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RELATÓRIOS

ENSINO DA NEUROLOGIA

PAULO PINTO PUPO

JORGE ARMBRUST-FIGUEIREDO

Na feitura dêste relatório, do qual fomos incumbidos pela Academia


Brasileira de Neurologia na reunião de Curitiba, e m julho d e 1963, p r o c u r a -
mos colher dados que permitissem u m a visão panorâmica de como é atual-
m e n t e o ensino de Neurologia n a s diversas escolas médicas do m u n d o e assi-
nalar as principais informações obtidas na revisão da literatura sôbre o
assunto.

Para t a l fim, o r g a n i z a m o s u m questionário q u e foi e n v i a d o a 29 e s c o l a s


médicas do Brasil, 19 d a A m é r i c a do Sul, 34 da A m é r i c a do Norte, 62 d a
Europa e 14 d a Ásia e da Austrália. Êsse questionário constou de duas
partes principais: ( a ) ensino para os alunos do curso de graduação; (b) en-
sino de pós-graduação para formação de especialistas e pesquisadores em
Neurologia.

Na primeira parte indagamos: e m q u e ano letivo é ensinada a Neuro-


logia; qual a correlação e n t r e o c u r s o de clínica neurológica e os cursos bá-
sicos c o r r e l a t o s (neuranatomia, neurofisiologia, neurofarmacologia e neuropa-
t o l o g i a ) ; qual a d u r a ç ã o do ensino teórico e p r á t i c o e se ê s t e é feito e m en-
fermaria e/ou e m ambulatórios; qual a relação entre o número de estudantes
e o de leitos para Neurologia e do pessoal docente habilitado, respectiva-
mente; se os alunos assistem reuniões clínicas e clínico-patológicas e se são
realizadas reuniões conjuntas com a neurocirurgia. Na segunda parte per-
guntamos: se no ensino de pós-graduação há regime de internato; se há
necessidade de um estágio prévio em medicina interna; se a Neurologia
constitui departamento a u t ô n o m o ou se funciona e m conjunto com a Clínica
médica, com a Psiquiatria ou com a Neurocirurgia; se o residente passa

R e l a t ó r i o a p r e s e n t a d o a o 1º C o n g r e s s o B r a s i l e i r o d e N e u r o l o g i a (Ribeirão Prêto
SP, 26 a 3 1 d e j u l h o d e 1964) e m m e s a r e d o n d a n a q u a l t o m a r a m p a r t e o Prof.
Deolindo Couto (Rio d e Janeiro, GB), o Prof. Elyseu Paglioli (Pôrto Alegre, RS),
o Prof. J o r g e Armbrust-Figueiredo (Ribeirão Prêto, S P ) , o Prof. José Geraldo
A l b e r n a z (Belo Horizonte, M G ) , o Prof. José Ribe P o r t u g a l (Rio de Janeiro, GB), o
Prof. Manoel C a e t a n o de B a r r o s (Recife, P E ) , o Prof. Oswaldo Freitas Julião (São
Paulo, S P ) , o Prof. Oswaldo Lange (São Paulo, S P ) , o Prof. Paulino W. Longo
(São Paulo, SP) e o Prof. P a u l o Pinto P u p o (São Paulo, SP). Tomou parte tam-
bém, como convidado, o Prof. Helio Lemmi (Professor assistente na University
of T e n n e s s e e M e d i c a l S c h o o l , U.S.A.).
obrigatòriamente por estágios em neurocirurgia, neuropatologia, neuropedia-
tria e psiquiatria; se existe interrelação funcional da Neurologia com outros
serviços, tais como neurocirurgia, pediatria, oftalmologia, reabilitação, psi-
quiatria e patologia; qual o t e m p o m í n i m o exigido p a r a o curso de pós-gra-
duação em Neurologia e se h á necessidade de provas de suficiência ao seu
término.

ENSINO DA NEUROLOGIA NO CURSO MÉDICO

N a revisão da literatura sôbre o ensino da Neurologia no curso médico


encontramos dados recentes quase que apenas e m relação a equipes de
trabalho norte-americanos.

O ensino da Neurologia e o exercício da clínica neurológica nos Estados


Unidos da América do Norte, na década de 1930 e até os anos de após
guerra, sofreram análises muito pessimistas de preeminentes personalidades
dessa época e dos especialistas da geração subseqüente (Riley, 1933; Wilson
e Rupp, 1947; Nielsen, 1947; Schalier, 1947; Macley, 1947; os neurologistas
estavam, então perdendo progressivamente seus doentes para os psiquiatras,
p s i c a n a l i s t a s e, u l t e r i o r m e n t e , p a r a o s n e u r o c i r u r g i õ e s . Bailey (1942 e 1946)
cita, inclusive, Ramsay-Hunt (1934) e Lhermitte (1933) que externaram
a mesma opinião em relação ao que ocorria na Inglaterra e na França.
Também a neurocirurgia estava em situação precária, exercida por neuro-
cirurgiões s e m a n e c e s s á r i a p r e p a r a ç ã o neurológica (Bucy, 1940; Bailey, 1946).
Assim, os neurologistas derivavam suas atividades para outros setores da
medicina: os que p o s s u i a m doentes neuróticos e psicóticos em suas clínicas
privadas passavam a se dedicar m a i s a êles e a e s t u d a r os s e u s problemas;
os q u e p e r s e v e r a v a m n a N e u r o l o g i a p u r a , d i r i g i a m seus e s t u d o s p a r a o campo
das pesquisas e m neuranatomia e neurofisiologia. Tal situação resultava no
desprestígio da Neurologia clínica. Paralelamente, não progrediu o ensino
d a N e u r o l o g i a ; ficou p a t e n t e a c a r ê n c i a do pessoal docente, h o u v e decréscimo
do n ú m e r o de candidatos aos títulos de especialista em Neurologia reconhe-
cidos pela American Medical Association (Bailey, 1946). Os alunos passa-
ram a n ã o se interessar pela Clínica Neurológica e, e m g e r a l , e r a m m a l in-
formados a respeito da Neurologia como especialidade e ignoravam os pro-
gressos registrados nos últimos anos (Poser, 1960). Os dados estatísticos
apresentados nos relatórios de Viets (1937), Greg (cit. por Bailey, 1943)
Riley (1946) e Pollock (1949) demonstram a carência de ensino da Neuro-
logia naquela época n a s escolas n o r t e - a m e r i c a n a s : e m poucas delas a Neuro-
logia era ensinada independentemente da Psiquiatria, da Clínica médica ou
da Neurocirurgia; o número de docentes era restrito e a distribuição de re-
cursos para o ensino muito heterogênea; a grande maioria dos departamen-
tos de Neurologia concentrava-se na costa atlântica norte do país.

C o n t r a êste e s t a d o de coisas i n s u r g i r a m - s e os n e u r o l o g i s t a s q u e se acha-


vam em evidência no após guerra, premidos pelo aumento considerável de
pacientes neurológicos. Foram realizados inquéritos para avaliação dos neu-
rologistas disponíveis, organizados programas para o ensino sistematizado
da Neurologia, que passou a ser ministrado e m d e p a r t a m e n t o s independentes
n a s e s c o l a s m é d i c a s , foi i n c e n t i v a d o o e s t a b e l e c i m e n t o d e r e s i d ê n c i a s e m hos-
pitais com a finalidade de p r e p a r a r novos especialistas e novos m e m b r o s para
o corpo docente das escolas, f o r a m efetivadas campanhas para o esclareci-
mento do público e dos podêres governamentais sôbre os acentuados pro-
gressos feitos pela Neurologia, visando angariar fundos para a construção
de institutos e para programas de reabilitação dos mutilados de guerra.
P a p e l r e l e v a n t e foi d e s e m p e n h a d o pelas organizações hospitalares e de segu-
ros dos veteranos (Bailey, 1947). O inquérito realizado por Bailey, em
1949, j á oferece visão menos pessimista do cenário neurológico: questioná-
rios e n v i a d o s a 850 e s p e c i a l i s t a s a p r o v a d o s e m N e u r o l o g i a , P s i q u i a t r i a , Neuro-
cirurgia ou e m mais de u m a destas especialidades mereceram 521 respostas,
mostrando que a Neurologia constituia especialidade bastante procurada e
exercida com entusiasmo; que a idade média daquêles que a exerciam era
de 45 anos, que eram indivíduos ainda muito ativos e ocupando cargos de
destaque no meio médico em que viviam; o número de hospitais com ser-
viços credenciados em pós-graduação de Neurologia aumentou substancial-
mente. O relatório de Poser, em 1960, r e l a t i v o a o d e c ê n i o seguinte, confir-
m o u êstes dados, mostrando o aumento do número de residências aprovadas
e m hospitais com ensino pós-graduado em Neurologia. Contudo, a demanda
de neurologistas permanecia grande e a sua distribuição geográfica conti-
nuava heterogênea.

