Você está na página 1de 8

22.

º Curso de Licenciatura em Enfermagem


Unidade Curricular Psicologia da Saúde
Professora Maria João R. Coelho

Caso do Senhor J

Alice Braga, n.º 20961 da turma A2

Diogo Santos, nº 20966 da turma A2

Micaela Chiorescu, n°20976 da turma A4

Letícia Almeida, n º21542 da turma A4

Filipe Caeiro, n°21008 da turma A4

Fevereiro
2021
INDÍCE

1-INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3
2-COMUNICAÇÃO .................................................................................................................... 3
3-COMPORTAMENTO.............................................................................................................. 5
4-COGNIÇÕES DA DOENÇA/SAÚDE .................................................................................. 7
5-CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 8
6-BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 8

2
1-INTRODUÇÃO

O Sr. J. , é um homem de 58 anos, que com o passar do tempo começou a sentir


falta de apetite e cansaço. É acompanhado pelo seu médico de família, onde foi
diagnosticado com uma neoplasia gástrica. Quando lhe é dada a notícia, ele não
acredita nas palavras do médico. Desta forma ele recorre a tratamentos alternativos
para a sua falta de apetite e com o decorrer dos dias, sente um agravamento do seu
estado.

Neste caso clínico, é possível abordar diversos fatores importantes no que diz
respeito à aceitação da doença, comunicação médico-paciente, empatia da equipa de
saúde e influência de fatores externos.

2-COMUNICAÇÃO

A comunicação é um fator importante para a aceitação da doença.


“Comunicação é um processo dinâmico e multidirecional de intercâmbio de informação,
através dos diferentes canais sensório-percetuais que permitem ultrapassar as
informações transmitidas pela palavra” (Neto, Isabel et al in Manual de Cuidados
Paliativos). Para que haja uma boa comunicação e se consiga alcançar a compreensão
por parte do doente, é necessário que o contexto da conversa seja antecipadamente
preparado, seja apresentada empatia pelo doente, sejam feitas questões abertas e seja
validada a compreensão da informação através de perguntas. Para realizar este tipo de
comunicação estão em causa algumas competências tais como fazer perguntas, dar
informação, assertividade, empatia, honestidade, autenticidade, disponibilidade,
compreensão e sensibilidade. Deve-se estabelecer uma relação terapêutica e empática.
No caso do Sr. J., ocorreram diversas falhas na comunicação por parte da equipa
de saúde. Após receber os resultados dos exames, ocorreu uma comunicação pobre,
hostil e em nada empática por parte do médico de família. O médico de família ao
validar a presença de um cancro, reencaminha o Sr.J. a outro médico, acabando por
não responder às questões do seu paciente. O médico fez um tipo de comunicação não
terapêutica, não validando a compreensão do doente em relação à sua condição.
O modelo da hipótese cognitiva da adesão proposto por Ley, é um bom exemplo
para explicar a insatisfação do Sr.J., relativamente à informação que lhe foi dada. Este
modelo defende que a adesão por parte do doente se pode prever através da
combinação da satisfação do doente em relação à compreensão de informação dada e

3
a capacidade dessa informação ser memorizada. Por outras palavras, se o Sr.J., tivesse
compreendido o seu diagnóstico, ele teria aceite a sua condição. O doente deve ficar
sempre satisfeito e essa satisfação está relacionada com aspetos afetivos como o apoio
emocional e a compreensão, aspetos comportamentais como as prescrições e
explicações adequadas e aspetos profissionais como a competência do técnico de
saúde, o encaminhamento adequado e o diagnóstico. Os doentes gostam de receber
toda a informação possível relativamente á sua condição, seja a notícia boa ou má. Essa
informação promove a aceitação.
O médico deveria ter colocado em prática o modelo de adesão e comunicação.
Este modelo enfatiza a interação entre o doente e o técnico de saúde. A relação e a
interação que o técnico de saúde transmite ao doente, é uma base para a aceitação da
patologia. Se o médico de família tivesse interagido com o Sr.J. e tivesse prolongado
uma conversa, esclarecendo todas as dúvidas, explicando o resultado dos exames e
fazendo questões, a compreensão do Sr.J teria sido diferente.
Se o Sr.J tivesse compreendido o seu diagnóstico, não teria ido procurar
tratamentos alternativos. Neste caso os tratamentos alternativos recomendados são
produtos naturais. Este tratamento não só não resultou como deixou a condição do Sr.J
se agravar.

