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SINOPSE.- Foi estudada em Mato Grosso, Brasil, a "cara inchada", doença de bovinos
jovens, que se caracteriza clinicamente, no seu estado avançado de evolução, por um pro-
cesso inflamatório rridentário com afrouxamento e perda de dentes premolares e molares e
com abaulamento osseo maxilar e menos freqüentemente mandibular. Os animais afetados
emagrecem e grande parte morre por desnutrição. Os estudos foram realizados em bovinos
zebu e mestiços zebu.
A "cara inchada" foi observada em regiões onde os pastos, na maior parte de capim-colo-
-nião (I'anicum maxi,nuln), eram formados após a derrubada de matas em terras férteis de
baixada. Em regiões vizinhas, de topografia mais elevada e de vegetação de cerrado, a
doença não foi constatada.
Através de exames da cavidade bucal de cerca de 1.500 bovinos de até 1 ano de idade,
foi constatada a incidência média da doença em 6% dos animais, havendo uma propriedade
alcançado o índice de 22,4 de bezerros afetados. Pelos exames clínicos e pelas necropsias
de 30 bovinos com a doença, revelou-se que o processo paradentário incipiente já pode estar
presente em bezerros com 1 mês de idade. Parece que os bovinos são susceptíveis à ias'
talação do processo paradentário da "cara inchada" somente até a idade de aproximadamente
2 anos e meio.
A lesão incipiente da doença, essencialmente de natureza não inflamatória, inicia-se em
bezerros novos na papila interdentária entre os dentes P a e l'a maxilares, consistindo na for'
mação de bolsa paradentária. A penetração de partículas de alimentos e outros corpos
estranhos complica o processo que resulta finalmente numa peridentite purulenta e periostite
crônica ossificante. Os dados clínicos, anátomo e histopatológicos mostram que a doença
afeta inicialmente o paradêncio de animais com dentes em erupção e crescimento, possi-
velmente devido a uma deficiência na regeneraçâo fisiológica e reparação do tecido con-
juntivo paradentário.
Concluiu-se que a "cara inchada" dos bovinos deve ser causada por um ou mais fatores
ligados à alimentação.
Palavras chaves adicionais para índice: Paradentite, peridentite, periostite alveolar, piorréia
alveolar, periostite crônica ossificante.
dência aumentaria no fim da época de chuva ou no tais animais são transferidos a outras regiões para re-
início da seca. A incidência varia nas diferentes fazen- cuperação. Informações recebidas em novembro de 1973,
das e de ano para ano; há fazendas onde ocorrem so- 14 meses mais tarde, dizem que houve melhora sensível
mente poucos casos, mas em outras a incidência atingi- do gado não traasferido e assim suplementado, nessas
ria 50% dos bezerros. há informações de que em pastos duas fazendas.
recém-formados a incidência da "cara inchada" seria Em regiões de ocorrência da "cara inchada" recebe-
maior do que em pastos de vários anos de formação. mos informações de que há casos de bócio em bezerros
FIG. 1 e 2. Invernadas de baixadas cora pabneiras de bacuri em duas fazendas onde acene es "cara inchada" dos bovinos,
no município de Rondonópotis, Mato Grosso.
Em propriedade situada numa ilha do Rio Paraguai, recém-nascidos se não se adicionar iodo ao sal; os be-
no município de Corumbá, fomos informados sobre alta zerros com bócio se recuperam com administração de
incidência de doença com as características da "cara iodo.
inchada", que afetaria bovinos jovens, ovinos e caprinos
de todas as idades, tornando impossível a criação desses 2) Observações clínicas
ruminantes na área A pastagem naquela ilha é consti- Examinamos 1.486 bezerros com idade de 1 dia a 1
tuída de capim nativo. O capim-cnlonião não se adaptou ano em fazendas em que ocorre a doença, e outros 471
bem por causa da seca, apesar de ser terra de boa fer- bezerros em propriedades indenes. Os resultados do exa-
tilidade e propícia para qualquer tipo de lavoura. Eqüi- me da cavidade bucal desses animais estão resumidos nos
nos e suínos não são afetados. Nesse mesmo município, Quadros 1 a 3.
a doença não ocorre na beira do rio, no pantanal; po- Verificamos nas fazendas de ocorrência da "cara in-
rém, mais rio abaixo, no município de Porto Murtínho, chada" que, em média, 6,1% dos bezerros com 5 a 60
ela foi observada por nós nas margens do Rio Paraguai, dias de idade tiveram gengivite marginal na região dos
também em pastagens nativas. dentes incisivos e 7,1% ao nível dos dentes premolares;
Em algumas fazendas recebemos ainda a informação esse processo inflamatório que freqüentemente acompa-
de que perindicamente estão sendo levados bovinos de nha a erupção dos dentes consistiu em simples conges-
"sobre-ano"• e adultos emagrecidos, separados nas dife- tão da gengiva marginal até a formação de tecido de
rentes invernadas onde ocorre "cara inchada", a outras granulação nas porções mais comprometidas. Entre esses
regiões onde os animais se recuperariam em grande bezerros observamos vários, já a partir de 15 dias de
idade, em fase final de cura desta gengivite, o que se
parte quando retirados em tempo, isto é, antes de atin- evidenciou pela presença de faixa esbranquiçada na gen-
gir magreza excessiva. Baseado nos históricos dos reba- giva marginal, resultado de cicatrização e despigmen-
nhos e nos resultados de dosagens químicas de cobre tação. Nas fazendas indenes, em média, 7,8% tiveram
e cobalto em amostras de fígado de bovinos eoletadas essa gengivite "fisiológica" em tomo dos incisivos e 8,8%
em região de ocorrência de "cara inchada" no município ao nível dos premolares (Fig. 25). (Quadro 1)
de Jaciara, que revelaram valores baixos de cobre (To- Em bezerros de 7 a 60 dias de idade havía casos de
karnia et ai. 1971), tínhamos aconselhado, em setembro nliíase por larvas de Cochliorswia Jsominívoi'ax' na gen-
de 1972, em duas fazendas do município de Rondonó- giva marginal dos dentes incisivos, com úlceras e pro-
polis, a administração adequada de suplemento de cobre cessos inflamatórios reativos, presença de pus e às vezes
(150 g de sulfato de cobre para 30 kg de sal comum).
Nessas duas fazendas ocorre a "cara inchada" e um A identificação dos parasitas coletados durante o presente
número apreciável de bovinos de "sobre-ano" e adultos estudo foi feita pelo Dr. Laerte Grisi, Professor Assistente do Isis-
tituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de
apresenta mau estado de nutrição (Fig. 7), de modo que Janeiro.
Propriedades indenes
B.J. Rondonópolis o 6 1 22 4,3 31,8
Pm. 5 1 O 2 64 4,7 3,1
P1. 5 2 2 (1) O 13 15,4 15,4
S.Is. (campo) Torixoreu 8 (4) 5 (2) 2 (1) 56 12,5 17.9
D.A. Barra do Garças 1 3 O 64 15,6 4,7
Totais 12 16 5 219 7,8 8,8
Dentro de un, total de 1.957 bezerros examinados com 1 dia a 1 ano de idade, a gengivite paradentária fisiológica de dentiçho foi e0000'
trada somente em animais entre 5 a 60 dias de idade.
b Os números em parênteses indicam os casos de gengivito representados somente por congeatáo.
QUADRO 2. Incidência de enilase, por larvas de Coclilíomyia hominivorsx, na gengiva marginal dos
- dentes incisivo, nos bezerros examinados em Mato Grosso
Propriedades indenes
S.Ts. (campo) Torixoreu 53 O O
B.J. Rondonópobs 21 O O
Pui. 65 O O
P1, 13. O O
D.A. Barra do Garças 64 1 1,6
C. Rondonópolis 44 2 4,5
Totais 260 3 1,2
a Dentro de um total de 1.9.17 bezerros de ati 1 ano de idade examinados, a milase com presença de larvas na gengiva marginal dos dentes
incisivos foi encontrada somente em animais entre 7 e 60 dias de idade.
