Você está na página 1de 8

1 – Como pode ser definida a perspectiva teológica do acabamento ou do

cumprimento? Qual a sua distinção com respeito a posição teológica de


Karl Rahner e qual a incidência no magistério recente da Igreja católico-
romana?

- A teoria do acabamento destaca os valores positivos e morais de outras

religiões, entendendo, entretanto, que tais valores necessitam de um

acabamento por parte da mensagem cristã. Seriam eles marcos de espera,

uma preparação pedagógica de Deus como preparação para a ação salvífica

do evangelho tendo Jesus como elemento constitutivo para a esta salvação.

Com isto o valor das demais religiões esta no fato de que constituem,

ainda que de maneira incompleta, um anseio natural do homem em busca de

Deus. Já o Cristianismo seria não uma religião natural, mas sim uma religião

sobrenatural, conquanto seria uma resposta divina a este anseio humano,

portanto, a única expressão religiosa dada por Deus, empreendendo assim

acabamento final as demais religiões.

Karl Rahner, seguindo a teoria da presença de Cristo nas religiões,

entende que as diversas tradições religiosas da humanidade são constituídas

de valores de relevância positiva para os seus adeptos, representando uma

ordem de mediação do mistério salvífico, sendo sim religiões sobrenaturais.

Rahner reconhece que a revelação de Deus para a humanidade é

universal, e por vezes supra-religiosa, ocorrendo também, em alguns casos de

forma anônima, ainda que real.

A partir daí estabelece a polêmica tese dos “cristãos anônimos”, em que

todos os que tenham aceito livremente esta revelação de Deus, mediante a Fé,

a esperança e a caridade, elementos religiosos universais, ainda que ausentes


do cristianismo institucional são participantes do mistério salvífico e de uma

religião sobrenatural, ainda que com elementos crísticos implícitos.

Em suma, advoga-se, ainda que implicitamente a presença de Jesus em

todas as outras religiões.

2 – Quais os traços fundamentais que caracterizam a tese do pluralismo


inclusivo, defendido por Jacques Dupuis e Claude Geffré? Em que
aspectos esta perspectiva diferencia-se do inclusivismo tradicional e do
pluralismo arrojado?

Tanto Ranher, quanto Dupuis e Geffré são concordes em afirmar que

uma perspectiva soteriológica ecelesiocêntrica são insuficientes para fornecer

respostas significativas ante a pluralidade religiosa do nosso tempo.

Contanto avançam Dupuis e Geffré para uma tese de um inclusivismo

pluralista no sentido de que reconhecem o valor positivo das demais religiões,

entretanto, diferentemente de Rahner, defendem a tese de que este valor

positivo não está em uma sutil presença crística, mas sim em uma revelação

diferenciada e peculiar de Deus naquela corrente religiosa.

Na teologia de Duppuis e Geffré reconhece-se a normatividade salvífica

de Jesus, mas não a sua constitutividade para todas os segmentos religiosos.

Há, então, um reconhecimento de outras tradições religiosas como ag~encias

legítimas e autônomas de salvação e da presença de Deus no mundo, sendon

assim religiões válidas, e não apenas, expressões incompletas da fé e da

revelação.

Ainda assim não se rompe definitivamente com a unicidade de Jesus

Cristo, apenas abre-se a visão teológica para uma compreensão dinâmica e

aberta acerca da revelação de Deus na humanidade.


Para Duppuis nenhuma revelação se iguala em singularidade a

encarnação de Jesus, o filho, foi um evento decisivo, porquanto não definitivo,

na medida que abre-se a possibildade para outras manifestações divinas no

Logus e no Espírito. Em suma, podemos afirmar, a partir do inclusivismo

pluralista, que em Jesus Cristo expressa-se em o designo salvífico der Deus

em sua plenitude, ainda que não represente a única manifestação do Logus e

nem se exaure a Revelação de Deus.

Com isto abre-se a possibilidade para um diálogo inter-religioso de

“complementaridade recíproca”, que nos leve a reconhecer um valor irredutível

e irrevogável em outras religiões, que não pode ser moldado com cristianismo.

