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MANUAL DO CAFÉ

Colheita e Preparo
(Coffea arábica L.)
MANUAL DO CAFÉ
COLHEITA E PREPARO

BELO HORIZONTE
EMATER-MG
ABRIL DE 2016
FICHA TÉCNICA

Autores: Fotos e desenhos:


Engenheiro Agrônomo Arquivo da Emater–MG
Carlos Magno de Mesquita
Revisão
Engenheiro Agrônomo
Lizete Dias
João Eudes de Rezende
Ruth Navarro
Engenheiro Agrônomo
Julian Silva Carvalho Projeto Gráfico e Diagramação
Engenheiro Agrônomo Cezar Hemetrio
Marcos Antônio Fabri Júnior
Tiragem:
Engenheiro Agrônomo
10.000
Niwton Castro Moraes
Técnico Agrícola Emater–MG
Pedro Tavares Dias Av. Raja Gabaglia, 1626. Gutierrez -
Engenheiro Agrônomo Belo Horizonte, MG.
Romulo Mathozinho de Carvalho www.emater.mg.gov.br
Engenheiro Agrônomo
Willem Guilherme de Araújo

Série Ciências Agrárias


Tema Fitotecnia
Área Culturas

MESQUITA, Carlos Magno de et al. Manual do café:


colheita e preparo (Coffea arábica L.). Belo Horizonte:
EMATER-MG, 2016. 52 p. il.

CDU 633.73(021)
APRESENTAÇÃO
O café é o principal produto da adotadas, é fundamental ter padrões e
pauta de exportações do agronegócio informações tecnológicas que se adap-
de Minas Gerais. É um importante gera- tem às várias condições, testados e
dor de emprego, renda e, principalmen- aprovados em campo e resguardados
te, um meio de vida para milhares de pela pesquisa.
agricultores mineiros. A série de Manuais do Café, escrita
A cafeicultura tem papel estraté- por extensionistas da Emater–MG com
gico para a Emater–MG. Os extensio- larga experiência em assistência técnica
nistas da Empresa, presentes em todas e extensão rural na cafeicultura, propor-
as regiões do Estado, são responsáveis ciona aos produtores e técnicos o aces-
por disseminar informações técnicas, so a práticas agronômicas, que buscam
que colaboram para que a atividade melhorar a eficiência na condução das la-
cafeeira seja conduzida de maneira lu- vouras. O uso de tecnologias adequadas
crativa e sustentável. torna a atividade competitiva e sustentá-
Em um território com sistemas de vel, além de garantir a oferta de produtos
produção diversificados, regiões com de qualidade aos consumidores e, como
relevos distintos, tamanho variado de consequência, a geração de melhores
propriedades e diferentes tecnologias condições de vida para agricultores.

Amarildo Kalil
Presidente da Emater–MG
SUMÁRIO
FATORES QUE AFETAM A QUALIDADE DO CAFÉ.............................................. 7
DESENVOLVIMENTO DO FRUTO DE CAFÉ......................................................... 6
PRODUÇÃO DE CAFÉS DE QUALIDADE............................................................. 8
PRÉ-COLHEITA DO CAFÉ.................................................................................... 9
DETERMINAÇÃO DO PONTO DE COLHEITA................................................... 11
Previsão de colheita:........................................................................................... 13
COLHEITA DO CAFÉ.......................................................................................... 14
PRÉ-LIMPEZA..................................................................................................... 22
ACONDICIONAMENTO.................................................................................... 23
MEDIÇÃO E TRANSPORTE................................................................................ 24
LIMPEZA............................................................................................................ 25
LAVAGEM E SEPARAÇÃO.................................................................................. 26
AS MODALIDADES DE PREPARO DO CAFÉ...................................................... 28
CEREJA DESCASCADO....................................................................................... 30
CAFÉ DESPOLPADO.......................................................................................... 31
SECAGEM DO CAFÉ.......................................................................................... 33
SECAGEM EM TERREIROS................................................................................. 34
SECAGEM EM TERREIROS SUSPENSOS............................................................. 42
SECAGEM NO PANO......................................................................................... 43
RODOS PARA CAFE........................................................................................... 44
RECOLHEDORES PARA CAFÉ............................................................................ 44
SECADORES MECÂNICOS................................................................................. 45
SECAGEM EM SECADORES MECÂNICOS.......................................................... 46
ARMAZENAMENTO........................................................................................... 50
BENEFICIAMENTO............................................................................................. 50
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 51
MANUAL DO CAFÉ - COLHEITA
E PREPARO
FATORES QUE AFETAM A QUALIDADE DO CAFÉ
As características físicas e a compo- eira é o de que a matéria-prima para um
sição química do café são influenciadas café de qualidade é constituída por frutos
por fatores de naturezas diversas, des- cerejas sadios e graúdos e que estes ocor-
tacando-se entre eles os fatores genéti- rem em ramos vigorosos. Com o passar dos
cos, ambientais, nutricionais, manejo da anos, as altas cargas, os fatores adversos
lavoura, colheita, preparo, etc. À exceção (secas, pragas, doenças), o fechamento e
dos genéticos e ambientais, os demais mesmo a própria idade da lavoura somam-
fatores podem ser controlados após a -se, resultando na acentuação da bienalida-
implantação da lavoura, não só no mane- de, finalizando em declínio.
jo (boas práticas agronômicas), quando
As técnicas de manejo, visando os
todo esforço é empregado na obtenção
objetivos citados, devem ser aplicadas
do máximo em qualidade, quanto na fase
desde o início, a partir da implantação
de colheita e preparo do café, em que se
do cafezal, o que requer planejamento, a
busca a preservação da qualidade obtida.
começar pela escolha da variedade mais
Padronização da lavoura para a melho- adequada às condições de clima e solo de
ria da qualidade cada região, combinando os espaçamen-
tos mais compatíveis com o manejo que
O princípio básico a ser aplicado na se pretende adotar, levando-se em conta
implantação e condução da lavoura cafe- a disponibilidade dos recursos requeridos.

Lavoura em produção
DESENVOLVIMENTO DO Crescimento e granação
FRUTO DE CAFÉ Segue-se um período de cresci-
mento rápido (expansão), prosseguindo
Desde a sua formação que ocorre até o fruto verde atingir seu tamanho
com o vingamento da flor até a com- final, caracterizado pelo endurecimento
pleta maturação, o fruto de café passa do endocarpo (pergaminho). O déficit
por diversas fases, cada uma delas de hídrico, a deficiência nutricional, a inci-
importância decisiva na obtenção de ce- dência de doenças podem ocasionar a
rejas sadias e graúdas. queda prematura dos chumbinhos.
Morfologia do fruto maduro de café

Semente (grão)
ou endosperma
Polpa ou
mesocarpo Película prateada
ou espermoderma

Casca ou Pergaminho ou
epicarpo endocarpo

Pedúnculo

O fruto maduro do café tem, de fora para dentro,


a casca (epicarpo ou exocarpo), a polpa (mesocarpo) e
o pergaminho (endocarpo). A semente (endosperma)
é contida no pergaminho e ainda envolta pela película
prateada (espermoderma). Portanto, tudo que se
encontra entre a casca e o pergaminho é polpa e,
nesse caso, mucilagem ou goma é parte da polpa.

Fase inicial Inicia-se, então, a formação do en-


dosperma ou semente, a princípio de
No princípio, os frutos chumbinhos, aspecto leitoso. Neste estádio, o cres-
permanecem no estádio de dormência cimento é interrompido por certo perí-
durante aproximadamente seis semanas. odo, no qual ocorre o endurecimento

6 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


do endosperma, etapa conhecida como
granação. Nesta fase, também, a for-
mação do fruto pode ser prejudicada
por estiagens prolongadas, temperatu-
ra elevada, deficiência nutricional, com
aparecimento de frutos chochos e mal
granados.

