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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

CAPÍTULO 1 – POR QUE É IMPORTANTE MONITORAR


E AVALIAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS?

Neste capítulo buscamos discutir o que é uma política pública e qual é a sua importância.
Políticas públicas são essenciais para o desenvolvimento humano, para a formação da
cidadania e para a promoção de igualdades. Por meio delas se estabelece diretrizes para
as ações do poder público com objetivos e metas, buscando evitar atividades que não
atinjam seus objetivos e desperdicem dinheiro público.

Apresentaremos as principais definições e tipologias de monitoramento e avaliação de


políticas públicas.

1.1 O que é política pública?


Antes de iniciarmos a discussão sobre monitoramento e avaliação 1 Em texto onde
de políticas públicas, parece-nos importante entender o que é uma contextualiza a
política urbana
política pública. Esse conceito é amplo e tratado por muitas áreas do no Brasil e
conhecimento, como as ciências políticas, o direito e a administração. apresenta
Segundo Souza (2002), não existiria uma única, nem melhor definição do reflexões
iniciais para a
que seja política pública. construção da
Política Nacional
Para Bucci (2002) as políticas públicas são instrumentos capazes de de Desenvolvi-
mento Urbano
efetivar direitos fundamentais sociais mediante a ação conjunta dos (PNDU).
poderes públicos. Elas devem dar à população as condições necessárias
para aproveitar a real liberdade, a igualdade material e a dignidade
humana. Ainda segundo a autora:

[...] uma política é pública quando contempla os interesses


públicos, isto é, da coletividade — não como fórmula
justificadora do cuidado diferenciado com interesses
particulares ou do descuido indiferenciado de interesses que
merecem proteção — mas como realização desejada pela
sociedade.

Fábio Comparato (2003) define a política como:

[...] um programa de ação governamental. Ela não consiste,


portanto, em normas ou atos isolados, mas consiste numa
atividade ordenada de normas e atos, dos mais variados tipos,
conjugados para a realização de um objetivo determinado.
[...] toda política pública, como programa de ação, implica,
portanto, numa meta a ser alcançada e num conjunto
ordenado de meios e instrumentos – pessoais, institucionais e
financeiros – aptos à consecução desse resultado.

As políticas públicas em geral e as políticas de desenvolvimento urbano


não são exceções. Elas são desenhadas e implementadas por um
conjunto diverso de agentes/atores, refletindo as relações de poder do
espaço-tempo e as interações estabelecidas. Para IPEA (2021)1 “[...] cada
política é ao mesmo tempo uma expressão das correlações de força e
da atuação dos agentes/atores e uma potência de transformação da
realidade que não é neutra na própria produção do espaço”.
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Uma política pública deve ser


expressão de um processo público.
Ela deve ser uma abertura à
VOCÊ SABIA ?
VOCÊ SABIA QUE EXISTEM QUATRO TIPOLOGIAS
DE POLÍTICAS PÚBLICAS?
participação direta ou indireta
de todas as pessoas interessadas Políticas Públicas Distributivas:
direcionadas a certos grupos de pessoas para
para manifestarem de forma clara beneficiar parte da população que não tenha acesso
e transparente as posições em jogo a um determinado direito. Por exemplo: política de
incentivos fiscais para pequenos produtores.
(BUCCI, 2002).
Políticas Públicas Redistributivas:
As políticas públicas devem aplicadas a um grupo maior de pessoas. Possuem um
caráter social e são voltadas à garantia do bem-estar
ser estáveis no tempo, ou seja, social. Por exemplo: Programa Bolsa Família.
não devem estar ligadas a um(a) Políticas Públicas Regulatórias:
governante de plantão ou a uma organizam o funcionamento do Estado e podem
envolver regras de processos burocráticos ou normas
vontade política eleitoreira. de comportamento dos cidadãos. Por exemplo: Política
Podem ser adaptadas, corrigidas de saúde antitabagista (legislação que proíbe fumar em
ambientes fechados).
e aprimoradas, mas sempre por
Políticas Públicas Constitutivas:
um processo de monitoramento regulamentam os procedimentos e as regras
e de avaliação participativo e das políticas públicas. Por exemplo: regras de
funcionamento das eleições.
transparente.

Figura 1: Tipologias de políticas públicas.


