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Perfeição humana?

Uma análise lingüística de Mateus 5:48 / 63

Perfeição humana? Uma análise


lingüística de Mateus 5:48

Rodrigo P. Silva, Th.D


Professor de Novo Testamento no Salt, Unasp campus Engenheiro Coelho, São Paulo

Resumo: Este artigo apresenta uma ther is perfect.” In opposite direction


análise exegética de Mateus 5:48, to the theory which the verse would
buscando compreender o que Jesus indicate the possibility of the human
Cristo tinha em mente quando dis- being reaching absolute impeccability
se as palavras: “Sede vós perfeitos in this life, the author argues that the
como perfeito é o vosso Pai celeste.” Master’s objective was to propose the
Em direção oposta à tese de que o love exemplified by the Father like a
versículo indicaria a possibilidade de standard to the fulfillment of the Law,
o ser humano alcançar impecabilida- and in addition, as the central point
de absoluta ainda nesta vida, o autor which the perfection is boasted by
argumenta que o objetivo do Mestre him. The base for such a conclusion
foi o de propor o amor exemplifica- is in the analysis of the basic mean-
do pelo Pai como padrão do cum- ing of the Greek word “teleios” used
primento da lei, e, portanto, como o by Mathew, by the light of the imme-
ponto central em torno do qual gira diate context of the verse and of the
a perfeição exaltada por Ele. A base passage written in Lucas 6:36, as well
para tal conclusão se encontra na aná- as of the analysis of the Pharisaic le-
lise do significado básico da palavra galistic understanding of the texts “be
grega teleios usada por Mateus, à luz holy because I am holy” of the book
do contexto imediato do versículo e of Leviticus, to which Christ would
da passagem correlata de Lucas 6:36, be trying to correct.
bem como da análise da compreensão
farisaica legalística dos textos “sede Introdução
santos porque Eu sou santo” do livro
de Levítico, a qual Cristo estaria pro- “Sede vós perfeitos como perfei-
curando corrigir. to é o vosso Pai celeste” (Mt 5:48).
Essa declaração de Jesus nas Escritu-
Abstract: This article presents an ex- ras pode, a princípio, levar a entender
egetic analysis on Mathew 5:48, seek- que o Mestre estaria ordenando que
ing to comprehend what Jesus Christ fôssemos perfeitos, do mesmo modo
had in mind when He said: “Be per- como Deus é perfeito. Surgem, então,
fect, therefore, as your heavenly Fa- algumas questões: o que Jesus real-
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mente quis dizer com tal afirmação? caso. Assim, as versões que optam
Estaria Ele sugerindo que o ser huma- por uma forma imperativa seguem
no, mesmo em condição lapsariana, uma tradução dinâmica e não uma
teria condições de se tornar perfeito? tradução literal do texto.
O texto de Mateus 5:48 tem sido A diferença pode parecer peque-
utilizado por teólogos que advogam na, mas não é. Se Jesus estiver usan-
o perfeccionismo como uma evidên- do um imperativo está dando uma
cia para validar sua tese soteriológi- ordem de cumprimento imediato –
ca de um estágio de impecabilidade algo a ser realizado nesta vida. Se
adquirido ainda nesta existência1. As estiver usando o futuro, está falando
implicações da interpretação a favor de uma promessa, algo que pode se
dessa proposta soteriológica mos- concretizar hoje ou apenas na glori-
tram a complexidade da passagem no ficação final4.
nível semântico e exegético. Blass e Debrunner nos chamam
O propósito, portanto, deste arti- a atenção para o fato de que neste
go será o de analisar lingüisticamente capítulo de Mateus o futuro nunca é
Mateus 5:48, observando os aspectos utilizado nas fórmulas exortativas de
semânticos, a estrutura gramatical, o Jesus5. Logo, caso se entenda o verso
contexto imediato, mediato e amplo 48 de uma forma imperativa, deve-se
da passagem e suas implicações para o admitir que essa seria uma exceção
debate sobre o perfeccionismo. A par- sem equivalente gramatical no res-
tir desses elementos, se buscará uma tante do discurso de Cristo.
interpretação exegética do mesmo. Não obstante, poucos duvidariam
que o verbo Vagaph,seij, que é o fu-
O texto turo de “amar”, não teria um sentido
A redação de Mateus 5:48 não é de ordem (v. 43). Afinal fica estranho
problemática do ponto de vista da supor que estaríamos diante de uma
crítica textual2, mas apresenta uma predição: “Vocês amarão ao seu pró-
divergência de tradução quanto ao ximo etc.”, principalmente quando
verbo que abre as palavras de Cristo. se trata da citação de uma clara or-
É que algumas versões e comentários dem vétero-testamentária.
optam por traduzir e;sesqe, que na Foi por isso que Schweizer optou
verdade é um futuro indicativo “vós por uma tradução ambivalente, con-
sereis”, como se fosse um imperati- cluindo que “a formulação [de Cristo]
vo “sede vós”3. É fato que a forma da tanto em grego quanto em hebraico
2ª. pessoa do plural do presente do inclui a promessa ‘vocês serão’ bem
imperativo é a mesma do indicativo como a ordem ‘vocês deverão ser’”6.
havendo, portanto, duas possibilida- E este, de fato, parece ser o melhor ca-
des de tradução. Mas aqui temos um minho do ponto de vista gramatical.
modo futuro e não um presente, logo, Definido assim o sentido tempo-
a semelhança sintática entre “presen- ral da passagem, levanta-se a questão
te e imperativo” não se aplica neste do que seria uma “perfeição” símile à
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de Deus. A estrutura literária do tex- doso dos escribas e fariseus (cf. 5:20;
to poderá fornecer uma explicação. 6:2, 5, 16; 7:5, 15 [aqui apelidados de
falsos profetas], 297).