A partir dessa época o ensino da Neurologia passou a ser encarado com


interêsse todo especial. Wolff (1949) salientou a necessidade do ensino in-
tensivo, coordenado com a neuranatomia e neuropatologia e com o ensino
nas enfermarias de medicina interna. De Jong (1951) também advogou o
ensino dos conhecimentos neurológicos p a r a l e l a m e n t e ao ensino da neuranato-
mia, neurofisiologia e neuropatologia, ressaltando que os conhecimentos de
semiologia e o raciocínio p a r a o diagnóstico neurológico devem ser apresen-
tados ao aluno de maneira simples e atraente, entrosados intimamente com
os c o n h e c i m e n t o s da clínica e da patologia médicas, salientando sua íntima
correlação e interdependência. Os relatórios e as discussões na reunião pro-
movida pelo National Advisory Neurological Diseases and Blindness Council
e p e l o N a t i o n a l I n s t i t u t e of N e u r o l o g i c a l D i s e a s e s a n d B l i n d n e s s , e m 1 9 5 6 , n a
qual t o m a r a m p a r t e A. B. Baker, Pearce Bailey, H. H. Merrit, R. de Jong,
Fances Foster, O. H . L o w r y , A . S. S e v e r i n g h a u s , G. H . Seger, G. Asgaard,
J. O'Leary, R. Richter, A u g u s t u s R o s e e A. L. S a h s m o s t r a m êsse interêsse.
Destas discussões sobressai a afirmaçoã de que são inseparáveis o Serviço de
Neurologia-Internato de Pós-Graduação e o ensino no curso médico; foi sa-
lientada a absoluta necessidade de criação de serviços b e m organizados, fun-
cionando com pessoal docente em regime de tempo integral para obter
ensino satisfatório. Os alunos devem viver os problemas da evolução de
cada paciente; os jovens residentes desempenham papel fundamental neste
tipo de ensino, desde que existe maior intimidade nas relações estudante
r e s i d e n t e q u e n a s dos a l u n o s c o m d o c e n t e s m a i s idosos ou c o m os q u e ocupam
posições hieràrquicamente elevadas. Essa interrelação é útil tanto para o
aluno quanto para o residente. Daí ser preferível a uma escola médica ter
maior número de residentes que aumentar o número do pessoal docente
permanente.
Em tôda essa campanha — empreendida para melhorar a situação dos
neurologistas como especialistas, para lhes dar maiores recursos na pesquisa,
para prover a nação de maior número de médicos capazes de enfrentar os
problemas da legião de mutilados de g u e r r a — partiram os pioneiros do prin-
cípio de q u e o s i s t e m a nervoso é o sistema central do organismo, o mais im-
portante, aquêle do qual dependem todos os outros sistemas da economia;
por isso deve ocupar posição relevante na educação médica, como já apre-
goavam Bernard Sachs (Congresso Neurológico de Berna, 1931) e Monrad
Krohn (Congresso Neurológico de Paris, 1950). As conseqüências desta
campanha foram esplêndidas. A Neurologia, que em determinada época fôra
uma especialidade dedicada aos diagnósticos brilhantes, mas estática em seus
propósitos, tornou-se essencialmente dinâmica, procurando diagnósticos mais
consentâneos com os problemas da patologia geral. Tais diagnósticos, em-
bora nem sempre tão precisos do ponto de vista topográfico, permitiram
melhor e mais precoce intervenção do médico em benefício de seus pacientes.
A terapêutica clínica e o tratamento cirúrgico, bem como os métodos de
reabilitação física e mental, possibilitaram extraordinário desenvolvimento
da Neurologia.

RESULTADOS DO I N Q U É R I T O REALIZADO

Nos Estados Unidos da América do Norte — Obtivemos informações de 24


escolas m é d i c a s m a s b a s e a m o s nossa a n á l i s e e m a p e n a s 20, desde q u e a s d e m a i s
não forneceram dados suficientes para u m a avaliação precisa do desenvolvimento
dos cursos normais d e Neurologia ( 1 . U n i v e r s i t y of C a l i f o r n i a a t L o s A n g e l e s ; 2.
U n i v e r s i t y of S o u t h e r n C a l i f o r n i a ; 3. Georgetown University; 4. Cornell Univer-
sity; 5. U n i v e r s i t y of C i n c i n a t t i ; 6. O h i o S t a t e U n i v e r s i t y ; 7. N e w Y o r k Uni-
versity; 8. U n i v e r s i t y of M i c h i g a n ; 9. U n i v e r s i t y of W i s c o n s i n ; 10. University
of Minnesota; 11. University of K a n s a s ; 12. Boston University; 13. University
of C a l i f o r n i a a t S a n F r a n c i s c o ; 14. H a r v a r d University; 15. Columbia University;
16. C o l l e g e of M e d i c a l E v a n g e l i s t s ; 17. George Washington University; 18. T e m -
ple University; 19. U n i o n U n i v . , A l b a n y C o l l e g e of M e d i c i n e ; 20. D u k e U n i v e r s i t y ) :

(a) O currículo do curso médico desenvolve-se em 4 anos n a s 20 escolas.


(6) Tõdas m a n t ê m cursos de neuranatomia e neurofisiologia, sendo q u e e m
1 3 ( 1 , 2, 3 , 4, 5, 7, 8, 12, 1 3 , 1 4 , 1 5 , 1 8 , 1 9 ) t a i s c u r s o s s ã o i n t e g r a d o s c o m o
departamento de Neurologia, as aulas sendo ministradas com a colaboração de
n e u r o l o g i s t a s ; e m 4 d e s t a s ( 3 , 8, 1 4 , 1 7 ) o d e p a r t a m e n t o d e N e u r o l o g i a é o r e s -
ponsável pelos cursos de n e u r a n a t o m i a e / o u neurofisiologia. E m 3 escolas (6, 16,
17) tais cursos são dados independentemente do departamento de Neurologia.
D a s d e m a i s 4 escolas (9, 10, 1 1 , 20) n ã o o b t i v e m o s informações.

(c) N o ensino d a clínica neurológica procuramos verificar a situação do curso


de semiologia. E m 1 1 d a s e s c o l a s ( 1 , 2 , 3 , 4 , 5 , 8, 1 3 , 1 5 , 1 6 , 1 9 , 2 0 ) s ã o r e a l i -
zados cursos de "Introdução à Neurologia", sendo que e m 10 no segundo a n o do
currículo e e m u m a (8) n o terceiro a n o ; as restantes 9 escolas n ã o forneceram
dados precisos. Vale a p e n a s a l i e n t a r q u e êsses cursos, n a m a i o r i a d a s vêzes,
incluem, n ã o apenas a semiología neurológica, m a s t a m b é m a correlação da neu-
r a n a t o m i a e n e u r o f i s i o l o g i a c o m a c l í n i c a e, a i n d a , f u n d a m e n t o s d e n e u r o p a t o l o g i a .
O t e m p o dedicado a êste estudo v a r i a de 17 a 36 horas, sendo a d u r a ç ã o média
de 22 h o r a s anuais, distribuidas e m a u l a s práticas e demonstrações.

