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HISTORIA DA NEUROCIÊNCIA NO

BRASIL
ESTE TÓPICO APRESENTA A RELATIVAMENTE BREVE HISTÓRIA DAS NEUROCIÊNCIAS NO
BRASIL, INDICANDO AS REGIÕES E AS INSTITUIÇÕES MAIS ATUANTES NESSA ÁREA.

TAMBÉM SÃO APRESENTADAS MEDIDAS NECESSÁRIAS PARA GARANTIR O FUTURO DE


TAL DISCIPLINA NO PAÍS.

AUTOR(A): PROF. RODOLFO SANTOS FLABOREA

Como visto no tópico anterior, as Neurociências possuem uma extensa história, remetendo a
milênios. No Brasil, todavia, a prática de pesquisa neurocientífica teve um início

relativamente recente. Apesar de jovem, como será visto a seguir, as Neurociências no Brasil

foi, e ainda é, capaz de gerar trabalhos de grande relevância, sendo uma das áreas científicas
mais produtivas no país.

Os estudos neurocientíficos no Brasil começaram em meados do século XX, abrangendo

instituições de ensino superior da região sudeste. Nas décadas de 1940 e 1950,


pesquisadores das universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e Minais Gerais (UFMG) e

da universidade de São Paulo (USP) deram o pontapé inicial, realizando estudos em


psicofarmacologia e psicologia fisiológica. Tais trabalhos foram seminais para que houvesse
a fundação ulterior de outros grupos de pesquisa e laboratórios que se distribuem por todo o
território nacional e que, até hoje, são centrais no cenário acadêmico atual do país.

Seguindo na esteira da fundação de diversos departamentos, as linhas de pesquisa também


se diversificaram, abrangendo desde pesquisas de base com sistema visual e memória, até
estudos aplicados na área clínica, voltando-se para diversos quadros psiquiátricos e

neurológicos bem como para análise psicofarmacológica de diferentes substâncias.


Legenda: INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE SãO PAULO (IPUSP). ESTA
INSTITUIçãO ABRIGA DIVERSOS LABORATóRIOS VOLTADOS PARA VáRIAS áREAS DAS
NEUROCIêNCIAS, ABRANGENDO DESDE PSICOFISIOLOGIA, PASSANDO POR PSICOLOGIA
EVOLUCIONISTA ATé NEUROPSICOLOGIA.

Hoje, os neurocientistas brasileiros, independentemente do laboratório ou instituição no


qual trabalham, realizam periodicamente congressos, simpósios e outros eventos sob a
alçada de sociedades científicas voltadas para as Neurociências. Se destacam a Sociedade
Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC), a Federação de Sociedades de
Biologia Experimental (FeSBE) e a Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp). A área
ainda conta com pesquisadores de grande renome nacional e internacional, como Miguel
Nicolelis, Suzana Herculano-Houzel, Roberto Lent e Sidarta Ribeiro. As pesquisas de

Nicolelis estão voltadas para o estudo e desenvolvimento das interações entre sistema
nervoso e computadores, de forma proporcionar que o indivíduo mova membros mecânicos
ou virtuais apenas pensando nestes movimentos. Herculano-Houzel se dedica ao campo da
neuroanatomia comparada, analisando a estrutura do sistema nervoso de diversos animais,
inclusive o do ser humano. A carreira científica de Roberto Lent, por sua vez, envolve o
estudo do desenvolvimento do sistema nervoso durante a gestação, área chamada de

neuroembriologia. Por fim, Sidarta Ribeiro pesquisa uma série de tópicos, como os
mecanismos do sono e da memória, neuroplasticidade, genética e linguagem. Vale lembrar
que Herculano-Houze e Lent também são divulgadores científicos bem ativos em meios de
comunicação não-acadêmicos.

"TEMPO DE CéREBRO", POR SIDARTA RIBEIRO


Sidarta Ribeiro, em seu artigo "Tempo de cérebro", discute as principais áreas da
psicologia para as quais, segundo sua visão, as Neurociências podem contribuir
efetivamente. O artigo pode ser acessado através do
link https://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000100002
(https://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000100002).

Legenda: MIGUEL NICOLELIS


Legenda: SUZANA HERCULANO-HOUZEL

Uma das grandes demandas no período atual é garantir que as Neurociências no Brasil se
mantenham e floresçam ainda mais. Ventura (2010), delineou algumas estratégias

importantes para que tal objetivo seja alcançado.