Fonte: Elaborado pela autora. Elaboração gráfica do LabHab (2022).
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1.2 Ciclo da Política Pública


Para entendermos o monitoramento e a avaliação de uma política pública é fundamental
entendermos quais são as etapas do Ciclo da Política Pública (Figura 2). Como o próprio
nome diz, não se trata (ou pelo menos não deveria se tratar) de um processo linear, mas sim
cíclico. As suas etapas de monitoramento e avaliação retroalimentam a implementação e
execução da política pública com correções de rumo e aperfeiçoamentos.

Figura 2: Ciclo das políticas públicas


Fonte: Adaptado de Campos (2015). Elaboração gráfica do Labhab (2022).

Vamos ver o exemplo do Programa Nacional de Apoio à Captação de Água de Chuva e


outras Tecnologias Sociais (Programa Cisternas) para facilitar o entendimento desse
ciclo e de suas etapas. Ele foi desenvolvido pelo antigo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, atual Ministério da Cidadania. O Quadro 1 descreve as etapas
desse programa, reformulado em 2011, e que passou a ser chamado de Programa Água
para Todos.
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Quadro 1 – Etapas do Programa Nacional de Apoio à Captação de Água


de Chuva e outras Tecnologias Sociais (Programa Cisternas) do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (atual Ministério da
Cidadania)
Fonte: Adaptado de https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/inclusao-
produtiva-rural/acesso-a-agua-1/ e https://asabrasil.org.br/acoes/p1mc#atividades-p1mc.

Política Etapas Descrição


Pública

Dificuldade de acesso à água na região semiárida


brasileira, que ocupa 12% do território nacional e
compreende 1.262 municípios do nordeste e norte
Identificação de Minas Gerais. Nessa região vivem 28 milhões de
do problema/ brasileiros (38% deles em zonas rurais). Os baixos
demanda índices pluviométricos comprometem as atividades
básicas e produtivas dessa região do país há séculos
e com tendência de agravamento, considerando
as previsões feitas pelo IPCC quanto aos impactos
das mudanças globais do clima na região.

Em julho de 1999, durante a 3ª Conferência das Partes


da Convenção de Combate à Desertificação e Seca
(COP 3), realizada em Recife, foi criada a Articulação
Programa Inclusão na Semiárido Brasileiro (ASA). Trata-se de organização
Cisternas agenda não governamental que congrega milhares de
entidades. A ASA propôs o Programa 1 milhão de
Cisternas para minimizar o problema de acesso a
água (impactos na saúde pública, na economia e no
desenvolvimento local, no saneamento básico etc.).

Considerou-se a capacidade técnica de execução


proposta pela Articulação Semiárido Brasileiro
(ASA), o orçamento público, o público-alvo (famílias
Formulação rurais de baixa renda atingidas pela seca ou com
de soluções/ falta regular de água, dando prioridade para povos
alternativas e comunidades tradicionais) e a abrangência do
programa. A partir desses e de outros fatores
foram propostas soluções/alternativas para a
construção de uma política de acesso à água.
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Política Etapas Descrição


Pública

Em 2001, foi iniciado um projeto piloto com


financiamento do Ministério do Meio Ambiente
(MMA). Após o sucesso dos primeiros
Tomada de resultados, o projeto passou a ser uma
decisão política pública coordenada pelo Ministério
de Desenvolvimento Social e Combate à
Fome. A alternativa escolhida foi adotar
tecnologia social de construção de cisternas
para captar e armazenar água da chuva.

Planejamento e execução interagindo com


a população diretamente beneficiada, e
Planejamento em parceria com as organizações sociais
da execução e com a mão de obra local. Envolve
técnicas e metodologias adequadas, de
baixo custo e de fácil implementação.

O Programa Cisternas foi implementado


em 2003 com coordenação do Ministério
Programa Implementação de Desenvolvimento Social e Combate à
Cisternas Fome (atual Ministério da Cidadania). O
programa existe até hoje e é responsável pela
implantação de mais de 1,2 milhão de cisternas.

