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A essência do
conservadorismo
ES CRI TO PO R RUS S EL K I RK | 0 1 JUNHO 2 01 2
A RTIG O S - CO NSE RV A DO RI S MO
O conservador suspeita de todos os esquemas utópicos. Ele não acredita que, pelo poder do
direito positivo, nós podemos resolver todos os problemas da humanidade. Podemos ter a
esperança de fazer nosso mundo tolerável, mas não podemos torná-lo perfeito.
Uma amiga minha, a quem chamaremos senhorita Worth, teve uma conversa
com uma vizinha – senhora Williams, digamos – que, no dia anterior, havia
vendido um belo prédio antigo, há muito tempo pertencente à sua família, o
qual seria demolido para que muitos automóveis usados fossem postos a
venda no lugar. A senhora Williams tinha certos arrependimentos; mas, disse
ela em caráter definitivo, “você não pode parar o progresso”. Ela ficou surpresa
com a resposta da senhorita Worth, que foi esta: “Não, muitas vezes não; mas
você pode tentar”.
“Aqueles que mudam o amor antigo pelo novo, oram aos deuses para mudá-lo para pior.”
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O que é o Conservadorismo?
1. Homens e nações são governados por leis morais; e essas leis têm a sua origem em
uma sabedoria superior à humana – a justiça divina. No
fundo, problemas políticos
são problemas morais e religiosos. O estadista sábio procura apreender a lei
moral e reger sua conduta adequadamente. Nós temos uma dívida moral para
com nossos antepassados, que nos concederam nossa civilização, e um dever
moral para as gerações que virão depois de nós. Esta dívida foi ordenada por
Deus. Portanto, não temos o direito de, impudentemente, mexer com a
natureza humana ou com tecido delicado de nossa ordem social civil.
3. Justiça significa que todo homem e toda mulher têm direito ao que lhes é próprio – às
coisas que melhor se adaptam à sua própria natureza, às recompensas de sua
capacidade e integridade, à sua propriedade e à sua personalidade. A sociedade
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civilizada requer que todos os homens e mulheres tenham direitos iguais diante
da lei, mas essa igualdade não deve se estender à igualdade de condição: isto
é, a sociedade é uma grande associação, na qual todos têm direitos iguais –
mas não para igualar coisas. A sociedade justa requer liderança sólida,
recompensas diferentes para habilidades diferentes e um senso de respeito e
dever.
8. Nos assuntos das nações, o conservador americano acredita que seu país deve ser
um exemplo para o mundo, mas que não deve tentar reconstruir o mundo à sua
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imagem. É uma lei da política, bem como da biologia, que todo ser vivente ama,
acima de tudo – até mesmo acima de sua própria vida –, sua identidade
distintiva, que o diferencia de todos os outros seres. O conservador não aspira
à dominação do mundo, nem aprecia a perspectiva de um mundo reduzido a
um padrão único de governo e de civilização.
9. Os conservadores sabem que homens e mulheres não são perfectíveis; e nem o são
as instituições políticas. Nós
não podemos criar um paraíso na Terra, embora
possamos fazer um inferno. Somos todos criaturas nas quais bem e mal estão
misturados; e, quando as boas instituições negligenciam e ignoram os antigos
princípios morais, o mal tende a predominar em nós. Por isso, o conservador
suspeita de todos os esquemas utópicos. Ele não acredita que, pelo poder do
direito positivo, nós podemos resolver todos os problemas da humanidade.
Podemos ter a esperança de fazer nosso mundo tolerável, mas não podemos
torná-lo perfeito. Quando o progresso é alcançado, o é através do
reconhecimento prudente das limitações da natureza humana.
10. Os conservadores estão convencidos de que mudança e reforma não são idênticas:
inovação política e moral pode ser tanto destrutiva como benéfica; e
se a inovação é
empreendida com espírito de presunção e entusiasmo, provavelmente será
desastrosa. Todas as instituições humanas, em certa medida, se alteram de
época para época, pois o lento processo de mudança é o meio de conservar a
sociedade, exatamente como é, para o corpo humano, o meio de sua
renovação. Mas, os conservadores americanos se esforçam para conciliar o
crescimento e as modificações essenciais para nossa vida com a força de
nossas tradições sociais e morais. Com Lord Falkland, eles dizem: “quando
não é necessário mudar, é necessário não mudar.” Eles entendem que homens
e mulheres são mais satisfeitos quando podem sentir que vivem em um mundo
estável de valores duradouros.
Esses grandes fins são mais do que econômicos e políticos. Eles envolvem
dignidade humana, personalidade humana, felicidade humana. Eles envolvem
até mesmo o relacionamento entre Deus e o homem. Pois o coletivismo radical
de nossa época é ferozmente hostil a qualquer outra autoridade: o radicalismo
moderno detesta a fé religiosa, a virtude privada, a individualidade tradicional e
a vida de satisfações simples. Tudo o que vale a pena ser conservado está
ameaçado em nossa geração. A mera oposição negativa e irracional à corrente
de acontecimentos, agarrando-se com desespero ao que ainda mantemos, não
será suficiente nesta época. Um conservadorismo de instinto deve ser
reforçado por um conservadorismo de pensamento e imaginação.