Amadurecimento
Amadurecimento
Após a granação, a cor verde
intenso do fruto passa para o verde-
-cana, evoluindo para o vermelho
ou amarelo, conforme a cultivar. Há
um aumento da síntese de açúcares,
com alterações nos ácidos e compos-
tos fenólicos responsáveis pela ads-
tringência do fruto verde. Os consti-
tuintes químicos atingem teores que Senescência e seca
conferem características peculiares de
maturação completa, destacando-se
a presença da mucilagem, que é um
hidrogel solúvel e coloidal, parte inte-
grante do fruto, composta de 85% de
água e 15% de sólidos.

Senescência e seca Fases de maturação do fruto

As fermentações do fruto de café


Após a maturação, inicia-se a
senescência do fruto e a seca grada- As condições de cultivo (areja-
tiva da mucilagem. Neste período, mento, umidade relativa do ar, altitu-
podem ocorrer infecções microbia- de), tratos fitossanitários da lavoura, a
nas influenciadas principalmente pela colheita e o preparo, atuam determi-
umidade relativa do ar, tanto em fru- nando o grau de atividade dos micror-
tos na planta, tanto naqueles já caí- ganismos (bactérias e fungos) sobre o
dos, que constituem a parcela deno- fruto e, em conseqüência, a natureza
minada varrição. das fermentações.

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 7


PRODUÇÃO DE CAFÉS DE pretos, verdes e ardidos deve ser uma
QUALIDADE das principais metas quando se objetiva
a produção de bons cafés, sendo que as
A melhoria da qualidade do café medidas a serem adotadas diminuirão
requer o foco em pontos críticos, dos também a ocorrência de outros defeitos.
quais se destacam alguns relacionados à
colheita e preparo. São eles: Outros pontos críticos

PVA - Pretos, verdes e ardidos A uniformidade do lote obtido, a


umidade final para armazenamento e
São os piores defeitos por afeta- beneficiamento, além da ausência de
rem o aspecto, a cor, o tipo e a bebida. contaminações, são outros atributos
A minimização da ocorrência de grãos obrigatórios aos cafés de qualidade.

V
A
P

GRÃOS NORMAIS

8 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


PRÉ-COLHEITA DO CAFÉ Arruação ou limpeza

Essa fase é de suma importância no Consiste em fazer, quando necessá-


gerenciamento da atividade cafeeira. rio, uma limpeza próxima ou sob a saia do
Consiste em se fazer uma previsão da cafeeiro com rastelo ou rodo de madei-
safra, levantamento de recursos mate- ra, arruadores ou sopradores mecânicos.
riais e financeiros; dimensionamento e Evitar remover terra em excesso para não
revisão da infra-estrutura e maquinários danificar as raízes do cafeeiro. Há casos
para o processamento do café; levanta- em que são feitas aplicações de herbicidas
mento da necessidade de mão-de-obra na rebrota do mato após ter sido corta-
e o preparo da lavoura para a colheita. do com roçadora tratorizada ou manual.

Arruação para colheita do café

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 9


Cuidados com as instalações sinfetado e inclusive cercado, se hou-
ver necessidade.
Tulhas, lavador-separador, terrei-
ro e secador devem passar por uma ri- Restauração do terreiro
gorosa inspeção. Nas tulhas, não per-
mitir a armazenagem de outro produto Periodicamente, o terreiro deve pas-
agrícola, bem como de insumos, pois sar por uma reforma para eliminar gretas
o café absorve, com muita facilidade, e rachaduras, visando facilitar a opera-
odores estranhos. O terreiro, que ao ção de secagem e evitar a retenção de
longo do ano serviu para tantas outras grãos que se deterioram ao permanece-
finalidades, deve, nesta época, servir rem ali retidos, com riscos de contaminar
exclusivamente para secagem, pois o o café. Uma alternativa para restauração
café pode facilmente ser contamina- é a mistura de cal de reboco, areia fina e
do. Deve ser bem varrido, lavado, de- cimento, na proporção de 1:3:1.

1
3
1

Mistura cal+areia+ cimento

Limpeza do terreiro

Higienização do terreiro Operação de restauração do terreiro

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DETERMINAÇÃO DO PONTO tiva na qualidade caso estas fermenta-
DE COLHEITA ções ocorram de forma incontrolável
e prolongada, como resultado da per-
Consiste na avaliação do grau de manência dos frutos na árvore (colhei-
maturação do café em cada gleba ou ta atrasada em regiões mais úmidas),
talhão, devendo ser feita próximo à co- conferindo aromas e sabores indesejá-
lheita. Tem como finalidade orientar na veis ao café e a característica conhecida
tomada de decisão de iniciar ou não a como fermentado pelos provadores.
colheita, como também definir com me-
lhor precisão e clareza por qual talhão Avaliação da maturação dos frutos na
ou gleba deverá iniciar-se a colheita. lavoura

Influência do ponto de colheita na qua- • Dividir a lavoura em glebas ou


lidade do café talhões homogêneos;

Quando se colhe com grande


quantidade de grãos verdes ocorrem
perdas qualitativas pelas alterações no
tipo, bebida, sabor e aroma. A presença
de frutos verdes acarreta também preju-
ízos quantitativos, pois maior quantida-
de de litros de café da roça será neces-
sária para se obter uma saca de café de
60 kg beneficiada.
Os frutos em fase de senescência
ficam mais sujeitos à ação de micror-
ganismos responsáveis pelas fermenta-
ções, com produção de álcoois e ácidos
que poderão interferir de forma nega- Aspectos do processo de maturação na planta

Estadio dos frutos Nº de frutos Porcentagem


Verdes 98 15%
Verdes-cana 104 16%
Cereja 383 59%
Passas 39 6%
Secos 26 4%
Total de frutos 650 100%

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 11


• Escolher quatro plantas que sejam
representativas da gleba ou talhão;
• Colher os frutos dessas plantas e
medir a quantidade colhida;
• Retirar 1 litro do café colhido e
separar os frutos por estádio de
maturação, ou seja, verde; verde -
5%
cana; cereja (maduro); passa; seco;
• Anotar a quantidade de frutos
obtidos em cada fase.

Exemplo

Considerar uma lavoura de cinco


mil cafeeiros, totalizando uma área de
20%
um hectare, e que na amostragem da
gleba ou talhão, foram colhidos quatro
pés representativos do cafezal que, após
misturar para homogeneizar a amostra,
retirou-se um litro de café.
Contagem e separação dos frutos
de um litro de café:
Faixas ideais de frutos maduros para
Quando iniciar a colheita início da colheita

Quando não se faz colheita seletiva, que à medida que a colheita avança, as
o momento ideal para dar início à colheita proporções vão se invertendo. Como
referencial prático e dependendo dos
deve ser definido não apenas pelo per-
fatores citados, sugere-se uma faixa de
centual de grãos verdes, mas pela soma
5% a 20% de grãos verdes para o início
de outros fatores tais como: volume da
da colheita.
safra, estrutura de secagem, disponibilida-
de de mão-de-obra e, obviamente, pela Planejamento da colheita
qualidade de bebida que se quer obter.
Deve-se lembrar que no início da O planejamento da colheita con-
colheita é mínimo o percentual de grãos siste em aproveitar a amostragem feita
secos e maior o de grãos verdes, sendo por gleba ou talhão, para dimensionar
12 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo
os recursos materiais (panos de café, • Resultado da amostragem e
peneiras, etc.), o transporte do café, re- avaliação do ponto de maturação:
cursos financeiros e mão-de-obra que 60 litros de café colhidos em 12 pés
serão necessários para a realização da (4 pés por talhão);
operação de colheita.
• Colheita: manual por derriça no
Caso não tenha feito a amostragem,
pano.
este planejamento pode ser feito através
da estimativa de safra que se faz antes da A seguir são simulados os cálculos:
colheita. Para os cálculos que se seguem,
serão utilizados os seguintes dados: Cálculos simplificados

• Nº de cafeeiros na lavoura: 20.000; Quando utiliza- se a colheita meca-


nizada manual, o rendimento de colhei-
• Área: 5,0 hectares;
ta aumenta 2 a 3 vezes comparado com
• Divisões em 3 glebas ou talhões; a colheita manual.

