa fase do
filme, ele passou a ser considerado pelas pessoas como um paciente normal, sem
distinções pela sua posição social ou profissional, o que nos fez observar, gradualmente,
uma quebra de ideia do personagem sobre sua opinião quanto a maneira de lidar com seus
pacientes.
Durante a fase do tratamento do câncer de Jack, ele começa a frequentar a sala de
radioterapia, onde conhece uma paciente, June, a qual tinha um tumor cerebral de nível
avançado e dificuldade de cura. June e Jack passam a conversar na sala de espera,
enquanto ele reclamava da demora de ser atendido e de não ser priorizado na fila por ser
médico. June mostra a ele que os profissionais só estão fazendo seu trabalho e, em
seguida, eles começam um diálogo que resultará numa amizade profunda. June,
entendendo a efemeridade da vida e a possibilidade real da morte, começa a mostrar a
Jack sobre tudo que ele vê com distorção. Concomitante a isso, Jack passa pelos
procedimentos médicos, sendo transportado em maca, cadeira de rodas, assistindo e
ouvindo os outros profissionais se referirem aos pacientes de forma esnobe e
antiprofissional, além de receber seu prognóstico sem nenhuma delicadeza, de forma
descuidada e ‘’crua’’ pela médica que tratava de seu caso, e, ironicamente, como o ele fazia
com os seus próprios pacientes, antes de adoecer.
Todos esses processos de vivência de Jack como enfermo, além da amizade com June,
que tanto o ensina sobre a possibilidade do fim da vida, despertam nele a perspectiva
distante da relação médico-paciente, já que agora ele vivenciou os dois lados e consegue
entender o quanto esse relacionamento é frágil e, algumas vezes, desumano. Diante disso,
Jack inicia seu processo de desconstrução sobre como vivenciava a medicina e sua prática
médica, de modo que, nas conversas com sua esposa e filho, ele percebe que também era
distante e ausente, assim como fazia na sua vida profissional. Nesse cenário, as conversas
entre Jack e June possuem um caráter de desabafo, e o médico sente-se confortável para
ser honesto sobre seus sentimentos e suas recentes descobertas. Essa elucidação o ajuda
a entender o processo de desconstrução que está vivendo e dá a ele a perspectiva de que
precisa melhorar enquanto pessoa e enquanto profissional.
No fim do filme, June falece, Jack passa pelo luto e pela cirurgia de retirada do tumor.
Nessa fase, ele começa a colocar em prática tudo que foi percebido e processado durante o
período da doença. Então, começamos a ver Jack e a esposa conversarem sobre tudo que
aconteceu, a melhora da relação com seu filho e a vontade em melhorar enquanto médico,
principalmente no que tange à relação com seus pacientes, de modo que percebemos a
concretização dessa mudança nos seguintes atendimentos feitos por ele. Vê-se assim, a
importância dessa discussão no meio acadêmico, visando esse entendimento da
necessidade de uma relação médico-paciente que seja a mais próxima do ideal, a fim de
alcançar a segurança e o acolhimento feito pelo médico, construindo a sensação de cuidado
pelo paciente.

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