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POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS - Antologia
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS - Antologia
Invenção de Orfeu
XVIII
E vós rei
animal
rei sem trono,
cetro e o mais;
e do menos:
coisas várias.
Rei? Não sei.
Rei escravo,
viscerado,
sem memória.
Rei de manto
de mentiras.
Rei? Não sei.
Rei viciado.
Jorge de lima
XXVI
Jorge de lima
(Canto IV – As aparições)
XI
Jorge de lima
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Invenção de Orfeu
(Canto IV – As aparições)
XI
Jorge de lima
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Invenção de Orfeu
Os rios parados
na face do templo,
porém mais velozes,
são rios.
Os seus afogados
jamais conseguiram
descer apressados
para o mar.
Abria bocas,
engatilhava-se.
Sem regras,
espreitava-se em chuvas,
em salvas,
salivas
e coisas assim tão finas
que o diriam morto.
Lances:
dados:
serpente, os dedos dançam:
Uma noite
me habita
a cada abismo
que piso.
Micheliny Verunschk
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Terço
Micheliny Verunschk
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
O dragão
Micheliny Verunschk
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Borboleta
Faminta mancha
na parede branca
a negra borboleta
abre as asas.
Devora toda
a parede branca
a lepra
da faminta
que se alastra.
Somente mancha,
somente mancha,
mancha que se alarga .
Somente mancha,
faminta mancha,
estrela negra
abrindo grandes asas.
Micheliny Verunschk
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
História
Desenterrar os mortos
e chupar seus ossos,
sugar seu mosto
de terra e sangue seco,
seu gosto secreto
de anos infindáveis,
arcos,
costelas,
arquitetura.
Micheliny Verunschk
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Centauro
Sereia
Sereia
centauro
com sal
de nada te serviriam
joelhos ou pés
o que és é também
o que não és
nada
é o que fazes bem
Religião
Os rememorantes
O princípio da poesia
nas dobras de uma palavra
(viés de dulcíssima
rosa) onde pousa
o pólen do nada.
Fuso de prata que a mão,
submergindo,
ilude-se agarrar.
Rosto relance
perdido (definitivo) da cidade,
na avalanche.
Ácido – má viagem.
Vertigem ciclotímica de anular-se.
Olho cego, surdo, mudo
de Dédalo,
enreda pétala por pétala o seu botão de fracasso.
Não a garganta
– o grito, cortado
canta.
Mais do que a boca,
a voz, rouca, amordaça.
O corpo,
presença que se perdeu
como uma roupa rasga.
Nudez fechando
pétala por pétala forrada
do espinho
que não conhece como seu.
A Rosa da Memória
A rosa da memória
abre-se tênue
desigual.
É ambígua, alheia
a quem a quer
por completo.
Escapa, morre
arde em suas feridas
e súbito, retorna:
“Eu lembro”
e as pétalas
os móveis antigos, os laços
se dissolvem
na infinita margem da infância
que fugiu há pouco.
Nos vãos
nos acenos que se apagaram
nos vasos formidáveis
vindos da China
nas raízes úmidas
que os mortos deixaram
tudo se dissolve.
A rosa da memória
vegetal e inconclusa
murmura um segredo
que mal ouvimos
(e nunca esquecemos)
E repetimos, incansáveis
Em nossa fome de tê-la.
Samarone Lima
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Antes mordias
Minemósina I
Mulher e pássaro
Voltamos ao jardim
ao banco lavado pela chuva.
Pedimos o verde ao verde
a flor à flor
sem quebrar-lhe a haste. Bastaria a manhã.
(Nossa presença
desalinha ar e folhas
num frêmito.)
Orfeu
I
Canto canções
para os que morreram.
Doces animais acorrem
para ouvir o canto
e me acolhem
nos quietos corações:
pomba, pavão,
pássaros de beira d’água,
cervos, esquilos
e a Árvore.
Vem a pantera, agora mansa.
Sob as folhas vivas
sustenho na mão a lira.
