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APONTAMENTOS SOBRE A ILUMINAÇÃO

CÊNICA
versão A

José Everaldo de Oliveira Vasconcelos


Departamento de Artes Cênicas da UFPB
Outubro de 2019

A luz1 é um elemento chave da encenação em todas as suas manifestações: teatro,


dança, circo, ópera, performance, ou seja, qualquer prática humana espetacular organizada2 .
Ela está impregnada na construção da cena, na interpretação dos atores e atrizes, nas
expectativas dos espectadores. A luz cênica existe na concepção da cena como aquilo
determina o foco dos vetores de atenção do público. 3

Toda cena possui uma luz nela mesma. É fácil perceber que mesmo sob uma luz geral
e neutra uma cena tem a luminosidade de seu acontecimento como ação cênica. Assim,
vamos definir que existe uma PRIMEIRA LUZ, a primeira fonte de luz de uma cena, que
é a ação cênica, cuja energia radiante não é percebida somente pelos olhos. Isto quer
dizer que uma cena atrai os vetores de atenção de um espectador, inicialmente pela sua
PRIMEIRA LUZ. Vamos definir como SEGUNDA LUZ, ou LUZ CÊNICA, a luz que é
feita através de equipamentos de iluminação e cuja função é participar da composição
visual e auxiliar a compreensão fazendo os elementos visíveis da cena em um processo de
montagem dos vetores de atenção do espectador que se assemelha ao processo de uma
montagem cinematográfica. A luz cênica edita os caminhos da visão do público.

1
Texto para a Oficina de Iluminação Cênica para os cursos de Licenciatura em Dança e Licenciatura e
Bacharelado em Teatro da UFPB.
2
PCHEO, prática e comportamento humano espetacular organizado, é um conceito da disciplina
Etnocenologia.BIÃO (2009)
3
VETORES DE ATENÇÃO - são as setas que ligam os olhos dos espectadores a um determinado
ponto de uma cena

1
1 Funções da luz cênica
A iluminação cênica tem duas funções básicas: ser um elemento expressivo de composição
visual e tornar visível o espetáculo:

1 - Estabelecendo a hora do dia( madrugada, meio-dia, crepúsculo, noite); estabelecendo


a fonte de luz( sol, lua, lampada elétrica, fogueira); estabelecendo as condições do tempo
( dia de sol, nublado, chuva, tempestade); identificando as estações do ano; estabelecendo
a época através da utilização de luminárias em cena ( lampadas a óleo, tochas, candeeiros,
lampadas elétricas); efeitos especiais( raios, relâmpago, fogo, chuva, neve).

2- Expressando o estado de espirito, atmosfera, estilo, tema da peça através do uso do


simbolismo e efeitos psicológicos das cores.

3 - Expressando o estilo e o tema de uma peça, por exemplo, se a peça é realista, então
ela pede uma iluminação adequada a esta proposta.

4 - Servindo como elemento de composição, enfatizando o que é necessário enfatizar,


selecionando atores ou objetos ou pequenos grupos e áreas de atenção conduzindo os
vetores de atenção para fazer os olhos verem somente o que é importante, e até mesmo
tornando-se ela mesma uma personagem.

2 Princípios visuais
A iluminação teatral é governada pelos seguintes princípios.

• Harmonia

• Balanço

• Proporção

• Ênfase

• Rítmo

2.1 Harmonia
É preciso que haja harmonia com:

• Estilo, período, época, personagens,ações e ideias do texto e da encenação.

2
• Unidade das cenas individuais com o todo

• Variação para evitar a monotonia

2.2 Ênfase, Proporção e Balanço


Ênfase,Proporção e Balanço estão intimamente interligados.

2.2.1 Ênfase

A ênfase é dada pela seta do Vetor de Atenção nas áreas de ação4 Por exemplo, o
ponto chave da cena deve ter mais luz.

2.2.2 Proporção

Refere-se a quantidade de luz entre nas áreas de ação e no entorno.5

2.2.3 Balanço

A luz na área de ação e seu respectivo entorno deve ser distribuída de acordo com as
necessidades de composição visual da cena.

Proporção e balanço criam os necessários pontos de ênfase.

2.3 Coreografia
O movimento dos Vetores de Atenção é como uma dança da composição visual. É o
que faz fluir a atenção do espectador entre os pontos de ênfase, utilizando-se de todos os
elementos controláveis da iluminação cênica.

3 Fatores controláveis da luz teatral


Os fatores controláveis da iluminação teatral são:

4
Definimos ÁREA DE AÇÃO como sendo o lugar do palco para onde devem ser dirigidos os vetores
de atenção.
5
Definimos como ENTORNO como sendo as áreas do palco visíveis ao espectador, mas que não tenham
vetores de atenção dirigidos para elas.

3
• Intensidade

• Cor

• Distribuição

• Movimento

3.1 Intensidade
É determinada basicamente pelo número de equipamentos, tipo de lâmpadas usadas
e distancia do palco.

3.1.1 Instrumentos de luz, acessórios e mesa de controle

Instrumentos de luz: refletor, gambiarra, panelões, ribalta e tangões.