Contexto literário Perceba como o contexto respon-
de aos dois grupos: primeiramente
Mateus 5:48 parece encerrar uma
temos a abertura em 5:17-19 onde
perícope que, pelo contexto imedia-
Cristo estabelece sua própria relação
to, começaria no verso 43: “ouvistes
com a lei e os profetas (“não vim para
o que foi dito: amarás o teu próximo,
revogar, mas para cumprir”). Então
e odiarás o teu inimigo”. Toda a te-
apresenta no verso 20 o propósito de
mática desde aqui até ao verso em
sua argumentação: “Se a vossa justiça
questão centraliza-se no amor como
não exceder em muito a dos escribas
padrão de comportamento. Não é
e fariseus, jamais entrareis no Rei-
por menos que avgapa/w é o verbo que
no dos Céus”. Finalmente inicia-se a
mais se repete na perícope.
apresentação em duas grandes seções:
Os versos 43 e 44a deixam claro
que o amor acima de tudo é o padrão no capítulo 5:21-48 há uma discussão
em torno do qual gravita a prática da legal entre Cristo e os ensinamentos
lei. Sem o amor, todos os ritos e obri- rabínicos, enquanto no capítulo 6:1-
gações não passam de ordenanças va- 18 temos admoestações gerais acerca
zias. Por isso, Jesus poderia ter dito do devido comportamento religioso. A
“sede vós amoráveis, como amorá- moldura de todo o cenário são o dito
vel é vosso Pai que está no Céu” ­– o original da lei, as adições ou interpre-
que faria eco com os versos 44b e 45, tações distorcidas feitas pelos rabinos
“amai... para que vos torneis filhos do e o comportamento ideal sugerido por
vosso Pai Celeste”. Contudo, no texto Cristo, que, na verdade, era um retor-
mateano Ele preferiu usar a palavra no à essência dos mandamentos.
“perfeitos”, talvez para englobar não Sendo assim, o capítulo 5:48 per-
apenas aquela antítese, mas todas as tence à seção que lida com as interpre-
que compuseram a perícope. Logo, tações rabínicas da lei. Ele conclui as
Mateus 5:48 não conclui apenas a úl- chamadas seis antíteses, que vão de
tima antítese (v. 43-47), mas a todas as 5:21-47 (“ouvistes o que foi dito aos
seis desde o verso 21. O te,leioj não se antigos... Eu porém vos digo”). Mas,
resume apenas ao amor comum, mas como bem observou Glen H. Stassen,
ao amor-princípio (avga,ph) com tudo não se trata de uma contradição entre
que ele abarca, a saber: reconciliação, Jesus e a Torá, e sim de uma oposição
pureza, fidelidade, temor e solidarie- do Mestre a determinada interpreta-
dade que foram justamente os temas ção da Torá8.
das antíteses anteriores. Todas as antíteses referem-se a
Em seu contexto mediato (que se relações sociais com um irmão ou
inicia no verso 17), se verifica que o patrício (5:21-26), com a mulher (27-
texto aponta uma problemática em re- 30), com a esposa (31 e 32)9, com o
lação ao comportamento pseudo-pie- Senhor – curiosamente a relação com
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Deus é entendida como uma relação Aqui está a lógica de Cristo ex-
social – (33-37), com o inimigo – pressa em palavras de completude:
notadamente o inimigo romano que “sede perfeitos ou completos”, isto
tinha autoridade para obrigar o ju- é, “não cumpram o mandamento de
deu a andar uma milha – (38-42), e, modo parcial ou apenas exterior. Bus-
finalmente, com o judeu considerado quem a transformação interna que os
traidor – no caso, o cobrador de im- tornará de fato ‘filhos de Deus’ em
postos que por sua conduta tornava- meio aos homens. Assim vocês cum-
se um inimigo de estado, injusto e prirão integralmente a vontade do Pai
publicano (43-47). Todos os setores que está no Céu”.
sociais da época são aqui representa- Toda essa argumentação é par-
dos, o que demonstra uma estrutura te do Sermão do Monte, que, por sua
de totalidade e completude relacional vez, pode ser subdividido em várias
(a mesma idéia de Hb 12:14: “segui a seções de acordo com a visão de cada
paz para com todos e a santificação, autor. Afinal, apesar das notas exegéti-
sem a qual ninguém verá o Senhor”). cas acerca da maestria da composição
Ao primeiro caso reserva-se a re- mateana, especialmente no Sermão da
conciliação, ao segundo a pureza, ao montanha10, como assinalou Dale C.
