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Como os animais fazem negócios

Humanos e outros animais compartilham uma herança de tendências econômicas,


incluindo cooperação, retribuição de favores e ressentimento com comportamentos
desonestos.
Por Frans B. M. de Waal www.sciam.com.br

Assim como meu escritório não permaneceria


vazio por muito tempo caso eu me mudasse, os
bens imóveis da Natureza também estão sempre
mudando de mãos.

Macacos-prego compartilham comida da mesma forma


que os chimpanzés e os humanos. Rara entre outros
primatas, essa prática pode ter evoluído junto com a
caça cooperativa, uma estratégia usada pelas três
espécies. Sem compensação comum, não haveria caça
conjunta. Aqui, um jovem macaco-prego pede por um
pedaço, abrindo a sua mão próximo ao alimento que um
adulto está comendo.

Lares em potencial abrangem desde buracos cavados por pica-paus até conchas vazias na praia. Um
exemplo típico é o mercado imobiliário entre caranguejos eremitas. Para proteger seu abdômen mole,
cada animal carrega sua casa consigo - geralmente uma concha de gastrópode abandonada. O
problema é que o caranguejo cresce, mas sua casa não. Os eremitas estão, portanto, sempre à
procura de novas acomodações. No momento em que se mudam para uma concha mais espaçosa,
outros formam fila para se apropriar da que ficou vazia.

Parece um caso de oferta e demanda, mas como ocorre em nível impessoal, poucos relacionariam
os negócios do eremita com as transações humanas. As interações entre os caranguejos seriam mais
interessantes se eles negociassem na linha do "você pode ficar com a minha casa se eu ficar com
aquele peixe morto". Mas eles não são de negociar, e na verdade não teriam escrúpulos em despejar o
dono da casa à força. Outros animais mais sociais fazem negócios, e seu modo de lidar com a troca de
recursos e serviços nos ajuda a compreender como e por que o comportamento humano econômico
pode ter evoluído.

Nova Economia
A economia clássica vê as pessoas como maximizadoras de lucros guiadas por puro egoísmo. Como
Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, afirmou: "Todo homem, supõe-se, procura
naturalmente aquilo que é bom para si mesmo, ao passo que (procura) o que é justo e favorece a paz,
apenas acidentalmente". Nessa visão ainda prevalecente, a sociabilidade é apenas uma reflexão tardia,
um "contrato social" a que nossos ancestrais aderiram por causa de seus benefícios, não porque
tinham alguma afeição mútua. Para a biologia, essa história imaginária está fora da realidade.
Descendemos de primatas que viviam em grupos, o que significa que somos naturalmente equipados
com o desejo de nos adaptar e descobrir parceiros com os quais possamos conviver e trabalhar. Essa
explicação evolutiva está ganhando prestígio com o advento da economia comportamental, escola que
enfoca o comportamento huma-no vigente, em vez de as forças abstratas do mercado, como guia para
compreender as decisões econômicas. Em 2002 essa escola ficou conhecida quando dois de seus
fundadores, Daniel Kahneman e Vernon L. Smith, dividiram o Nobel de Economia.

A economia comportamental animal é um campo que fornece suporte para novas teorias ao mostrar
que tendências econômicas e preocupações humanas básicas - como reciprocidade, divisão de
recompensa e cooperação - não são restritas a nossa espécie. Elas provavelmente evoluíram em outros
animais pelas mesmas razões que em nós - para ajudar os indivíduos a otimizar a vantagem mútua
sem minar os interesses compartilhados e que dão apoio à vida em grupo.

Vejamos o recente incidente na minha visita ao Centro Nacional Yerkes de Pesquisa em Primatas, de
Atlanta. Ensinamos os macacos-prego a alcançar uma xícara com alimento puxando uma barra presa à
bandeja onde ela estava. Ao deixarmos a bandeja muito pesada para ser puxada por um único
indivíduo, demos aos macacos uma boa razão para trabalharem juntos.