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Fia. 5. Bezerro, mestiço zepu, de 12 meses de Idade, com Fies. 4. Bezerro, mestiço zebu, de 6 meses de idade, com
"cara inchada", apresentando abaulamento bilateral da regido "cura inchada", evidenciada pelo abaulamento unilateral acen-
maxilar, na Faz. Bb., mun. Torixoreu, Mato Grosso. tuada na regido maxilar esquerda, na Faz. Bb., mui.. Torixoreu.
tecido necrótico, causando afrouxamento e perda de den. dos molarcs, constituindo nparentemente casos de cura
tes em 3,1% dos bezerros nesta faixa de idade nas re- de lesões paradentárias.
giões de "cara inchada" e 1,2% nas regiões indenes Num resumo sobre a incidência da "cara inchada"
(Quadro 2).
em 13 fazendas onde ocorre a doença (Quadro 3), agru-
Através do exame da cavidade bucal de bovinos nas pamos os bezerros examinados - clinicamente e alguns
diferentes fazendas verificamos a ocorrência e incidência também através de necropsia - de acordo com idade de
da "cara inchada", completando ou confirmando os his- aproximadamente 1 a 24, 25 a 60 dias, e 61 dias a um
tóricos obtidas sobre a doença (Quadro 3). Além do ano, pois vimos que a mesa dos dentes P. e E, maxi-
abaulamento uni ou bilateral da face na região ma- lares está livre de restos da mucosa gengival em animais
xilar (Fig. 3 e 4), mais raramente mandibular (Fig. 5), com cerca de 25 dias de idade (Fig. 24 a 27). Os be-
e mau estado de nutrição, nos bovinos de mais idade, zerros mais novos em que encontramos lesões iniciais
muitas vezes sem tumefação da face (Fig. 8), consta- da doença tinham pouco mais de 25 dias de idade. A
tamos cheiro desagradável pela boca nos animais com incidência de lesões da "cara inchada" em bezerros com
lesões peridentárias mais acentuadas, e movimentos va- 25 dias a 1 ano de idade foi bastante variável, sendo
zios de mastigação (Fig. 6). Essas lesões consistiram em a percentagem, nas diversas fazendas, em média de
bolsas peridentárias com material untuoso e de mau 0,0%. Na idade de 25 a 60 dias a percentagem dos
cheiro. Abaulamento da região maxilar observamos em bezerros afetados era em média de 1,9%.
bezerros a partir de 1 mês e meio de idade. Nos casos
incipientes percebia-se à inspeçâo e palpação que a por- No lote de 130 bezerros, em que no primeiro exame,
ção medial da papua interdentária entre os dentes 1'. e quando os animais estavam com 40 a 60 dias de idade,
E, maxilares se apresentava com ligeira depressão e amo- havia seis casos com lesões incipientes nítidas de "cara
lecimento, havendo às vezes presença de material vege- inchada", no reexame, quando os animais tinham 5 a 6
tal naquela região. meses de idade, só em quatro as lesõcs persistiram e
Durante o exame clínico do tecido paradentário de evoluiram. No mesmo lote, no entanto, cinco outros be-
bovinos com poucos meses a vários anos de idade obser- zerros estavam com a doença.
Fio. 7. Bovinos, mestiços zebsi, adultos, em mau estado de P,G. 8. Novilha, mestiço zebu, com 5 anos de idade, em mau
nutrição, numa fazenda de ocorrência da "cara Inchada", separa- estndo de nutrlçâo, cuja necropsia revelou lesões peridentárlas
dos a fira de serem levados a outra região para recuperação.o bilateiais de "cara inchada" ao nível dos dentes Mi e Mi ma-
transe da cavidade bucal de animais nessas condições, feito em xilares, na Faz. M.A., mun. Barra do Bugres, Mato Grosso
duas fazendas, no município de Rondonópolis revelou que 70% (Bou. 3335).
estavam copa lesões perideistárias de "cara inchada". -
vamos casos em que houve retração do bordo gengival Pelo exame clínico, e em alguns também através da
ao nível dos dentes maxilares P. e P. e também na altura necropsia, determinamos a localização das alterações
para e peridentárias da gengiva maxilar de 153 bovi-
• Neste trabalho, a nomenclatura Pi, P2 e Ps é usada para nos de diferentes idades (25 dias a 7 anos); afetados
denominar o, dentes premolares Es, P. e Es da terminologia filo-
genética empregada por outros autores, pois nos ruminantes os por lesões de "cara inchada", procedentes das 13 f a-
dentes Es premolares são rndimentare, (Nickel et ei. 1967). zendas acima mencionadas e de outras; em 00 bezerros,
Não é mencionado especialmente, nas descrições dos achados
clínicos, se se tratava de dentes deciduos ou persnanentes. Em com 1 a 7 meses de idade, lesões para e peridentárias
animais abaixo de 2 anos de idade, os dentes premolares eram somente foram encontradas ao nível dos dentes P. e
deciduo,, pois os bovinos completam a segunda dentição dos E, , com exceção de dois casos, em bezerros de 4 me-
premolare, na idade de 24 a 28 meses; os dentes Mi nasce m
com 5 a 6 meses, M. com 15 a 18 meses e M. com 24 a 28 ses, onde também o P. era envolvido; nos outros 63 bo-
meses (Becker 1970). vinos, de 8 meses a 7 anos de idade, foram encontradas
Pesq. agropec. bras., Sé,'. Vet., 9:63-85. 1974
"CARA INCHADA", DOENÇA PERIDENTÁRIA EM BOVINOS 11
10
11 12
Fsc. 9. Maxilares de bezerro, de 8 meses de idade, com la- Fio. 10. Num bovino com 18 meses de idade, após a perda
nível dos dentes Es e Es maxilares, medialraente bem visíveis dos dentes P. e Pi snaxilares do lado direito e de E5 maxilar
çáo de raízes dos dentes l'i, P. e Es maxilares, necropsiado no do lado esquerdo, houve cicatrização e permanecerasn bolsas
município de Joclora, Mato Grosso (Bov. 2695). peridentórios sosnente ao nível de Mi direito e Es esquerdo; caso
de "cara Inchada" necropsiado no municipio de Bana do Bis-
gres, Mato Grosso (Bov. 3333).
Fio. 11. Bolsas peridentórias bilaterais de "cara inchada" ao Fio. 12. Corte transversal dos maxilares do bovino 3444, ao
nível dos dentes E, e Es maxilares, medisslsnente bem visíveis nível dos dentes P. e Es, mostrando os bolsas peridentórias
(setas), es,
m, bezerro cosa 5 meses da idade, necroptlado no bilatetois da "cora inchada" com presença de fragmentos vegetais
município de Barra do Garças, Mato Grosso (Boi,. 3444). (setas).
dentárias da "cara inchada", muitas vezes com perda Bovino 2689, iémea, mestiço zebu, com 10 meses de idade. -
Procadência: Faz. J., mun. Jaciara, - Anamnese: está com
de dentes, em 33 deles (70%). "cara inchada". Observações clínicas em 17.7.69: magra, mu-
cosas róavas, abaulamento bilateral da região maxilar, mau cheiro
Observamos casos de bócio em bezerros recém-nasci- pela boca, sinais de diarréia. Sacrificado. - Achados de ne-
dos em regiões de ocorrência da "cara inchada", cropsia: maxilares com abaulamento ósavo bilateral; no lado di.
reito falta Pi e há uma bolsa peridentária entre Ps e Mi; no 3326, fêmea, mestiço zebu, com 8 meses de idade. - Prn-
lado esquerdo há duas bolsas ao nível de P2, Ps e Mi, sendo Pa cedência: Faz. S.J., anun. Bondonópolis. - Anamnese: está com
e Pa muito frouxos, com raízes expostas. Infestação leve por "cara incbada'". - Observações clínicas em 11 .4 . 72: magra,
Trichuris discolor.
pelo áspero, abaulamento leve na região maxilar direita. Sacri-
ficado. - Achados de necropsia: maxilares direito e esquerdo
Bovino 2692, fêmea, mestiço zebu, com 10 meses de idade. -
Procedência: Fax, J., onun. Jaciara. - Anamneae: está com "cara com bolsas peridentárias, afetando Pa, Ps e Mi com afrouxa-
inchada". - Observações clínicas em 17,7.69: magra, abaula. mento de Pa e Mi. Infestação moderada por Tricissiris sp.
mento da região maxilar esquerda, mau cheiro pela boca, sinais
de diarréia. Sacrificado. - Achados de necropsia: maxilar es- Bovino 3327, fênica, mestiço zebu, com 12 meses de idade. -
querdo com bolsa peridentária lateral ao longo de Ps, Ps e Mi Procedência: Faz. S,J., mun. Rondonõpulia. - Anamnese: eatá
com abaulamento óasen; mandíbula, ambos os lados, com bolsas com "cara inchada". - Obaervações clínicas em 11.4.72: ma-
peridentárias laterais com presença de material aecrótico ao ní- gra, pelo áspero, Sacrificado. - Achados de necropsia: faltam
vel de Es. Auaência de outras lesões. Es maxilares de ambos os lados, Ei, ri e Mi maxilares direitos
muito frouxos, bolsas peridentárias ao nível dos dentes afetados,
com exposição de raízes. Ausência de outras lesões.
