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VERÃO 2019
Nº 307 – R$ 10,00
ISSN 2318-7107
Cerimônia de emanações especiais de proteção e Paz para a Terra
As Lojas, Capítulos e Pronaoi Rosacruzes realizam uma cerimônia muito especial que
envia vibrações de harmonia e paz para a Terra e todos os seres que nela habitam.
Nestes momentos cruciais pelos quais passa a humanidade, em que recrudescem as intolerâncias e
ao mesmo tempo surgem inúmeros movimentos em prol da paz, da tolerância e da harmonia entre
os povos, convocamos todos os Rosacruzes a participarem ativamente do ritual de LUZ, VIDA e
AMOR no Organismo Afiliado que mais lhes aprouver, contribuindo desta forma para fortalecer
as energias positivas do Cósmico em favor de toda a Humanidade e da nossa Mãe Terra.
Saudações Rosacruzes!
Sincera e Fraternalmente
AMORC-GLP
04 Solidão
Por CHRISTIAN BERNARD, FRC
04
07 Um presente vivo de amor
Por WIM BARBARD, FRC
10
Sonhos modelando a realidade
Por MARIO SALES, FRC
26 A pedra e o caçador
Por BÊH OUATTARA, FRC
30 O espírito de voluntariado
Por KENNETH U. IDIODI, FRC
36 Máscara e personalidade
20
Por SÉRGIO CARLOS COVELLO, FRC
39 A Paz
Por ANDRÉ GENERINO DA SILVA, FRC
48 Sanctum Celestial
“A ALMA DO MUNDO” por H. SPENCER LEWIS, FRC
52 Ecos do passado
UMA HOMENAGEM À HISTÓRIA DA AMORC NO MUNDO
36
2 O ROSACRUZ · VERÃO 2019
O
s textos dessa publicação não representam a palavra oficial da
AMORC, salvo quando indicado neste sentido. O conteúdo dos
artigos representa a palavra e o pensamento dos próprios autores
Publicação trimestral da e são de sua inteira responsabilidade os aspectos legais e jurídicos que
Ordem Rosacruz, AMORC
possam estar inter-relacionados com sua publicação.
Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
Bosque Rosacruz – Curitiba – Paraná Esta publicação foi compilada, redigida, composta e impressa na Ordem
Rosacruz, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa.
Todos os direitos de publicação e reprodução são reservados à Antiga
e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de
Língua Portuguesa. Proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio.
As demais jurisdições da Ordem Rosacruz também editam uma revista
do mesmo gênero que a nossa: El Rosacruz, em espanhol; Rosicrucian
Digest e Rosicrucian Beacon, em inglês; Rose+Croix, em francês; Crux
Rosae, em alemão; De Rooz, em holandês; Ricerca Rosacroce, em italiano;
Barajuji, em japonês e Rosenkorset, em línguas nórdicas.
CIRCULAÇÃO MUNDIAL
Propósito da expediente
Coordenação e Supervisão: Hélio de Moraes e Marques, FRC
Ordem Rosacruz n
A Ordem Rosacruz, AMORC é uma orga- n Editor: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
nização internacional de caráter templário,
místico, cultural e fraternal, de homens e
n Colaboração: Estudantes Rosacruzes e Amigos da AMORC
mulheres dedicados ao estudo e aplicação
como colaborar
prática das leis naturais que regem o uni-
verso e a vida.
Seu objetivo é promover a evolução da
humanidade através do desenvolvimento
das potencialidades de cada indivíduo e
n Todas as colaborações devem estar acompanhadas pela declaração do
propiciar ao seu estudante uma vida har- autor cedendo os direitos ou autorizando a publicação.
moniosa que lhe permita alcançar saúde,
felicidade e paz.
n A GLP se reserva o direito de não publicar artigos que não se encaixem
Neste mister, a Ordem Rosacruz ofe- nas normas estabelecidas ou que não estiverem em concordância com a
rece um sistema eficaz e comprovado de pauta da revista.
instrução e orientação para um profundo
autoc onhecimento e compreensão dos n Enviar apenas cópias digitadas, por e-mail, CD ou DVD. Originais não
processos que conduzem à Iluminação. serão devolvidos.
Essa antiga e especial sabedoria foi cui-
dadosamente preservada desde o seu n No caso de fotografias ou ilustrações, o autor do artigo deverá providenciar
desenvolvimento pelas Escolas de Misté- a autorização dos autores, necessária para publicação.
rios Esotéricos e possui, além do aspecto
filosófico e metafísico, um caráter prático. n Os temas dos artigos devem estar relacionados com os estudos e práticas
A aplicação destes ensinamentos está ao rosacruzes, misticismo, arte, ciências e cultura geral.
alcance de toda pessoa sincera, disposta a
nossa capa
aprender, de mente aberta e motivação
positiva e construtiva.
M
uitas vezes, as pessoas confiam e, consequentemente, tenho milhares de
em mim, confidenciando: “Eu irmãos e irmãs, amigos e companheiros de
me sinto sozinho”; “sinto-me viagem. Eu nunca estou sozinho. Você pode
excluído”, “não me encaixo”, ter esse mesmo sentimento ao saber que
“fui abandonado” e assim por diante. pertence à grande família da humanidade.
Independentemente de sermos extrovertidos A origem latina da palavra solidão é
ou introvertidos, não vivenciamos a solidão “solitude” que é definida como: “… situação
da mesma maneira. Alguns dizem que de uma pessoa que está sozinha, momen-
não existe, outros que você se acostuma. tânea ou duradouramente. A solitude é um
De minha parte, experimentei uma estado de abandono, de separação, que uma
forma de solidão como filho único pessoa sente em contraste com a cons-
e sou bastante introvertido. ciência humana ou a sociedade”.