terceiro a fidelidade matrimonial, ao Allison Jr., o consenso sobre como se-
quarto o temor ao Senhor, ao quinto a ria essa estrutura ainda não existe11. O
solidariedade não vingativa e ao sexto máximo que se pode afirmar é que o
o amor que, aliás, está na base de to- contexto imediato de Mateus 5:48, ini-
das as condutas éticas. cia no 5:1-2 (pois o cenário muda em
Conforme vemos no verso 43, relação ao capítulo precedente) e ter-
aqui Jesus está falando de “como se mina no 7:28-8:1(que claramente é a
deve e como não se deve” cumprir o conclusão do dito de Cristo). Ademais,
mandamento de Levítico 19:18. No há também a semelhança de vocábulos
final, (verso 47) ele ironiza num estilo entre as duas porções textuais:
rabínico levando os ouvintes a refletir (5:1-2) “Vendo Jesus as multidões,
sobre os exemplos dados. No início subiu ao monte, e como se assentasse,
incentivou-os a exceder em muito a aproximaram-se os seus discípulos e
justiça, isto é, o comportamento dos ele passou a ensiná-los dizendo...”
escribas e fariseus. Agora sugere que (7:28-8:1) “Quando Jesus acabou
a atitude comum desses homens, que de proferir essas palavras, estavam as
muitos julgavam ser o padrão de com- multidões maravilhadas de sua dou-
portamento, até publicanos realizam. trina; porque ele as ensinava como
Sua conclusão, pois, seria: “Vo- quem tem autoridade e não como os
cês não querem ser melhores que escribas. Ora, descendo ele do monte,
eles? Logo, por que se contentar grandes multidões o seguiam.”12
com a forma simples de agir deles? Os principais blocos temáticos que
Vamos lá, superem a sua conduta! se encontram dentro desse arcabouço
Sejam perfeitos.” homilético de Cristo são: as bem-
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aventuranças (5:3-12), o papel dos de interpretar a lei e julgar o povo.14


discípulos no mundo (13-16), os man- Fariseus e saduceus amavam discutir
damentos do reino ampliados a partir detalhes de comportamento piedoso e
da lei e dos profetas (17-48), a correta adições rabínicas da Torá e o povo ad-
forma de culto (6:1-18), as questões mirava seu comportamento, tomando-
sociais (6:19-7:12) e as advertências os por padrão de moralidade.15
finais (7:13-27). Não obstante, tinham um terrível
Como se vê, as porções internas problema com o relacionamento in-
do sermão se assemelham bastante a terpessoal. Para eles era o afastamen-
uma cartilha de comportamento éti- to das pessoas comuns (incluindo pa-
co, uma espécie de manual didático rentes e vizinhos) que os aproximaria
de Deus. Uma certa “teologia secreta”
dos bons costumes relacionais, e de
seguida de um ostracismo social era,
novo vê-se inserida a problemática do
para eles, a razão decisiva de sua in-
comportamento pró-forma de escribas
fluência sobre o povo16. Ora, este é um
e fariseus. Aliás, C. H. Dodd fez uma dado que interessa de perto ao contex-
importante observação ao perceber to histórico da passagem em questão.
que esse dito de Cristo possui mais ca- Fazia parte de sua conduta viverem
racterísticas de ensino (didachê) que afastados do povo, desassociados das
de discurso (kerygma)13. pessoas e, por estarem distantes, eram
vistos como perfeitos e inatingíveis.
Contexto Histórico Mas nem por isso deixavam de ser ad-
Os escribas e fariseus constituíam mirados pela gente mais simples, que
só pôde sentir a pobreza de sua dou-
dois grupos distintos e, nalgumas si-
trina ao comparar seus ensinos aos de
tuações, até oponentes. Ambos eram
Jesus Cristo (Mt 7:28 e 29). Até então,
versados na Lei e possuíam membros
eles eram a impossibilidade ideal para
dotados de grande treinamento teológi-
uns, o modelo legal para outros e, fi-
co, por isso os primeiros eram conhe- nalmente, um espelho para todos.
cidos como hakimim (os sábios) e os Dentro desse cenário, o desafio
segundos como perisayya (separados). de Cristo a que o povo comum supe-
Eram os professores e “juristas” da rasse a justiça dos escribas e fariseus
época, embora nem sempre ganhassem era uma proposta totalmente nova e
dinheiro com isto. Muitos deles eram radical (5:20). Um caso ilustrativo
pobres e até necessitados de um segun- da força das palavras de Cristo pode
do ofício para sobreviver. Sua influên- ser visto na comparação entre a or-
cia não estava na sua fortuna, sobreno- dem dada em Mateus 7:12 e a ordem
me, profissão, mas na sua capacidade de Hillel em b. Shab. 31a:

Jesus diz: “Tudo pois que quereis Hillel diz: “não faça a alguém o
que os homens vos façam, assim que é odioso a ti, porque toda a lei
fazei-o vós também a eles, porque está contida nesta sentença. O resto é
esta é a lei e os profetas”. comentário”.
