Você está na página 1de 8

Trabalho de Psicossomática

Desenvolver uma estratégia de intervenção clínica para o caso do Sr. A

Caso do Sr. A.:Gênese e desenvolvimento de uma úlcera duodenal¹


História: Quando criança o Sr. A era quieto e obediente, enquanto seu irmão, três anos mais
velho, era agressivo e independente. Socialmente, Sr. A era muito próximo de seu irmão e de
sua companhia, estando sempre sob a proteção dele. Sr. A também passava muito tempo com
seus pais, os quais lhe davam muita atenção.
Situações estressoras: Quando o Sr. A tinha 13 anos, seu irmão faleceu. Cerca de dois anos
depois, seu pai também faleceu. Ambos os eventos foram muito significantes na adolescência
de Sr. A. Em seguida à morte de seu pai, sua mãe se tornou psicologicamente dependente do
Sr. A, consultando-o sobre problemas importantes e exigindo que ele substituísse seu irmão
mais velho e seu pai. Situações para as quais o Sr. A estava completamente despreparado
intelectualmente e de outras formas. Enquanto mantinha uma aparência externa segura, Sr. A
estava emocionalmente ativo/despertado e suas reações emocionais eram repetidamente
intensificadas pelas expectativas excessivas de sua mãe.
Sintomas: Aos 18 anos, Sr. A experienciou um curto período de desconforto estomacal,
seguido por uma hemorragia inicial de uma úlcera duodenal. Cinco anos depois, um raio-x
detectou sintomas gerais de uma úlcera ativa. Até essa idade Sr. A nunca havia tido um
relacionamento amoroso duradouro e satisfatório. Iniciou um processo psicoterapêutico,
livrou-se dos sintomas graves e obteve alta com leves sintomas estomacais Teve uma recaída
leve logo após seu casamento, quando aceitou uma missão muito árdua no exterior e tinha
uma dieta inadequada. A segunda recaída leve ocorreu antes do nascimento de sua primeira
filha, ao mesmo tempo em que sua mãe estava considerando um recasamento. Três anos após
o início da terapia Sr. A estava seguindo uma dieta normal, com uma pequena quantidade de
medicamentos diários.
O que é uma úlcera duodenal? É uma pequena ferida que surge no duodeno (primeira parte
do intestino, que se liga diretamente no estômago). Causa sintomas como dor constante no
estômago, queimação no estômago, queimação na garganta, sensação de estômago cheio ou
inchaço, dificuldade para digerir comidas com gordura, enjoos, vontade constante de vomitar
e perda de peso. Os sintomas pioram após as refeições ou quando se fica muito tempo sem
comer. Quando a úlcera está muito desenvolvida/ativa, podem surgir sinais mais graves como
dor muito intensa que não melhora, vômitos com sangue ou fezes muito escuras e fétidas.
Isso geralmente indica que a úlcera está sangrando e que, se o tratamento não for feito
rapidamente, poderá surgir uma perfuração. Úlceras perfuradas são situações de emergência
cirúrgica e associadas a um alto risco de sepse e morte. As taxas de mortalidade a curto prazo
são de até 30%.

Material dos slides sobre avaliação e tratamento (Perspectiva Multidisciplinar):


-Como Avaliar?
Conflito, tensão psíquica, emoção, padrão de funcionamento individual, fatores
familiares/coletivos e fatores anatomopatológicos devem ser considerados. O olhar sobre o
processo saúde-doença-cuidado deve ser multidisciplinar, não fragmentado. Nenhuma teoria,
isoladamente, explica/dá conta da multiplicidade de fatores e complexidade dos processos
psicossomáticos.