(d) O curso de clínica neurológica desenvolve-se nos terceiro e q u a r t o anos.


As 20 escolas m a n t ê m cursos n o terceiro a n o , n o s quais os e s t u d a n t e s assistem
aulas teóricas e recebem instrução prática nas enfermarias. A duração destes
cursos é muito variável m a s é nítido o predomínio do ensino prático sôbre o teó-
rico; a d u r a ç ã o m é d i a do curso teórico é de 17 horas, a o passo q u e a do curso
prático é de 120 h o r a s . A permanência dos estudantes nas enfermarias também
v a r i a d e a c ô r d o c o m a e s c o l a c o n s i d e r a d a : e m 1 2 ( 1 , 2 , 3 , 5 , 7 , 8, 9 , 1 0 , 1 3 , 1 4 , 1 7 ,
18) os e s t u d a n t e s p e r m a n e c e m de 2 a 10 s e m a n a s n a s e n f e r m a r i a s , desempenhando
certa atividade assistencial. E m 13 escolas ( 2 , 3 , 4, 5, 7, 1 0 , 1 2 , 1 3 , 1 4 , 1 6 ,
17, 18, 1 9 ) , a l é m d o s c u r s o s t e ó r i c o e p r á t i c o , os a l u n o s a s s i s t e m conferências
clínico-patológicas, realizadas 2 a 4 vêzes por mês. O curso no quarto ano tem
c a r á t e r o b r i g a t ó r i o e m 1 6 e s c o l a s e é e l e t i v o n a s o u t r a s 4 ( 7 , 9, 12, 1 3 ) . Tem
caráter predominantemente prático, sendo que em apenas 3 escolas (5, 11, 15)
são realizadas aulas teóricas, com duração média t o t a l de 16 h o r a s . Os estu-
d a n t e s f r e q ü e n t a m a s e n f e r m a r i a s e m g r u p o s d e 5 a 8, p o r p e r í o d o s v a r i á v e i s d e
2 a 4 semanas, sob a orientação direta dos residentes e docentes. E m 11 escolas
( 3 , 6, 7, 8, 1 0 , 1 1 , 1 4 , 1 6 , 1 7 , 1 8 , 1 9 ) o s e s t u d a n t e s f r e q ü e n t a m o a m b u l a t ó r i o p o r
períodos que v a r i a m de 3 dias a 3 mêses, com t e m p o médio de 3 semanas.

(e) E m 1 5 e s c o l a s ( 2 , 3 , 5 , 7 , 8, 9, 1 0 , 1 2 , 1 3 , 1 4 , 1 5 , 1 7 , 1 8 , 1 9 , 2 0 ) o d e p a r -
t a m e n t o de N e u r o l o g i a é i n d e p e n d e n t e , a u t ô n o m o ; u m d ê s t e s (17) e n g l o b a o ser-
viço de neurocirurgia. E m 4 e s c o l a s ( 1 , 4 , 6, 1 1 ) a N e u r o l o g i a i n t e g r a o d e p a r -
t a m e n t o d e M e d i c i n a i n t e r n a e, e m u m a ( 1 6 ) , f a z p a r t e d o d e p a r t a m e n t o d e N e u r o -
Psiquiatria.

(f) E m 9 e s c o l a s ( 1 , 2, 3 , 4, 8, 1 0 , 1 4 , 1 5 , 1 7 ) o n ú m e r o de leitos para pa-


cientes neurológicos perfaz o total d e 534, c o m m é d i a d e 59.

(g) O número de estudantes por cada escola é variável. Com referência


ao ano l e t i v o d e 1 9 6 2 - 6 3 e n c o n t r a m o s o t o t a l d e 1 8 6 0 a l u n o s d i s t r i b u i d o s n o t e r -
c e i r o a n o d e 1 8 e s c o l a s ( 1 , 2 , 3 , 4 , 5 , 8, 9 , 1 0 , 1 1 , 1 2 , 1 3 , 1 4 , 1 5 , 1 6 , 1 7 , 1 8 , 1 9 , 2 0 )
com a m é d i a de 103 alunos por escola.

(h) E m relação ao n ú m e r o de docentes encarregados dos cursos de Neuro-


logia, n ã o n o s foi p o s s í v e l o b t e r d a d o s p o r m e n o r i z a d o s e m r e l a ç ã o à m a i o r i a das
escolas. A l g u m a s das respostas que obtivemos consideravam todos os docentes
participantes dos cursos, inclusive os "visiting neurologists"; outras referiam-se
a p e n a s à c o m p o s i ç ã o oficial do "staff" d e p a r t a m e n t a l ; em outras eram citados
todos os i n t e g r a n t e s do d e p a r t a m e n t o , s e m m a i o r e s esclarecimentos.

(i) C h a m o u - n o s a a t e n ç ã o a pouca referência ao pessoal docente que t r a b a l h a


em regime de tempo integral nas informações recebidas. Dos "full professors"
a p e n a s u m t r a b a l h a n e s t e r e g i m e e, s e g u n d o o s d a d o s q u e n o s f o r a m oferecidos,
o total do pessoal e m dedicação plena ao ensino e à pesquisa é de três por cento.

Na Europa — Informações sôbre a organização do ensino da Neurologia na


E u r o p a f o r a m recebidas de 11 países n u m total de 23 escolas. O presente estudo
baseou-se, contudo, nos dados de 20 escolas (21. Université de Paris, França;
22. U n i v e r s i t é d e L o u v a m , Bélgica; 23. Université Libre de Bruxelles, Bélgica;
24. U n i v e r s i t é d e L i è g e , B é l g i c a ; 25. University of Oslo, N o r u e g a ; 26. Zürich
Universität, Suiça; 27. Basel U n i v e r s i t ä t , Suiça; 28. U n i v e r s i t y of Oxford, In-
glaterra; 29. U n i v e r s i t á di G e n o v a , I t á l i a ; 30. U n i v e r s i t á di M i l a n o , I t á l i a ; 31.
Slovenskej University, Checoslováquia; 32. H a m b u r g Universität, Alemanha; 33.
Polskie Towarzistwo Neurologiczne, Polônia; 34. U n i v e r s i t e i t Leiden, H o l a n d a ; 35.
Universität Freiburg, Alemanha; 36. U n i v e r s i t ä t Bonn, Alemanha; 37. Universi-
tät Münster, Alemanha; 38. H u m b o l d t Universitát, Alemanha; 39. I n s t i t u i de
N e u r o l o g i e I. P . P a v l o v , R u m ã n i a ; 40. F a c u l t a d de M e d i c i n a d e B a r c e l o n a , Es-
panha) :

(a) A d u r a ç ã o do curso médico n ã o é a m e s m a e m tôdas as escolas: assim,


u m a (23) t e m o c u r r í c u l o d e s e n v o l v i d o e m 5 a n o s , 4 (35, 36, 37, 38) e m 5 e m e i o
a n o s , 9 (21, 28, 29, 30, 3 1 , 32, 34, 39, 40) e m 6 a n o s , 2 (25, 26) e m 6 e m e i o
a n o s , 4 (22, 24, 27, 33) e m 7 a n o s . A o r g a n i z a ç ã o d o s c u r s o s t a m b é m é h e t e r o -
gênea, sendo que em a l g u m a s o currículo é rígido, em outras o ensino das ciên-
cias básicas é feito i n d e p e n d e n t e m e n t e d a s m a t é r i a s clínicas e e m o u t r a s , ainda,
o curso de m a t é r i a s obrigatórias c o m p r e e n d e 5 a n o s e os cursos optativos mais
1 ou 2 anos.
(b) O ensino da neuranatomia e da neurofisiologia não tem qualquer rela-
ç ã o c o m o d e p a r t a m e n t o de N e u r o l o g i a e m 19 d a s escolas; a p e n a s e m u m a (35) a
cátedra de Neurologia é responsável pelo ensino da neurofisiologia.