Bovino 2695, fêmea, mestiço zebu, com 8 meaes de idade. -
Procedência: Faz, S.L. mun. Jaciara. - Anamneae: está com
ra inchada". - Observações clínicas em 18.7.69: magra, abau- Bovino 3328, fêmea, meatiço Nelore, com 2 meses de idade.
lamento bilateral na região maxilar, mau cbeiro pela boca. Sa- - Procedência: Faz. S. Is. (invernada), mun. Torixoren. -
crificado. - Acbados de necropsia: maxilar direito com bolsas fsnamneae: está com "cara inchada", - Observações clínicas
peridentária, medial e lateralmente ao nível de P. e P. com em 14.4.72: em bom estado de nutrição, com leve abaulamento
exposição de raízes; maxilar esquerdo com lesão semelhante, bilateral simétrico. Sacrificado. - Achados de necropsia: entre
afetando o tecido peridentário ao nível de Es, Pa e pequena parte Es e P. mazilares em ambos os lados, bolaa peridentária de
de p, (Fig. 9), Leve infestação por Ilaemonchus sisssilis, Coc'pe- bordos lisos, atingindo o osso alveolar, medialmente de mainr
ria punctafa e Oesophagostomum radlatun.,. extensão que lateralmente (Fig. 15). Ausência de outras lesões.
13
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Fie. 13 e 14. Preparação de macerado de parte dos ossos maxilares de bovino com 2 anos de Idade, afetado pela "cara incha-
da", apresentando no maxilar direito absorção óssea cloeolar m edialrnente ao alcei dos dentes Pa e Es, com exposição de raízes,
e no ,n,axilar esquerdo adicionalniessíe abaulamento ásseo lateral (Boe. 2703).
Bovino 2696, fêmea zebu, com 12 meses de idade. - Pro- Boeino 3329, fêmea, mestiço Nelore, com 2 meses de idade.
cedência: Faz. A.G., mun, laciara. - Anamnese: está com - Procedência: Faz. S. Is. (invernada), mun. Torixoreu. -
"cara inchada". - Observações clínicas em 18.7.69: abaula- Anamnese: animal de aspecto sadio. - Observações clínicas em
mento bílateral na região maxilar. Sacrificado. - Achados de 15.4.72: lesão bilateral sisaétrica na gengiva marginal dos ma-
necropsia: maxilar direito com bolsa peridantária medialmente xilares, medialmente entre Es e Es. Sacrificado. - Achados de
entre Es e P. e lateralmente ao longo de Es, Pa e Es; maxilar necropsia: entre I's e Ps maxilares, em ambos os lados, bolsa
esquerdo com bolsas peridentáries medial e lateralmente ao longo peridentária de bordos lisos, atingindo o osso alveolar, de maior
de Es e Es, com abaulamento ósseo bilateral; lado esquerdo da extensão na parte medial do que lateralmente (Fig. 16 e 17).
mandíbula com bolses peridentárias laterais ao nível de Pa e Es Ausência de outras lesões.
e em tomo de Is, I. e is, com exposição de raízes. Infestação
por Ifaemonelss,s contortus, Bunoston,ssm phlebotomuns e Trichuris Bovino 3331, fêmea, mestiço zebu, com 7 enns de idade. -
disco lor. Procedência: Faz. B., mun. Torizoreu. - Anamnese: passou para
invernada em novembro, 5 meses atrás; tem um bezerro de 7
meses; emagreceu; antes da parição estava gorda. - Ohserva-
Bovino 2703, macho, mestiço zebu, com 2 anos de idade. -
ções clínicas em 15.4.72: mau estado de nutrição. Sacrificado.
Procedência: Faz. SE., mun. Rondonópolis. - Anamnese: está
- Achados de necropsia: bolsas peridentárias em ambos os lados
com "cara inchada"; veio em dezembro de Coxim. - Obser-
ao longo dos premolares e molares maxilares, com exposição de
vaçõee clínicas em 20.7.69: abaulamento bilateral na região
raízes de dentes no lado direito; úlceras peridentárias semelhan-
maxilar, mau cheiro pela boca, sinais de diarréia. Sacrificado. - tes, ao nível dos premolnres e molares do lado esquerdo da
Achados de necropsia: maxilar direito com bolsa peridentária mandíbula. Infestação discreta por ilaemosschsss sp.
medial e lateralmente a Es e Es; maxilar esquerdo com bolsa
peridentária cons abaulamento ósseo, falta de Es e afrouxa- Bovino 3333, macho, mestiço zebu, com 1 ano e meio de
mento acentuado de Ps; lado esquerdo da mandíbuls com bolsas idade. - Procedência: Faz. S.R., mun. Barra do Bugres. - Ansm-
peridentárias ao nível de Pi, Es, Es e Mi, com abaulamento óaseo nese: algumas rezes emagrecem na época de chuva; foi-nos apre-
(Fig. 13 e 14). Lesões de febre aftosa cicatrizadas na base da sentado este animal que também emagreceu, - Observações clí-
língua; infestação leve por Hae,nonchu.s confortas, Cooperia pune. nicas em 18.4.72: estado de nutrição péssimo. Sscrificado. -
tata, Dicfyocaulsss vivipassss, com edema da mucosa do coagulador Achados de necropsia: leve abaulamento óaseo bilateral dos ma-
e duodeno.
xilares; Es e Es do snaxilar direito ausentes e bolsas períden-
16
Fio. 15 e 16. Bossa peridentdrias bilaterais sim4tricas da "cara inchada", visíveis medialmente ao nível dos dentes Ps e
Ps maxilares de bezerros, com 2 meses de idade, necropsiadosna Faz. 5h. (inveresada), nesse. Torixoreu, Mato Grossa; foram
retirados os fragmentos vegetais que estiveram no interior das bolsas peridentóries. (Soe. 3328 e 3329).
--
18 5:16 1 7:.._]
20 ff 1I1
III
21
Fia. 18. Presença de lesões inciraientes de "cara inchada" ana- Fac. 19. Após a retirada de fragmentas vegetais da bolsa peri-
dialmente entre os dentes Pc e P3 maxilares (setas), principal- dentária com0,9 coa de profundidade, entre os dentes P. e
mente no lado esquerdo, em bezerro com 1 mês de Idade maxilares do lado esquerdo, do bezerro com 1 mês de idade,
(Boa. 3409). vê-se que a lesão (seta) toma o lugar da porção medial da
papda interdcntária (Bov. 3409).
Fia. 20. Presença de bolsas peridentárias rnedialmente entre os Fio. 21. A bolsa peridcnta'rie medialmente entre os dentes P, e
dentes 1', e Pi maxilares (setas), de extensão maior e com Fi maxilares do lado esquerdo (seta) deste bezerro constit)ui
conteildo ca.seaso no lado direito, em bezerro com 45 dias de a lesão mais Incipiente, típica da 'eara inchada", que foi encon-
idade, afetado pela "cara inchada" (Boa. 3401). trada no presente estudo; a lesão é localizada e não há sinais
de isiflanusção na gengiva marginal dos dentes em enspção
(Boe. 3401).
monja verminótica com presença de poucos exemplares adultos em 30-9-72: estado de nutrição bom, conjuntiva róaea. - Sa-
de Dictyocasitus vivipanis, infestação acentuada por IIae,nonchsss crificado. - Achados de necropsia: maxilar direito com bolsas
si'nilL, e H. contortus e leve por Cooperia pussctata. peridentárias entre Pa, l's e Ms, sendo Ps muito frouxo; falta
Bovino 3413, fêmea, mestiço N'elore, con 2 anos e anelo de Ps maxilar esquerdo. Ausência de outras leaôes. Presença de res-
idade. - Procedência: Faz. Bc., num. Rondonópolis. - Anam- to do dente de leito P, mandibular esquerdo que, após ter so-
asse: animal escolhido para abate na fazenda; veio do Paraná frido a rizóliae da muda, ficou sob forma de capa sobre o dente
em maio de 1971 com 1 ano de idade. - Observaç6es clínicas pvnnanente que vinha se formando logo abaixo. -
Bovino 3414, fêmea, mestiço Nelore, com O meses de idade. chada'', por apresentar alteração incipiente de bolsas paraden-
- Procedência: Faz. Be., mun. Rondonópolis. - Anamnese: doen- tárias. - Observações clínicas em 4.10.72: estado de nutrição
te bá 4 meses, com diarréia; nasceu na fazenda. Observações bom. Sacnficado. - Achados de necropsia: fragmento de capim
clínicas em 30.9.72: magro, pelo arrepiado, conjuntiva róseo- enfiado na papila interdentária medial entra Es e Es do mazilar
pálida. Sacrificado. - Achados de necropsia: no maxilar direito direito; pequena úlcera superficial na papua interdentária medial
Ei frouxo e faltam P. e Es; no maxilar esquerdo Pi também entre P. e P. do maxilar esquerdo; em ambos os lados a gengiva
frouxo, falta P. e há medialmente bolsa peridentária ao nível de marginal neste local é retraida, principalmente no lado esquerdo
Es e Mi, com, abaulamento ósseo do maxilar esquerdo; mandí. (Fig. 22 e 23). Ausência de outras lesões.
bula com bolsa peridentária medial ao nível de P. e Mi. lIe-
mossiderose leve de linfonodos, infestação leve por tlaensonchsss Bovino 3417, fêmea, mestiço Indubrasil, com 4 anos de idade.
similis, 11. confortos, Cooperia punotate, Bunoatonstssn sp. e Tri- - Procedência: Faz. S.A.J.. mun. Rondonópolis. - Anamaese: o
churis sp. animal, nascido na fazenda, tem emagrecido desde maio. - Ob-
servações clínicas em 4.10.72: muito magro, com escaras cutá.
