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Sobre heresias e hereges

25.11.2016

por

VozCatólica

Já que estamos em um período em que se discutem heresias e possíveis heresias, achamos oportuno
nos dedicar à explicação de alguns termos básicos, já que muitos de nós, estamos (sempre) aprendendo,
e é conveniente balizarmos nossa terminologia.

O termo heresia procede do latim Haeresis e que provém do grego αἵρεσις, e originalmente
significava "escolha" ou "coisa escolhida".

A palavra "heresia" é usualmente usada dentro de um contexto cristão, judaico ou islâmico, e implica
significados ligeiramente diferentes em cada um. O fundador ou líder de um movimento herético é
chamado de heresiarca, enquanto os indivíduos que defendem a heresia ou cometem heresia são
conhecidos como hereges. Heresiologia é o estudo da heresia.

O termo denota a negação formal ou dúvida de uma doutrina central da fé cristã, como definido por
uma ou mais das igrejas cristãs. Deve-se distinguir tanto da apostasia quanto do cisma, sendo a apostasia
quase sempre o abandono total da fé cristã depois de ter sido livremente aceita e sendo o cisma uma
violação formal e deliberada da unidade cristã e uma ofensa contra a caridade sem basear-se
essencialmente na doutrina.

No cristianismo ocidental, a heresia refere-se mais comumente às crenças que foram declaradas
anátema por qualquer um dos concílios ecumênicos reconhecidos pela Igreja Católica.

O uso da palavra "heresia" foi colocado em grande circulação por Santor Irineu em seu tratado do
século II, Adversus Haereses (Contra Heresias), que é um ataque detalhado ao gnosticismo, que ele
considerava uma séria ameaça para a Igreja. Como um dos primeiros grandes teólogos cristãos, ele
enfatizou os elementos tradicionais da Igreja, especialmente o episcopado, as Escrituras e a tradição.
Contra os gnósticos, que disseram possuir uma tradição oral secreta do próprio Jesus, Irineu sustentou
que os bispos em diferentes cidades são conhecidos desde os Apóstolos e que os bispos forneceram o
único guia seguro para a interpretação da Escritura.

Assim, de forma geral, chamamos de heresia, o que ocorre quando uma pessoa ou grupo de pessoas
professa a fé ou crença que é em parte aquela da ortodoxia, mas por outro lado, uma outra parte dessa
fé, ou sistema de crenças é diversa da ortodoxia ou Doutrina Tradicional. É nesse sentido que a acepção
original de haeresis (escolha) se aplica. Escolhe-se apenas uma parte da Doutrina, enquanto que outra
parte que se crê ou professa é estranha a essa, ou heterodoxa. O herege, portanto, aceita partes do
inteiro Depósito da Fé.

HERESIA MATERIAL e FORMAL - Os princípios da heresia podem ser a ignorância do credo verdadeiro,
o julgamento errôneo, a apreensão e compreensão imperfeita dos dogmas: em nenhum deles a vontade
desempenha um papel apreciável, por isso uma das condições necessárias da pecaminosidade - livre
escolha - não existe e tal heresia é meramente objetiva ou material. Por outro lado, a vontade pode
dirigir livremente o intelecto à adesão de princípios declarados falsos pela autoridade divina de ensino
da Igreja. Os motivos impulsionadores são muitos: o orgulho intelectual ou a confiança exagerada na
própria percepção; as ilusões do zelo religioso; as seduções do poder político ou eclesiástico; os laços de
interesses materiais e status pessoal e talvez outros mais desonrosos. A heresia assim desejada é
imputável ao sujeito e carrega consigo um grau variável de culpa. Ela é chamado de formal, porque ao
erro material acrescenta o elemento informativo de "voluntariamente".

A pertinácia, ou seja, a adesão obstinada a um princípio particular é necessária para tornar a heresia
formal. Enquanto estiver disposto a submeter-se à decisão da Igreja, ele permanece como um cristão
católico no coração e suas crenças erradas são apenas erros transitórios e opiniões fugazes.
Considerando que o intelecto humano só pode concordar com a verdade, real ou aparente, a pertinácia
estudada - como distinta da oposição desenfreada - supõe uma firme convicção subjetiva que pode ser
suficiente para informar a consciência e criar "boa fé". Tais convicções firmes resultam de circunstâncias
em que o herege não tem controle ou então de delinqüências intelectuais, em si mesmas mais ou menos
voluntárias e imputáveis. Um homem nascido e nutrido em um ambiente herético pode viver e morrer
sem nunca ter uma dúvida quanto à verdade de seu credo. Por outro lado, uma pessoa nascida católica
pode deixar-se levar por um turbilhão de pensamentos anticatólicos, do qual nenhuma autoridade
doutrinária pode resgatá-lo, e onde sua mente fica incrustada de convicções ou considerações
suficientemente poderosas para sobrepor sua consciência católica.

Não é para o homem, mas para Ele, que prescruta as mentes e o corações, sentar-se em juízo sobre a
culpa que atribui a uma consciência herética.

Fonte de consulta:

Wilhelm, Joseph. "Heresy." The Catholic Encyclopedia. Vol. 7. New York: Robert Appleton Company,
1910. 25 Nov. 2016 <http://www.newadvent.org/cathen/07256b.htm>.

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