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Note que o que Hillel apresenta Na passagem paralela de Lucas


num tom negativo, Jesus coloca num 6:32-36, a mesma estrutura de Mateus
tom positivo, o que supera em muito é repetida, mas no final, em vez de
a disposição apresentada pelo escri- dizer “sede perfeitos como perfeito é
ba. Mais do que evitar fazer o mal ao vosso pai que está no Céu”, o evange-
semelhante, o que pode nos colocar lista diz: “sede misericordiosos como
numa condição de inatividade, a or- também é misericordioso vosso Pai”.
dem do Mestre é fazer o bem, o que Uma comparação do original grego
impele a uma atitude. entre ambas as versões ilumina ainda
Ora, Deus não é um inativo agen- mais a comparação sinótica:
te cósmico que se limitou a não des- Lucas:Gi,nesqeoivkti,rmonejkaqw.j
truir a raça humana, mas acabou se Îkai.Ðo`path.ru`mw/noivkti,rmwnevsti,nÅ
alienando dela. Pelo contrário, Ele Mateus: :Esesqe ou=n u`mei/j
agiu na história salvando o gêne- te,leioiw`jo`path.ru`mw/no`ouvra,nioj
ro humano e servindo de modelo a te,leio,j evstin.
cada um de nós. Assim, para Cristo, Note que enquanto Mateus usa
a “atitude de Deus” deveria ser o pa- o verbo “ser” (eimi) Lucas prefere o
drão dos discípulos e não a atitude verbo “tornar” (gi,nomai). O sentido
dos escribas comuns (5:48). lucano é, pois: “tornai-vos” – o que
aumenta a força comparativa com
Comentário Exegético Deus “tal qual... [é] o vosso Pai”.
Veja que ele, diferentemente de Ma-
Definidas as bases contextuais li-
teus, usa kaqw.j e não w`j.
terárias e históricas de Mateus 5:43-
Como Mateus, Lucas também é
48, permanece ainda em aberto ex-
fiel ao contexto de relações sociais no
plorar o sentido de perfeito (te,leioj)
qual Jesus havia dito essas palavras.
neste contexto mateano.
Nesse aspecto, a compreensão social
Em Mateus o termo aparecerá
de te,leioi/te,leioj em Mateus é refor-
uma segunda vez em 19:21, onde um
çada pela escola lucana de oivkti,rmonej
jovem rico (que Marcos e Lucas de-
finem como um homem) lhe pergunta e oivkti,rmwn (misericordioso[s]) para
sobre como herdar a vida eterna. Essa, traduzir em grego as palavras origi-
aliás, é a mesma pergunta feita em Lu- nais de Cristo.
cas 9:25 por um “intérprete da lei”. Sua construção é muito parecida
Jesus reponde citando os man- com o que encontramos no Targum
damentos, a rigor quase os mesmos do Pseudo-Jonatan sobre o Levíti-
mencionados em 5:21-32. Então lhe co. Ali diz: “Assim como nosso Pai
conclama: “se queres ser perfeito é misericordioso (!m’x.r;) no Céu,
(te,leioj) vai vende teus bens e dá aos sê tu igualmente misericordioso na
pobres, etc.” – uma ordenança clara Terra”17. Como acentua Matthew
de amor como desprendimento que Black18, as palavras de Lucas “ocor-
sugere a aplicação prática do princí- rem numa típica expressão targúmi-
pio anunciado em 5:21-48. ca”, logo, qualquer relação entre os
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evangelhos e esse estilo judaico não como Deus é perfeito (porque Eu sou
é uma teoria inviável. santo)” (Lv 19:2).
O sentido do termo usado por Lu- A primeira coisa que se observa
cas (oivkti,rmonej) abarca a idéia de ter aqui é que o contexto original de Le-
compaixão para com o necessitado, vítico 19, de onde Jesus extrai seu co-
seja ele quem for (até um inimigo). mentário, não alude a questões direta-
Ele aparece cerca de 80 vezes na LXX mente soteriológicas, mas a questões
(tanto em forma verbal quanto adjeti- de relacionamento político-social em
va e substantiva) para corresponder relação a estrangeiros. É claro que
às seguintes raízes: !nx “ser gracioso, num determinado ponto todas essas
generoso” (geralmente com o sentido temáticas se encontram, pois o com-
de “poupar” o que estaria para morrer portamento social espelha a relação
ou preservar o que está em dificulda- espiritual para com o plano salvífico
des) e ~xr “ter compaixão”.19 de Deus. Contudo, em termos de ob-
Não se pode olvidar que Jesus jetividade textual, essa passagem le-
inicia a perícope da última antítese vítica não trata de “como ser salvo”,
citando textualmente Levítico 19:18. nem menciona uma lista de “frutos
O curioso é que Ele acrescenta da salvação”, ali não há referência ao
uma expressão apócrifa, certamen- sacrifício expiatório, nem ao santuá-
te oriunda do pensamento rabínico rio, mas apenas às questões sociais. O
e que contrariava todo o sentido do tema diz respeito ao trato que o judeu
preceito original: “...e odiarás o teu deveria dispensar ao estrangeiro que
inimigo”.20 De modo irônico, Jesus habitasse o mesmo território que ele.
contradiz não a lei levítica, mas o A suma é: ajudar fraternalmente o es-
acréscimo feito a ela. Isso Ele faz, trangeiro sem se contaminar com seu
comentando de maneira midrástica a comportamento. O contexto de santi-
ordem original dada naquela porção dade, portanto (“sede santos, porque
Antigo Testamento (Lv 19:1-37). Lá, eu sou santo”), não significa impe-
o mandamento dizia para os judeus cabilidade , mas antes ser separado
tratarem bem os gentios, para não se do mundo gentílico, sem contudo ser
contaminarem com seu comporta- alienado dele.
