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Real

Gazeta
NESTA EDIÇÃO

•VIAGEM AO BRASIL-Pág. 5

do Alto
•COMUNICADO AOS PORTUGUESES DE S.A.R. O SENHOR
D. DUARTE, DUQUE DE BRAGANÇA-Pág.6
•A PRINCESA ISABEL, DO BRASIL EM PORTUGAL-Pág. 8
•MONÁRQUICOS QUE LUTARAM PELA LIBERDADE-Pág. 14
•O TESTEMUNHO DE UMA MÉDICA NO COMBATE À PANDEMIA-Pág. 22

Minho
•RECONHECIMENTO DO DUQUE DE BRAGANÇA PELO ESTADO
PORTUGUÊS-Pág. 27
•ENTREVISTA A SUA ALTEZA A INFANTA DONA MARIA FRANCISCA DE
BRAGANÇA-PÁG. 33
•A VIRTUDE PRÓPRIA DA COROA-Pág. 43
•ÉTICA NA POLÍTICA E O FUTURO DE PORTUGAL-PÁG. 48
•A SOLIDARIEDADE DA CASA REAL PORTUGUESA-Pág. 53
•OS DEPUTADOS ELEITOS ÀS CORTES, PELO MINHO EM 1820-Pág.57
DIRECTOR •PROCLAMEMOS, PORTUGUESES, O COMBATE À CORRUPÇÃO-Pág. 60
JOSÉ ANÍBAL MARINHO GOMES

REDACTOR
PORFÍRIO SILVA

Edição do Centro de Estudos Adriano Xavier Cordeiro | n.º 24

JUNHO 2020
EDITORIAL
JOSÉ ANÍBAL MARINHO GOMES

Durante a quarentena que Portugal atravessou, a A liberdade de expressão traduz-se no “direito de


Família Real Portuguesa apoiou, desde a primeira exprimir e divulgar livremente o seu pensamento
hora, os que lidavam de perto com a pandemia. pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro
Sua Alteza Real o Senhor D. Duarte, acompanhado meio”. Mas este direito fundamental, previsto no
algumas vezes pelo Principie da Beira, D. Afonso de art.º 37º da Constituição português, também inclui
Santa Maria, participou em algumas actividades de a liberdade de informação que se manifesta no
solidariedade e apoio aos profissionais de saúde, “direito de informar, de se informar e de ser
bombeiros, lares, instituições de solidariedade social informados, sem impedimentos nem
etc., a quem, por intermédio da Fundação D. Manuel discriminações”.
II, doaram máscaras e outro tipo de material médico, E os portugueses têm o direito de se informar
assim como géneros alimentícios, interessando-se, sobre as actividades do Presidente da República e
desta forma, directamente pelas necessidades dos do primeiro Ministro. E têm o direito de ser
portugueses. informados das actividades d’Aquele que
Uma das formas de reconhecer o empenho, o representa cerca de nove séculos da nossa
altruísmo e o profissionalismo com que os história.
profissionais de saúde têm ajudado os portugueses, A coroa é o símbolo da unidade e permanência do
foi o gesto simples de a Família Real colaborar na Estado, é a instituição chave da democracia e a
iniciativa da empresa de restauração “Dez Prá Uma” pedra angular da liberdade, e pilar fundamental
de oferecer refeições aos profissionais de saúde, com da democracia.
mensagens de força, escritas pela população. E os Portugueses devem unir-se, sendo
Sua Alteza Real, o Senhor D. Duarte enviou a fundamental a responsabilidade e solidariedade
seguinte mensagem de estímulo para o Hospital de todos.
Curry Cabral: Assim, o sector público e privado, e a sociedade
"Neste tempo, em que vivemos momentos tão civil como um todo, unindo esforços e utilizando
dramáticos, agradecemos a Deus pelo vosso de forma inteligente e racional e com
exemplo de serviço para com o próximo. transparência e rigor os recursos de que
Agradecemos a Deus por saber que vos temos dispomos, seremos capazes de vencer a crise,
connosco, com todos os portugueses. reactivando a economia nacional, muito
Rezamos para que não desanimem, para que Deus debilitada, começando por adquirir produtos
vos acompanhe e vos guie. Pedimos pelas vossas portugueses.
famílias que também são um grande exemplo de Ao longo dos séculos, sempre que os portugueses
abnegação e sacrifício. trabalham juntos por um objectivo comum, foram
Que Deus vos tenha a todos na Sua Santa guarda e capazes de superar todas as dificuldades, por mais
que Nossa Senhora, nossa Mãe e Rainha, também difíceis que fossem.
vos acompanhe, às vossas famílias e aos doentes.
MUITO OBRIGADO!
Dom Duarte de Bragança e família". VIVA PORTUGAL E OS PORTUGUESES!
 
Os órgãos de comunicação social, controlados por
uma elite que nos policia o pensamento, silenciaram
as actividades da Família Real, cuja divulgação era
apenas feita através das redes sociais pela Causa
Real e Reais Associações e nas páginas da Fundação
D. Manuel II e da Casa Real Portuguesa.
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reis de Portugal

D. João V
Filhos

Nascimento – 22 de Outubro de 1689, Lisboa. D. Maria Bárbara (D.Maria Bárbara Xavier Leonor
Teresa Antónia Josefa), Rainha de Espanha
Morte – 31 de Julho de 1750, Paço da Ribeira, (Lisboa, 4 de Dezembro de 1711 – Palácio Real de
Lisboa. Está sepultado no Panteão da Dinastia
Aranjuez, Aranjuez, Espanha, 27 de Agosto de
de Bragança, Igreja de São Vicente de Fora,
Lisboa. 1758. Sepultada no Convento das Salésias Reais,
Madrid, Espanha).
Reinado - 9 de Dezembro de 1706 a 31 de Julho Casou com Fernando VI, Rei de Espanha, filho
de 1750. de Filipe V de Espanha e de Maria Luísa de
Sabóia.
Consorte – D. Maria Ana da Áustria.
D. Pedro de Bragança (D. Pedro de Alcântara
Dinastia – Bragança. Francisco António João Carlos Xavier de Paula
Miguel Rafael), Príncipe do Brasil (Lisboa, 19 de
Cognome – “O Magnânimo”. Outubro de 1712 – Palácio da Torre, Lisboa, 29 de
Outubro de 1714. Sepultado Panteão Real da
Títulos, estilos e honrarias
“Sua Alteza, o Sereníssimo Infante João de Dinastia de Bragança). D. José I de Portugal.
Portugal” (22 de Outubro de 1689 – 1 de D. Carlos (D. Carlos João Manuel Alexandre de
Dezembro de 1696). Bragança), Infante de Portugal, Prior do Crato
“Sua Alteza Real, o Príncipe do Brasil” (1 de (Lisboa, 2 de Maio de 1716 - Lisboa, 30 de Março
Dezembro de 1696 – 9 de Dezembro de 1706). de 1730. Sepultado Panteão Real da Dinastia de
“Sua Majestade, o Rei” (9 de Dezembro de 1706 –
23 de Dezembro de 1748). Bragança).
“Sua Majestade Fidelíssima, o Rei” (23 de D. Pedro III (D. Pedro Clemente Francisco José
Dezembro de 1748 – 31 de Julho de 1750). António), Príncipe do Brasil e Rei Consorte de
Portugal (Lisboa, 5 de Julho de 1717 – Paço de
O estilo oficial de D. João V como Rei era: Nossa Senhora da Ajuda, Queluz, 25 de Maio de
“Pela Graça de Deus, João V, Rei de Portugal e
dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, 1786. Sepultado Panteão Real da Dinastia de
Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Bragança).
Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.” D. Alexandre de Bragança (Alexandre Francisco
José António Nicolau de Bragança), Infante de
Como Rei de Portugal, foi Grão-Mestre das Portugal (Paço da Ribeira, Lisboa, 24 de
seguintes Ordens:
Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Setembro de 1723 – Paço da Ribeira, Lisboa, 2
Cristo. de Agosto de 1728. Sepultado Panteão Real da
Ordem de São Bento de Avis. Dinastia de Bragança).
Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem de
Sant'Iago da Espada.
Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada.

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Filhos naturais D. João V em pessoa

De D. Luísa Inês Antónia Machado Monteiro «de huma estatura bizarra, e proporcionada, de
D. António de Bragança (Lisboa, 1 de Outubro agradavel presença, magestoso aspecto, olhos
de 1714-Lisboa, 14 de Agosto de 1800. Sepultado grandes, e pardos, nariz quasi aquilino, e todas
no exterior do Panteão Real da Dinastia de as mais feições proporcionadas, agil,
Bragança), Doutor em Teologia, Cavaleiro da desembaraçado, e robuzto. He animado de
Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo. hum espirito vivo, e sublime, com inexplicavel
agudeza, admiravel comprehensaõ nos
De D. Madalena Máxima de Miranda negocios, prodigiosa memoria, com hum
ou da Silva, religiosa no mosteiro cisterciense de conhecimento individual de toda a pessoa, que
São Dinis de Odivelas. Filha de António de huma vez vio, e de inviolável segredo […] nos
Miranda Henriques e de D. Maria de Bourbon. divertimentos moderado, porque o seu mayor
saõ os livros, porém quando entra no da caça
De D. Filipa de Noronha, filha do Marquês de he incansavel, taõ destro na lança, como na
Cascais espingarda» (Sousa, VII, p. 177) «dotado do mais
Criança do sexo feminino (Mosteiro de Freiras agudo entendimento em perceber o que se lhe
de Santa Clara-30 de Maio de 1710, durou propunha. Soube com perfeiçaõ as linguas
poucos meses). Latina, Castelhana, Franceza, e Italiana, sendo
na Portugueza o mais puro, e mais eloquente.
De Madre Paula de Odivelas (Paula Teresa da Teve noticia das partes da Mathematica
Silva e Almeida) convenientes a hum Principe, naõ lhe foraõ
D. José de Bragança (Lisboa, 8 de Setembro de peregrinas as Leys Imperiaes, e Canones da
1720 – Lisboa, 31 de Julho de 1801. Sepultado no Igreja; e no conhecimento dos Ritos, e disciplina
exterior do Panteão Real da Dinastia de Ecclesiastica o mais douto, e versado entre os
Bragança). Doutor em Teologia, Inquisidor-mor. mayores homens desta profissaõ» (Machado,
pp. 45-46).
De D. Luísa Clara de Portugal, “a Flor da Murta”,
dama da casa da rainha. Filha de Bernardo de
Távora de Vasconcelos e Sousa e de D. Maria
Madalena de Portugal.
D. Maria Rita de Bragança (Maio de 1731–1808),
Monja no Convento de Santos, em Lisboa.
 
De uma senhora francesa incógnita
D. Joana Rita de Bragança

Pai D. Pedro II.


Mãe D. Maria Sofia de Neuburgo.

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Viagem ao Brasil
Na segunda quinzena de Fevereiro o Senhor A viagem foi interrompida antes do previsto,
Dom Duarte e sua Filha foram ao Brasil. A devido ao início da epidemia do vírus COVID-19
visita começou com uma breve estadia na no Brasil, mas ainda tiveram a oportunidade
cidade do Recife a fim de rever a família do de visitar a cidade de São Paulo por alguns
grande escritor Ariano Suassuna, que morreu o dias. Nessa cidade, onde foram hóspedes da
ano passado. Durante essa estadia foram Princesa Dona Isabel de Sabóia o Senhor Dom
hóspedes da sua filha, Sra. D. Cristina Suassuna Duarte realizou uma conferência na Casa de
e do seu neto Dr. Gilberto Freyre Neto, actual Portugal a convite do seu presidente, Sr. Dr.
Secretário Estadual da Cultura do estado de António dos Ramos. O tema foi “A influência da
Pernambuco. Língua Portuguesa no mundo”, tendo este
Seguiu-se uma viagem à Região Amazónica evento sido organizado pelo Dr. Durval de
que começou pela interessante cidade de Noronha Goyos.
Manaus e continuou com uma visita à região
do rio Negro. A Infanta Dona Maria Francisca
passou alguns dias em casa dos seus primos
brasileiros no Rio de Janeiro, Príncipes Dom
Alberto e Dona Maritza de Orleans e Bragança
e seus filhos, assim como na vila histórica de
Paraty (RJ), onde foi hóspede do Príncipe Dom
João de Orleans e Bragança.

A expedição no rio Negro

O encontro das águas do rio Negro e do rio Solimões em


Manaus

O Presidente da Casa de Portugal e o Sr. Dr. Durval de


Noronha Goyos durante o acto da condecoração de
S.A.R., o Duque de Bragança com a Ordem Infante Dom
Henrique, entregue pelo Presidente da Casa de Portugal

Teatro do Amazonas em Manaus

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Comunicado aos Portugueses 


S.A.R. o Senhor D. Duarte, Duque de Bragança

Portugueses:
 
Nas circunstâncias da pandemia que vivemos, reconheço os valores que constituem a alma
portuguesa e que se manifestam hoje com profunda esperança no nosso futuro comum. São exemplo
disso a civilidade e a prontidão com que os portugueses se mostraram convocados para o bem de
todos, visível na tranquilidade e prudência com que se respeitam as instruções das autoridades,
reduzindo o comércio, fechando os escritórios ou limitando ao mínimo indispensável a saída de suas
casas. 
Não esqueço as Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo e a forma como nesses locais de
residência e trabalho tão bem têm representado Portugal quando é tão importante ser exemplo.
Uma palavra de enorme respeito e gratidão por todos os médicos, enfermeiros, profissionais da saúde e
de lares que, em condições de grande tensão e cansaço, e grave falta de meios, têm sido inexcedíveis a
cuidar dos doentes do covid-19 e das outras enfermidades, com altruísmo e generosidade, mostrando
bem de que fibra são feitos. Assim também aos cientistas e pesquisadores nacionais que
afincadamente procuram remédio.
Com apreço quero agradecer a todos quantos servem a comunidade que somos, minorando as
consequências das circunstâncias e permitindo um confinamento tão confortável quanto possível -
militares, bombeiros voluntários, forças de segurança, profissionais dos serviços básicos de limpeza,
água, etc., das mercearias e supermercados, farmácias, e tantos outros. 
Não esqueçamos o fundamental serviço prestado pelos agricultores. Agora mais do que nunca
percebemos a importância de Portugal poder produzir uma boa parte do que todos consumimos…
Com alegria, vejo também a criatividade e engenho com os quais tantas empresas particularmente
atingidas pela queda brusca da sua actividade se reinventam para acudir a quem mais precisa, criando
propostas onde parecia só haver desalento: cozinhas de hotéis que trabalham para IPSS, restaurantes e
pequenos negócios que fazem entregas em casa, e tantos outros.
A todos quantos se vêem com o seu sustento familiar subitamente interrompido ou diminuído,
manifesto a minha total solidariedade.
Vejo com grande preocupação as muitas famílias que emigraram para Portugal com dificuldades
económicas, em particular as do Brasil, terra Natal de minha Mãe. E fico feliz pelas muitas pessoas que
continuam a ajudar aqueles que, por estarem aqui há pouco tempo, não beneficiam de apoio da
Segurança Social.
Saibam que não estão esquecidos e que, como noutras crises, entre todos havemos de encontrar
soluções para a vossa grande aflição.
Quantos voluntários e instituições caritativas multiplicaram esforços para chegar aos mais vulneráveis e
atingidos, apoiados no reforço financeiro que de outras famílias lhes vai chegando através de
donativos. 
A todos os que, enlutados, sofrem a dor da morte nas suas famílias, a minha compaixão. 
Nunca como agora se manifestou tão claramente a importância das várias profissões e a honradez do
trabalho de cada um e quanto em sociedade dependemos uns dos outros.
É também nestes momentos em que lutamos contra um inimigo invisível  que vemos como os
Portugueses respondem com serenidade. Vemos como um número crescente de pessoas prefere
comprar produtos agrícolas ou industriais produzidos em Portugal, contribuindo para diminuir o
desemprego e a crise económica que ameaça a sobrevivência da nossa economia. As escolhas
inteligentes são cada vez mais importantes para garantir o nosso futuro colectivo!

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Nesta altura em que nos sentimos, de certa maneira, isolados não deixamos de pensar nas pessoas que
estão mais sozinhas e desamparadas.
Havemos de viver esta crise também como oportunidade, firmes na grandeza das inúmeras
qualidades que são as nossas, certos na Esperança que nos foi confiada.
Espero que esta Páscoa e esta provação nos tenha recentrado no essencial da vida e nos conceda a
todos, crentes e não crentes, um espírito de renovação, de Paz e de unidade.
Sua Santidade o Papa Francisco disse que esta pandemia era “uma resposta da Natureza” face ao
nosso comportamento. Que este aviso nos leve a respeitar melhor o ambiente, não esquecendo o
respeito pela Natureza humana que inclui o direito à vida dos mais frágeis.
Peçamos à Imaculada Conceição, Rainha de Portugal, que mais uma vez proteja a nossa Pátria!
Assim também se cumpra Portugal.
 
Dom Duarte de Bragança
 
Sintra, 23 de Abril de 2020

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A PRINCESA ISABEL, DO BRASIL


EM PORTUGAL
HUMBERTO PINHO DA SILVA

Abstract

Princess Isabel, from Brazil, upon learning of the


sanctity of Sister Maria Droste, comes to Portugal,
to erect a basilica to the Sacred Heart of Jesus, in
the city of Porto.
Visit the Convent of the Good Shepherd and have
lunch with the sisters. As there is already a basilica
in Lisbon, with the same invocation, she returns to
Paris.

Key words: Princess Isabel; porto; sister Maria.


 
Résumé
 
La princesse Isabel, du Brésil, après avoir appris la
sainteté de sœur Maria Droste, vient au Portugal,
pour ériger une basilique au Sacré-Cœur de Jésus,
dans la ville de Porto.
Visitez le couvent du Bon Pasteur et déjeunez
avec les sœurs. Comme il y a déjà une basilique à
Lisbonne, avec la même invocation, elle revient à
Paris.
Princesa Isabel
Mots clés: Princesse Isabel; porto; sœur Maria.

A Condessa Maria Droste Zu Vischering – Era alegre e queria que todos, que com ela
nasceu em Munster a 8 de Setembro de 1863, convivessem, fossem felizes.
(Alemanha.) Foi religiosa, no Convento do Bom Mantinha, no seu quarto – hoje transformado
Pastor, no Porto – Rua do Vale Formoso, – onde em capela, – íntimas conversas com Jesus.
faleceu a 8 de Junho de 1899, no dia da festa A seu pedido, com autorização de D. Teotónio
do Sagrado Coração de Jesus. Vieira de Castro – seu confessor, – escreveu a
Leão XIII, para que consagrasse o Mundo, ao
Sagrado Coração de Jesus.
Impressionada pelas cartas da Irmã Maria, e
íntimas conversas com R. P. Lemius, Diretor
Nacional de Montmartre, a Princesa Isabel,
filha de D. Pedro II, resolveu vir a Portugal, no
propósito de erguer basílica, em honra do
Divino Coração.
O local escolhido, era a cidade do Porto, no
Convento onde a Irmã Maria, vivera.
Casa onde nasceu e viveu a Irmã Maria A ilustre e bondosa Princesa, deslocou-se ao
Paço Episcopal do Porto, para expor, a D.
A Irmã Maria – como é conhecida, António Barroso, o seu desejo. Partiu, depois
carinhosamente, na cidade do Porto, – chegou para Lisboa, a fim de cumprimentar a Rainha
a Portugal, a 24 de Janeiro de 1894, vindo a ser D. Amélia.
Superiora do Recolhimento do Bom Pastor.

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Convento onde a Irmã Maria viveu em Portugal

Constatou, porém, que o projeto era inviável, nem


necessário, visto já existir, em Lisboa, basílica
consagrada ao Divino Coração.
Nos anais, da Congregação do Bom Pastor, no Porto,
consta que a Princesa efetuou uma visita à
Comunidade, para conhecer o local onde vivera a Irmã Maria aos 20 anos de idade
bem-aventurada.
Traslado do francês, para melhor compreensão, e
quase formalmente, o que reza o velho manuscrito: A concluir, devo ainda esclarecer: a Irmã Maria,
foi beatificada, a 13/02/1964; e é venerada, por
muitos portuenses, que recorrem a ela, como
“A Senhora Condessa d’Eu veio fazer-nos uma
intermediária, junto de Deus.
primeira visita, quinta-feira, 26 de Novembro (1903).
Nesse dia conversou longamente com a Madre M.
Jesus. Sua Caridade fê-la visitar toda a casa: as
nossas classes e os nossos jardins. A Senhora
Condessa pareceu muito satisfeita e pediu o favor
de voltar no dia seguinte, sexta-feira, ouvir a missa
na nossa humilde capela e receber a Santa
Comunhão, querendo comungar no mesmo lugar
em que a nossa digna Madre tinha recebido as suas
graças do Divino Coração. No dia seguinte, pelas 8
horas a Senhora estava no Convento com a sua
filha. Durante a Santa Missa a Comunidade
executou alguns motetes de circunstância. Depois
deixando a capela, dirigimo-nos ao locutório, onde
foi servido modesto almoço e a Senhora Condessa
deixou-nos, dizendo-nos quanto estivera feliz por
ter visitado estes lugares, onde o Divino Coração se
tinha manifestado e deixou-nos como lembrança
uma generosa esmola”.