Bovino 3415, macho, mestiço Nelore, com 2 anos de idade. neas. Sacrificado. - Achados de necropsia: maxilar esquerdo
- Procedência: Faz. SE., mun. Bondonópolis. - Aoamnese: o com Es e Mi frouxos, piorréia alveolar e retração gengival; bis
animal tem sido separado por ser afetado pela "cara inchada"; mandibular direito frouxo, piorréia alveolar. Hemossiderose leve
deitou-se por fraqueza. - Observações ciloicas em 2.10.72: ma- de linfonodos, infestação leve por Dictyocaolsss viviparus, Hae-
snonch,ss similis e Trichuris sp., numerosos nódulos parasitários
gro, tumefação bilateral na região maxilar, mucosas róseo-pálidas. na parede do intestino grosso.
Sacrificado. Achados de necropsia: maxilar direto com Pi, P. e
E, frouxos; maxilar esquerdo com Ei e E5 frouxos, faltando E5, Bovino 3418, macbo, mestiço Nelore, com 14 meses de idade.
com grande bolsa periderstária ao nível de Mi esquerdo e medial. - Procedência: Faz. S.M.J., mun. Rondonópolis. - Anamnese:
PZIA 23
Fio. 22. Lisa fragmento eegetal penetrou na porção medial da Fac. 23. No lado esquerdo do maxilar, ess, local correspondente
papila jnteçdentdrie entre os dentes Es e E, snasitares do lado ao mostrado na Flg. 22, há uma pequena úlcera superficial
direito (encaixe da figura) de bezerro coas 1 mês de idade; (seta) e uma leve depressão na pepita interdentdriss, de coaria-
retirado o eegetal, vê-se a pequena abertura provocada na papUa tência mole, ao ponto de fonnar ama bolsa Incipiente
cuja mucosa, pouco resistente à palpação, cedeu a esse trauma (Doo. 3416).
(Doe. 3416).
mente ao nível de Mi direito. Pequenas áreas de broncopneumo- o animal começou a emagrecer há 4 meses. - Observações clí-
nia vvrminótica com presença da alguns exemplares adultos de nicas em 5.10.72: muito magro, pelo áspero, conjuntiva róseo-
Dictwocaulus eiviparus, infestação leve por Iíaenaonchos sp. e pálida. Sacrificado.— Achados de necropsia: retração cicatricial
l'riclsuris sp. da gengiva lateralmente ao nível de Es e Es do maxilar direito;
P. mandibular direito frouzo com piorréia alveolar e bolsa peri-
Bovino 3416, fêmea, mestiço Nelore, com 1 mês de idade. - dentária, estendendo-se medialmente a Pa; falta E2 mandibular
Procedência: Faz. SAL. mun. Rondonópolis. Anamnese: o esquerdo, Es do mesmo lado frouxo com piorréia alvenlar. mIes-
animal foi selecionado, para necropsia, de bezerros submetidos tação leve por Dictyocaulus viviparus, Haemonchus similis, Co
a exame da cavidade bucal e afetados por lesão de "cara in- operia punctata, C. pectinata e Trichuris sp. - -
Bovino 3419, macho, mestiço Nelore, com 1 ano da idade. - nutrição péssimo. Sacrificado. - Achados de necropsia: bolsas
Procedência: Faz. S.M.J.. mun. Rondonópolis. - Anamneae: o peridentárias medial e lateralmente de P, e Pi maxilares em am-
animal eatá magro desde a idade de 5 meses; está com "cara bos os lados. Ausência de outras lesões.
inchada". - Observações clínicas em 5.10.72: magro, pelo ás'
pero, tumefação bilateral, dura à palpação, nas regiões maxilar A lesão que caracteriza a doença consistiu em altera-
esquerda e mandibular direita (Fig. 5). Sacrificado. - Achados
de necropsia: no maxilar esquerdo bolaa peridentária no local ções para eperidentárias, iniciando-se com a formação
da porção medial da papila interdeotária entre I's e Pi, com de pequenas bolsas na gengiva marginal, a principio sem
abaulamento lateral do naso maxilar; no lado direito da man' reação inflamatória aparente (Fig. 21), mas seguida
díbula falta Mi e há piorréia, estendendo-se a Ps, com abaula'
mento óaseo lateral acentuado e fistulaçâo. Infestação leve por de acúmulos de fragmentos alimentares nestes defeitos
Dictsjocaulus eieiparus, Cooperie psinctata, C. pectisiata e Bustos' com alargamento e afundamento da bolsa (Fig. 15, 16
Comum plslebotomum. - e 19). O osso alveolar, que inicialmente não é afetado,
Bovino 3420, fêmea, mestiço Gir, com 2 anos e 3 meses de sofre de reabsorção pelo processo inflamatório (Fig.
idade. - Procedência: Faz. V.G., mun. Poxoreu. - Anamnese: o 12 e 13) o que pode conduzir à piorréia alveolar, tradu-
animal, nascido na fazenda, emagreceu durante os últimos o zida pela presença de material untuoso de mau cheiro
meses, com diarréia. - Observações clínicas em 6.10.72: magro,
pelo áspero, mucosas róseo-pálidas. Sacrificado. - Achados de no fundo da bolsa peridentária. Com o desenvolvimento
necropsia: maxilar direito com bolsa peridentária lateralmente ao deste processo - de periostite alveolar purulenta, as raízes
nível de Pa, Mi e Mi e medialmente entre P. e Mi; maxilar dos dentes ficanÇ expostas e há afrouxamento e perda
esquerdo com lesão semelhante medialmente entre Pa e Mi; no
lado direito da mandíbula há bolsas peridentárias medial e late- dos mesmos (Fig. 9 e 10). A reabsorção óssea no alvéo-
ralmente ao nível da Mi e entre Mi e Mi; no lado esquerdo lo leva freqüentemente a uma remodelação óssea ou seja
falta Pi e há bolsas peridentárias e úlceras profundas ao nível
a uma periostite crônica ossificante que é responsável
de P. e Mi medial e lateralmente e da Mi medialmente. Ausência
de outras lesões. pela tumefação da face, dando à doença o nome vulgar
de "cara inchada" (Fig. 3, 4, 5 e 14). Em caso de
Bovino 3421, fêmea, mestiço Nelore, com 5 anos de idade.
- Procedência: Faz. V.G., mun. Pozoreu. - Anamneae: o ani- queda de dentes, a lesão é geralmente preenchida por
mal nasceu na fazenda, está magro. - Observações clínicas em tecido conjuntivo e há cicatrização (Fig. 10).
7.10.72: mau estado de nutrição, incbação na regido maxilar
direita, dura à palpação. Sacrificado. - Acbadoa de necropsia: Estas lesões eram na maioria dos - casos bilaterais, e
P. e M. do maxilar direito com bolsa peridentária medial e muitas vezes simétricas, o que era mais evidente nos ai-
lateralmente, abaulamento óaseo; bolsa menor medial e lateral.
mente ao nível de M,s e Mi do maxilar esquerdo; bolaas peri' mais jovens até poucos meses de idade (Fig. 11, 15 e
dentárias mediais e laterais ao nível de Mi mandibular de ambos 16).
os lados. Hemosaideroae moderada em linfonodos, calcificação
moderada subendocárdica da aurícula esquerda e na média da Dos 30 bovinos necropsiados e afetados por lesões de
aorta. "cara inchada", 15 (50%) mostraram lesões para e peri-
dentárias maxilares e mandibulares, ao passo que os ou-
Bovino 3425, macho, mestiço Gir, com 2 anos e meio de
idade. - Procedência: Faz. S.M., mun. Rondonópolis. - Anam- tros 15 animais tiveram somente o para e peridêncio
sacie: é um dos casos de emagrecimento que ocorrem nos bovinos maxilar afetado (Quadro 4).
da fazenda. - Observações clinicas em 9.10.72: muito magro,
pelo áspero, pequena inchação na região maxilar direita, movi- Não se verificou à necropsia alteração nos próprios
n'entoa vazios de mastigação. Sacrificado, - Achados de ne- dentes dos bovinos afetados pela doença, a não ser falta
cropsia: maxilar direito com bolsas peridentárias ao nivel de
1': e Ps bem como de Mi e Mi, medial e lateralmente, afrouxa- de desgaste pela insuficiência de mastigação em conse-
mento de Mi e piorréia alveolar; maxilar esquerdo com bolsas qüência de afrouxamento e perda de dentes.
peridentáriae lateralmente a l's, Pa, Mi, Mi e Mi com afrouxa-
mento de Ma e piorréia alveolar; lado direito da mandíbula com Fizemos um exame anatômico da cavidade bucal de
bolsas peridentájias ao nível de Mi e Mi, medial e lateralmente; cinco bezerros sadios com 14 (dois), 17, 21 e aproxi-
lado esquerdo com bolsas semelhantes na altura da Mi e Mi. madamente 30 dias de idade (Bov, 3122, 3123, 3125,
Hemosaideroae em linfonodos, infeatação discreta por Vice sjocoulus
eic*parus, infestação moderada por Mammomotiogamus laryngeu.s, 3127 e 3424), a fim de estudar a erupção dos dentes
Haemonchus airoilis, H. contortus e leve por Cooperai punetata. premolares maxilares de animais oriundos de fazendas
indenes de "cara inchada". Verificamos que nos bezer-
Bovino 3444, fêmea, mestiço Nelore, com 5 meses de idade.