Partes: caixa de metal, potencia, suporte da lâmpada, espelho refletor, lente espelho,
caixilho para filtros, ajuste de foco, mecanismo de fixação.

Tipos de lentes: plano-convexa, fresnel, elipsoidal.

3.2 Cor
O espectro visível: vermelho, laranja, amarelo, verde, verde-azul, azul e violeta.

Cada uma é separada da outra por diferentes comprimentos de onda.Vermelho é o


mais longo. Violeta é o mais curto. Branco ou luz natural é a mistura de todas as cores.

Cor é atribuída aos objetos por causa de sua propriedade de absorver alguns comprimentos
de onda e refletir outros. Sem a luz não há cor. Cada fonte de luz tem um espectro de cor.

A lâmpada incandescente é predominantemente amarela. Então, a aparente cor dos


objetos como cenários e figurinos são afetados pela fonte de luz, mesmo quando não se
está usando filtros de cores.

3.2.1 Distorção das cores

Para prevenis a distorção das cores no cenário, figurinos e caracterização dos atores e
para ter em conta a mudanças de cores indicativas de estado de espírito ou hora do dia,

4
é desejável que a cor das luzes seja variável quando possível.

Filtros de cores operam através de um processo de seleção de comprimento de onda


que deixa passar através de si.

Cor na luz tem três qualidades básicas: Matiz ou tom; Saturação e Brilho.

Matiz - É o termo básico que descreve a cor - vermelho , azul, etc.

Saturação - é a relativa pureza de cor, a concentração em torno do comprimento de


onda específica.

Brilho - É o escuro ou a iluminação da cor o componente de luz branca.

3.3 Distribuição
A distribuição refere-se a localização do equipamento de luz com relação ao palco e
do sentido do facho de luz.
O sentido determina qual região do palco é preenchida.

A localização pode ser: frontal, contra-luz, lateral, pino, de baixo.

Pode preencher todo o palco ou apenas parte dele.

O sentido é determinada pela posição da fonte de luz.

3.4 Movimento
Movimento - Refere-se a alteração de intensidade, cor e distribuição durante o espetáculo.

A luz cênica é o mais flexível elemento da produção, pois pode com mais facilidade
sofrer adaptações às condições técnicas de cada local de apresentação.

4 Procedimentos de trabalho
O iluminador deve seguir estes passos:

5
1- Conhecer o texto e marcar as suas necessidades de luz. Analisar: a ação; caracterização;
ideias; intenção do espetáculo; estilo.

2- O iluminador procura ver as indicações da natureza física da luz: 1 - fontes de


iluminação( candieiros, lua sol, etc...); 2 - mudanças de intensidade de luz( escurecimento,
nascer do sol ou o poente, luzes pelas frestas, etc...); 3- variação da luz requeridas nas
diversas partes do palco; 4- Direção da luz( a luz da lua através de uma janela, luz do sl
vindo de uma direção...); 5 - Algum efeito especial( relâmpago, chuva, neve, tempestade,
nuvens, fogo); 6 - coloração da luz( luz de fogo, luz da lua, etc....).

Todas considerações praticas devem ser anotadas sem ser ignorado que são partes
essenciais de um todo.

3- Conversa com o diretor e equipe técnica.

4 - Fazer experimentações com a luz até obter o desejado.

5 - Plano de luz.

4.1 Plano de luz


Plano de luz é o desenho de uma planta-baixa do palco indicando a posição das fontes
de luz sua distribuição no palco; área que cada fonte de luz preenche, o tipo de palco,
tamanho, posição de cada elemento em cena. Marcar onde se requer enfase, luz geral,
efeitos especiais.

4.1.1 Iluminação específica

Áreas de ação

o palco deve ser dividido em áreas. cada área deve ser iluminada separadamente, um
refletor para cada área, um angulo de 45 graus em relação a eixo vertical perpendicular
ao palco.

4.1.2 Luz geral

três funções básicas

6
1 Iluminar todos os elementos que não foram iluminados por focos específicos.

2 - Harmonizar as áreas de ação e prover a transição entre alta intensidade de luz das
áreas de ação para baixa intensidade do entorno.

3 - Acentuar ou modificar a cor dos elementos da cena através dos filtros de cor.

4.2 Lista de equipamentos


É uma tabela indicando separadamente cada fonte de luz e suas características e o
modo como estão sendo usadas.

No ÁREA LOCAL TIPO POTENCIA CIRCUITO COR OBS


01 baixo-direito vara 1 PC 1000 A vermelho xxx

4.3 Mercado de trabalho


Sindicato admite na mesma categoria: estagiários, eletricista cênico, operadores de
luz, iluminador.

Referências

BIÃO, A. Um léxico para a etnocenologia: proposta preliminar. In: Etnocenologia e a


cena baiana: textos reunidos. Prefácio de Michel Maffesoli. Salvador: P & A gráfica e
Editora, 2009. p. 33–43.

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