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Psico-USF, v. 9, n. 1, p. 105-106, Jan./Jun.

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Estudante universitário: características e experiências de formação

Adriana Cristina Boulhoça Suehiro1

Mercuri, E. & Polydoro, S. A. J. (Org.). (2004). Estudante universitário: características e experiências de


formação. Taubaté: Cabral Editora e Livraria Universitária.

Diante da constatação de que o estudante Cônscios da necessidade de estudos que


universitário tem sido pouco focalizado nos estudos apresentem o universitário como foco de análise e,
referentes ao sistema de ensino superior, visto que, na especificamente, dos aspectos psicológicos envolvidos
maioria das vezes, são apenas participantes das pesquisas, na trajetória de formação desses estudantes e da
as organizadoras desse livro objetivam promover uma necessidade de que as instituições planejem e implantem
aproximação de produções científicas, nas quais o estratégias mais adequadas ao desenvolvimento integral
objeto central de estudo é o universitário. Ao lado disso, dos mesmos, Soely A. J. Polydoro e Ricardo Primi
pretendem favorecer a discussão sobre os conhecimentos trazem, no segundo capítulo, os resultados obtidos em
necessários para a compreensão de suas necessidades. uma pesquisa que buscou verificar a contribuição das
Convictas de que o conhecimento sobre esses estudantes características de personalidade para a adaptação ao
envolve a identificação de suas características ao chegar à Ensino Superior. Os resultados obtidos indicam, por um
universidade, o conhecimento sobre a forma como se lado, que a crença dos estudantes em suas capacidades,
dá a sua interação com a nova realidade educacional e o desejo de mudanças e a competência em organizar
suas conseqüências em relação à formação, Mercuri e estratégias de ação associam-se a uma tendência maior
Polydoro organizam os textos de modo a oferecer um de adaptação. Por outro lado, características como a
panorama sobre as diferentes questões focalizadas nesta organização, persistência e independência relacionam-se
área de estudo. Os nove capítulos, escritos por profis- à maior dedicação de tempo aos estudos. Polydoro e
sionais de Psicologia e áreas afins, referem-se a estudos Primi encerram sua contribuição, salientando a neces-
desenvolvidos por meio de diversas abordagens teóricas sidade de outros estudos que abordem esse tema, tendo
e metodológicas, caracterizando-se como estudos em vista que a integração do estudante é um processo
independentes, porém relevantes para uma compreensão multifacetado que exige uma abordagem mais ampla do
mais aprofundada das mudanças ocorridas no nível que a relatada, em sua avaliação e intervenção.
superior de ensino. Considerando a importância da motivação dos
No capítulo inicial, Leandro de Almeida e Ana estudantes para que a aprendizagem se concretize e os
Paula Soares apresentam uma análise da literatura sobre resultados de pesquisas recentes sobre o tema, Rita da
como se processa a transição dos estudantes do Ensino Penha Campos Zenorini e Acácia Aparecida Angeli dos
Secundário para o Ensino Superior, destacando que ela Santos analisam, no capítulo três, as relações entre os dife-
não se circunscreve apenas a aspectos acadêmicos, mas rentes tipos de metas de realização (aprender e performance)
integra questões pessoais e sociais. Assim, descrevem os e o uso de estratégias de aprendizagem no desempenho
principais desafios e dificuldades do processo de transição acadêmico de alunos universitários. Os resultados
e adaptação do estudante ao ensino superior, especialmente, evidenciam uma correlação significativa entre a utilização
no que se refere ao rendimento escolar e desenvolvimento de estratégias de aprendizagem (cognitivas complexas e
psicossocial. Em suas conclusões, fazem referência às metacognitivas) com o desempenho acadêmico. O estudo
práticas e serviços institucionais dirigidos, por algumas revela ainda que os alunos orientados à meta performance
instituições, aos estudantes mais fragilizados neste pro- apresentam correlação negativa com a maioria dos
cesso, destacando que os resultados da investigação fatores da escala de estratégias e com o desempenho
realizada permitem concluir que nem todos os acadêmico e que as mulheres mostram-se mais orientadas
universitários precisam do mesmo tipo de apoio nessa para a meta aprender, utilizam mais freqüentemente
nova fase de suas vidas, já que suas motivações, estratégias de aprendizagem e apresentam um desempenho
habilidades cognitivas, background acadêmico, expectativas acadêmico mais elevado.
e níveis de autonomia acabam diferenciando-os. A Isabel Cristina Dib Bariani traz sua contribuição
investigação de Almeida e Soares sugere, ainda, que para a compreensão do estudante universitário, no capí-
uma das formas de favorecer a integração e a adaptação tulo quatro, apresentando estudos oriundos da literatura
desses estudantes está em propiciar oportunidades para sobre os estilos cognitivos. A autora considera que os
sua participação social e desenvolvimento acadêmico. estilos cognitivos são uma dentre as muitas variáveis