Mas as coisas estão diferentes há Na vida cotidiana, a solidão pode
muito tempo e estou feliz por ter ser muito angustiante, na verdade,
uma grande família hoje em dia, mais angustiante do que qualquer
ou melhor, duas famílias grandes, outra coisa, resultando, às vezes, de
pois sou afiliado da Rosacruz uma tragédia, uma deficiência, uma
É bem sabido que temos que ser uma boa Voltando a esta sensação de solidão que
companhia para nós mesmos, mas isso não todos nós experimentamos em graus va-
exclui ser boa companhia para os outros tam- riados, podemos dizer que ela surge mais
bém. Sua resposta pode ser que geralmente frequentemente em épocas difíceis, quando
as pessoas estão longe de ser agradáveis e não estamos tristes ou com dor. É acompanhada
se pode ter muito a ver com elas, e que suas por um sentimento de que os outros não nos
falhas tão óbvias lhe causam mais aborreci- compreendem, pela noção de não sermos
mento e angústia do que interesse ou prazer. apreciados pelas ações e pelo trabalho que re-
Qual é a fonte desse sentimento de solidão alizamos, por lutar sozinhos, por não sermos
que sentimos, que muitas vezes nos leva apoiados nem ajudados… em resumo, por
a dizer que estamos sempre sozinhos? É estarmos sozinhos, completamente sozinhos,
porque, ao encarnarmos, estamos deixando carregando um fardo pesado e suportando
uma família, a grande Alma Universal, com as dores do mundo em nossos ombros.
pesar? É porque a nossa mãe biológica, ao nos Sentir que não somos compreendidos por
expulsar do seu corpo, nos forçou em instan- outra pessoa ou por outras pessoas, ou…,
tes a nos tornarmos um ser independente e, a como as expressões populares dizem, “pregar
partir de então, lançados para descobrir outro no deserto”, “não ser ouvido nem mesmo
universo? Ou é o peso das responsabilidades gritando”, e assim por diante…, deixa um
e deveres exigidos de nós individualmente? profundo sentimento de solidão no cora-
ção humano. Muito provavelmente será
“Na solidão somos nós os menos sozinhos.” assim por muito tempo ainda, pois isso faz
parte de nossa natureza humana, está liga-
– Lord Byron do ao nosso ego. Leitor dessas reflexões…,
lembre-se de que você não está sozinho!
Quando superamos um obstáculo e triunfa-
mos sobre uma provação, ficamos orgulhosos “Vou levar tempo para ficar sozinho
de ter feito isso por nós mesmos, sem a ajuda hoje. Vou levar tempo para ficar
de mais ninguém. Um feito pessoal é mui- quieto. Nesse silêncio escutarei…
tas vezes uma melhor experiência e melhor e ouvirei minhas respostas.”
sentimento do que um sucesso de grupo. Do
nascimento à morte, constantemente recorre- – Ruth Fishel 4
-se a este princípio básico: individualidade,
à qual se acrescenta responsabilidade e,
muitas vezes, culpa. Esta última pode, é claro,
ser coletiva e estar ligada a uma nação ou
grupo, mas na maioria das vezes é a nossa.
presente
Um
vivo de amor
Por Wim Barbard, FRC
M
INHA ESPOSA tem
uma certa “fraqueza”
por…, não, deixe-me
começar de novo…,
minha esposa tem uma grande “força”:
ela ama gatos. Na verdade, ela ama todas
as criaturas vivas, grandes e pequenas,
embora especialmente gatos. E eles a
amam também com uma intensidade
e devoção que eu mal consigo começar a
compreender. De fato, a vida se realiza para
ela quando seu amor e sua compaixão são
derramados sobre animais desfavorecidos
de todos os tipos e, felizmente para mim,
ela me considera um “animal honorário”.
Um dia ela trouxe para casa um gato cego. É
o único até agora, mas tenho certeza que haverá
mais com o tempo. Sua bondade para com os
animais não tem limites, exceto ocasionalmente,
quando aponto para a aparência macilenta da
minha carteira; cuidar de animais de estimação
não é barato e eles são para a vida toda. de pé? Eu não sei, mas antes que eu pudesse
Como nossos filhos, eles crescem conos- interromper este experimento cruel, todos
co, amadurecem conosco e compartilham nós aprendemos com um baque que os gatos
tudo o que possuímos. As crianças rapida- cegos não caem de pé. Eles caem de costas ou
mente encontraram um nome para o gato, de lado, mas nunca de pé. Bumpy não ficou
Bumpy (desastrado), sem dúvida porque ferido porque a cama era macia, e durante
ele colide com a mobília o tempo todo. as repetidas tentativas ele nunca parou de
Estou descobrindo que um gato cego ronronar por um só instante! Acredito que
provoca uma tentação irresistível às crianças Bumpy teria a mesma disposição doce se ele
travessas. “Vamos ver se ele vai esbarrar na pudesse ver, mas nossos animais de estimação
cadeira se o chamarmos”, gritou meu filho com visão perfeita nunca foram tão bondosos
de cinco anos Dylan, supostamente carinho- como esta pequena criatura maravilhosa.
so com os animais, que criou uma pista de É tentador pensar que Bumpy pode, de al-
obstáculos, é claro. Gritos de diversão quando guma forma, compensar sua deficiência sen-
Bumpy chocava-se nos vários obstáculos, do mais gentil para nos privilegiar, mas isso é
se sacudia, mas bem naturalmente tentava absurdo, não é? Eu vi nessa pequena criatura
de novo e de novo, até alcançar o meu filho uma alma tão avançada na sua condição de
que o chamava. Muito cruel, eu pensei, e gato como a minha alma jamais poderia ser
estava prestes a adverti-lo duramente em sua humanidade.
quando Ângela, minha filha de sete anos, Qualquer problema que Bumpy
aproximou-se de Bumpy com pena, pudesse nos causar, sua cegueira
pegou-o e sentou-se para ficar com ele simplesmente fez com que ele se
só para ela. Ele então ronronou cons- esforçasse mais do que os
tantemente enquanto ela o acariciava
como uma bola enrolada em seu colo,
e logo os dois estavam dormindo.
Um amigo um tanto atrevido só
queria ver se a regra sobre gatos
sempre caírem em pé se aplicava à
Bumpy. Então, segurando-o de
cabeça para baixo sobre a cama,
ele o soltou. Por que os gatos
parecem sempre caírem
O
comportamento do Ser Humano para com os animais também faz
parte de suas relações com a Natureza. Ele tem o dever de amá-los
e respeitá-los. Todos participam na cadeia da vida tal como se
manifesta na Terra e todos são agentes da Evolução. Ao seu nível,
eles são também veículos da Alma Divina e participam no Plano Divino. Va-
mos mesmo ao ponto de considerar que os mais evoluídos dentre eles são seres
humanos em devir. Por todas essas razões, consideramos indignas as condições
em que muitos deles são criados e abatidos. Quanto à vivissecção, nela vemos
um ato de barbárie. De maneira geral, consideramos que a fraternidade deve
incluir todos os seres que a vida pôs no mundo. Compartilhamos também essas
proposições atribuídas a Pitágoras: “Enquanto os homens continuarem a destruir
sem piedade os seres vivos dos reinos inferiores, não conhecerão nem a santidade
nem a paz. Enquanto eles massacrarem os animais, haverão de se matar entre
si. Com efeito, quem semeia morticínio e dor não pode colher alegria e amor”.
– Manifesto Positio Fraternitatis Rosae Crucis.