Princesa Isabel

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O desaparecimento físico da
dupla Uderzo e Goscinny
grandes monstros da banda desenhada, e a postura de Astérix em relação à
Globalização e às suas nefastas Consequências na Europa
ANTÓNIO MONIZ PALME

Abstract

Globalization, with the mediocre rulers that - Abarcaram, com diáfana leveza e profunda
European countries have, is full of ills that destroy graciosidade, as diferentes facetas regionais, as
Europe, stealing happiness from its inhabitants,
virtudes e os defeitos de cada cultura local,
making it difficult for them to exercise their
customs and religion, in view of the particularities com todas as suas especificidades.
of each territory and each regional culture.
Asterix is quite a symbol of United Europe, against
the separation of the countries of the North and
South and demanding the respect that our
institutions deserve from those who seek us to, at
work, remake their lives here, integrated in our
social principles.

Key words: Globalization; Asterix; united europe.


 
Résumé
 
La mondialisation, avec les dirigeants médiocres
des pays européens, est pleine de maux qui
détruisent l'Europe, volant le bonheur de ses
habitants, rendant difficile pour eux d'exercer leurs
coutumes et leur religion, compte tenu des
particularités de chaque territoire et chaque
culture régionale. Asterix
Astérix est bien un symbole de l'Europe unie,
contre la séparation des pays du Nord et du Sud et
exigeant le respect que nos institutions méritent
Sei bem que outros conseguiram interessar
de la part de ceux qui nous demandent, au travail, jovens e adultos de todo o planeta, com os seus
de refaire leur vie ici, intégrés dans nos principes trabalhos. Basta pensarmos em Walt Disney,
sociaux. nascido em 1901, em Chicago e que criou
figuras que transcenderam o Mundo Ocidental,
Mots clés: Mondialisation; Asterix; europe unie.
extravasando o gosto da sua leitura para todo o
Universo. Tanto na Índia como na China cultas,
Qual de nós não perdeu uma tarde a ler as a figura do Mickey Mouse e do Pato Donald,
aventuras de Astérix e de seu amigo Obélix?... embora exibindo a gritante marca americana,
Na verdade, marcaram estes heróis gauleses a ocuparam bem depressa a imaginação e o
nossa época, no contexto da agitada cultura entusiasmo da todas as camadas mais jovens,
europeia. numa autêntica acção explosiva de
Não tenho qualquer espécie de dúvida desse globalização.
facto. Porém, não se ficaram por essa fronteira Alíás, essa capacidade de osmose da obra de
limitada. Ultrapassaram o continente europeu Walt Disney, provocou uma reacção bem
e entraram, pela porta grande, na cultura pouco honesta num sector determinado da
mundial. comunicação social dos países aliados,
Contudo, com uma significativa característica: manobrada pela “intelligenza” pró-soviética.

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO | 11

Despudoradamente, levantaram o miserável


labéu a Walt Disney, no fim da Segunda
Guerra Mundial, de que o herói da banda
desenhada não passava de um mísero nazi
encapotado. Nem mais...!
Foi necessário ser exibido um filme cómico,
bem significativo, produzido durante o
conflito, que acaba com o pato Donald, na sua
trapalhice e mentalidade primária, mas no seu
espírito de defensor extremo da liberdade, a
dar umas marretadas bem aplicadas na
cabeça de HItler, interrompendo um seu
discurso interminável e odiento. Na verdade,
todo o seu trabalho, é uma elegia à liberdade,
à integração rácica, às diferenças culturais,
Ideiafix
circunstâncias estas, apesar de natural de um
país em que brancos e negros estavam de
costas voltadas, parecendo viver em mundos Apesar de tal, nada que chegue aos
completamente separados. calcanhares de Astérix e dos terríveis gauleses,
E não posso deixar de  referir ainda outro que conseguiram fazer nascer uma dinâmica
grande escritor e desenhador, o belga Hergé universal, combatendo a globalização cultural
que, desde muito cedo, até ao ano em que naquilo que tem de castradora e de
faleceu, em 1983, produziu desenhos para massificante. E aproveito para homenagear os
histórias apaixonantes, destinadas à juventude, dois monstros, criadores das inúmeras
criando um herói de tenra idade, o repórter aventuras de Astérix e Obélix, Goscinny e
Tim-tim, e a sua fiel companheira Milú, bem Uderzo que, nos seus desenhos, criaram vários
como os seus divertidos amigos, que, nas arquétipos aceites pela maioria dos habitantes
aventuras aparecidas à estampa, do mundo civilizado, que acreditam
manifestavam invariavelmente uma enorme firmemente na sua terra, nos seus costumes,
solidariedade pelos mais fracos, fosse qual nas suas crenças e na sua pátria.  Nessa ordem
fosse o seu credo ou a sua raça, e aceitando, na de ideias são paradigmáticas e bem claras, nas
sua convivência, diferentes culturas  e mensagens que encerram, as suas engraçadas
costumes. figuras: Astérix, um significativo cavaleiro
andante dos tempos modernos, defendendo os
valores fundamentais da humanidade, os
fracos, os velhos, as mulheres e as crianças,
bem como as diferenças de cada um, a
igualdade e a liberdade.
O seu amigo Obélix, que gosta de meter o
dente em tudo o que é bom e bem autêntico,
um verdadeiro “gourmet” à francesa,
apreciador dos manjares da sua terra natal,
qualidade em perigo de extinção, atendendo à
peste dos responsáveis da “cuisine” distinguida
permanentemente pelas famigeradas Estrelas
“Michelin”.
Anda sempre acompanhado pelo seu cão
Ideiafix que “hurle” de desespero quando
cortam alguma árvore onde gosta de alçar a
perna para se aliviar, um modelo de sabedoria
Obelix canina, defensor intransigente da natureza.

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12 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

O druida Panoramix, é bem o exemplo da O cantor, Assurancetourix, com péssima voz e


sensatez e da sabedoria dos mais velhos, cultor ainda pior ouvido, mas cheio de boa vontade,
deum mundo espiritual que sempre marcou o idêntico a muitas das estrelas que nos
Continente Europeu e a Civilização Ocidental e impingem na televisão, mas que têm o direito e
que muitos pretendem agora destruir. a liberdade que deve marcar a expressão
artística. No fundo, é um símbolo e o apelo à
democratização da Arte e da Cultura. E, por fim,
Abraracourcix, o chefe natural por excelência,
bom, sério e humano que todos gostaríamos
de ter com as rédeas da chefia dos Estados.

Panoramix

Abraracourcix

E a globalização, com os medíocres


governantes que têm os países Europeus, está
cheia de mazelas que destroem a Europa,
roubando a felicidade aos seus habitantes,
dificultando-lhes o exercício dos seus costumes
e da sua religião, na perspectiva das
particularidades de cada território e de cada
cultura regional.   Nesta alturad o campeonato
europeu, ainda não perceberam que integrar
imigrantes não é simplesmente abrir as
fronteiras, hospedar ou agregar. Pelo contrário,
é essencial a demonstração clara de que temos
Assurancetourix
uma identidade europeia, que tem que ser
respeitada obrigatoriamente por quem quer
ser integrado.

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO | 13

A Europa tem que definir o essencial da sua própria Esperemos que a actuação negligentemente
cultura e quais os valores fundamentais que têm criminosa dos dirigentes, em relação à
que ser acatados pelos que vêm para a Europa. globalização e à entrada dos imigrantes, se altere
Notem bem, a Europa de Astérix não pretende que e não continue a actuar perversamente por
os que chegam alterem a sua cultura e se arrastamento, apenas através de ineficazes
convertam à nossa religião, mas pretende sem remendos políticos…!
qualquer espécie de dúvida a sua conversão social, Astérix é bem um símbolo da Europa Unida,
através da qual seja respeitada a nossa maneira de contra a separação dos Países do Norte e do Sul e
ser e os nossos hábitos ancestrais. Caso contrário, os exigindo o respeito que as nossas instituições
europeus transformam-se nuns infelizes e uns merecem por parte dos que nos procuram para,
prisioneiros dentro das suas próprias casas, o que no trabalho, cá refazerem a sua vida, integrados
será muito triste, convenhamos…! Se não se nos nossos princípios sociais.Enfim, aos dois
preservarem os direitos dos Europeus de grandes da banda desenhada, Goscinny e Uderzo,
continuarem a viver como querem, com o respeito infelizmente já desaparecidos, tiro
pelos seus valores e tradições, seremos atirados respeitosamente o chapéu, esperando que o seu
para uma inevitável luta pela nossa integridade, Espírito Europeu e a sua mensagem, em prol de
uma espécie de guerra civil com os imigrantes uma Europa forte, continuem vivos na cultura e
prevaricadores, única solução para manter a ordem no coração de cada um.
e o respeito por nós próprios. Como diriam Astérix e
o chefe da sua tribo; - “Que le ciel me ne tombe pas
sur la tête”.

Astérix e a Transitálica

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14 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Monárquicos que lutaram pela


LIBERDADE - brevíssimas notas
JOSÉ ANÍBAL MARINHO GOMES

Abstract Résumé

The monarchical opposition of Salazar’s regime L'opposition monarchique au régime de Salazar a


began in the 1940s, with the voice of Hipólito commencé dans les années 1940, avec la voix de
Raposo, Rolão Preto, Paiva Couceiro, Luís de Hipólito Raposo, Rolão Preto, Paiva Couceiro, Luís
Almeida Braga, among many others. But it was de Almeida Braga, parmi beaucoup d'autres. Mais
from the 1950s that a declared struggle against c'est à partir des années 1950 que commence une
the Estado Novo began. They defend the lutte déclarée contre la dictature. Ils défendent le
restoration of public freedoms and democracy rétablissement des libertés publiques et de la
démocratie et soutiennent les candidats de
and support opposition candidates to the regime,
l'opposition au régime, à savoir celui du général
namely General Humberto Delgado.
Humberto Delgado.
Gonçalo Ribeiro Telles, Francisco de Sousa Tavares
Gonçalo Ribeiro Telles, Francisco de Sousa Tavares
and João Camossa, who were involved in the so- et João Camossa, ont été impliqués dans la soi-
called “Revolta da Sé” which was an attempted disant “Revolta da Sé” qui était une tentative de
military and civil coup that occurred in the night coup d'État militaire et civil vérifiée dans la nuit du
of 11 to 12 March 1959. 11 au 12 mars 1959.
On November 12th, 1961, there were the first Le 12 novembre 1961, il y a les premières élections
elections after the beginning of the Colonial War, après le début de la guerre coloniale, et
and the monarchical opposition to the l'opposition monarchique à la “salazarquia”
“salazarquia” presents a list for Lisbon, which was présente une liste pour Lisbonne, qui n'a pas été
not accepted by the regime. acceptée par le régime.
In 1969, the Monarchical Electoral Commission En 1969, la Commission électorale monarchique
(CEM) appears, which presents its own list to run (CEM) apparaît, qui présente sa propre liste de
for the electoral act of October 26th by the Lisbon candidats à l'acte électoral du 26 octobre du
Circle. On April 30, 1970, Convergência Cercle de Lisbonne. Le 30 avril 1970, Convergência
Monárquica was created, which was part of the Monárquica a été créée, qui faisait partie du
Movimento Popular Monárquico, par Gonçalo
Popular Monarchist Movement, by Gonçalo
Ribeiro Teles, fondé en 1957, le Renovação
Ribeiro Teles, founded in 1957, the Portuguese
Portuguesa, par Henrique Barrilaro Ruas, né en
Renewal, by Henrique Barrilaro Ruas, created in
mai 1962, et une faction de la Liga Popular
May 1962, and a faction of the Popular Monárquica, par João Vaz de Serra e Moura, créé
Monarchical League, by João Vaz de Serra e en 1964. En raison des positions publiques
Moura, established in 1964. Due to the public d'opposition au régime, exprimées par ses
positions of opposition to the regime, expressed dirigeants et à la suite du manifeste du CEM,
by its leaders and following the CEM manifesto, Convergência Monárquica n'a pas pu se présenter
Convergência Monárquica was prevented from aux élections de 1973. Convergência Monárquica,
running for the 1973 elections. Convergência est à l'origine du Partido Popular Monárquico
Monárquica, it’s in the origins of the Popular (PPM) créé le 23 mai 1974.
Monarchist Party (PPM) created on May 23, 1974. Après la révolution d'avril, tous les monarchistes
After the April revolution, not all monarchists n'ont pas rejoint le PPM, intégrant d'autres partis
joined the PPM, integrating other parties such as tels que le CDS, PPD / PSD et PS.
the CDS, PPD/PSD and PS.
Mots clés: Salazar; opposition; démocratie;
Key words: Salazar; opposition; democracy; monarchie.
monarchy.
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António de Oliveira Salazar nunca permitiu que os Hipólito Raposo, recusa, em 1930, colaborar com a
monárquicos alcançassem o poder, anulando União Nacional, afirmando que os monárquicos
desta forma e de outras, a importância política D. deviam fazer o mesmo e opõe-se de forma directa
Duarte Nuno. à institucionalização do Estado Novo. Em 1940
publicou “Amar e Servir” onde denuncia, de uma
forma muito dura, a Salazarquia, desferindo um
severo ataque a Salazar, o que lhe valeu a
demissão de todos os cargos públicos que
ocupava e a sua imediata deportação para os
Açores.

D. Duarte Nuno de Bragança

Luís de Almeida Braga e José Hipólito Raposo


criticaram o regime autoritário, chamando-lhe
"salazarquia" e Rolão Preto afirmava que "o Estado
Novo foi a ruína da Nação".

Hipólito Raposo

É, portanto, a partir dos anos 40 do século


passado, que a oposição monárquica a Salazar
começa a manifestar-se.
No ano de 1945, José Pequito Rebelo vê a lista de
que fazia parte às eleições, por Portalegre
recusada para o acto eleitoral de 18 de Novembro,
por os candidatos da mesma não terem
declarado que aceitavam os princípios
fundamentais da ordem estabelecida.

Luís de Almeida Braga

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Luís de Almeida Braga e Vieira de Almeida


combatem o «Estado Novo» e, por esse motivo,
são expulsos, em 1949, da Causa Monárquica, que
não queria afrontar o regime pois vivia na ilusão
que a monarquia viria a ser restaurada.

Vieira de Almeida

Os monárquicos começam a organizar-se e a


Pequito Rebelo
partir dos anos 50 iniciam uma luta declarada
Em 1949 Rolão Preto candidata-se às eleições de contra o Estado Novo. Defendem a restauração
13 de Novembro por Vila Real e Pequito Rebelo, de das liberdades públicas e a democracia e apoiam
novo, por Portalegre, eleições para as quais se candidaturas oposicionistas ao regime.
presumia que este último seria vencedor. Após a morte do Presidente Óscar Carmona,
No entanto, o acto eleitoral foi interrompido pelo ocorrida a 18 de Abril de 1951, alguns monárquicos
presidente da Câmara de Elvas, Mário Cidrães, que como Mário de Figueiredo e Cancela de Abreu
se dirigiu á mesa eleitoral e ao mandatário da lista propuseram a restauração da monarquia, mas
informando-os que, por decisão superior, o acto Salazar, Albino dos Reis e Marcello Caetano
eleitoral não podia continuar. opuseram-se. Aliás, este último, no III Congresso
da União Nacional, que se realizou em Novembro
desse ano em Coimbra, considera de menor
importância a questão do regime, afirmando que
ao ser levantada podia criar indesejáveis divisões
entre os Portugueses.
Nesse ano de 1951, Rolão Preto apoiou a
candidatura presidencial oposicionista de Quintão
Meireles.
No mês de Outubro de 1957, antes das eleições
legislativas de 4 de Novembro,  um grupo de
monárquicos, do qual faziam parte, entre outros,
Gonçalo Ribeiro Telles (um dos fundadores do
Movimento dos Monárquicos Independentes
(MMI), ao qual também se junta Luís de Almeida
Braga), Francisco de Sousa Tavares, João Vaz de
Serra e Moura e Henrique Barrilaro Ruas, publica
um manifesto onde contestam qualquer forma de
ditadura, que consideram ser inconstitucional e
defendem a democracia como uma das soluções
para resolver os problemas de Portugal.
Rolão Preto

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onde os revoltosos se reuniram, sendo, no total,


detidas cerca de três dezenas de pessoas.

Ribeiro Telles

No ano de 1958 a candidatura do General Humberto


Delgado à Presidência da República conta com o
apoio destacado de Rolão Preto, Fernando de
Morais Sarmento Honrado, Luís de Almeida Braga,
sobressaindo-se este último, como causídico na João Camossa
defesa de Henrique Galvão, após o assalto ao
Ainda em 1959, Francisco de Sousa Tavares, Gonçalo
Paquete «Santa Maria». 
Ribeiro Telles, Sophia de Mello Breyner Andersen
Entretanto começam a verificar-se divisões internas
entre outros enviam uma carta ao Presidente do
no Movimento dos Monárquicos Independentes e
Conselho, Salazar, na qual denunciam os métodos
Ribeiro Telles, com alguns monárquicos, entre os
da PIDE.
quais Francisco de Sousa Tavares e João Camossa,
funda o Movimento dos Monárquicos Populares
(MMP).

Sophia de Mello Breyner Andresen

No dia 12 de Novembro de 1961 há as primeiras


eleições após o início da Guerra Colonial, e a
oposição monárquica à “salazarquia” apresenta uma
Francisco Sousa Tavares lista por Lisboa, que não foi aceite pelo regime, e, da
qual faziam parte, nomes como Fernando Alberto
Muitos monárquicos (Gonçalo Ribeiro Telles,
da Silva Amado; Francisco José de Sousa Tavares;
Francisco de Sousa Tavares, João Camossa, etc.)
Mário Pessoa da Costa; José Paulo de Almeida
estiveram implicados na chamada “Revolta da Sé”
Monteiro; Fernando Torres Carneiro Vaz Pinto;
que foi uma tentativa de golpe militar e civil
Francisco António da Silveira de Vasconcellos e
verificada na noite de 11 para 12 de Março de 1959
Sousa (Castelo Melhor); Gonçalo Pereira Ribeiro
que a PIDE consegue desmantelar e onde são feitos
Teles; João Carlos Camossa de Saldanha; António
prisioneiros uma série de oficiais de patente
Moutinho Rubio; Maria Ofélia Mafalda de Melo de
intermédia, que contavam com o apoio  de algumas
Portugal da Silveira; Rodrigo da Costa Félix; Manuel
figuras de topo da hierarquia militar e alguns civis,
Ramos Ferreira e, que reuniu à sua volta um grande
entre os quais o Padre João Perestrelo de
número de apoiantes.
Vasconcelos, pároco da Sé Patriarcal de Lisboa, local,

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Defendem a extinção da censura, o direito de


associação um sindicalismo livre e o direito à
greve, uma justa repartição do rendimento,
bem como a criação de um Serviço Nacional de
Saúde, defendido por Mário Saraiva. Pugnam
também a existência de partidos políticos, que
para Rolão Preto são “os mais vigorosos órgãos
da Liberdade política, segurança das liberdades
essenciais”. No campo da educação são
favoráveis ao alargamento da escolaridade
obrigatória e à autonomia das universidades.

Fernando Amado

Mário Saraiva

Henrique Barrilaro Ruas, foi o principal rosto


público da CEM da qual faziam também parte
Francisco de Barcelos Rolão Preto; Luís Paulo
Manuel de Menezes de Mello Vaz de São Payo;
Fernando de Moraes Sarmento Honrado;
Mário Pessoa da Costa
Francisco Lopes Roseira; Joaquim Toscano de
Alguns monárquicos são co-autores do Sampaio; Maria Luiza da Conceição de Almeida
“Manifesto dos 101 Católicos” de 4 de Outubro Manoel de Vilhena; Fernando Teixeira Viana;
de 1965, documento de activistas católicos Manuel Jorge de Magalhães e Silva; Abílio
contra a guerra colonial e o apoio da Igreja Leopoldo Motta-Ferreira; Fernando Costa
Católica à política do Governo de Salazar, entre Quintais; António Albano Pardete da Fonseca e
os quais se destacam Francisco de Sousa que contou com muitos apoiantes.
Tavares, Sophia de Mello Breyner Andresen,
Gonçalo Ribeiro Telles, Fernando de Morais
Sarmento Honrado, etc.
Em 1969 surge a Comissão Eleitoral
Monárquica (CEM), que apresenta uma lista
própria para concorrer ao acto eleitoral de 26
de Outubro pelo círculo de Lisboa, eleições
estas que não passaram de uma farsa
promovida pelo regime. Pugnavam pelo
sufrágio directo e pela participação na vida
política do país, que se aproximava do
«descalabro moral e económico» e repudiavam
a repressão policial do Estado Novo,
perpetrada pela PIDE, que se devia limitar às
suas “naturais atribuições”. Henrique Barrilaro Ruas

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Joaquim Toscano de Sampaio José Luís Nunes

Magalhães e Silva

Francisco Sousa Tavares junto ao Quartel


do Carmo no dia 25 de Abril de 1974

Gonçalo Ribeiro Telles foi convidado por


Henriques Ruas para integrar a lista da CEM,
mas pelo facto de já ter aceite fazer parte da
lista da CEUD, declina o convite, afirmando, no
entanto, que se a CEM chegasse a votos, o
MMP aderiria a uma Convergência
Monárquica, independentemente do seu
resultado das mesmas, o que veio a acontecer
Abílio Leopoldo Motta-Ferreira (Fernando
após as eleições.
Sylvan) Os jornais Diário de Lisboa e Capital,
contrariamente a outros, nunca silenciaram a
A CEM relacionou-se com outros grupos
voz da oposição monárquica.
oposicionistas, que também integravam
Nas acções de propaganda da CEM podia ler-
monárquicos, como a Comissão Democrática
se que: “O acto mais nobre de Um Povo Livre é
Eleitoral (CDE), a Comissão Eleitoral de
escolher os seus representantes, escolher
Unidade Democrática (CEUD), que incluía
aqueles que serão, em cada dia, a sua própria
personalidade monárquicas como Gonçalo
voz”, bem como: “A Independência de
Ribeiro Telles, Francisco Sousa Tavares, Sophia
Portugal passa pela liberdade dos
de Mello Breyner Andresen, José Luís Nunes
Portugueses”.
(um dos fundadores do partido socialista), etc.