Em uma ocasião, o ato de puxar foi realizado por duas fêmeas, Bias e Sammy. Sentadas em gaiolas
contíguas, elas conseguiram alcançar a bandeja com as duas xícaras. Sammy, entretanto, apanhou sua
xícara com tanta rapidez que acabou soltando a barra antes que Bias pudesse apanhar a sua. A
bandeja correu para trás e ficou fora do alcance de Bias. Enquanto Sammy mastigava ruidosamente,
Bias teve uma explosão de raiva e gritou alto por cerca de 30 segundos. Sammy, então, pegou sua
barra de puxar e ajudou Bias a trazer a bandeja outra vez a seu alcance. Sammy não fez isso em
benefício próprio, já que, agora, a sua xícara estava vazia.

O comportamento corretivo de Sammy parecia ser uma resposta ao protesto de Bias contra a perda de
uma recompensa esperada. Essa ação está muito mais próxima das transações econômicas humanas
do que aquela dos caranguejos eremitas, porque mostra cooperação, comunicação e cumprimento de
uma expectativa, talvez até mesmo senso de obrigação. Sammy mostrou-se sensível à situação de
com-pensação. Tal sensibilidade não é de surpreender, dado que a vida em grupo dos macacos-prego
gira em torno da mesma interação entre cooperação e competição que caracteriza nossa própria
sociedade.

Evolução da Reciprocidade
Animais e pessoas ocasionalmente se ajudam sem nenhum benefício óbvio para quem ajuda. Como
teria evoluído esse comportamento? Se a ajuda é direcionada a um membro da família, a questão é
fácil de responder. "O sangue fala mais alto", dizemos, e os biólogos reconhecem as vantagens
genéticas para tal assistência: se o parente de alguém sobrevive, a probabilidade de os genes dessa
pessoa se perpetuarem nas próximas gerações aumenta. Mas a cooperação entre indivíduos não
aparentados não sugere vantagem genética imediata. Pëtr Kropotkin deu uma primeira explicação
sobre isso no livro Mutual Aid, publicado em 1902. Se a ajuda é comum, argumenta, todos ganham - a
chance de sobrevivência de cada um aumenta. Em 1971, Robert L.Trivers, então na Universidade
Harvard, expressou o problema em termos evolutivos modernos com a teoria do altruísmo recíproco.

Ele argumentou que fazer um sacrifício por outra pessoa é recompensador se ela, depois, retribuir o
favor. A reciprocidade resu-me o dito: "Eu coço suas costas se vo-cê coçar a minha". Será que os
animais demonstram estratégias do tipo "olho por olho"? Macacos e grandes primatas formam
coalizões; dois ou mais indivíduos conspiram contra um terceiro. E pesquisadores encontraram uma
correlação entre quão freqüentemente A ajuda B e B ajuda A. Mas isso significa que os animais estão
de fato a par dos favores dados e recebidos? Eles podem apenas dividir seu mundo entre "amigos", a
quem dão preferência, e "não amigos", por quem demonstram pouca preocupação. Se tais sentimentos
são mútuos, as relações serão mutuamente úteis ou inúteis. Tais simetrias podem responder pela
reciprocidade relatada para peixes, morcegos vampiros (que regurgitam sangue para alimentar os
companheiros), golfinhos e macacos.

Não é porque esses animais podem não estar a par dos favores dados e recebidos que eles carecem de
reciprocidade. O problema é saber como um favor feito para o outro volta para o altruísta inicial. O que
é exatamente esse mecanismo da reciprocidade? A preservação do registro mental é uma maneira de a
reciprocidade operar, e ainda precisamos testar se os animais fazem isso. Até aqui, os chimpanzés são
a exceção. Na floresta, atuam em grupo para caçar o macaco cólobo. Um caçador, após capturar a
presa, normalmente separa o corpo em partes e o compartilha com o grupo. Nem todos, entretanto,
conseguem um pedaço; até mesmo o macho de grau mais alto na hierarquia, se não tiver participado
da caçada, pode mendigar em vão. Esse comportamento sugere reciprocidade: os caçadores parecem
gozar de prioridade na divisão do espólio.

Para tentar descobrir quais mecanismos atuam aqui, exploramos a tendência desses macacos em
compartilhar - que eles também mostram em cativeiro. Demos a um dos chimpanzés de nossa colônia
uma melancia ou alguns ramos de folhas e o deixamos no centro de um grupo, logo seguido por
grupos secundários próximos a indivíduos que tinham conseguido uma porção maior, até que todo o
alimento tivesse sido distribuído a todos. Os chimpanzés não costumam pegar alimento dos outros à
força - fenômeno conhecido como "respeito de posse". Os pedintes mantêm a mão aberta com a palma
para cima, choramingam e lamentam, mas as agressões são raras. Se elas ocorrem, o animal que
detém o alimento dá instruções para que os agressores deixem o círculo. Ele bate na cabeça dos
agressores com um galho ou grita emitindo um som agudo até que o deixem sozinho.
Independentemente do seu grau na hierarquia, quem tem o alimento controla seu fluxo.

