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UNIDADE CURRICULAR: Problemáticas Juvenis

CÓDIGO: 11054

DOCENTE: Filipa Seabra

A preencher pelo estudante

NOME: Mónica Margarida do Carmo Gomes

N.º DE ESTUDANTE: 1003257

CURSO: Educação

DATA DE ENTREGA: 04/11/2019

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TRABALHO / RESOLUÇÃO:

1. João (nome fictício), de 17 anos de idade, está agora a frequentar o 11º


ano de escolaridade. Por ainda não ter definido quanto à área da sua
futura atividade profissional, João optou pelo ensino profissional, onde
frequenta o curso profissional de Saúde. Sem ter ainda nada definido
quanto ao futuro, a possibilidade de frequentar o ensino superior não está
descartada. Quando é questionado sobre a área que escolheu no ensino
profissional, João acaba por dizer que “não era a área que eu mais
gostava, mas como alguns dos meus colegas inscreveram-se neste
curso, e visto que na minha área de residência não temos muitas
alternativas, optei por acompanhá-los”, disse. “Para além disso, a minha
mãe trabalha nessa área e acabou por ser mais um fator importante na
minha decisão. Até agora não estou arrependido. É trabalhoso, mas estou
a gostar”.

João vive com os seus pais, ambos licenciados, num ambiente tranquilo
e aberto, e no decorrer da entrevista demonstrou orgulho e muita
cumplicidade com eles, onde sabe que qualquer problema que tenha,
pode sempre contar com a sua ajuda para resolver.

A nível profissional, João tem um bom exemplo dos pais, estando ambos
a trabalhar na área da sua formação, sendo o pai engenheiro e a mãe
enfermeira.

Estes, enquanto tiraram a sua licenciatura, trabalhavam ao mesmo tempo


para conseguirem dinheiro para o seu curso, visto que os seus pais (avós
de João) não tinham possibilidade económica de lhes pagar o mesmo.
Esta história é contada a João vezes sem conta, com o intuito de lhe
mostrar a dureza da vida e convencê-lo a continuar os seus estudos e
aproveitar a ajuda que os pais lhe podem dar.

Relativamente a expectativas de futuro profissional, o entrevistado diz


recear que lhe aconteça como alguns amigos e conhecidos seus, em que
“terminaram o curso e não conseguem arranjar trabalho na sua área,
tendo que se sujeitar aos trabalhos que vão aparecendo, quando

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aparecem”. No entanto, João ambiciona no futuro constituir família, ter a
sua própria casa, e viver com alguma qualidade de vida, o que será
complicado caso não consiga ter um futuro profissional estável e bem
remunerado. Sabe que, nos dias que correm e na sociedade em que vive,
sem estudos, quer sejam formações especificas ou curso superior, não
terá, ou será mais difícil ter êxito na sua vida profissional. Por isso, sabe
que os estudos, as formações, serão um facto presente durante a sua
vida para conseguir alcançar o que deseja. Quer também, antes de
assumir todas as responsabilidades que a “adultez” exige, aproveitar a
sua juventude para experimentar coisas novas, como surfar, passar
tempo com os amigos e divertir-se, pois acredita que agora é o momento
para isso.

1.1 Ao analisar a entrevista realizada e baseando-me, sobretudo no texto


“Juventude(s) e escolhas de futuro: do risco ao arriscar”, podemos
constatar vários fatores mencionados no texto.

João, faz parte de um grupo de jovens que sabe o seu valor na sociedade
atual e os desafios que enfrenta e os que irá enfrentar no futuro. No seu
discurso, podemos detetar os dois registos mencionados por Vieira p.123,
o registo da celebração e o da crise. O registo de celebração quando
demonstra dinamismo, flexibilidade e a capacidade de adaptação,
quando, por exemplo, se inscreve num curso que inicialmente não lhe
dizia nada, e com o decorrer do tempo, conseguiu adaptar-se e até gostar
da área de formação. O registo de crise quando manifesta possível
dificuldade na transição para a vida adulta, nomeadamente quando
demonstra preocupação na situação que é hoje vivida de desemprego
jovem, levando ao adiamento de vários objetivos de vida, o qual se
transforma num problema da sociedade em que vive. Conforme Ferreira
e Nunes, 2010:43, citado por Vieira p.130,131, “A desregulação
económica e a desconvencionalização das relações laborais afeta
particularmente os mais jovens que se debatem, hoje, com dificuldades
acrescidas de inserção profissional de vulnerabilidade, aleatoriedade e
precariedade de vários níveis e em várias esferas sociais”.

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A nível financeiro, João faz parte do grupo de jovens que ainda dependem
dos seus pais, havendo uma forte probabilidade de continuar a depender,
prolongando-se cada vez mais, a transição para a vida adulta.

João, quando foi confrontado, no final do ensino básico, com um processo


de escolha em que esta iria influenciar e produzir efeitos no seu projeto
de vida, ficou um pouco em pânico, sem saber o que escolher. Ainda não
se sentia preparado para tamanha decisão, e por isso acabou por seguir
alguns dos seus amigos e colegas de escola.

Na altura em que João teve de decidir qual a área da sua formação, o


primeiro passo para a transição de adulto, segundo Breviglieri, 2007,
citado por Vieira p.134, atravessava um “duplo processo de crescimento
e amadurecimento” e com a sua identidade muito provisória e ainda em
construção, o que dificulta este tipo de decisões.