O eminente
Robert Fludd
Um apologista da Rosacruz
Por RALPH M. LEWIS, FRC
T
odos temos nossas convicções, te- a uma convicção, exatamente como o faz
nham elas nascido de crenças ou no caso de uma ofensa contra o seu ser ou
da experiência. Essas convicções caráter físico. Convicções ou pontos de co-
constituem nossa fonte de conhe- nhecimento que se tornaram intimamente
cimento. Filosoficamente, a ideia de crença associados aos ideais morais e religiosos de
como conhecimento pode ser contestada. um indivíduo são defendidos mais ardente-
Pode-se argumentar que, para ser conside- mente. Eles estão profundamente arraiga-
rado verdadeiro, o conhecimento deve ser dos na sua natureza psíquica, emocional.
suscetível de confirmação pela experiência Robert Fludd era um homem de con-
sensorial. Não obstante, para muitas pes- vicções morais que não constituíam mera
soas, na ausência de uma realidade antagô- herança de ideias. Elas estavam apoiadas
nica, uma crença subsiste como concepção numa estrutura intelectual, em decorrên-
pessoal, como conhecimento válido. cia de muito estudo pessoal, experiência e
Essas convicções tornam-se uma parte meditação. Consequentemente, um desafio
íntima da personalidade do indivíduo. Seu a suas convicções provocava uma reação
Eu intelectual, se bem definido, participa defensiva, em palavras e atos, que exigia
de sua condição de subsistência, em igual- grande coragem. Uma coisa é proclamar-
dade com o seu bem-estar físico. Para a mos nossas crenças num ambiente tole-
mente, uma convicção forte tem caráter de rante; outra coisa é delas falarmos numa
realidade. Tem existência tão real quanto o época hostil e ante uma mentalidade an-
nosso corpo ou a nossa família. A oposição tagonista. E foi isto que fez Robert Fludd,
a uma convicção, portanto, suscitará tan- não apenas uma vez, e sim, muitas vezes.
ta resistência como num correspondente Na bela paisagem acidentada de Kent,
ataque à própria pessoa ou seu caráter. A na Inglaterra, perto da pitoresca vila de
sensibilidade da personalidade, o grau de Bearsted, encontram-se os remanescen-
emotividade do indivíduo, determina a in- tes de Milgate House, o lar senhorial de
tensidade da retaliação a qualquer oposição Robert Fludd. A estrutura original, da qual
ainda resta uma parte, e a que foram feitos permanência no Continente, Fludd manti-
acréscimos posteriores, foi erigida por Sir nha um laboratório, onde construiu vários
Thomas Fludd, que era Tesoureiro de Guerra e curiosos dispositivos mecânicos, um dos
da famosa rainha Elizabeth I. Foi ali que quais era uma lira automática. Consta que
nasceu Robert Fludd, em 1574. O ambiente, muitos desses dispositivos tinham valor
ainda hoje é inspirador. Veem-se áreas de prático. Na verdade, alguns autores atri-
matas, intercaladas de campos cortados por buem a Fludd o invento do barômetro.
agradáveis riachos, onde pastam rebanhos
de carneiros. Nele sentimo-nos isolados do
tumulto político e social. Essa tranquilidade Era de Intelectuais
deve ter tocado a consciência, o espírito de Parece que os estudos farmacêuticos de
Fludd, em sua infância. Perto da casa, en- Fludd o levaram aos portais da alquimia e
contram-se o roseiral e outros jardins, onde ele os cruzou. Como a alquimia estava ligada
ele cultivava as plantas que usava em seus ao Hermetismo, à Filosofia Oculta, Fludd
experimentos farmacêuticos e alquímicos. logo se interessou pela filosofia Rosacruz.
Seguiu diligentemente os ensinamentos e as
A Educação doutrinas de Paracelso, a que se compararam
muitas de suas ideias posteriores. Muitas
de Fludd circunstâncias indicariam que Fludd teria
conhecido, no Continente, o famoso Grande
Numa época em que a educação superior Mestre Rosacruz da Alemanha e filósofo
era até certo ponto um luxo, o jovem Robert hermético, Michael Maier. Embora fosse
teve a sorte de ter um pai cuja situação Maier um homem de apenas uns trinta anos,
econômica lhe permitiu frequentar escola era então conhecido por suas obras sobre o
superior. Matriculou-se ele em St. John’s Hermetismo e a Cabala. Nele deve Fludd. ter
Oxford, no dia 10 de novembro de 1592, encontrado um verdadeiro tesouro, dado o
e obteve seu grau de Mestre de Artes (M. interesse de Maier pelo esotérico, a secreta
A.), em 1598. Tendo concluído o Mestrado, sabedoria e ordem por trás dos fenômenos da
passou os seis anos seguintes estudando Natureza. No jovem Fludd, Maier encontrou
e viajando pelo Continente Europeu. Este um vívido intelecto, uma fértil imaginação, e
costume de viagens de estudo por países um devotado amor pela sabedoria esotérica.
estrangeiros, entre os europeus cultos, Fludd retomou à Inglaterra e foi admitido
naquela época e mais recentemente, quan- à prática da medicina em 1606. Em 1609,
do as condições o permitiam, era tido tornou-se membro do Colégio de Médicos.
como requisito de uma boa educação. A versatilidade de seus talentos estava
Os estudos de Fludd pelo Continente sendo expressa em outros canais que não o
absolutamente não foram restritos ao de- da medicina. Tornou-se também filósofo,
senvolvimento de seu conhecimento de anatomista, físico, químico, matemático e
medicina. Seu empenho era diversificado e engenheiro. Sua obra literária foi numerosa
influenciado por seu interesse pela filosofia e brilhante, embora por vezes enfadonha.
natural. Seu fascínio pelas ciências, e suas Algumas de suas principais obras foram:
conscienciosas observações e análises, refle- Apologia Compendiaria pro Fraternitatem
tem-se na sua obra literária e nas metódicas de Rosae Crucis (Leyden, 1616); Tractatus
ilustrações de seus textos. Durante sua Apologeticus Integritatem Societatis de Rosea
Cruce Defendens (Leyden, 1617); Mosaic viu uma aliança com os luteranos. Houve
Philosophy, Tractatus Theologophilosophicus também um grande número de pessoas
etc.(1617); um tratado em três partes, que ficaram fascinadas com os propósitos
dedicado à fraternidade Rosacruz, e proclamados pelos Rosacruzes, nunca antes
Summum Bonorum (Frankfurt, 1629). tendo ouvido falar desse movimento se-
Escreveu também numerosos opúscu- creto. E houve ainda aqueles que tentaram
los sobre Teosofia Cabalística e doutrinas explorar o interesse público despertado pe-
Rosacruzes, bem como sobre a cura pela fé. los panfletos sobre a Fraternidade da Rosa-
O Grande Mestre Michael Maier visitou Cruz, declarando-se membros da mesma.