- Procedência: Faz. N.V., mun. Barra do Garças. - Anamnese: ros com 14 e 17 dias de idade, os dentes ainda não ti-
está com "cara inchada". - Observações clínicas em 26-3-73: nham rompido e cortado completamente a mucosa da
magro, pelo áapero, inchação bilateral moderada na região ma- papua interdentária entre os dentes P e P. maxilares
xilar, dura à palpação; morreu em experimento com planta tó-
xica. - Achados de necropsia: bolsas peridentárias mediais e la- (Fig. 24 e 25), localização predileta para a instalação
terais ao nível de Pi e I's maxilares de ambos os lados preen- da lesáo inicial da "cara inchada". No bezerro
chidas de fragmentos vegetais, abaulamento bilateral dos ossos com 17 dias de idade (Bov. 3125) vimos o resto
maxilares (Fig. 11 e 12). Ausência de outras lesões.
da mucosa gengíval que estava sendo cortado pelas cris-
Bovino 3467. macho, Gir, com 10 meses de idade. Prece- tas mediais dos dentes P. e P. maxilares e também a
dência: Faz. S. In. mun. Rio Verde. - Anamnese: está com gengivite marginal "fisiológica" (Carlick 1954, Wan-
"cara inchada", Observações clínicas em 15.6.73: muito magro,
pelo áspero, inchação bilateral na região maxilar, dura à palpação. nenmacher 1941) medialmente ao nível de r,,
1', e so-
Sacrificado. - Achados de necropsia: Pa e P, maxilares de ambos bretudo E, (Fig. 25). No bezerro com 21 dias de idade
os lados frouxos com piorréia alveolar, abaulamento óaseo lateral (Bov. 3127) encontramos nessa papila interdentária, no
nos locais correspondentes; bolsas peridentárias medial e lateral-
mente ao nível de Pi e P. mandibulares em ambos os lados. lado esquerdo, uma erosão (Fig. 26), evidenciando o
Ausência de outras lesões. trauma a que essa porção do paradêncio está sujeita pela
pressão que a crista medial e a mesa dentária do dente
Bovino 3468, macho, mestiço Nelore, com 10 meaes de idade.
- Procedência: Faz. B.V., mun. Coxim. - Anamneae: está com P. mandibular exercem, através da mastigação de ali-
"cara inchada". - Observações clínicas em 15.6.73: estado de mentos, sobre este local (Fig. 28). Pelo exame macros-
cópico do paradéncio maxilar do bezerro com 30 dias gico dos outros órgãos coletados durante as necropsias.
de idade (Bov. 3424), verificamos que a porção me-
dial da papua interdentária mostra a presença de tecido Histologia do para e peridncio de bovinos de con-
conjuntivo fibroso firme, preenchendo completamente este trole. Foram examinados fragmentos da gengiva margi-
local com epitelização da superfície ondulada (Fig. 27). nal medial ao nível dos dentes P. e P. maxilares de
24 25
I'I.1 27
Fio. 24. Os dentes premolares do lado esquerdo, em enspção, Fio. 25. A gengiva maxilar de bezerro com 17 dias ce idade,
de bezerro sadio com 14 dias de idade, procedente de região procedente de região indene, Estado do Rio de Janeiro, durante
indene de "cara inchada", Estado do Rio de Janeiro; vê-se que a erupção dos dentes apresenta lesões de gengivita marginal
a porção medial da papua intardentária entre E, e Es (seta) "fisiolóeica" ao nível dos dentes E5, 1', e sobretudo de Es,
forma-se nesta idade quando a mucosa gengival está sendo ande se observa um aspecto granuloso da gengiva marginal com
cortada pelas cristas dentárias (Bos. 3122). congestão periférica ( seta) (Bov. 3125).
Fio. 26. A porção medial da papua interdenídria entre os Fio. 27. Na. bezerro sadio, com 30 dias de idade, procedente
dentes Es e Es maxilares (seta) em bezerro sadio, com 21 dias de fazenda indene em Mato Grosso, a papua interdentdria entre
da idade, procedente de região Indene, Estado do Rio de Ja- os dentes E. e Es maxilares (seta) no hsdo direito e a gengiva
neiro, evidencia, pela aparência irregular de sua superfície, as marginal medial ao niael de Ps, também apresentam-se da
conseqüências de troumtss, resultando em processos regenerativos superfície inegular, tendo estes tocais sido finnes à palpação,
e reparativos dos tecidos coniuntivo e epitelial na fase de erupção o que demonstra a grande capacidade regeneradara de tecidos
e crescimento dos dentes (lloo. 8127). sadios nesta região (Boi,. 3424).
29 30
3'
Fia. 29. Bolsa ptsradentdría incipiente com úlcera e processo Fio. 30. Infiltração linfo-plasmocirdria e polisnorfonucleas' no
inflamatório purulento na porção medial da papua interdentória tecido conjuntivo subepitelial da gengiva marginal da bolsa para-
ao nível de P. e Pá maxilares esquerdos (Doe. 3416, compare dentária Incipiente da Flg. 29 (Boa. 3416. SAI' 20944).
Fig. 23), fiE., oc. 10, olij. 4. 11.-E., oc. 10, obj. 25.
Fio. Si. Ersndato purulento na permeio de restos epiteliais na Fio, 32. Bactérias no permeio do exsudato inflamatório na
bolsa peradentárla da Fig. 29 (Boa, 3416, SAI' 20943). bolsa paradentária mostrada nas Fig. 29 a 31, agravando a
11.-E., oc. 10, 0W. 25. processo patológico (Boa. 3416, SAP 20943). Cram-Welgert,
- oc. 10, obj. 100.
Bovino 3424, macho, mestiço Cir, com 30 dias de idade sença de bnlaa paradensária 1 incipiente, proliferação epitelial
(SAP 21246» paradéncio medial entre 1', e P. maxilares es- com acantose e aqueratoae, tecido conjuntivo subepitelial frouxo
querdos (Fig. 27) com tecido conjuntivo frouxo e infiltração e relativamente pobre em feixes colágenos e fibroblaatos, e com
sub e intraepitelial por sseutrófilos polimorfonucleares e linfó- infiltração leve por neutrófilos polimorfonucleares e presença de
citos; focos perivasculares de infiltração linfoeitária com pre- poucos linfócitos e plasinócitos, nesta área; a técnica de Gram-
sença de alguns polimorfonucleares. Infiltração polimorfonuclear Weigert não xevela presença de germes; material PAS positivo
com aqueratose e necrose na superfície do epitélio da gengiva que desaparece com tratamento por amilase salivar, na periferia
marginal. Observam-se sinais de intensa atividade fibro e angio- das células epiteliais das camadas superticiais do epitélio proli-
bláatica. Há material PAS positivo nas camadas superficiais na ferado, incluindo parte superficial do eatrato espinhoso. - Para-
dêncio papilar medial de Pa e P, maxilares direitos (Fig. 20.
extremidade do epitélio do sulco gengival. Presença de germes SAP 21036-37): presença de pequena bolsa paradentária com
Cram positivos na superfície do epitélio da gengiva marginal. - epitelização deficiente, aqnerstnse e vacuolização do epitélio si-
Paradéncio medial ao nível de P. maxilar esquerdo (SAI' 21295): tuado na margem da bolsa; congestão, edema, proliferação ca-
presença de tártaro entre a membrana paradentária e o esmalte. pilar e infiltração acentuada por neutrôfilos polimorfonucleares
Tecido conjuntivo fibroso denso não epitelizado no fundo do no tecido conjuntivo e interepitelial na periferia da bolsa. (Fig.
sulco gengival. 33, 34 e 36). Na superfície do epitélio de gengiva marginal há
1•
33
34
35 36
Fio. 88. Cengiee marginal da periferia de bolsa paradentária Fio. 84. Aumento maior de parte do campo de Fig. 33, mos-
isscipíente ao alcei da porção medial da papua interdentárie entre trando infiltração linfocitdria e poliissorfonuclear no tecido con-
Ti e Es maxilares direitos (compare Fig. 20 e 21) caos infil- juntivo aubepiteliel frouxo (Bov. 3401, SAP 21036). 11-E.,
tração inflamatória do tecido conjuntivo gengis,al (Boe. 3401, oc. 10, obj. 25.