PREVISÃO DE COLHEITA:
60 litros ÷ 12 pés = 5 litros / pé em média 20.000 pés x 5 l/pé = 100.000 litros
de café (a serem colhidos)
Cerca de 208 sacas de café beneficiado (480 litros por saca)

Período de colheita:

3 meses = 66 dias úteis de colheita

Quantidade de café colhido por dia:

100.000 litros ÷ 66 dias = 1.515 litros

Rendimento médio de colheita manual:

300 litros por homem por dia

Necessidade de mão-de-obra diária na colheita:

1.515 litros ÷ 300l/H/dia - 5 homens/dia

Necessidade de mão-de-obra no lavador e terreiro:

1 homem por dia

Necessidade de mão-de-obra total:

6 homens por dia

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 13


COLHEITA DO CAFÉ var a produção seguinte, como também
para evitar ferimentos que constituirão
A colheita é a operação mais onero- uma porta de entrada para agentes pa-
sa na composição do custo de produção togênicos (fungos e bactérias).
da atividade. Em razão disto e também Outra forma de se colher o café
decorrente da escassez de mão-de-obra manualmente é a colheita seletiva que
e pouca qualificação da mesma, tem-se é feita no pano somente dos frutos ce-
buscado alternativas visando à mecani- reja. Os frutos verdes serão colhidos
zação total ou parcial, dentro das limita- mais adiante quando estiverem madu-
ções de cada região no que diz respeito ros. Nesse caso, poderão ser necessárias
à topografia. duas a três colheitas por planta ou talhão
devido à desuniformidade existente na
Colheita Manual maturação do café. Esta é influenciada
por diversos fatores como clima, altitu-
Ao iniciar-se a colheita do café, to- de, número de floradas, adensamento
dos os cuidados devem ser tomados, a da lavoura, entre outros. Por ser uma
fim de preservar a qualidade dos frutos. operação que necessita de maior mão-
Uma forma de colheita largamente utili- -de-obra, é mais empregada por alguns
zada no Brasil é a derriça total no pano. cafeicultores com o objetivo de se obter
Devem-se evitar danos excessivos aos um café superior, uma vez que cereja é
ramos e às folhas, não só para preser- a matéria prima adequada.

Derriça manual no pano Operação de derriça manual

14 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


Colheita mecânica do a adoção desta prática também nas
pequenas propriedades. As derriçadoras
Juntamente com a expansão da motorizadas manuais permitiram a me-
cafeicultura e com a implantação de la- canização parcial da colheita em áreas
vouras em regiões de topografia mais montanhosas.
adequada à mecanização, desenvol-
veram-se máquinas e equipamentos, Colhedoras
visando a derriça e recolhimento me-
cânico do café, com maior rendimento, As colhedoras de café podem ser
menor custo e em menor tempo, con- automotrizes ou tracionadas. Essas
tribuindo para preservar a qualidade máquinas, através de sistemas hidráu-
do produto mediante a realização da licos, com varetas vibratórias, fazem
colheita no momento mais adequado o trabalho de derriça, recolhimento,
de maturação. O aperfeiçoamento das abanação e descarga do café na forma
colhedoras automotrizes e tracionadas ensacada ou a granel. As automotrizes,
viabilizou a colheita mecânica em ter- como o nome sugere, tem propulsão
renos com declividade superior a 15%. própria e as tracionadas necessitam ser
Mais recentemente, a terceirização da acopladas a um trator através da barra
colheita mecanizada está possibilitan- de tração e da tomada de força.
Foto: Francisco de Paula V. Alves

Colhedora automotriz com depósito lateral

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 15


As colhedoras automotrizes ou colhimento dos frutos e, em sua grande
tracionadas trabalham sobre as linhas maioria, a descarga do café é feita atra-
de café em declividades até 15%, com vés de bica lateral em carreta graneleira,
segurança da operação. Algumas têm
ensaque lateral ou depósito próprio. O
bitola mais estreita, para lavouras mais
rendimento médio dessas colhedoras
adensadas, podendo operar em decli-
vidades maiores. está em torno de 3.000 litros por hora,
Vários modelos de colhedoras au- com velocidade de 600 a 1.200 metros
tomotrizes trabalham com sistemas por hora, com vibração entre 800 a
bastante semelhantes de derriça e re- 1000 ciclos por minuto.

Colhedora automotriz

16 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


Cálculo do rendimento operacional de uma colhedora

Cálculo de rendimento operacional de uma colhedora

Velocidade de deslocamento 1.000 m/h

Espaçamento entre plantas 0,80 metro

Carga pendente (estimada) 5,0 litros/planta

Eficiência de colheita (estimada) 80%

Vibração média das varetas 850 ciclos/minuto

1.250 pés/hora x 5 litros/planta = 6.250 litros x 80% (eficiência de colheita)

5.000 litros/hora

Colhedora tracionada: acoplada ao trator

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 17


Colheita Mecânica Seletiva seca quanto por via úmida. Pode ser feita
a colheita apenas da parte superior das
Tem por finalidade colher apenas os plantas (ponteiros), com a retirada das
frutos maduros, visando obter um produ- varetas vibratórias inferiores da máquina
to mais uniforme e proporcionar melhor ou com a regulagem da intensidade de
qualidade final, tanto no preparo por via vibração e velocidade de deslocamento.

Retirada parcial
das varetas
inferiores

Retirada total
das varetas
inferiores

18 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


Recomendações para melhor desempe- tracionadas e de 5 metros para as
nho das colhedoras automotrizes;
• Quando houver alta umidade
• Definir o espaçamento entre as no solo, as colhedoras deverão
linhas de acordo com as máquinas trabalhar com rodagem larga ou
disponíveis no mercado; dupla para minimizar a compactação
• Fazer o plantio com as mudas e o enterrio de café caído no chão;
alinhadas para reduzir a quebra de • Em colhedoras providas de depósito
ramos das plantas, das varetas e aletas de grãos, cuidar para que o mesmo
da máquina na colheita do café; não tenha a sua carga completada
• Locar os carreadores para manobras antes do final do talhão;
com largura de 7 metros para as • Treinamento dos operadores;

Largura das ruas: programada em função da Carreador adequado para a colheita mecâ-
colhedora a ser utilizada nica e manobra das colhedoras