a Inglaterra entre 1614e 1620 (a data precisa
é controversa). Essa visita ocorreu pouco
depois da publicação da célebre Fama e da Iniciação de Fludd
posterior Confessio, tendo aquela constituído Na Inglaterra, Maier restabeleceu sua as-
o primeiro anúncio público da Fraternidade sociação com Robert Fludd. Historiadores
da Rosa-Cruz. Esses panfletos tornaram- da Ordem Rosacruz, bem como outros que
-se um ponto focal de muita controvérsia. optaram por escrever sua história como
Muitas pessoas, ao lerem os panfletos, realização literária, declaram que Maier
tornaram-se imediatamente hostis ao movi- então iniciou Fludd nos Graus Superiores
mento Rosacruz. As concepções liberais da da Ordem. Foi em 1618 que Maier publi-
Fama e da Confessio contrariaram a hierar- cou sua Themis Aurea, que continha as
quia da Igreja Católica Romana, que nelas leis da Fraternidade da Rosacruz. Estas
leis foram talvez transmitidas a Fludd, em Fludd nos Graus Superiores, como Mago,
decorrência de suas reuniões privadas. por ocasião de sua visita à Inglaterra.
Subsequentemente, pelo menos, Robert Consta de um relato que, no dia 6 de
Fludd tornou-se um Mago da Ordem, na janeiro de 1604, a Rainha deu um baile de
Inglaterra. Destemidamente, ele permitiu máscaras no Whitehall. Inigo Jones, célebre
que sua ligação com a Ordem fosse conhe- arquiteto, foi incumbido de desenhar as fan-
cida. Chegou mesmo a expor os objetivos tasias dos cavalheiros. Em um dos desenhos
gerais da Ordem a seus colegas médicos, em que submeteu à apreciação, ele escreveu as
Londres, onde exercia sua profissão. Seuc co- palavras, “Um Rosacruz”. Assim, evidente-
legas o respeitavam, porque o consideravam mente, os Rosacruzes eram suficientemente
“proeminente em sua qualidade de médico”. conhecidos para que um personagem de-
Não se deve inferir, do que já foi dito, nominado “Um Rosacruz” fizesse sentido.
que Robert Fludd foi a primeira pessoa da Como escreveu F. de P. Castells, famoso his-
Ordem Rosacruz que dela falou aos seus toriador de ordens arcanas, se o baile teve lu-
conterrâneos. Há provas de que a Ordem gar no dia 6 de janeiro de 1604, com toda cer-
Rosacruz era conhecida, na Inglaterra, teza Inigo Jones teria preparado os desenhos
antes que a Fama fosse publicada em sua pelo menos algumas semanas antes, para a
versão original, mais ou menos em 1614. A apreciação de Sua Majestade. Assim sendo,
Ordem era também conhecida onze a doze isto constituiria prova de que os Rosacruzes
anos antes que Michael Maier iniciasse seriam conhecidos, na Inglaterra, já em 1603.
tos, construam o Templo da Sabedoria”. Em em várias categorias, das quais, três princi-
muitas obras, Fludd usava termos de arqui- pais eram: (1) magia natural “ … o campo
tetura, como expressões simbólicas. Aliás, mais oculto, mais secreto da física, no qual
em certos registros maçônicos da época são inferidas as propriedades místicas das
há exortações, isto é, alocuções, assinadas substâncias naturais”; (2) magia matemática,
“Fludd”. Nelas é usada a mesma fraseologia pela qual podem os adeptos “construir má-
arquitetônica, como linguagem simbólica, quinas maravilhosas, com seu conhecimento
de modo que elas são aceitas como prova da geométrico”; (3) magia divina, composta
ligação de Robert Fludd com a Maçonaria. das leis morais e dos preceitos teológicos.
Os ensinamentos de Fludd, como já foi Fludd expressa a ideia de que o universo
dito, foram muito influenciados por seu provém de Deus e a Ele retomará. A Criação,
estudo de Paracelso. As concepções deste declara ele, “é a separação entre o princípio
último eram generalizações oriundas de sua ativo (luz) e o princípio passivo (trevas), no
própria pesquisa científica. A cosmologia e a seio da Divina Unidade (Deus)”. Para ele, o
teologia de Fludd são principalmente as dos universo consiste em três mundos: o arqué-
Rosacruzes da Europa continental. Em seus tipo (Deus), o macrocosmo (o mundo), e
escritos, há muita referência à palavra magia. microcosmo (o homem). Todas as partes de
É preciso compreender que esta palavra, na cada mundo se correspondem umas às ou-
época, referia-se à utilização de muitos tipos tras; isto é, há um paralelismo harmonioso
de fenômenos. Fludd classificava a magia entre elas. Sustenta Fludd que as coisas não
Criando seus
próprios universos:
Sonhos modelando
a realidade
Por MARIO SALES, FRC
”
resposta a esta questão está no aspecto
psicológico que nunca deve ser desprezado ser humano.
quando analisamos nossos fracassos místi-
cos, ou melhor, colocando em outras pala-
vras, nossas dificuldades para ter sucesso
em todos os sentidos, espiritual, emocional Intelectualmente, portanto, a técnica
ou material usando as técnicas místicas. de visualização criativa parece realmente
Parece óbvio o que vou comentar, mas simples de realizar, é preciso apenas que
esta é mais uma armadilha psicológica: visualizemos o que desejamos e que veja-
nada que é tão óbvio do ponto de vista mos a imagem com clareza em nossa mente,
intelectual pode ser fácil de compreen- reproduzindo este exercício de imagina-
der verdadeiramente e internalizar. ção três vezes por dia, por alguns dias.
É o que ocorre com a técnica de visualiza- A pergunta é: por que tantas vezes, isto
ção criativa. Talvez esta seja a mais poderosa simplesmente não funciona? Eu não possuo
técnica distribuída aos seus membros pela nenhuma estatística, mas sei que a maio-
AMORC e, embora os estudantes rosacruzes ria de nossos membros não goza de total
de sanctum ou mesmo aqueles que frequen- felicidade quanto à sua vida particular e
tam organismos afiliados e já ouviram pales- que não apresenta uma particular facili-
tras ou leram sobre esta técnica, sejam capazes dade para a consecução de seus objetivos,
de citá-la e responder satisfatoriamente a um e que encontram, como qualquer outro
interrogatório intelectual sobre ela, dando de- grupo esotérico ou humano, dificuldades
talhes de como ela pode ser realizada ou posta humanas na consecução de seus objetivos.
a nosso serviço, provavelmente muito poucos Ora, se os rosacruzes realmente soubes-
usufruem como deveriam desta magnífica sem, com segurança, realizar seus desejos
ferramenta, e um maior número ainda nunca com o uso da técnica de visualização criativa,
a utilizou de forma rotineira em seu cotidiano. as portas da rosacruz seriam estreitas para
A razão é simples: eles têm uma com- dar vazão à quantidade de pessoas que a pro-
preensão apenas intelectual da técnica. curariam em busca desse “segredo do Gênio
Não a praticaram, não esbarraram nas da lâmpada” que os rosacruzes ensinam.
questões práticas de sua aplicação, não Só que, como sabemos, não é assim.
fizeram dela uma rotina diária. Por pressa, Certas técnicas ensinadas pela AMORC,
desinteresse, ou mesmo porque não per- senão todas, não são receitas de bolo tão
severaram no domínio desta técnica, não mecânicas que possam ser reproduzidas
conseguem o domínio da própria vida. perfeitamente apenas com a compreensão
O Triângulo, duas irmãs, um irmão. * Excerto do livro “Contos de Amor e de Paz”, publicado pela GLP.