(e) O ensino de Neurologia não obedece a sistematização regular e m várias


d a s escolas, t o r n a n d o difícil a c o m p a r a ç ã o dos m é t o d o s a p l i c a d o s . Assim, a Neu-
rologia n ã o faz p a r t e do c u r r í c u l o m é d i c o o b r i g a t ó r i o e m 2 escolas (23, 4 0 ) ; em
o u t r a (28) t o d o o e n s i n o d a N e u r o l o g i a se faz e m a p e n a s u m mês, de m o d o i n t e n -
sivo; e m o u t r a (32) o curso n ã o t e m previsão fixa, e m b o r a e m geral seja de-
senvolvido no segundo ano clínico; em 6 outras (29, 30, 35, 36, 37, 38) a
Neurologia é ensinada juntamente com a Psiquiatria, não havendo individuali-
zação de cada matéria; em u m a (24) o curso é d a d o d e n t r o do p r o g r a m a de
Clínica Médica. A a v a l i a ç ã o do curso d e semiologia torna-se, pois, m u i t o difícil,
d i a n t e d a v a r i e d a d e d e o r g a n i z a ç ã o d e c u r r í c u l o s ; e m a p e n a s 3 (24, 25, 32) nos
foi p o s s í v e l i d e n t i f i c a r o e n s i n o d a p r o p e d ê u t i c a n e u r o l ó g i c a , c u j a d u r a ç ã o varia
e n t r e 4 e 24 h o r a s a n u a i s .

(a) O curso de clinica neurológica t e m características e d u r a ç ã o diversas:


na Universidade de Oxford (Inglaterra) todo o curso é dado em apenas u m mês,
com dedicação exclusiva do aluno; n a Universidade de H a m b u r g (Alemanha), o
curso não tem distribuição e duração fixas, variando de ano para ano; nas
Universidades de Genova e Milano (Itália) e de Berlin, Bonn e M ü n s t e r (Alema-
nha) a Neurologia e a Psiquiatria são ensinadas em u m mesmo departamento.
A situação do curso de clínica neurológica varia muito dentro dos currículos; em
4 ( 2 1 , 26, 28, 31) o c u r s o é d a d o n o s e g u n d o a n o c l í n i c o e e m u m a (33) n o p r i -
meiro ano. Sua duração também é varável: e m 12 escolas o c u r s o se desen-
volve durante u m ano; em uma (34) d u r a n t e 2 a n o s ; e m 2 (22, 25) d u r a n t e 3
a n o s ; e m 2 (24, 27) d u r a n t e 4 a n o s . A distribuição de aulas teóricas e práticas
do curso de Neurologia é diversa daquela encontrada nas escolas norte-ameri-
canas: o curso teórico é mais extenso, com número de aulas maior, ocupando
de 60 a 3 5 % do t e m p o total dedicado ao ensino. E m geral são utilizados sòmente
doentes internados; as aulas constam, geralmente, de demonstrações clínicas, os
estudantes n ã o desempenhando atividade assistencial. O número de reuniões clí-
nico-patológicas é restrito a a l g u m a s escolas. A utilização de ambulatório para
o a p r e n d i z a d o é r e d u z i d a ; a p e n a s e m 5 e s c o l a s (24, 25, 28, 32, 33) os e s t u d a n t e s
participam destas atividades.

(e) Das 20 escolas consideradas, 10 possuem departamento de Neurologia


a u t ô n o m o , s e n d o q u e e m u m a (22) a n e u r o c i r u r g i a l h e é a g r e g a d a ; e m 6 (29, 30,
35, 36, 37, 3 8 ) , a N e u r o l o g i a faz p a r t e d o d e p a r t a m e n t o d e N e u r o - P s i q u i a t r i a ; em
2 (23, 24) e s t á i n t e g r a d a no d e p a r t a m e n t o de Clínica Médica; e m u m a (40) não
existe cátedra de Neurologia.

(f) O n ú m e r o de leitos em 8 escolas (22, 24, 25, 27, 29, 33, 35, 39) totaliza 645,
com a m é d i a de 81 leitos.

(g) O n ú m e r o de alunos em cada a n o v a r i a dentro dos limites extremos


d e 32 e 600; e m 15 e s c o l a s e n c o n t r a m o s u m t o t a l de 2 . 5 1 2 e s t u d a n t e s , c o m a m é d i a
de 166 p o r t u r m a .

(h) Quando estudamos a relação entre o n ú m e r o de estudantes e o n ú m e r o


de leitos verificamos valôres diversos; assim, n a Universidade de Louvain (Bélgica)
e x i s t e m 58 leitos p a r a 400 a l u n o s ( 1 : 6 , 6 ) , e n q u a n t o q u e n a U n i v e r s i d a d e d e Oslo
( N o r u e g a ) e x i s t e m 103 leitos p a r a 30 e s t u d a n t e s (3,5:1).

Na Á s i a e Austrália — Recebemos informações de 5 escolas da Asia (41. Uni-


versidade de Calcutta, fndia; 42. H a d a s s a h U n i v e r s i t y , I s r a e l ; 43. University of
Tokyo, Japão; 44. A n k a r a University, T u r q u i a ) e de u m a d a A u s t r á l i a (45. U n i -
v e r s i t y of M e l b o u r n e ) . As características do ensino da Neurologia nestas escolas
são de tal modo distintas q u e u m a apreciação c o m p a r a t i v a seria por demais arti-
ficial; faremos, pois, u m a a n á l i s e m a i s individual de c a d a escola.

(a) O currículo médio tem a d u r a ç ã o de 4 anos em uma (43), de 5 anos


em o u t r a (41) e d e 6 a n o s n a s outras três.
(b) O ensino da neuranatomia e da neurofisiologia é feito independente-
m e n t e da Neurologia e está a cargo dos d e p a r t a m e n t o s de a n a t o m i a e fisiologia,
respectivamente, nos primeiro e segundo anos do curso.
(c) E x i s t e d e p a r t a m e n t o d e N e u r o l o g i a a u t ô n o m o e m 3 e s c o l a s (41, 42, 4 4 ) ;
nas outras duas, a Neurologia é parte do d e p a r t a m e n t o de medicina interna.
(d) A existência de 5 faculdades de medicina na Universidade de Calcutá
( Í n d i a ) , faz c o m q u e os cursos s e j a m m ú l t i p l o s e s i m u l t â n e o s , desenvolvendo-se
d o 3º a o 5º a n o d o c u r r í c u l o . O d e p a r t a m e n t o de N e u r o l o g i a é a u t ô n o m o . Não
obtivemos maiores informações sôbre o curso.

(e) N a Universidade Hadassah (Israel) o departamento de Neuroolgia é autô-


n o m o e o c u r s o é m i n i s t r a d o n o s 4º e 6º a n o s ; n o 4º a n o é d a d o o c u r s o d e s e m i o -
l o g i a e n o 6º a n o s ã o m i n i s t r a d a s 4 0 a u l a s t e ó r i c a s c o m e s t á g i o s e m enfermarias
e em ambulatório durante um mês; simultâneamente, os e s t u d a n t e s participam
de reuniões anátomo-clínicas, neurorradiológicas e neurocirúrgicas, uma vez por
semana.