Quebra de ramos: consequência da condu- Detalhe: amplitude da conversão e roda-


ção inadequada da planta gem larga que evitam compactação

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 19


Derriçadoras Derriçadoras Motorizadas Manuais

Diferem das máquinas colhedoras Seu desenvolvimento deve-se à


por efetuarem a derriça do café de ape- necessidade de baixar os custos e de
nas um lado da planta. Alguns modelos viabilizar a colheita mecânica em áreas
tratorizados já possuem mecanismos de montanhosas e em lavouras com espa-
recolhimento dos frutos. A derriça geral- çamentos entre ruas incompatíveis com
mente é realizada sobre panos previa- a bitola das colhedoras automotrizes ou
mente distribuídos sobre o chão, junto e tratorizadas.
abaixo da linha dos cafeeiros. As derriçadoras motorizadas ma-
Nas derriçadoras laterais o cilindro, nuais operam, em sua maioria, com um
gira lentamente, enquanto as varetas motor dois tempos, providas de haste e
operam em movimentos vibratórios, derriçador, apresentadas em vários mo-
derrubando os frutos através do impac- delos de ligação direta ou adaptadas à
to junto aos ramos. Estas derriçadoras roçadeira comum.
possuem regulagem da inclinação la- As derriçadoras têm sido aperfeiço-
teral, com mecanismos de colheita se- adas a cada dia, com modificações prin-
melhantes às colhedoras, o que facilita cipalmente nas hastes de colheita, popu-
seu trabalho em maiores declividades. O larmente conhecidas como mãozinhas,
rendimento médio das derriçadoras la- com redução do seu peso, mudanças no
terais está em torno de 1.200 a 1.800 li- formato e introdução de materiais mais
tros por hora de trabalho, considerando resistentes à quebra, proporcionando
uma eficiência de derriça de 60 a 70%. maior eficiência de colheita e diminui-
ção do preço das máquinas. Persiste, no
entanto, a limitação na derriça de frutos
verdes, com maior eficiência para frutos
maduros e secos, além de lançar ao lon-
ge alguns frutos de café, exigindo uma
boa cobertura do solo com panos.
O rendimento operacional das
derriçadoras é muito variável, devido
principalmente a prática do operador,
lavouras mais adaptadas e sem ramos
entrelaçados, altura adequada da planta
e grau de maturação do café. Normal-
mente um homem derriça 2 a 3 vezes
mais café com uma derriçadora motori-

20 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


zada manual do que na derriça manual.
Em avaliações práticas de campo, tem
sido observado que com o uso de uma
derriçadora, duas pessoas colhem, em
média, 20–30 medidas/dia (medidas de
60 litros), incluindo os trabalhos de co-
locação dos panos, retiradas de folhas e
ramos e recolhimento do café. Há casos
em que oito pessoas com três máquinas
colhem, em média, nove medidas/dia/
pessoa (72 medidas/dia no total).
Na escolha da máquina a adquirir,
deve-se levar em conta a facilidade de
manutenção, assistência técnica, du-
rabilidade e se a mesma será utilizada
apenas para derriça ou, também, para
tratos culturais como roçadas ou podas
(uso múltiplo). Em caso de poda pesada
há necessidade de uma máquina com
Derriçadora manual motor de potência maior.

Colheita com derriçadora manual no pano

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 21


Recomendações para melhor desempe- PRÉ-LIMPEZA
nho da derriçadora motorizada manual:
O café colhido manualmente ou
• A derriça deve ser feita em por meio de derriçadoras mecânicas
movimentos contínuos penteando os deve passar, ainda no campo, por um
ramos, sempre que possível de cima processo de pré-limpeza visando a reti-
para baixo, minimizando danos ao rada de impurezas grosseiras, como fo-
cafeeiro; lhas e gravetos.
• A aceleração do motor deve
ser intermitente, aumentando e
diminuindo sua rotação e, como
conseqüência, a vibração das
mãozinhas, melhorando assim a
lubrificação do motor (2 tempos);
• O estádio de maturação de maior
eficiência de colheita é do ponto
cereja em diante;
• A extensão de rua coberta pelo
pano, de cada lado da linha de café,
deve variar de acordo com a carga
pendente e com o tamanho da
equipe de colheita;
Processo de pré-limpeza dos grãos colhidos
• Fazer uso adequado da máquina,
observando as especificações do
fabricante, e a manutenção periódica
como lubrificação, limpeza de filtros,
ajustes diários de porcas e parafusos,
aumentando a sua vida útil;
• Treinamento dos operadores;
• Preferencialmente, manter a lavoura
com apenas 1 haste por planta, e
estas com altura de, no máximo
3 metros, para melhor acesso da
derriçadora. Preferir cultivares com
menor número de ramificações
secundárias (palmeamento). Abanação manual dos grãos

22 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


ACONDICIONAMENTO ser acondicionado em sacos de ráfia
ou big-bag’s e transportado para o
Após pré-limpeza o café colhido local de preparo e processamento, no
deve ser deixado à sombra, podendo máximo em 4 horas.

Acondicionamento
em saco de ráfia

Acondicionamento
em big bags.

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 23


MEDIÇÃO E TRANSPORTE mão-de-obra por rendimento de me-
dida ou balaio, convencionado em ses-
Na colheita manual e com derriça- senta litros, havendo a necessidade da
dora motorizada manual normalmente medição do café colhido para ser trans-
é adotado o sistema de pagamento da portado até a unidade de preparo.

Detalhe do processo de medição dos grãos


colhidos Detalhe do transporte dos grãos colhidos

Detalhe do transporte dos grãos colhidos

24 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


LIMPEZA do em muito a operação de lavagem com
separação. Existem no mercado abanado-
A limpeza visa separar as impurezas res mecânicos de acionamento manual ou
presentes no café colhido, remanescentes motorizado instalado entre a moega de
da pré-limpeza feita no campo, auxilian- recepção do café e o lavador-separador.
Foto: Juarez S. Silva

Abanadora manual

Abanadora mecânica

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 25


LAVAGEM E SEPARAÇÃO frutos passas e secos podem estar com
a qualidade comprometida por fermen-
A lavagem tem por finalidade elimi- tações indesejáveis ainda na árvore.
nar o restante das impurezas e a separa- Esse lote de frutos bóias será seco e ar-
ção, com o uso da água, por diferença mazenado separado dos demais, devi-
de peso, os frutos verdes, verde-cana e damente identificado. A operação de
maduros, mais pesados devido ao maior lavagem e separação pode ser feita por
teor de umidade, da fração de bóias equipamentos de diversos portes e tipos
constituída de frutos mais leves, ou seja, de acionamento, cada qual adequado
os mal granados, brocados, passas e se- a uma escala de produção, com adap-
cos. A separação é fundamental para a tações simples que podem minimizar o
secagem do café em lotes distintos. Os consumo de água.

Exemplo prático para cálculo


da % de grãos boias

26 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


Lavador mecânico de acionamento manual
– Modelo UFV Lavador Maravilha ou Sertãozinho

Lavador maravilha com bomba de recircu-


Lavador-separador mecânico lação de água

Lavador mecânico de acionamento ma- da água, pode ser facilmente deslocado


nual de local para outro, baixo custo, sendo
recomendado para pequenas produções.
Como o lavador-separador desen-
volvido pela Universidade Federal de Vi- Lavador-separador tipo maravilha
çosa, com capacidade para 120 a 150 li-
tros de café por operação. Tem a grande Também conhecido por Sertãozi-
vantagem de proporcionar a reutilização nho, é de construção bastante simples.