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Os monárquicos dos vários quadrantes da Alberto de Monsaraz


oposição defendiam as liberdades públicas, a Alberto Moutinho Abranches
abolição da censura deform a a permitir a Albino Neves da Costa
liberdade de expressão e a sua intervenção era Alexandre Martins Moniz de Bettencourt
feita, sobretudo, na revista Cidade Nova, e Alfredo Carreira da Cunha
através do Centro Nacional de Cultura, Alfredo Pinheiro de Freitas
fundado por um grupo de jovens monárquicos Álvaro da Graça Costa
em 1945, entre os quais destaco Afonso António Albano Pardete da Fonseca
Botelho,  António Seabra   e Gastão da Cunha António Amadeu de Souza-Cardoso
Ferreira que foi o primeiro presidente. Do António Augusto Afonso
grupo inicial de monárquicos resta apenas António Crespo de Carvalho
Gonçalo Ribeiro Telles, sócio n.º 1 com 97 anos António de Assunção Sampaio
de idade. António João Alves Luís Fernandes
A 30 de Abril de 1970, foi criada a António José Borges Gonçalves de Carvalho
Convergência Monárquica, que integrava o António José de Seabra
Movimento Popular Monárquico, de Gonçalo António Luís Maria Matoso de Sousa Botelho
Ribeiro Teles, fundado em 1957, a Renovação António Moutinho Rúbio
Portuguesa, de Henrique Barrilaro Ruas, António Pinto Ravara
nascida em Maio de 1962, e uma facção da Liga António Ressano Garcia Cardoso Moniz
Popular Monárquica, de João Vaz de Serra e Artur Armando Camarate dos Santos
Moura, instituída em 1964. Augusto Cassiano de Andrade Barreto
Em virtude das posições públicas de oposição Augusto João Pereira de Castro Lopes
ao regime, manifestadas pelos seus dirigentes Augusto Martins Ferreira do Amaral
e no seguimento do manifesto da CEM, a Augusto Salazar Antunes
Convergência Monárquica foi impedida de Augusto Vinhal
concorrer às eleições de 1973. Azevedo Cruz
A participação em actos eleitorais, abriu portas, Carlos Alberto de Aguiar Vieira Gomes
após Abril de 1974, para que os monárquicos Carlos André de Morais Sarmento
fizessem parte, por direito próprio, do sistema Pacheco do Canto e Castro
democrático português. Carlos Manuel Vieira de Almeida
A Convergência Monárquica, está na origem Álvares de Carvalho
do Partido Popular Monárquico (PPM) criado a Carlos Valdez Pinto Vasconcelos
23 de Maio de 1974. Daniel Noronha Feio
Após a revolução de Abril, nem todos os Delfim da Nóbrega Pinto Pizarro
monárquicos aderiram ao PPM, integrando Domingos Manuel da Cunha Pignateli Sena Belo
outros partidos como o CDS, PPD/PSD e PS. Ferraz de Carvalho Megre
Para memória futura aqui fica uma lista de Ercília da Silva Ramos
nomes*, ainda que incompleta, ordenada por Fernando Alberto da Silva Amado
ordem alfabética, de monárquicos que Fernando Amaro Monteiro
combateram a II república, integrando ou não Fernando Bayolo Pacheco de Amorim
listas oposicionistas candidatas a actos Fernando da Costa Quintais
eleitorais antes de Abril de 1974: Fernando de Moraes Sarmento Honrado
Fernando Ferreira Pinto
Abel da Cunha Fernando Pedro Teixeira Viana
Abel Tavares de Almeida Fernando Torres Carneiro Vaz Pinto
Abílio Leopoldo Motta-Ferreira (usava o Fernão Vaz Pereira Forjaz Pacheco de Castro
pseudónimo de Fernando Sylvan) Francisco António da Silveira de Vasconcellos e
Adriano dos Santos Gonçalves Sousa
Afonso José Matoso de Sousa Botelho Francisco de Barcelos Rolão Preto
Agnelo Galamba de Oliveira Francisco José Carneiro de Sousa Tavares
Agostinho Carlos Pignatelli de Sena Belo Francisco Júdice Pragana Barata Feio
Ataíde Queiroz Francisco Lopes Roseira
Agostinho da Silva Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro

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Francisco Vieira de Almeida Luis Leite Rio
Frederico Guilherme José Pereira de Sá Perry Luís Paulo Manuel de Menezes de Mello Vaz de São
Vidal Payo
Gaspar José Cochofel de Campos Calejo Manuel Alberto Ferraz de Sousa
Gastão Caraça da Cunha Ferreira Athayde PavãoManuel de Carvalho Costa
Gonçalo Fevereiro Manuel de Jesus Carvalho
Gonçalo Pereira Ribeiro Telles Manuel Jorge Fonseca de Magalhães e Silva
Guilherme Gomes Manuel José Cachopo Rebocho
Henrique José Barrilaro Fernandes Ruas Manuel Mascarenhas Novais Ataíde
Henrique Mitchell de Paiva Couceiro Manuel Óscar de Freitas Bettencourt e Galvão
Henrique Queirós Athayde Manuel Paulo Ribeiro de Castro
Henriques Barbosa Manuel Ramos Ferreira
Ilídio João de Almeida Santos Marco António do Nascimento
Isabel Wolmar (Maria Isabel Marques Silva) Monteiro de Oliveira
Jerónimo Barbosa de Abreu e Lima Marcus Daniel Zicale
João Carlos Camossa Nunes de Saldanha Marcus de Noronha da Costa
João Carlos Vaz Serra de Moura Maria Adelina Delacruz Vidal
João Crespo de Carvalho Maria Eliene Santana
João José Melo Lapa Maria Emília Chorão de Carvalho Barrilaro Ruas
João Manuel Bettencourt da Câmara Maria Ester Pereira da Costa Pita
João Marcos Pereira Perry Vidal Maria Joana Delacruz Vidal Braga Real
João Paulo Almeida Monteiro Maria Luiza da Conceição de
João Pedro Maia Loureiro Almeida Manoel de Vilhena
João Pinto Picão Caldeira Maria Ofélia Mafalda de Melo de
João Seabra Portugal da Silveira
Joaquim Barata Navarro de Andrade Mário António Caldas de Melo Saraiva
Joaquim de Almeida Baltazar Mário Coelho
Joaquim L. Espírito Santo de Vasconcelos Mário Emílio de Azevedo
Joaquim Paulo Dias de Aguiar Mário Mendes Rosa
Joaquim Toscano de Sampaio Mário Pessoa da Costa
Jorge Augusto de Melo Azevedo Miguel Martins Leite Pereira de Melo
Jorge Manuel Pujol Figueiredo de Barros Miguel Ramalho Ortigão Nabais e Silva
Jorge Portugal da Silveira Nuno Furtado de Mendonça
José Adriano Pequito Rebelo Nuno Vaz Pinto
José Bernardino Blanc de Portugal Paulo da Costa Dordonnat
José Fernando Rivera Martins de Carvalho Pedro Agostinho de Oliveira
José Hipólito Vaz Raposo Pedro Alves Castanheiro Viana
José Luís Crespo de Carvalho Pedro Manuel Guedes de Paiva Pessoa
José Luís do Amaral Nunes Pedro Manuel Marques Ferreira
José Manuel Le Cocq da Costa e Silva Neves da Pedro Rocha Marques Ferreira
Costa Quirino do Nascimento Mealha
José Mário Soares Dengucho Rafael Castanheiro Freire
José Paulo de Almeida Monteiro Rodrigo Costa Félix
José Vaz Serra de Moura Rodrigo Jorge de Moctezuma Seabra Pinto Leite
Júlio Rosa Rui Ernesto Callaia da Cunha e Silva
Leão Ramos Ascensão Rui Quartin Santos
Luís Carlos de Lima de Almeida Braga Segismundo Manuel Peres Ramires Pinto
Luís Carlos Fernando de Lemos da Câmara Sophia de Mello Breyner Andresen
Leme Victor Manuel Quintão Caldeira
Luís Filipe Ottolini Bebiano Coimbra Wenceslau M. de Lima da Fonseca Araújo
* Agradeço ao Amigo Dr. Augusto Ferreira do Amaral a inclusão de alguns nomes nesta lista, que foi elaborada a partir de diversas fontes tendo por base o Dossier
da Comissão Eleitoral Monárquica - CEM (1973), Convergência Monárquica 1.º ano de acção (1971); Livros das colecções da “Biblioteca do Pensamento Político”,
“Edições de Cultura Monárquica” e Edições Gama (Série A - Política e Clássicos do Pensamento Político Português); Boletins da Liga Popular Monárquica; Lista
Monárquica Candidata às eleições de 12 de Novembro de 1961; “Nas Teias de Salazar, D. Duarte Nuno, entre a Esperança e a Desilusão” de Paulo Drumond Braga,
arquivo pessoal, etc.
Para a elaboração deste artigo, foram também consultados alguns números dos jornais Diário de Lisboa e Capital (mês de Outubro de 1969).

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O TESTEMUNHO DE UMA MÉDICA NO


COMBATE À PANDEMIA
ENTREVISTA À DR.ª MARIANA DE MAGALHÃES SANT’ANA
Em tempos de Pandemia, entrevistámos a Dr.ª Mariana de Magalhães Sant’Ana, médica e Vice-
Presidente da direcção da Real Associação de Viana do Castelo.

Abstract

In times of pandemia, we interviewed Dr.ª Mariana


de Magalhães Sant'Ana, General Practitioner and
member of the Real Associação de Viana do RGAM.- Como é que os serviços de saúde se
Castelo.
adaptaram à Pandemia?
 
Résumé  
  M.M.- Foram criados circuitos separados para os
En période de pandémie, nous avons interviewé le casos suspeitos, os chamados ADC (Atendimento
Dr. Mariana de Magalhães Sant’Ana, médecin et Dedicado a Covid). Passou a ser feita triagem em
membre de la direction de la Real Associação de todos os edifícios onde os utentes acedem,
Viana do Castelo.
encaminhando os casos suspeitos para os ADC,
onde há profissionais devidamente equipados
RGAM.- Como é para um médico estar na linha para os atender em segurança. Por outro lado,
da frente durante a Pandemia de Covid? houve a necessidade de proteger alguns
  profissionais, nomeadamente os mais velhos ou
M.M.- Como Médica de Família, o meu contacto é com doenças crónicas, colocando-os na
sobretudo com casos suspeitos ou com casos retaguarda ou em teletrabalho. Houve ainda
confirmados mas com sintomas ligeiros. Os casos alguns que tiveram de ficar com filhos pequenos.
mais graves são orientados para os hospitais, e Isto fez com que o número de profissionais
dentro destes, os casos críticos seguem para os disponíveis diminuísse e houvesse necessidade de
cuidados intensivos. No entanto, numa fase inicial, concentrar esforços, de modo a dar resposta à
penso que a angústia foi a mesma, Pandemia, sem deixar de cumprir serviços
independentemente do nível de cuidados em que mínimos.
trabalhamos. Estávamos perante um cenário novo
com o qual nenhum de nós tinha lidado antes,
com a expectativa de que a qualquer momento a
situação se podia descontrolar e ficar semelhante
à de Itália ou Espanha. RGAM.- O Serviço Nacional de Saúde estava
Nos primeiros tempos, o mais difícil era o trajecto preparado para isto?
para o trabalho e os primeiros minutos enquanto  
me organizava. Nunca sabia o que ia encontrar. M.M.- Não, mas diria que nenhum Sistema de
Depois de entrar em acção, sobretudo no Saúde estava. Ainda assim creio que
contacto directo com os doentes, já não custava respondemos bem, mais graças ao esforço
nada. Li uma entrevista do director do serviço de hercúleo dos profissionais de Saúde do que aos
Infecciologia do Hospital de São João em que ele nossos governantes.
também descrevia isto.

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RGAM.- Considera que o sistema de saúde


português vai voltar a ser igual ao que era?
 
M.M.- Não, não pode. A Pandemia veio
mostrar-nos que as doenças infecciosas ainda
nos surpreendem. Numa época em que a
nossa actuação se dirigia para as doenças
cardiovasculares e os cancros, eis que surge
novamente uma doença infecciosa para a
qual não temos ainda tratamento eficaz, a
mostrar-nos que não podemos perder os
cuidados de higiene que marcaram o início da
medicina moderna.
Por outro lado, o excesso de acessibilidade
dos utentes aos cuidados de saúde, veio
mostrar um lado perverso ao facilitar
contágios. Há muitas tarefas que passarão a
ser feitas por contactos telefónicos ou correio
electrónico, deixando as consultas presenciais
para as situações que realmente o exigem.
E há ainda a questão dos recursos
humanos e materiais. A Pandemia revelou
faltas graves de profissionais em diversas
áreas do SNS e a escassez de material,
desde simples luvas até aos complexos
ventiladores.

RGAM.- Acha que o Povo Português


reconheceu o esforço dos profissionais de
saúde nesta fase?
 
M.M.- De uma maneira geral diria que sim.
Mais importante do que os aplausos, tive
muitos utentes genuinamente preocupados
comigo e que o foram manifestando nas
consultas por telefone. Já não se pode dizer o
mesmo de alguns
dirigentes políticos, que parecem achar que
nos limitámos a cumprir a nossa obrigação,
sem ter em conta o esforço adicional que foi
feito por todos. Seria bom se finalmente
entendessem que investir em mais recursos
humanos, com contratos a longo prazo (e não
apenas a 4 meses como estão a fazer agora), e
em mais e melhor material, se traduz em
ganhos no futuro. Se o pensamento for no
melhor para o País e não apenas nas eleições
seguintes, poderemos ver esta fase como a
oportunidade de melhorar a Saúde em
Portugal.

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24 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

«C'est une révolte? - Non, Sire,


c'est une révolution»
CARLOS AGUIAR GOMES

Abstract

The author, a committed Christian and master of Os seus salões eram frequentados e animados
Militia Sanctae Mariae - Knights of Our Lady, writes por aqueles que haveriam, directa e
about the situation of REVOLUTION in our culture
indirectamente, de lhes cortar a cabeça ou
and civilization. Nothing escapes the moral
revolutionaries by aggressive minorities and with forçá-los ao exílio. Ninguém queria pensar na
power with the media and cultural agents in the força das ideias. No seu poder transformador. E
face of the passivity of the majority. We have to nada ficou como dantes. Em França e por todo
look at the reality of each day. And also the o mundo. A Igreja, os costumes, a política, os
passivity of the citizens. Yes, according to the
bens fundiários e os bens da Igreja roubados,
author, the Revolution is underway and is
overthrowing our entire ancient culture, whose saqueados e vandalizados.
roots are well shaken.

Key words: Revolution; Manners; Fall of our


civilization.
 
Résumé
 
L`auteur, chrétien engagé et Maître de la Militia
Sanctae Mariae – chevaliers de Notre Dame, écrit
sur la situation de RÉVOLUTION dans notre
Culture et Civilisation. Rien N´échappe aux
révolutionnaires des mœurs par des minorités
agressives et avec pouvoir auprès des media et des
agents culturels devant la passivité de la majorité.
Il faut bien regarder la réalité de chaque jour. Et
aussi la passivité des citoyens. Oui, selon l`auteur,
la Révolution est en marche et bouleverse toute
notre culture millénaire dont les racines sont bien A Tomada da Bastilha, autor anónimo por volta de 1790,
museu da Revolução Francesa.
ébranlés.

Mots clés: Révolution; Mœurs; Chute de notre O primeiro trabalho dos filósofos foi a
civilisation. demolição dos valores em que assentava uma
civilização. Recordo, o que todos sabem, que
Todos conhecemos este diálogo entre o Duque os Reis de França eram ungidos, um
de La Rochefoucauld-Liancourt e o Rei de sacramental, na Catedral de Reims e que todos
França, o mártir, Luís XVI. Este, quando a 15 de se intitularam “Rei de França”, excepto Luís
Julho de 1789 foi informado que na véspera Filipe, fruto da Revolução e de um Orleães
tinha sido invadida a Bastilha e de lá tirados os regicida, que se intitulava Rei dos franceses, o
poucos malfeitores presos, entre eles um que, no campo espiritual e político é diferente.
célebre marquês de Sade, perguntou ao Conhecem, os meus possíveis leitores, que
duque se era uma revolta e obteve a resposta com a Revolução Bolchevique, em 1917, se
certa e certeira: “Não, Majestade, é uma passou um fenómeno idêntico. Primeiro a
Revolução”. Sim tinha-se iniciado a Revolução destruição das ideias e, a seguir, as marcas
Francesa naquele dia 14 de Julho de 1789. É desse património.
este o marco inicial, mas a dita Revolução Também se lembram da “Revolução Cultural”
tinha começado muitas décadas antes com os de Mao Tsé Tung, na China, que destruiu tudo
filósofos e as ideias que difundiam livremente o que eram “raízes culturais e espirituais” e
mesmo entre a nobreza de alta estirpe. Esta depois os marcos materiais.
tinha aderido total e entusiasticamente.
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REAL GAZETA DO ALTO MINHO | 25

Tudo guiado pelo vademecum tutorial das Razão tinha e continua a ter São João Paulo II,
mudanças a fazer e do que havia de demolir-se. O Magno, quando, na Exortação Apostólica Pós-
célebre “Livro Vermelho” que teve tradução e Sinodal “Ecclesia in Europa”, escreveu: «A cultura
devotos nas democracias ocidentais, sobretudo europeia dá a impressão de uma “apostasia
nas camadas cultas que se deleitavam com tal silenciosa por parte do homem saciado, que vive
literatura. Lembram-se do MRPP entre nós e como se Deus não existisse” (n.º 9) ou “… quero
outros movimentos similares cujos corifeus estão recordar a crise da memória e herança cristãs) (n.º
hoje sentados nas cadeiras do Poder político ou 7) ou, ainda “como herdeiros que delapidaram o
mediático?… seu património”» (idem). Os últimos dias foram
Como escreveu Victor Hugo, em “Histoire d`un palco de vandalismo generalizado por todo o
crime”: «Resistimos à invasão dos exércitos; não Ocidente. O nosso tão querido e Mestre Maior da
resistimos à invasão das ideias». A História tem nossa língua, o P. António Vieira, não escapou a
dado razão a Victor Hugo e vai continuar a dar. esta fúria, perante o silêncio de tanta gente
O que se tem passado por todo o Ocidente importante que não perde oportunidade
decadente, decadente porque foi invadido por nenhuma de se mostrar e de perorar sobre tudo, a
ideias a que ninguém se opôs, salvo excepções começar pelo Chefe de Estado que deveria ser o
que foram e são insultadas e anatematizadas garante da nossa Cultura e dos nossos valores e
como da Extrema-direita, fascistas, nazis e símbolos. No Brasil, por exemplo, vandalizaram
quejandos “mimos” segregadores e uma estátua da maior Mulher brasileira na luta
postergadores para o inferno das ideias contra a escravatura, a Princesa Isabel, a que
permitidas pela tirania cultural que nos lava a assinou a Lei Áurea e com este acto maior da
cabeça todos os dias e a toda a hora. Vivemos, não nossa civilização cristã e ocidental perdeu o
tenho dúvidas, um tempo (já com décadas!) de trono.a Grã-Bretanha, atingiram Winston
terrorismo cultural e nenhuma sociedade Churchill, estadista de primeira grandeza. Na
humana escapa a este exercício (da Igreja, à Bélgica, por exemplo, “atiraram-se” a uma estátua
Política ou à Cultura) de demolição insultuosa do do Rei ímpar daquele país, o Rei Balduíno.
nosso património mais respeitável pela idade,
valor intrínseco e simbólico. Nada escapa a este
furor. Temos vergonha do nosso Passado.