(f) N a Universidade de Tóquio (Japão) a Neurologia é ensinada como parte


da Clínica Médica, do m e s m o modo que a Psiquiatria, e não apresenta programa-
ção própria, as aulas sendo ministradas quando a seqüência clínica as exige.
Tais a u l a s correspondem a u m sétimo do t e m p o dedicado ao ensino pelo d e p a r t a -
m e n t o d e C l í n i c a M é d i c a , d u r a n t e o s 2 º , 3º e 4º a n o s : n o 2º a n o s ã o ministradas
a u l a s d e s e m i o l o g i a e, n o s 3º e 4º a n o s , a u l a s teóricas com apresentação de
casos clínicos, estágio e m e n f e r m a r i a s e atendimento em ambulatório.
(g) N a Universidade de A n k a r a (Turquia) o curso de Neurologia desenvol-
v e - s e n o s 3º e 4º a n o s ; a s a u l a s t e ó r i c a s , e m n ú m e r o d e 2 6 , s ã o m i n i s t r a d a s no
3º a n o ; o curso prático é feito e m r e g i m e de dedicação integral, d u r a n t e um
m ê s , n o 4º a n o . Os e s t u d a n t e s f r e q ü e n t a m a s e n f e r m a r i a s , c o m p a r e c e m u m a hora
por dia ao ambulatório e participam de duas discussões clínico-patológicas.
(h) N a Universidade de Melbourne (Austrália) a Neurologia e demais espe-
cialidades são ensinadas j u n t a m e n t e com a clínica mélica, cirurgia, pediatria e
ginecologia e obstetrícia, sem que haja p r o g r a m a s especiais. Não obtivemos maio-
res informações sôbre a organização dos cursos.
(i) O número de alunos varia de 80 (42, 43) a 160 (45).
(j) N ã o obtivemos informações sôbre o número de leitos e sôbre a constitui-
ção do corpo docente destas escolas.

No Brasil — A situação atual do ensino da Neurologia n ã o poderá ser ex-


pressa com fidelidade neste relatório, desde que obtivemos dados referentes a
a p e n a s 6 e s c o l a s (46. F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e M a c e i ó , A l a g o a s ; 47. F a c u l d a d e
de Medicina da Univ. da Bahia; 48. F a c u l d a d e de M e d i c i n a d a Univ. de S ã o P a u l o ;
49. E s c o l a P a u l i s t a d e M e d i c i n a ; 50. F a c u l d a d e de M e d i c i n a d a Pontifícia Univ.
Católica, Sorocaba, São Paulo; 51. Faculdade de Medicina de Ribeirão Prêto da
Univ. de São P a u l o ) :

(a) A duração do curso médico é de 6 anos em tôdas estas escolas.


(b) O ensino d a n e u r a n a t o m i a é feito i n d e p e n d e n t e m e n t e d a N e u r o l o g i a em
5 das escolas; e m u m a (50) existe a i n t e g r a ç ã o dos cursos, s e n d o q u e a s aulas
de n e u r a n a t o m i a estão a cargo de docentes do d e p a r t a m e n t o de Neurologia. O
ensina da neurofisiologia não t e m relação com o curso de Neurologia nas 6 escolas.
P o r o u t r o l a d o , e m 2 (50, 51) o c u r s o d e n e u r o p a t o l o g i a é i n t e g r a d o a o c u r s o d e
Neurologia.

(c) E m 4 e s c o l a s (47, 49, 50, 51) são realizados cursos de semiología do


s i s t e m a n e r v o s o p a r a o s a l u n o s d o 3º a n o , a s a u l a s s e n d o m i n i s t r a d a s p o r n e u r o -
logistas. Tais cursos t ê m duração variável e são constituidos principalmente por
aulas e demonstrações práticas, utilizando doentes hospitalizados e pacientes de
ambulatório.
(d) O curso de clínica neurológica desenvolve-se n o 5º ano em tôdas as
escolas e os p r o g r a m a s incluem a u l a s teóricas e práticas. As teóricas compreen-
dem problemas de fisiopatologia do sistema nervoso, o estudo das grandes sin-
dromes neurológicas e a exposição das principais entidades clínicas neurológicas.
A d u r a ç ã o d o c u r s o v a r i a , c o m l i m i t e s e x t r e m o s de 14 e 42 a u l a s e c o m m é d i a d e
30 aulas. O curso prático também tem duração bastante variável, com limites
d e 14 a 92 h o r a s e c o m m é d i a d e 5 0 h o r a s . P a r a as aulas práticas são utilizados
indiferentemente doentes internados e de ambulatório. E m u m a das escolas (51)
o s a l u n o s d o 6º a n o f a z e m estágio obrigatório no departamento de Neurologia
durante quatro semanas, atendendo no ambulatório e participando de reuniões
clínicas e clínico-patológicas. E m 3 e s c o l a s (47, 48, 51) o e n s i n o d a neurocirurgia
se faz e m completa integração com a Neurologia.
(e) D a s 6 F a c u l d a d e s , 4 (48, 49, 50, 51) m a n t ê m d e p a r t a m e n t o s d e N e u r o l o -
g i a a u t ô n o m o s ; e m u m a (46) o serviço d e N e u r o l o g i a faz p a r t e do departamento
d e Clínica Médica; e m o u t r a (47) a N e u r o l o g i a constitui u m d e p a r t a m e n t o junta-
mente com a Psiquiatria e a Medicina legal.
(f) O número d e l e i t o s p a r a e n f e r m o s n e u r o l ó g i c o s p e r f a z o t o t a l d e 170, c o m
limites e x t r e m o s de 8 e 70; tal n ú m e r o d e v e ser considerado insuficiente, desde
q u e os leitos de u m a escola (48) r e p r e s e n t a m 4 2 % do t o t a l .
(g) O número de alunos por turma em cada escola varia bastante, com li-
mites de 30 e 90 e m é d i a d e 60.
(h) A constituição do corpo docente é muito desigual nas diversas escolas;
d u a s (48, 49) p o s s u e m 63 e l e m e n t o s docentes, a o passo q u e a s d e m a i s 4 t o t a l i z a m
33 docentes.
O n ú m e r o de docentes t r a b a l h a n d o e m t e m p o integral é muito reduzido: em
u m a das escolas (48) e x i s t e m dois d o c e n t e s e m r e g i m e d e d e d i c a ç ã o exclusiva
a o e n s i n o e p e s q u i s a e, e m o u t r a ( 5 1 ) , e x i s t e m 7 d o c e n t e s e m r e g i m e d e tempo
integral geográfico. Nas demais escolas, todos os m e m b r o s do corpo docente
trabalham em regime de tempo parcial.

Comentários — A Neurologia, antes da segunda guerra mundial, manti-


nha-se demasiado prêsa a conceitos tradicionais de especialidade dedicada a
diagnósticos anátomo-clínicos muito precisos e prevalentemente ao estudo
de afecções r a r a s ; assim, u m g r a n d e n ú m e r o de doenças neurológicas depen-
dentes de processos tóxicos infecciosos, traumáticos e, mesmo, tumores foi
passando progressivamente para as mãos de outros especialistas. Nos últi-
m o s 25 anos, com o grande impulso da medicina geral, t a m b é m se observou
o desenvolvimento de uma nova Neurologia que encara todos os aspectos
neurológicos das moléstias internas; tal empreendimento foi r e a l i z a d o diante
da necessidade imperiosa de recuperação de milhares de indivíduos afetados,
direta ou indiretamente, pela segunda Guerra mundial. Para isso foram
organizadas campanhas educativas, levantados recursos públicos e particula-
res, conseguida a renovação do ensino da Neurologia nas escolas médicas e
criados novos institutos p a r a pesquisas neurológicas.
N o currículo de g r a d u a ç ã o nos E s t a d o s Unidos d a A m é r i c a do N o r t e , a
Neurologia foi colocada em situação de integração completa com o ensino
de tôda a medicina, adquirindo posição axial, pois que o aluno começa a
pensar nela através dos conhecimentos ne neuranatomia, neurofisiologia,
neurofarmacologia e neuropatologia q u e recebe nos primeiros anos; t o m a con-
t a t o direto c o m ela logo após, quando recebe ensinamentos de semiologia do
sistema nervoso e aprende a raciocinar com ela durante todo o curso clí-
nico, q u e r e m a u l a s teóricas, q u e r e m a u l a s p r á t i c a s j u n t o aos doentes, vindo
coroar seus conhecimentos no curso de clínica neurológica.