Sendo um aluno com bons resultados, e tendo a influência dos pais, a


possibilidade de João progredir para um curso superior é grande. Tendo
em conta o seu contexto social, João tem facilitado a sua vivência juvenil,
onde pode beneficiar a experimentação de várias situações, tais como
novas tecnologias, participação em concertos, atividades radicais, etc,
tendo uma juventude rica em experiências, o que só é possível, tal como
mencionado anteriormente, pelo seu contexto social.

Segundo Guerreiro & Abrantes, 2007, pp.42, “… os jovens das classes


favorecidas têm percursos de escolaridade longos, entram tarde no
mercado de trabalho e revelam disposições abertas e experimentalistas
face à conjugalidade (embora nem sempre as pratiquem)”.

Apesar de João ambicionar uma vida adulta estável, pode-se prever que
existirá uma juventude prolongada, pois como disse “Quero aproveitar a
minha juventude para experimentar coisas novas, como surfar, passar
tempo com os amigos e divertir-me”, sabendo de antemão que os seus
pais estarão lá para lhe dar casa e o ajudar financeiramente.

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Deste modo, existem sempre alguns riscos e incertezas, nomeadamente
os riscos que uma transição prolongada pode causar, sendo uma delas o
prolongamento da dependência dos pais, e implicitamente o sair de casa,
casar e constituir família. João corre o risco de se acomodar à vida e
permanecer na casa dos pais até mais tarde, onde tem proteção e
conforto

2. Os modelos de transição para a vida adulta são cada vez menos lineares
nas sociedades ocidentais modernas.

Nas sociedades ocidentais modernas temos vindo a assistir a um


prolongamento da juventude, sendo muitas vezes associada ao
prolongamento escolar, bem como à precariedade e ao desemprego que
se tem vindo a sentir.

De transições que até aqui têm sido previsíveis e lineares, ou seja, na


passagem das fases havia um comportamento calculável, este
comportamento tem vindo a sofrer alterações, sendo cada vez mais
individualista, egoísta e dependente, conforme mencionado por
Braconnier, A. Marcelli, D. (2000), p. XX.

Com este tipo de comportamento, o modelo tradicional de transição que,


segundo Guerreiro & Abrantes, 2007, p. 39, corresponde ao trajeto
escolar, a entrada no mercado de trabalho, o casamento e a saída da casa
dos pais, começam a ser adiados para mais tarde bem como deixam de
ser definidos e delimitados, passando a ser menos definitivos, sendo as
condições e contextos socias, fatores que implicarão no modo como irá
decorrer essa transição.

Segundo alguns autores, os jovens têm tendência para adiar a vinculação


a decisões e responsabilidades, optando por passar mais tempo a
depender parcialmente dos pais sendo que antes de assumirem os
compromissos da vida adulta criam um período de opções, liberdade e
experimentação (Guerreiro & Abrantes, 2007), aproveitando para “gozar
a liberdade”.

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Muitas vezes por instabilidade no mercado de trabalho, os jovens acabam
por ter de passar por vários empregos precários, tendo que intercalar com
o desemprego e formação profissional (Guerreiro & Abrantes, 2007).
Nesta situação, havendo alguma dificuldade financeira, os jovens acabam
por continuar a semi-depender dos pais, regressando a casa sempre que
necessitam, nunca sendo tarde para recomeçar e tentar novamente.
Estas são as chamadas trajetórias de tipo yo-yo, que nas sociedades
ocidentais modernas são cada vez mais usuais.

Conforme Pais, 1990, p. 150, “… poderia supor-se que a posse de um


trabalho seria um meio de chegar ao «lado de lá» —o da vida activa, o da
vida adulta. No entanto, a precariedade de emprego e as próprias
dificuldades que alguns jovens encontram na obtenção de emprego ou
trabalho remunerado duradouro fazem que esses jovens muitas vezes
vivam uma situação que pode ser definida de «desemprego
intermitente»”.

Este “desemprego intermitente” dificulta a vida dos jovens na aquisição de


independência, responsabilidades e encargos que fazem parte da vida
adulta, possuindo dificuldades de perspetivas do futuro, vivendo
“presentes prolongados”.

Deste modo, as transições deixaram de ser lineares e definidas no tempo,


dando origem a percursos longos, complexos e individualizados,
originando trajetórias de tipo yo-yo (começar, recomeçar e tentar
novamente).

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BIBLIOGRAFIA

 Baltazar, M. S., Ramos, I. J., Rego, C., Dionísio, A. & Lucas, M. R.


(2017). Jovens, Migrações e desenvolvimento regional. In. G. P. N.
Rocha, R. Lalanda Gonçalves & P. D. Medeiros
(Orgs.). Juventudes: Pensar e agir (347-378). V. N. Famalicão:
Húmus.
 Braconnier, A. & Marcelli, D. (2000). As Mil Faces da
Adolescência. Lisboa: Climepsi Editores.
 Guerreiro, M. D., & Abrantes, P. (2007). Transições Incertas: Os
Jovens perante o Trabalho e a Família. Lisboa: CITE. (pp. 39-44)
 Machado Pais, J. (1990). A construção sociológica da juventude -
alguns pressupostos. Análise Social, XXV (105-106), 139 - 165)
 Vieira, M. M. (2016). Juventude(s) e escolhas de futuro: Do risco
ao arriscar. In. G. P. N. Rocha, R. Lalanda Gonçalves & P. D.
Medeiros (Orgs). Juventude(s) Novas Realidades Novos
Olhares (pp. 183-208). V. N. Famalicão: Húmus.

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