SAI' 21036). 11.-E., oc. 10, obj. 4.
Peo. 35. Bolsa paraderstária ao nível da porção medial da pa- Fio. 86. Exsudato punstessto sobre tecido conjuntivo colágeno,
gila interdentárla entre E. e Ti maxilares direitos (compare relativamente íntegro, isa profundidade da bolse paradentária ao
Fig. 18), com infiltração inflamatória acentuada do tecido coas- ativei da porção medial da papita interdentária entrs Es e Ti
juntivo gangivel (llov. 3409, SAP 20977). 11.-E., oc. 1, obj. 4. maxilares direitos (compare Fig. 20) (Bnv. 3401, SAI' 21037).
11.-E., oc. 10, obj. 25.
Bovino 3416, fêmea, mestiço Nelore, com 1 mês de idade. no permeio de numerosos osteoblastos (Fig. 40 e 42). Na pro-
Paradêncio da porção medial da papua interdentária entre Es e fs,ndidade da bolsa, ao nível cIo ápice da raiz dentária, os osteo-
Es maxilares esquerdos (Fig. 23, SAP 20943-44): bolsa para- clastos são mais numerosos e o processo inflamatório crônico re-
dentária incipiente, proliferação epitelial com acantote, presença
de pequena úlcera e infiltração focal acentuada por neutrófilos
polimorfonucleares, com alguns entinófilos - na superfície da le-
são, edema e infiltração polimorfonuclear subepitelial discreta na
sua periferia, e congestão moderada; material PAS positivo nas
camadas superficiais do epitélio proliferado. Presença de colônias
bacterianas Grasn positivas na superfície do epitélio da gengiva
marginal e no exaudato fibrino-purulento da bolsa paradentária.
(Fig. 29 a 32) Paradêncio ao nível de Ps mexilar esquerdo
(Fig. 23, SAP 20988-89): ausência de alterações na porção
anterior; proliferação epitelial com presença de material PAS
positivo conjuntivo paradentário na porção posterior do dente.
- Paradêncio papilar medial de P2 e P. maxilares direitos (Fig.
22, SAI' 20987): alguma proliferação epitelial com acantose,
aqueratose e presença de material PAS positivo nas camadas su-
perficiais; infiltração polimorfonuclear e linfocitária modgrada
do tecido conjuntivo paradentário. - Paradêncio medial e lateral
ao nível de P. maxilar esquerdo (SAI' 21294): ausência de
niterações; observa-se nitidamente a presença da cuticula (Fig.
37).
39
40
41 42
FIO. 39. Destruição de cemsnto e dentina de dente P. maxilar Fio. 40. A peridentite purulenta (à esquerda) resulta em des-
em conseqüéncia do processo Inflamatório e da ação de células truição de trabécula.s ósseas alceolares (setas pretas) e aposição
gigantes multimscleadas na profundidade de bolsa peridentária lateral de substância éssea (seta branca) através da oateíte crô-
(Bom,. 3444, SÃ? 21084), 11.-E., oc. 10, obj. 10. nica ossi/icante, ao nfeel dos dentes Pá e Pa maxilares (Boa.
3444, SÃ? 21083), 11.-E., oc. 1, obj. 4.
Fio. 41. O processo inflamotório purulcsst o peridentdrlo (qua- Fio. 42. Aumento maior da parte superior da Fig. 40 deixe
drante superior esquerdo) causa destruição dssea pela ação de reconhecer melhor e presença de osteoclastos (quadrante infe-
osteos,lastos e fibrose na profundidade da bolsa peridess-' nor esquerdo) e a aposição óssea lateral pela reação do pe-
tária (Boe. 3444, SAP 21083). 11.-E., Pc. 1, obj. 4. rlósteo (metade superior) (Boe. 3444, SÃ? 21083).
11.-E., oc. 10, olsf. 10.
Boeino 3419, macho, mestiço Nelore, com 12 meses de idade. chada" mostra depressão ao nível da raiz e que há
Paradêncio medial ao nivel de P. maxilar direito, onde havia
retração da gengiva marginal (SAP 20862): leva infiltração lin- falta de substância óssea alveolar entre P5 e Ps (Fig.
fo-plasmocitária e polimorfonuclear na região do sulco paraden- 43).
tário, onda há também alguma congestão.
Bovino 3420, fêmea, mestiço Gir, com 2 anos e 3 meses da Discussio x CONCLUSõEs
idade. Paradêncio medial ao nivel de Mi mandibular direito (SAP
20758): proliferação do epitélio gengival com alguma degenera- Pelos resultados dos estudos clínicos e anátomo e his-
ção vesicular do mesmo; infiltração linfo-plasmocitária e polimor. topatológicos verificamos que a "cara inchada" dos bo-
fonuclear de intensidade variável asa margem da bolsa paraden-
tária; infiltração hinfocitária perivaacular no permeio do tecido vinos, no seu estado adiantado de evoluçáo, é uma do-
soajuntiva cnlágeno da gengiva marginal. ença que se caracteriza por um processo de peridentite
M1
%7
Ttd't
- PSOV 31329
PI Pa P3
Porção teMi-
fl ri o ausente no
bovo in 3329.
(n
í_~ 60V. 107/72
(controle)
Tia. 43. A radiografia de, maxilar direito do bovino 3329 evidencia unia depressJr, na raiz do dente P,,
cixinho à bolsa perideniária, e ?i4 falta de substância óssca alveolar entre Pc e Ti; o bovino 3328 çnostrou,
alteraçâo radiográfica semelhante (compare Fig. 15 a 17).
purulenta e periostite crônica ossificante, resultando em da cavidade bucal, realizado em 1.486 bezerros até 1
afrouxamento e perda de dentes premolares e molares. ano de idade (Quadro 3), foram dois bezerros com
Não encontramos lesões macro e microscópicas constan- idade de 1 mês (Bov, 3409 e 3416) e um com idade
tes ou dignas de nota em outros órgãos, n não ser uma de 45 dias (Bov. 3401); encontramos esses casos pela
leve a moderada hemossiderose esplénica em 5 dos 20 inspeção e palpação da gengiva marginal, tendo dado
bovinos necropsiados com mais de 8 meses de idade, especial atenção à papila interdentária entre os dentes
afetados pela doença. e P. maxilares. Os locais lesados da gengiva marginál
Estudamos a "cara inchada" em fazendas situadas em apresentavam-se com ligeira depressão e amolecimento.
Mato Grosso, distantes em linha reta até 850 1cm uma A lesão incipiente localizou-se, em geral bilateralmetite,
da outra. A "cara inchada" ocorre nessa imensa região sempre entre os dentes P. e P. maxilares; com a erupção
dentro de certas áreas, e nessas nem todas as fazendas dos dentes molares (M1, M, e M3) a lesão pode ins-
são afetadas; foi observada em bovinos zebu e mestiços talar-se também ao nível deles (Quadro 4). Muitas
zebu, de ambos os sexos. vezes as lesões são simétricas (Fig. 11, 15 e 16).
Na procura de lesões incipientes da doença encontra- Como se deve imaginar a patogênese da doença? In-
mos casos de gengivite marginal em bezerros entre 5 e 60 formações obtidas dizem que bovinos, com idade aci-
dias de idade, tanto nas fazendas de ocorrência da "cara ma de 2 anos e meio, introduzidos nas fazendas de ocor-
inchada" como nas propriedades indenes (Quadro 1). rência da "cara inchada", não são afetados pela doen-
Devemos inter retar essa gengivite marginal como sen- ça. Pelos exames clínicos de bovinos adultos, em três
do "fisiológica' em conseqüência da erupção dos den- das fazendas, achamos lesões da "cara inchada" em seis
tes, como também foi observado no homem (Garlicic animais com 5 a 7 anos de idade somente ao nível de
J954, Mutschelknauss 1968, Wannenmacher 1941). 1v1 a M. maxilares. Averiguamos que os animais desse
Encontramos processos inflamatórios purulentos ulce- lote foram trazidos de fazendas indenes, com idade de
rativos na gengiva marginal dos dentes incisivos de be- 2 a 3 anos, O conjunto de dados indica que a lesão
zerros entre 7 e 60 dias de idade, em média de 2,7%
dos bezerros examinados, com presença de larvas de
Cochliomyia hominivorax (Quadro 2). A miíase foi
z ridentária da "cara inchada" se inicia no paradêncio
s dentes em erupção. Assim Glickman (1967) diz que
se considera como fator etiológico local na doença peri-
responsável pelo afrouxamento e perda de dentes incisi- dentária humana o trauma da erupção dos dentes.
