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Universidade CEUMA

Curso de Medicina – Eixo: Atenção e Educação em Saúde


Humanidades Médicas II - 2023.2

Ana Carolina de Azevedo Esteves Schmitz


RA: 037557

Resenha crítica do filme “Patch Adams – O Amor é contagioso” no


contexto da relação médico-paciente-doença

A película em questão foi inspirada livremente na vida de Hunter Doherty Adams,


médico fundador do “Gesundheit Institute” e bastante conhecido nos Estados Unidos
pela forma humanizada de tratar seus pacientes. Conta a história de Hunter “Patch”
Adams que, após uma tentativa de suicídio, interna-se voluntariamente em um hospital
psiquiátrico. Dentro do ambiente nosocomial, “Patch” percebe que os profissionais
encarregados careciam de empatia no cuidado com os pacientes. Apesar da atmosfera
hostil do instituto psiquiátrico, ele consegue recuperar-se, ao mesmo tempo em que
descobre o potencial curativo do humor e do afeto. Munido de um novo propósito, o
personagem decide tornar-se médico.
No entanto, o protagonista sofre uma grande decepção quando, ao ingressar na
universidade, percebeu que a postura autoritária e pragmática dos profissionais de
medicina era algo institucionalizado desde a sua formação como médicos. Contestando
o status quo no meio médico, “Patch” passa a utilizar sua criatividade e empatia para
interagir com pacientes, familiares, colegas de faculdade e profissionais de saúde. A
postura e os questionamentos trazidos pelo protagonista diante do processo de
ensino-aprendizagem na área de saúde – a Medicina, em particular - favorecem
considerações no que tange às relações de poder que ainda hoje entremeiam o ambiente
nosocomial e a relação médico-paciente-doença.
Apesar da reformulação no curso de Medicina trazida pelas novas diretrizes curriculares
(Resolução CNE/CES nº 3, de 20 de junho de 2014), ainda há grande dogmatismo nas
competências e habilidades repassadas aos discentes no processo de formação do
profissional de medicina. Diante disso, a proposta do filme é sugerir novos
métodos de assistência ao paciente, de forma amigável, com escuta qualificada, dentro
de um contexto empático e de acolhimento. Em uma cena marcante do filme,
percebemos a forte influência do modelo biomédico tradicional quando o reitor, ao
recepcionar os alunos no primeiro dia de aula, diz: “Eu vou desumanizar todos vocês e
transformá-los em algo melhor. Vamos transformar todos em médicos”. Essa cena
paradigmática interliga-se a outras falas de grande relevo no filme: “Os pacientes não
precisam de amigos, precisam de médicos” e “Uma instituição médica faz as suas
próprias leis; eu formo médicos”. Há aqui uma forte referência ao profissional médico
com um ente superior, uma autoridade suprema e inquestionável por lidar com questões
de vida e morte. Diante dessas condutas, o protagonista traz questões de grande
relevância permeando o cenário hospitalar, bem como as relações de poder exercidas
dentro desse contexto.
No que tange à relação médico-paciente-doença, há um momento paradigmático do
filme, na cena em que os estudantes estão analisando um caso de diabetes e o professor
“nomeia” a paciente por sua enfermidade, ignorando totalmente seu nome e a sua
história. Percebemos o processo de despersonalização dos pacientes, o apagamento de
sua subjetividade e particularidade em prol de (suposta) maior eficiência diagnóstica.
Portanto, é necessário levar em consideração o contexto biopsicossocial, tendo em
mente que o relacionamento médico-paciente está amalgamado aos diversos tipos de
interações, não podendo se resumir o paciente à sua enfermidade.
Ao nos debruçarmos sobre o atual modelo de saúde na sociedade, necessitamos repensar
o modelo assistencial, tendo por meta colocar como prioridade as necessidades do
usuário no serviço prestado. Essa mudança de perspectiva pode ser melhor realizada
atraves de intervenção interdisciplinar, transdisciplinar e coletiva, com colaboração de
todas as Especialidades na área da saúde, e não somente a classe médica. Neste intuito,
deve-se privilegiar a individualização do paciente, de forma a deslocar o foco da
doença e do processo de adoecimento, dando especial enfoque ao acolhimento de suas
histórias, de sua vivência e autonomia como ser humano.
O “Patch” da vida real traz, em seu livro, uma proposta de modelo médico que trate,
primeiramente, o paciente e, depois, a doença1. Esse modelo seria um resgate do antigo
medico de família, que realizava visitas domiciliares, algo que possibilitava a relação
médico-paciente dentro da realidade social do paciente, com o predomínio da empatia
pelo médico. Ainda de acordo com o autor, a partir do momento em que a tecnologia
começou a prevalecer na prática médica, houve o gradual abandono das visitas
domiciliares, o que gerou uma inversão de valores: a doença ficou destaque 2, relegando
o paciente e o tratamento da enfermidade para segundo plano.
Em suma, a obra cinematográfica analisada traz relevantes discussões éticas, humanas e
pessoais. É necessário se repensar a maneira como se dão as relações interpessoais no
âmbito dos espaços destinados aos cuidados com a saúde e combate às enfermidades,
dando-se especial relevo ao paciente e suas necessidades, em vez de focar somente na
doença/patologia. Por fim, é preciso repensar o modelo assistencial biomédico,
priorizando a subjetividade do paciente, com base em um modelo biopsicossocial.

REFERÊNCIAS
1. Patch Adams: O amor é contagioso (Filme). 1998. (apresentação: 1h e 55min).
2. Adams P. Patch Adams: o amor é contagioso. Rio de Janeiro: Sextante; 1999.
3. SILVA MRS, Marques MCC, Penha AVX. Análise crítica e reflexiva do filme “Patch
Adams: o amor é contagioso” em face das relações de poder no cenário hospitalar.
1
Adams P. Patch Adams: o amor é contagioso. Rio de Janeiro: Sextante; 1999
2
Revista Portal: Saúde e Sociedade, 6 (único). Disponível em:
https://www.seer.ufal.br/index.php/nuspfamed/article/view/11866

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