1Endereço para correspondência:


E-mail: dricbs@yahoo.com.br
Revista Psico-USF, v. 8, n. 2, p. 103-114, Jul./Dez. 2003
106 Adriana Cristina Boulhoça Suehiro

que interferem no processo ensino–aprendizagem e que anterior. Além disso, as autoras relatam os resultados de
os conhecimentos existentes sobre os mesmos podem um estudo qualitativo que buscou investigar as relações
viabilizar práticas educativas mais eficazes e contribuir entre o envolvimento dos estudantes em atividades não
para a formação dos universitários. Um exemplo do obrigatórias e suas mudanças pessoais. Os resultados
quanto os conhecimentos disponíveis podem ter um indicam que a participação e o envolvimento em
grande valor é, segundo Bariani, a possibilidade de atividades não obrigatórias parecem desencadear mu-
elaborar cuidadosamente as estruturas curriculares, danças pessoais que favorecem a adaptação e integração
tanto em seus fundamentos filosóficos e psicopeda- ao contexto universitário.
gógicos, quanto no que se refere ao planejamento das O capítulo oito é resultado de um levantamento
grades curriculares e das atividades programadas no que visou conhecer os problemas enfrentados pelos
cotidiano das universidades. universitários brasileiros na fase que estavam viven-
Defendendo que a formação profissional no ciando e as estratégias que auxiliavam na solução dos
ensino superior deveria articular a competência técnica à mesmos. O estudo realizado por Elisabete Monteiro de
social, Zilda A. P. Del Prette e Almir Del Prette relatam, Aguiar Pereira evidencia que os problemas mais
no capítulo cinco, alguns de seus esforços na análise e freqüentes dos universitários são os relacionados aos
promoção do desenvolvimento interpessoal do estudante estudos e às relações interpessoais e de socialização,
universitário e propõem a experiência do Programa de seguidos pelos materiais e os de identidade e que a
Desenvolvimento Interpessoal Profissional. Trata-se de maioria deles procura resolvê-los pessoalmente ou com
um programa de intervenção desenvolvido para suprir a ajuda de pessoas próximas.
déficits interpessoais e maximizar o desempenho social No capítulo final do livro suas organizadoras
em diferentes contextos. Segundo os autores, a inserção recorrem aos resultados de uma série de estudos cujo
de programas desse tipo no currículo de ensino superior foco é a evasão para compreenderem como ocorre o
parece uma alternativa promissora para garantir um repertó- processo de decisão de permanência/evasão ao longo
rio de habilidades e competência interpessoal necessário da trajetória de graduação do estudante. As autoras
para que se integre ao processo educativo, uma formação concluem a análise desses estudos, destacando o papel
mais ampla do estudante, maximizando a qualidade de das variáveis associadas à definição do curso nesse
sua atuação profissional em termos técnicos e éticos. processo decisório.
Tratando do impacto da formação universitária Estudante universitário: características e experiências de
sobre o estudante, Graziela Giusti Pachane traz, no formação é um livro que revela uma preocupação em se
capítulo seis, uma análise das contribuições da formação compreender como o estudante universitário percebe e
universitária nas mudanças pessoais do estudante, vivencia essa nova fase de sua vida, repleta de novos e
apontando as contínuas rupturas às quais estão expostos complexos desafios acadêmicos, sociais, pessoais e
e suas conseqüências. A pesquisa realizada pela autora vocacionais. Nesse sentido, trata-se de uma obra bastante
revela que a diversidade de relacionamentos pessoais e a interessante para profissionais e estudantes que, de alguma
aquisição de novos conhecimentos foram importantes maneira, estejam envolvidos com o ensino superior e que
para o desenvolvimento dos alunos pesquisados, enquanto compartilhem a necessidade de lançar um olhar mais
profissionais e indivíduos, sendo ainda percebidas aprofundado sobre como as mudanças intra e interpes-
outras alterações em relação a características pessoais, soais se processam nessa fase. Sua organização permite
tais como personalidade e atitudes. que, ao final da obra, o leitor disponha de uma série de
No capítulo seguinte Camila Alves Fior e Elizabeth informações importantes sobre como o estudante
Mercuri apresentam uma série de estudos desenvolvidos universitário tem sido compreendido, o que faz com que
a fim de se compreenderem as alterações nos estudantes o livro seja uma excelente fonte de referência.
universitários, considerando o contexto no qual
encontram-se inseridos como uma fonte potencial de Recebido em maio de 2004
influência sobre suas transformações cognitivas e afetivas Aprovado em junho de 2004
durante os anos de graduação, a exemplo do capítulo

Sobre a autora:
Adriana Cristina Boulhoça Suehiro é psicóloga e mestranda pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em
Psicologia da Universidade São Francisco.

Psico-USF, v. 9, n. 1, p. 105-106, Jan./Jun. 2004

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