4
3-COMPORTAMENTO

“O comportamento é o produto, não de condições antecedentes específicas,


mas de mudanças interiores espontâneas” (B. F. Skinner). O comportamento do Sr.J.
relativamente à sua condição, é influenciado por fatores externos (ambiente e família) e
internos (por exemplo a aceitação).
De acordo com a Teoria do Campo, desenvolvida por Kurt Lewin, o
comportamento do Sr. J., é influenciado pelo ambiente que o rodeia. Este ambiente
consiste no conjunto de fatores que afetam o indivíduo num determinado momento da
sua vida, sendo que, neste caso, podemos considerar o relacionamento com o primeiro
médico, a notícia repentina, que tem um cancro e as interações da família e da vizinha
como fatores que influenciaram o seu comportamento.
Os pressupostos desta teoria levam-nos ainda à Teoria da Gestalt, que defende
que para se compreender as partes, tem de se compreender o todo. Ou seja, para
compreendermos as escolhas feitas pelo Sr. J, bem como a atitude da sua família ao
culpabilizar a equipa de saúde, devemos analisar a situação na sua totalidade, desde
os acontecimentos iniciais.

Podemos identificar diferentes comportamentos no Sr.J. Como profissional de


saúde repudiamos abordagens relacionadas com as crenças da saúde, teoria da
atribuição, locus de controlo da saúde, otimismo irrealista e fase de mudança de
comportamento.

A teoria da atribuição, proposta por Heider e Kelley, os indivíduos estão


motivados para ver o mundo como previsível e controlável. O Sr.J., ao saber o seu
diagnóstico ficou perplexo. A patologia desenvolvida pelo Sr.J. é algo que não é
controlável por ele, ou seja, é difícil associar esta patologia como algo previsível e
controlável. As atribuições podem enquadrar-se consoante critérios. O critério aplicável
é o do consenso, quando a atitude do Sr.J., na procura de tratamentos alternativos é
baseada na partilha com a família e vizinha. Ocorre assim uma atribuição da causa de
um comportamento que é partilhada por outros.

O Locus de controlo de saúde proposto por Wallson, avalia se os indivíduos


encaram o seu estado de saúde como controlável e não controlável por eles mesmos,
ou ainda, se vêm o seu estado de saúde como estando sob o controlo entes poderosos.
O Sr.J., ao receber a notícia de que possuía um cancro, ficou perdido. Ele não queria
acreditar naquela realidade. Como ocorreu falta de comunicação do médico para com o
Sr.J., este desencadeou esperança de que o médico estivesse enganado. Esta

5
esperança desencadeia um estado controlável pois ele tenta controlar a sua condição
de cansaço e falta de apetite, seguindo os conselhos da família e da vizinha. A partir do
momento em que o Sr.J. se apercebe que nenhum desses tratamentos alternativos iria
ajudar, ele declara o seu estado como não controlável e assim culpabiliza a equipa de
saúde e procura arranjar outro tipo de ajuda.

O otimismo irrealista é uma teoria proposta por Weinstein, que relata que uma
das razões pelas quais as pessoas continuam a ter comportamentos prejudiciais para
saúde se deve a erradas perceções do risco. A verdade é que ninguém tem menos
probabilidades de contrair uma doença do que a restantes pessoas. Esta acreditação
de que os problemas não nos surgem a nós e apenas surgem aos outros, tem por base
as crenças. As crenças possuem um papel importante no contexto da saúde. Define-se
por crença a ação de acreditar na verdade ou numa possibilidade incerta. Pode ser sob
forma de fé no âmbito religioso e também sob forma de convicção íntima/valores
adquiridos pela pessoa. As crenças podem ser muito vantajosas como desvantajosas.
No caso do Sr.J., a acreditação de que o médico está enganado e de que a sua condição
se irá alterar com um chá, acaba por prejudicar a sua saúde.

O modelo das fases de mudança de comportamento, é uma teoria proposta por


Prochaska e Didemonte, que descreve o processo através do qual se induz a mudança
de comportamentos e a sua manutenção posterior. O modelo de mudança de
comportamento é baseado em cinco fases, das quais apenas quatro são aplicáveis a
este caso.