Graças às etapas de avaliação do


programa, foi possível identificar
a necessidade de sua ampliação.
Em 2008, foi introduzida uma nova tipologia
de cisterna, a calçadão. O objetivo era
captar água para atividades produtivas
(capacidade de armazenamento de 52 mil
litros), garantindo a segurança alimentar local.
Monitoramento Atualmente, o programa possui um Sistema
e avaliação de Informações Gerenciais (SIG Cisternas)
para garantir seu controle e transparência.
Todas as cisternas construídas são
cadastradas neste SIG, com os dados
georreferenciados da pessoa beneficiária e
das etapas de construção. Também é anexado
à documentação um Termo de Recebimento
assinado pela família. É um documento com
foto que comprova a entrega da tecnologia.
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ATIVIDADE
PROGRAMADA
Alguma experiência
no seu município
completou esse ciclo?
Descreva relacionando
com as etapas
mencionadas.
Foto 1: Cisterna do Programa 1 Milhão de Cisternas
Fonte: ASA Brasil (s.d.).

1.3 Avaliação e monitoramento de 2 A década de 1990 foi


caracterizada por uma sucessão de
políticas públicas – definições e principais crises cambiais, como a do Sistema
tipologias Monetário Europeu, em 1992; a
do México, em 1994; a asiática, em
A avaliação e o monitoramento fazem parte do ciclo de 1997; a russa, em 1998; a brasileira,
uma política pública, como apresentado no item anterior. em 1998 e 1999; e a argentina.

?
Os dois devem ser utilizados para aprimorar essa política
e garantir a participação e o controle social.
VOCÊ SABIA
Rua (2010) define a avaliação como o exame sistemático As primeiras avaliações de
de intervenções planejadas na realidade. Usa como políticas públicas surgem
na década de 1960, nos
base procedimentos científicos de coleta e análise de Estados Unidos. Elas foram
informação sobre o conteúdo, a estrutura, o processo, institucionalizadas com
um enfoque top-down, ou
os resultados e/ou impactos de políticas, programas ou seja, de cima para baixo,
determinadas pelo presidente
projetos. norte-americano para avaliar
programas sociais. Nas
A avaliação foi usada inicialmente nos Estados Unidos na décadas seguintes, ocorre um
boom da avaliação associado
década de 1960. Ela foi aplicada em programas sociais e ao movimento de reforma
ampliada nas décadas seguintes, principalmente em países do Estado e de seu aparelho
administrativo, conhecido
desenvolvidos. No Brasil, diversos fatores contribuíram como New Public Management
para que o Estado brasileiro passasse a redefinir sua (Nova Gestão Pública). Esse
movimento recomendava uma
área de atuação a partir dos anos 1990, reestruturando redefinição do papel do Estado
e a implantação de mecanismos
sua função de planejamento e gestão. O processo de de gestão da iniciativa
redemocratização trouxe à tona novos atores sociais privada na administração
pública. No Brasil, essa nova
e novas reivindicações aos governantes. A crise fiscal orientação político-ideológica
diminuiu a capacidade de gasto dos governos e aumentou e gerencial acontece com a
Reforma Administrativa em
a pressão por maior eficiência. A crise econômica em 1998, por meio da Emenda
Constitucional nº 19
que o país e o mundo estavam mergulhados2 aumentou (RAMOS; SCHABBACH,
a desigualdade social e a busca por serviços e políticas 2012).
sociais (RAMOS; SCHABBACH, 2012).
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Segundo Ramos e Schabbach (2012), nas


duas últimas décadas o interesse cada vez
VOCÊ SABIA ?
O termo accountability em inglês não
maior dos governos brasileiros pela avaliação tem uma tradução específica para o
de políticas públicas está relacionado à português, mas pode ser relacionado com
responsabilização, fiscalização e controle
efetividade, à eficácia, à eficiência, ao social. O objetivo da accountability na
desempenho e à accountability da gestão gestão pública é reduzir os riscos da
concentração de poder e garantir que
pública. Há também pressões e exigências a população participe da tomada de
decisão dos governos. Isso contribui para
de organismos financiadores, como o uma gestão democrática e exige que os
Banco Mundial e o Banco Interamericano gestores públicos sejam transparentes
com a sociedade em relação aos seus atos.
de Desenvolvimento (BID), e de entidades Ela corresponde à capacidade de imprimir
internacionais. Os órgãos de controle transparência, controlar e responsabilizar
o(a) agente por suas ações e omissões
também estão atuando mais nesse sentido (SECCHI, 2013).
(Tribunais de Contas, Ministério Público etc.).