Na Europa, os currículos do curso médico são mais longos e a Neuro-


logia ainda não adquiriu a importância que lhe é devida. Não existe, se-
gundo os dados que conseguimos obter, integração com as ciências básicas.
Em alguns países, o ensino da Neurologia continua vinculado ao da Psiquia-
tria, em outros se dilui dentro da medicina interna. Não existe, aparente-
mente, estímulo para formação de neurologistas puros, e m b o r a a Neurologia
cultivada por alguns dos m a i s e m i n e n t e s h o m e n s de ciência seja de excelente
envergadura.

Na Ásia, c o m e x c e ç ã o de I s r a e l e Turquia, e na Austrália, o ensino da


Neurologia não é particularizado.
N o B r a s i l , foi c o m g r a n d e s a t i s f a ç ã o que pudemos verificar ser o ensino
de Neurologia nas escolas médicas do E s t a d o de São Paulo de organização
e nível comparáveis aos melhores. Esta situação, não nos furtamos de dizer,
se deve em grande parte ao impulso que foi dado à Neurologia brasileira
por Enjolras Vampré e seus discípulos.

Idéias conclusivas — Do exposto, sugerimos que desta mesa redonda


surjam algumas conclusões que poderão ser adotadas pela Academia Brasi-
leira de Neurologia e sugeridas a tôdas as cátedras de Neurologia do País,
no sentido de que o ensino do curso médico seja organizado segundo alguns
princípios fundamentais. A experiência assim obtida no decorrer dos pró-
ximos 4 ou 6 anos poderá constituir motivo para uma nova mesa redonda,
no sentido de se aperfeiçoar o ensino; conseqüentemente, poderemos formar
médicos com bons conhecimentos dos princípios da clínica neurológica, capa-
zes de m a i o r e m e l h o r a t e n d i m e n t o de n o s s a infeliz p o p u l a ç ã o r u r a l , acome-
tida por tão grande número de moléstias endêmicas. Do melhor ensino
fatalmente decorrerá, também, o interêsse de maior número de jovens pela
Neurologia e ciências afins.

Recomendações:

1. O ensino da clínica neurológica deverá ser iniciado precocemente no


currículo das escolas médicas, ficando póximo aos cursos das ciências básicas
(neuranatomia, neurofisiologia, neurofarmacologia e neuroquímica). Dêste
modo, o aluno, ao iniciar o estudo de semiologia geral, aprenderá a semio-
logia neurológica sob a orientação direta de neurologistas.

2. O ensino da clínica neurológica deverá ser feito n o 5.° a n o , quando


o aluno já recebeu os c o n h e c i m e n t o s fundamentais da patologia interna.

3. O ensino da clínica neurológica deverá abranger os q u a d r o s clínicos


e a semiologia das afecções neurocirúrgicas, sendo as aulas ministradas por
docentes que delas tenham experiência.

4. Sempre que possível, o ensino das ciências básicas (neuranatomia,


neurofisiologia, neurofarmacologia, neuroquímica) deverá ser feito em ín-
tima i n t e g r a ç ã o c o m o curso de Neurologia.

5. O ensino da neuropatologia deverá ser, pelo m e n o s em parte, minis-


t r a d o pelos neuropatologistas d e n t r o do curso de clínica neurológica.

6. Estágios obrigatórios em clínica neurológica deverão ser realizados


pelos alunos no ú l t i m o ano do curso médico.
ENSINO DA NEUROLOGIA EM PÓS-GRADUAÇÃO

Na revisão da literatura sôbre o ensino da Neurologia em pós-gradua-


ção encontramos, igualmente, trabalhos resultantes da experiência norte-ame-
ricana. Em seqüência cronológica, aparece primeiramente a "Conference on
Graduate Training in Clinical Neurology", organizada pelo Neurology Gra-
duate Training Grant Committee do National Institute of Neurological Di-
seases a n d Blindness, e m 1957. Nesta reunião foram salientados alguns pon-
tos de vista fundamentais, como seja a necessidade de trabalho em tempo
integral para o candidato, e m internato de 3 anos no mínimo. Nesse inter-
nato, em trabalho programado para cada ano, o candidato aperfeiçoa seus
conhecimentos das ciências básicas correlatas à Neurologia; participa ativa-
mente dos t r a b a l h o s clínicos e dos e x a m e s paraclínicos dos pacientes; assu-
me a responsabilidade de execução dos tratamentos prescritos, observando
os efeitos dos m e d i c a m e n t o s , as possíveis intolerâncias e a evolução habitual
de cada afecção neurológica. Foi salientada, também, a importância do tra-
balho em ambulatório; quando bem organizado e integrado com a parte hos-
p i t a l a r d e i n t e r n a ç ã o e c o m a de e x a m e s subsidiários, o n ú m e r o de pacientes
visto pelo médico atendente é muito maior, com grande variedade de sín-
dromes neurológicas; numerosos quadros clínicos só são vistos em ambula-
tórios e os pacientes p o d e m ser fàcilmente seguidos por longo t e m p o ; os es-
tagiários aprendem a estabelecer a relação médico-doente, como conhecer e
procurar resolver os p r o b l e m a s do doente frente à sua doença, sua vida e
sua família. No ambulatório não existe aquela separação artificial de res-
ponsabilidade e n t r e os m a i s novos e os d e m a i o r graduação no atendimento
dos pacientes, cabendo ao estagiário assumir parte desta responsabilidade.

A atenção foi também chamada, nessa reunião, para as vantagens de


departamentos de Neurologia autônomos, mas funcionando em íntima corre-
lação com os serviços de Neurocirurgia, realizando reuniões conjuntas com
os d e p a r t a m e n t o s de Medicina Interna, Pediatria, Oftalmologia, colaborando
i n t i m a m e n t e c o m os d e p a r t a m e n t o s de ciências básicas. O aluno e o interno
residente estarão muito mais interessados pela clínica neurológica e a com-
preenderão melhor se estiverem aptos a viver igualmente os conhecimentos
básicos de neuranatomia, neurofisiologia e neuropatologia. Da mesma for-
ma, a neurorradiologia e a eletrencefalografia devem estar sob a responsa-
bilidade de neurologistas especialmente treinados; sòmente o neurologista en-
c o n t r a - s e e m s i t u a ç ã o de viver os diferentes aspectos de c a d a caso clínico e,
assim, obter dêstes métodos semiológicos o m á x i m o proveito e m benefício dos
pacientes.

Complementando a revisão bibliográfica relativa à Neurologia norte-ame-


ricana, vale a pena referir o que diz Baker (1957) sôbre a situação em
1952, q u a i s as providências tomadas para a resolução do problema e quais
os resultados conseguidos 4 anos após. Nessa época, aproximadamente 15
milhões de pessoas achavam-se afetadas por distúrbios neurológicos, não
sendo computados os p o r t a d o r e s de moléstias neurológicas agudas e grande
n ú m e r o de indivíduos c o m complicações neurológicas secundárias a moléstias
internas; êste n ú m e r o representava o dôbro daquele de pessoas c o m afecções
cardíacas e câncer. Das 79 escolas médicas do país, sòmente 15 desenvol-
viam programa de t r e i n a m e n t o e m Neurologia, com um t o t a l de 90 médicos
e m estágio de pós-graduação. A falta de interêsse pela Neurologia decorria
da deficiência do ensino da especialidade nas diferentes escolas médicas:
de 7.500 g r a d u a d o s anualmente, menos de 50% recebiam ensino de Neuro-
logia ministrado por neurologistas. As conseqüências eram alarmantes:
(a) privava a população dos benefícios de tratamentos adequados, mesmo
quando êsses tratamentos eram possíveis; (b) privava a metade dos médi-
cos de adquirir os conhecimentos mínimos da Neurologia, impedindo-os de
desenvolver possível interêsse no seu estudo e afastando a oportunidade de
muitos dêles p a r a a especialização.