É isso a solidão.
II
Colheu a flor – o Poema –
arrancou-o à resina da vida
e entre as páginas prendeu-o
debatendo-se, vivo.
A fonte alimentou-o nas águas.
E a mão o feriu
para dispersá-lo
e, nele, o coração.
III
Sob a Árvore chamas,
sem que os lábios falem.
Eis o cervo, a pantera,
a áspide, o pássaro,
o boi ruminando sombra:
ramos dispersos,
bebem o orvalho da música,
reunidos nas cordas
de teu claro
coração.
Neste lugar,
pois aqui a cobra que
morde o rabo
é minha amiga.
Dar-se no abraço
que ainda não se conhece
plantá-lo atento.
Sê-lo.
Aí está o lugar
que amanhece a noite
na ansiedade das coisas
e acalma o pesadelo.
Felipe Aguiar
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Outra biografia
Roberval Pereyr
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Jugo
Roberval Pereyr
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Roberval Pereyr
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Escuta
Ai os mortos, os mortos
Com suas causas falidas
Perpetuando remorsos,
Amontoando
Destroços
Em nossas vísceras.
Roberval Pereyr
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Oráculo
O touro cego
Predomínio do fogo
Carlos Manes
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Terra
Inexoráveis,
Instauram atônita, simiesca ordem.
O medo impera.
Ninguém pensa em reação.
Carlos Manes
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
A noiva da água
Mulher azul
De bruços sobre o pólo.
Os cabelos
Inundam continentes e mares.
Sobem pelas árvores,
Dão voltas em edifícios.
Para compreendê-la,
Toda ciência é vã.
Os homens se contorcem
de espanto.
Multidões descansam
Sob o inexplicável
Feminino.
Carlos Manes
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
A árvore seca
Alexei Bueno
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Disfarce
Alexei Bueno
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Momento
A vida rumoreja
recua como um mar
Eunice Arruda
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Tarefa
cabe agora
morrer o corpo
dia a
dia ir
me desacostumando
do rosto
que eu chamava
meu
Eunice Arruda
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
O Tempo
Os olhos se resguardam
sob as pálpebras
mas o tempo passa
Em vão
se preenchem as horas
O tempo carrega em seu rio nossas sementes
para um mar.
Eunice Arruda
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Metafísica
Metafísica
das alturas
um ser escuro
frio indevassável
e já não
consideram
privilégio
viver
Marco Lucchesi
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Filhos do fogo
Mariana Ianelli
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Mariana Ianelli
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Treva alvorada
Náufrago do tempo,
Tuas horas transbordam.
Dentro da lágrima,
Imensidão, já não choras.
Estrelas e estrelas,
Copulam a sede e o engenho
De que te alimentas
Como nunca te alimentou
O gosto da carne.
Um sorvedouro
Onde a paz dos contrários,
Treva alvorada.
Fecundado, flutuas.
É a lei da graça.
Mariana Ianelli
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Mulheres de milho
Leonardo Fróes
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Justificação de Deus
Leonardo Fróes
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
49-a
Corpo: rio
de tantas margens
de onde
secretamente
se entra e se sai.
Fernando Paixão
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Adão e Eva
cordeiro de Deus
que tirais o pecado do mundo
cordeiro de Deus
que tirais o pecado do mundo
cordeiro de Deus
que tirais o pecado do mundo
deixai-nos a sós
no Paraíso
— não órfãos —
espírito e tentáculos
de vossa imaginação
cordeiro de Deus
que tirais o pecado do mundo
partilhai conosco
apenas o gozo
e a paz dos insaciáveis
Ruy Proença
Vênus nasceu!
Vênus nasceu!
Sobre a casta concha de areia
Sobre a concha imaterial.
Anjos morenos a nasceram
De seu sono batismal.
Vênus nasceu
Já mulher feita
Prêt-à-porter.
As curvas mais belas
Que as montanhas
Do sul de Minas.