vos desses animais. Como encontramos a miíase gengival A lesão mais incipiente de "cara inchada" encontra-
em bezerros de fazendas em que ocorre a "cara incha- mos no paradêncio dos bovinos 3401 e 3416 com 45 e
da" e também em propriedades indenes e sendo a sua 30 dias de idade (Fig. 20 a 23). A porção medial da
localização somente ao nível dos dentes incisivos, pode- papila interdentária entre os dentes P. e P. maxilares
se concluir que não é um fator correlacionado com a perdeu a ligação, no seu ápice, com a superfície desses
incidência da "cara inchada" dos bovinos. dentes e houve uma depressão e amolecimento da papila
Os bovinos mais jovens em que encontramos lesões in- com formação de bolsa paradentária, permitindo a en-
cipientes da "cara inchada" através do exame clínico trada de fragmentos vegetais e formação de pequenas
úlceras naquele local. Lesâo mais adiantada com esta qüente fibrose na profundidade da bolsa, e periostite
localização vimos no bovino 3409, de 1 mês de idade, ossificante (Fig. 29 a 31, 33 a 36, 30 a 42); assim
no qual toda a porção medial da papila interdentária desenvolve-se um quadro de piorréia com exposição de
era tomada por uma bolsa profunda, peridentária, cheia raízes e afrouxamento e perda de dentes, o que per-
de fragmentos vegetais (Fig. 18 e 19). Bolsas periden- mite cicatrização parcial ou total da úlcera deixada pela
tárias semelhantes, porém de maior extensão, observamos queda dos mesmos (Fig. 9 e 10). A observação da ce-
nos bovinos 3328 e 3329 com 2 meses e no bovino 3444 mentoclasia e destruição de dentina ajuda a explicar
com 5 meses de idade (Fig. 11, 12, 15 e 16). Essas o fato de que nos exames radiológicos encontramos de-
bolsas maiores e mais profundas atingiram a base óssea pressões ao nível das raízes dos dentes E, e P, maxi-
e resultaram da destruição dessa porção do osso alveo- lares (Fig. 43).
lar (Fig. 17). A lesão nestes casos era bilateral, simé- Vimos que os bovinos podem ser afetados por altera-
trica, com pequena variação na sua intensidade entre ções paradentárias da "cara inchada" a partir de apro-
os dois lados. No bovino 2695, com 8 meses de idade, xhnadamente 1 mês de idade. As informações obtidas e
a lesão bilateral alastrou-se oralmente e causou exposição as nossas próprias observaçóes indicam que a doença
das raízes dos dentes P. e também Es e E, maxilares não constitui problema quando bovinos adultos são trans-
(Fig. 9). O bovino 3333, com 1 ano e meio de idade, feridos, de fazendas indenes, às regiões de ocorrência da
chegou a perder os dentes E, e E8 maxilares direitos e "cara inchada". Pelos exames clínicos em bezerros de
P. maxilar esquerdo (Fig. 10). No bovino 3335, com 25 dias a 1 ano de idade, verificamos que a doença teve
5 anos de idade (Fig. 8), os dentes M, e M. maxilares uma incidência em média de 6%, atingindo 22,6% numa
de ambos os lados estiveram muito frouxos e com expo- propriedade (Quadro 3), Pode-se esperar, porém, uma
sição de partes das raízes. Em alguns animais observa- incidência maior,porque grande número dos animais
'nos movimentos vazios de mastigação quando os dentes tinha, por ocasião do exame, menos de 2 meses de ida-
ficavam frouxos (Fig. 6). de; através do reexame de um lote de bezerros que no
Pelo conhecimento da evolução da lesão, inicialmente primeiro exame, feito quando os animais tinham 40 a
no paradêncio e em seguida na membrana peridentária 60 dias de idade, vimos que aos 4 a 5 meses de idade
e no osso alveolar, pode-se deduzir que o processo in- a incidência da doença tinha aumentado em 50%.
flamatório evolui para uma periostite crónica ossificante Nos bovinos, de poucos meses a vários anos de idade,
e conseqüente abaulamento ósseo uni ou bilateral dos nos quais encontramos retração da gengiva marginal ao
maxilares (Fig. 3 e 4). Às vezes, quando a mandíbula nível dos dentes P. e P. premolares e nos molares, houve
também está comprometida, resulta a periostite em de- aparentemente reparação de um processo inflamatório
formações da face bastante irregulares (Fig. 5). resultante da formação de bolsa para ou peridentária.
O estudo histopatológico mostra que alterações infla- Pode-se perguntar se a muda dos dentes premolares
matórias, no estádio inicial da "cara inchada", são muito tem alguma influência no desencadeamento de lesões da
leves e comparáveis, na sua intensidade, com as altera- "cara inchada". Encontramos na necropsia do bovino
ções "fisiológicas" observadas na erupção dos dentes. 3413 o dente E, mandibular esquerdo em muda, consti-
Através do exame da gengiva marginal de bezerros tuindo o P. de leite somente uma capa sobre o dente
sadios, procedentes de fazendas iodenes, com 14, 17, 21 permanente, protegendo de certa forma a sua gengiva
e 30 dias de idade, verificamos que os dentes P. e P. marginal. A muda dos dentes 1', maxilares e mandibu-
maxilares estiveram descobertos da mucosa gengival a lares se dá nos bovinos com 24 a 28 meses, de E, com
partir de aproximadamente 3 semanas (F'ig. 24 a 27). 24 a 30 meses e de P. com 28 a 34 meses de idade
A papila interdentária entre E, e E, maxilares encontra-se (Becker 1970). Esse período de muda cai, em parte,
em formação nesta idade e o paradêncio neste local na faixa de idade em que os bovinos não são mais sus-
particular está em fase de regeneração e reparação após ceptíveis à "cara inchada" (acima de 2 anos e meio).
pequenos traumas sofridos durante a erupção dos dentes A muda dos dentes premolares assim parece não ter
de mesa dentária larga. Pela posição do bordo medial grande influência no aparecimento de lesões da doença.
dos dentes P. e P. mandibulares (Fig. 28) o alimento
vegetal é prensado especialmente contra a porção me- Provavelmente há destruição de gérmens dentários em
dial da papila interdentária entre E8 e P. maxilares du- processos inflamatórios peridentários acentuados da do-
rante a mastigação. Ilistologicamente observam-se, en- ença, o que implicaria na falta da formação dos dentes
tão, neste local, sinais de grande atividade fibroblástica, premolares permanentes.
leve infiltração inflamatória e epitelização ainda def i- As fazendas onde diagnosticamos a "cara inchada"
ciente - no rebanho bovino estão sitoadas em certas regiões re-
Chama a atenção, nos casos de "cara inchada", a lativamente baixas, com terras férteis de aluvião, loca-
proliferação do epitélio gengival em direção à raiz para lizadas muitas vezes nas proximidades de rios, com pas-
dentro da bolsa peridentária (Fig. 38), sendo a pre- tos formados principalmente de capim-colonião (Parri-
sença de glicogênio nos espaços intercelulares e nas ce- cura maxinaurn) (Fig. 1 e 2). Não observamos a doen-
lulas epiteliais das camadas superficiais evidência de sua ça em propriedades situadas em áreas vizinhas mais
atividade na proliferação e diferenciação (Falin 1961). elevadas e com vegetação de cerrado. A doença ainda
Uma infiltração mais acentuada por neutrófilos polimor- foi observada em uma ilha do Rio Paraguai e mais rio
fonucleares e por elementos linfo-plasmocitárlos indica abaixo em sua margem, com pastagem nativa.
o desencadeamento do processo inliamatório em conse-
qüência da presença da bolsa paradentária que atinge Não encontramos, através dos nossos estudos anátomo
rapidamente o peridêncio, resultando em periostite alveo- e histopatológicos, indícios de que necrobacilose tivesse
lar purulenta, cementoclasia, osteoclasia, formação de um papel etiológico no quadro anatomo-clinico da cara
fístulas na mandíbula, proliferaçáo conjuntiva e conse- inchada" como sugeriram Giovine et ai. (1943).
