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Fichamento

Particularidades do conceito “Alma” em Agostinho

1) Introdução

P1.1

“Versar sobre a alma em Agostinho de Hipona sem dúvida tem provado ser uma
indústria ingrata, afinal, a amplitude do tema é tamanha que ele chega a ser tocado em
praticamente quase todas as suas obras” (FERREIRA, 2012).
O problema da Alma é uma reflexão que Agostinho não esgota em suas reflexões.

P.2

A discussão sobre a Alma vem desde os pré-socráticos, Platão, Aristóteles e tantos


outros. Essa discussão acompanha a História da filosofia e não se esgota até os nossos
dias.

P.3

“ O ‘problema da alma’ se constitui em um conglomerado de questionamentos que


procuram investigar sobre as particularidades disto que chamamos ‘alma’” (FERREIRA
2012).
De fato Agostinho, não esgota toda reflexão sobre a Alma, mas suas reflexões
contribuem para futuras reflexões.

P.4

2) O problema terminológico

A questão desenvolvida por Agostinho tem seu problema na maneira de se pensar o que
é a alma.

P.5

1
P. significa parágrafos

1
“O termo em português ‘alma’ (anima ou animus) de modo geral designa o princípio
animador de todos os seres vivos, sejam eles animais ou vegetais” (FERREIRA 2012).

P.6 - P.7

Agostinho concorda com o termo animus pelo fato de acreditar que a alma vem de
Deus. Agostinho prefere usar o termo animus para falar sobre a alma humana. É
encontrado em suas obras os termos, alma racional e alma sensitiva e que até mesmo
uma mosca possui uma alma por possuir sensibilidade.

P.8

O termo animus e anima só poderão ser compreendidos a partir da leitura do texto


original.

P.9 - P.10

Para Agostinho, a Alma no ser humano é denominada spiritus, por ser o homem o único
ser animal portador da alma racional. Gilson (2007, p. 95), apresenta outra significação
para o termo spiritus ‘“designa bem o que denominamos por imaginação reprodutiva ou
memória sensível; portanto é superior à vida (anima) e inferior ao pensamento (mens)’”.

P.11

Agostinho utiliza o termo mens para falar da parte superior da alma racional. Para ele a
capacidade de assimilar as coisas inteligíveis ou de aprender estão interligadas
diretamente a mens.

P.12

Enfim, o ato de pensar para Agostinho está relacionado a capacidade que a alma possui
de aprender as coisas inteligíveis, intangíveis.

2
P.14

Segundo Gilson (2007, p. 96,) mens e ratio estão conceitualmente interligadas, como se
diz: ‘é o movimento pelo qual o pensamento (mens) passa de um dos seus
conhecimentos a outro associando-os ou dissociando-os’”. Porque tanto mens quanto a
razão trabalham com as coisas inteligíveis.

P.16

Segundo Agostinho, a inteligência excede a razão, pois a inteligência vem de Deus e a


razão não. Gilson (p.96, 2007) vem esclarecer o que Agostinho diz: ‘o intellectus é uma
faculdade superior à razão, pois é possível haver razão sem haver inteligência, mas não
inteligência sem haver primeiramente a razão; e, porque o homem tem a razão, ele quer
alcançar o entendimento’”.

P.19

Agostinho entende que algumas coisas só nos são acessíveis através do olhar do
pensamento. Apesar de, o que ele chama de "homem interior” pode ser compreendido
como a ligação entre a razão e o intelecto, onde o segundo mostra-se eminente, ele faz a
ligação entre o homem e Deus.

P.20

O esclarecimento acerca dos termos “mente”, “razão”, “alma”, “espirito” e “intelecto”


se faz necessário, segundo Agostinho. São termos que carregam significados específicos
e peculiares. A “alma” é o sopro vital, aquilo que anima o corpo. O “espirito” é a nossa
parte racional, ou seja, que nos faz ser distintos dos animais. A “mente” é a parte
distinta do “espírito” É a “mente” que nos proporciona aprender claramente as coisas. A
“razão” age fazendo um apanhado pela mente, de maneira que o nosso raciocínio seja a
realização da razão em seu funcionamento. O “intelecto” atua juntamente com a razão,
mas segundo Agostinho é a partir do intelecto que a fé pode se iniciar.

3
P.21 - 22

2) Sobre a influência de Cícero no pensamento de Agostinho

Agostinho é o principal filósofo da Patrística, termo que denomina uma filosofia feita
pelos Padres da Igreja. Marco Túlio Cícero, teve uma grande atuação como filosofo
para Agostinho. Um dos trabalhos de Cícero, Hortensius, era tido por Agostinho como
um “manual de filosofia”, que defendia e incentivava o estudo da filosofia.

P.24

Agostinho foi um fiel leitor das obras de Cícero, sendo que Maurice Testarde, diz que é
notório nas obras de Agostinhos, encontrar rastros da influência do pensamento de
Cícero.

P.26

Ao que tudo indica, Agostinho e Cícero são dois filósofos diferentes. Primeiro devemos
atentar-nos que ambos viveram em épocas distintas, cada um com sua cultura. Contudo,
é provável fazer algumas analogias, que serão tratadas nos próximos parágrafos.