3 – Como caracterizar a tese do pluralismo de princípio? Mencionar


alguns teólogos que defendem esta posição e elencar os procedimentos
que eles acionam para justificar tal perspectiva. Em que medida e por que
razão esta tese encontra hoje tanta dificuldade em determinados setores
da Igreja católica?

Podemos falar de dois tipos de pluralismo.

O primeiro deles é o de fato ou inclusivista, onde reconhece-se a

existência de outras realidades religiosas, entretanto sob a ótica do

cumprimento ou acabamento cristão.

O segundo tipo de pluralismo é o de princípio, onde reconhece-se a

existência de valores e a essência do mistério salvífico em outras comunidades

religiosas.

Sendo assim o pluralismo de princípio reage contra a pretensão do

cristianismo em ser uma religião de revelação completa. Para tal teólogos

como John Hick, Paul Knitter e Raimund Panikkar.

O pensamento teológico do pluralismo religioso é alicerçado no

Teocentrismo e não no cristocentrismo da teologia tradicional e conciliar. A


partir deste ponto de vista o Jesus passa a não ser constitutivo para a

salvação.

A partir deste ponto de vista em John Rick há um questionamento da

veracidade da encarnação de Jesus que para o teólogo seria apenas uma

metáfora e não um evento histórico veraz.

Assumindo-se a literalidade da encarnação de Jesus prejudica-se o

diálogo com outras correntes religiosas. A “centralidade no Real” em John Hick

denota que para além de qualquer manifestação de consciência humana-

dogmática existe uma realidade última que age na vida humana independente

do seu credo religioso.

Em Knitter Jesus assume uma “unicidade relacional cacaraceterizada

por sua capacidade de por-se em relação, isto é, de incluir e de ser incluído

com outros personagens religiosos únicos”. Nisto “Jesus de Nazaré continuará

a existir sem ser imposto como símbolo unificante. Como expressão

universalmente plena e normativa de tudo aquilo que Deus tem em mente para

toda a humanidade”.

Questionar a constitutividade de Jesus e sua encarnação causaram um

sério conflito na cristandade conciliar. Sendo que os teólogos pluralistas

católicos, entre eles os inclusivistas, sofreram reprimendas e censuras dos

Concílios superiores.

4 – Como se traduz a para Paul Tillich a Presença Espiritual nas religiões?


Quais os limites e possibilidades das religiões refletirem esta Presença
Espiritual?

A marca da Presença Espiritual nas religiões em Paul Tillich é expressa

através do que ele denominava como substância católica das religiões, que é

relacionada com o princípio protestante que evidencia que nenhuma realidade


religiosa expressa em sua totalidade o mistério maior, abrindo-se assim, ainda

que limitadamente, possibilidade para o diálogo religioso.

Sobre substância católica da religiões enfatizava, diferentemente de Karl

Barth, que a experiência religiosa revelatória é universalmente humana. Não há

no discurso teológico de Tillich a possibilidade de uma humanidade

abandonada da presença de Deus.

Toda a história bem como as diversas corrente religiosas, entende o

teólogo, está marcada pela Presença Espiritual, sendo que a forma de

compreensão desta Presença, devido a contingência do tempo é opaca e

limitada, não se esgotando em quaisquer ramos religiosos.

Para superar as limitações e deformações da ambigüidade religiosa,

devido a esta dinâmica contingencial, a religião deve encontrar a superação

através do “princípio protestante”, que torna-se uma barre.

Contudo, quanto a esta revelação o teólogo afirma existir duas

revelações, uma preparatória e outra receptora. “O centro da história da

revelação divide todo o processo em revelação preparatória e receptora. A

portadora da revelação receptora é a igreja cristã. O período da revelação

começou com o início da Igreja. Todas as religiões e culturas fora da Igreja,

conforme o julgamento cristão, ainda estão no período de preparação.”

Com isto, Jesus marca a diferença qualitativa na revelação de Deus na

história humana. Entretanto esta presença qualitativa da presença espiritual em

Jesus não é quantitativa, permanece em aberto o processo revelatório de Deus

na humanidade.
As demais comunidades religiosas estão sobre o impacto da presença

Espiritual, não em sua totalidade, pois lhes faltam critérios de amor e Fé em

Cristo.

