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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM


DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
GERENCIAMENTOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE E ENFERMAGEM

ANA CAROLLYNE SALES FALCÃO


BEATRIZ EVANGELISTA DE MORAIS LOPES
EDELY SANTIAGO MARTINS
FRANCISCO MAURÍCIO SOUSA DA SILVA
SAMUEL FERNANDES DE OLIVEIRA

ESTUDO DE CASO N° 11

FORTALEZA-CE
2022
BRAINSTORMING
O que sabemos sobre o assunto:
- Distanásia;
- Prolongamento do sofrimento;
- Paciente tem autonomia sobre o estado de saúde;
- Tomada de decisão imposta pelo profissional médico;
- Família incluída no plano de cuidados;
- Princípios bioéticos;

O que queremos aprender:


- Como o enfermeiro deve lidar com a situação?
- Como evitar situações como essa?
- É necessário fazer RCP em paciente paliativo?
- Pensamento crítico do Enfermeiro;
- Como fazer uma comunicação eficiente entre a equipe de saúde multidisciplinar?

DESCRIÇÃO DO CASO

Nome do Paciente João Pedro

Idade do Paciente: 80 anos

Situação atual: Portador de câncer pulmonar em fase


avançada, totalmente debilitado, caquético,
diversas lesões por pressão

Lugar: Estava em casa e foi levado ao hospital


pelo SAMU

Cenário: Senhor João Pedro no último suspiro, os


filhos muito ansiosos, mas cientes da
gravidade. A enfermeira conversa com o
médico e questiona se não seria injusto
reanimar essa vítima, devido às condições
clínicas, porém o médico não concorda e
inicia as manobras de reanimação
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS

‌DE, I. et al. Mestrado Integrado em Medicina. [s.l: s.n.]. Disponível em:


<https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/66086/2/30825.pdf>.

‌FREIRE, M. E. M. et al. Qualidade De Vida Relacionada À Saúde De Pacientes Com


Câncer Avançado: Uma Revisão Integrativa. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v.
48, p. 357–367, 1 abr. 2014.

‌GAUDENCIO, D.; MESSEDER, O. Dilemas sobre o fim-da-vida: informações sobre a prática


médica nas UTIs. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. suppl 1, p. 813–820, 2011.

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01) A temática CENTRAL do caso apresentado: do que se trata?

A temática central do caso apresentado está relacionada a ordem de reanimar ou


não um paciente. Contudo, muitos fatores, não simples, estão envolvidos nesse cenário,
como, por exemplo, o estado do paciente, pois já está em uma fase avançado do câncer e
com muitas características adjacentes que o debilitam mais, além da sua idade avançada,
sendo um ancião, a ansiedade da família, apesar de serem cientes da gravidade e a falta de
acordo entre os profissionais do serviço de saúde, com a enfermeira defendendo um
posicionamento e o médico com outro posicionamento.

02) As competências gerenciais envolvidas

Na situação do caso, pode-se listar e analisar algumas competências gerenciais,


como a Liderança, a Comunicação, a Tomada de decisão e a Negociação. A liderança é a
capacidade de influenciar a fim de atingir ou superar objetivos, sendo usada para alinhar
estratégias e pensamentos com o intuito de seguir a missão, os valores e a visão da
instituição. Se a liderança estivesse sido eficaz no caso, os posicionamentos opostos teriam
sido alinhados e seguido uma estratégia que seria segura e correta para o paciente e para a
instituição.
A comunicação é a capacidade de compartilhar informações, conhecimentos,
experiências, ideias e emoções, expressas verbalmente e não verbalmente no processo de
interação interpessoal. Se essa competência estivesse sido eficaz, os profissionais
envolvidos teriam chegado ao um acordo, não apenas um fazendo a tomada de decisão
baseado nas suas próprias ideias e experiências. A comunicação deve ser clara, objetiva e
adequada, demonstrando interesse e atenção ao ouvir e falar.

A tomada de decisão é a capacidade de desenvolver um processo de escolha da


melhor alternativa, para que ela ocorra, a comunicação deve ser assertiva e a liderança
deve se posicionar corretamente. A tomada de decisão deve estar baseada em
conhecimentos e práticas, considerando os limites e os riscos. Além de ser necessário um
julgamento das ações e responsabilidades de quem decide, tendo condutas imparciais.