• Pré-intenção: Ele não pretendia fazer qualquer mudança, porque não


acreditava que estava com cancro.
• Intenção: Ele considerou a possibilidade de mudança pois procurou um
segundo profissional que recomendou um tratamento alternativo com produtos
naturais e até aceitou o conselho da vizinha de beber um chá natural.
• Preparação: Vai as consultas médicas recomendadas, mas só cumpre o que
acha que deve.

6
4-COGNIÇÕES DA DOENÇA/SAÚDE

As cognições da saúde/doença foram propostas por Leventhal e seus


colaboradores. As cognições da doença são como “crenças implícitas do senso comum
que o paciente tem sobre as suas doenças” (Leventhal). Estas cognições
proporcionavam aos pacientes o apoio de um esquema para o coping com a
compreensão da sua doença.

As cognições da doença estão subdivididas em várias dimensões. Neste caso, podem


aplicar-se as cinco.

• A identidade: O Sr. J. tem 58 anos de idade, é pai de família, trabalha numa


empresa de águas e revela um desconhecimento acerca de cancro, não associa
os sintomas ao diagnóstico. Acredita que possui uma doença que como sintomas
apresenta a falta de apetite e cansaço extremo. Essa doença não é aceite como
cancro.
• Causa percecionada da doença: Não se considera nada em específico que
tenha dado início, mas consideram a equipa culpada pela evolução negativa da
doença.
• Dimensão temporal: Desde que começou a sentir a falta de apetite e o cansaço
extremo, acredita que é uma doença simples que é facilmente curada e terá uma
duração curta. Com o tempo apercebe-se que padece de uma patologia grave,
que se encontra cada vez pior.
• Consequências: Devido à falta de conhecimento, o Sr. J. não compreende que
se não cumprir com a medicação, recomendações e tratamentos prescritos, ele
corre um sério risco de falecer ou sofrer sequelas que lhe irão acompanhar pelo
resto da vida.
• Possibilidade de cura e controlo da doença: Assim que o Sr. J. e respetiva
família entenderem que é possível a continuação da vivência, o controlo de
sequelas e da evolução da patologia, irão seguir tudo o que a equipa de saúde
lhes disser. O Sr. J. vai cooperar e tornar possível a recuperação total ou parcial
da doença pois nada pode ser forçado, ou seja, ao entender que a cura é
possível, a probabilidade dele se curar vai ser mais favorável.

7
5-CONCLUSÃO

A atitude inicial do médico, deveria ter sido mais empática para com o Sr.J. Por
vezes quando recebemos notícias más, que vão para além da nossa perceção,
reagimos de maneira incrédula. O médico deveria ter-lhe explicado toda a situação,
mostrando os exames e analisando em conjunto com o Sr. J. Deveria ter esclarecido
todas as dúvidas e respondido às questões. Dessa forma, o Sr.J. teria aceite a sua
condição e estaria disposto a começar os tratamentos.

6-BIBLIOGRAFIA

B. F. Skinner (2003). Ciência e Comportamento Humano (11ª edição). Livraria


Martins Fontes Editora Lida, São Paulo, Brasil: tradução João Carlos Todorov, Rodolfo
Azzi. Acedido a 11 de fevereiro de 2021 em
https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/38703989/Ciencia_e_comportamento_Humano_-
_Skinner.pdf?1441727672=&response-content-
disposition=inline%3B+filename%3DCiencia_e_comportamento_Humano_Skinner.pdf
&Expires=1613009736&Signature=GVx7M3Ahomvqs~l8768lJDFx6A9CA5Ea0url2L2n
snta1GGD3czjAAdF6QXdOhIRihgTJycWEe09Q0h9o27xpCDJEA-
61ypAlybnTNfkg5bgCD7KF2yntmG-
evTGdUwkH4qWVWL20OzMm0jF1gtFpqpIPaTQP5H1alXFXFYSoGLqapRwLKCYjdB
S4Qo49LLW~BQFWTkIWX3hNoaw9RPg3oHbSdsxg9GTO5VwID6xXWh1-
~NNCrD7ztjj7~kf3BR5RwjqydCwwP1-wHOW-dZvm-
paKOd9fceinJCgsmzUGfPOYbOdcEB1Mb5JG~3G6Bc9oD224aw6kpKANoWbr4iFqg_
_&Key-Pair-Id=APKAJLOHF5GGSLRBV4ZA

Você também pode gostar