Quantas são as vezes que ouvimos, mas não escutamos?
E quantas outras que vemos, mas não
verdadeiramente enxergamos? É para nos salvar da cegueira social, que nossa armadura demasiadamente espessa nos impinge, que a dramaturga Xis Makeda dá voz e cores a uma das invisíveis mulheres em situação de rua. Griot, único personagem que possui nome, por se tratar de um indivíduo com o compromisso de perpetuar a história e as canções de seu povo, é um dos muitos elementos da cultura africana que surgem no texto. É ele que conta, ora no papel de narrador, ora de rubrica, ora de poesia, ora de tambor, ora de canção, a história dessa Mulher negra que pela fome constante e pela crueldade com que foi tratada desde tenra infância, transita entre a sabedoria e o esquecimento, e entre a sanidade e a loucura. A mulher que parece a olhos pouco atentos, carregar apenas trapos, composição de sua miséria, traz a própria história de sofrimento, resistência, riqueza e amor do povo africado que foi sequestrado de seus lares, extirpados de sua humanidade e invisibilizados pelo racismo. Tudo isso você encontra na peça “Vestida de Fome”. Ouça o ritmo dos tambores em seu coração e boa leitura.