Rei Balduíno

Padre António Vieira

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26 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Podemos apagar a nossa História? Não. Não o O que tem sucedido não é uma revolta. É a
devemos deixar fazer seja em nome do que for. Revolução em marcha.
Se alguém, alguma pessoa, não agiu do modo
mais correcto em tudo o fez quando era vivo, a Estamos preparados? Não! Não estamos, nem
nossa atitude não será apaga-lo da História, mas queremos… se estamos, para já saciados pelos
chamar a atenção do que não fez tão bem e bens de consumo, abundantes e descartáveis
sempre com o cuidado de se falar do contexto para não nos “chatearem” quando já não os
cultural, político e espiritual da época em que queremos.
essa personalidade viveu.
Não me venham dizer que são os ignorantes que
A Revolução chegou à luz do dia e está já entre
vandalizam os nossos monumentos ou pedem a
nós.
sua demolição e que sejam arrasados até abaixo
dos alicerces! Não, não são um bando ignaros. É
gente que saiu ou está nas Faculdades
(maioritariamente da área das Ciências
Humanas, como convém ideologicamente
falando) que o povo português paga com os seus
impostos.

«C'est une révolte? - Non, Sire, c'est une


révolution»

Para terminar, e a propósito, permitam-me que sugira a leitura muito atenta de «O COMPLEXO
OCIDENTAL» de Alexandre del Valle (Ed. Casa das Letras, Alfragide, Fev. 2020)… e divulguem esta obra
magnífica.

Capa do Livro

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO | 27

Reconhecimento do Duque de
Bragança pelo Estado Português
TOMÁS A. MOREIRA

Abstract

Even after the establishment of the Republic in Deposto e exilado, deixara de ser Chefe de
1910, the Portuguese State has always continued Estado e já não reinava, mas para todos
to recognize that the representatives of the continuou a ser El-Rei, até ao momento do seu
historical dynasty of Portugal’s kings deserve a funeral em Lisboa em 1932, realizado com
ceremonial treatment of particular respect.
  honras militares e com todas as homenagens
Key words: Recognition; Duke of Bragança; State oficiais por parte do Estado republicano e
Protocol. esmagadora participação popular.

Résumé
 
Même après la création de la République en 1910,
l’État portugais a toujours continué à reconnaître
que les représentants de la dynastie historique des
rois du Portugal méritent un traitement
cérémoniel d’un respect particulier.

Mots clés:  Reconnaissance;  Duc de Bragance;


Protocole d'État.

Os Reis, independentemente e muito para


além das suas funções (ou não) de Chefia do
Estado, continuarão a constituir símbolos
inabaláveis de unidade das nações, garantias Dom Manuel II Cerimónias fúnebres oficiais em
Portugal
da sua perenidade e elementos de agregação
e identificação colectiva, ligando as gerações Na 2.ª República, após a revogação da Lei do
passadas às presentes e futuras. Banimento em 1950, Dom Duarte Nuno
Há Reis que não detêm o exercício efectivo da instalou-se em Portugal em 1953.
Chefia do Estado, mas nunca deixam de ser No excelente livro “Salazar e o Rei (que não
detentores duma autoridade moral que lhes foi)”, Fernando Amaro Monteiro relembra o
dá o direito de serem ouvidos, informados e discurso de 4-7-1957 de Salazar perante a
respeitados e o poder de alertar, de apelar e União Nacional, esclarecedor da sua relação
de influenciar os destinos das suas nações. com a Casa de Bragança: “… o Governo tem
(in Segundo Manifesto Roialista) feito o possível para que a Família de
Bragança…desde que admitida no País, fosse
colocada no alto nível de dignidade que
compete a descendentes directos dos Reis de
Na 1ª República não existiram relações oficiais Portugal. E agiu assim por duas razões: a
do Estado Português com D. Manuel II, mas a justiça devida aos que foram conduzindo a
sua legitimidade dinástica era inquestionável. grei por oito séculos de história, e a previsão
prudente de que pode haver um momento em
que a solução monárquica seja uma solução
nacional.”

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28 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

A Fundação da Casa de Bragança, através da A partir do início de 1977, o novo Duque de


qual o Estado confiscara os bens da Casa Real, Bragança começou a conviver com a
apoiava activamente a presença do Duque em sociedade portuguesa. Graças à sua dedicação
Portugal. Os mais altos dignatários nacionais e empenhamento ao longo das décadas
relacionavam-se com ele e, quando convidado seguintes, conquistou notoriedade pública e
para eventos públicos, era-lhe dado um foi sendo convidado pelas mais variadas
tratamento protocolar especial e diferenciado. instituições para cargos honorários [1] e para
Sem existir uma clarificação formal, não havia participar em eventos, tanto privados como
margem de dúvida para as entidades oficiais - públicos, sendo-lhe sempre atribuída uma
nem para os portugueses em geral - de que o dignidade protocolar de particular relevo,
Estado Português – que se confundia com a decorrente da consciência de a Casa de
pessoa de Salazar - reconhecia e respeitava Bragança constituir uma mais valia em termos
Dom Duarte Nuno como representante da de referência histórica, de valorização da
dinastia histórica portuguesa. imagem do País e de afirmação internacional
da sua identidade cultural [2].
A presença do Duque de Bragança e seus
familiares é sempre considerada prestigiante,
tanto pelas entidades organizadoras como
pelos restantes participantes, sejam eles
portugueses ou estrangeiros, e foi-se
consubstanciando num generalizado respeito
e simpatia nacional e internacional pelo
representante histórico dos Reis de Portugal.
Inúmeros convites oficiais, também pelo
Estado Português, comprovam o
reconhecimento tácito deste de que o Chefe
Da direita para a esquerda, Américo Tomás, Presidente da Casa de Bragança é, mesmo no regime
da República, a mulher deste, Gertrudes Tomás, o republicano vigente, o legítimo sucessor dos
conde de Barcelona, D.Duarte Nuno e D.Maria Francisca
numa cerimónia comemorativa do primeiro centenário nossos Reis e, como tal (a exemplo dos antigos
do nascimento do rei D.Carlos (1963). Presidentes da República), merecedor de
(Arquivo Fotográfico da
CML,PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/SER/S02717) respeito institucional. Não existe, contudo,
nenhum estatuto particular ou sequer alguma
forma indirecta de reconhecimento formal
Na 3.ª República, Dom Duarte Nuno não
desta realidade por parte do Estado.Um
chegaria a estabilizar as suas relações com o
parecer interno do Ministério do Negócios
Estado, pois viria a falecer menos de dois anos
Estrangeiros de Abril de 2006, se bem que sem
após o 25 de Abril, numa fase ainda muito
efeitos legais, afirma sem rodeios e com
conturbada do novo regime.
clarividência que “o Estado Português tem
Caberia ao seu sucessor Dom Duarte Pio e aos
reconhecido, de acordo com o direito
primeiros governos constitucionais
consuetudinário, que a Casa Real de Bragança
começarem a estabelecer e definir um novo
e o seu chefe, o Sr. D. Duarte Pio, Duque de
relacionamento entre a Casa de Bragança e o
Bragança, são os legítimos sucessores dos Reis
Estado Português.
de Portugal. [3]

[1] S.A.R. o Senhor Dom Duarte está ligado a: Fundação Aljubarrota, Instituto da Democracia Portuguesa, Instituto Luso-Árabe, Fundação Inês de Castro, Cultura Sintra,
Confagri, Centro Nacional de Cultura, Associação Portuguesa das Casas Antigas, Associação Amigos de Monserrate, Instituto de Apoio à Criança, Associação das Famílias
Numerosas, Associações Humanitárias dos Bombeiros Voluntários de Lisboa e de Sintra, Liga da Protecção da Natureza, Associação Slow Food Alentejo, Turf Club, Grémio
Literário, Real Club Tauromáquico, Liga dos Combatentes, Grupo dos Amigos de Olivença, Real Confraria de S. Teotónio.

[2] “…mesmo aquelas famílias cujos tronos estão vazios e cujas dinastias já não são reinantes, podem exercer um enorme poder de influência e fascínio sobre os
governantes e altos funcionários das repúblicas onde ainda habitam. A sua dignidade intrínseca e o serviço público que prestam aos países de origem, provocam
admiração e aplauso de muitos políticos, tal a identificação e simbologia com a história colectiva que encarnam.” Embaixador José de Bouza Serrano in “As Famílias Reais
dos nossos Dias”, A Esfera dos Livros, 2018.

[3] E o parecer acrescenta: “A esse reconhecimento, associa-se o reconhecimento tácito das restantes Casas Reais do mundo”. E ainda que tem sido “praxis do Estado
Português que os Duques de Bragança testemunhem presencialmente os mais importantes momentos da vida do Estado como algumas cerimónias oficiais,
designadamente aquelas que envolvem a participação de membros da realeza mundial. De igual modo, são os Duques, várias vezes, enviados a representar o Povo
Português em eventos de natureza cultural, humanitária ou religiosa [católica] no estrangeiro, altura em que lhes é conferido o Passaporte Diplomático”. E que “Quanto ao
tratamento por “Sua Alteza Real”, o Protocolo de Estado Português respeita as regras de deferência social e o protocolo internacional, pelo que nas cerimónias em que
participam os Duques de Bragança, e na correspondência oficial que lhe é remetida, é-lhes conferido o mesmo estilo de “SS.AA.RR.”.

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Esta posição é pacífica dentro dos órgãos do Em 1999 os Vice-Presidentes da Assembleia da


Estado e entre os seus titulares, que, República Manuel Alegre (PS) e Mota Amaral
apreciando-o ou não, sabem que o (PSD) elaboraram uma proposta de alteração
representante histórico dos Reis de Portugal e às regras do protocolo, segundo a qual os
actual Duque e Bragança é S.A.R. Dom Duarte representantes da Família Real passariam a
Pio. A começar por todos os Presidentes da ocupar o lugar imediatamente seguinte ao dos
República que, sem exepção, o têm vindo a antigos Primeiros-Ministros, mas a iniciativa
convidar para cerimónias públicas relevantes. não teve seguimento.

Dom Duarte com o Presidente da República Marcelo


Rebelo de Sousa em 2016

Tentativas desastradas ou patéticas por parte


doutras pessoas, algumas sem qualquer
credibilidade cívica, para contestarem a
legitimidade de Dom Duarte e se afirmarem Em 2006 a Assembleia da República iniciou a
como alternativas, têm obtido como resposta a elaboração duma nova Lei do Protocolo do
indiferença ou a determinada denegação de Estado e surgiu a questão da inclusão do
qualquer plausibilidade das suas Duque de Bragança na lista de entidades a
reivindicações, além de as expor ao ridículo. constar da lei.
As regras protocolares de precedências do O projecto do CDS-PP [4], apresentado pelo
Estado a respeitar em actos públicos foram deputado Nuno Melo, propunha: “Os
durante muitos anos regidas por um descendentes directos da antiga Família Real
regulamento interno dos Serviços do Protocolo Portuguesa, quando convidados para
do Ministério dos Negócios Estrangeiros, nas cerimónias oficiais de âmbito nacional,
quais constava expressamente o tratamento a ocupam o lugar imediatamente a seguir aos
atribuir ao Duque de Bragança e seus antigos Presidentes da República”.
familiares, atribuindo-lhes uma elevada A questão foi debatida com calor no Plenário
graduação no tratamento protocolar. da Assembleia [5] com uma intervenção
corajosa de Nuno Melo [6], confrontando-se
com a oposição radical dos partidos de
[4] Projecto de Lei nº 279/X (1ª). esquerda.
[5] Na Reunião Plenária de 23 de Junho de 2006, a Câmara apreciou, na generalidade, os projectos de lei n.os 260/X - Lei do Protocolo do Estado (PS), 261/X - Regras
protocolares do cerimonial do Estado português (PSD) e 279/X - Lei do Protocolo do Estado (CDS-PP), tendo-se pronunciado, a diverso título, os Srs. Deputados Alberto
Martins (PS), Francisco Louçã (BE), Mota Amaral (PSD), Nuno Teixeira de Melo (CDS-PP), António Filipe (PCP), Francisco Madeira Lopes (Os Verdes) e Ana Drago (BE), na
qualidade de relatora da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. Disponível no site da Assembleia da República, em Debates
Parlamentares, I Série - Número 139, 24 de Junho 2006.

[6] Da intervenção de Nuno Melo no Plenário: “Se há coisa que nos distingue de tantas esquerdas é o profundo respeito - que não é apenas de circunstância - por
instituições fundamentais da sociedade portuguesa. Um respeito que não se declara apenas; um respeito que, para o ser, verdadeiramente, se demonstra, se pratica; um
respeito por instituições que… poderão ser as universidades… ou as Forças Armadas… ou os representantes da antiga família real portuguesa, legado vivo do maior tempo
corrido da nossa História desde a fundação do País… Para além de uma outra evidência: a de que entidades como as que queremos protocolarmente considerar em boa
verdade já o serem. É que a ausência de lei escrita do protocolo do Estado não significa ausência do protocolo do Estado e, até ao presente, essas instituições já vêm sendo
distinguidas pelo protocolo seguido em Portugal há décadas. Daí o facto de o projecto de lei do CDS nem sequer ser peregrino na solução. O nosso projecto limita-se a
consagrar, por escrito, a prática consuetudinária do protocolo nacional e o direito comparado de tantos países que, para muito mais, nos vêm servindo, muitas vezes, de
referência… …os representantes da antiga família real portuguesa já têm estado presentes em inúmeras cerimónias do Estado. Assim vem acontecendo em Portugal, como
fora, noutros países que também são laicos e republicanos… A nós, esta iniciativa parece-nos muito bem. Porque o que está em causa é exactamente o respeito pela nossa
História e, por muito que se esforcem e que queiram, a nossa História não começou a 5 de Outubro de 1910.”.

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Apesar das intervenções favoráveis a esta tese República, começando por pequenos sinais, se
por deputados do CDS e do PSD [7], na versão fossem habituando à presença oficial da
final aprovada para a Lei das Precedências do Família Real, para se irem apercebendo das
Protocolo do Estado Português (Lei nº vantagens da instituição real e em função
40/2006, de 25 de Agosto de 2006) que ainda disso, poderem optar livremente por ir
hoje vigora - não foi incluída qualquer reforçando o seu papel, atribuindo-lhe funções
referência ao representante da dinastia adicionais na organização da Nação. Entre os
histórica portuguesa e ao tratamento objectivos a atingir, o Manifesto dava expressa
protocolar a ser-lhe dispensado. prioridade à “inclusão do Chefe da Casa Real
Mesmo sendo a nova Lei das Precedências no protocolo oficial do Estado”.
totalmente omissa, o Duque de Bragança e os Estas teses foram debatidas no Congresso
seus familiares directos, quando dos Monárquico eleitoral em 2015, levando um
frequentes convites para eventos oficiais conjunto significativo de dirigentes a propor
públicos, continuam a receber um tratamento para o mandato 2015-2018 uma lista, presidida
protocolar de particular respeito. por António de Souza-Cardoso, para a Direcção
No entanto, a ausência de regulamentação Nacional, apresentando como objectivo
conduz a ocasionais mal-entendidos e com político prioritário “baixar os preconceitos
alguma frequência gera situações existentes na classe política e na maioria da
embaraçosas, tanto para os membros da população contra a monarquia e contra a
Família Real, como para as entidades que os instituição real”.
convidam e também para outros convidados. A Moção de Estratégia aprovada definia que “O
Em 2015 divulguei no âmbito da Causa Real objectivo imediato a atingir será formalizar
uma reflexão que designei por “Segundo para o Chefe da Casa Real, no âmbito do
Manifesto Realista”, propondo, “em lugar de regime vigente, um estatuto oficial de
insistir na imediata restauração da Monarquia dignidade institucional e protocolar
em Portugal, optar por etapas e planos correspondente à sua representatividade”.
intercalares para, através de pequenos passos Após confirmação desta estratégia pelos
realistas, sucessivos e complementares, ir órgãos internos da Causa Real, a Direcção
abrindo caminho para uma Monarquia no Nacional apresentou-a e validou-a junto do
longo prazo”. Duque de Bragança, ficando legitimada para
O Manifesto Roialista defende a importância desenvolver as acções necessárias. Sendo-me
de um Rei mesmo em República e apresenta a atribuída pela Direcção a responsabilidade de
instituição real como um potencialmente pilotar esta missão, designou-se uma
valioso complemento para o Estado Comissão e aprovou-se um Plano de Acção
(republicano), devendo este por isso atribuir- detalhado que ao longo de dois anos
lhe uma dignidade institucional divulgámos aos associados da Causa Real nos
correspondente ao seu significado histórico. Congressos, em Assembleias Gerais das Reais
Argumenta-se que, a bem da causa da Associações, através de publicações e de
Monarquia em Portugal a longo prazo, seria numerosas e repetidas informações verbais
importante que os portugueses, mesmo em avulsas.

[7] Os deputados Pedro Quartin Graça e Henrique de Freitas emitiram uma declaração conjunta criticando: “um diploma feito… acima de tudo, com claro propósito de
antagonizar pessoas e instituições com prestígio e tradição na história de Portugal... continua a consagrar o afastamento ou a menorização no Cerimonial do Estado
republicano de cinco importantes instituições com tradição e prestígio em Portugal, a saber: As Forças Armadas, a Igreja, o(s) Herdeiro(s) do Trono de Portugal, os Tribunais e
o Parlamento… mantendo… os mesmos sinais evidenciadores do desrespeito para com estas mesmas instituições e os contributos que as mesmas deram, ao longo de mais
de 800 anos de história, ao nosso País... Igual atitude existiu ao, pura e simplesmente, não incluir na lista de precedências, apagando completamente do Cerimonial do
Estado Português, o(s) Herdeiro(s) do trono de Portugal. Desta forma, esqueceu-se a própria História do País, e tentou apagar o passado, pretendendo desconhecer os
relevantes serviços que este(s) têm prestado à Pátria, quer em sede de representação simbólica exterior, quer como “embaixadores permanentes” de uma Nação que se quer
civilizada e integrada numa Europa desenvolvida e na qual as Monarquias são metade dos regimes políticos existentes. Em suma, a Lei de Protocolo marcada pelo PS, ao
invés de nela reunir o consenso da sociedade portuguesa, que na mesma se devia rever de forma espontânea, é sobretudo marcada pela notória clivagem que os seus
autores com ela pretenderam criar relativamente a importantes instituições nacionais, tentando afastá-las “na secretaria” porque nunca, no passado, o lograram fazer “no
terreno”.”.

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Com o apoio empenhado de muitos dirigentes https://peticaopublica.com/?pi=PT84541


da Causa, elaborou-se e divulgou-se o
“Manifesto a favor da revisão da Lei das
Precedências do Protocolo do Estado
Português” com uma proposta concreta de
revisão da Lei das Precedências [8], para o qual
se conseguiu o apoio de mais de cem
individualidades com prestígio em várias áreas
da sociedade portuguesa, muitas delas sem
convicções monárquicas mas que
concordaram com o princípio enunciado no
Manifesto de que “A maturidade do regime
republicano deveria permitir a formalização
deste relacionamento, passando a incluir o
tratamento devido ao Duque de Bragança na
Lei das Precedências do Protocolo do Estado
Português. O relacionamento protocolar seria
especificado nessa Lei - a exemplo do que já
acontece com as altas entidades estrangeiras
e internacionais, diplomáticas, religiosas, ser difícil alterar a Lei - como aliás mais tarde
universitárias e parceiros sociais - não na se viria a confirmar - foram feitos contactos
Secção relativa à hierarquia das “Entidades pessoais prévios com todos os grupos
Públicas”, mas antes na Secção VI, no âmbito parlamentares dos partidos democráticos,
das “Outras Entidades”. A inclusão nesta tendo obtido bom acolhimento por parte do
Secção da Lei evidenciaria que o Duque de PS, PSD e CDS.
Bragança não tem qualquer capacidade de A Petição com as respectivas assinaturas foi
representação autónoma do Estado que não entregue na Assembleia da República no dia
lhe tenha sido expressamente concedida. Para 21-12-2018 acompanhada duma carta e de
todas as entidades que o convidam, esta nova explicações pessoais.
situação resolveria os embaraços protocolares A AR emitiu uma Nota de Admissibilidade
que actualmente se lhes colocam e ajudaria a extensa em que analisou a pretensão e a
ordenar e a resolver as questões protocolares, considerou admissível por todas as
evitando arbitrariedades, equívocos e formalidades legais estare cumpridas. A
irregularidades.” Petição passou a ser pública através do “site”
A partir deste Manifesto lançou-se em 2018 da AR e transitou para apreciação na
uma Petição Pública à Assembleia da respectiva Comissão Parlamentar - a de
República, intitulada: “Inclusão do Duque de “Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades
Bragança na Lei do Protocolo do Estado”. Com e Garantias” -  que entre os seus membros
o apoio das Reais Associações, das redes nomeou para Relator o Dr. Telmo Correia
sociais e do site internet “Petições Públicas” (CDS).
(onde ainda está activa), a Petição angariou Após audiência aos promotores para
mais de 8000 assinaturas (algumas em papel), justificarem a pretensão, que ocorreu a 9-5-
muitos comentários favoráveis e a atenção da 2019, o Relator emitiu um Relatório dirigido a
comunicação social que se referiu à Petição todos os Grupos Parlamentares e à Comissão
com alguma regularidade. Parlamentar, reconhecendo a pertinência da
Visto que a conjuntura política designada por Petição e propondo levar a sua discussão ao
“geringonça”, com um Governo apoiado pelos Plenário da AR.
partidos comunistas do PCP e do BE, indicava

[8] “Propõem acrescentar na Lei nº 40/2006 – “Lei das Precedências do Protocolo do Estado Português” um novo artigo 34º que dirá: “O chefe da Casa de Bragança, quando
convidado para cerimónias oficiais, deverá ser tratado como convidado especial da entidade que tiver, por virtude da mais alta precedência protocolar, a presidência. Ao
cônjuge do chefe da Casa de Bragança é atribuído lugar equiparado ao mesmo, quando esteja a acompanhá-lo.”.