P.27

A primeira semelhança entre Agostinho e Cícero seria quando examinam sobre a


mesma questão: o termo espirito e seu profundo significado.

P.30 - 31

Sobre a origem e sobre a natureza da alma, outro ponto semelhante entre o pensamento
de Agostinho e Cícero é que ambos afirmam que, a alma não é formada por nenhuma

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característica material. O dois são taxativos em dizer o que a alma não é. Arriscam
também em anunciar do que ela é feita, possibilitando precisamente não saberem ao
certo qual a substância constitui a alma. E no que se refere à origem da alma, ambos
afirmam que ela se origina de algo sublime. No entanto, Cícero diz que ela começa do
mesmo local dos astros, ao mesmo tempo, Agostinho diz que a alma do homem se inicia
das mãos de Deus, criador de todas as coisas, demostrando assim seu acordo teológico
com a igreja. Cícero não possui tais obrigações. Sobre a imortalidade da alma, Cícero
declara que além de imortal a alma é eterna. Agostinho concorda que a alma é imortal,
mas segundo ele somente Deus é eterno.

P.32

Outra diferença que podemos observar entre ambos filósofos é que Cícero, um romano
de 106 a.C., era um fiel leitor de filósofos gregos, que tinham como crença religiosa
cultuar vários deuses. Já Agostinho, um filosofo Cristão de 354 d.C., tinha seu
pensamento enraizado na religião cristã, e como tal jamais aceitaria a hipótese a respeito
da eternidade da alma. Ele entende que somos feitos à imagem e semelhança de Deus,
contudo não o somos. Quando Agostinho diz que a alma não é eterna, quer dizer que a
mesma é feita e nada que é feito pode ser completo em si mesmo.

P.33

A respeito do “conhecimento da alma por ela mesma”, Agostinho e Cícero, entendem


que a alma humana se entende a si mesma. Tal entendimento é o rastro de Deus que
temos em nós.

P.35 - 36

Finalizando os pontos de concordância entre os pensamentos de Agostinho e Cícero


sobre as operações que o espirito exerce, ambos entendem que a alma memoriza, sente,
conhece, vive, prospera consequentemente, é imortal, jamais eterna.

5
P.37

3) Sobre as operações da alma por Agostinho

3.1) Da memória

Em uma de suas obras, Tusculanas, não expõe cada atributo da alma detalhadamente.
Ao contrário, Agostinho, esclarece detalhadamente sobre o que o intelecto, conduzido
pela luz divina, pode concluir sobre as almas.

P.40

Agostinho, guarda à memória, um aspecto do que é próprio da alma. Segundo ele, a


memória cumpre o papel de recordar coisas sensíveis como cheiros, gostos, texturas,
imagens e sons. Ela também evoca coisas não sensíveis como números e as dimensões e
os conceitos que a matemática envolve. Para Agostinho, a memória é uma ferramenta
da alma.

P.41

3.2) Do conhecimento Sensível

“Em Agostinho a temática da memória desemboca de modo essencial e com o perdão


do termo anacrônico, em uma “teoria do conhecimento”. Pois, se a memória é capaz de
recordar-se daquilo que é sensível e daquilo que é inteligível, é necessário, portanto, que
nossa alma tenha conhecido primeiramente o seu objeto” (FERREIRA 2012).

P.44

Agostinho vê com cautela os sentidos para entender as sensações e assim, transportá-las


à alma. É improvável que um dos nossos cinco sentidos gere qualquer conhecimento,

6
afinal de contas os sentidos transportam somente compressão, tendo ausência de
definição.

P.45

O Filósofo entende que é possível que seus leitores venham ter uma grande dificuldade
para compreender o assunto, isso porque segundo ele, assim que algo nos toca o sentido
adquirimos conhecimento ou seja, uma coisa é sentir outra é entender o que é o sentido.

P.46

“Interessante notar que ao sentirmos a fumaça, nossa razão automaticamente nos leva a
procurar a causa da mesma, algo que para um homem de 387-388dC. não poderia ter
outra origem senão o fogo. O processo de indução é imperceptível, por isso é difícil
para Evódio compreender porque nem sempre tudo o que vemos com os olhos também
é entendido pela visão. Pois, se conhecemos a fumaça e o fogo, e sabemos que o
primeiro é a causa só segundo em combustão com algum objeto, certamente nos é
natural que sentirmos a fumaça, entendamos que exista fogo” (FERREIRA 2012).

P.47

Em relação ao termo cognitivo, que significa conhecer, Agostinho nos indica em seu
texto original que o conhecimento provém dos sentidos, e não do intelecto. Contudo, o
conhecimento corresponde inclusivamente da experiência ou dos sentidos.

P.48

Por fim a explanação que o Filósofo faz a respeito dos conhecimentos sensíveis é para
nós suficiente.

Agostinho diz que nossa alma conhece os objetos ao compreender ou desconsiderar as


impressões sensíveis que os sentidos levam. Então se a alma é quem sabe sobre sobre os

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objetos sensíveis e não o corpo, então, qual a função do corpo? Ao que parece,
Agostinho demonstra dificuldade em combinar esses dois termos, alma e corpo.