Não encontramos na literatura referência a doença • reparação conjuntiva deficientes, durante a erupção
eridentária em bovinos que coincida com a forma da • o crescimento de dentes, por fator ou fatores ligados
'cara inchada" por nós estudada em Mato Grosso. à alimentação; surgem então alterações patológicas no
Cutress e Ludwig (1969) fizeram uma revisão de lite- paradêncio e na inserção epitelial agravadaspor trau'
ratura sobre doenças peridentárias que ocorrem em cvi- mas e conseqüente ação de corpos estranhos e de germes
nos na Nova Zelândia e Grã Bretanha, discutindo, entre que encontram aqui um meio propício de multiplicação.
outros, os trabalhos de Salisbury et ai. (1953), Ilart e Pode-se compreender que as fibras colágenas do para-
MacKinnon (1958), Hartley e Grant (1961) e Quar- dêncio, na sua inserção no cemento, funcionam como
terman e Dalgarno (1968); eles admitem, pelo menos a barreira biológica e mecânica contra a proliferação do
propósito de futuros estudos, que há duas condições pa- epitélio gengival no local da inserção do mesmo (Bohan-
tologicas diferentes nos ovinos, uma periodontite aguda, nan & Sax( 1972).
afetando a região dos dentes incisivos, premolares e mo-
lares maxilares e mandibulares, e uma periodontose, afe-
AGRADECIMENTOs
tando somente a região dos dentes incisivos. A etiologict
da periodontite é desconhecida e para a periodontose fa- Agradecemos ao CONDEPE em Mato Grosso e Goiás, à Secre-
tores genéticos e nutricionais foram sugeridos. taria da Agricultura do Estado de Mato Grosso, à Defesa Sa-
nitária Animal e à ACARMAT pelo apoio dado durante o pre-
MacKinnon (1959) realizou um estudo anátomo e sente estudo. Ao Dr. Jerônimo Alves Chaves, Engenheiro Agrô-
histopatológico da doença em ovinos adultos, com mais nomo do CONDEPE, e ao Dr. Luis Carlos Moreira Costa, Ve-
terinário da Secretaria da Agricultura, sediados em Rondonó-
de 2 anos de idade, que Cutress e Ludwig (1909) in- polis, os nossos agradecimentos pela valiosa ainda nos traba-
cluíram na periodontite. Aquele autor descreve a se- lhos de campo; ao Prof. Paulo Dacorso Filho, Hospital Veteri-
qüência das lesões macro e microscópicas encontradas nário "Otávio Dupont" do Jóquei Clube, Rio de Janeiro, pela
colaboração prestada na obtenção das radiografias; ao Dr. Ca-
nos tecidos para e peridentários dos premolares e mo- mulo F.C. Canella, Veterinário do Serviço de Defesa Sanitária
lares, tendo concluído que se trata primariamente de Animal em Barra do Piral, Estado do Rio de Janeiro, pelo ma-
terial dos bezerros de controle; aos Professores Alzido de Oli-
gengivite marginal purulenta. Sugere que um determi- veira e Laerte Grisi, do Instituto de Biologia da Universidade
nado fator, possivelmente nutricional, causa uma maior Federal Rural do Rio de Janeiro, pela colaboração dada.
susceptibilidade da gengiva marginal.
Os resultados obtidos em nossos estudos clínicos, aná- REFERáNCIAS
tomo e histopatológicos da "cara inchada" dos bovinos,
em seus diferentes estádios de evoluçáo, indicam jue a ÂJvares, S. 1971. Estudo comparado da ação de vários agentes
doença é causada por um ou mais fatores ligados a ali- descalcificadores sobre os mucopolissacarídeos de fêmures de
mentação, existentes nas regiões de ocorrência da doença, ratos albino,. Ciência e Cultura 23:787-790.
pois a simetria e natureza localizada das lesões para e Becker, E. 1970. Z'fhne, p. 83-313. Ia Dobbersteio, J., Paliaske,
G. & Stünzi, H. (cd.) Joest's llandbuch der speziellen patho-
peridentárias iniciais da doença permitem concluir que logischen Anatomia der Ilaustiere. Band 5, Digestionsapparat,
não se trata de processo primário de inflamação (llarndt 1. Teil. Paul Pare>', Berlin.
1950). Pelo fato de as primeiras alterações anátomo-pa- Bohanaan, H.M. & Saxe, S.R. 1972. Die Parodontologie in der
tológicas da doença aparecerem durante a erupção e zahniirztlicbea Augemeinpraxis, p. 285-357. Ia Morris, A.L.
crescimento de dentes, premolares e molares, pode-se & Bohsnnan, H.M. (cd.) Diagnoatik und Tberapie der geaàfl.-
ten Zahn-, Mund-' und lcieferheilkunde (Deutsche Ausgabe
supor que a regeneração fisiológica do tecido conjuntivo von Scblegel, D.). Medica Verlag, Stuttgart.
do paradêncio seja prejudicada por certa insuficiência Cutre,s, T. W . & Ludwig, T.G. 1969. Periodontal disease in shrep.
mesenquimal. Deve-se mencionar aqui que o paradêncio I. Review of Use literature. J. Periodontol. 40:529-534.
tem uma situação anatômica especial por tratar-se de Falias, L.I. 1961. Clycogen in Use epithelium ol ,nueous mcm-
área capilar terminal. branes and skin and its significance. Acta anat., Basel, 46:
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Além disto, a porção medial da papila interdentária
Garlick, N.L. 1954. 'lhe teeth of tbo ox ia clinical diagnosis.
entre P. e P. maxilares, em particular, localiza-se em IL Croas anatomy and physiology. Am.J.vet.Res 15:385-394.
área funcionalmente deficiente de fixação gengival Ciovine, N., Rangel, N., Machado, A.V., Lamonnier, R.D. &
(Grant et ai, 1968). A proliferação insuficien- Wilwerth, A. 1943. Necrobacilose. Súmula nosológica, a ne
te de elementos fibroblásticos, com possível enfraqueci- crobacilose era Minas Gerais, Brasil. Arqs Esc.Sup.Vet. Minas
mento dos ligamentos para e peridentários e conseqüente Gerais 1:35-65, 28 fig.
crescimento epitelial em direção às raízes dos dentes - Clickman, 1. 1967. Periodootologia dlinica. 3.' cd. Editorial Mun-
di, Buenos Aires, p. 351.354.
em local de predisposição anatômica e de grande so-
Grant, DA., Stern, I.B. & Everett, F.C. 1968. Orbaa's peri-
licitação mecânica durante o processo de mastigação - odontics. 3rd ed. C.V. Moaby, Si. Louis, p. 121-128.
possibilita a penetração de fragmentos de alimentos e de Harndt, E. 1950, Paradentitis und Paradentose. Leitfaden der
outros corpos estranhos na bolsa paradentária que está Zahnbetterkrankungen. CarI Hanser, München, p. 62,
assim se formando; então, em conjunto com a ação da Hart, ICE. & Macicinnon, M.M. 1958. Enxootic paradontal di-
flora microbiana local, desenvolve-se a paradentite que sease of adult sheep ir. the Bulls-Santoft arca. N.Z.vet.J. 6:118-
conduz à periodontite alveolar e às suas conseqüências, 123.
isto é, afrouxamento e perda de dentes e remodelação Hartley, \V.J. & Crant, A.B. 1961. A review of selenium re-
aponsive diseases - of New Zealand liveatock. Fed.Proc. 20:
óssea através de reabsorção do osso alveolar e aposição 679-888.
óssea periférica através de periostite crônica ossificante, MacKinnon, M.M. 1959. A pathological study of au enzootic
causando o abaulamento que deu à doença o nome de paradontal disease of mature sheep. N.Z.vet.J. 7:18-26.
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Desta maneira, não se trata de processo degenerativo
Nickel, R., Schummer, A. & Seiferle, E. 1967. Lehrbuch der Ana-
crônico, por excelência, de paradentose, mas sim de para tomie der Ilaustiere. Band 2. Zweite Auflage. Paul Parey,
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GB, ZC-26, Brazil.
A disease of young cattle, calied "cara inchada" (swollen face), was studied in Mato
Grosso, Brazil. The clinicai picture of the disease, in its advanced stage, is characterized
by a periodontai iofiammatory process with looseniog nnd shedding of the premolar and
molar teeth and by swelhng of the maxiliar and less frequently mandibular bone. The effected
animais waste and many of them die by starvation. The disease was studied in pure and
mixed bred zebu cattle.
"Cara inchada" occurs ia regions where pastures \vere formed with Guinea grass
(Panlcuni maxinturn) after cutting the forest, on fertile low-iand soiis. In neighbouring arcas
situated ia the higher country with "cerrado" vegetation the disease was not observed.
Clinical examinations of cattle up to 1 year of age revealed an average incidence of
the disease of 6%, but 011 one farm 22.6% of the caives were found to be affectel. By oral
examination of about 1,500 bovines ou farms where "cara inchada" occurred and by post-
mortem examination of 30 bovines affected it was seen that initial paradentai changes of
the disease can niready be found in 1 month old calves. Cattle from "cara inchada"-free
regions brought into arcas where the disease occurs, can be affected if they are transferred
to these areas before the age of about 2 and a haif years.
Initial essentially non-inflarnmatory lesions of "cara inchada" were found in young caives
at the medial portion of the interdental papilia between the maxillar P, and P. teeth in
form of a paradontal pocket. The entrance ei food and other particles is an aggravating
factor of the process which finally resuits in au alveolar pyorrhoea and chronic ossifying
eriostitis. The clinical, post-mortem and histopathological findiogs indicate that the initial
F
esion takes place during eruption ci the teeth, possibly due to irnpaired physioiogic rege-
neration and repair ci the paradontal connective tissue.
The authors thiok that the "cara inchada" condition of cattle is caused by one or
more alimentary factors.
Additional index words: paradentitis, periodontitis, paradontal disease, niveolar periostitis,
alveolar pyorrhoea, chronic ossifying periostitis.