O espírito de
voluntariado
Por KENNETH U. IDIODI, FRC, PhD*
À
s vezes, o desejo de prestar serviço mentos conhecidos por serem perigosos para
aos outros de uma maneira a saúde por seus produtores continuam a ser
específica pode se tornar tão agressivamente comercializados e consumidos.
forte que estamos dispostos Materiais tóxicos bem conhecidos con-
a investir nossos recursos pessoais para tinuam sendo usados para fazer muitas
prestar o serviço. E quando fazemos isso sem das coisas que manuseamos e consumimos
qualquer desejo de recompensa, que não diariamente. Seria fácil chegar à conclu-
seja a satisfação de completar a ação, então são de que o espírito comercial no homem
o verdadeiro espírito de voluntariado nasce. obscureceu o espírito de voluntariado se
Essa paixão por colocar nossos talentos em passarmos pelo aparente domínio do espírito
prática para o benefício de outros tem sido de ganância que os seres humanos demons-
responsável, principalmente, pelo avanço traram em todo o mundo. No entanto, sem o
tecnológico e cultural da humanidade. espírito de voluntariado, o espírito comercial
No entanto, o desejo de lucro pessoal é não terá alicerces sobre os quais operar e o
outra força muito poderosa que impulsiona as desenvolvimento humano irá rapidamen-
atividades das pessoas. Não há dúvida de que te parar ou mesmo entrar em regressão.
a motivação do lucro também desempenhou
um papel significativo no avanço da tecnologia
e da cultura. Os indivíduos que buscam lucro Expandindo o Eu
têm sido muito úteis na disseminação de pro- Enquanto o interesse no comércio é impulsio-
dutos e serviços em todo o mundo. Para obter nado principalmente por um desejo egoísta
lucro, essas pessoas estão preparadas para ir que se volta apenas para o eu, o espírito de
a grandes distâncias para nos trazer bens e voluntariado é, ao contrário, alimentado por
serviços. Lucrar não é ruim: na verdade, é ne- uma expansão abnegada de interesse pelos
cessário que lucros sejam obtidos para manter outros. A diferença entre egoísmo e abnegação
a maioria dos produtos e serviços existentes. está na identidade inconscientemente atribuída
Contudo, o mercantilismo tem uma ten- ao eu. Se o eu sou pensado como uma figura
dência a sair do controle como resultado da isolada distinta, sem qualquer conexão impor-
ganância que leva as pessoas a procurar lucros tante com qualquer outra pessoa, haverá uma
excessivos a todo custo. Como resultado disso, tendência inconsciente de atender exclusiva-
um serviço ou produto originalmente bené- mente às vontades e desejos pessoais. Em ou-
fico pode ser comprometido pelo comércio tras palavras, isso levará ao extremo egoísmo.
descontrolado; tanto que o produto ou serviço Essa condição de completo egoísmo,
entregue aos usuários finais pode acabar sendo como acabamos de descrever, não é inco-
mais prejudicial do que útil. Infelizmente, há mum, a despeito do fato de os seres humanos
muitas evidências disso hoje. É muito triste serem gregários, instintivamente buscando e
notar que muitos produtos domésticos comu- desfrutando da companhia dos outros, sejam
mente usados, alimentos embalados e medica- eles membros da família ou amigos. O forte
“
favorecer sua própria raça acima de outros
… enquanto é racista, uma tendência de favorecer seu
próprio sexo acima do sexo oposto é sexista;
houver alguma uma tendência ou inclinação extrema em
relação a uma religião específica torna-se
forma de tendência fanatismo. Claramente, não importa quantas
pessoas identifiquemos, enquanto houver
contra outros, alguma forma de tendência contra outros,
haverá sempre um potencial para discórdia.
haverá sempre Contudo, uma pessoa que é completamente
imparcial e que considera todos os seres hu-
um potencial para manos como parte de si, independentemente
”
da nacionalidade, raça, sexo, religião, ou
discórdia. qualquer outra classificação, é um humanista.
O místico entende que é a mesma força
vital que flui através de seu corpo que tam-
vínculo que se forja entre os membros da bém anima todas as outras formas de vida nos
família expande inconscientemente a nossa reinos animal e vegetal. É a mesma Consciên-
identidade para incluí-los e nós os conside- cia Universal que se expressa no homem, nos
ramos como parte de nós. Nesse caso, nos animais, nas plantas e até mesmo nos mine-
sentimos obrigados a atender também às rais. Nos momentos em que o místico expe-
necessidades e desejos de nossos familiares, e rimenta uma fusão de sua consciência com
não apenas às nossas necessidades pessoais. a Consciência Cósmica Universal, a conexão
No entanto, uma pessoa relativamente rica entre todas as coisas existentes torna-se muito
que cuida apenas de seus familiares ainda clara. Por causa disso, o místico vive em
será vista como egoísta pela sociedade. harmonia com todos os aspectos da natureza.