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 27


Consta de uma caixa de alvenaria (ou AS MODALIDADES DE
chapa metálica) dotada de uma cana- PREPARO DO CAFÉ
leta, por onde o café escoa vindo da
moega, arrastado pela água. A certa Até a década de 90, o café brasileiro,
altura da canaleta é feita a separação após a colheita, vinha sendo processado
por diferença de peso, quando os frutos de duas formas distintas: por via seca,
pesados retornam à superfície, em outra produzindo o Café Natural, com carac-
canaleta, através do turbilhonamento terísticas de acidez moderada a baixa,
produzido por um jato de água localiza- corpo, aroma e doçura bastante acentu-
do na parte mediana da caixa seguindo ados; e por via úmida, produzindo o Café
por caminho distinto dos frutos leves. Despolpado, de maior acidez, tendo cor-
Atende a uma escala média de produ- po e aroma menos pronunciados.
ção, com rendimento em torno de 1200 Posteriormente, surgiu a modali-
litros de café por hora. Para reduzir o dade Cereja Descascado (CD), obtido
consumo de água recomenda-se adotar com a retirada apenas da casca, per-
manecendo a mucilagem aderida ao
sistema de recirculação.
pergaminho. Desta forma tornou-se
possível obter um produto final com
Lavador-separador mecânico
as características de bebida próximas
às do Café Natural. Atualmente, os ca-
Tem o funcionamento baseado no
feicultores que fazem o CD utilizam os
mesmo princípio de do tipo maravilha,
desmuciladores mecânicos para retirada
gastando 1 litro de água para 7 a 10 li-
da mucilagem que facilita a secagem,
tros de café, e um rendimento de 5.000
reduzindo a permanência dos grãos no
a 20.000 litros de café por hora.
terreiro, maximizando a infraestrutura
de secagem.
Observações:
• Quando se reutiliza a água dos
Preparo por Via Seca
lavadores, é recomendável trocá-la
pelo menos duas vezes ao dia;
Trata-se do sistema de preparo mais
• A água de lavagem do café pode difundido e utilizado no Brasil. Após a co-
ser recirculada por uma pequena lheita, o café é transportado para a unida-
bomba centrífuga, para contornar o de de processamento, passando pela la-
problema do alto consumo; vagem-separação. Obtendo-se dois lotes,
• A água residuária da lavagem não sendo um de café cereja e verde e outro
pode ser lançada em cursos d´água de café bóia. Após este etapa, os lotes de
sem prévio tratamento. cafés, separados, são secos em terreiros

28 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


Modalidades de preparo do café

ou secadores mecânicos. Os lotes de cafés Por este tipo de preparo obtêm-se os


obtido por este processo, após a secagem, cafés em pergaminho que originarão
são denominados Café Natural. os denominados cafés cereja descas-
cados ou despolpados.
Preparo por via úmida Este tipo de preparo permite a oti-
mização do uso dos terreiros, secado-
O preparo por via úmida consiste res e unidade de armazenamento, de-
em fazer o descascamento dos frutos, vido à redução de volume e do tempo
após a lavagem-separação dos lotes. para completar a seca.

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 29


CEREJA DESCASCADO colheita, este processo facilita a obten-
ção de cafés de melhor qualidade.
Após a lavagem-separação, o café
é descascado, por fricção, em descasca-
dores mecânicos. Existem descascadores
de diversos portes, nível de tecnificação/
automação, indo desde os mais simples,
de acionamento manual, até outros de
alta tecnologia e alto rendimento. Um
equipamento utilizado para retirada da

Descascador

Efeito de redução de volume em aproxi-


madamente 50% decorrente do descasca-
mento

mucilagem é o desmucilador mecânico.


Este equipamento deve oferecer a op-
ção de retirada gradativa da mucilagem,
mediante regulagens, permitindo, as-
sim, produzir cafés total ou parcialmen-
te desmucilados.
Principalmente em regiões com
umidade relativa elevada no período de Descascador

30 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


CAFÉ DESPOLPADO tanques com água, por tempo su-
ficiente para a remoção de toda a
Neste processo o café é subme- mucilagem. Este ponto é reconhecido
tido ao despolpamento que consiste pelo ruído característico, quando os
na retirada da mucilagem por pro- grãos são esfregados entre os dedos.
cesso fermentativo, que consiste em Atualmente, esse processo está cain-
deixar o café descascado imerso em do em desuso.

Tanques de dego-
magem

Detalhe do processo de degomagem Conjunto Descascador/Desmucilador

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 31


Descascamento dos cafés verdes e bóia • Manter constante e adequado
o fluxo de entrada de café no
Atualmente produtores fazendo descascador para maior eficiência no
o preparo por via úmida destes cafés, processo;
conseguindo obter melhoria na bebida. • Regular o fluxo de água para reduzir
Recomendações gerais no preparo por gastos e minimizar o volume de
via úmida efluentes produzidos;
• A água de lavagem deve ser
• Tanto no descascamento quanto no canalizada para posterior
despolpamento, os equipamentos tratamento;
devem ser higienizados diariamente, • No final da tarefa, lavar o
a fim de se evitar contaminações ao equipamento e eliminar os grãos e
produto; cascas remanescentes.
• Regular adequadamente a folga
entre o cilindro e os canais para
evitar danos ao pergaminho dos
grãos descascados;
• Fazer a seleção, no kit de grades
separadoras da máquina, daquela
mais adequada ao tamanho dos
frutos a serem processados, para
evitar misturas de verdes (não
descascados) à fração de maduros
Processo de esparramação dos grãos cerejas
descascados e vice-versa; descascados

Direção correta de
caminhamento para
rodar o café no terreiro

32 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


Destinação final dos resíduos líquidos Após a colheita, a secagem repre-
do Descascamento/Despolpamento senta a fase de maiores riscos de perda
da qualidade do café, envolvendo uma
A Legislação Ambiental do Esta- série de procedimentos importantes,
do de Minas Gerais (DN COPAM Nº porém de fácil execução, desde que
10/86) estabelece que, para o lança- se tenha uma infraestrutura mínima e
mento das águas residuárias nos cor- mão-de-obra capacitada. A secagem
pos hídricos, a DBO (Demanda Bio- deverá ser feita em terreiros podendo
química de Oxigênio) seja de até 60 ser terminada no próprio terreiro ou em
mg/L-1, ou que a eficiência do sistema secadores.
de seu tratamento para a remoção da O café colhido no ponto ideal de
carga orgânica seja superior a 85%, maturação apresenta alto teor de umi-
desde que não superem os padrões
dade e mucilagem abundante, meio de
estabelecidos no enquadramento do
cultura ideal para o desenvolvimento
curso d’água receptor. O processa-
dos microrganismos responsáveis pelas
mento por via úmida exige, pois, o
fermentações. A umidade relativa do ar
planejamento e execução rigorosa do
e o manejo da secagem irão determinar
tratamento e destinação dos resíduos
a qualidade final do produto, que fica
líquidos.
dessa forma, altamente dependente da
influência das condições climáticas da
SECAGEM DO CAFÉ região e dos cuidados na condução do

FASE INICIAL FASE INTERMEDIÁRIA FASE FINAL


MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 33
processo em terreiros e secadores. As No Café Despolpado ou CD des-
etapas da secagem podem ser descritas mucilado, a pré-secagem é facilitada, e
do seguinte modo: se restringe à remoção da água superfi-
cial do pergaminho.
Desidratação do fruto
Secagem do grão
O Café Natural, no início do pro-
cesso de secagem, apresenta alto teor A seca do grão propriamente dito
de umidade (45 a 55%) nos frutos. (endosperma) compreende a migração
Inicialmente, ocorre a desidratação da umidade do seu interior, no chama-
da casca até a meia-seca (30% de do ponto-frio (água fortemente retida
e mais difícil de ser evaporada), para as
umidade), também chamada de pré-
camadas mais externas, e daí para o am-
-secagem, sendo esta a etapa mais
biente, de forma gradativa.
crítica, quando o arejamento tem pa-
pel fundamental. A operação prosse-
gue até a seca completa da casca e SECAGEM EM TERREIROS
da polpa (18% a 20% de umidade),
o que deve ser atingido no mais curto Com os frutos ainda na árvore, a
espaço de tempo possível, mediante a energia solar, a movimentação do ar (are-
combinação do arejamento e da ação jamento) e o gradiente de umidade entre
do calor (do sol ou do secador), ter- esses frutos e a atmosfera promovem a
minando aí os riscos de fermentações. seca natural. Após a colheita, a secagem
Paralelamente à desidratação, come- inicial é feita de forma artificial utilizando-
ça a ocorrer a secagem do grão pro- -se terreiros. A secagem em terreiros é o
priamente dito (endosperma), com a sistema mais utilizado no Brasil, apresenta
migração de umidade do seu interior custo de implantação menor comparado
para a camada mais externa e daí para aos secadores mecânicos, de fácil manejo,
o ambiente, portanto, quanto mais mas expõe o café às variações do tempo.
seco o ar, tanto mais rápida se dará
a secagem. Secagem do Café Natural
No Cereja Descascado, a fase inicial
de secagem (pré-secagem), compreen- O café após a lavagem-separação
de a desidratação da polpa remanescen- dos frutos deve ser espalhado no senti-
te do descascamento, o quê, mediante do da declividade do terreiro para faci-
boa insolação e revolvimentos constan- litar o escoamento da água de lavagem
tes, se dá em questão de horas. ainda presente no café.