Vênus sem biquíni
Dos ossos bem polidos
Da pele lampinha
Protegida por filtro solar nº30
Do umbigo torneado
Dos seios-polpa-de-coco.
Se veio ao mundo
Borrada de batom
Foi para avisar
Que algo em nós
Estava fora
De controle.
Ruy Proença
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
– só.
Fernando Paixão
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Dispersona
Uns
Nunca tiveram semblante
Dissiparam-se nas roupas
– igual a zero.
Outros
Devastaram colunas à cidade
(santa ironia)
Enfrentadas por espadas de saliva.
Corpo e nome
Aluguel
De meu alguém.
Perdi-me
Diverso de mim.
Tantos
(celebrados)
Tão pouco.
Que nem perceber sei
Este agora
eu
Fernando Paixão
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Consolação
Ecologia íntima
Boqueirão
Íntimo reverso,
Prestes a surdir
Carminado: lábios
Hálito molda-se
Entre,
Molha iletrado
Ensurdece
Poro a poro
A epiderme
Toda
É só ouvidos:
Nada a decifrar
Algo –
Foi sangria, foi granizo contra o vidro,
Foi grito, foi –
o que fez esquecer o tinteiro aberto, fez
ausente no mata-borrão
o verso
da escrita, seu duplo
que raro: eu
rastreara
alheio aposento
em meu próprio.
Kouros
De quem adia
com os olhos
(visionário)
o que acaba de
se gravar à pele:
deitado ao chão,
o mármore
semilapidado,
dissimula-se às tantas
curvas do relevo,
esquecido do cinzel.
Divaga
(lisa malícia essa,
a que seus lábios
acabam de esboçar)
ainda ao alcance
das mãos, ainda
pouco depois de
a pedra romper,
quem o esculpia
se ausentou
a meio caminho:
e ele,
ele, tosco,
no descampado.
Do mármore, o grafismo
marca traços ausentes,
sua face, sempre outra,
à contraluz. sob um sol
eclipsado,
obscurece: repentino,
ele,
ofuscado pela sombra
interina
(que tanto se pensa
infinda quanto passa),
deslembrado
de cada réstia
de luz já vista.
Aquele instante era sem prazo:
lapso do restante,
não consentia
nenhum depois –
enquanto
o Kouros de Naxos
dorme em Melanes,
sob tamariscos.
Dirceu Villa
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
a fala de shamash
& a febre de enkidu
Dirceu Villa
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Imagem
Augusto Massi
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Nudez
Despido de tudo
pronto a aceitar
a própria nudez
no quarto escuro
O espelho em branco
— mar amniótico —
projeta nos flancos
uma luz uterina
Augusto Massi
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Poesia e vinho
Adalberto Müller
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
ÍCARO
talvez
todo esse ruflar
de asas por dentro não
seja mais que um rumor de plumas
não mais que o bater de um músculo
na jaula do peito não seja talvez
mais que um rumor de penas
não seja isso apenas mais
que cera ao sol
talvez
Adalberto Müller
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
O TEMPO DO POEMA
o poema se gesta
canção de
gestos inefáveis
ninguém o leu
tão a fundo
quanto o
tempo
Adalberto Müller
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Bashô
Pedro Cesarino
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Pedro Cesarino
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Fotografia
Pedro Cesarino
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
1.
Tão brutal a matéria
Ao excurso do olhar
Que a impossibilidade
De qualquer imagem
Pois o adensamento
(cores e formas se desfazem)
Que sobre o suporte
Obstrui por acúmulo
2.
A expansão da contextura
Na superfície que
(sequer hipótese de simulacro)
Concreta se amalgama
Ainda se acrescenta
Na espessura com que
A crueza da matéria
Reocupa o espaço
3.
Nem é sempre que pela medida
Um espaço se define
Antes o peso da intensidade
Com que severa a cor
4.
Se os planos se distinguem
Pela superposição de recortes
Que irregulares compartilham
Fragmentos uns dos outros
5.