Contra esta situação foram tomadas providências, tanto por parte dos
responsáveis pela Neurologia como por iniciativa dos próprios doentes, atra-
vés de suas instituições de saúde, alarmados que estavam pela precária si-
tuação da assistência médica que lhes era oferecida. Assim, foram criados
grupos voluntários de assistência, tais como a "American League Against
Epilepsy", a "United Cerebral Palsy Association", o "Commitee for Public
Understanding of Epilepsy", a "National Multiple Sclerosis Society", a
: M u s c u l a r D y s t r o p h y Association", a " N a t i o n a l Society for Crippled Children
and Adults". Foi criado o " N a t i o n a l C o m m i t e e for R e s e a r c h in Neurological
Disorders" e o seu p r i m e i r o p a s s o foi solicitar aos poderes públicos as pro-
vidências p a r a a correção da situação, sendo programado um esquema para
o estabelecimento de "grants" para o treinamento de novos especialistas;
ulteriormente foi o r g a n i z a d o o "National Institute of Neurological Diseases
and Blindness". O r e s u l t a d o foi a u s p i c i o s o : o s f u n d o s concedidos pelo Con-
gresso Nacional, que foram de US$ 36.000 e m 1952, p a s s a r a m a ................
U S $ 4.150.000 e m 1956; os s e r v i ç o s r e c o n h e c i d o s p a r a p ó s - g r a d u a ç ã o , q u e eram
inicialmente em número de 9, receberam ajuda para melhorar e ampliar
seus programas de estudo e pesquisa, e ascenderam para 45; o número de
r e s i d e n t e s c r e s c e u d e 90 p a r a 200; a e x p a n s ã o d a área beneficiada por esses
programas foi g e o g r á f i c a e socialmente significativa.

A idéia f u n d a m e n t a l que norteou o "Neurology Graduate Training Grant


Committee" foi a de organizar serviços efetivos com pessoal bem treinado
e dedicado ao ensino, único meio capaz de prover médicos habilitados para
u m a assistência adequada aos enfermos neurológicos e t a m b é m pessoal capa-
citado para o ensino e a pesquisa, bases imprescindíveis para o desenvolvi-
mento da Neurologia e para o treinamento dê número cada vez maior de
médicos recém-formados.

Poser (1960) refere que 109 programas de treinamento estavam apro-


vados e 280 médicos estavam matriculados em cursos de pós-graduação em
1958.
A experiência norte-americana quanto ao ensino de pós-graduação em
Neurologia e ao sistema de "grants" oferecidos pelos poderes públicos fe-
d e r a i s , foi a v a l i a d a e m inquérito feito e n t r e 89 diretores de p r o g r a m a s , pela
American Academy of Neurology e pela American Neurological Association
e m 1962. O resultado dêsse inquérito pode ser assim sumarizado: (a) hou-
ve acôrdo em que os serviços de Neurologia devem ser autônomos para
que os i n t e r n o s e residentes possam assumir maiores responsabilidades nos
contatos com os pacientes; êsses serviços necessitam ter recursos próprios
ou conexões íntimas com outros serviços, para que o interno possa ter
t r e i n a m e n t o suficiente e m clínica e e m ciências básicas relacionadas (neura-
natomia, neurofisiologia, neurofarmacologia, neuropatologia e neuroquímica)
e em eletrencefalografia, neuroftalmologia, neurorradiologia e neurotologia;
(b) os candidatos a especialistas em Neurologia devem ter prévio treina-
mento em Medicina Interna ou Pediatria, conforme se destinem a cuidar
de adultos ou crianças; (c) e m relação às entidades federais que propiciam
fundos para o desenvolvimento de programas, as opiniões não foram con-
cordes, havendo discordâncias q u a n t o à rigidez dos p r o g r a m a s e à ênfase que
dão a pesquisas nem sempre de aplicação prática imediata. Alguns pro-
pugnaram pela adoção de programas de ensino e de t r e i n a m e n t o m e n o s uni-
formes, permitindo que a sua orientação seja, ao menos parcialmente, deci-
dida pelos próprios educadores, que poderão auscultar as tendências, as ini-
ciativas originais e a própria formação dos educandos; os que p e n s a m assim
acreditam que êsse modo de agir permitirá formar maior número de espe-
cialistas aptos a atender às necessidades de saúde da população, que é
o principal objetivo. Simultâneamente, outra meta de grande alcance deve
ser visada, qual seja a formação de médicos para a carreira universitária;
o recrutamento deverá ser feito entre aquêles que estão em treinamento,
encorajando-os a fazer pesquisas e estudos mais especializados.

N a Alemanha, segundo Scheid (1960), o ensino da Neurologia está ainda


muito influenciado por dois problemas antigos e tradicionais da medicina
germânica: a tendência para as aulas magistrais e a firme vinculação Neu-
rologia-Psiquiatria.
Na Inglaterra, os pontos de vista são divergentes. Walshe (1960) é
entusiasta da nova clínica neurológica, dinâmica, e propugna para que os
neurologistas assumam a liderança dos novos campos de estudo — a neuro-
química, por exemplo — que não podem e não devem ficar nas mãos dos
homens de laboratório, pois que só os n e u r o l o g i s t a s conhecem os problemas
da patologia do sistema nervoso. Miller (1961) se mostra algo pessimista
em relação à formação de neurologistas em seu país, dada a inexistência
de cátedras de Neurologia e em face do currículo demasiado extenso a ser
desenvolvido pelos jovens médicos que se candidatam a esta especialidade;
além disso, são poucos os serviços de clínica neurológica nos quais podem
estagiar. Com surpresa deparamos com a informação de que em todo o país
existiam, nessa época, apenas 70 neurologistas.

RESULTADOS DO INQUÉRITO REALIZADO

Nos Estados Unidos da América do Norte — O presente estudo é baseado nas


informações obtidas de 12 escolas m é d i c a s n o r t e - a m e r i c a n a s ( 1 , 2 , 3 , 4 , 5 , 7 , 8, 9 ,
10, 1 1 , 12, 1 3 ) :

(a) Cursos de pós-graduação são realizados em 9 escolas (1, 2, 3, 4, 5, 7,


8, 9, 13).
(b) E m 4 d e s t a s ( 1 , 4, 5, 1 3 ) é exigido um estágio prévio em Medicina In-
terna, com d u r a ç ã o m í n i m a de u m ano.
(c) Os cursos de pós-graduação têm a duração de 3 anos em cada uma
destas escolas.
(d) Em tôdas as 9 escolas o curso de pós-graduação fornece treinamento
especial em Neurologia.
(e) Nos programas dêstes cursos estão incluídas diversas especialidades e
subespecialidades: existem cursos ou estágios e m n e u r a n a t o m i a e neurofisiologia
e m 7 e s c o l a s ( 1 , 3 , 5, 7, 9, 1 3 ) ; d e n e u r o p a t o l o g i a e m t ô d a s ; d e n e u r o q u í m i c a em
4 ( 4 , 8, 9, 1 3 ) ; d e n e u r o f a r m a c o l o g i a e m 3 ( 3 , 5, 7 ) ; d e n e u r o f t a l m o l o g i a e m 4
( 1 , 2, 3 , 4 ) ; d e n e u r o p e d i a t r i a e m t ô d a s ; d e F i s i o t e r a p i a e R e a b i l i t a ç ã o e m 4
( 1 , 2, 7, 1 3 ) ; d e O r t o p e d i a e m 2 ( 1 , 8 ) ; d e G e n é t i c a e m 1 ( 9 ) ; d e P s i q u i a t r i a e m
6 ( 1 , 2 , 3 , 8, 9 , 1 3 ) ; d e n e u r o c i r u r g i a e m t ô d a s .
(f) E m todos os cursos de p ó s - g r a d u a ç ã o estão previstos estágios nos ser-
viço de neurorradiologia, eletrencefalografia e líquido cefalorraqueano.