34 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


1 - Pré-secagem

Esparramar o café no terreiro em


camadas de 2 a 3 cm de espessura e
iniciar o revolvimento imediato. Esta
operação pode também ser feita com
o assoprador. Nos dias seguintes, con-
tinuar os revolvimentos, pelo menos
uma vez a cada hora, iniciando logo
nas primeiras horas de jornada de
trabalho e prosseguir com freqüência
durante todo o dia. Nessa fase o café
ainda não poderá ser coberto com lona
plástica à tardinha, e deverá perma-
necer esparramado no terreiro tam-
bém durante a noite. No final dessa
etapa, após atingir 30% de umidade
(meia-seca), o quê poderá durar de 5
Escorrimento do excesso de água da lavagem
a 7 dias, os frutos já não mais grudam
quando apertados com a mão.
Se ocorrer chuva nessa etapa pro-
ceder do seguinte modo:
• Manter o café espalhado no terreiro
enquanto durar a chuva;
• Uma vez cessada a chuva, e o tempo
firmar, fazer pequenas leiras com o
café no sentido da declividade do
terreiro e aguardar até enxugar a
superfície livre e exposta de terreiro;
• Mudar a leira de lugar expondo e
secando agora a nova superfície
descoberta. Em seguida espalhar
o café no terreiro, retomando os
revolvimentos constantes com o
rodo e prosseguir normalmente com
Após escorrimento da água: esparramação
a secagem. no terreiro

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 35


Pré-secagem: Café espalhado no terreiro

1º DIA

2º DIA

Diferença na secagem
dos grãos no terreiro

2 - Uniformidade do lote sença, em alta escala, misturados às cere-


jas, torna difícil, senão impossível, alcan-
Mesmo sendo feita a lavagem com çar a qualidade pretendida. À medida que
separação de frutos leves (chochos, pas- vão sendo colhidas, as partidas de cafés,
sas e secos), de frutos pesados (verdes e poderão ser juntados a cada dois dias, no
maduros), deve-se levar em conta, ainda, máximo, para uma maior uniformização
a porcentagem desses verdes, cuja pre- da umidade dos frutos do lote formado.
36 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo
3 - Seca até 18-20% de umidade 4 - Seca final

Após a meia-seca, engrossar aos Uma vez terminada a segunda fase


poucos a camada de café. Ao rodar o de secagem e atingido um teor de umi-
dade em torno de 18 a 20% tem lugar,
café, o terrereiro deve se posicionar de
agora, a secagem final, a qual deve ser
tal forma que a sua sombra fique proje-
lenta. Também nesta etapa o café não
tada para frente ou para trás. Juntamen- deve tomar chuva.
te com os revolvimentos freqüentes, a
insolação (calor do sol) passa a ter influ-
ência decisiva na rapidez do processo e
preservação da qualidade. À tarde, por
volta das 15 horas, passar a amontoar
ou enleirar o café ainda quente e cobrir
com lona, para proteger do sereno da
noite e evitar tomar chuva.

Secagem final no sistema convencional. As-


pectos do processo de secagem no terreiro
de diferentes lotes

Secagem final no sistema convencional

• Ao aparecer o sol pela manhã,


descobrir o café que havia sido
coberto no dia anterior.
• Após o aquecimento da superfície
do monte e do terreiro, o que se
dá por volta de 9 horas, é iniciada
a operação de esparramação e
revolvimento, com rodos.
Fase intermediária da secagem do Café
Natural: ainda há riscos de fermentações • Por volta de 15 horas, com o café
indesejáveis ainda quente, amontoar novamente

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 37


o café e cobrir o monte com pano quente ao lado. Repetir a intervalos de
de café, permanecendo assim até o tempo suficientes para o aquecimento
dia seguinte. No caso de previsão da nova superfície exposta.
de chuva, cobrir o monte com lona
• Por volta de 15 horas, com o café
plástica.
ainda quente, cobrir a leira com
lona, permanecendo assim até o dia
Secagem final em leiras:
seguinte.

Nesse processo, tem lugar a uni-


formização da seca entre os grãos com
diferentes graus de secagem, e mesmo
dentro do próprio grão, entre a camada
interna (menos seca) e a externa (mais
seca). Em dias nublados, a leira de café
poderá permanecer coberta.

Secagem final em vulcões:

É uma variação do processo da seca-


gem em leiras, com os mesmos resultados
finais. Ao aparecer o sol pela manhã, des-
cobrir o monte de café e, após o aque-
cimento da sua superfície e do terreiro,
Secagem final em leiras. Fase final da seca-
por volta de 9 horas, iniciar a operação,
gem do Café Natural: não retirando-se a fatia aquecida de café ao
há mais riscos de fermentações redor do monte, desde o topo até a base,
utilizando-se um rodo de cabo longo para
• Ao aparecer o sol pela manhã, maior facilidade. Essa fatia de café retira-
descobrir o café que havia sido da é enleirada ao redor do monte, a uma
coberto no dia anterior. distância de 30 centímetros, ficando uma
• Após o aquecimento da superfície nova faixa de terreiro exposta aos raios
da leira e do terreiro, o que se dá por solares para o seu aquecimento. A referi-
volta de 9 horas, é iniciada a operação da operação é repetida sempre que a ca-
de revolvimento, que consiste em mada de café, que foi exposta no último
dar tombos na leira, revirando e revolvimento estiver aquecida. Uma vez
deslocando-a para a faixa contígua e colocada sobre a camada anterior o café

38 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


tem a seca continuada pela manutenção monte até às 15 horas, cobrindo a seguir
do calor nas leiras formadas, as quais vão o monte para evitar perda de calor. Du-
sendo engrossadas a cada nova camada rante a noite, com o monte coberto e a
que é colocada sobre a existente. massa aquecida, tem continuidade a per-

1 2

3 4

Secagem final em vulcões


Reversão do processo da de umidade dos grãos menos secos,
com absorção pelos grãos mais secos.
Por volta do meio-dia, com o monte
de café totalmente desfeito e enleirado Monitoramento da umidade
em círculo, varrer a área vazia central
para acelerar o aquecimento do piso ex- A umidade final tem grande im-
posto. Reiniciar o processo ao inverso, portância para a manutenção da qua-
reconduzindo a parte aquecida da leira lidade do café, enquanto armazenado,
para o centro. Como na fase anterior, no beneficiamento e para a comercia-
repetir cada operação sempre que a ca- lização. Recomenda-se que umida-
mada exposta esquentar, concluindo o de final dos grãos fique entre 10,5 a
trabalho de retorno da leira, refazendo o 11,5%.

