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Importância da Participação Pública no Processo da Avaliação do Impacto

Ambiental

Introdução

A participação pública em Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) é amplamente reconhecida


como um elemento fundamental ao processo. Em muitos países têm sido feitos esforços para
tornar a AIA um procedimento colaborativo, no qual dados científicos e técnicos são centrados
nos interesses dos diferentes atores, levando a um aumento na transparência dos processos
administrativos e a debates relacionados com o papel activo do público na democracia e na
tomada de decisão.

O objectivo deste ensaio bibliográfico é destacar o papel essencial do envolvimento e da


participação pública para o processo de Avaliação de Impacto Ambiental, visando a melhoria da
participação dos atores no sistema moçambicano de Avaliação do Impacto Ambiental

1. Avaliação do Impacto Ambiental (AIA)

De acordo com o Decreto 54/2015, a Avaliação do Impacto Ambiental é definida como “um
instrumento de gestão ambiental preventivo que consiste na identificação e análise prévia,
qualitativa e quantitativa, dos efeitos ambientais benéficos e perniciosos de uma actividade
proposta”.

A finalidade da Avaliação de Impacto Ambiental é a identificação dos impactos ambientais


significativos do meio ambiente, conceito subjectivo, uma vez que a condição significativa está
sujeita a percepção do avaliador.

A Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) tem por objectivo conhecer o potencial impactante
da actividade e identificação das medidas de mitigação. Os estudos da AIA são resultantes de um
processo político que busca atender uma demanda social que foi amadurecendo desde o final dos
anos 60 nos Estados Unidos. Sanchez, (2008).

Para a República de Moçambique a avaliação do impacto ambiental é regulamentada pelo


Decreto 54/2015, publicado no Boletim da Republica, I serie, nº 104 de 31 de Dezembro de 2015.
No seu artigo 9, estabelece:
Os resultados da avaliação da actividade proposta serão determinados segundo os seguintes
factores: número de pessoas e comunidades abrangidas, ecossistemas, plantas e animais afectados
e a sua importância para a biodiversidade e os serviços de ecossistemas; localização e extensão da
área afectada; identificação dos potenciais impactos; elementos do projecto”.

2. Participação pública no processo de AIA

O termo participação pode ser encontrado na bibliografia como participação cidadão,


participação pública e algumas vezes como participação popular. Porém, pode-se afirmar que,
mesmo existindo diferentes conceitos de participação, principalmente com discussões no campo
da teoria da ciência política, a essência central de participação do indivíduo é a mesma.

O Artigo 15 do Decreto 54/2015 fala da participação pública no processo de Avaliação do


Impacto Ambiental. O nº 1 deste artigo refere que a participação publica compreende a consulta e
audiência publica, para efeitos de: a) fornecimento de informação e auscultação a todas as partes
interessadas e afectadas directa ou indirectamente por uma actividade; b) Pedido de
esclarecimento; c) formulação de sugestões e recomendações.

O nº 4, 6, 8, 9 e 10 desse artigo estabelecem o seguinte:

4. A autoridade de avaliação de Impacto Ambiental deve garantir que o proponente realize a


consulta pública e que os respectivos resultados sejam considerados no processo de tomada de
decisão.

6. A participação pública é obrigatória para as actividades de categoria A, A e B;

8. Têm o direito a tomar parte no processo de participação pública ou de se fazerem representar,


todas as partes interessadas ou afectadas directa ou indirectamente pela actividade proposta.

9. Do processo de participação pública deve resultar um relatório final.

10. A audiência pública pode ter lugar ainda, por solicitação de cidadãos, organizações
ambientais legalmente constituídas, ou entidades públicas ou privadas, directa ou indirectamente
afectas pela actividade em análise, sempre que a natureza da actividade, suas características e os
seus efeitos previsíveis o justifiquem e deve ser feita por um mínimo de 50 cidadãos.
Portanto, a participação pública no processo de avaliação de impacto ambiental torna-se
necessária pois, pode trazer o mérito do trabalho que se pretende fazer.

Os méritos da participação pública nas tomadas de decisões incluem: atender à necessidade de


diversas culturas, utilizar o conhecimento leigo e local, examinar o conhecimento
especializado, legitimar os resultados dos processos de tomada de decisão, democratizar a
tomada de decisão, aprendizado social, orientar o público, incorporar valores locais, construir
confiança e reduzir custos de atrasos e de conflitos. A participação pode trazer inúmeros
benefícios à sociedade e aos tomadores de decisão nos processos de AIA, mas também produz
desafios, como a definição de atores, a escolha dos representantes e a informação suficiente de
ambos os grupos, além de atender à exigência da manutenção de cronogramas compactos.
Paralelamente aos desafios técnicos acima mencionados, a participação pública também
comporta riscos éticos, tais como manipulações, obscurecendo discordâncias e fingindo uma
democracia (Negev et al., 2013; Webler et al., 1995) citados por (Faria & Silva, 2017).