Os membros de uma comunidade ide- Além de seu semelhante humano, o
almente esperam que todas as pessoas que místico aprecia e sente profundamente uma
vivem nela se identifiquem com a comuni- conexão com os pássaros no céu, os peixes
dade e contribuam para o seu progresso. E no mar, os animais domésticos, os animais
este progresso é frequentemente alcançado selvagens, as árvores, as flores, as colinas, as
através dos membros mais privilegiados rochas, as estrelas, o sol, a lua e praticamente
que dão apoio aos menos privilegiados. todas as outras coisas na existência. E essa
No entanto, se várias comunidades estão conexão não é imaginária porque existem
envolvidas e um indivíduo possui uma po- laços invisíveis que ligam tudo que existe a
sição que permite influenciar a liberação de uma unidade. A verdadeira natureza de uma
benefícios destinados a essas comunidades, coisa não pode ser conhecida sem enten-
qualquer tendência injusta para favorecer der sua relação com outras coisas. Assim,
a comunidade do próprio indivíduo será o místico, ao perceber as conexões entre as
considerada paroquial ou tribal. Da mesma coisas, é mais capaz de entender suas ver-
forma, em grande escala, a tendência injusta dadeiras naturezas e como interagir com
de um indivíduo favorecer o seu próprio país tudo e com todos. O místico sabe que tudo
acima dos outros é vista como nacionalismo. e todos no universo estão conectados com
Em termos demográficos, uma tendência de todo o resto e com qualquer outra pessoa!
uma missão cósmica. E estas coisas não são Nos livros bíblicos de Mateus e Lucas, um
feitas porque outros nos dizem para fazer. mestre faz uma viagem e deixa seus servos
Elas são oferecidas gratuitamente ou volun- encarregados de alguns bens. Quando ele
tariamente no verdadeiro espírito de serviço, voltou, avaliou o quão bem os servos empre-
sem qualquer pensamento de ganho pessoal. gavam o que estava sob sua custódia. Aqueles
Quando vivemos nossa vida dessa manei- que foram capazes de empregar o que tinham
ra, entramos em parceria consciente com a para fins proveitosos foram vistos como pro-
Inteligência Universal e todas as forças criati- dutivos e foram recompensados de acordo.
vas e construtivas do Cósmico são colocadas O único empregado que decidiu não correr
à nossa disposição. Como resultado, desco- riscos com o que estava sob seus cuidados
brimos que o que alcançamos em nossa vida acabou perdendo mais do que lhe foi dado.
supera de longe o que temos a capacidade de No curso de nossa vida na Terra, absor-
alcançar com nosso próprio esforço individu- vemos muitas das nossas características
al. Essa compreensão deve nos ajudar a man- da cultura em que vivemos. No entanto,
ter um senso de humildade. Continuamos a temos alguns atributos que se originaram
gozar do apoio das forças criativas e constru- de nosso ser interno. Seria uma pena se
tivas do Cósmico, desde que não cometamos voltássemos para a cultura da mesma forma
o erro de arrogar a nós mesmos poderes que havíamos recebido sem a inclusão
e autoridade que realmente não temos. de alguns elementos únicos como nossa
À medida que nos concentramos em nossos própria contribuição. E não há melhor
talentos dados por Deus e os aplicamos cuida- maneira de revelar as qualidades únicas de
dosamente para o benefício dos outros, guiados nossa natureza do que através do volun-
pela voz da intuição, o espírito de voluntariado tariado. A sociedade a que pertencemos
é despertado em nós. Quando descobrimos pode facilmente nos forçar a ocupações que
que temos habilidades especiais em certas áre- não nos permitem expressar-nos plena-
as, estas devem indicar-nos as áreas da vida em mente. Nós nos contentamos com essas
que devemos cooperar com a Inteligência Uni- ocupações principalmente com o propó-
versal para o bem de todos. De que serve qual- sito de ganhar a vida. No entanto, através
quer talento que temos, se não for usado para do voluntariado, podemos realmente ser
que outros os apreciem e se beneficiem deles? nós mesmos e nos expressar ao máximo.
e personalidade
Por SERGIO CARLOS COVELLO, FRC*
”
supõe que a sociedade quer que ele seja - a
face sem rugas ou o rosto maquiado, como se que se vive…
costuma dizer. Trata-se de construção psico-
lógica cuja tarefa consiste tanto em esconder
motivações reprováveis como em transmitir Atrás da máscara, estão os apegos, o ódio,
uma autoimagem idealizada, visando à adap- o egoísmo, a agressividade, o desprezo, os
tação social. Com a máscara, formada de desejos inconfessáveis que compõem o lado
atitudes politicamente corretas, o indivíduo escuro da personalidade (a sombra) e geram
sente-se aceito, pois passa uma imagem que angústia por representarem desvalores. Só
os outros aprovam e aplaudem, parecendo- existe a máscara porque o ego é imperfeito.
-lhe assim mais fácil obter a colaboração de Do contrário, para que serviria o disfarce?
seus semelhantes. Por ser um compromisso A máscara, em verdade, nada mais é do
com a sociedade, varia de acordo com as que uma fachada bonita que esconde muita
circunstâncias a que o ego deve ajustar-se imperfeição que a pessoa não quer admitir
para viver sem atritos. Não se confunde com e muito menos mostrar. Mas a formação da
o ego, porque este é mais amplo, nem muito máscara é um processo inconsciente. Desde
menos com o Eu real. Como no teatro antigo, cedo, a criança aprende a imitar os adultos
a máscara (persona) é feita de artifícios e nas diversas situações da vida e incorpora
fingimentos. De uma parte, determina-se ao ego atitudes que não correspondem à sua
pelas expectativas sociais, costumes, hábitos verdadeira individualidade. Muita vez, o in-
e crenças; de outra, forma-se pelas ambições divíduo se confunde com a própria máscara e
do próprio sujeito de ser estimado, conse- se convence que ela é o seu eu (identificação)
guir cargos e empregos, receber elogios etc. e a sua sombra são os outros (projeção). Daí
É possível ter mais de uma máscara, uma o espírito excessivamente crítico para com
para cada ambiente em que se vive: a más- as falhas alheias. Na parábola do fariseu e
cara da seriedade nos negócios e na vida o publicano (Lucas, 18; 9-14), vê-se que o
pública, a do poder na política e no desem- fariseu estava tão identificado com a máscara
penho de cargos de relevo, a da santidade a ponto de julgar que suas práticas religiosas
na religião etc. Cada máscara acarreta certo fossem o seu ser espiritual, e projetar no pu-
tipo de conduta ou postura diante da situ- blicano a sua sombra: “Ó Deus, graças te dou
ação em que é despertada. Quem veste a porque não sou como os demais homens,
máscara do poder, por exemplo, está sempre roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda
demonstrando autoconfiança e indepen- como este publicano: jejuo duas vezes por se-
dência. Mas quando necessita de outrem, mana e dou o dízimo de tudo quanto ganho”.
situado em plano superior, pode vestir a Com exceção das pessoas autorrealizadas,
máscara da humildade: altivo com os in- tanto os homens como as mulheres desenvol-
feriores, submisso com os superiores… vem uma máscara, pois precisam adaptar-se
ao meio em que vivem, sob pena de serem É, sem dúvida, mais fácil manter a más-
duramente punidos pela coletividade. A cara e ser a máscara: “Isto sou eu, e
identificação com a máscara, toda- ponto final”! É cômodo, não dá
via, faz com que o ser humano o trabalho de lidar com o que
viva alheado de sua essência. é frágil na personalidade.