mento, mas, ao mesmo tempo, tê-los
como objeto de um verdadeiro amor Significado de te,leioj
fraternal, principalmente quando fos-
sem donos da terra e vissem um pe- Em seu sentido adjetival, o ter-
regrino estrangeiro vivendo no meio mo te,leioj aparece 19 vezes no Novo
deles (compare com Mateus 15:3). Testamento. Em várias dessas ocor-
Jesus de maneira sintética oferece rências, ele aparece não apenas como
o mesmo princípio e, em sua conclu- “perfeito”, “perfeição” e cognatos,
são, repete quase as mesmas palavras mas também como experimentados
que no texto mosaico abriam o conte- (1Co 2:6), homens amadurecidos
údo da lei: “sereis perfeitos (santos) (1Co 14:20), adultos (Hb 5:14), ma-
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turidade (Hb 6:3), ação completa (Tg essa questão. Não há ali qualquer in-
1:4), etc. Aqui as opções parecem dício direto ou indireto para a suges-
estar de acordo com o dicionário de tão de que os filhos de Deus (verso
Strong, que oferece os vários signi- 45) jamais pecariam depois de deter-
ficados para te,leioj21. Como se vê, minado estágio de santificação. Agir
há várias formas de verter o termo diferente dos escribas e fariseus era
grego; perfeito é apenas uma delas e cumprir a lei com base no amor e não
não a única ou a naturalmente melhor. na impecabilidade.
Como sugere Gerhard Delling, falan- Na LXX, te,leioj também corres-
do especificamente desse ponto, “será ponde a “completo”, “todo”, “imacu-
o contexto de cada caso que determi- lado”, “indivisível”, “pacífico” etc.23.
nará a melhor tradução”22. Não obstante é um termo raro, apare-
É claro no contexto mateano que cendo apenas cerca de 20 vezes.
te,leioj em 5:48 e 19:21 significa a Há, contudo, ali um adicional ele-
qualidade de “perfeito”, “completo”, mento que também ilumina a questão.
“maduro”, “adulto”, “crescido”. Essa Pelo que se percebe do texto septu-
qualidade, contudo, gravita em torno agentário, existem duas importantes
de um determinado padrão dado pelo raízes hebraicas que poderiam ser os
contexto (como é o caso em Colos- correspondentes vétero-testamentá-
senses 1:28, 4:12; Tiago 1:4, 17, 25; rios de te,leioj: a primeira e mais co-
3:2; cf. 1 Coríntios 2:6, 13:10; 14:20; nhecida seria a ~mT, que significaria
Efésios 4:13; Filipenses 3:12, 15; He- em termos gerais “ser completo, estar
breus 5:14; 1 João 4:18). Determinar terminado”. Esta raiz aceita perfeita-
esse padrão é a chave hermenêutica mente termos derivados com o sentido
para determinar o sentido de perfei- de integridade, perfeito e inteireza.24
ção no texto mateano, e esse padrão, A segunda, menos mencionada, é
conforme já foi visto pelo contexto ~lv, da qual derivam as idéias de paz,
imediato, é o amor. completude e perfeição.25 Ela é verti-
O amor é o que torna possível da por te,leioj em 5 ocasiões (1 Rs
superar a justiça dos escribas e fari- 8:61; 11:4; 15:3; 14:1; 1Cr 28:9).26
seus, por isso todas as antíteses do Embora não sejam sinônimos per-
contexto mediato e as bem-aventu- feitos ~lv e ~mT são corresponden-
ranças do contexto amplo apontam tes naturais no Antigo Testamento e
para elementos de amor: misericór- cada contexto determina o padrão ao
dia (5:7); reconciliação (5:24); cari- redor do qual se exercerá essas vir-
dade (5:42). É em torno deste amor tudes. A pergunta final é: qual destes
plurifuncional que gravita o te,leioj seria o melhor correspondente para
divino que devemos imitar. Mas se- te,leioj em Mateus 5:48?
ria esse te,leioj em torno do amor Bem, de acordo com Carr, o “sig-
uma situação de impecabilidade? nificado básico por detrás da raíz
Todo o contexto mateano visto shlm [sic] é terminar ou completar
até aqui responde negativamente a algo – de entrar num estado de in-
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tegridade e unidade, de participar de tegridade e completude. “Em Shalôm


um relacionamento restaurado”27, daí se acha implícita a idéia de relaciona-
a idéia de paz ou pacificação comple- mentos não abalados com outras pes-
ta. Talvez mais do que ~mT, ~Alv é soas e de sucesso da pessoa nas suas
uma definição excelente e harmônica empreitadas”28. Um significado muito
ao contexto imediato de Mateus 5:43- próprio para o contexto mateano.
48, que fala do trato que se deve ter Comentando especificamente
para com os inimigos, isto é, para com Mateus 5:47 e 48, Matthew Bla-
aqueles cuja relação esteja cortada, ck também defende a ligação entre
mas que Cristo insta à restauração. É te,leioj e ~lv e acrescenta um dado
bem provável que aqui esteja a chave curioso, ele diz: “uma das mais in-
interpretativa para o significado das teressantes exemplificações de pa-
palavras de Cristo acerca da imitação ronomásia29 ocorre em Mt. V. 47,
do amor de Deus. 48 [sic]: a expressão regular semí-
Compare-se Mateus 5:7 com 5:48: tica para ‘bendizer’ é ‘pedir pela paz
“Bem aventurados os pacificado- ou bem-estar (Shelam) de’ e telei,oj
res (Shelim) porque serão chamados nesta passagem é Shelim; pois este
filhos de Deus.” último pode ser comparado à pará-
“Amai ... para que vos torneis fi- frase de Levítico. Xxii.27encontrada
lhos do vosso Pai Celeste.” no Targum de Jerusalém I, com sua
“sede vós perfeitos (Shelim?), referência à ‘virtude do homem per-
como perfeito é o vosso Pai que está feito (Shelima)’.”30
nos céus.” O sentido, pois, de Mateus 5:48
O sentido de “pacificar” também parece ser “vocês serão pois comple-
é contemplado pelo ato de “amar” e tamente pacificadores [isto é, recon-
vice-versa. Ademais, textos como 2 ciliadores, amoráveis, abençoadores,
Coríntios 13:11, Tito 1:4, 2 João 3; misericordiosos] como completo pa-
Judas 2 mostram a correlação íntima cificador [nestes mesmos aspectos] é
entre os dois vocábulos. Em Romanos o seu Pai que está nos Céus.”