Em primeiro lugar, deve-se garantir a preservação e expansão de linhas de pesquisa que já

existem. Para tanto, faz-se necessário aporte financeiro e melhor infraestrutura, além de

garantir recursos humanos o suficiente para tais pesquisas. Esta última medida é essencial,
dada a tendência de imigração de pesquisadores brasileiros para outros países, em busca de

melhor valorização do trabalho de pesquisa. Deve-se, portanto, encontrar algum meio para
evitar a saída de acadêmicos e estimular a volta daqueles que imigraram.

Outra medida importante é estimular a realização de pesquisas translacionais. Esta


modalidade de pesquisa compreende um conjunto de estudos que abrangem, em um mesmo

programa, desde trabalhos básicos até aplicados. Nesse sentido, pesquisas translacionais

são essenciais para a área clínica, principalmente no que se refere à criação e testagem de
intervenções medicamentosas novas.

GRUPOS DE PESQUISA NO BRASIL E SUAS


RESPECTIVAS áREAS INTERESSE
Leia abaixo o artigo de Ventura (2010) e conheça as áreas em que os diversos

grupos de estudos estão desenvolvendo pesquisa e sua importância.

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500011
(http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500011)

PESQUISA BáSICA E PESQUISA APLICADA


Pesquisa básica consiste em qualquer estudo cujo objetivo essencial é criar novo

conhecimento científico, ainda que ele não possua aplicação óbvia no momento. Um
exemplo é um autor que estuda o comportamento de apego entre filhotes e mães em

alguma espécie de macacos. Por outro lado, pesquisas aplicadas são voltadas para o
desenvolvimento de tecnologias, intervenções ou medicações com alguma finalidade

prática clara. Um estudo voltado à análise do apego em casos clínicos de autismo e

como ele pode ajudar no diagnóstico dessa condição, é um exemplo de pesquisa


aplicada. Uma pesquisa translacional abrange ambos os tipos, adicionando

conhecimento teórico cujas finalidades são imediatamente analisadas e testadas.

..UMA VISÃO MAIS APROFUNDADA DO QUE É


PESQUISA TRANSLACIONAL
Guimarães (2013) apresenta detalhadamente o percurso percorrido pelas pesquisas
translacionais, desde a definição do conceito, passando pelas suas origens

acadêmicas e sócio-econômicas, até mostrar como tal modalidade de estudo está

sendo aplicada no Brasil. O artigo pode ser acessado pelo link abaixo:
https://www.scielo.br/pdf/csc/v18n6/24.pdf

(https://www.scielo.br/pdf/csc/v18n6/24.pdf )

Na linha de novas tecnologias, Ventura (2010) também destaca a incorporação de avanços

em neuroimagem, em especial as técnicas funcionais, que permitem observar não apenas a


anatomia, mas também o funcionamento encefálico no indivíduo vivo. Tais estudos

objetivam a análise da base neural de funções psicológicas (como, por exemplo, atenção,
memória, emoção, linguagem, percepção, personalidade e tomada de decisão) tanto em
participantes saudáveis como em pacientes com algum quadro patológico instalado.

Entender como que diferem o funcionamento dos circuitos cerebrais de pessoas com
saudáveis e aquelas com um determinado transtorno pode ajudar a esclarecer como que tais

transtornos surgem, como evoluem ao longo da vida e quais técnicas medicamentosas e

psicoterapêuticas podem ser mais efetivas em seu tratamento. Ventura (2010) recomenda a
criação de novos centros de referência que treinem pesquisadores nessas técnicas e que

efetivamente realizem estudos implementando tal técnica.

Legenda: RESSONâNCIA MAGNéTICA FUNCIONAL, UMA DAS PRINCIPAIS TéCNICAS DE


VISUALIZAçãO DO ENCéFALO VIVO EM APLICAçãO HOJE.