1.3.1 Tipologias de avaliações

É recomendável que a escolha de avaliação e de metodologia leve em conta a natureza


do objeto a ser avaliado (características e especificidades) e os objetivos que se quer
alcançar com a avaliação. Ou seja, não existe uma receita única a ser aplicada para
monitorar e avaliar políticas públicas.

Vaitsman et al. (2006) apresentaram uma experiência pioneira do uso da avaliação e do


monitoramento nas políticas sociais do antigo Ministério de Desenvolvimento Social
e Combate à Fome. Destacam que é necessário definir conceitos mínimos e comuns
entre todos e todas antes do início da avaliação em equipes que geralmente não fazem
avaliações e monitoramentos.

Apresentamos no Quadro 2 abaixo as principais tipologias de avaliação. Elas variam de


acordo com o critério adotado.

Quadro 2 - Tipologias de avaliação de políticas públicas


Fonte: Adaptado de Rua (2011).

Critério Tipo de avaliação


Segundo o - Avaliação ex-ante (de custo-benefício);
momento em - Avaliação de meio-termo (de processos, de produtos, de qualidade e de satisfação);
que se realiza - Avaliação ex-post (de resultados e de impactos).

Segundo a - Avaliação de conformidade (de atendimento às normas e à legislação);


função da - Avaliação somativa (importância quanto à continuidade ou não da política);
avaliação - Avaliação formativa (para o aperfeiçoamento durante a execução da política).
Segundo - Avaliação externa;
a origem - Avaliação interna;
da equipe - Avaliação mista;
avaliadora - Avaliação participativa.
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Apresentamos a seguir uma breve descrição das principais tipologias de avaliação


(Quadro 3), mesmo não sendo objetivo deste módulo detalhar todas elas.

Quadro 3 - Principais características das avaliações


ex- ante, ex- post e de meio termo

Fonte: Adaptado de Rua (2011).

Critério Tipo de avaliação


É realizada antes de começar a implementar o programa/política. Seu principal
objetivo é oferecer suporte à decisão de implementação.
Avaliação ex- Destaca-se neste tipo de avaliação o diagnóstico (ou estudo da situação), quando
ante se mapeiam as necessidades e são realizados estudos de viabilidade. Esses estudos
orientarão a formulação do programa e examinarão o custo-benefício e o custo-
efetividade. Pretende adequar os recursos disponíveis aos objetivos propostos.

É realizada durante a execução ou no final do programa/política. Julga-se se o programa/


política em execução deve continuar com base nos resultados obtidos até o momento. Se
Avaliação ex- a resposta for positiva, avalia-se a manutenção da formulação original ou a necessidade
post de modificações, redirecionando os objetivos, propostas e atividades. Examina-se a
importância do uso futuro da experiência do programa concluído, isto é, se o mesmo tipo
de programa deve ser repetido ou não.
É a avaliação mais desenvolvida metodologicamente e a que tem sido mais usada..

Semelhante à avaliação ex post. É realizada geralmente durante a implementação do


programa/política.
- Procura detectar as dificuldades que ocorrem durante a implementação para fazer
correções e adequações;
Avaliação de - Permite responder se as ações estão de fato atingindo o público-alvo e se os
meio-termo benefícios estão sendo distribuídos corretamente;
- Dá suporte para melhorar a eficiência de operação e a eficácia dos programas/
políticas;
- Voltada às lideranças mais diretamente envolvidas na operação do programa/política.

1.3.2 Monitoramento de políticas públicas

O objetivo do monitoramento é abastecer continuamente as lideranças com informações


mais simples e apropriadas sobre a operação e os efeitos do programa. Elas geralmente
são resumidas em painéis ou sistemas de indicadores (JANNUZZI, 2009).

Monitoramento e avaliação não são sinônimos, ainda que os dois processos ou etapas
estejam intimamente ligados (Figura 3). Não é possível realizar uma boa avaliação sem
um conjunto de indicadores consistentes e atualizados, não importa a metodologia
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utilizada. No entanto, é possível construir um sistema de monitoramento sem que seja


feita a avaliação. Ela é a etapa mais complicada e não pode ser tratada apenas como um
acompanhamento periódico das ações governamentais.

