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TEOREMA 6.

1 – TEOREMA DA IMPOSSIBILIDADE DE ARROW


A estratégia da prova é mostrar que os axiomas U (domínio irrestrito), WP (princípio de Pareto fraco) e IIA
(independência de alternativas irrelevantes) implicam a existência de um ditador. Consequentemente, se U, WP, e
IIA forem válidos, então o axioma D (não ditadura) falhará, e nenhuma função de bem-estar social satisfará todos os
quatro axiomas.

A prova, seguindo Geanakoplos (1996), desenvolve-se em quatro etapas. Observe que o axioma U, o do domínio
irrestrito, é usado em cada etapa sempre que selecionarmos ou alterarmos o perfil de preferência que está sendo
levado em consideração. O domínio irrestrito assegura que todo perfil de preferência é admissível.

Etapa 1: Considere um estado social c qualquer. Suponha que cada indivíduo coloque c no final de sua ordenação
individual, ou seja, no último lugar de seu “ranking”. Pelo axioma WP, o ranking social deverá colocar c no final
também. Todo mundo colocando c em último lugar do ranking, a regra social também o colocará.

Etapa 2: Imagine, agora, que iremos mover c para o topo do ranking do indivíduo 1, deixando o ranking de todos os
demais estados inalterados. Em seguida, faremos o mesmo procedimento com o indivíduo 2: apenas moveremos c
para o topo do ranking do indivíduo 2. Continuaremos agindo dessa forma, modificando apenas a posição de c, do
último lugar para topo do ranking individual, um indivíduo de cada vez, sem alterar as demais alternativas. Mantenha
em mente que cada modificação nas preferências individuais deverá afetar o ranking social. Ao final desse processo,
c estará no topo de cada ranking individual, e, por isso, c deverá estar também no topo do ranking social pelo axioma
WP. Consequentemente, deverá ocorrer um momento durante esse processo em que c aumentará seu ranking social
pela primeira vez. Considere que o indivíduo n seja o primeiro indivíduo que, ao se elevar c para o topo de seu ranking
individual, isso acarretará um aumento no ranking social de c. Nós afirmamos que, quando c se mover para o topo do
ranking individual de n, o ranking social de c não apenas aumentará, mas c também se moverá para o topo do ranking
social. Para provar isso, assuma, por contradição, que o ranking social de c se eleve, mas c não chegue ao topo, i.e.,
admita a existência de alternativas  distintas de c, tais que RcR. Uma vez que c está no último lugar ou no topo
do ranking individual, nós poderemos alterar as preferências individuais de cada indivíduo i de modo que Pi,
mantendo a posição de c inalterada para cada indivíduo. Isso provocará uma contradição; pois, se por um lado Pi
para cada indivíduo implica, por WP, que  deve ser estritamente preferível a  no ranking social, ou seja, P; por
outro lado, uma vez que as ordenações de c relativamente a  e as de c relativamente a  não se alteraram nos
rankings individuais, o axioma IIA implica que o ranking social de c relativo a  e o de c relativo a  deverão ficar
inalterados; o que, como inicialmente se assumiu, dever-se-á ter Rc e cR. Por transitividade, isso implica R,
contradizendo P. Isso demonstra nossa afirmação de que c deve ter-se movido para o topo do ranking social.

Etapa 3: Considere agora dois estados sociais a e b quaisquer, cada um distinto de c. Na figura 6.3, altere o perfil de
preferências da seguinte maneira: mude a ordenação do indivíduo n de modo que aP ncPnb, e, para todas os demais
indivíduos, ordene a e b de qualquer maneira desde que a posição de c permaneça inalterada em cada indivíduo.
Observe que, no novo perfil de preferências, a ordem de a para c deve ser a mesma para cada indivíduo como era
antes de c subir para o topo do ranking individual na etapa 2. Portanto, pelo axioma IIA, a ordenação social de a e de
c deve ser a mesma daquele momento. Mas isso implica que aPc porque, naquele momento, c estava ainda no fundo
da ordenação social. Similarmente, no novo perfil de preferências, a ordem de c para b é a mesma para cada indivíduo
como era depois de subir c para o topo da ordenação do indivíduo n no passo 2. Portanto, por IIA, a ordenação social
de c e de b deve ser a mesma daquele momento. Mas isso significa que cPb, porque, naquele momento, c tinha
acabado de subir para o topo do ranking social. Então, uma vez que aPc e cPb, podemos concluir por transitividade
que aPb. Observe então que, não importa como os demais ordenaram a e b, a ordenação social concorda com a
ordenação do indivíduo n. Por IIA, e porque a e b são arbitrários, podemos concluir que para todos os estados sociais
a e b distintos de c, aPnb implica aPb. Isto é, o indivíduo n é um ditador para todos os pares de estados sociais que
não envolvam c.

Etapa 4: Considere a distinto de c. Repita as etapas do processo descrito acima com a fazendo o papel de c, para
concluir que existe um indivíduo decisivo m que é um ditador para todos os pares de alternativas que não envolvam
a. Recorde, contudo, que o ordenamento do indivíduo n para c (para cima ou para baixo) afeta o ranking social de c
(para cima ou para baixo). Desse modo, n deve ser o ditador para todos os pares que não envolvam a. Uma vez que
a é um estado arbitrário distinto de c, e junto com a conclusão prévia sobre o indivíduo n, isso implica que n é um
ditador.

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