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Para criar condições políticas para uma aprovação A informação sobre este desfecho foi
na Assembleia da República, teria sido necessária, divulgada pela AR em 8-7-2019 e publicada no
nesta fase, uma vaga pública de apoio, alicerçada respectivo "site" da AR, onde ficará, facilmente
nas muitas individualidades de prestígio que acessível ao público, com toda a
assinaram o Manifesto e publicitada pelo documentação de suporte, em:
movimento monárquico e pela Família Real. www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Pa
Tristemente, no momento da verdade houve ginas/DetalhePeticao.aspx?BID=13267
hesitações e até um notório distanciamento por O processo para alteração da Lei, que durou
parte de muitas pessoas que poderiam ter feito a mais de três anos, ficou assim encerrado e
diferença, a começar pelas mais directamente arquivado.
envolvidas na questão. E muitos monárquicos Apesar de não ter sido alcançado o objectivo
entenderam unilateralmente não só não apoiar a desejado, houve efeitos positivos e duradouros:
estratégia da Causa Real, mas manifestar - Foi dada grande visibilidade à questão do
publicamente a sua discordância quanto ao reconhecimento público do respeito devido ao
objectivo da Petição, enfraquecendo Duque de Bragança
dramaticamente a sua posição política e a - O princípio da particularidade do estatuto da
probabilidade de aprovação. Família Real suscitou importantes adesões por
Em 3-7-2019 a Comissão Parlamentar analisou e parte de relevantes individualidades do meio
votou o Relatório. O CDS votou a favor e o PSD político, cultural, social e económico que
absteve-se. Os votos contrários dos habitualmente não apoiam as iniciativas dos
representantes do PCP, Bloco e PS levaram à monárquicos ou até lhes são hostis - a
rejeição da proposta para discussão em Plenário, pretensão não levantou oposições públicas ou
terminando assim o processo de Petição. populares, antes deu lugar a inúmeras
manifestações de simpatia e concordância,
comprovando a popularidade do Duque de
Bragança.
- Todos os argumentos e apoios que foram
aduzidos a favor deste princípio ficaram
registados e poderão ser recuperados quando
vier a ser politicamente oportuno.
- Em qualquer futura revisão da Lei do
Protocolo a questão poderá facilmente ser
repescada e relançada por qualquer deputado.
Assim esperamos.

Entrega da Petição a Teresa Caieiro, Vice-Presidente da


AR, 2018

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Entrevista da Real Gazeta do Alto minho


a Sua Alteza a Infanta
Dona Maria Francisca de Bragança

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RGAM.– É licenciada em que área? E quanto ao RGAM.– Quais são os seus gostos e passatempos?
mestrado?  
  DMF.- Costumo fazer exercício no ginásio e
DMF.- Sou licenciada em Comunicação pela também comecei a praticar yoga. Anteriormente
Universidade Católica de Lisboa. Quanto ao pratiquei equitação e vela, mas agora não tenho
mestrado, ainda não está definido, mas será tido oportunidade de praticar estes desportos.
provavelmente na área da publicidade ou da Gosto muito de pintar e fotografar. Antes desta
comunicação empresarial. O jornalismo também crise de saúde pública, viajei com o meu pai ao
é uma possibilidade. Brasil, onde estivemos com   os nossos primos no
Rio de Janeiro e em São Paulo. Fiquei com uma
grande simpatia pelo Brasil. Fizemos também
RGAM.– Pode-se, então, dizer que, dos três uma expedição à Selva Amazónica, que achei
irmãos, a D. Maria Francisca é aquela com fascinante! Há algum tempo, fui com os pais e
vocação mais artística? irmãos conhecer Timor – é um país
extremamente interessante e simpático. Não
DMF.- Sim, certamente. Também tenho estado a compreendo como há tantos portugueses que
aprender as técnicas da pintura, que é uma viajam para a Ásia e não visitam Timor. Gostaria
actividade de que gosto muito. também de conhecer os outros países de língua
portuguesa. 
Na Guiné estive durante o tempo das férias de
RGAM.– Terminado o percurso académico, que verão   numa actividade de voluntariado na
profissão pretende exercer? diocese de Bissau. É um país muito interessante,
um povo muito hospitaleiro.   Espero poder lá
DMF.- Neste momento já estou a fazer um estágio voltar em breve, para conhecer melhor  o interior
numa empresa ligada à nutrição e à saúde e as magníficas ilhas Bijagós.
alimentar, a Nutrialma.  Tem sido uma experiência
muito interessante com óptimos profissionais
com quem tenho aprendido muito.

“ JÁ EM PORTUGAL,
HISTORICAMENTE,
TIVEMOS DUAS
RAINHAS, DONA
MARIA I E DONA
MARIA II E
AMBAS
DESEMPENHARAM
MUITO BEM A SUA
MISSÃO EM ALTURAS
ESPECIALMENTE
DIFÍCEIS. ”

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RGAM.– Sendo Infanta de Portugal e filha do RGAM.– Estamos a atravessar a Pandemia da Covid-
Senhor Dom Duarte que, enquanto Príncipe Real 19 provocada pelo novo Coronavírus; como passou a
e Duque de Bragança, é uma figura muito Família Real Portuguesa o confinamento durante o
mediática, a D. Francisca é reconhecida e Estado de Emergência?
interpelada pelas pessoas no dia-a-dia?
  DMF.-  Tentámos aproveitar o melhor possível o
DMF.- Acho que não sou mediática e felizmente tempo em que ficámos em casa, em Sintra. Claro
não sou reconhecida e interpelada na rua…. É que estávamos muito preocupados com a situação,
em especial conhecendo que tanta gente teve de
verdade que há muitas pessoas que, por boa
ficar fechada em casas sem espaço e sem conforto.
educação, não querem incomodar.
Isso para além de todos aqueles que nem sequer
têm casa.

RGAM.– Hoje, na maioria das Monarquias


Constitucionais europeias a sucessão hereditária RGAM.– Nas alturas difíceis os portugueses sempre
já não segue as regras de primogenitura encontraram apoio à ansiedade nacional na pessoa
cognática de preferência masculina, mas a dos Reis. Recorde-se o Senhor Dom Pedro V que
sucessão ocorrerá através de primogenitura quando o país foi fustigado por duas epidemias,
igualitária, ou seja, o herdeiro presuntivo do trono começou a visitar os doentes nos hospitais, levando-
é aquele que nasce primeiro no tempo, lhes consolo e não se coibindo mesmo de colocar-se
independentemente do sexo. Assim, muitas das à sua cabeceira; hoje parece que os portugueses
primas da Duquesa de Coimbra serão Rainhas no estão muito mais ‘órfãos’ nesse sentido, uma vez
futuro. Como vê isso? que não encontram um suporte numa figura
assim?
DMF.- Essa decisão depende da vontade e da
cultura dos vários povos. No entanto, o motivo DMF.- Os Presidentes da República que foram mais
pelo qual o herdeiro tinha de ser masculino, tinha estimados pelos portugueses, foram aqueles que
mais actuaram como Reis.   O Presidente Ramalho
a ver com a necessidade do Rei participar na
Eanes até disse que tinha tentado agir como um Rei
guerra. 
constitucional. O nosso Presidente actual tem
Já em Portugal, historicamente, tivemos duas
desempenhado a sua missão também nesse sentido
Rainhas, Dona Maria I e Dona Maria II e ambas
e por isso é que é tão popular. O problema dos
desempenharam muito bem a sua missão em Presidentes é que quando estão realmente bem no
alturas especialmente   difíceis. Por isso, é normal seu trabalho não podem ser reeleitos. Parece que os
que nas monarquias ocidentais se tenha mudado republicanos   não confiam no bom senso dos
a lei a favor da igualdade quanto à sucessão. eleitores, ou têm medo da vontade do Povo.

“É MUITO
IMPORTANTE QUE OS ISSO TAMBÉM É
JOVENS APROFUNDEM VERDADE PARA OS
OS SEUS MENOS JOVENS. É
CONHECIMENTOS DE IMPORTANTE QUE
POLÍTICA E SAIBAM ISSO SEJA FEITO DE
EXPLICAR AS UM MODO ABERTO E
VANTAGENS DAS MODERNO, EVITANDO
MONARQUIAS EM DAR A IMAGEM DE
RELAÇÃO AOS PERTENCEREM A UM
REGIMES CLUBE EXCLUSIVO. ”
REPUBLICANOS.  

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RGAM.– O mundo dá muitas voltas e, como dizia DMF.- É muito importante que os jovens
Mark Twain, ‘a história rima’. Na eventualidade da aprofundem os seus conhecimentos de política e
Monarquia ser restaurada em Portugal, como saibam explicar as vantagens   das monarquias em
pensa que seria essa Monarquia? relação aos regimes republicanos.   Isso também é
  verdade para os menos jovens. É importante que isso
DMF.- Obviamente seria como os portugueses seja feito de um modo aberto e moderno, evitando
quisessem e fosse definido pela Constituição. dar a imagem de pertencerem a um clube exclusivo.
Todas as Monarquias actuais seguem essa regra, Essa imagem iria afastar gente muito válida de
outros meios. 
enquanto o mesmo não acontece com muitas
Esta Real Gazeta do Alto Minho tem feito um
Repúblicas que têm regimes pouco democráticos
excelente trabalho.  Só com verdadeira cultura
ou mesmo ditaduras, especialmente fora da
política poderemos ganhar esta guerra e garantir
Europa.
que Portugal tenha futuro como Nação. Para isso,
gostaria também de recomendar a leitura do livro “A
Liberdade Portuguesa”, com os textos mais
RGAM.– D. Maria Francisca, quer deixar algumas importantes de Henrique Barrilaro Ruas. Foi editado
palavras finais aos monárquicos? há pouco pela Real Associação de Lisboa.

Muito obrigado, Alteza.


Entrevista realizada por Miguel Villas-Boas para a Real Gazeta do Alto Minho da Real Associação de Viana do Castelo.

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Luís Correia de Sá
UM MONÁRQUICO DOS ANTIGOS, MAS PARA ESPANTO DE MUITOS,
ANDAVA DESDE ANTES DO 25 DE ABRIL, A CAMBAR PARA A ESQUERDA…!

ANTÓNIO MONIZ PALME

Abstract Conheci o Luís Correia de Sá nos bancos da


instrução primária, ou melhor, na Escola
Monarchical, with many ideas on architecture, Académica de Viseu, do popular Jaiminho
defence of Nature, Environment and the
Ribeiro. O nosso professor era o competente
protection of the countryside, themes always
forgotten by successive governments. He António Luís que tratava cada aluno como um
supported the Northern monarchical movement filho. O Luís chegou a meio do ano, pois o Pai,
that wanted to oust Marcelo Caetano. Eng.º Correia de Sá, tinha acabado de ser
Before 1974, he participated in the organization of colocado na cidade de Viriato, no sector das
conferences of the Angolan monarch, Dr. Santos
Estradas. Além de ter um feitio fora do vulgar,
Silva, who demanded free municipal elections in
Angola, when in Oporto. o nosso novo colega parecia um menino
In 1974, at the first PPM congress, hosted in britânico, pouco dado ao futebol e mais
Miramar (Vila Nova de Gaia), Luís Correia de Sá interessado nas discussões estranhas à nossa
presided at the table, balancing the two present idade, sobre o património, a limpeza das ruas,
political trends with his calm.
os direitos da Província e dos Provincianos em
After March 11th, he was part of a group that went
to the Oporto military headquarters to demand relação à capital e a escandalosa falta de
commander Corvacho the release of the arbitrarily cultura de quem dirigia os destinos da nossa
detained political prisoners. terra. Tinha uma caixa de lápis de plástico, com
uma tampa de correr, que irresistivelmente
Key words: Luís Correia de Sá; monarchical; PPM.
atraia a atenção dos seus amigos da mesma
 
Résumé idade, talvez mais do que as suas críticas à
  permanente destruição das estruturas beirãs
Monarchique, avec de nombreuses idées sur de granito e ao mau gosto exibido nas novas
l'architecture, la défense de la nature, construções. Claro que esse grupo de alunos
l'environnement et la défense du monde rural,
da primária, com o passar dos tempos, evoluiu
thèmes généralement oubliés par les
gouvernements successifs. Il a soutenu le nas suas preocupações, passando a discutir
mouvement monarchique du Nord qui a qual a forma ideal da chefia de Estado,
demandé la destitution de Marcelo Caetano. atendendo à maneira de ser portuguesa,
Avant 1974, il a participé à l'organisation des concluindo que a Liberdade de toda a
conférences du monarque angolais, le Dr Santos
Colectividade devia depender das qualidades
Silva, qui a exigé des élections municipales libres
en Angola à Porto. de um bom Rei e não do jogo partidário
En 1974, lors du premier congrès du PPM, à republicano. Por outro lado, a necessária
Miramar (Vila Nova de Gaia), Luís Correia de Sá a limpeza das ruas, a limpeza urgente do Rio
présidé la table, équilibrant les deux tendances Pavia, eram outros temas que nos
politiques actuelles avec son calme.
interessavam. O Luís tinha um parente muito à
Après le 11 mars, il faisait partie d'un groupe de
personnes qui se sont rendues au quartier général esquerda, que todos respeitavam e que devia
de Porto, pour exiger que le commandant ser a origem de algumas das suas bizarras
Corvacho libère les prisonniers politiques détenus opiniões. Aliás, os elementos da juventude
arbitrairement. visiense tinham estabelecido entre si laços de
 
amizade fortíssimos e, embora com opiniões
Mots clés: Luís Correia de Sá; monarchique; PPM.
diferentes, a solidariedade entre todos
manifestava-se imediatamente quando
qualquer um de nós entrava numa discussão
com terceiros, geralmente pessoas mais
velhas, onde se incluíam os professores.

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38 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Na verdade, havia sempre uma tertúlia activa que


canalizava elementos e dados para o nosso
companheiro de estudos em pleno trabalho de
dialéctica. Digo isto, porque, além da influência
dos nossos pais, recebíamos mensagens de todos
os lados, mantendo sempre uma santa
independência em relação a todo o tipo de ideias
feitas pelos bem pensantes.
Pois muito bem, após as voltas e reviravoltas da
estadia nos cursos superiores que frequentámos,
voltei a encontrar o Luís Correia de Sá, com seu ar
fleumático da velha Albion, com uma melena
britânica ao vento e as suas ideias sempre muito I Congresso do PPM, em Miramar. Da esquerda para a
direita, Gonçalo Ribeiro Telles, Crespo de Carvalho,
próprias. Ele lembrava-me a figura imponente de Augusto Ferreira do Amaral, Luís Correia de Sá, Rodrigo
de Moctezuma
Robert Baden Powell, tenente general britânico,
fundador dos escuteiros. Mantinha a sua voz
As suas intervenções como deputado, na
fanhosa, como antigamente, própria de um lord
Assembleia Municipal da Câmara do Porto,
requintado, muito pouco latino, mas que merecia
sobre ordenamento do território   concelhio e
a nossa admiração. As suas ideias sobre
sobre a defesa do património foram brilhantes,
arquitectura, sobre a defesa da Natureza, sobre o
o mesmo acontecendo, no Bonfim, com a
Meio Ambiente e a defesa do Mundo Rural,
discussão por mim e por ele liderada, da nova
sempre esquecido pelos contínuos governantes,
configuração dos transportes Urbanos na Zona
tinham agora já contornos bem diferentes,
Metropolitana do Porto, que teve a aceitação
postados em escalões mais sofisticados e
de todos os partidos  com assento na
guarnecidas com críticas muito mais
Assembleia Municipal, menos do partido com
contundentes. O Luís, como eu, andou pela Causa
a maioria no Município que, em vez de
Monárquica, apoiou o movimento monárquico do
argumentar e criticar o nosso projecto, apenas
Norte que pretendeu correr Marcelo Caetano,
levantava a ridícula e leviana questão de que a
participou de iniciativas como a organização das
nossa posição, pouco valia e não podia ser
conferências do monárquico angolano, Dr. Santos
aceite, devido ao número de votos que
Silva, que veio declarar, no Hotel do Porto, com a
tínhamos obtidos nas últimas eleições
sala cheia, que exigia eleições municipais livres,
municipais. Na verdade, um espanto, que
em Angola. Para nosso espanto, ninguém foi
demonstra o baixo nível de alguns políticos da
preso.!!!  Após o 25 A, encontrámo-nos no PPM. Na
nossa praça. Enfim, novo e estranho conceito
primeira visita feita a essa organização partidária.
de democracia!!!.
no Porto, conjuntamente com o Francisco Lucas
Na altura, essa maioria era liderada por figuras
Pires, lá encontrei o Luís já enfronhado naquela
medíocres, sem qualquer expressão pública, a
organização. O PPM estava instalado nas antigas
não ser estarem comodamente instalados
salas da Causa Monárquica, na Praça Filipa de
num partido que lhes permitia dizer quantas
Lencastre, onde não ia há muito e que, pelos
barbaridades lhes vinha à cabeça, na falta de
vistos, tinham sido tomadas de assalto por um
projectos político sérios. Desse modo,
grupo de monárquicos independentes.
tentavam preencher o vazio de ideias sobre os
No primeiro congresso do PPM, no Norte, em
assuntos municipais. Nas eleições seguintes,
Miramar, Luís Correia de Sá presidiu à mesa,
foram obviamente corridos.
equilibrando com a sua calma as duas tendências
Após o 11 de Março e em pleno consulado de
políticas presentes e que ainda se digladiavam,
Corvacho, como chefe da Região Militar do
apesar da situação conturbada que se vivia.
Norte, a situação começou a azedar.