-Como tratar?
● Realizar interconsulta; Objetiva auxiliar profissionais de outras áreas no
diagnóstico/tratamento de pacientes psiquiátricos; Intermedia a relação entre equipe
de saúde, pacientes e familiares, facilitando a comunicação, cooperação e elaboração
de conflitos.
Sugestão de Leitura: GazottiI, T. de. C.; Prebianchi, H. B. Caracterização da
interconsulta psicológica em um hospital geral. Psicologia: teoria e prática. São
Paulo, v. 16, n. 1, p. 18-30. abr. 2014
● Realizar o projeto terapêutico singular (PTS); São propostas/condutas terapêuticas
para um indivíduo, família ou grupo, resultante da discussão de uma equipe
interdisciplinar com Apoio Matricial, se necessário.
Sugestão de Leitura: OLIVEIRA, G. N. O projeto terapêutico como contribuição
para a mudança das práticas de saúde. 2007. 202f. Dissertação (Mestrado em
Saúde Coletiva) – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2007.
● Realizar grupos de discussão multidisciplinar; Realizar visitas conjuntas à família do
paciente.
Sugestão de Leitura: VIEIRA, L. de S. dos S.; MACÊDO, M. A. A Interação
biopsicossocial no processo de somatização: Interface com a saúde pública. ID on
line Revista Multidisciplinar e de Psicologia. Jaboatão dos Guararapes, v. 13, n. 45,
p. 1-17, 2019.

ESTRATÉGIAS…
-Sr. A sempre costumou ser bastante introspectivo, guardando seus sentimentos para si, não
expondo suas ideias, vontades e sentimentos;
-Apesar de não expressar, seu conflito interno era muito prejudicial, principalmente quando
intensificado pelas expectativas excessivas de sua mãe;
-Nitidamente a úlcera duodenal de Sr. A tem relação com questões emocionais e lhe
aparecem sempre quando ele é exposto há novas situações e descobertas em sua vida (namoro
da mãe, casamento, nascimento da filha, etc.).
-Por isso, a interconsulta psicológica poderia ser uma boa alternativa de tratamento. Já que,
consiste em auxiliar profissionais de outras áreas no diagnóstico e tratamento de pacientes
com problemas psiquiátricos ou psicossociais (situações emocionais emergentes), como é o
caso do Sr. A; e intermediar a relação entre os envolvidos na situação (equipe de saúde,
pacientes e familiares), facilitando a comunicação, a cooperação e a elaboração de conflitos.
-O Sr. A precisa resolver questões relacionadas ao seu papel familiar, principalmente com sua
mãe, esse tipo de intervenção facilitaria no envolvimento de sua mãe em seu tratamento.
-Assim, não somente o psicólogo, mas também os médicos, os enfermeiros, os familiares e
toda a equipe envolvida no tratamento de Sr. A (inclusive ele), poderão auxiliar e contribuir
para a construção da cura ou melhora da úlcera duodenal.
-Poderão ser realizadas coletas de informações sobre histórico médico, familiar, relacional;
elaboração de diagnósticos situacionais; devolução e assessoramento; e acompanhamento
diário da evolução do paciente.

-Dessa forma, poderão ser consideradas as reais necessidades dos pacientes, incluindo
atenção ao contexto em que estão inseridos e a relação com a equipe que o atende, é
importante que o psicólogo interconsultor possa, inicialmente, realizar uma análise funcional
do ambiente e das demandas impostas por paciente e equipe. A partir de tais avaliações e do
entendimento sobre o funcionamento do paciente, da família e equipe, e sua inter-relação
contextualizada no ambiente hospitalar, as estratégias de intervenção podem ser traçadas e
colocadas em prática.

-A interconsulta psicológica é uma das formas mais visíveis da aplicação do conceito de


interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade pode ser considerada como uma troca intensa de
saberes profissionais em diversos campos, exercendo, dentro de um mesmo cenário, uma
ação de reciprocidade, mutualidade, que pressupõe uma atitude diferenciada diante do caso.

-Relacionado a essa prática de interconsulta está o Projeto Terapêutico Singular (PTS).

-O PTS envolve um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, direcionadas


a um indivíduo, família ou coletividade. Tem como objetivo traçar uma estratégia de
intervenção para o usuário, contando com os recursos da equipe, do território, da família e do
próprio sujeito e envolve uma pactuação entre esses mesmos atores.

-Geralmente, o PTS é dedicado a situações mais complexas, buscando a singularidade como


elemento central de articulação na tentativa de mudar a tendência de igualar as situações ou
os sujeitos a partir dos diagnósticos firmados. Ele pode ser uma ferramenta de
compartilhamento do cuidado, na medidas em que possibilita a definição de objetivos
comuns e o estabelecimento de tarefas correlacionadas e pactuadas em equipe.

