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Roberto Wöhlke1
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo analisar quais são as relações existentes
entre o positivismo filosófico e o positivismo jurídico. Tal indagação parte da afirmação de
Norberto Bobbio em sua obra intitulada O Positivismo Jurídico onde diz que a expressão
positivismo jurídico não deriva daquela de positivismo em sentido filosófico, embora
afirme que no século XIX, ambos os movimentos apresentam certa ligação, pois alguns
dos juristas positivos, também eram positivistas no sentido filosófico (1995, p. 15) Com
isso, o artigo pretende contribuir para o debate, caracterizando de forma sucinta os
pressupostos e fundamentos do positivismo filosófico, tendo como principal representante
Augusto Comte, com sua obra “Curso de filosofia Positiva” , e por outro lado caracterizar o
Positivismo Jurídico do inicio do século XIX e destacar as principais relações existentes
entre estes dois movimentos. Sabe-se a princípio que o positivismo filosófico caracteriza-
se por utilizar os métodos investigativos das ciências naturais e aplicá-los ao estudo das
ciências sociais. Afirmando ser o trabalho cientifico válido somente aquele que fosse
possível comprovar empiricamente. Por outro lado os pressupostos do positivismo jurídico
apresentam sua origem nas mais remotas concepções do Direito. É no mundo clássico de
Grécia e Roma que percebe-se seu florescimento, visto que sua expressão positivismo
jurídico na verdade deriva da locução do Direito Positivo que contra põe-se a locução do
Direito Natural. (BOBBIO, 1995, p.15). Mas o positivismo jurídico ficou caracterizado
principalmente pelas discussões e movimentos realizados no século retrasado através
das três importantes escolas; Exegese na França, Histórica na Alemanha e a Analítica na
Inglaterra que caracterizam-se pelos estudos da necessidade de uniformização e
sistematização do conhecimento jurídico (direito científico), além de se contraporem ao
movimento da metafísica. Desta forma é necessário caracterizar e distinguir tais
expressões, para não confundir e sobre por um movimento ao outro, pois em alguns
aspectos estes movimentos convergem, principalmente no sentido de estabelecerem um
método de investigação e negarem a metafísica. O artigo utilizou como método a
pesquisa bibliografia. Conclui-se que o Positivismo filosófico caracterizou e constituiu as
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O autor é professor dos cursos de Direito e Relações Internacionais da Universidade do Vale do Itajaí, mestrando em Sociologia
Política na Universidade Federal de Santa Catarina.
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1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo demonstrar e analisar quais são as relações
existentes entre o positivismo filosófico e o positivismo jurídico. Tal indagação parte da
celebre afirmação de Norberto Bobbio em sua obra intitulada O Positivismo Jurídico:
2 DO POSITIVISMO FILOSÓFICO
(...) creio ter descoberto uma grande lei fundamental a que se sujeita
por uma necessidade invariável, e que me parece poder ser
solidamente estabelecida, que na base de provas racionais
fornecidas pelo conhecimento de nossa organização quer na base
de verificações históricas (...) Essa lei consiste em que cada uma de
nossas concepções principais, cada ramo de nosso conhecimento,
passa sucessivamente por três estados históricos diferentes: estado
teológico ou fictício; estado metafísico ou abstrato, estado científico
ou positivo.
Os três estados constituem os métodos de investigação filosóficos, sendo o
estado teológico dirigido essencialmente suas investigações para a natureza íntima dos
seres, as causas primeiras e finais de todos os efeitos que tocam, numa palavra para os
conhecimentos absolutos, dirige a ação para os fenômenos sobrenaturais. (COMTE,
1978, p. 4)
No estado Metafísico “(...) os fenômenos sobrenaturais são substituídos por
forças abstratas (...) inerentes aos diversos seres do mundo (...) capazes de engendrar
por elas próprias todos os fenômenos observados” (COMTE, 1978, p. 4).
O estado Positivo como último elemento do desenvolvimento humano esta
assim conceituado por Comte (1978, p. 4):
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Common Law, locução Inglesa. Lei comum ou costume geral e imemorial que designa a lei não escrita ou não estatuída, criada por
decisões jurídicas, contrapondo-se à escrita, emanada do poder legislativo. É portanto, o conjunto de normas consuetudinárias,
baseadas nos precedentes judiciários, que impera na inglaterra e nas nações que adotam, por recpeção, por terem sido colonizadas
pelo povo inglês. (...) Caracteriza-se por ser um direito consuetudinário jurisprudencial não escrito, que tem por base os casos
resolvidos pelas cortes de justiça. (DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 1 p. 685.
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destes (CAPELLARI, 2000, p.150). Desta forma, propõe um direito positivo fundamentado
em três pontos, como esclarece Bobbio (1995, p. 108):
Não me disporei a dizer que essas coisas ditas por Jhering sobre o
método da ciência jurídica são exatas e convincentes. Mas
certamente são indicativas de uma certa mentalidade, da
mentalidade do jurista teórico, que constrói um belo sistema,
preocupando-se mais com a lógica e com a estética do que com as
conseqüências práticas de suas construções. É a mentalidade que
geralmente tem sido atribuída ao jurista partidário do positivismo.
É através da necessidade desta sistematização e uniformidade ao direito
influenciado pelos avanços científicos do século XIX que motivou o surgimento da
doutrina3 do Direito Positivo, pondo de lado a metafísica, reduzindo o direito ao direito
positivo e definindo-o como fato, passível de estudo científico, fundado em dados reais.
(GUSMÃO, 2001, p.385)
Desta forma o próximo ponto irá tratar especificamente das contribuições do
Positivismo filosófico na doutrina do direito positivo, estabelecendo pontos de
convergências e destacando seus elementos.
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Doutrina aqui é entendida como o Conjunto de teorias que envolvem um julgamento de valor, tem como propósito transformar uma
realidade. Difere da teoria, porque esta se limita a uma explicação causal, um juízo de existência. Mas em direito é muito comum usar-
se indiferentemente "doutrina", "teoria", "escola". Quando o leitor não encontrar o assunto sob um destes títulos, veja em outro. Opinião
dos doutos na matéria. Enciclopédia Jurídica Leib Soibelman
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. 24 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
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