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 39


Secagem do Café Descascado/Des- superfície do pergaminho, sem maiores
polpado problemas. Quando se tratar de Cereja
Descascado, o resíduo de polpa deve ser
A secagem do Café Descascado seca o mais rápido possível através do
ou Despolpado baseia-se nos mesmos revolvimento constante, para controlar
princípios do Café Natural. Como o café as fermentações.
está em pergaminho, o grão fica mais
sujeito a danos físicos. Requer terreiros 2 - Meia-seca
com piso com bom acabamento, ou
seja, livres de gretas, rachaduras e ru- Na continuidade do processo de
gosidades. A exemplo do Café Natural, secagem do Cereja Descascado ou do
a higienização do terreiro torna-se obri- Despolpado em terreiro pavimentado,
gatória na secagem. deve-se engrossar a massa de grãos,
redobrando-se os cuidados para evitar
- Pré-secagem desgaste excessivo e ruptura do per-
gaminho, causados pelos constantes
Esparramar o café em finas camadas, revolvimentos e trânsito do terrereiro.
até 2 cm no terreiro, e iniciar o revolvi- Nessa fase, deverá ser evitado o se-
mento constante, com rodos leves e apro- reno da noite, passando a enleirar ou
priados, para evitar danos ao pergaminho. amontoar o café ainda quente e cobrir
Para o Café Despolpado, a ausência com pano de colheita, preferencial-
de polpa possibilita uma seca rápida da mente novo.

Pré-secagem do Cereja Descascado: riscos Fase intermediária da secagem do Café Des-


de fermentações indesejáveis. Detalhe da cascado: sem maiores riscos de fermentações.
espessura inicial da camada de secagem. Detalhe da espessura da camada de secagem

40 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


3 - Seca final alta temperatura, tem a parede celular do
grão rompida (grãos imaturos), deixando
A secagem final do café Cereja Des- extravasar os óleos essenciais, que, escu-
cascado/Despolpado no terreiro pavimen- recendo, conferem a cor característica do
tado deve lenta e seguir os mesmos pro- defeito preto-verde. A pré-secagem con-
cedimentos descritos para o Café Natural. siste em desidratar rapidamente o fruto
até o seu escurecimento total e murcha.
Secagem de verdes e bóia resultantes Para que isto ocorra o café verde deve
do descascamento ser espalhado no terreiro, em camadas
finas, nos primeiros dias de secagem, re-
Secar o lote de café bóia seguindo volvido constantemente e após a murcha
o mesmo procedimento do Café Natu- deve-se gradativamente, aumentar o ta-
ral. O café verde, quando submetido a manho das leiras até a secagem final.

Esparramação mecanizada do café

Efeito da temperatura na secagem de


cafés verdes

30º C 2,26%

40º C 21,51%

50º C 51,20%

60º C 100,00%

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 41


SECAGEM EM TERREIROS cafés especiais, de alto valor agregado.
SUSPENSOS Esses terreiros são indicados pre-
ferencialmente para cafés descascados
Outra alternativa é a secagem de e despolpados, por possibilitar um uso
café em terreiros suspensos, cobertos ou mais intensivo, pela redução no volu-
não, pela higiene e assepsia que propor- me e seca mais acelerada desses tipos
ciona, notadamente para produção de de café.

Secagem em terreiro suspenso

Secagem em terreiro suspenso - Detalhes da cobertura no modelo de estufa

42 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


SECAGEM NO PANO de ser mais resistente que a lona preta,
além de ser permeável, possibilitando
Quando não se dispõe de terreiro uma seca normal. O pano pode ser fa-
pavimentado, ou se o terreiro disponível bricado na medida desejada, é de baixo
não é suficiente para receber todo o café custo, leve e de fácil manejo, simplifican-
colhido diariamente, pode-se utilizar o do a amontoa no final do dia, com rápido
pano, confeccionado com o mesmo ma- envelopamento do café diante da possi-
terial do pano para derriça do café. bilidade de mudanças bruscas de tempo.
Esta prática é recomendada princi- Quando utilizado corretamente e manti-
palmente quando se emprega colhedoras do guardado em local seco, ao abrigo da
mecânicas e o volume de café colhido é luz e protegido de roedores, tem a dura-
grande no final do dia. Tem a vantagem bilidade de até quatro safras.

Secagem no pano

Amontoa no final do dia, com rápido envelopamento do café.

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 43


RODOS PARA CAFE RECOLHEDORES PARA CAFÉ

A eficiência da secagem do café O recolhimento do café no terreiro,


em terreiros está estreitamente ligada ou a sua amontoa ao final do dia, é tarefa
à qualidade do piso e ao tipo de rodo. trabalhosa, principalmente sob ameaças
O piso deve ser o mais liso possível e de mudanças bruscas do tempo, quando
a operação tem de ser feita rapidamente.
o rodo, o mais leve possível. Dentre os
O modelo de recolhedor aqui ilus-
diversos tipos de rodo recomendados,
trado possui uma borracha que desliza
destacam-se os modelos UFV e o rodo
sobre o terreiro, sem provocar danos à
dentado ou ondulado.
casca ou pergaminho dos grãos, desde
que a superfície do terreiro seja lisa. Pos-
Modelo UFV: ao passar deixa for- sui regulagem para mudança da posição
mada uma leira de café, alternada com do cabo, que torna mais leve empurrar
uma área exposta de terreiro, que es- quantidade maior de café de uma só
quenta sob a ação do calor do sol, nos vez, ao deslizar em ângulo.
intervalos entre uma passada e outra.

Rodo dentado/ondulado: na sua


passagem, ficam formadas numerosas
pequenas leiras, em camadas mais gros-
sas. É recomendado a partir da fase de
pré-secagem do café.

44 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


SECADORES MECÂNICOS ao café, caso a fumaça produzida pela
queima atinja a câmara de secagem, com
Os secadores mecânicos, cujos mo- sérios prejuízos para a qualidade. Nos mo-
delos mais comuns são do tipo horizon- delos de fogo direto a carvão (combustível
tal (rotativo) ou vertical (baú), utilizam de melhores características de combustão)
como fonte energética combustíveis de os gases produzidos não contaminam a
diversos tipos. massa de café. Em ambos os casos há ne-
Têm como finalidade a complemen- cessidade de eliminar as fagulhas através
tação da secagem do café iniciada no da adaptação de um ciclone.
terreiro (pré-secagem). Embora esses se- Na fornalha de fogo indireto po-
cadores sejam de funcionamento relativa- dem ser utilizados como combustível a
mente simples, observa-se com freqüên- lenha e a casca de café (não recomen-
cia alterações na qualidade da bebida do dável).
café e o aparecimento de grãos mancha-
dos, devido à seca em temperatura acima
do recomendado. Operam com ar aque-
cido em fornalha, de fogo direto ou indi-
reto, cuja temperatura é regulável por um
registro de entrada de ar frio.
As fornalhas de fogo direto a lenha,
exigem maiores cuidados na secagem,
pelo risco de transmitir odores estranhos
Aspecto da queima do material lenhoso