Querendo parecer bom, aca- Cobre-se a criança interior
ba sufocando com a máscara e faz-se de conta que é
o que ele tem de realmente adulto… A sensação de
bom, deixando também segurança, no entanto,
de superar as fraquezas é ilusória, pois as fragi-
que tanto o atormentam. lidades não desaparecem
Numa sociedade egóica, por ficarem escondidas. A
como a nossa, toda feita de identificação com a másca-
aparências, não é fácil livrar-se da ra é uma vivência superficial
máscara. Tirar a máscara é tão dolo- nada realizadora. Pessoas muito
roso quanto arrancar a pele, visto que a más- preocupadas com a opinião dos outros
cara não deixa de ser uma pele psíquica. Sem não conseguem jamais tirar a máscara,
ela, o ego desnuda-se, mostra quem é, como e, quando eventualmente o fazem, logo
o ator quando retira a maquiagem. Nes- a repõem, como na poesia de Fernando
tes belos versos, Fernando Pessoa diz bem Pessoa. Não conseguem deixar de viver na
sobre a dificuldade de arrancar a máscara: periferia de sua identidade psicossocial.
Conscientizar-se da máscara é o pri-
“Depus a máscara e vi-me ao espelho. meiro passo no autoconhecimento rumo
Era a criança de há quantos anos. ao Eu superior. Quando a consciência se
Não tinha mudado nada… expande, o ser já não necessita da másca-
É essa a vantagem de saber tirar a máscara. ra, pois os aplausos não mais o seduzem
É-se sempre a criança, nem as críticas o molestam. A autoa-
O passado que foi ceitação dá segurança efetiva e permite
A criança”. encontrar os meios de transformar em
qualidades as motivações reprováveis.
Sem a máscara do poder, da seriedade, Para ser feliz, não basta desfazer-se da
da autoconfiança, da erudição, o homem máscara. É preciso, também, livrar-se do
revela-se criança com toda a sua fragili- ego e encontrar o Eu superior ou o Self espi-
dade e singeleza. Pode viver com a espon- ritual. Viver no ego é refletir o que se recebe
taneidade da criança que não está ainda da sociedade: preconceitos, meias verda-
contaminada com a malícia e os valores des e virtudes esfarrapadas. Viver no Eu
discutíveis. Porém, sem a máscara, sente- superior é realizar o divino que existe no
-se desprotegido e volta logo a vesti-la: homem. O Eu superior não precisa de más-
caras, pois jamais pode ser atingido pelo
“Depus a máscara, e tornei a pô-la. que vem de fora, e tampouco espera algo
Assim é melhor, de quem quer seja. Realizado, está sempre
Assim sou a máscara irradiando compaixão e compreensão. 4
E volto à personalidade como
a um terminus de linha”. * Frater Sergio Carlos Covello é Psicanalista e Membro da URCI.
Desejo a todos
A paz dos Concertos de Brandenburgo!
A paz da música divina
Que Deus legou ao homem
Como um caminho a seguir.
Por ANDRÉ GENERINO DA SILVA, FRC
Desejo a todos a paz dos ventos,
Dos pássaros, das nuvens, das altas montanhas.
A paz que habita
O profundo oceano
E as galáxias.
A Grande
Fraternidade
Branca Por FRANCISCO RODRIGUES DE FREITAS, FRC*
“
Para alguns, a Grande Fraternidade
Branca é entendida como uma organização
de mestres iluminados, que vivem em
comunidade monásticas, nos recessos
mais secretos do Tibet…
” VERÃO 2019 · O ROSACRUZ
41
n TRADIÇÕES
“
… por mais disseminado que
esteja, o conhecimento esotérico
permanece inacessível enquanto não
é entendido e experienciado.
mantendo-se, assim, secreto por entre
”
nias esotéricas estariam sob a proteção dessa
as distantes montanhas daquele país. organização, no nível humano e material.
A ideia de que a Grande Fraternidade Para outros, dentre os quais os Rosacru-
Branca seria uma organização monástica zes, a Grande Fraternidade Branca seria o
incrustada nas montanhas do Tibet resulta, conjunto de doutrinas, rituais e cerimônias,
talvez, do fato de que o conhecimento esoté- métodos e processos de aprendizagem esoté-
rico, durante muitos séculos, esteve restrito rica provenientes da sabedoria conjugada de
àquela região, em cujos mosteiros e santuá- muitas mentes iluminadas ao longo dos sé-
rios as cerimônias e rituais eram conservados culos, compondo com essas mentes uma for-
e praticados em sua pureza, protegidos da te egrégora, conforme descrevemos abaixo.
curiosidade e da perseguição dos profanos. De acordo com essa abordagem, ela
Posteriormente, os mestres do conheci- não seria uma Organização material com-
mento e da sabedoria, até então restritos aos posta de homens iluminados, mas sim a
monastérios tibetanos, decidiram por sair de sabedoria esotérica que, seguindo a cadeia
suas celas e, levando consigo o segredo dos da tradição cósmica, após ter sido investi-
santuários, iniciaram longa peregrinação pelo gada, experienciada, praticada, verificada
mundo, fundando, em cada região ou país por e confirmada pelos Adeptos ao longo dos
onde passavam, organizações místicas e fra- séculos, chegou até nós como um legado
ternais, às quais transmitiam o conhecimento sagrado. Nessa perspectiva, uma ordem
e o poder de que dispunham. Desse trabalho fraternal está ligada à Grande Fraternidade
teriam nascido as ordens iniciáticas, as escolas Branca quando o conjunto de doutrinas e
de mistério responsáveis pela disseminação práticas ritualísticas que desenvolve per-
dos ensinamentos esotéricos e místicos aos tence ao legado da sabedoria primordial.
buscadores que comprovassem a sua sinceri- No entanto, a simples posse do con-
dade de propósitos. A esse conjunto de ordens junto de doutrinas, cerimônias e rituais
esotéricas também denominou-se de Grande não assegura que uma organização esteja
Fraternidade Branca, justamente porque elas, efetivamente ligada à Grande Fraternidade
em conjunto, detinham as doutrinas esotéri- Branca e que dela receba o impulso neces-
cas, os rituais e as cerimônias que eram preser- sário ao desenvolvimento do seu trabalho.
vadas nos santuários tibetanos. Dessa forma, Pois é sabido que, por mais disseminado que
o equívoco de atribuir à Grande Fraternidade esteja, o conhecimento esotérico permanece
Branca uma organização física, material e vi- inacessível enquanto não é entendido e ex-
sível, está ligado ao fato de se atribuir também perienciado. Por isso, ainda que disponível
que o conjunto de doutrinas, rituais e cerimô- e visível em sua forma alegórica ou simbó-
das Escolas Tradicionais, examinando o que terior estão registradas algumas leis e alguns
é possível fazer, não para doutrinar pessoas, princípios naturais, que, integrando uma
mas para criar condições de expressão e sabedoria primordial, poderão conduzi-lo à
manifestação dessas Ideias, para a vivência felicidade resultante da harmonia cósmica
desses princípios, na realidade do mundo que que é a expressão de sua harmonia interior.