A negociação é a capacidade de alcançar resultados desejados nas relações entre


partes, com o consenso, conhecimento dos fatos, com preceitos éticos, legais e
técnicos-científicos. A negociação deve ser baseada no diálogo, logo, a comunicação é de
suma importância. A construção de um relacionamento positivo, a compreensão do papel
de ambas as partes e a busca por bons resultados são pontos fundamentais para essa
competência. Se estivesse acontecido uma negociação na situação do caso, as decisões
tomadas teriam sido baseadas nas partes envolvidas, com a busca de um bom resultado
para o paciente.

03) O tipo de problema identificado


O problema identificado está relacionado a comunicação e tomada de decisão sobre
reanimar ou não o paciente. Situações como essas são muito difíceis de lidar, tanto para
equipe como também para a família do paciente. No entanto, é necessário ter um olhar
humanizado dado as condições do paciente, que encontra-se com câncer em estado
avançado e já em cuidados paliativos. Além desse dilema, observamos também um
desacordo entre a equipe, onde o médico realiza a tomada de decisão sozinho sem levar
em consideração a situação e qualidade de vida do paciente, a opinião da outra profissional
que acompanha o atendimento, bem como da família do paciente.

04) As pessoas envolvidas (profissionais e pacientes) e seus papéis na situação


A primeira pessoa envolvida é o paciente. Como já citado, ele está em cuidados
paliativos por conta de um câncer. Encontra-se já bem debilitado e sem autonomia para
tomar suas próprias decisões sobre a sua situação e tratamento de saúde, necessitando do
auxílio de seus familiares e profissionais de saúde.
A segunda pessoa envolvida é a filha do paciente, ciente da situação do pai, mas ao
mesmo tempo com desejo de mantê-lo vivo, a filha solicita o serviço de saúde para que
prestem atendimento. No entanto, a filha naquele momento, não leva em consideração a
qualidade de vida do pai.
Outra pessoa envolvida na situação, é o profissional médico. Ele realiza a tomada de
decisão de começar a reanimação, porém ele entra em desacordo com a Enfermeira que
está acompanhando o atendimento. Além disso, ele baseia a sua decisão em suas próprias
convicções e ideias.
Por fim, temos a enfermeira que tenta advogar em favor do paciente. Ela tenta, entrar em
acordo com o médico, para que a tomada de decisão seja correta e levando em
consideração a vontade do paciente e dos familiares.

05) Possíveis justificativas para a situação

Ao analisarmos bem a situação apresentada no caso, podemos observar que o


paciente, por sua condição clínica, é característico de cuidados paliativos. Visto que
qualquer tipo de tentativa de prolongar a vida, acabaria prolongando também seu
sofrimento, sendo assim caracterizado como distanásia. Desse modo, a enfermeira
responsável pelo paciente ao observar a complexidade do quadro do mesmo, questionou o
médico sobre a necessidade de reanimação, visto que o médico não estava levando em
consideração a qualidade de vida do paciente. Portanto, as questões pessoais do médico o
levaram a ir de encontro com a conduta correta perante a situação. Além disso, a falta de
comunicação efetiva dentro da equipe, observada no momento em que o profissional
médico ignora a indagação da enfermeira, é um dos fatores que acarretaram à situação
apresentada.

06) Estratégias para lidar ou atuar de forma a melhorar a conduta profissional na


situação simulada

É muito comum esse dilema nos profissionais de saúde. É uma situação difícil tanto
para os profissionais como também para a família aceitar a não reanimação do seu ente
querido. No entanto, na situação simulada o paciente é idoso e já está em situação de
cuidados paliativos e, segundo a OMS, um dos princípios básicos dos cuidados paliativos é
não apressar ou retardar a morte, portanto, a reanimação nesse caso iria contra os
princípios, e em vez de cuidados paliativos se tornaria uma distanásia, ou seja, a RCP só
teria a finalidade de postergar a morte e apesar de ser uma decisão que causa uma
angústia em todos que dela participam, oferecer a esses pacientes a opção de não realizar
manobras de RCP é conduta amparada moral e eticamente.

Logo, é importante evitar a futilidade terapêutica, ou seja, a medicina deve tornar


clara, com base científica, os limites entre o tratamento proporcional ou desproporcional e
ter protocolos que abranjam as mais diversas situações para não se ter divergências de
condutas para a não reanimação, afinal, o emprego de RCP desnecessárias podem gerar
trauma físico e emocional tanto no paciente quanto nos seus entes próximos.