5:1-11 Paulo descreve em detalhes o
papel do Pai que Cristo apenas men- Conclusão
ciona em Mateus 5:48. No texto Pau- A despeito das muitas sugestões
lino, a paz, a reconciliação e o amor dadas acerca do motivo central do
são de maneira sinônima o leitmotiv Sermão do Monte31, podemos resumir
de toda a argumentação. em três as principais posições32:
Já é ponto pacífico entre os he- A concepção perfeccionista –
braistas que a simples tradução de Cristo estaria falando de um ideal
“paz” para o hebraico ~Alv’, está perfeitamente alcançável durante
longe de abarcar todo o seu significa- a santificação e que se traduz na
do. O termo carrega uma conotação literalidade de tudo o que foi dito
muito mais ampla que inclui o bem (principalmente no texto de 5:48).
estar, a prosperidade, a segurança, in- Essa leitura é proposta inclusive
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por alguns autores adventistas na ta. Uma promessa também jaz en-
atualidade.33 volvida no texto.
Teoria da impossibilidade ideal Pelo contexto imediato, perce-
– visão luterana de que Jesus estaria bemos que se trata de uma crítica de
apenas apresentando um ideal jamais Cristo à interpretação rabínica da Lei
alcançável nesta vida, o que torna – legalista e destituída de relaciona-
suas palavras – na melhor das hipó- mento humano – seguida de um apelo
teses – uma utopia, pois não servem a que busquemos no exemplo do Pai
para esta vida, nem para a vida porvir, a meta de comportamento que é supe-
quando já não haverá inimigos, adul- rior à dos líderes do judaísmo ou de
térios, tentações ou demandas. qualquer outro seguimento humano.
Ética interina – uma proposta suge- O amor é o padrão de cumprimento da
rida inicialmente por Johannes Weiss Lei, sendo em torno do amor (e não da
e popularizada por Albert Schweitzer, suposta impecabilidade farisaica) que
segundo o qual Jesus, pensando equi- gira a perfeição ensinada por Cristo.
vocadamente que o fim se aproximava Afinal eram justamente os fariseus e
incentivou as pessoas a viverem uma escribas e fariseus – alvos da crítica de
ética provisória em virtude do clima Cristo – que passavam uma imagem
escatológico especial. Um comporta- de impecáveis perante o povo.
mento, portanto, que não teria sentido Com relação ao significado bási-
noutra parte da história.34 co de te,leioj na versão mateana, vi-
Todas essas sugestões trazem mos que mais do que impecabilida-
implicações soteriológicas muito de, o sentido do termo grego envolve
complexas que tendem tanto para a idéia de maturidade, completeza e
a legalismo, quanto para o libera- integralidade. Ademais, a raiz ~lv
lismo e o racionalismo. Contudo, a com seus conceitos de “paz” , “re-
partir do próprio texto e do quadro conciliador”, “pacificador” esclarece
histórico que o ilumina, é possível bem o sentido do termo nessa pas-
propor uma quarta sugestão distinta sagem e preenche sua equivalência
das três apresentadas. O sermão de véterotestamentária, especialmente à
Jesus, como vimos, trata de corrigir luz do contexto imediato e da versão
o comportamento ético-legalista e paralela de Lucas 6:36.
pró-forma de alguns segmentos ju- A citação de Jesus do texto leví-
daicos de seu tempo, notadamente tico mostra o modo descontextuali-
os escribas e fariseus. zado com que os escribas e fariseus
Mediante os dados levantados aplicavam a passagem em seus dias.
nesta pesquisa, conclui-se em pri- O mesmo se faz hoje caso aplique ao
meiro lugar que embora não se pos- texto uma idéia de impecabilidade ou
sa excluir a possibilidade de um im- perfeccionismo soteriológico.
perativo nas palavras de Cristo em O sentido, portanto, de Mateus
Mateus 5:48, reduz-se a idéia de se 5:48 não é apresentar um padrão ide-
tratar de apenas de uma ordem dire- alístico para a salvação, muito menos
Perfeição humana? Uma análise lingüística de Mateus 5:48 / 73

endossar qualquer entendimento per- para com aqueles que ainda são espi-
feccionista da santificação. O intuito ritualmente forasteiros no Reino dos
é mostrar como os discípulos do rei- Céus, não para ajuntarem-se a eles,
no devem tratar os demais que, de um mas para levá-los a juntarem-se a nós.
modo ou de outro, não fazem parte do Um trabalho digno, que imita de ma-
seu círculo de relacionamento. Esse neira legítima os mesmos passos re-
tratamento deve buscar a paz de Cristo conciliadores do nosso Pai celestial.