Por fim, recomendou-se a adoção das novas técnicas de genética no estudo do sistema
nervoso. Tal linha de ação possui fortes implicações para a investigação de síndromes

genéticas que tenham consequência para o desenvolvimento do encéfalo, como é o caso da


Trissomia do Cromossomo 21 e a Síndrome do X Frágil. No entanto, a genética impacta não
apenas na investigação da base genética de outros transtornos psiquiátricos, mas também
na aplicação de testes farmacogenéticos. Tais testes permitem descobrir quais

medicamentos teriam melhor razão custo-benefício para cada paciente sem


necessariamente passar pelo processo de tentativa-e-erro tão frequente na clínica
psiquiátrica.
A manutenção das pesquisas neurocientíficas é de suma importância não apenas para a
biologia e para a medicina. A psicologia, como foi discutido nos tópicos anteriores, e como

apontada acima, tem muito a se beneficiar, inclusive em sua prática. As Neurociências


brilham ao mostrar a base biológica dos diversos transtornos psiquiátricos e neurológicos
que passam pelas intervenções do psicólogo. A neuroembriologia, aliada à genética, por
exemplo, é valiosa para a compreensão de como surgem os mais diversos transtornos

psiquiátricos, principalmente os transtornos do desenvolvimento, como autismo, déficit de


atenção e deficiência intelectual. A neuropsicologia, ao analisar pacientes vítimas de lesões
cerebrais, como Acidente Vascular Cerebral e Traumatismo Crânio-encefálico, traz luz sobre

como funcionam os déficits cognitivos e comportamentais nos pacientes. Quanto mais


informações se têm sobre os diversos quadros clínicos, torna-se possível desenvolver
intervenções medicamentosas e psicoterapêuticas mais eficientes e eficazes.

ATIVIDADE FINAL

As Neurociências possuem uma história relativamente recente no

Brasil. Qual região do país que mais concentrou, nas décadas de 40 e 50,

a maior parte das instituições de pesquisa com estudos

neurocientíficos?

A. Centro-oeste
B. Sudeste

C. Sul
D. Nordeste

"O trabalho mais recente de _________________, com a colaboração de

pesquisadores de diversos países, mostrou resultados que podem

revolucionar a reabilitação de pessoas com lesões medulares. O

treinamento com interfaces cérebro-máquina e realidade virtual fez

com que pacientes recuperassem parcialmente os movimentos e as


sensações nos membros inferiores, o que gera um ganho enorme na
qualidade de vida desses indivíduos". Trecho extraído de notícia do site

do Instituto Santos Dumont. Qual o nome que corretamente substitui a

lacuna no trecho acima?

A. Suzana Herculano-Houzel
B. Roberto Lent
C. Miguel Nicolelis

D. Sidarta Ribeiro

"(...) o emprego de modelos animais e outros métodos da neurociência

básica permite detalhar processos moleculares subjacentes [aos]

transtornos neuropsiquiátricos e à resposta clínica dos pacientes aos

tratamentos atuais. Assim, a integração das pesquisas clínicas com

estudos experimentais poderá facilitar a identificação de novos alvos

terapêuticos e novos agentes farmacológicos para o tratamento de

transtornos neuropsiquiátricos". BUSATTO FILHO, Geraldo; BRITTO,

Luiz Roberto Giorgetti de; LEITE, João Pereira. O avanço da

neurociência aplicada aos transtornos psiquiátricos e neurológicos:

mais do que nunca, uma tarefa interdisciplinar. Brazilian Journal of

Psychiatry, v. 34, p. s121-s122, 2012. A passagem acima descreve um

importante tipo de pesquisa que deve se tornar cada vez mais presente

no futuro das Neurociências no Brasil. Qual seria essa pesquisa?

A. Pesquisas genéticas
B. Pesquisas de neuroimagem
C. Pesquisas de neuroanatomia comparada

D. Pesquisas translacionais

REFERÊNCIA
GUIMARÃES, Reinaldo. Pesquisa Translacional: uma interpretação. Ciência & Saúde

Coletiva, v. 18, p. 1731-1744, 2013. Disponível

em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v18n6/24.pdf
(https://www.scielo.br/pdf/csc/v18n6/24.pdf )
RIBEIRO, Sidarta. Tempo de cérebro. Estud. av., São Paulo , v. 27, n. 77, p. 07-22, 2013 .

Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000100002.


VENTURA, Dora Fix. Um retrato da área de Neurociência e comportamento no Brasil. Psic.:

Teor. e Pesq., Brasília , v. 26, n. spe, p. 123-129, 2010 . Disponível em:

https://doi.org/10.1590/S0102-37722010000500011 (https://doi.org/10.1590/S0102-
37722010000500011).

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