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MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA (MCCP): ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE

O QUE É MCCP ?
Ferramenta de cuidado direcionada a • É no cuidado que as particularidades se
garantir que as particulares de cada pessoa tornam cruciais.
atendida em saúde sejam consideradas
pelo profissional, e que reverberam no
plano de tratamento elaborado para atender
às demandas apresentadas pelo sujeito.
A essência do MCCP é entender:
• Quem é a pessoa;
• Qual a sua experiência com aquela
patologia; E elaborar um plano de manejo
que valide as considerações do profissional
a respeito daquela situação, mas também
as especificidades trazidas pela própria PARA ISSO…
pessoa, o que é chamado de plano de É preciso que o modelo convencional de
manejo comum. atenção à saúde seja superado.
Tal plano é o fator chave para o sucesso Nesse modelo, o profissional avalia a
terapêutico. pessoa considerando as características da
patologia ou sintomas apresentados e
define do que ela precisa para recuperar
sua saúde.
• Sua influência e alcance são
consideráveis, mas é um modelo
questionável por simplificar demais os
problemas da condição de estar doente,
compreendendo que as patologias são
totalmente explicadas por desvios da
norma de variáveis biológicas
(somáticas) que podem ser medidas.
• Não há espaço dentro da estrutura desse
modelo para as dimensões sociais,
psicológicas e comportamentais da
PORQUE O MCCP? experiência da doença.
• Somos seres únicos. No MCCP, o indivíduo deve ser
• considerado em suas diversas dimensões,
Se quisermos ser agentes de cura, de modo holístico (mente, corpo,
precisaremos conhecer aqueles a quem espírito).
atendemos como indivíduos: as pessoas • A noção de que o profissional está
podem ter doenças em comum, mas são hierarquicamente superior ao paciente, e
únicas quanto à forma como respondem a que este apenas recebe passivamente as
elas. indicações oferecidas deve ser rejeitada.
Para ser centrado na pessoa, o profissional • Pela anamnese, exame físico e exames
precisa ser capaz de dar poder a ela, laboratoriais, ambos são avaliados.
compartilhar o poder na relação, o que • Uma premissa importante para o MCCP
significa renunciar ao controle que é de que há diferenças entre o que
tradicionalmente fica nas mãos dele. denominamos doença – alterações
• Por fim, a objetividade, imparcialidade e bioquímicas, celulares, dos tecidos ou
distância afetiva do profissional para com órgãos, que se manifestam através de
o paciente não podem dominar a estrutura sinais ou sintomas – e a vivência de cada
de relação entre ambos. A objetividade pessoa que experiencia a doença.
crua e constante produz uma Doença
insensibilidade ao sofrimento humano que • A doença é uma construção teórica, ou
é inaceitável. abstração, pela qual os médicos tentam
• Muitas vezes, os profissionais abstraem explicar os problemas das pessoas em
as demandas trazidas pela pessoa e buscam termos de anormalidades de estruturas e/ou
distância, justificando esse comportamento função dos órgãos e sistemas do corpo, e
como “objetividade”. Mas, para o ser inclui tanto distúrbios físicos quanto
cuidado, tal “objetividade” reflete apenas mentais.
indiferença ao sofrimento humano, o • A doença e a experiência da doença nem
que impacta negativamente em seu estado sempre coexistem; saúde e doença nem
de saúde. sempre são mutuamente excludentes. As
• Ser centrado na pessoa requer o pessoas com doenças assintomáticas não
equilíbrio entre o subjetivo e o objetivo. diagnosticadas se veem saudáveis e não se
sentem doentes; pessoas que estão
Como fazer isso? sofrendo emocionalmente ou preocupadas
Existem quatro componentes interativos podem se sentir doentes, mas não têm
cuja observação e realização representam a nenhuma doença.
aplicação do Método Clínico Centrado na • Os profissionais que reconhecem essas
Pessoa: diferenças e que se dão conta de que é
• Apesar de os componentes serem usados comum sentir a perda da saúde ou
para facilitar o ensino e a pesquisa, a sentir-se doente sem ter nenhuma doença
prática clínica centrada na pessoa é um são menos propensos a procurar por uma
conceito holístico no qual os componentes patologia desnecessariamente.
interagem e se unem de forma única em • Entretanto, mesmo quando a doença está
cada encontro entre a pessoa e o presente, pode não justificar
profissional. adequadamente o sofrimento daquela
pessoa, pois a proporção do desconforto
1.Primeiro Componente.Explorando a que sente não se refere apenas à extensão
do dano aos tecidos, mas também ao
saúde, a doença e a experiência da
significado pessoal dado à saúde e à
doença:
experiência da doença.