E quando fala sobre Cristo, Tillich faz uma distição histórica entre o

Jesus histórico e o Cristo. Ele entende ser Jesus o Cristo, mas abre-se para a

possibilidade de que o Cristo de Deus não se encerra em Jesus. Entende-se

assim que há uma realidade crítica em outras culturas religiosas e períodos da

história.

5 - Em que medida para John Hick a posição inclusivista interdita uma


perspectiva mais aberta para a avaliação das diversas tradições
religiosas? Como caracterizar a sua hipótese pluralista? Como ele
justifica em sua posição a singularidade da cada tradição religiosa?

A crítica de John Hick para com o inclusivismo se deve ao fato de que

esta perspectiva, ainda que represente o início de um avanço para diálogo

inter-religioso, limita a salvação à salvação cristã, o que para o teólogo é ainda

reflexo de uma teologia fundamentalista e imperialista.

A tese da presença de um Cristo celestial, o Logus, em todas as

tradições religiosas suscita a questão: Em que medida a expiação de Cristo

sistematizada na fé cristã se manifesta em seu exercício salvador em outras

religiões?

Advogar apenas a tese do Cristo-Logus como resposta para esta

questão a expõe como uma “concepção vaga que, quando colocada sob

pressão de aclarar-se, move na direção do pluralismo religioso”.

Na tese pluralista de Hick o cristianismo deixa de ser o único meio

possível de salvação e as demais correntes religiosas são agentes legítimos e


autônomos de salvação, como revelações verdadeiras e não a serem

aperfeiçoadas pelo cristianismo.

Para exemplificar tal hipótese o teólogo usas a figura simbólica do arco-

íris que “expressa a positiva refração da luz, ou do Real, nas diversas culturas

religiosas da humanidade”. Todas as demais vertentes das grandes religiões

são meio diferente, diversos, mas válidos para experimentar a realidade última,

que o cristianismo entende ser um Deus pessoal.

Sendo assim cada tradição religiosa ao seu modo busca, por caminhos

diversos, a descentralidade de si a fim de que a centralidade no Real possa ser

alcançada.

Nisto temos o valor singular de cada tradição religiosa uma experiência

de revelação factível, justa e verdadeira que conduz o ser humano a uma

dimensão redentiva frente ao sagrado.

6 - A partir da trilha da criteriologia ecumênica defendida por Hans Kung,


com base no critério especificamente cristão, alguns teólogos tem
defendido e justificado a normatividade de Jesus Cristo. Como tem se
dado esta defesa e em que medida esta tese pode ser compatibilizada
com o pluralismo religioso?

Em Hans Kung temos no cristianismo não uma exclusividade como

religião, mas sim uma singularidade diferenciada. Tal singularidade reside no

fato de considerar Jesus como essencial, normativo e determinante. Com isto o

teólogo reconhece ser Jesus a suprema e decisiva instância para o

relacionamento humano com Deus.

Como elementos para uma cristologia inter-religiosa válida em todas as

religiões Kung estabelece três critérios distintos.

O primeiro critério é o ético-geral. Uma religião é verdadeira e boa na

medida que ela é humana, não oprimindo e nem destruindo o humanismo.


Como segundo critério temos o religioso geral que estabelece ser uma religião

verdadeira e boa conquanto permanece fiel a sua origem e seu cânon, isto é a

sua essência. E por fim, temos como terceiro critério o cristão específico, onde

uma religião é válida na medida em que se permite reconhecer em sua teoria e

prática o espírito de Cristo.

Uma tentativa, ainda que precária de compatibilizar a teologia de Kung

com o pluralismo reside no fato de que para o teólogo este terceiro critério só

pode ser aplicado diretamente ao cristianismo. Quanto as demais religiões

devemos perceber, sem superioridade, elementos que identificamos como

cristãos.

Em todas as vertentes religiosas temos critérios de especificidade que

fazem com que estas religiões do ponto de vista externo e histórico sejam

verdadeiras. Entretanto, o teólogo entende que do ponto de vista interno e

individual há apenas uma verdade universal, defendida pelo professante

daquela Fé.

Pensando assim e a partir do ponto de vista cristão o que professa a Fé

torna-se fervoroso com a tese de sua verdade universal, sem contudo deixar de

reconhecer que historicamente existam valores e verdades em outras correntes

religiosas.

Você também pode gostar