Monitoramento e avaliação são processos de análise organicamente articulados, que


se complementam no tempo. Às vezes, são mais resumidas e oportunas, às vezes têm
caráter mais analítico sobre o funcionamento das ações. Podem ser levantadas inclusive
por meio de pesquisas de avaliação.

Como bem definiram Garcia (2001) e Rua (2010), o monitoramento é um processo


sistemático e contínuo de acompanhamento de uma política, programa ou projeto. Ele
se baseia em um conjunto limitado, mas importante, de informações. Permite avaliar
rapidamente a situação e identificar fragilidades na sua execução. O objetivo é ajudar a
intervenção e a correção oportunas para que atinjam seus resultados e impactos.

O monitoramento é realizado por meio de indicadores produzidos regularmente


com base em diferentes fontes de dados. Elas dão às lideranças informações sobre
o desempenho de programas, permitindo verificar se objetivos e metas estão sendo
alcançados (VAITSMAN et al., 2006).

Figura 3: Características das etapas de monitoramento e avaliação de


políticas públicas, e diferenças quanto ao processo de acompanhamento.
Fonte: Adaptado de Ato Urbano (2020) e Rua (2011). Elaboração gráfica do Labhab (2022).
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1.4 Indicadores como instrumento do monitoramento e da


avaliação de políticas públicas
Os indicadores vêm sendo discutidos há décadas pela academia, organismos
internacionais, agências financiadoras, órgãos governamentais e, mais recentemente,
pela sociedade civil. Há muitos textos e experiências disponíveis, entre eles os indicadores
e índices econômicos e sociais. Eles têm metodologias consolidadas e usos consagrados
tanto na esfera pública quanto na privada.

Entre muitos índices econômicos disponíveis temos: o Produto Interno Bruto (PIB); o PIB
per capita; o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da
inflação do país; e o indicador de consumo per capita. Exemplos de indicadores sociais
são: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); o Índice Paulista de Vulnerabilidade
Social (IPVS); e a taxa de mortalidade/sexo.

A agenda ambiental foi integrada às pautas


urbanas a partir da década de 1990, em especial a
partir da Conferência Habitat-II (Istambul 1996).
Intensificaram-se os debates e iniciativas de
como medir o desenvolvimento sustentável e a

1
PARA MAIS
sustentabilidade. Mais recentemente, discute-se INFORMAÇÕES
como medir o desenvolvimento urbano sustentável e SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM O
a sustentabilidade urbana, sendo que até hoje não se
MÓDULO 1.
chegou a um consenso. Consulte o Módulo 1 para mais
detalhes sobre esse assunto.

Os indicadores de
monitoramento e
APROFUNDE-SE avaliação de políticas
Caso tenha interesse em se aprofundar
mais sobre indicadores sociais, incluindo
públicas urbanas devem
uma análise sobre os impactos da pandemia ser capazes de medir não
de COVID-19 na população brasileira, só o cumprimento de
consulte a publicação do IBGE Síntese
de Indicadores Sociais: Uma análise das
objetivos e metas, mas
condições de vida da população brasileira: também o quanto estas
2021. políticas contribuem
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE
para o desenvolvimento
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese urbano sustentável. Assim,
de indicadores sociais: uma análise das apresentamos a seguir
condições de vida da população brasileira:
2021. IBGE: Rio de Janeiro, 2021.
os principais conceitos e
tipologias de indicadores
Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov. usados normalmente
br/index.php/biblioteca-catalogo?view=de-
talhes&id=2101892
no monitoramento e na
avaliação.
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Como introduzido pelo Módulo 3, “[...] indicadores


são medidas que nos ajudam a identificar e

3
PARA MAIS
quantificar aspectos de uma determinada INFORMAÇÕES
situação da realidade que desejamos avaliar”. SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM O
Indicador também pode ser definido como
MÓDULO 3.
um instrumento que resume um conjunto de
informações em um número. Portanto, ele permite
medir certos fenômenos entre si ou ao longo
de certo tempo. Os indicadores são utilizados
para simplificar informações sobre fenômenos
complexos e comunicá-los de modo mais
compreensível e quantificável (Figura 4).
Um indicador é o meio e não o fim. É necessário ter clareza de sua função e utilidade,
ainda que ele seja o instrumento operacional do monitoramento e da avaliação de
programas/políticas. Caso contrário, é possível produzir informações inadequadas
sobre a realidade na qual se pretende intervir. Como apontado por Kayano e Caldas
(2002), é preciso cautela tanto na construção quanto na interpretação dos indicadores,
pois eles servem a vários interesses.