Fornalha de fogo indireto à lenha Fornalha de fogo direto à carvão

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 45


SECAGEM EM SECADORES Secagem do Café Natural
MECÂNICOS
A secagem do Café Natural em se-
Ao atingir a meia-seca (cerca de cador mecânico deve ser feita em duas
30% de umidade), o café pode ser fases:
colocado em secadores. Com o passar Primeira fase (de meia-seca até
das horas, mesmo que seja mantida a 18-20% de umidade): Trabalhar nesta
temperatura do ar de secagem, a mas- fase com a temperatura de secagem de,
sa de grãos terá a sua temperatura au- no máximo, 45ºC na massa de grãos.
mentada a medida que a seca evolui. Segunda fase (seca final): Proceder
Isto ocorre porque menor volume de à seca final lenta, através da seca inter-
água é evaporada em dado intervalo de mitente, com o uso das tulhas de des-
tempo. Quando a quantidade de água canso ou de auxilio à secagem.
evaporada diminui, pelas razões citadas,
há um aumento da temperatura dos Seca intermitente
grãos, tendendo a se igualar ao ar de
secagem. Se o processo não for contro- Quando se emprega secador ver-
lado, a temperatura pode atingir, níveis tical, a câmara de repouso do mesmo
prejudiciais. Daí resulta perda de peso deve ser utilizada para realizar a seca fi-
pela seca excessiva e perda de qualida- nal lenta bastando, para isto, desligar o
de, com alto índice de grãos quebrados secador à noite (deixando rodar por 15
no beneficiamento. minutos sem calor). Desse modo, o café

Secador mecânico vertical Secadores mecânicos horizontais

46 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


repousa ainda quente, durante a noite, Procedimentos importantes na seca-
na referida câmara ou baú, o suficiente gem em secadores mecânicos
para prolongar a seca pela ação do ca-
lor remanescente e ainda uniformizar a • Trabalhar com carga total no
seca do lote de café. caso do secador vertical. No caso
de secador rotativo, deixar um
Tulhas de auxílio à secagem folga de 20 a 30 cm, para a livre
movimentação do café;
São construídas em madeira, em
• Antes de acender a fornalha, acionar
número de duas, ao lado do secador,
primeiramente o movimento do
com capacidade idêntica à do mesmo.
secador, para acomodar a carga em
Nesse caso, trabalhar com um primeiro
seu compartimento;
lote no secador até reduzir a umidade
a 20%. A seguir, descarregar o lote de • Ao final da seca, descarregar o
café do secador numa das tulhas, carre- lote de café com 13 a 14%, ainda
gando-o novamente com um novo lote quente, na tulha, onde deverá
de café, conduzindo a seca até o mesmo permanecer por algum tempo antes
ponto, colocando-o, então, na segunda do beneficiamento.
tulha. Retornar o primeiro lote ao seca-
dor para a seca final. Repetir o processo Monitoramento da umidade
para o segundo lote, e assim por diante.
Na secagem do café em secadores,
o controle da umidade é de suma im-
portância. O seu monitoramento deve
ser feito através de equipamentos de
precisão, periodicamente aferidos. Os
métodos práticos não oferecem muita
confiabilidade, principalmente quando
o que está em jogo é a qualidade.

Secador Vertical tipo baú com tulha de


descanso Modelos de determinadores de umidade

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 47


Monitoramento da temperatura sados pela movimentação dos grãos no
elevador de canecas.
A temperatura e a umidade pre-
cisam ser acompanhadas de perto na Pré-secagem em secador rotativo
seca do café. A exemplo dos medidores
de umidade, os termômetros têm que Apesar de não ser recomendada
ser confiáveis e precisos e a sua escala por comprometer com freqüência a
deve ser de fácil leitura. O termômetro qualidade final dos grãos, a pré-seca-
da massa de grão deve ter o bulbo mais gem em secador rotativo ou horizontal
comprido, ao passo que o termômetro poderá ser feita em caso de extrema
do ar pode tê-lo mais curto. necessidade.
No caso específico do Café Natu-
ral, ainda há o inconveniente da grande
contração de volume desde o estágio
cereja até a meia-seca, com perda de ar
quente causada pelo esvaziamento da
câmara de secagem. Os seguintes cui-
dados são recomendados:
Modelos de termômetros
• Fazer uma limpeza rigorosa do
Secagem do Café Descascado/Despol- interior do secador, eliminando
pado riscos de embuchamento causado
pela mistura da água do café vindo
A secagem do café Despolpado/ do lavador ou descascador com a
Descascado em secadores mecânicos sujeira porventura incrustada nas
segue a mesma linha de procedimentos paredes internas (foto);
empregada no caso do Café Natural. A
• Rodar o secador com a fornalha
ausência da casca predispõe os grãos à
desligada, por tempo suficiente para
ação mais direta do calor, mesmo com
o completo escorrimento da água de
a proteção do pergaminho. Nesse caso,
excesso;
a temperatura na massa de grãos, deve
ser no máximo de 40ºC. Outro ponto • A seguir, operar com ar aquecido
a ser ressaltado é o cuidado quando se mantendo a temperatura da massa
tratar da secagem do café Despolpado/ de café em 30ºC até meia-seca. Daí
Descascado em secador vertical, devido por diante, adotar os procedimentos
aos possíveis danos ao pergaminho, cau- já descritos.

48 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


Secadores horizontais rotativos: detalhes da moega de descarga e dos protetores de polia

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 49


ARMAZENAMENTO Proteção dos lotes de café empilha-
do: usar pano de ráfia (semi-permeável).
O café produzido pode ser arma- Desinfestação: a cada nova safra,
zenado tanto na propriedade quanto limpar e desinfestar todo o interior da
em armazém especializado. Na pro- tulha. Para prevenir o ataque de fungos
priedade deve ser armazenado prefe- e pragas. Na tulha não devem permane-
rencialmente café não beneficiado, por cer outros produtos armazenados, pois, o
motivos de segurança e manutenção café absorve gostos e cheiros estranhos
da qualidade, sendo que o café em com muita facilidade. A tulha deve ser
coco tem a qualidade melhor preserva- dotada de divisões para armazenar, sepa-
da que o descascado. radamente, os diversos lotes produzidos.

BENEFICIAMENTO
Alguns cuidados são fundamentais
para o armazenamento do café, como A umidade ideal para o beneficio
segue: do café é de 10,5% a 11,5%. Abaixo de
10%, poderá ocorrer a quebra de grãos
Localização da tulha: local arejado, durante o beneficiamento. Acima de
batido pelo sol e próximo do terreiro, 12%, pode ocorrer também o branque-
secadores e máquina de beneficiar. amento dos grãos, reduzindo o período
Material de construção: madeira de armazenamento e devem retornar ao
ou alvenaria. Quando o material for terreiro ou secador, antes de serem be-
alvenaria, recomenda-se a colocação neficiados.
de estrados no piso, no caso do arma- A máquina de beneficiar o café
zenamento em sacaria, ou a sua im- deve ser regulada antes de ser usada,
permeabilização com lona plástica, em a fim de se evitar a quebra de grãos, a
caso de armazenamento a granel. Re- saída de grãos junto com a palha ou a
comenda-se também o isolamento em saída de palha junto com os grãos. É im-
relação ao ambiente externo através portante o café descansar nas tulhas an-
do revestimento interno das paredes tes do beneficiamento, após a seca para
com tábuas. melhorar a uniformidade da secagem.

Tempo mínimo necessário de descanso na tulha antes do benefício do café

Café Natural de terreiro Café Natural de secador Cereja descascado/


Despolpado
30 dias 30 dias 10 dias

50 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo


Foto: Marco Antônio Ferreira

Máquinas de beneficiamento de café ambulantes

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mercado exige atualmente café complementam todas as demais realiza-
de qualidade superior, pagando a mais das durante o ciclo produtivo da cultura,
por essa qualidade. Portanto, os cuida- buscando a obtenção de um CAFÉ DE
dos na pré-colheita, colheita, preparo, QUALIDADE SUPERIOR, a justa remu-
secagem, armazenamento e beneficia- neração para o cafeicultor profissional e
mento, são muito importantes pois estas dedicado.

MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo 51


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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52 MANUAL DO CAFÉ - Colheita e Preparo
Ciências
Agrárias

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