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO | 39

Na verdade, sob o seu comando, o Quartel


General passou a ter uma fisionomia muito
especial, como já tive ocasião de escrever em
artigos na imprensa e no meu livro “O Almofariz”.
O líder do P.C., Ângelo Veloso, passou a dar ordens
no comando da Região, pois era ele que
controlava tanto a informação como a pseudo
dinamização cultural, apoiado por um pequeno
grupo de militares comunistas que obedeciam
cegamente às suas determinações. Nesta ordem
de ideias, começaram a desestabilizar as grandes
empresas nortenhas, tentando colocar os
Trabalhadores da Molaflex e outros manifestantes junto
respectivos trabalhadores contra as ao Quartel General do Porto
administrações. Um dos casos flagrantes foi a
Como as prisões arbitrárias continuassem,
Molaflex, fábrica de colchões, com instalações
resolvemos então ir ao Quartel General saber
fabris em S. João da Madeira. Depois de diversas
oficialmente qual o motivo das múltiplas
manobras intimidatórias, como nada
detenções executadas, onde se incluía o nosso
conseguissem, resolveram, mandar prender os
militante Guilherme Fontes. Nessa acção, além
elementos da gerência, onde se incluía o
de mim, estiveram, pelo menos, o Luís Correia
proprietário Rui Moreira e um seu subordinado,
de Sá e o Jorge Carreira. No Quartel General,
nosso militante, Guilherme Fontes, e encafuá-los
encontrámos o advogado Miguel Abreu a
na Prisão de Custoias, não avisando sequer os
exigir aos gritos que o informassem das razões
familiares e amigos do lugar onde se
da prisão de um seu cliente. Estava a ser
encontravam as suas vítimas. Vagamente, iam
atendido por um militar com a barba por fazer,
espalhando que os presos eram terríveis
de camisa desabotoada, cuja indumentária se
sabotadores da economia nacional. Mas nunca
via a olho nu não lhe pertencer. Talvez com as
dizendo as razões de tal afirmação.
divisas de sargento da classe mais baixa ou
Claro que os trabalhadores da Molaflex,
mesmo de cabo RD., já não recordo com
indignados com o comportamento do tal Eurico
precisão. Este apenas respondia que todos os
Corvacho, não foram em futebóis e fizeram-se
que tinham sido presos eram uns sabotadores
transportar, em peso, de S. João da Madeira, em
da Economia Nacional. Como a berraria
camionetes pelos mesmos alugadas, para a frente
continuava e a situação ia certamente acabar
do Quartel General, onde ruidosamente
mal, pois um advogado individualmente
manifestaram a sua justa indignação contra os
nenhum peso tinha perante os energúmenos
comunistas que tinham tomado conta da Região
que estavam a receber as reclamações. Antes
Norte. Após cenas de pancadaria com as brigadas
que estes actuassem, pedimos ao advogado
comunistas chamadas à pressa e que acabaram
para imediatamente se retirar do local pois ia
por retirar com o rabo entre as pernas,
ser preso, tendo pressentido que já tinha sido
perseguidos fisicamente por pacíficos
chamada, internamente, uma força com tal
trabalhadores, homens e mulheres, que
incumbência. Ele tinha que voltar ao Q.G., mas
corajosamente lhes fizeram frente. Perante o
com as costas quentes, apoiado por um
tumulto, os insultos e os pontapés na porta do
agrupamento partidário, que lhe pudesse dar
Quartel General, uma delegação dos
cobertura. E o advogado, perante a iminência
trabalhadores teve permissão de entrar e entregar
de ser preso, retirou do local. Contudo,
uma petição exigindo a imediata libertação da sua
Independentemente de tal circunstância,
entidade patronal, injustamente detida, prisão
quem como eu tinha prestado serviço naquela
essa que estava a prejudicar altamente a vida da
unidade militar, onde ia pernoitar quando
empresa, que tinha sérios compromissos
estava de serviço às rondas da cidade, poucos
internacionais a cumprir.
anos antes, e se lembrava da maneira digna e
impecável como estavam fardados os praça, os
sargentos e os oficiais, forçosamente abria a
boca de espanto. Como tal seria possível?!!!
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Alguns militares presentes já não tinham idade Mal chegámos, mandaram a representação do
para estar na tropa. Estavam encostados sem PPM subir ao primeiro andar para sermos
maneiras às paredes e corrimões, com a barba por recebidos pelo Comandante da Região. Para
fazer, com fardas onde mal cabiam as inestéticas nos impressionar, fizeram-nos entrar numa
banhas. Uma vergonha!. Perante aquele cenário, ampla sala, onde estava Corvacho, imponente,
resolvemos alterar a nossa estratégia. Desistimos sentado pomposamente ao centro, rodeado
da diligência que nos tinha levado até ali e, por uma série de oficiais, postados de pé.
imediatamente, pedimos a todos os partidos Apercebi-me, num relance, que alguns
políticos para fazerem comunicados para a daqueles militares estavam apavorados com o
Imprensa sobre os presos sem culpa formada, o que nos pudesse acontecer. Deduzi que
que conseguimos prontamente, com excepção estavam ali militares que não apoiavam o brig.
do Partido Comunista, como é natural. Além do Corvacho. Bem, voltemos ao assunto. Com a
mais, os líderes partidários escreveram para os voz mais solene e firme que o nervosismo me
responsáveis do MFA a exigir a libertação imediata permitiu, declarei, em nome do PPM, que
dos ilegalmente detidos. Como Freitas do Amaral sabíamos das prisões ilegítimas feitas pelo
se encontrasse no Porto, pressionámos os nossos MFA, sem qualquer fundamento, cumprindo
amigos do CDS para que o seu líder exigisse ser ordens de um determinado partido político.
recebido pelo Corvacho e lhe desse um prazo para Nestes termos, vínhamos avisar o MFA que se
libertar os detidos civis. Ainda por cima, a maior não libertasse as pessoas detidas ilegalmente,
parte dos detidos era militante e simpatizante do no prazo de quarenta e oito horas, seriam os
seu partido. Recordo que Vieira de Carvalho, mesmos tirados da prisão à força.  Um dos
antigo presidente da Câmara da Maia, professor e acólitos perdeu as estribeiras e respondeu que
investigador ilustre, era um dos detidos sem culpa a nossa exigência estava mesmo a pedir que
formada. nos metessem todos a ferros. Imediatamente
Mas ao contrário do que era de esperar, o então retorqui que tal era possível, visto que o MFA
líder do CDS desandou a grande velocidade do mandava deter pessoas sem culpa formada.
Porto para Lisboa e de lá escreveu uma carta Demonstrando não estar à espera daquela
formal, em nome do seu partido, a protestar as resposta e da ameaça feita, Corvacho, talvez de
prisões feitas pelo MFA ….! Enfim, são feitios. cabeça perdida pelo meu desaforo, levantou-
O PPM já tinha dado com os pés no MFA uma vez, se e autoritariamente mandou que saíssemos
quando da assinatura do Pacto, que todos os imediatamente do Gabinete, apontando com
partidos, menos nós, acataram. Nestes termos, um dedo a porta e dizendo:-RUA.  Após
não ia a nossa gente engolir ter um seu militante cumprimentarmos os presentes com um frio e
preso sem justificação alguma. Tínhamos que cortês aceno de cabeça, saímos com ar
tomar uma atitude drástica. Após participarmos empertigado e solene, vagarosamente como
num comício com o MRPP, no antigo Palácio de convinha, em fila indiana.
Cristal, exigindo a libertação imediata dos presos Nunca tão comprido e longo nos pareceu o
políticos, resolvemos, cara a cara, ir ao Q.G. exigir a caminho da saída. A escada que descemos
sua libertação. E lá fomos. Íamos mentalizados nunca mais acabava e os falsos militares, mal
para o pior. Fomos trajados a rigor, de gravata e fardados, encostados ao corrimão cuspiam e
com o fatinho de ver a Deus.      Contactámos chamavam de nomes as nossas mãezinhas e
oficialmente com o Q.G., com a antecedência toda a família sem excepção. Finalmente,
devida, comunicando a visita de uma delegação apanhámos o ar da rua e respirámos fundo.
do PPM, para falar com o Brigadeiro Eurico Estou agora a transcrever o que já escrevi na
Corvacho. Foi constituído um grupo para tal imprensa e num livro publicado.
encontro e todos, sem excepção, foram Deitei-me de costas num canteiro do jardim
prevenidos das possíveis consequências, que fronteiro à porta de armas, para diluir o stress,
incluía a nossa prisão ou até sermos passados enquanto o Luís Correia de Sá,
pelas armas. O Grupo era constituído pelos fleumaticamente, e sem denotar as
Arquitecto Mário Emílio de Azevedo, Eng.º Luís consequências do mau momento vivido, fazia
Correia de Sá, José Vieira Coelho (Conde Paçô reparos ao deplorável fardamento e linguagem
Vieira), José Pedro Alijó e a minha pessoa. dos militares que lá se encontravam.

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO | 41

Uma vergonha, declarava com o seu ar britânico, No dia seguinte, tivemos a lata de ir à Prisão
tentando trazer a calma a todos nós, de Custoias visitar os presos, informando
nomeadamente ao Paçô Vieira, o mais velho do com pompa e circunstância, que iriam ser
grupo e que pensava que nem lhe iriam dar libertos bem de pressa. Graças a Deus
tempo de se despedir da família. Já se via adivinhámos. Foram todos libertados dentro
encostado a uma parede para ser fuzilado. No do prazo por nós marcado. A coragem dos
meio de uma cigarrada, expressei convictamente elementos daquele grupo não pode ser
a ideia de que tínhamos vencido aquela batalha e esquecida na luta contra os comunistas no
que aquele êxito era a prova de que íamos ganhar Norte, confirmada no 25 de Novembro, por
a guerra contra os comunistas do MFA. Pires Veloso.
Prontamente, o Mário Emílio e o Luís Correia de A fleuma do Luís Correia de Sá e o seu
Sá, seguidos por todos os outros, acabaram por domínio dos sentimentos mais díspares
concordar. Tínhamos feito uma ameaça terrível ao muito ajudou nesta vitória da liberdade
Corvacho e à sua” entourage” e os mesmos não contra o estalinismo.
tiveram coragem de nos responder na mesma Foram comportamentos como o do nosso
moeda, mandando-nos prender. O desafio feito Luís, do Mário Emílio, do Zé Pedro Alijó, do
tinha ficado do lado de lá e não tinha havido uma Paçô Vieira que afastaram da paisagem
resposta concreta e proporcional à nossa incrível política portuguesa o espectro de uma
ameaça. LIBERTAR OS PRESOS À FORÇA. ditadura comunista.

Fotografia do encontro anual, recordado PPM Porto dos anos 70-80 do séc. passado, a 29 de Maio de 2016, na Casa de
Montezelo, Gondomar. De joelhos, da esquerda para a direita: António Abel Pacheco, Armando Prisco, António de Sousa
Guedes e Joaquim Taveira.Em cima da esquerda para direita: Artur Jorge Almeida, Mário Guedes. Luís Correia de Sá,
Maria Elisa Malheiro, António Emílio de Vasconcelos, José Alberto Pinto carvalho, Maria João Vasconcelos, António
Borges Taveira, Paula Marinho e José Aníbal Marinho.

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO

NOTA INFORMATIVA
A Direcção da Real Associação de Viana do Castelo, com mandato para o triénio
2017-2020, cumprimenta V. Exas, desejando desde já a continuação de um bom
ano de 2020.
A Real Associação de Viana do Castelo tem um plano de actividades e orçamento
para 2020, aprovado em Assembleia Geral, que inclui diversas iniciativas, que vão
desde a organização de conferências à publicação da Real Gazeta do Alto Minho,
órgão oficial de comunicação da Real Associação de Viana do Castelo, do qual
muito nos orgulhamos, e que se pretende sejam executadas com a participação
de todos os associados, simpatizantes e entidades que entendam colaborar, com
o intuito de contribuir e ajudar a dinamizar o ideal Monárquico que todos nós
abraçamos convictamente. Atendendo à necessidade imperiosa que temos em
angariar recursos financeiros necessários ao normal funcionamento da Real
Associação, e tendo em conta que uma das competências da Direcção é a
cobrança de quotas, eu, em nome da Direcção e na qualidade de Vice-Presidente,
venho por este meio solicitar a V. Exas. a regularização da QUOTA DE ASSOCIADO
REFERENTE ao ano de 2020, no valor de 20,00 € (vinte euros), preferencialmente
por transferência bancária, para:

Titular da Conta: Real Associação de Viana do Castelo


Entidade bancária: Caixa de Crédito Agrícola
Agência: Ponte de Lima
IBAN: PT 50 0045 1427 40026139242 47
Número de conta: 1427 40026139242
SWIFT: CCCMPTPL

Caso seja possível, pede-se o favor de enviarem por e-mail


(real.associacao.viana@gmail.com e pedrogiestal@gmail.com) informação da
regularização da quota (ex: comprovativo), após o que procederemos de imediato
à emissão do recibo de liquidação.

Cordiais cumprimentos e saudações monárquicas,

Pedro Giestal
Vice-Presidente da RAVC

FICHA TÉCNICA
TÍTULO: REAL GAZETA DO ALTO MINHO
PROPRIEDADE: REAL ASSOCIAÇÃO DE VIANA DO CASTELO
PERIODICIDADE: TRIMESTRAL
DIRECTOR: JOSÉ ANÍBAL MARINHO GOMES
REDACTOR: PORFÍRIO SILVA
WEB: WWW.REALVCASTELO.PT
EMAIL: REAL.ASSOCIACAO.VIANA@GMAIL.COM

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO | 43

A Virtude Própria da Coroa


MIGUEL VILLAS-BOAS

Abstract

‘The Monarchy is worthy in its own right, regardless ‘A Monarquia vale por virtude própria,
of the figure that incarnates it.’ While in the independentemente da figura que a
Republican head of state there is a so-called encarna.’, grafou o Doutor João Pinto Ribeiro
position, a King is institutional, the Crown. It is
essential to defend a true Monarchy, which is
(1590-1649), um dos mais eminentes
different from Realism, which is just the group of Conjurados de 1640, figura-chave na
supporters of a monarch, a royal house, or a suitor. Restauração da Independência de 1640, o
If today there is no place for Absolute Monarchies, Cérebro da Revolução, pois foi o diligente
there can also be no place for absolute republics. intermediário entre os Conjuradores da
History is full of episodes in which the Crown
Nobreza portuguesa que se reuniam no
acted as a brake on elected politicians who tried
to obtain powers greater than those assigned by Palácio dos Almadas e D. João (IV), Duque de
the Constitution and, in the end, the Monarchy Bragança, a quem administrava os negócios
would function as a reserve against dictatorship. da Casa, e que convenceu o hesitante Duque a
aceitar a Coroa Portuguesa dos seus maiores,
Key words: The Crown; Chief of State; King.
sob pena do escol da Nobreza instaurar uma
 
Résumé república aristocrática como em Veneza.
  De facto, uma Monarquia é sempre mais
‘La Monarchie est digne à part entière, quelle que vantajosa para um país, uma vez que na chefia
soit la figure qui l’incarne.’ Alors que le chef de de Estado republicana existe uma fulanização
l’État républicain a une soi-disant position, un roi
do cargo, enquanto um Rei é institucional, pois
est institutionnel, la Couronne. Il est essentiel de
défendre une véritable monarchie, différente du a Coroa vale independentemente da figura
réalisme, qui n'est que le groupe de partisans d'un que a incarna, e como tal a chefatura não fica
monarque, d'une maison royale ou d'un dependente da popularidade, do valor de um
prétendant. determinado presidente, dos seus gostos, dos
Si aujourd'hui il n'y a pas de place pour les
seus humores e, dessa forma, sujeita ao poder
monarchies absolues, il ne peut pas non plus y
avoir de place pour les républiques absolues. pessoal. Para um Monarca o dever prevalece
L'histoire regorge d'épisodes au cours desquels la sobre o querer: recorde-se El-Rei Dom Manuel
Couronne a agi comme un frein pour les II que tinha como divisa ‘Depois de Vós, Nós’,
politiciens élus qui ont tenté d'obtenir des isto é, o dever e a Nação em primeiro lugar, só
pouvoirs supérieurs à ceux attribués par la
depois a Sua vontade. Durante 771 anos de
Constitution et, en fin de compte, la monarchie
fonctionnerait comme une réserve contre la Monarquia Portuguesa El-Rei foi sempre o
dictature. Defensor do Povo e do Reino.
 
Mots clés: La Couronne; Chef de l’État; Roi.
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44| REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Reis de Portugal

Como tal, é essencial a defesa de uma


verdadeira Monarquia, que é diferente do
Realismo, que é apenas o conjunto de
partidários de um monarca, de uma casa real,
'Depois de Vós, Nós', Divisa D'El-Rei D. ou de um pretendente específico.
Manuel II
Por isso, para que a Nação nunca fique em
situação de dependência de uma figura,
‘Senhor meu Rei, aqui em Portugal há que sempre me assumi Monárquico e não Realista
desfazer esta atoarda de que tudo é do Estado! e muito menos republicano, nem com eles
Os Vossos tão práticos Antepassados bem pactuo.
sabiam que, primeiro deviam garantir os Enquanto no Realismo, os realistas são
vassalos e só depois a Eles mesmos que a Nação correligionários de um monarca ou de um
incarnavam. Agora, há só contribuintes e Estado pretendente em particular, os Monárquicos
democrático surdo e mudo, que hermético se defendem o sistema monárquico de governo,
encerra na sua torre de marfim, fazendo ou melhor um Estado Monárquico, mas não
acreditar que tudo caminha, no melhor dos necessariamente um monarca ou um
mundos possíveis! Na velha Bizâncio, entrada já candidato a Rei em particular, e colocam a
pelos turcos, também assim se cuidava, Monarquia acima do domínio do pessoal, a
protocolarmente…’, escreveu, muito bem, Coroa, em primeiro, – não o objecto que cinge
Francisco Perfeito de Magalhães e Menezes a cabeça do Monarca, mas a instituição - com
(Maga), 3.° Conde de Alvelos in “O Berço Exilado tudo o que ela representa é o mais importante.
do Príncipe da Beira”, 1946. Nada obsta a que se defenda um pretendente
Assim a Coroa vale por virtude própria, porque o legítimo a um Trono, mas não basta fazer essa
Rei não é apenas um homem, mas uma apologia, é necessário, defender, também, as
instituição que representa toda a Nação, e toda a instituições monárquicas, sendo assim não
sequência de Reis, por isso o Rei usa o plural apenas Realista, mas Monárquico.
majestático, a 1ª pessoa do plural ‘Nós’, pois Os monárquicos querem uma Coroa e
quando alguém se dirige ao Rei não o faz à pessoa instituições monárquicas, portanto não é
Real, mas à Coroa, a potestade real, porque o Rei suficiente substituir um Presidente por um
representa toda a Nação, todas as instituições Rei, sem mais, pois isso é clara e
nacionais e toda a sua História. manifestamente muito pouco. A Monarquia
Bem o disse e a rimar, António Sardinha, o Político requer toda uma estrutura para bem servir a
e doutrinador monárquico, no poema ‘O Rei’ in Nação. República Coroada, Não! Os
“Pequena Casa Lusitana”: ‘Que ver o Rei na sua verdadeiros Monárquicos não enfiam esse
fôrça calma, /é ver a Pátria com figura humana!' barrete, o ignóbil carapuço frígio - ainda que
com um coronel a cingi-lo!

JUNHO 2020
REAL GAZETA DO ALTO MINHO |45

Os Monárquicos não pessoalizam a instituição real A história está repleta de episódios em que a
como os republicanos fulanizam a presidência, Coroa funcionou como um freio aos políticos
pois se o fizessem o Rei ou o pretendente seria eleitos que tentaram obter poderes superiores
apenas o representante dos seus correligionários, aos atribuídos pela Constituição e, assim, em
desses partidários realistas e como tal defenderia último caso, a Monarquia funcionaria como
apenas os interesses desses últimos quando uma ressalva contra a ditadura. Este
subisse ao Trono. Esse partido, que lutasse pelo contrapeso resulta de que uma coisa só é
seu pretendente real, com a ascensão ao trono do superada quando se actua de modo a que tal
seu Rei, seria beneficiado, e isso excluiria a ideia coisa forme com o seu contrário uma unidade:
monárquica, que é justamente uma aglutinação é a tese e a antítese de Hegel. Para haver uma
de forças diversas num país. anulação de uma força negativa política tem
Ora, o Rei não é o Chefe dos Nobres! Muito menos que haver uma força positiva capaz de a
só de alguns! ‘A Nobreza aparecerá à gente moça equilibrar. Ora só um Rei tem essa força e
do meu país como uma realidade eterna, filha da consegue de forma eficaz desempenhar essa
eterna ânsia do sangue para se perpetuar e ser função.
digno. Não é Nobreza a nobreza que esqueceu as Tal não acontece com outro Chefe de Estado
obrigações sociais de sua gerarquia. Não basta que não seja um Monarca, uma vez que existe
usar-se anel armoriado nem ter o brasão lançado essa grande vantagem do Rei, enquanto
no "Livro do Armeiro-Mór do Reyno". Como em entidade real independente, não eleito, não
Portugal não há um "destino", como em Portugal representar qualquer partido político e seus
não há uma "ideia directriz", também em Portugal sectários e com tal não suster qualquer
não há uma "nobreza". Com a Profissão e com a agenda política, podendo assim com o seu
Nobreza é que o Rei de Portugal, - e não o Poder Moderador acautelar a constância
minúsculo rei dum partido! -, empreenderá a dentro da multiplicidade político-social do
restauração da Pátria pela Monarquia.’, grafou país, empecendo à perturbação causada pela
António Sardinha in "Ao Princípio Era o Verbo". política que se adultere. Supra tramas
Hora, se hoje não há lugar para Monarquias partidárias, livre de um calendário político,
Absolutas, também, não pode haver lugar para desprendido de promessas eleitorais, sem
repúblicas absolutas; pois se o Rei seria um de ligações suspeitas com oligarquias, sem
diferentes órgãos do Estado e que exerceria os fraternidade activa com políticos – pois o Rei
poderes que lhe estariam consagrados na Lei não tem partido -, sem solicitudes a favor de
Fundamental do País, os governos republicanos clientelas eleitorais e patronos de campanhas
não podem ter diferente obrigação. que esperam obter mercês e dividendos do
seu “investimento”, o Rei terá a serenidade e a
legitimidade para actuar como moderador
entre as várias facções políticas ou demais
grupos da sociedade civil e colocar-se como
cautela da democracia. Um Monarca jamais se
resumirá a um padrinho de uma legislatura: é
péssimo quando a opinião de um chefe de
Estado coincide sempre com a vontade do
chefe de governo; essa unanimidade é o
primeiro passo para uma ditadura ainda que
com capa democrática.
Aliás, se o Rei que fazia mau uso do poder que
lhe havia sido conferido pela Comunidade, as
Cortes Gerais primeiro, e depois o Parlamento,
também chamado de Cortes, na Monarquia,
dispunham de meios para dirimir o se non
recte faris non es rex, que iam desde a ab-
rogação das regalias reais, pela instituição de
uma Regência, ou mesmo, em último caso
António Sardinha, Alberto Monsaraz e Luís
de Almeida Braga pela deposição do Rei.
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46 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