Figura 4: Pirâmide de informações.


Fonte: Adaptado de Hammond (1995 apud VAN BELLEN, 2005) e de
Souza (2013). Elaboração gráfica do Labhab (2022).
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

A escolha, construção e posterior alimentação/atualização de um indicador nem sempre


é uma tarefa fácil. Sua qualidade depende de diversos fatores ou propriedades que
definirão se um indicador é bom ou não. Elas devem ser seguidas sempre que possível.
Na Figura 5 apresentamos essas propriedades.

Figura 5: Propriedades de um indicador.


Fonte: Elaborado pela autora. Elaboração gráfica do LabHab (2022).

1.4.1 Tipologias de indicadores

Há diversas classificações e tipologias de indicadores. O Quadro 4 abaixo busca resumir


as principais tipologias a partir do proposto por Januzzi (2001). No entanto, como
observado pelo autor, em muitas situações um indicador pode ser classificado em mais
de uma tipologia, de acordo com a prática da pesquisa e de suas propriedades. Por
exemplo, a taxa de mortalidade infantil é um indicador de saúde, mas também pode ser
um indicador de saneamento. O tempo gasto com deslocamento até o trabalho é um
indicador de infraestrutura, mas também de condições de vida.
28
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Quadro 4 – Principais classificações e tipologias de indicadores


Fonte: Adaptado de Januzzi (2001).

Classificação Tipologia Exemplo

- Econômicos; - Renda per capita;


- Sociais; - Proporção de gestações em
Natureza - Ambientais etc. adolescentes;
- Índice de Qualidade da Água
(IQA).

- Saúde; - Percentual de crianças nascidas


- Educação; com peso adequado;
Temática - Meio ambiente; - Escolaridade média da
- Desenvolvimento população com mais de 15 anos;
urbano etc. - m² de área verde/habitante;
- nº de habitante/hectare.

Objetividade/ - Quantitativos - Taxa de evasão escolar


Percepção
- Qualitativos - Índice de satisfação do
consumidor

- Simples - Percentual de domicílios com


acesso à água encanada
Complexidade
- Composto ou Índice - IDH, IPVS

AULA 1
MÓDULO 7

Aula 1 - Por que é


importante monitorar e
avaliar políticas públicas?
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

O monitoramento e avaliação de políticas públicas também usa uma classificação ou


tipologia de indicador baseada na etapa em que é utilizado, como mostra a Figura 6.

Figura 6: Tipologias de indicadores


a partir da etapa de sua construção.
Fonte: Januzzi (2018).
Elaboração gráfica do Labhab (2022).

APROFUNDE-SE
Caso tenha interesse em se aprofundar na construção e uso de indicadores sintéticos ou índices, há uma
ampla literatura sobre o clássico debate das potencialidades e limitações do Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH). Ele foi proposto em 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
sob a liderança do economista paquistanês Mahbub ul Haq e com base no enfoque proposto por Amartya
Sen (Prêmio Nobel de economia de 1998). O PNUD publica desde 1990 relatórios anuais sobre as diversas
dimensões do desenvolvimento humano.

VEIGA, J. E. Problemas do uso ingênuo do IDH-M. Valor, [s.l.], 14 jan. 2003. Disponível em: http://www.zeeli.
pro.br/wp-content/uploads/2012/06/002_14-01-03-PROBLEMAS-DO-USO-INGENUO-DO-IDH-M.pdf.
Acesso em 05/07/22

JANNUZZI, P. M.; BARRETO, R. S.; SOUSA, M. F. Monitoramento e Avaliação do Desenvolvimento Humano:


a insensibilidade do Índice de Desenvolvimento Humano às políticas de desenvolvimento social. Revista
Brasileira de Monitoramento e Avaliação, [s.l.], v. 5, p. 60-79, 2013.

GUIMARÃES, J. R. S.; JANNUZZI, P. M. IDH, Indicadores sintéticos e suas aplicações em políticas públicas:
uma análise crítica. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, Salvador, v. 7, n. 1, p. 73-89, maio 2005.
Disponível em: https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/136. Acesso em 05/10/22

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