Referências
1
Herbert E. Douglass, Should We Ever do verbo no verso 48 estaria com as antíteses
Say ‘I am Saved’? What it Means to be Assu- que aparecem anteriormente na perícope (v.
red of Salvation (Nampa, Idaho: Pacific Press 43-48): “amarás ao teu próximo”, “odiarás o
Publishing, 2003), 101 e 115. teu inimigo”. Embora elas estejam no futuro,
2
As únicas variantes relevantes são aque- são interpretadas como tendo força de impe-
las apontadas pelo texto de Nestlé-Aland, rativo. Mas isso não se dá por questões de
a saber: os mss D K W D Q 565. 579 e a sintaxe e sim por fluência textual, além, é cla-
maioria absoluta de todos os mss (incluindo ro, de uma possível influência do hebraico,
o texto koiné bizantino) trazem wsper ao in- pois se trata de uma citação parcial do Anti-
vés de wj mas o sentido adverbial parece ser go Testamento (John Nolland, The Gospel of
o mesmo de acordo com os léxicos. A outra Matthew: A Commentary on the Greek Text
variante vem por conta da expressão “vosso [Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Pu-
Paicelestial”(o`path.ru`mw/no`ouvra,nioj)que blishing, 2005], 270, 27). Leon Morris segue
nalguns textos ([D*] K L D Q 565. 579. 700 o mesmo caminho, justificando a interpreta-
pm it; Tertuliano) aparece como “vosso Pai ção imperativa do futuro e;sesqe nesse texto
que está nos céus” (path.r u`mw/n o` en toij com base na construção do verso 21, onde o
ouvra,noij). futuro negativo ouv foneu,seij (“não matarás”)
3
Compare por exemplo a Versão Almei- tem claramente um sentido de ordem. Mas,
da Revista e Atualizada que traduz no im- conquanto o futuro do indicativo possa equi-
perativo com a versão da TEB que traduz valer às características de mandado e proibi-
no futuro. ções na linguagem legal do Antigo Testamen-
4
Alexander B. Bruce opta pela forma to, esta não é uma prática relacional comum
futura (“vós sereis”), que para ele estabelece aos evangelhos (Leon Morris, The Gospel
um contraste entre o aquilo que os publica- According to Matthew [Grand Rapids, MI:
nos e gentios são (por estarem acomodados Wm. B. Eerdmans Publishing, 1992], 133).
aos padrões normais de moralidade) e aquilo 5
F. Blass e A. Debrunner, A Greek Gram-
que os discípulos haverão de ser (se optarem mar of the New Testament (Chicago, Chicago
pelo padrão de Cristo). Mas ele não entra no University Press, 1961), 362. Veja também
aspecto soteriológico da questão, nem define Daniel B. Wallace, Greek Grammar Beyond
sua opinião sobre se tal promessa se cumpre the Basics: An Exegetical Syntax of the New
na santificação ou na glorificação do crente Testament (Grand Rapids, MI: Zondervan,
(Alexander B. Bruce, “The Synoptic Gos- 1995), 569.
pels” in W. Robertson Nicoll, Expositor’s 6
Eduard Schweizer, Good News Accor-
Greek Testament [Grand Rapids, MI: Eerd- ding to Matthew, (London: SPCK, 1976), 135.
mans, 1988], 1:115). John Nolland, por sua 7
É interessante que Mateus 7:29 traz um
vez, prefere interpretar e;sesqe como sendo detalhe nem sempre percebido pelas moder-
um futuro de características imperativas (“vo- nas traduções e que mostra a ruptura entre
cês deverão ser”). Para ele o vínculo natural Jesus e o ensino dos escribas e fariseus. O
74 / Parousia - 2º semestre de 2008

grego traz um pronome possessivo que lite- dois escribas que, na época de Jesus, repre-
ralmente chama os escribas de “escribas de- sentavam aqueles conheciam a “vontade de
les” (kai. ouvc w`j oi` grammatei/j auvtw/n). Deus”. O povo comum que não tinha aces-
8
Glen H. Stassen, “The Fourteen Triads so ao escrito e conteúdo da lei, se limitava
of the Sermon on the Mount (Matthew 5:21- a estudar o seu comportamento e tê-los por
7:12)” in Journal of Biblical Literature, 122/2 padrão de conduta.
(2003), 267. Além da função de modelos morais, aos
9
No tempo de Jesus a maioria das pesso- escribas estava a incumbência de fazer não
as tinham uma visão de Deuteronômio 24:1 somente comentários como adições à lei,
baseada na interpretação da escola de Hillel, que serviam para atualizá-la e proteger o seu
o Velho, segundo a qual um homem poderia conteúdo. Por isso é perfeitamente pertinente
se divorciar de uma mulher por qualquer ra- aplicar a este grupo as palavras de Cristo em
zão tola, até mesmo uma acidental queima 5:21-48.
do alimento. Apenas uma minoria seguia a 16
E. Morin, 136 e 137.
opinião de Shammai, que só admitia o divór- 17
Veja a versão inglesa do texto targú-
cio em caso de adultério (Cf. Mishna Gittin, mico feita em 1862 por J. W. Etheridge em
9.10. Veja: T. Hieros. Gittin, fol. 49.4; Sota, The Targums of Onkelos and Jonathan Ben
fol. 16.2; Bemidbar Rabba, 9, fol. 195.2). Uzziel – On the Pentateuch With The Frag-
10
J. Schreiner; G. Dautzengerg, Forma e ments of the Jerusalem Targum From the
exigências do Novo Testamento, Nova Cole- Chaldee. Disponível online em http://targum.