P.49

3.2.2) Do Conhecimento Inteligível

“A “teoria do conhecimento” de Agostinho acerca do conhecimento inteligível tem


como base a teoria platônica da reminiscência da alma. A teoria platônica da
recordação ou anmnese afirma que as nossas almas, antes de habitar a morada do corpo,
passaram por uma série de estados encarnados e desencarnados, trazendo consigo
alguns conhecimentos do mundo provenientes destes ciclos anteriores” (FERREIRA
2012).

P.50

Agostinho concorda da mesma teoria de Platão, que diz: nossa alma não vem ao mundo
sem algum conhecimento prévio. Mas incorpora a essa teoria o conhecimento dado a
Deus, que por conseguinte seriam usados por nos.

P.52

O Filósofo utiliza o termo saber, denominando um conhecimento que é certo, inevitável,


indiscutível, ou melhor um conhecimento que vem de Deus. Desta forma, apenas os
conhecimentos alcançados por Deus não falham.

P.54 - 55

Agostinho (De Trin., X, X, 16) considera que “toda força do preceito de conhecer-se
reside na certeza de que não é nada daquilo de que não está certa; e que ela unicamente
está certa de ser aquilo que tem certeza”.

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“O Filosofo somente consegue alçar o conhecimento de si contando com a ajuda do
“mestre interior”. E de acordo com Agostinho (De Mag., I, XI, 38), é “consultado por
toda alma racional”. O conhecimento interior também é algo inato, desprovido de
qualquer experiência sensível prévia” (FERREIRA 2012).

Conclusão

Nesse texto percebemos que a Alma apresenta divergências em seu significado. No


português, os termos “alma”, “espirito”, “mente”, “razão” e “intelecto” muitas vezes é
aplicado como sinônimo. Já no latim, esses mesmos termos tem significados
específicos. Não podendo haver uma simples tradução para gerar mal-entendido da
mensagem passada pelo filósofo.

Compreendemos também no texto, uma forte influência de Cícero em Agostinho. O


filosofo se preocupa apenas em resguardar alguns detalhes sobre sua religião.

Finalmente, Agostinho faz-se necessário demonstrar-nos sobre o conhecimento sensível


e inteligível. Sobre o conhecimento sensível, podemos concluir que, aprendemos com a
alma aquilo que os sentidos captam. E sobre o conhecimento inteligível, de acordo com
o filosofo esse conhecimento nos é inato e só podemos chegar à sua ciência, graças ao
nosso “mestre interior” que é fonte de toda verdade capaz de ser adquirida.

Agostinho estruturou uma filosofia que terminou com todos os problemas relacionados
a alma, no entanto o filosofo conseguiu analisar dificuldades e ampliar soluções que
seriam admiradas consequentemente por outros filósofos.

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PONTOS CONVERGENTES E DIVERGENTES SOBRE A ALMA ENTRE
PLATÃO E AGOSTINHO:

PONTOS CONVERGENTES PONTOS DIVERGENTES

- A Alma é imortal em ambas - Para Platão a Alma é composta por


perspectivas, porque o conceito de uma tríade, ou seja não há
alma, implica necessariamente o separação.
princípio de vida. E o princípio de
- Já em Agostinho, uma coisa é alma,
vida exclui inevitavelmente a morte. outra é razão, intelecto, mente (há
uma separação).
-Para Agostinho e Platão a Alma
sente, conhece, vive, prospera. -Para Platão, a alma adquire
conhecimento prévio. E o
- O destino da Alma como purificação conhecimento humano nada mais é
que relembrar.
para ambos filósofos.
- Para Agostinho, não é bem assim.
Quem ilumina o conhecimento na
inteligência é Deus.

- Platão acreditava que a alma


permanecia num círculo de vida
terrena, ou seja, a morte do corpo
físico e retorno em outros corpo,
incluindo o retorno em um corpo de
um animal.

- Para Agostinho não há esse retorno


das almas.

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Texto Conclusivo

Compreendi que a Alma em Agostinho, embora sua reflexão advém da filosofia


platônica se resolve em uma perspectiva Crista Católica. A Alma é uma
realidade imortal que esta intrinsicamente ligada à criação divina do Deus
Judaico-cristão.
No texto de Platão fica explicito a vulnerabilidade da Alma. E em tempos de
Neurociência, onde se quer reduzir todo nosso ser a materialidade do corpo ao
movimento neuronal, o diálogo de Platão ganha uma atualidade particular:
Tendo em vista que ele é uma reflexão sobre nosso ser, sobre quem somos e
sobre se há algo em nós que é mais que o corpo.

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Referências

LIMA, R.P.S.; FERREIRA, A.T. As particularidades do conceito de Alma no


pensamento de Agostinho. Orizonte Cientifico, Uberlândia, v. 06, n. 2, Fev
2012. Disponível em:
<http://www.seerufu.br/index.php/horizontecientifico/article/view/14522>.
Acesso em: 10 de dez. 2018.

Platão. Diálogos. Tradução de José Cavalcante de SOUZA; João da Cruz


COSTA e Jorge PALEIKAT. 5ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

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