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O presente trabalho objetiva tratar da relação entre a imortalidade e a existência não

corporal e não material da alma humana tendo como base a leitura e análise dos
Capítulos III e IV da obra Sobre a potencialidade da alma, do Solilóquios, Da
Imortalidade da Alma e da Tese de Doutorado com o título de Augustine’s
Psychology during his first period of literary activity with special reference to his
relation to Platonism, de Tomas Parry. O método de análise estrutural de Gueroult é o
utilizado na leitura dos textos, que é um dos métodos mais utilizados na tradição
filosófica brasileira, desde a década de 30 quando professores franceses chegam ao
país para instalar uma forma de ler e escrever filosofia desde o método estrutural
francês, que analisa as estruturas do texto e suas relações entre si. Caros ouvintes,
para tratarmos sobre o conceito de “imortalidade” em relação à alma, e aqui é
importante frisar o que Agostinho responde para a razão, quando essa lhe pergunta
sobre o que mais deseja conhecer, o filósofo afirma que não deseja conhecer mais
nada além da alma e de Deus, ou seja, conhecer a si mesmo e a causa de si mesmo
que é transcendente a si mesmo. Continuando, sobre a “imortalidade” da alma, é
imprescindível que antes nos aprofundemos um pouco sobre o seu carácter imaterial
que pode nos revelar coisas importantes à exposição dessa pesquisa. Ora, a
imaterialidade da alma nos indica que, 1. a alma está num âmbito em que o seu
conhecer se difere do que se conhece pelos sentidos; 2. que o âmbito em que se
encontra na hierarquia do ser das coisas indica um mais elevado em realidade e
existência do que as coisas materiais; e 3. que por ser imaterial apresenta
compatibilidade com as coisas imateriais. Agostinho no Soliloquio afirma que a alma
não pode ser conhecida pelos sentidos mas que só através do intelecto é que pode-se
conhece-la, ora, o fato de os sentidos não abarcarem a alma, de não conhecê-la, não
significa que ela não exista ou não tenha existência alguma, e, isso Agostinho prova
no De quantitatem Animae, ele usa da falta de compreensão de Evódio, que insiste
em afirmar a alma como “Pneuma”, apresentando uma concepção materialista da
alma, acreditando nos estoicos que entendiam a alma como o “vento”, para provar
que a alma existe mesmo sem ter as dimensões de um corpo material, e que sua
existência é mais elevada do que as coisas materiais. Agostinho usa o exemplo da
árvore e da justiça, no Cap. III do De quantitatem animae. Por mais que a justiça não
tenha as dimensões de um corpo e não possa ser percebida pelos sentidos não
significa que ela não exista, na verdade ela existe e num grau mais perfeito que a
arvore que é percebida pelos sentidos. O caráter imaterial da alma, além de eleva-la a
um patamar superior na hierarquia do ser das coisas também lhe proporciona
compatibilidade com os seres imateriais, ou seja, pelo intelecto pode alcançar o
conhecimento das coisas imateriais e abarca-las em si, porém, isso não lhe assegura
imortalidade, pois há muitas coisas imateriais que são passageiras, como
pensamentos, desejos, imagens, mesmo os contidos na memória, estes podem ser
esquecidos. Mas então o que corroboraria com a afirmação da imortalidade da alma, e
que nos levaria a certeza de sua realidade? Ora, o outro lado do ser das coisas
imateriais. Há coisas imateriais imutáveis e eternas, e aqui é importante frisar que
Agostinho faz uma distinção entre o que é eterno e sempiterno, sempiterno refere-se
aquilo que não tem origem nem fim, que sempre existiu, e eterno aquilo que não tem
fim. A alma é compatível tanto com as coisas imateriais passageiras como com as
coisas imateriais imutáveis e eternas, como por exemplo a Verdade. Quem negaria
que a alma seja capaz conter em si coisas imutáveis? Por acaso não é capaz de conter
em si as leis da matemática, em que 1 + 2= 3 e assim sempre será? A imaterialidade
da alma faz com que ela seja capaz de acolher em si a Verdade. É o que nos comunica
o princípio da incompatibilidade das essências, algo imaterial só pode ser compatível
com algo imaterial. Logo, para ser compatível com as coisas imutáveis a alma tem de
ser também imutável. A compatibilidade com a Verdade que é eterna lhe proporciona
eternidade. Por isso podemos afirmar com Agostinho: a verdade é naturalmente
indestrutível; logo, a alma, que é o sujeito da verdade, deve ser igualmente
indestrutível. Porém, o que a imortalidade da alma nos comunica sobre sua realidade
e existência? Nos comunica que a alma existe verdadeiramente, que sua existência é
superior as coisas materiais e as coisas imateriais mutáveis. Com isso podemos
afirmar com Tomas Parry, “portanto, é que apenas coisas imortais são verdadeiras e
que nenhum objeto perecível tem existência verdadeira”. A imortalidade da alma lhe
comunica uma existência verdadeira, uma existência imutável e imperecível na
hierarquia Agostiniana do ser das coisas.
Agostinho segue o seguinte raciocínio em sua obra “A imortalidade da Alma” o que
ele chama de “memorial de término” da obra Solilóquios. Ora, O conhecimento
existe, e é imutável, logo existe para sempre. O conhecimento deve estar em algum
lugar, e só pode estar em um ser vivo, pois apesar de se poder existir sem viver e sem
conhecer, e de se poder viver sem conhecer, porém não se conhece sem existir e sem
viver. O conhecimento só pode estar em um ser vivo educável, o que Agostinho
chama de “alma educada”, e aqui ele difere a alma humana, da alma irracional e da
alma vegetativa, ou seja, dos animais e das plantas, pois somente a alma educada é
capaz de adquirir e reter conhecimento. Ora, raciocinar é uma atividade da alma
educada, pois o corpo não compreende e nem ajuda a alma a compreender. Apesar de
Agostinho não explicar, ele afirma que de alguma forma a alma se separa do corpo
quando quer compreender. Raciocinar é conduzir o pensamento do certo à descoberta
do incerto, afirma Agostinho na Imortalidade da Alma. Ora, se é conduzir do certo ao
incerto, logo a alma conhece certezas, como também guarda o que conhece. Seria
quase impossível raciocinar sem conhecimento. Logo, o conhecimento não pode ser
privado da alma humana. Ele não duraria para sempre, o que é impossível para algo
que dura para sempre. Logo, a alma vive para sempre, o continente de algo eterno só
pode ser eterno. Uma alma material jamais poderia ser compatível com a Verdade que
é imaterial. Ao escolher a verdade dentre os universais, como o Ser, o Bem,
Agostinho além de superar o ceticismo, também supera o materialismo que tanto quer
desvencilhar de Evódio na obra A grandeza da Alma, que é uma obra dedicada ao
tema da imaterialidade da alma, imaterialidade essa que corrobora para a chegada da
prova de sua imortalidade.

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