O papel da participação pública na avaliação de impacto ambiental sofreu uma grande mudança
nos últimos anos. Nos primeiros dias da AIA, as principais formas de participação eram as
audiências públicas e outros tipos de consulta, nas quais os gestores públicos ou tomadores de
decisão podiam obter informações sobre as preocupações e orientações ao público sobre os
projectos propostos, sendo que a ênfase ficava a cargo da troca de informações entre o saber local
e as informações apresentadas em um relatório.

A visão emergente do processo de AIA sustenta que a participação não é apenas uma parte
suplementar da avaliação, mas um processo colectivo onde diferentes atores ou cidadãos, grupos
de interesse, autoridades e especialistas podem deliberar e trocar suas opiniões sobre os
objectivos e seus conhecimentos a respeito dos impactos dos projectos de desenvolvimento
propostos (Saarikoski, 2000) citado por (Faria & Silva 2017).

De acordo com Faria e Silva (2017), A preocupação com o envolvimento da sociedade na AIA
teve um despertar teórico na década de 1990, influenciado pelos novos pensamentos conceituais
de democracia participativa e justiça ambiental, incluindo grupos e indivíduos em uma
comunidade, na sua forma mais ampla de envolvimento, ao contrário do modelo racionalista
de tomada de decisão que vinha sendo aplicado nos processos de AIA desde a década de 1970.
Essa tendência foi reforçada quando a União Europeia alterou as suas Directivas para a AIA e
passou a incorporar os princípios da Convenção de Aarhus sobre o acesso à informação e
participação pública

As formas de participação pública na avaliação de impacto ambiental podem ser classi ficadas
como: participação passiva ou recepção de informações (uma forma unidireccional),
participação por meio de consultas (tais como audiências públicas e reuniões abertas),
participação interactiva (tais como workshops, negociação, mediação e co-gestão) (André
et al., 2006)

Já O’Faircheallaigh (2010) citado por (Faria & Silva 2017), sugere três níveis de classificação
de participação pública no processo de AIA:

Um nível no qual se obtém contribuições do público separadamente por tomadores de decisão,


outro que se oferece algum grau de compartilhamento público no processo de tomada de
decisão, e aquele em que a sociedade exerce realmente o poder de decisão, alterando as
estruturas e as relações de poder decisório. Ele se esforça para evitar a noção de quadros
estáticos ou modelos com limites rígidos, preferindo uma relação dinâmica entre as três formas
de participação. (P. 5)

A transparência em relação às informações, o desconhecimento do público a respeito das


questões de planejamento e licenciamento, assim como a incapacidade de influenciar no
processo de tomada de decisão, aparecem como principais obstáculos à participação pública
efectiva (Boyle, 1998; Li et al., 2012; apud Morgan, 2012).

A participação pública expõe ao longo do seu processo os saberes locais, a cultura, a política e
o modo de vida da população, que são determinantes e importantes no processo de AIA e da
tomada de decisão. A limitação do uso da internet nesse processo como principal ferramenta de
comunicação constitui desvantagem para as pessoas de áreas rurais com pouco ou nenhum
acesso a esse meio. Para Morgan, precisa haver uma séria mudança cultural de todas as
partes envolvidas, principalmente no que diz respeito à verdadeira importância da participação
pública, fornecendo instrumentos e estrutura para a prática de forma eficaz desse direito (Morgan,
2012).
3. Considerações finais

A avaliação de impacto ambiental é um instrumento de gestão ambiental preventivo que consiste


na identificação e análise prévia, qualitativa e quantitativa, dos efeitos ambientais benéficos e
perniciosos de uma actividade proposta.

Os méritos da participação pública nas tomadas de decisões incluem: atender à necessidade de


diversas culturas, utilizar o conhecimento leigo e local, examinar o conhecimento
especializado, legitimar os resultados dos processos de tomada de decisão, democratizar a
tomada de decisão, aprendizado social, orientar o público, incorporar valores locais, construir
confiança e reduzir custos de atrasos e de conflitos.

A visão emergente do processo de AIA sustenta que a participação não é apenas uma parte
suplementar da avaliação, mas um processo colectivo onde diferentes atores ou cidadãos, grupos
de interesse, autoridades e especialistas podem deliberar e trocar suas opiniões sobre os
objectivos e seus conhecimentos a respeito dos impactos dos projectos de desenvolvimento
propostos

4. Referências bibliográficas

André, P. B.; Enserink, B.; Connor, D.; Croal, P. (2006). participação pública internacional,
melhora a participação de pessoas. Fargo, USA: IAIA, (Special Publication Series nº 4).

Morgan, R. K. (2012). Avaliacao do impacto Ambiental: the state of the art. Impact Assessment
and Project Appraisal.

Faria, G. C. Silva, F. M. (2017). Participação pública no processo de avaliação de impacto


ambiental no Estado do Espírito Santo. Edição Especial

Sánchez, L.E (2008). Avaliação de Impacto Ambiental. Conceitos e Métodos. 1a reimpressão.


São Paulo: Oficina de Textos

BOLETIM DA REPUBLICA DE MOÇAMBIQUE. Decreto 54/2015 de 31 de Dezembro.


Regulamento sobre o processo de Avaliação do Impacto Ambiental. I Série. Número 54.

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