-Dessa maneira, um PTS tem por objetivo contemplar as necessidades do sujeito de forma
singular, pois é personalizado, de forma ampla e suas ações não se restringem apenas ao
atendimento de demandas relacionadas a problemas clínicos e de terapêuticas farmacológicas

-O PTS é um instrumento facilitador de ações em saúde, uma vez que estabelece e organiza o
cuidado, promove a autonomia e contribui com a noção de corresponsabilidade, através de
um diálogo entre equipe multiprofissional e paciente.

O QUE O PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR DO SR. A PRECISA TER?


Diagnóstico:
Definição de metas:
Divisão de responsabilidade:
Reavaliação:
Tabela de controle - PTS

Momentos Ações do PTS


do Projeto
Terapêutico
Singular

Diagnóstico IDENTIFICAR · Orgânicos: Úlcera duodenal ativa


· Psíquicos: Luto para com o irmão e o pai; estresse recorrente
das expectativas excessivas da mãe.
· Sociais: Dificuldade a ser exposto a novas situações

· Redes de apoio:
- Familiar: Mãe, esposa
- Comunidade: Colegas de trabalho

· Contribuir com as metas:


- Pessoas: Mãe, esposa.
- Outros setores: Nutricionista
· Vulnerabilidades:
- Bastante introspectivo, guardando seus sentimentos para si, não
expondo suas ideias, vontades e sentimentos;
- Expectativas excessivas de sua mãe

· Potencialidades: A úlcera tem relação com questões emocionais

Definição METAS A Curto Busca do histórico médico; Fazer uma reavaliação


das metas TRAÇAR médica e nutricional; Identificar e fortalecer as
fronteiras;

Médio Envolver a mãe (diminuir a expectativa perante o


filho) e esposa para auxiliar no tratamento

Longo Se expor e aceitar desafios na sua vida pessoal e


prazo profissional, mantendo o controle para não ter novas
crises de úlcera.

· Negociar com as pessoas envolvidas e com quem possui vínculos:

· Equipe médica (gastroenterologista, nutricionista), psicóloga, família (mãe, esposa,


filha).

Divisão de EQUIPE · Gastro- Exames e nova análise do tratamento;


responsabili · Nutricionista- Nova dieta, equilibrada e leve;
dades · Psicóloga- Acompanhamento para diminuição de sintomas e
ajudar a identificar o porquê da manifestação dos mesmos, ser
responsável pelo PTS, reunir e organizar a equipe, compreender a
família e realizar consultas com a mesma;
· Mãe- diminuir a pressão e expectativa sobre o filho, não
colocar ele na posição do pai, reforçar as fronteiras;
· Esposa- dar apoio e suporte para Sr. A, conversar e auxiliá-lo
em novos passos, auxiliar no reforço das fronteiras;
· Sr. A.- Identificar o que lhe causa mais sintomas, tentar
controlar, estar disposto a novos desafios, buscar apoio na sua
rede, confiar na equipe multiprofissional, estar disposto a
mudanças para melhorar, seguir as recomendações da equipe,
participar do seu processo de melhor como protagonista, traçar
metas e cumpri-lás;

Responsável pelo PTS * geralmente profissional no qual o indivíduo tem mais afeto.
· Psicóloga
Estabelecer a participação de referência para acompanhar o andamento das ações

Reavaliação IDENTIFICAR
● Resultados alcançados:
● Redução dos sintomas frente a novos desafios
● Regressão da emissão de suco gástrico devido a questões
emocionais
● Cicatrização firme do duodeno após controle emocional e
reeducação alimentar.
● Delimitado e restabelecido as responsabilidades familiares

● · Avaliar as estratégias utilizadas:


● · Nova dieta;
● · Terapia familiar
● · Treinamento de técnicas de redução de estresse e
nervosismo.
● Técnicas para que aprenda a ser independente.
● Treinamento relacionamento assertivo

● · Novos rumos:
● Participar de grupos terapêuticos, afim de trocar
experiências com pessoas que passaram pelas mesmas
situações estressoras;
● Adquirir o hábito da meditação, como uma forma de relaxar
e reservar um tempo para si mesmo.
● Praticar atividades físicas diariamente, assim, irá melhorar
sua qualidade de vida e é também uma indicação
terapêutica.
● Realizar uma reeducação alimentar com a ajuda de um
nutricionista, o que também irá ajudar na gastrite que Sr. A
apresenta.

Você também pode gostar