e, mesmo, no limite, se eliminavam uns aos


outros. Com eles começou a subserviência aos
novos grandes da Europa, pois não tardaram
em impingir ao País uma Grande Guerra com
interesses pequenos, alheios à nossa Nação.
Dessa forma desmedidas serão as nossas
perdas: direitos limitados, a liberdade coactada
e mergulhados numa ordem imposta por uma
autoridade ditatorial com um sorriso nos
lábios.
‘Os partidos, ainda, como têm que ter a
aparência de se basear na opinião pública,
D. Afonso VI preso em Sintra, aguarela de buscam «orientá-la» no sentido que desejam,
Roque Gameiro
e assim a pervertem; e, para sua própria
Ora um Presidente da República não pode ser segurança, buscam servir-se dela, em vez de a
destituído! servir a ela, e assim a sofismam’, enfatizou o
‘A Monarquia é um sistema admirável de resolver monárquico Fernando Pessoa.
o problema da chefia do Estado.’, disse o Lembremo-nos do que provocou a lúgubre
Advogado, Jornalista, Político e Monárquico noite de pesadelo que foi a sanguinolenta 1.ª
português Francisco Sousa Tavares ao Jornal República que acabaria a 28 de Maio de 1926
Monárquico Independente ‘Monarquia com o Golpe de Estado iniciado em Braga pelo
Portuguesa’, n°11, em 1983. Nunca se aceitará viver general Gomes da Gosta e por Mendes
num regime, com um Estado que controla todos Cabeçadas, sendo instituída uma ditadura
os aspectos da vida do cidadão, mesmo aqueles militar que viria a dar origem ao Estado Novo.
que pela sua natureza apenas deveriam fazer
parte da sua reserva e esfera particulares.
Um governo que se rege sobre o princípio da
benevolência para com o seu Povo, à maneira de
um pai relativamente aos seus filhos, é um
governo paternal, esse sim, que entende os
cidadãos como súbditos, crianças menores que
ainda não podem distinguir o que lhes é
verdadeiramente útil ou prejudicial, e por isso os
obriga a comportar-se de maneira passiva, a fim
de esperarem meramente do governo um juízo
de apenas como devem ser felizes, na medida da
bondade que ele o queira.
Dirigentes e governantes da I república
‘Quis custodiet ipsos custodes?’, satirizou
Juvenal. ‘Quem guardará os guardas?’. A O País nunca tinha recuperado do Regicídio e a
resposta para esta pergunta, já a havia dado subsequente revolução que implantou o
Platão em “A República” a sua obra sobre despotismo nada esclarecido da República
“governo” e “moralidade” e é que os Velha sacrificaria o Povo atirando-o para
guardiões irão se proteger deles próprios. miséria, reprimiria os grevistas com os
Eles contam-se uma "mentira carinhosa." A Capacetes de Aço, coarctaria a imprensa pelo
mentira carinhosa lhes dirá que eles são ‘visado pela censura’, lançaria os monárquicos
melhores do que os que eles servem e é para o Limoeiro depois de ‘julgados’ pelos
então, responsabilidade deles guardar e Tribunais Políticos, desterraria o Patriarca de
proteger aqueles que são menos do que eles Lisboa, prenderia e assassinaria padres,
mesmos. De facto, a república, não trouxe assaltaria centros católicos no Porto, ergueria a
mais liberdade ou mais igualdade e a única forca caulina em Campolide para os
fraternidade era entre a camarilha do condenados monárquicos, suspenderia as
governo e do partido republicano, quando garantias, e, imolaria toda uma geração de
não andavam às avessas e se fraccionavam jovens, em holocausto, no altar da Guerra a que

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO |47

chamaram Grande, talvez pela mortandade que A 1.ª República ou República Velha (5/10/1910 –
provocou, e que custaria a vida de entre Europa e 28/06/1926) foi, também, um período em que a
África a 7.500 militares portugueses. Ao todo só na política interna se destacou negativamente
negra batalha de La Lys morreram 1.643 militares pela deliquescência, pelo sistema do partido
portugueses do Corpo Expedicionário e os que único, o que em último grau comprovou a
não foram mortos ou feitos prisioneiros retiraram impossibilidade de subsistência, por defeito
desorganizadamente para a retaguarda feita de natural, do regímen republicano que foi
trincheiras podres de lama e sangue. 200 mil marcado pela falta de prestígio e enfraquecido
Portugueses foram mobilizados e combateram na por incompetência e impreparação técnica e
Europa e em África, mais de 55.000 no Corpo política, escândalos de corrupção, lutas
Expedicionário Português na Flandres. Ao todo, intestinas, violência, perseguições, censura,
reitere-se, 7.500 soldados portugueses perderam nepotismo, favorecimento, privilégio,
a sua vida e 14.062 foram de alguma forma vítimas despesismo, sem que os criminosos que
da Iª Guerra Mundial, seja como mortos, feridos ou sobraçavam as pastas do poder ministerial
prisioneiros. Além destas baixas foram assumissem as responsabilidades pelos
desmedidos os custos sociais e económicos que próprios erros e ilicitudes. Afonso Costa,
tiveram consequências extremas para a Ministro da Justiça do governo provisório não
capacidade nacional, e, os objectivos que levaram eleito de 5 de Outubro de 1910, anulou as
os responsáveis políticos da 1ª República a derradeiras eleições do constitucionalismo
empurrar a juventude para a guerra saíram Monárquico e no programa político de 29 de
gorados em toda a linha. Agosto de 1911, anunciou o partido republicano
Fernando Pessoa, em 1919, conseguiu, como como o partido único da República. Aliou-se
ninguém, contar essa tragédia em forma de verso: no governo à família Rodrigues, com Rodrigo a
ministro e Daniel como governador civil de
Anda o Povo a passar fome Lisboa, a dupla que fomentou a  formiga
E quem o mandou para a França branca. Enfim, apenas um daqueles que
Antero de Quental classificou de ‘garotos’ e de
Não tem barriga para o que come
‘raça pérfida’.
Nem mãos para o que alcança.
Após 16 anos, cuja contabilidade não mente,
 
Os ladrões já não andam na estrada, com 35 mil mortos, mais de 17 mil feridos e
Moram na pele dos ministros. prisioneiros na Grande Guerra - sangrenta e
  que não era portuguesa -, 7 parlamentos, 8
Não é português quem come presidentes, 45 governos, 2 juntas militares, 1
À custa do português pobre. Junta Governativa do Reino de Portugal com a
Restauração da Monarquia Portuguesa no
Nasceram aqui porque tinham célebre movimento Monarquia do Norte
Que nascer em qualquer parte.
cortada violentamente em 1919, 1 governo de
excepção, 1 greve geral brutalmente reprimida,
É inglesa a constituição,
E a república é francesa. revolverismo de Formiga-branca e Formiga-
É de estrangeiros a Nação, negra, centenas de milhares de crimes
Só a desgraça é (que é) portuguesa. políticos e ajustes de contas, fuzilamentos,
noites sangrentas, atentados, prisões
Venderam Portugal arbitrárias, tortura… caía de podre a corrupta
Para ter dinheiro em notas. Primeira República ou República Velha.
Meteram-nos na guerra a mal
Por isso, o Coup… a Revolução do 28 de Maio se
Só para termos derrotas.
fez sem um tiro, só com um desembainhar de
Não nos davam de comer, espadas aclamado pelo Povo.
Nós é que éramos a comida, A República Velha foi, portanto, nas palavras
Para eles poderem viver do historiador Douglas L. Wheeler a ‘parteira
Que lhes estorvava a nossa vida? do mais longo sistema europeu de
sobrevivência autoritária’. Bem sabemos que
Metade foi para a guerra, o mundo gira e que, mais do que se repetir, a
Metade morreu de fome, História rima.
Quem morre, cobre-o de terra.
Quem se afoga, o mar o some.
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Ética na Política e o futuro de


Portugal
MADALENA PIRES DE LIMA
DIRECTORA ADJUNTA DA REVISTA OBSERVA MAGAZINE

Abstract

Ethics in politics. the future of Portugal depends


on conscious choices, in the sense of finding local
and national political representatives, who,
regardless of their party positioning, are ethical
and independent in fulfilling their mandate. There
is an urgent need to change the 'political man'
paradigm.

Key words: Ethics; politics; Portugal; elections.


 
Résumé
 
L'éthique en politique. L'avenir du Portugal
dépend de choix conscients, dans le sens de Antes de mais, definirei sucintamente Ética e
trouver des représentants politiques locaux et
nationaux qui, quel que soit le positionnement de
Política.
leurparti, sont éth iques et indépendants dans A ética é uma espécie de moral não imposta
l'accomplissement de leur mandat. Il est urgent pela sociedade, mas que nos chega de dentro
de changer le paradigme de «l'homme politique». de nós mesmos, como a «forma» que
  entendemos dar aos nossos comportamentos,
Mots clés: Éthique; politique; Portugal; élections.
de maneira a não prejudicar os outros.  Pode
ainda ser a política a mais nobre profissão do
homem que se dispõe a gerir a «coisa
Como desejamos que seja o nosso futuro
pública»? Desde a Grécia Antiga que Ética e
como país?  O que aprendemos durante este
Política se confundem, mas hoje, parecem
período de confinamento forçado? Que lições
antagónicas. Que se passa com a génese dos
e aprendizagens podemos aproveitar das
conceitos?  Ética é um conceito naturalmente
nossas reflexões, no sentido de recolocar
ligado ao coletivo, ao sentimento dos povos,
Portugal numa rota de crescimento cultural e
aos seus usos e costumes, podendo ser uma
económico? Estas são questões com as quias
corporação (ética profissional), uma nação ou a
me tenho deparado e me levam a escrever
própria humanidade. Na Antiguidade, a
umas linhas sobre Ética na política e a
filosofia política englobava o estudo e o
necessidade que temos novos players no jogo
conhecimento da Ética, conceito que foi
partidário, com novos paradigmas políticos.
evoluindo, ou não. A ética da Antiguidade era
Temos o que merecemos? Refletem os
diferente da ética actual?  Continuamos a ver-
políticos os seus votantes?
nos como povos inimigos uns dos outros? De
Considero que - no presente - vivemos uma
que nos serviu tanto estudo, conhecimento,
grande falência de valores éticos ao nível
‘evolução’ e desenvolvimento? Estão os
político, quer nacional, quer local, e que urge
políticos empenhados na realização do bem
mudar essa realidade. É imperativo que se
comum  -   génese do conceito de Política? Ou
altere a nossa atitude passiva relativamente a
apenas identificam problemas comuns aos
comportamentos daqueles que, estando no
cidadãos para os resolver em benefício
poder, impedem uma reconstrução da nossa
próprio?
vida política como povo.

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO | 49

Existe muito de subvertido e até de perverso no que incentivam ao divórcio, ao aborto, à


conceito puro de política. Em Portugal, e a avaliar homossexualidade e outros, no sentido de
pela quantidade de notícias que diariamente nos destruir a célula familiar, com a falsa capa da
invadem nas televisões e jornais, dando conta que igualdade. Este conceito; o da igualdade, de
autarcas e políticos nacionais, alegadamente, resto, tem servido apenas para dividir
estão envolvidos em esquemas de compadrio, cidadãos, que devem sim, nas suas diferenças
tráfico de influências, corrupção e ouros crimes, almejar igualdade de oportunidades,
levam-nos – indubitavelmente - a concluir que o igualdade perante a Lei, igualdade de
interesse comum é apenas uma miragem. remuneração no trabalho, mas nunca uma
Se a política traduz o empenho na realização do igualdade absoluta e absurda que os
bem comum, do bem da colectividade neutraliza nas suas características próprias de
(concepção de Platão e de Aristóteles), que homens e mulheres.Em vésperas de várias
sentido faz que se reduza apenas à «arte e eleições há que reflectir sobre o que nos une e
engenho» de conquistar e de manter o poder à não sobre o que nos divide que são, como o
custa do pagador de impostos?  nome indica: os partidos, que nos partem e
Não consegue o português comum antever que o impedem de ser inteiros.
marketing, o controle dos meios de comunicação Nesse sentido, seria interessante
social, o clientelismo, o populismo e até a mentira, contribuirmos para a eleição de portugueses
apenas servem para o prejudicar, retirando-lhe a que, independentemente de serem deste ou
liberdade de criar, de produzir, de ser feliz? Vejo daquele partido, sejam acima de tudo seres
com preocupação que se admitam programas na humanos éticos.  E aqui não cabe a noção que
televisão publica, paga por todos nós, programas  nos divide entre Ética Monárquica ou Ética
republicana, apenas e simplesmente: Ética!

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A MONARQUIA PELO MINHO


V. N. DE FAMALICÃO

JOÃO AFONSO MACHADO


Em alguns casos, reconheço, para imensa surpresa
do meu lado. Mas – sempre sem nada pedir ou
Abstract perguntar – fui ouvindo essas vozes todas. Gente
inconformada, saudosa de uma História com o
On my return to Famalicão, after a long absence garbo de antigamente, revoltada com o Presente,
for professional reasons, I was reencountering
descrente do Futuro. E espantosamente bem
people again or meeting new people. My
informada, de alma devota ao nosso Rei. Assim
countrymen, longtime friends or even more recent
ones, knew that I was a monarchist and to my reforcei contactos, criei até um grupo comparsa.
amazement, they expressed identical convictions. Da boa conversa, de permanente renovação de fé.
I even created a group of good conversation, at Pelo menos em dois restaurantes, começando
least in two restaurants, starting with their owners, pelos seus proprietários e prosseguindo nos
continuing in the remaining members, where comensais, o debate pauta-se pela sintonia – para
Portugal and the Monarchy were debating. Portugal, a Monarquia!
Key words: Famalicão; Portugal; monarchy.
 
Résumé
 
À mon retour à Famalicão, après de longues
années d'absence pour raisons professionnelles, je
rencontrais ou rencontrais à nouveau des gens.
Mes compatriotes, amis de longue date ou même
plus récents, savaient que j'étais monarchiste et à
mon grand étonnement, ils exprimaient des
convictions identiques.
J'ai même créé un groupe de bonne conversation,
dans u moins deux restaurants, à commencer par
leurs propriétaires, en continuant dans les autres Ficou-me a crença, não é o tempo de
membres, où le Portugal et la monarchie institucionalizar, ou de programar o que seja, em
débattaient. função destas boas ideias. Mas apenas de deixá-las
fluir. De resto, intentasse eu tal propósito, o meu
Mots clés: Famalicão; Portugal; monarchie.
anarquismo nato – invoco o saudoso Camossa
No meu regresso a Famalicão, terra das minhas Saldanha!... – em nada ajudaria a formar estruturas
origens, depois de longos anos de ausência, fui e hierarquias. Não, por mim, e por aqui, será assim
reencontrando ou conhecendo pessoas, recriando o nosso pensamento. A nossa fidelidade à Coroa.
ou criando novas amizades, enfim. A breve trecho, Afinal, o nosso Reino. Chamem-lhe tolice. Mas à
já me organizava entre grupos vários e casas de gente da minha terra não proponho mais do que
comer e frequentava uma animada tertúlia das prosseguir e sonhar um diferente devir. O que é
mais diversas proveniências políticas. muito mais do que pouco. Queremo-nos
V. N. de Famailicão é uma cidade, um concelho, assumidos e somados para o dia do grande Ideal.
de trabalho e modernidade, onde não é provável O qual, acreditamos, chegará. Paulatinamente,
encontrar alguém invocando vetustas raízes e conforme vou sustentando perante os meus pares
tradições nobiliárquicas dos seus antepassados. É famalicenses, depois de uma IV República,
necessariamente de transicção. Algo em que
esse o contexto ideal para avaliar certas e
todos, creio, deviam pensar. Uma IV República que
determinadas convicções de princípios ou de
substituirá a sua desgraçada, miserável,
ideologias.
antecessora, caindo sem parar de podridão. Uma
Sem nada pedir ou perguntar, os meus
República com outra gente, menos fechada, em
conterrâneos, amigos de longa data ou mais
que a El-Rei sejam proporcionados os meios de se
recentes, vieram tendo comigo, versando o Ideal apresentar como uma alternativa capaz de vencer
que jamais abandonei, e já era meu quando daqui o lixo maçónico que nos tolhe. Para já, vai sempre
parti para a minha vida profissional. crescendo a ala dos menos enérgicos, talvez, mas
Sabiam-me um indefectivel da Monarquia. categoricamente afirmando – em caso de
E manifestavam, então idênticas convicções. referendo voto na Monarquia...
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REAL idades da mente… (1)


DO EXISTENCIALISMO ATEU AOS
CRISTÃOS EXISTENCIALISTAS
PORFÍRIO PEREIRA DA SILVA

Abstract

A philosophical incursion on atheistic No entanto, há algo em comum entre as duas


existentialism to existentialist Christians through a visões, que se revela na preocupação com os
text by Leslie Stevenson, which we once dissected problemas do indivíduo, e particularmente
at length, when proposing a reflection on seven
com a natureza da consciência. Estamos
(rival) theories about Human Nature, and through
which Plato went through (The Government of the perante os chamados “existencialistas”,
Wise); Christianity (Divine Salvation); Marx (The denominação dada a muitos escritores,
Communist Revolution); Freud (Psychoanalysis); filósofos e mesmo teólogos. Procurando
until we confront Sartre and "The Atheist discernir uma base comum para o
Existentialism".
existencialismo, Stevenson apresenta-nos três
Key words: Existentialism; human nature; Christianity. preocupações ou teorias fundamentais que
  nos ajudam a identificar esse mesmo conceito:
Résumé 1 – O ser humano enquanto indivíduo, e não
  com as teorias gerais sobre homem. Acredita-
Une incursion philosophique sur l'existentialisme se que tais teorias deixam de lado a coisa mais
athée aux chrétiens existentialistes à travers un
importante de cada indivíduo — o seu caráter
texte de Leslie Stevenson, que nous avons
longuement disséqué, en proposant une réflexion único.
sur sept théories (rivales) sur la nature humaine, et 2 – Uma preocupação com o sentido ou o
à travers lesquelles Platon a traversé (Le objetivo das vidas humanas, mais do que com
gouvernement des sages); Le christianisme (salut verdades científicas ou metafísicas sobre o
divin); Marx (La révolution communiste); Freud
universo. Assim, a experiência interior ou
(psychanalyse); jusqu'à ce que nous affrontions
Sartre et "l'existentialisme athée".  subjetiva considerada mais importante do que
a verdade “objectiva”.
Mots clés: Existentialisme; nature humaine; Christianisme. 3 – Uma ênfase na liberdade dos indivíduos
como a sua propriedade humana distintiva
mais importante. Os existencialistas acreditam
Leslie Stevenson, através de um texto que em
na capacidade de todo o indivíduo de escolher
tempos dissecamos aturadamente, ao propor-
as suas atitudes, objectivos, valores e formas
nos uma reflexão a propósito de sete teorias
de vida.
(rivais) sobre a Natureza Humana, e pelas quais
perpassamos Platão (O Governo dos Sábios);
Cristianismo (A Salvação Divina); Marx (A
Revolução Comunista); Freud (A Psicanálise);
eis que nos confrontamos com Sartre e «O
Existencialismo Ateu». Stevenson, ao passar de
Freud para Sartre, chama a nossa atenção para
o facto de transpormos a temporalidade da
Viena de fins do séc. XIX, para Paris da década
de 30 e 40 do séc. XX. Ao lado psicológico da
medicina em Freud, despontaria a filosofia
expressa tanto em termos literários quanto
académicos, em Sartre.

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Apesar da base comum do existencialismo poder No século XX, para além dos ateus, há também
ser encontrada através da descrição de detalhes existencialistas cristãos. O existencialismo
concretos de personagens e situações específicas, assume uma força importante na teologia,
em romances e peças de teatro, o filósofo só pode tanto protestante quanto católica, assim como
ser considerado existencialista se tentar fazer na filosofia. O movimento filosófico localiza-se
afirmações gerais sobre a condição humana na Europa, nomeadamente na Alemanha e na
(mesmo se esta afirmação consiste em negar a França, tendo muito menos influência, por
possibilidade ou a importância de outras exemplo, sobre os países de língua inglesa.
afirmações de carácter geral!) – citamos Apesar de podermos apontar as suas origens
Stevenson. em Soren Kierkegaard (1813-1855) e em
Outro factor a destacar e que nos é revelado nesse Nietzsche (1844-1900), teremos que ter em
texto é o de que, apesar das diversas formas de linha de conta a influência do método da
divisão das filosofias existencialistas, a mais radical “fenomenologia” do filósofo de língua alemã
assenta sob o ponto de vista religioso e ateu. E são Edmund Gustav Husserl (1859-1938), método
citados Kierkegaard (considerado o primeiro filosófico que tentou encontrar um ponto de
existencialista moderno) que, tal como Marx, partida não problemático através da descrição
rejeitou o sistema teórico abstrato como sendo dos “fenómenos” tais como eles parecem ser,
uma grande mansão onde não se vive na sem nenhum pressuposto de como eles sejam
realidade, e sustentou a importância suprema do na verdade. Segundo Stevenson, Husserl
indivíduo e das suas escolhas, distinguindo as três provocou dessa forma uma viragem
principais formas de vida — estética, ética e subjectiva, quase psicológica na filosofia,
religiosa; Nietzsche (considerado agressivamente transformando-a no estudo da consciência
ateu), sendo que o seu traço mais característico é humana. Outra das grandes referências é
a sua ênfase na nossa liberdade em mudar a base Martin Heidegger (1889-1976), o mais
dos nossos valores, e a sua visão do “super- importante filósofo alemão, cuja preocupação
homem” do futuro, que rejeitará os actuais valores central é a existência humana e a possibilidade
passivos, baseados da religião, por valores mais de uma vida “autêntica” quando se encara a
reais baseados numa humana “vontade de própria posição no mundo a inevitabilidade da
potência”. própria morte – citamos.
É, pois, através desta nossa primeira
deambulação filosófica que melhor podemos
compreender o conceito existencialista em
Jean-Paul SARTRE e, ao mesmo tempo, servirá
de mote às nossas próximas crónicas, aqui na
Real Gazeta do Alto Minho.