A matéria como projeto
De dimensão do olhar
Quando no espaço
Não só uma ordenação
Corpo
O corpo,
Esta ilusáo,
A transparência
Onde o tempo se inscreve,
A esculpida
Relembrança
— o não vivido.
O corpo,
Este completo desfrutar-se,
Onda, peixe, sereia,
De barbatanas selvagens
Como facas.
Corpo — o corpo,
Território do nunca,
Inigualável
País do meu espanto.
De todos os espantos.
(des)encontros, naufrágios,
Precipícios.
Pássaro-fêmea, carne
Colada em moldura,
Pele, poro.
Myriam Fraga
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Myriam Fraga
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Esfinge
Revesti-me de mistério
Por ser frágil,
Pois bem sei que decifrar-me
É destruir-me.
Não me exalto.
Sei que virá o dia das respostas
E profetizo-me clara e desarmada.
Myriam Fraga
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Paraíso
Gritem, escandalizem,
Enganem-se uns ao outros.
Cantem por medo e sorriam,
Lambuzem os dedos de horror.
Não chorem.
Em torno da mesa,
Os filhos sem pai
Compartilham o fuzil
Na milícia geral da orfandade.
O avesso e o direito embriagam-se.
Massacres!
Gira a roda dos convivas,
Gira a cabeça do filósofo.
Bocas cheias de desejo,
Tortura entre os aliados.
Os amantes enlouqueçam,
Os embriagados se afoguem.
Esganicem como bichos,
Pois já não há mais que um balido
No lugar de toda a linguagem.
Nada: o ermo da palavra.
Mariana Ianelli
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Terceira vigília
Mulher nua dormindo. O mistério em pétalas.
Os labirintos semicerrados, como se deuses
movessem a mobília dos sonhos.
Os Argonautas
A tartaruga
Da imagem
Trapo de lua
Dá para vestir
Um poema
Se uma imagem
Souber o caminho
Mais curto
Entre a coisa em si
E o dizer espantado
Susto de iceberg
A inaugurar sua ponta.
Afrodite
Lavar os olhos
na luz aguda
Contador Borges
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Contador Borges
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Contador Borges
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Contador Borges
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Contador Borges
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Teu verde
***
Há um vocabulário do verde,
inumeráveis ecos do teu verde
que se desdobram na noite estrelada:
olhos-pés, olhos-mãos, olhos-boca, olhos-peitos, olhos-nada.
Cada letra de teu nome tem a sua própria cabeleira,
denso alfabeto que incita à iniciação no segredo de teu segredo.
Tua sombra segue minha sombra em cada passo mínimo.
Claudio Daniel
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Anônimos
Claudio Daniel
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Encantação do Tigre
o
mar;
digo: tigre,
pupilas de verde fúria;
suas tígricas vagas, garras,
punhais esfervilhantes
em arcadas de espuma, presas aguçadas;
o fluir e o refluir de suas águas
em ondulação, tigrinoso emblema da fera,
cantabile alabarda em jaspe e luzidia prata urdida,
nos seduz como selvagem dança sarracena,
seus lenços de tépida alfazema escura;
dissolvidos em seu puro olhar
de algas em si algas, najas, corais
em opalino alvoroço musgoso,
não mais resistimos, estancados na argêntea areia,
e entramos em suas águas de água
sob o sol; aí cessamos.
Claudio Daniel
POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS: POESIA BRASILEIRA, IMAGEM E MEMÓRIA
Lição da água
o
mar,
fêmea
possessa.
sua fala
de suave
lâmina
abissínia;
o ritmo
ondulado,
que flui
em espiral;
a precisão
especular
do teatro
aquático;
o secreto
pugilato
que sulca
as rochas.
II
o
mar,
leoa
furiosa,
ensina
ao poeta
sua arte
plumária;
a dança-
escultura
das vagas
incessantes;
a pulsação
do poema,
seus ciclos
menstruais.
o
mar
ensina
ao poeta
sua arte
sem arte.
Claudio Daniel