Analisamos cerca de 7 mil situações como essa, comparando a tolerância do possessor a pedintes
específicos. Temos registros detalhados sobre cuidados e catação de parasitas nas manhãs dos dias
dos testes com alimentos. Se o macho principal, Socko, limpara May pela manhã, por exemplo, sua
chance de ganhar ramos dela, à tarde, aumentava. Essa relação entre comportamentos do passado e
do presente é geral.

Conexões simétricas não poderiam explicar esse resultado, já que o padrão variou de um dia para o
outro. O nosso foi o primeiro estudo a demonstrar a contingência entre favores dados e recebidos.
Além do mais, a troca de alimento por catação ocorria com parceiros específicos - a tolerância de May
só beneficiou Socko, o único que a tinha limpado.

Esse mecanismo de reciprocidade requer memória de eventos prévios, bem como o avivamento da
memória que induz ao comportamento de amizade.

Na nossa espécie, esse processo de avivamento é conhecido como "gratidão", e não há razão para usar
outro nome entre os chimpanzés. Se eles sentem algum tipo de obrigação ainda não está claro, mas é
interessante notar que a tendência em retribuir o favor não é a mesma para todas as relações. Entre
os indivíduos que se associam e praticam catação mútua, uma simples sessão de limpeza tem pouco
peso. Todas as trocas diárias ocorrem entre eles, provavelmente sem nenhuma vigilância.

Eles parecem seguir o sistema de ajuda mútua discutido anteriormente. Apenas num relacionamento
mais distante a catação se destaca. Como Socko e May não são amigos próximos, o "cafuné" foi
devidamente percebido.

Uma distinção similar aparece no comportamento humano: somos mais inclinados a ficar de olho nas
ações de dar e receber que ocorrem com estranhos do que com amigos e parentes. Quando isso ocorre
nas relações próximas, é sinal certo de desconfiança.

Mercados Biológicos
Visto que a reciprocidade requer parceiros, a escolha deles é fundamental na economia
comportamental. As transações imobiliárias que ocorrem entre os caranguejos eremitas são
excessivamente simples comparadas com as interações entre primatas, que envolvem muitos parceiros
trocando múltiplas moedas, como catação, sexo, apoio em lutas, alimentação, serviço de pajem e
assim por diante. Esse "mercado de serviços", como apelidei no livro Chimpanzee Politics, significa que
cada indivíduo precisa ter boas relações com os indivíduos mais destacados, para estimular parcerias
de catação e - se forem ambiciosos - fazer acordos com outros do mesmo nível. Os machos formam
coalizões para desafiar o soberano reinante. Após a subversão, o novo soberano precisa manter seus
ajudantes satisfeitos: um macho alfa que tenta monopolizar os privilégios do poder, tal como o acesso
às fêmeas, tem pouca chance de manter sua posição por muito tempo. E os chimpanzés agem assim
sem nunca terem lido Maquiavel.

Com cada indivíduo negociando com os melhores parceiros e vendendo seus próprios serviços, a
estrutura para reciprocidade se torna de oferta e procura, precisamente o que Ronald Noë e Peter
Hammerstein, então do Instituto Max Planck de Fisiologia Com-portamental, tinham em mente com a
teoria do mercado biológico, que se aplica sempre que é possível escolher com quem negociar. Essa
teoria postula que o valor das mercadorias varia com a disponibilidade. Os estudos a seguir aprimoram
esse ponto.