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A solidariedade da Casa Real


Portuguesa
No âmbito das actividades de solidariedade
social e de apoio ao esforço nacional de
combate à pandemia do COVID-19, da
Fundação Dom Manuel II, através do seu
Presidente, S.A.R., o Senhor Dom Duarte de
Bragança, concretizaram-se acções de apoio a
várias instituições.
Assim, no dia 1 de Abril foram doadas máscaras
ao Hospital de Setúbal, cuja entrega foi
efectuada por S.A.R., o Senhor Dom Afonso de
Bragança, sendo também uma forma de
agradecer o empenho, a generosidade e o
profissionalismo com que os nossos
profissionais de saúde tanto têm ajudado os
portugueses.

No dia 6 de Abril o Chefe da Casa Real, Dom


Duarte Pio de Bragança e o seu filho Dom
Afonso de Bragança entregaram máscaras de
protecção aos bombeiros da Real Associação
Humanitária de Bombeiros Voluntários de
Lisboa.

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Nos dias 8, 9 e 10 de Abril foram entregues


bens alimentares às Irmãzinhas dos Pobres,
aos Missionários do Verbo Divino, ao
Cottolengo do Padre Alegre e às Irmãs
Clarissas, cuja entrega foi efectuada pelo
colaborador voluntário José Nelson de
Figueiredo. As iniciativas tiveram grande
apreciação por parte das Instituições
beneficiadas.

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Também no dia 20 de Junho, Sua Alteza Real, o


Senhor Dom Duarte de Bragança e o seu filho
D. Afonso de Santa Maria, bem como a Real
Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz,
oferecem um videolaringoscópio ao Hospital
de Barcelos, resultado de uma campanha de
angariação de fundos lançada pela Irmandade
no final de mês de Março. Equipamento este
que vem trazer muitas vantagens aos utentes
do hospital, uma vez que vai permitir evitar a
lesão que uma intubação pode causar à
estrutura laríngea dos utentes.

Créditos fotográficos: HSMM

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OS DEPUTADOS ELEITOS ÀS CORTES,


PELO MINHO, EM 1820
NUNO RESENDE

Abstract

Brief reflection on the election, in 1820, of the


deputies of Minho to the first liberal courts and
the circumstances inherent to such territorial Portugal nunca foi um país fraccionado por
designation in the new political system. regiões étnicas, linguísticas ou culturalmente
diversas.
Key words: Cortes; province; Minho; elections. A homogeneidade geográfica e cultural foi um dos
  factores de coesão que permitiu, por um lado, a
Résumé permanência de fronteiras estáveis em relação a
 
uma ibéria fragmentada e, por outro, o
Brève réflexion sur l'élection, en 1820, des députés
du Minho aux premiers tribunaux libéraux et les fortalecimento (sobretudo em volta da língua) de
circonstances inhérentes à cette désignation uma consciência unitária. Teve, contudo, os seus
territoriale dans le nouveau système politique. contras, permitindo uma centralização do poder e
consequentemente um desequilíbrio e uma
Mots clés: Cortes ; province; Minho; élections. desigualdade no acesso ao mesmo, o que originou
um país macrocéfalo voltado para Lisboa e para o
seu litoral.
Todavia, embora o território seja diverso em
Todas as revoluções pretendem cortar com o
paisagens e existam regionalismos (construídos
Passado, mas os revolucionários sabem que, para
em diferenças historicamente voláteis que o
serem bem-sucedidos, nunca o podem eliminar.
Estado Novo tentou cristalizar através dos tipos
Na História antiga e recente há múltiplos
sociais e culturais que atribuiu a cada província) foi
exemplos de tentativas de extermínio do Passado:
a diversidade demográfica que sempre influiu na
através do património físico, do simbólico e, o pior
forma como o poder central olhava para o país. Era
de todas, da destruição humana. Mas sempre
ao norte populoso que os monarcas vinham pedir
resiste a memória que permite a persistência, a
apoio, ou procurar recursos que financiassem
sobrevivência e a continuidade.
guerras, empresas de conquista (como Ceuta, em
A revolução portuguesa de 24 de Agosto de 1820
1415) ou financiamento para as suas causas e obras.
constitui uma etapa num processo que varria a
Não espanta, por isso, que a nova ordem do
Europa desde a Revolução Francesa (1789). A
vintismo continuasse a evidenciar este panorama,
História, como ciência humana, mostra-nos que tal
subvertendo-o, porém, como veremos. Embora
como a biologia evolui do mais simples para o
permanecessem com o mesmo nome, as Cortes
mais complexo, do ser desprotegido para o mais
saídas do vintismo não correspondiam ao modelo
apto e mais resistente, também o desejo e a
anterior formado pelas classes da nobreza, do clero
consciência dos indivíduos procura caminhos de
e do povo sendo a eleição dos novos
mudança, por vezes nem sempre atribuíveis a
representantes locais feita por sufrágio, ainda que
instintos de sobrevivência, mas apenas pelo puro
de modo restritivo. Os maiores contribuintes
de desejo de conquistar, destruir ou impor-se. São,
elegiam procuradores, que por sua vez, elegiam os
contudo, forças imparáveis que ciclicamente
deputados. Tal sistema permitiu a ascensão ao
alteram as estruturas mentais e sociais.
poder representativo de uma burguesia rica que
Vem este introito a propósito da continuidade na
assim se impunha perante uma nobreza terra-
ruptura que o movimento vintista promoveu em
tenente e endividada.
Portugal, sobretudo aos níveis da administração
do território e da sua representatividade enquanto
poder.

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de Valdevez), João Gomes de Lima (n. Viana do


Castelo), José António Faria de Carvalho (n.
Barcelos), Agostinho Pereira de Magalhães (n.
Braga), José de Moura Coutinho (n. Celorico
de Basto), Joaquim Navarro de Andrade (n.
Guimarães), Francisco Álvares de Magalhães
de Araújo Pimentel e Fonseca (n. Celorico de
Basto) e José Peixoto Sarmento Queirós (n.
Amarante).

Lista dos deputados em cortes, e parte


dos substitutos, eleitos na cidade do Porto
(1820) http://purl.pt/16704 (c) BN

A lista dos deputados eleitos nas primeiras


eleições de 1820, em 28 e 29 de Dezembro,
José Maria Xavier de Araújo
mostra-nos alguns aspectos curiosos do novo
sistema político: os representantes não o eram, Mas que Minho era este? Habituados que
como antigamente, procuradores dos concelhos, estamos a pensar em alto e baixo Minho e
locais e naturais dos territórios que iam às Cortes numa realidade que exclui o Porto e o Douro,
dos medievais e modernos fazer ouvir a sua voz, estranhará que nesta região eleitoral criada
mas um escol de homens na sua maioria com em 1820 se inclua aquela cidade. Para a eleição
profissões liberais (advogados, médicos), de 1820, os homens nascidos no Porto, como o
negociantes e com uma visão economicista do famoso tribuno José Ferreira Borges eram,
mundo. para todos efeitos, «minhotos».
Os seus nomes e biografias são bem conhecidas, Tal poderá parecer, hoje, extemporâneo, uma
graças ao Dicionário do Vintismo e do primeiro vez que ou consideramos a cidade do Porto
Cartismo, publicado pela Assembleia da enquanto realidade única, ou a associemos ao
República (ed. 2001) e mostra-nos uma Douro e não ao Minho, que muitos consideram
diversidade de origens geográficas, nem todas terminar na estrada da circunvalação, nos
ligadas ao Minho. Dos 21 deputados eleitos, cuja confins da Maia. Mas esta divisão fazia sentido
lista se publica, eram «minhotos de gema» Luís aos legisladores e aos teóricos do vintismo
António Branco Bernardes de Carvalho (n. português.
Guimarães), João Baptista Felgueiras (n.
Guimarães), José Maria Xavier de Araújo (n. Arcos 

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Primeiro, esvaziava-se Braga da sua importância


regional, que lhe advinha de ser sede
arquiepiscopal antiga. E, depois, dava-se ao Porto
uma preeminência que não tinha até aí, pois
sempre foi cidade senhora do seu termo e de si
mesma mais do que capital de território algum.
Era, de certa forma, uma retribuição pelo 24 de
Agosto.

Palácio das Necessidades, sede das Cortes


Constituintes de 1820

Os herdeiros do vintismo, nomeadamente os


republicanos, voltarão à ideia do
municipalismo, assim como os integralistas
monárquicos. Ambos compreenderam que
num país sem poderes intermédios, a melhor
forma que as populações sempre tiveram foi a
de fazer ouvir a sua voz directamente a partir
dos seus rincões e por homens ali nascidos,
criados ou ali moradores.
Mappa da provincia d'Entre Douro e Minho Mas em 1820, para os vintistas, a geografia só
(1794) http://purl.pt/24996 (c) BN
interessava pelos votos que garantia e não
tanto pelas reais aspirações das suas
A partir daí era necessário substituir a manta de comunidades, espírito que, podemos dizê-lo,
retalhos que até entã constituía a província de ainda persiste através do método dos círculos
Entre Douro e Minho, tão bem representada pela uninominais.
cartografia de Custódio José Gomes de Vilas Boas
(1794), por uma nova realidade administrativa que
será levada a cabo pelo liberalismo. Entre Douro e
Minho era como os homens da Idade Média e do
Antigo Regime designavam um extenso e
populoso território, num tempo em que os
municípios e outras instituições locais se faziam
representar pelos seus e através deles fazer
chegar a sua voz ao poder central.

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Proclamemos, Portugueses, O
Combate à Corrupção!
PAULO DE MORAIS
PRESIDENTE DA FRENTE CÍVICA

Abstract

National politics is dominated by big business.


Corruption got into politics and public
administration. It also contaminates municipal
management. There is now a need for a
comprehensive strategy to combat corruption,
which acts at the level of legislation and also
within the framework of justice. The success of this
strategy depends on political will and needs
strong support from the masses.

Key words: Corruption; justice; public administration;


municipalities.
 
Résumé
 
La politique nationale est dominée par les grandes
entreprises. La corruption a pris racine dans la
politique et l'administration publique. Il
contamine également la gestion municipale. Il est
désormais nécessaire de mettre en place une A corrupção na Banca levou a que os portugueses
stratégie globale de lutte contre la corruption, qui já tenham enterrado no sector dezenas de milhar
agit au niveau de la législation et également dans de milhões: BPP e BPN (sete mil milhões), Caixa
le cadre de la justice. Le succès de cette stratégie Geral de Depósitos (cinco mil milhões), Banif (2,5
dépend de la volonté politique et nécessite d’un mil milhões), Novo Banco (quatro mil milhões),
grand support populaire.
Montepio…
Mots clés:  Corruption; justice; administration Em todos estes casos (muito caros para o erário
publique; municipalités. público), uma parte significativa do apoio foi para
cobrir imparidades, verdadeiros desfalques,
resultantes de empréstimos concedidos a
“amigos”, sem as correspondentes garantias.

A política nacional foi capturada pelos maiores


grupos económicos. A nobreza da actividade
política transfigurou-se e evoluiu no sentido da
mercantilização dos poderes e dos recursos do
Estado. A corrupção é dominante. Já nem se
esconde, é ostensiva, desenvolve-se à vista de
todos. Ademais, a corrupção é muito cara e
sistémica, confundindo-se com o próprio regime.
Os sucessivos escândalos e casos de corrupção
martirizam a sociedade. Nas parceiras público-
privadas rodoviárias, as auto-estradas “ex-SCUT”,
estamos a pagar cinco vezes o seu real valor; e
continuaremos a fazê-lo durante mais vinte anos.

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A somar a estes casos, tivemos corrupção na


Expo98, no Euro2004, na aquisição de submarinos
aos alemães, na Ponte Vasco da Gama e todo um
sem número de exemplos – todos crimes
económicos perpetrados ao nível da Política e da
Administração Pública.

Também nas autarquias, ao nível da


governação local, se sente o fenómeno da
corrupção, de múltiplas formas. A mais
comum consiste na nomeação sistemática de
“boys” para as mais diversas funções
autárquicas: a designação de apaniguados dos
partidos, de familiares e afilhados é a regra nas
câmaras municipais, é mesmo a sua marca
quotidiana. Mas a mais perversa das formas de
corrupção autárquica desenrola-se nos
pelouros do urbanismo. São comuns as
manobras que consistem em transformar um
terreno sem capacidade de construção -
porque está em reserva agrícola – em terreno
urbanizável com elevado coeficiente de
ocupação de solos. Estas operações ocorrem
quando um promotor imobiliário com
influência política adquire o terreno por
tostões a um pobre agricultor e, através de um
alvará de loteamento aprovado na câmara, o
transforma em terreno híper-valioso. Assim,
uma propriedade que antes valia cem mil
pode passar a valer meio milhão. Estes
negócios no urbanismo podem gerar margens
de lucro de quinhentos ou seiscentos por
cento, apenas equivalentes às que se
conseguem no tráfico de droga. E, com este
tipo de margens, nos negócios imobiliários
instalam-se o mesmo tipo de equilíbrios de
poder e manobras mafiosas que nos negócios
da droga. Por isso a corrupção no urbanismo é
tão perversa.
Como sairmos deste labirinto, no qual a
corrupção aprisionou o País? Como travar este
carrossel de corrupção que mina a democracia
e que vem acelerando, de forma preocupante,
desde a adesão à União Europeia?
Neste estado a que chegamos em Portugal, já
não há soluções pacíficas ou “adocicadas”. O
regime precisa urgentemente de uma
estratégia global de combate à corrupção.

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Esta estratégia tem de obrigar à simplificação de Os condenados devem ainda ser obrigados a
toda a legislação de impacto nos maiores devolver, até ao último euro, os activos que
negócios (urbanismo, obras públicas, contratação retiraram à sociedade, por via de fenómenos
pública…), por forma a eliminar os alçapões que de corrupção e conexos.
favorecem o incumprimento, de modo a retirar Esta estratégia só surgirá se houver vontade
poder discricionário às entidades administrativas política; e esta terá de ser induzida por um
e a impor total clareza na implementação da grupo de valorosos patriotas que a
legislação. Mas também se deve exigir uma estabeleçam. Onde estão eles? E a estratégia
actuação célere da Justiça, eventualmente através de combate à corrupção só terá sucesso com o
da criação de Tribunais especializados. Esta apoio generalizado da opinião pública, dos
intervenção do judiciário deve ir no sentido de cidadãos que exaltem – tal como nos ensina o
julgar com celeridade, absolvendo ou “Hino da Carta” – a “Divinal Constituição” e
condenando, os suspeitos de corrupção. Os proclamem também, em uníssono, o “combate
condenados devem cumprir efectivamente as à corrupção”.
suas penas, sem poderem utilizar manobras
dilatórias que os mantêm eternamente em
liberdade.

Ponte Vasco da Gama

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Assembleia Geral da Real


Associação de Viana do Castelo
Respeitando as regras prescritas pela Direcção DIRECÇÃO
Geral de Saúde, decorreu no dia 27 de Junho a
Assembleia Geral Ordinária da Real Associação de Presidente – Dr. José Aníbal Castro Marinho Soares
Viana do Castelo, que esteve convocada para o dia Gomes
28 de Março e adiada, devido ao Covid 19, decisão Vice-Presidente - Dr. Mariana Pimentel Ferreira de
esta que encontrou suporte legal no art.º 18 do Magalhães Sant’ Ana
Decreto-Lei n.º 10-A/2020 de 13 de Março, de Vice-Presidente - Dr. Pedro Miguel Gonçalves
acordo com o qual as assembleias gerais das Giestal
associações que deviam ter lugar por imposição Vice-Presidente – Doutora Susana Jesus Moreira
legal ou estatutária, podiam ser realizadas até 30 Cunha Cruz Cerqueira
de Junho de 2020. Secretário – Dr. Porfírio Pereira da Silva
Assim, no passado Sábado dia 27 de Junho, dando Secretária - Dr.ª Sandra Raquel Vieites Rodrigues
cumprimento aos estatutos e ao estatuído no Tesoureiro – Dr. António Filipe Cerqueira Amorim
referido decreto-lei, realizou-se no Paço de Vogal - D. José Vaz de Almada (Almada)
Calheiros, Ponte de Lima, a Assembleia Geral da Vogal - António Augusto Queiroz de Athayde da
Real Associação de Viana do Castelo, que contou Rocha Páris de Vasconcellos
com um razoável número de presenças, Vogal – Eng.º Téc. Francisco Maria de Magalhães
atendendo ao período que estamos a atravessar. de Abreu Pereira Coutinho (Visconde de
Foi proposto à Assembleia, pelo Conselho Fiscal, Cortegaça)
um voto de louvor à direcção cessante, pelo Vogal – Dr. Ricardo Alexandre Caldas Dias
trabalho desenvolvido, voto este aprovado por Suplente - Júlio de Sousa Domingues
unanimidade assim como o Relatório e contas de
2019.
Após o que se procedeu à eleição dos novos CONSELHO FISCAL
corpos sociais, para o triénio 2020/2023, á qual
concorreu uma única lista, tendo a mesma sido Presidente – Eng.º José Adolfo Coelho da Costa
eleita por unanimidade, ficando os órgãos socias Azevedo
da Real Associação de Viana do Castelo assim Vogal - Augusto Carlos de Noronha Azeredo Pinto
constituídos: Osório
Vogal - Dr. Carlos Manuel Lamas Mendes Pacheco
Suplente - Paulo do Souto Álvares da Cunha

ASSEMBLEIA GERAL
A Assembleia aprovou também por unanimidade,
Presidente – Eng.º Francisco Silva de Calheiros o Plano de Actividades para 2020, ficando o seu
Menezes (Conde de Calheiros) cumprimento dependente da evolução da
Vice-Presidente – Dr. José Diogo Leite Marinho pandemia.
Falcão Gomes Do Plano de Actividades, para além do reforço da
Secretária – D. Maria do Carmo Fernandes Ferreira organização interna, destacamos a realização do
Pinto concurso escolar subordinado ao tema “A
Suplente – Dr. António Pedro Palmeira e Álvares Importância do Recontro de Valdevez para a
Pereira de Lima Formação de Portugal”, em colaboração com o
GEPA (Grupo de Estudos do Património Arcuense),
para o ano lectivo 2019/2020.

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Na sequência dos anteriores “Roteiros pelo Alto Bacelar de Vasconcelos, professor na Escola
Minho” que consistem em visitas a locais e de Direito da Universidade do Minho e
monumentos históricos do Alto Minho, foi Deputado da Assembleia da República desde
aprovada a continuidade da iniciativa, desta vez 2015, pelo partido socialista.
no concelho de Monção: “Circuito pelas Terras de Consta também do Plano de actividades a
Deu-la-Deu”. realização de umas “Jornadas sobre saúde
Do plano consta a realização de mais uma tertúlia pública” a realizar conjuntamente com a Causa
“Reais conversas com…”, cujo temo será sobre a Real.
chefia de Estado. Aprovou-se a dinamização da página da
Também foi aprovada a realização do “Jantar dos internet bem como o aprofundamento das
Conjurados” a realizar em Arcos de Valdevez, no redes sociais, com o intuito de fornecer
dia 30 de Novembro em colaboração com o GEPA informação útil aos associados e público em
- Grupo de Estudos do Património Arcuense geral, interligar os parceiros da network
(conta também com o apoio da Real Associação colaborativa, bem como a participação em
de Braga) onde se procederá à entrega dos iniciativas onde seja possível divulgar,
prémios aos vencedores dos Concursos Escolares, promover e defender a instituição real,
atrás referidos. Este evento contará com a corporizada na Coroa e nas tradições de
presença como palestrante do Prof. Dr. Pedro Portugal.

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Prato do serviço em faiança de louça de viana, da


extinta fábrica Lancós, oferecido pela Real
Associação de Viana do Castelo, por altura do
casamento dos Duques de Bragança em 13 de Maio
de 1995.

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