Na Europa — Obtivemos informações de 18 escolas européias (21 a 38):


(a) Cursos de pós-graduação são feitos em 17 escolas.
( b ) D e n t r e e s t a s , 10 (24, 25, 26, 27, 3 1 , 32, 33, 34, 35, 37) e x i g e m um estágio
prévio e m M e d i c i n a I n t e r n a , por u m período m í n i m o de seis meses.
(c) Os cursos de p ó s - g r a d u a ç ã o t ê m d u r a ç ã o v a r i á v e l ; e m 2 escolas (23, 37)
é d e 2 a n o s ; e m 12 ( 2 1 , 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30, 3 1 , 32, 33, 3 5 ) é d e 3 a n o s ; em
2 (34, 36) é de 4 a n o s .

(d) As exigências para a concessão do certificado de pós-graduação são


d i v e r s a s ; a s s i m , 2 e s c o l a s (29, 30) p r e v ê m a d e f e s a d e t e s e a o fim d o curso;
2 (21, 37) r e a l i z a m u m e x a m e final sôbre as m a t é r i a s ensinadas no curso; 3
(26, 27, 31) r e q u e r e m u m a n o a d i c i o n a l d e P s i q u i a t r i a a fim d e p e r m i t i r a o b t e n ç ã o
do titulo de pós-graduado em Neuro-Psiquiatria; e m u m a (33) o c u r s o de pós-
g r a d u a ç ã o completo é de 6 anos, sendo o primeiro nível correspondente aos cursos
d a s d e m a i s e s c o l a s , c o m d u r a ç ã o d e 3 a n o s e, o s e g u n d o , d e e s t u d o s e s p e c i a l i z a d o s
durante mais 3 anos.

(e) E m 11 escolas o curso de pós-graduação se refere a p e n a s à Neurologia


e em 6 ( 2 1 , 29, 30, 32, 35, 36) o título é p a r a Neuro-Psiquiatria.
(f) No desenvolvimento dos cursos, o médico deve, obrigatòriamente, passar
por diversos serviços. E m 2 escolas (23, 25) são exigidos e s t á g i o s e m neurana-
t o m i a e neurofisiologia; e m u m a (23) e m Bioquímica; e m u m a (25) e m Farma-
cologia; e m 2 (21, 23) e m neuropatologia; e m u m a (23) e m Psicologia, Otología
e O f t a l m o l o g i a ; e m 8 (21, 23, 26, 27, 3 1 , 32, 33, 34) e m P s i q u i a t r i a ; e m 9 (23,
24, 26, 27, 28, 29, 32, 33, 35) e m Neurocirurgia.

Na Ásia e Austrália — Os dados foram obtidos de 5 escolas médicas:


(a) Em 3 (41, 42, 44) os cursos de pós-graduação são regulares.
(b) E m u m a (44) é exigido o estágio prévio e m Medicina I n t e r n a , e m outra
(42) isso n ã o é exigido e n a t e r c e i r a (41) o t r e i n a m e n t o é r e a l i z a d o d e n t r o do
curso de pós-graduação em Medicina Interna.
(c) Nas 3 escolas a duração total dêsse curso é de 4 anos.
(d) D u a s e s c o l a s (42, 44) f o r n e c e m o título de pós-graduado em Neurologia
e uma (41) e m Medicina Interna.
(e) As exigências quanto a estágios em outros serviços dizem respeito ape-
nas à n e u r a n a t o m i a e neurofisiologia (42) e à P s i q u i a t r i a (42, 44).

No Brasil — Das 6 escolas brasileiras incluidas neste relatório, apenas três


(48, 49, 51) m a n t é m c u r s o s r e g u l a r e s d e p ó s - g r a d u a ç ã o . E m tôdas é necessário u m
estágio prévio e m Clínica Médica. Os cursos t ê m a d u r a ç ã o de 2 anos, m a s os
programas para treinamento variam de uma para outra. Contudo incluem o
ensino de ciências básicas ( n e u r a n a t o m i a e neurofisiologia), neuropatologia, neuro-
pediatria e neurocirurgia, além de estágios nos diferentes serviços neurológicos,
como laboratório de líquido cefalorraqueano, neurorradiologia e eletrencefalografia.
Comentários — Do que n o s foi p o s s í v e l analisar, verificamos que tanto
nos Estados Unidos da América do N o r t e como na Europa, os estágios de
treinamento intensivo ou os cursos de pós-graduação são imprescindíveis
para a formação de especialistas em Neurologia.

N o s E s t a d o s Unidos, depois de u m a experiência b e m dirigida nestes últi-


m o s 25 anos, j á e x i s t e c o n s e n s o u n i f o r m e a respeito do currículo necessário
a ser desenvolvido em 3 anos de t r a b a l h o integral, t a l c o m o foi sumarizado
na reunião conjunta da American Academy ou Neurology e da American
Neurological Association, em 1962.

N a E u r o p a , a i n d a s ã o b a s t a n t e h e t e r o g ê n e o s os r o t e i r o s s e g u i d o s e mesmo
os fins colimados, isto é, utilizam-se de cursos de pós-graduação diversos;
enquanto em alguns países se f o r m a m neurologistas puros, em outros a fi-
nalidade é a diplomação de especialistas e m Neuro-Psiquiatria.

N o Brasil, as tentativas de sistematização da residência ainda estão em


fase embrionária, embora os primeiros passos já tenham sido dados. A
Associação P a u l i s t a de Medicina aprovou os requisitos m í n i m o s p a r a u m ser-
viço especializado e exige que o candidato ao título de especialista faça
prova de ter estagiado, no m í n i m o durante dois anos, e m um destes servi-
ços. A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, em convênio com a Associa-
ção Médica Brasileira, já estabeleceu as condições indispensáveis para os
estágios de pós-graduação. Por isso, pensamos que desta mesa redonda
possam resultar algumas normas gerais que venham a ser sugeridas pela
Academia Brasileira de Neurologia e adotadas pelos vários departamentos
e institutos de Neurologia, com a finalidade de oferecer melhores oportu-
nidades para a formação de neurologistas.

Recomendações:

1. A Academia Brasileira de Neurologia (ABN) organizará, dentro das


normas de seus estatutos, uma comissão que se incumbirá de dar parecer
sôbre os serviços para o ensino de pós-graduação em Neurologia, que se
organizará dentro de requisitos mínimos por ela estabelecidos.

2. A ABN solicitará ao Ministério de Educação e Cultura a concessão


de bôlsas de estudo para os candidatos por ela selecionados para estagiar
por dois anos e m u m dos serviços que v i e r e m a ser qualificados.

3. A comissão indicada elaborará um r e g u l a m e n t o do qual c o n s t a r ã o os


requisitos mínimos que o serviço a ser qualificado deve apresentar, assim
como as normas que nortearão o exame do currículo e das credenciais pes-
soais dos candidatos a essas bôlsas.

4. Esta comissão poderá, imediatamente, dentro dessas normas, dar


início a o r e c o n h e c i m e n t o provisório dos serviços e à a p r o v a ç ã o de candidatos
a bôlsas. A experiência dos próximos dois anos c o m a execução dêste pro-
g r a m a , d i t a r á as n o r m a s finais p a r a a e l a b o r a ç ã o de u m r e g u l a m e n t o e para
o critério de constituição dessa comissão nos anos subseqüentes; tais normas
serão submetidas à próxima Assembléia ordinária da ABN.
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