Como todas as fêmeas de primatas, as dos babuínos são irresistivelmente ligadas aos filhotes - não
apenas aos seus, mas também aos de outras fêmeas. Elas emitem grunhidos amigáveis e tentam tocá-
los. As mães, entretanto, relutam em deixar qualquer um segurar seus recém-nascidos. Para se
aproximarem, as fêmeas interessadas limpam a mãe enquanto espreitam os bebês. Após uma sessão
relaxante de catação, a mãe pode ceder ao desejo das outras fêmeas de olharem de perto. Essas,
portanto, "pagam" para passar um tempo com o recém-nascido. A teoria de mercado prediz que o
valor dos bebês deveria subir se há poucos nas redondezas. Num estudo com babuínos da África do
Sul, Louise Barrett, da Universidade de Liverpool, e Peter Henzi, da Universidade de Lancashire
Central, ambas na Inglaterra, descobriram que as mães com poucos filhotes cobram mais caro (um
período maior de catação) do que as mães com muitos filhotes.

Situação parecida ocorre com os peixes limpadores da espécie Labroides dimidiatus, que se alimentam
de parasitas dos peixes maiores. Cada limpador tem sua "estação de limpeza" num recife de coral para
onde a clientela se dirige a fim de que ele faça seu trabalho. O limpador mordisca o parasita e o retira
do corpo do cliente, das nadadeiras e mesmo do interior da boca. Algumas vezes, o limpador fica tão
ocupado que os demais peixes têm de esperar em fila. Os clientes aparecem em duas variedades:
residentes e visitantes. Os primeiros pertencem a espécies com pequenos territórios; eles não têm
escolha senão ir até o seu limpador local. Os visitantes, por outro lado, ou controlam um território
grande ou viajam bastante, o que significa que podem escolher entre várias estações de limpeza.
Querem esperar pouco e que o serviço seja de qualidade e sem fraudes. Isso ocorre quando um
limpador mordisca o corpo do cliente alimentando-se do muco saudável do seu corpo, o que espanta os
clientes.

Pesquisas feitas por Redouan Bshary, do Max Planck, consistem principalmente em observações nos
recifes de coral, mas também incluem experimentos em laboratório. Seus artigos parecem um manual
de bons negócios. O visitante tende mais a mudar de estação de limpeza se o limpador o ignora por
muito tempo ou o engana. Os limpadores parecem saber disso e tratam os visitantes melhor do que os
residentes. Se um visitante e um residente chegam ao mesmo tempo, o limpador quase sempre dá
preferência ao visitante. Como os residentes não têm para onde ir, ficam esperando sua vez. Os únicos
que os limpadores nun-ca trapaceiam são os predadores, que têm uma contra-estratégia radical:
engolir o limpador. Com os predadores, os limpadores adotam sabiamente, nas palavras de Bshary,
uma "estratégia cooperativa incondicional".

A teoria do mercado biológico oferece uma solução elegante para o problema dos "penetras", que
ocupa os biólogos há muito tempo, pelo fato de os sistemas de reciprocidade serem vulneráveis
àqueles que tomam, e não aos que dão. Os teóricos assumem que os ofensores devem ser punidos,
embora isso ainda tenha de ser demonstrado entre os animais. Em vez disso, é possível lidar com os
trapaceiros de maneira mais simples.

Se existe escolha dos parceiros, os animais podem simplesmente abandonar as relações insatisfatórias
e substituí-las por aquelas que oferecem mais benefícios. Os mecanismos de mercado são suficientes
para colocar de lado os aproveitadores. Mesmo em nossa sociedade, não confiamos naqueles que
querem receber mais do que dar.

Justiça é Justiça
Para colher os benefícios de cooperação, um indivíduo deve monitorar seus esforços relativos a outros
e comparar sua gratificação com o esforço aplicado. Para investigar se os animais realizam tal
monitoramento, voltamos mais uma vez aos macacos-prego, testando-os em um mercado de trabalho
em miniatura, inspirado nas observações de campo desses macacos atacando esquilos gigantes. A caça
ao esquilo é um esforço de grupo, mas todas as recompensas acabam nas mãos de um indivíduo: o
captor. Se apenas o captor fica com a presa, é de se imaginar que os outros perderiam o interesse em
se juntar a ele em outra ocasião. Os macacos-prego compartilham a carne pelas mesmas razões que
os chimpanzés (e que as pessoas): não pode haver caça em grupo sem que haja compensação
conjunta.