• A meta do primeiro componente do
método clínico centrado na pessoa é
explorar a doença e a percepção da pessoa
sobre a saúde e a experiência da doença.
Experiência da doenças cabeça podem ser enxaqueca?” –, mas,
Essa experiência pessoal vai depender em um nível mais profundo, essas
da interação entre as crenças da pessoa, pessoas podem estar lutando para
oambiente em que se encontra, sua entender sua experiência da doença.
relação com tal ambiente, incluindo o Será a experiência com a doença vista
contexto ambiental, social e familiar, como uma forma de punição ou, quem
sua vivência corporal e seu estado sabe, como uma oportunidade de
psicológico e mental. tornar-se dependente?
Para compreender melhor tais
elementos, foram organizadas 4 • Quais são os efeitos da doença nas
dimensões da experiência da doença, funções da pessoa? Limita suas
que devem ser exploradas pelo atividades diárias? Atrapalha seus
profissional: relacionamentos familiares? Exige uma
(1) sentimentos da pessoa, (2) suas mudança em seuestilo de vida?
ideias sobre o que está errado; (3) o Compromete sua qualidade de vida ao
efeito da impedi-la de alcançar alguma meta
doença em seu funcionamento; e (4) importante ou realizar um propósito?
suas expectativas em relação ao
profissional: • Quais são as expectativas da pessoa
• Quais são os sentimentos da pessoa? em relação ao médico? Será que a
Ela teme que seus sintomas possam ser pessoa com dor de garganta espera ser
precursores de um problema mais tratada com antibióticos? Quer que o
grave, como câncer? Algumas pessoas médico faça algo ou só a escute?
podem se sentir aliviadas e ver a Muitas vezes as pessoas vêm à consulta
doença como uma oportunidade de com “desejos e esperanças predefinidos
colocar em suspenso suas obrigações e quanto a um processo e um desfecho
responsabilidades. As pessoas específicos”. Às vezes, essas
frequentemente se sentem irritadas ou expectativas não são explícitas, e a
culpadas por estarem enfermas. pessoa pode modificá-las durante a
consulta.
• “O que a traz aqui hoje?”, a pessoa
responde: “Tenho tido dores de cabeça
muito fortes nas últimas semanas.
Gostaria de saber se há algo que eu
possa fazer a respeito”.
• Sentimentos: “O que a preocupa mais
• Que ideias a pessoa tem sobre sua a respeito dessas dores de cabeça? Você
experiência da doença? Por um lado, parece ansiosa por causa disso; acha
suas ideias podem ser diretas – por que algo ruim pode estar causando
exemplo, “Será que essas dores de essas dores? Para você, há algo
especialmente preocupante sobre percepção de seu estado de saúde e seu
elas?”. senso de bem-estar; suas atitudes em
• Ideias: “O que você acha que está relação à consciência de saúde e aos seus
causando as dores? Você tem alguma comportamentos de saúde; suas
percepções sobre os benefícios e barreiras
ideia ou teoria sobre por que elas têm
à saúde em sua vida; e o grau de percepção
ocorrido? Acha que há alguma relação
de sua capacidade de promover a própria
entre as dores de cabeça e outros
saúde.
eventos atuais na sua vida? Você vê • NA PRÁTICA: “O que está realmente lhe
alguma ligação entre suas dores preocupando em tudo isso?... Há coisas
de cabeça e os sentimentos de culpa que você sente que são muito importantes
contra os quais tem lutado?”. e que você quer fazer agora... Coisas que,
• Funcionamento: “Como essas dores se você fizesse ou começasse a fazer... lhe
de cabeça estão afetando sua vida dariam uma maior sensação de
diária? Elas têm feito você deixar de bem-estar?”
participar de alguma atividade? Há
alguma ligação entre as dores de
cabeça e o jeito que está sua vida?”.
• Expectativas: “O que você acha que a
ajudaria a lidar com as dores de
cabeça? Há algum tratamento
específico que gostaria de receber?
Como
posso ajudá-la? Você pensou em algum
exame específico? O que você
acha que a deixaria tranquila a respeito
dessas dores de cabeça?”.