nos cerca, com as suas complicações, com A segunda questão colocada na abor-
as suas incertezas, com os seus tumultos. dagem deste tema refere-se a como manter
A vivência da unidade cósmica é essencial contato com a Grande Fraternidade Branca.
para construir ou reconstruir pontes entre os Como foi dito no decorrer deste traba-
homens, entre marido e mulher, entre pai e lho, a Grande Fraternidade Branca não é
filho, entre patrão e empregado, entre irmãos, uma organização formalmente estruturada,
enfim. Não porque isso seja obrigatório pela do ponto de vista da realidade humana,
lei dos homens, não porque seja uma injun- mas um conjunto de doutrinas, rituais e
ção de dogmas religiosos, mas como con- cerimônias esotéricas tradicionais. Assim,
sequência natural da experiência e vivência qualquer contato deve ser feito através
da unidade, na inefável harmonia cósmica. dessas doutrinas, rituais e cerimônias que
A Grande Fraternidade Branca, em todos formam a sabedoria esotérica primordial.
os momentos da história humana, sempre O primeiro passo, então, seria o de afiliar-se
esteve voltada para a conquista da felicidade a uma organização iniciática autêntica, cujos
do próprio Ser Humano. Não uma felicidade ensinamentos façam parte dessa Fraternidade,
alicerçada em ilusões, mas fundamentada no como é o caso da Ordem Rosacruz, AMORC.
ser o próprio SER. A felicidade que resulta da Após cruzar os umbrais de uma fraterni-
alegria interior, da vivência do sentimento su- dade legítima e ligada à Grande Fraternidade
til da harmonia com todas as coisas. Ela não Branca, o estudante desejoso de realmente
é um conjunto de doutrinas e práticas ritua- aprofundar contatos com a sabedoria perene
lísticas destinadas a inspirar as fantasias e os dedicar-se-á com devoção e entusiasmo ao
sonhos de um misticismo desengajado da rea- trabalho, procurando o entendimento e a
lidade concreta. Como um corpo vivo de dou- prática dos ensinamentos recebidos, pre-
trinas, rituais e cerimônias, ela tem por objeti- parando-se, desse modo, para a Iniciação
vo transformar o mundo, pela transformação psíquica, que significa o ingresso na vene-
interior do homem que constrói esse mesmo rável Assembleia dos Adeptos, existente em
mundo com os seus pensamentos e as ações. níveis suprassensíveis. Esta Iniciação é o
A vivência do princípio da unidade cós- ingresso do estudante no seu universo inte-
mica não pode estar restrita aos experimen- rior começando vida nova, a partir de novos
tos e práticas individuais de harmonização, conhecimentos, ao nível de vivência profun-
através dos quais o estudante busca uma paz da, e até mesmo de transformação celular.
não encontrada no mundo conturbado em Quando o estudante apreende num insight
que vive, mas deve extravasar numa mani- instantâneo e completo uma lei ou princípio
festação generalizada de AMOR por tudo e que faça parte da sabedoria tradicional, dá-se
por todos. As doutrinas das quais as ordens a sua iniciação a essa irmandade oculta e
iniciáticas são canais de expressão e mani- o estudante passa a integrar a mais elevada
festação não têm por objetivo a especulação organização do mundo e a ser uma unidade
sobre o oculto, sobre o extraordinário, senão consciente da consciência universal. Ain-
lembrar ao homem que no seu universo in- da que se trate de importante e profunda
L
i recentemente algu- provam conclusivamente que fosse pouco compreendida
mas das obras místicas ele foi um alto oficial, chefe pelos estudantes posteriores,
de Sir Francis Bacon, executivo e entusiástico de- porque se tornou ultrapas-
escritas durante o tempo fensor do Rosacrucianismo sada e uma nova expres-
em que ele era Imperator da durante sua vida. Em ver- são surgiu em seu lugar.
Ordem Rosacruz. Apesar do dade, muitos dos livros A expressão de Bacon era
fato de que alguns estudiosos que tratam deste assunto “Alma do Mundo”. É bem
pesquisadores desprepara têm sido conhecidos por evidente que Bacon utilizava
dos da história Rosacruz competentes historiadores esta expressão para desig-
afirmem que não há nenhu- Rosacruzes durante muitos nar a Mente Cósmica ou a
ma evidência que revele as anos e extratos desses livros Consciência Cósmica ex-
atividades de Bacon junto têm aparecido em muitos pressa na humanidade e que
aos Rosacruzes, eu trouxe manuscritos Rosacruzes. permeia todo o espaço.
de Londres mais dois raros Em muitos dos escritos Acho a expressão usada
volumes, para serem acres- místicos de Bacon, verifi- por Bacon muito bonita e,
centados às obras de Bacon camos que ele usava uma toda vez que penso nela, ou
de nossa biblioteca; volumes expressão que era provavel- que leio em alguns dos ve-
que tratam do lado místico mente muito significativa lhos manuscritos Rosacruzes
das atividades de Bacon e para ele, porém que talvez ingleses qualquer referência
“O homem, no princípio
(quero dizer o verda-
deiro homem interior),
tanto durante como até
pouco tempo após sua
criação, era pura Essência
Intelectual, livre de todas
as tendências físicas e
carnais. Nesse estado,
a Anima, ou Natureza
Sensível, não prevalecia
sobre a natureza espiritu-
al, como o faz agora em
nós … A parte celestial,
etérea e sensorial do ho-
mem é aquilo por meio
do qual nos movemos,
enxergamos, sentimos ao
tato, degustamos e cheira-
mos, e temos contato com
todas as coisas materiais
de qualquer espécie… em
termos simples, é parte
da Alma do Mundo.” Retrato de Francis Bacon (1561-1626) numa gravura de 1845, autor desconhecido.
S.I.
A
humanidade recebe de tempos em tempos personalidades-
-alma que são “divisoras de águas”, ou seja, o mundo é um
antes delas e outro após elas.
Como verdadeiros mensageiros de Luz a serviço da
humanidade, esses seres receberam do Cósmico a missão de causar
uma forte influência na sociedade em que estavam inseridos,
recebendo postumamente o reconhecimento pela visão, liderança
e iluminação que abrangeram todo o nosso mundo. Vieram
para mudar, romper paradigmas e deixar os seus pensamentos,
palavras e ações como exemplos de seres humanos especiais.
Esta capa da revista “O Rosacruz” é dedicada a esses seres
de luz que, como Mestres, nos ensinaram o sentido da vida.