Imitamos essa situação em laboratório para que só um macaco (que chamamos de vencedor) de uma
dupla que puxa as bandejas recebesse uma xícara com pedaços de maçã. O outro, denominado de
operário, não tinha alimento em sua xícara, o que para os dois era evidente desde o início, pois elas
eram transparentes. Portanto, o operário puxou a bandeja só para ajudar o vencedor. Os macacos
estavam sentados lado a lado, separados por uma rede. Sabemos, de testes anteriores, que quem
possui o alimento pode deixar um pouco da comida próximo à divisão das gaiolas, permitindo que seu
vizinho a alcance.

Comparamos os esforços coletivos com os individuais. Em uma situação, ambos os animais tinham
uma barra de puxar e a bandeja estava pesada; em outra, faltou a barra do parceiro, e o vencedor
manipulou sozinho uma bandeja mais leve. Houve mais episódios de compartilhamento de alimento
depois de episódios de esforços coletivos do que de isolados: os vencedores estavam, na verdade,
compensando seus parceiros pela assistência que haviam recebido. Confirmamos também que o ato de
compartilhar influi em uma cooperação futura. Como a taxa de sucesso da dupla cairia se o vencedor
se recusasse a compartilhar, o pagamento do operário era uma estratégia inteligente.

Sarah F. Brosnan, uma de minhas colegas em Yerkes, foi mais longe, explorando reações ao modo
como as recompensas são divididas. Ela ofereceu a um macaco-prego um seixo e em seguida mostrou
um pedaço de pepino instigando-o a devolver o cascalho. Os macacos compreenderam depressa o
princípio da troca. Colocados lado a lado, dois macacos alegremente trocaram os seixos pelo pepino
com a pesquisadora.

Quando um deles, porém, recebeu uvas ao passo que o outro continuou a receber pepino, as coisas
tomaram um rumo diferente. Os macacos preferem uva a pepino. Os animais que tinham trabalhado
bem em troca de pepino de repente entraram em greve. Não apenas relutaram em interagir, visto que
o outro tinha conseguido uma recompensa melhor, mas ficaram agitados, arremessaram os seixos e,
algumas vezes, até o pepino.

Um alimento normalmente nunca recusado tornou-se pouco desejável.


Rejeitar um pagamento desigual - algo que as pessoas também fazem - vai contra as regras da
economia tradicional. Se a maximização dos benefícios é o que importa, deveríamos nos contentar com
aquilo que obtivemos e não deixar que ressentimentos interferissem. A economia comportamental, por
outro lado, assume que a evolução conduziu a emoções que pre-servam o espírito de cooperação e que
elas influenciam o comportamento. A curto prazo, preocupações sobre o que os outros conseguiram
pode parecer irracional, mas a longo prazo pode impedir que o outro tire vantagem de determinada
situação. Desencorajar a exploração é ponto crítico para uma cooperação duradoura.

Ficar de olho no fluxo dos benefícios e dos favores, entretanto, é um aborrecimento. Isso explica por
que os humanos protegem-se contra o "parasitismo" e a exploração, formando relações amigáveis com
seus parceiros - como marido e mulher e bons amigos - que têm resistido ao tempo. Uma vez que
determinamos em quem podemos confiar, relaxamos. Somente com parceiros mais distantes
mantemos registros mentais e reagimos à desonestidade.

Descobrimos o mesmo efeito de distância social nos chimpanzés. A política do "olho por olho" é rara
entre amigos que habitualmente trocam favores. Essas relações também parecem imunes à injustiça.
Nos testes de trocas com uvas e pepinos, Brosnan notou que a reação mais violenta se deu entre
aqueles que se conheciam havia pouco tempo, enquanto membros de uma colônia que viviam juntos
fazia 30 anos pouco reagiram. Talvez, quanto maior a familiaridade, maior o tempo durante o qual os
chimpanzés avaliam suas relações. Só as distantes são sensíveis às flutuações do dia-a-dia.

Todos os agentes econômicos, humanos ou animais, precisam lutar contra o problema do "parasita" e o
modo como os lucros são divididos após um esforço conjunto. Eles dividem mais com aqueles que os
ajudam mais e demonstram fortes reações quando as expectativas são violadas. Uma verdadeira
disciplina evolutiva da economia reconhece esse tipo de psicologia comunal e considera a possibilidade
de que nós adotamos o conceito moral de tratar os ou-tros como queremos ser tratados, não
acidentalmente, como Hobbes pensava, mas como herança de nosso passado como primatas
cooperativos.

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