Além disso, de acordo com a Resolução CFM 1.995/12 (CFM, 2012), o paciente
pode elaborar uma Diretiva Antecipada ou pedir ao médico para registrar os seus desejos
com relação às condutas terapêuticas, ou seja, o paciente deve ter autonomia e o direito de
escolher se deseja ou não ser reanimado. Ter esse consentimento destacado nos
entendimentos jurídicos e discutidos com a família sem dúvida seria essencial para evitar
divergências de reanimação como a demonstrada na simulação.

Ademais, outra estratégia importante seria a educação continuada sobre cuidados


paliativos, humanização e medidas para evitar a distanásia, oferecida para os profissionais
de saúde, para que eles consigam ter uma melhora na sua conduta profissional e decidam
de forma prudente e científica, mas também vejam o paciente de forma holística mudando o
modelo biomédico de querer salvar o paciente a qualquer custo e pensando em uma
possível prolongação do sofrimento.

07) Faça uma relação com os conteúdos ministrados em sala de aula: O que o
aprendizado sobre gestão em Enfermagem contribui para a tomada de decisões
nessa situação apresentada?

Ao relacionar o caso em questão com os conhecimentos apreendidos em sala de


aula, nota-se que o Enfermeiro, na sua função de gerenciador do cuidado, dispõe de
atributos que lhe dão autonomia e segurança durante a tomada de decisão. A vítima
encontra-se em um estado bastante debilitado decorrente do câncer de pulmão, somado a
lesões por pressão, caquexia e idade igual a 80 anos.

Nessa situação, a equipe de saúde necessita reconhecer o quadro desse paciente,


considerando os aspectos biopsicossociais, para assim escolher a melhor opção, que seria
os cuidados paliativos. Entretanto, o caso aponta que não houve um diálogo na equipe, no
qual o profissional médico optou pela reanimação. Em síntese, pode ser caracterizado como
Distanásia, prolongamento da vida sem garantia de nenhum benefício ou qualidade de vida
para o indivíduo.

O Enfermeiro, nesse momento, necessita de um pensamento crítico sobre o


contexto do caso e em hipótese alguma aceitar passivamente a decisão do médico. A
Enfermagem tem autonomia para discutir acerca da melhor decisão a ser tomada, pois são
os profissionais que mais entram em contato com o paciente e no juramento da profissão é
prometido garantir cuidado humanizado em toda extensão da assistência de saúde,
promovendo uma morte no tempo certo, com conforto e dignidade.

Além disso, é necessário cumprir os princípios da bioética, no caso, não concordar


com a reanimação é seguir o princípio da beneficência e não maleficência. Ademais, a
gestão de qualidade é uma ferramenta que contribui positivamente em uma tomada de
decisão como essas. Nesse tipo de gestão, encontra-se profissionais que se articulam
harmoniosamente em prol de uma assistência digna, tecnicamente bem treinados e que
adotam os 7 pilares de Donabedian: Eficácia, Eficiência, Aceitabilidade, Efetividade,
Otimização, Legitimidade e Equidade.

Outrossim, o Enfermeiro dispõe de competências gerenciais que embasam toda a


assistência prestada. Uma das mais importantes é a Liderança, sendo uma das ações
norteadoras o desenvolvimento de atividades com justiça, equidade e ética na tomada de
decisões. O trabalho em equipe também é primordial para se obter atuação eficaz, efetiva e
eficiente, sempre baseado em princípios, processos e valores. Outra competência bastante
importante, principalmente no caso em questão, é a visão sistêmica, pois é indispensável a
visualização do impacto a partir da tomada de decisão.

REFERÊNCIAS
IDALBERTO CHIAVENATO; PILAR MASCARÓ SACRISTÁN; JESÚS MARES CHACÓN.
Introducción a la teoría general de la administración. [s.l.] México ; Bogotá Mcgraw-Hill
Interamericana Editores, 2014.

FERNANDES, Ana Sá; COELHO, Sílvia Patrícia Fernandes. Distanásia em unidade de


cuidados intensivos e a visão de enfermagem: revisão integrativa. Revista Cuidarte, v. 5, n.
2, p. 813-819, 2014.
LEHNEN, H. H.; DUARTE, B. V.; CHIAMULERA, L. C.; BONAMIGO, E. L. Ordem de não
reanimar pacientes em fase terminal. Anais de Medicina, [S. l.], n. 1, p. 73–74, 2018.
Disponível em: https://periodicos.unoesc.edu.br/anaisdemedicina/article/view/18861. Acesso
em: 10 dez. 2022.

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