Saúde
• É importante que os profissionais
considerem a definição de saúde como
algo único para cada pessoa, que inclua Estar atento
não só a falta de doença, mas também o
As pessoas muitas vezes dão sinais e
significado de saúde para aquela pessoa e
indicações sobre por que procuraram o
para a capacidade de realizar suas
profissional naquele dia. Esses sinais
aspirações e propósitos de vida. Para uma
podem ser verbais ou não verbais. A
pessoa, a saúde pode significar ser capaz
pessoa pode parecer chorosa, suspirar
de correr na próxima maratona; para outra,
profundamente ou estar sem fôlego. Pode
saúde é ter sua dor nas costas sob controle.
dizer diretamente “me sinto muito mal,
• Algumas dimensões da saúde que devem
doutor; acho que essa gripe vai me matar”
ser valorizadas durante as consultas são a
ou, indiretamente, pode apresentar uma
percepção de suscetibilidade da pessoa; a
variedade de sintomas vagos que
mascaram um problema mais grave, como
depressão
• Internação • Medo • Sede • Hemodiálise •
Peso • Atenção • Saúde

2.segundo componente:entendendo a
pessoa como um todo
*caso clínico
• A pessoa: Sua história de vida, aspectos
pessoais e de desenvolvimento; 3.terceiro componente: Elaborando um
• Contexto próximo: sua família, rede de plano conjunto de manejo dos problemas
apoio; • Uma das metas centrais do método
•Contexto distante: sua comunidade, clínico centrado na pessoa é a elaboração
cultura, ecossistema. de um plano conjunto de manejo dos
QUEM É ESSA PESSOA? problemas de saúde da pessoa assistida:
• De onde ela vem? encontrar um consenso com a pessoa para
• O que ela faz? elaborar um plano para tratar seus
• Quem ela tem? problemas médicos e suas metas de saúde,
• Em que acredita? que reflita suas necessidades, valores e
• O entendimento da pessoa como um todo preferências e que seja fundamentado em
melhora a interação do profissional com evidências e diretrizes.
quem ele está cuidando e pode ser • É um encontro de especialistas: o
especialmente útil quando sinais e médico é especialista nos aspectos
sintomas não apontam para uma doença biomédicos do problema, e a pessoa é
claramente definida, ou quando a resposta especialista em sua experiência de saúde e
a uma experiência de doença parece ser de doença e em como sua experiência da
exagerada ou fora de propósito. Nessas doença está interferindo na realização de
ocasiões, é muitas vezes importante suas aspirações de vida.
analisar como a pessoa está lidando com as • Evitar conflitos de poder;
questões comuns ao seu estágio no ciclo da • Usar linguagem apropriada; • Não adesão
vida. ao tratamento;
• Saber que alguém tem uma interação • Qual o papel da pessoa e do profissional
familiar muito restrita ou suportes sociais naquela situação?
limitados deve alertar o médico de que • Escuta ativa.
aquele indivíduo pode estar correndo
riscos. Além disso, ter conhecimento de
perdas ou crises de desenvolvimento
anteriores pode ajudar o médico a
identificar um conjunto de circunstâncias
na vida da pessoa.
4.Quarto.componente intensificando emocional, concentração exclusiva nos
relação entre pessoa e médico aspectos técnicos do tratamento e até
• Cada contato deve ser usado para mesmo crueldade.
desenvolver a relação entre a pessoa e o • Ser centrado na pessoa significa ser
médico, incluindo a compaixão, a empatia, aberto aos sentimentos dela. O
o compartilhamento do poder, a cura e a envolvimento tem o potencial de fazer da
esperança. Para colocar essas habilidades medicina uma experiência muito mais rica
em prática, é preciso consciência de si para nós e mais efetiva para as pessoas
mesmo e sabedoria prática. atendidas.
• O ensinamento sobre a relação entre • Os profissionais devem se preocupar com
profissional de saúde e pessoa costumava seu próprio desenvolvimento emocional
ser “não se envolva”. Em um aspecto, o tanto quanto com as emoções das pessoas.
medo das emoções não era infundado: • O autoconhecimento, por definição, não
envolver-se com as emoções não pode ser ensinado. Entretanto, seu
examinadas de uma pessoa é crescimento pode ser promovido pelos
potencialmente prejudicial. Entretanto, o professores que estão, eles mesmos,
que o ensinamento não dizia era que o percorrendo essa jornada difícil, que nunca
envolvimento é necessário se quisermos está completa.
curar, além de sermos técnicos
competentes
. • O não envolvimento não existe, apenas
o autoconhecimento consegue nos proteger
dos perigos do envolvimento no nível de
nossas emoções egocêntricas. Sem
autoconhecimento, o crescimento moral
acaba podendo ter raízes superficiais
. • Essa é a razão por que o método clínico
centrado na pessoa inclui a atenção à
relação entre a pessoa atendida e o médico
e, por implicação, à autoconsciência do
profissional.
• Os encontros diários com o sofrimento
evocam emoções fortes: o desamparo
mediante a doença incurável, o medo de
discutir questões que nos assustam, a culpa
por nossos fracassos, a raiva das demandas
das pessoas que atendemos e a tristeza
pelo sofrimento de alguém que se tornou
um amigo.
• Se não reconhecermos e lidarmos com
nossas emoções perturbadoras, elas
poderão se externalizar na forma de
evitamento da pessoa, distanciamento

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