ção Bíblica (São Paulo: Ed. Paulinas, 1977), info/?page_id=7.
275; G. Börnkamm “Der Aufbau der Berg- 18
Matthew Black, An Aramaic Approach
predigt” New Testament Studies 24 (1978), to the Gospels and Acts (Oxford: Clarendon
419-432. Press, 1946), 138.
11
Dale C. Allison Jr., “The Structure of 19
H. H. Esser, “oivktirmo,j” in Lothar Co-
the Sermon on the Mount” in Journal of Bi- enen, Colin Brown, O Novo Dicionário In-
blical Literature, 3 (setembro de 1987), 422 e ternacional de Teologia do Novo Testamento
423. J. Smit Sibinga, “Exploring the Compo- (São Paulo: Ed. Vida Nova, 1989), 3:181.
sition of Matth. 5-7”, Filologia Neotestamen- 20
Para exemplos de expressões rabíni-
taria 7(1994), 175-196. cas tardias que parecem incentivar o ódio
12
Steve Carpenter, “The Structure and aos gentios e israelitas dissidentes veja John
Message of the Sermon of the Mount” dis- Lightfoot, A Commentary on the New Testa-
ponível em http://wsminternational.com/ ment from the Talmud and Hebraica –Mat-
pdf/Sermon%20on%20the%20Mount.pdf. thew – Mark (Grand Rapids, MI: Baker Book
Dale C. Allinson, propõe que o texto deveria Houase, 1979), 2:133, 134. Alguns autores
começar no capítulo 4:23 devido à menção mais recentes pensam que se trata de uma
que o texto faz às numerosas multidões que adição encontradiça também nos Manuscri-
seguiam a Cristo (comp. com 8:1). Cf. Dale tos do Mar Morto, mais especificamente na
C. Allison Jr., 429. Regra da Comunidade 1 QS 1.9-11, 4. “To
13
C. H. Dodd, Gospel and Law (Cambrid- love all the sons of light, each according to
ge: Cambridge University Press,1951), 42. his lot in God’s counsel, but to hate all the
14
E. Morin, Jesus e as estruturas de sons of darkness, each according to his guilt
seu tempo (São Paulo: Ed. Paulinas, 1981), in provoking God’s vengeance! ... To hate all
134-136. that He (God) has despised.”
15
E. Morin, 137. Os escribas tinham mais 21
Disponível em http://strongsnumbers.
importância que os anciãos e que os próprios com/greek/5046.htm.
pais. Quando passavam pela rua eram ge- 22
Gerhard Delling, “te,leioj” in Theo-
ralmente saudados de pé. No final do dia da logical Dictionary of the New Testament, Ed.
expiação, a multidão que acompanhara o mo- G. Kittel, G. Friedrich (Grand Rapids, MI:
vimento do sacerdote até entrar no santuário, Eerdmans, 1983), vol. 8, 74.
voltava-se para seguir cerimoniosamente a 23
Delling, 72.
Perfeição humana? Uma análise lingüística de Mateus 5:48 / 75
24
John B. Payne, “Tâman” in R. Laird “denominação”. A paronomásia também é
Harris, Gleanson L. Archer Jr. e Bruce K. chamada de trocadilho, de calembur, de pa-
Waltke, Dicionário Internacional de Teolo- rênquese ou de jogo de palavras. Demetrio
gia do Antigo Testamento ( São Paulo: Ed. Estébanez Calderón, Diccionario de términos
Vida Nova, 1999), 1647. literarios (Madrid: Alianza, 1996), 809-810.
25
G. Lloyd Carr, “~lv” in R. Laird 30
Matthew Black, 138.
Harris, Dicionário..., 1572-1575. Com exce- 31
Veja um resumo delas em Greg Her-
ção do Salmo 138(139):22 que traz o termo rick, “A Summary of Understanding the
tyliäk.T; como correspondente de te,leioj, to- Sermon on the Mount” disponível em http://
das as demais ocorrências usam o termo para www.bible.org/page.php?page_id=2050.
corresponder às raízes ~lv e ~mT a proporção 32
Joachim Jeremias, The Sermon On The
está em aproximadamente 50% das ocorrên- Mount. The Ethel M. Wood Lecture delivered
cias para cada caso. Edwin Hatch, Henry A. before the University of London on 7 March
Redpath, A Concordance to The Septuagint 1961. London: The Athlone Press, 1961.dis-
(Grand Rapids, MI: Baker, 1987), 2:1342. ponível em http://www.biblicalstudies.org.
26
H. Hübner, 343. uk/pdf/sermon_jeremias.pdf.
27
Idem. 33
Herbert E. Douglass, 101 e 115; de
28
G. Loyd Carr, 1573. modo mais moderado temos também Doug
29
A paronomásia é uma figura de retórica Batchelor, Amazing Facts Insight Report
que consiste no emprego de vocábulos seme- (julho/agosto 2007), 14 disponível em http://
lhantes quanto à sonoridade, mas que se dife- www.amazingfacts.org/portals/0/PDFs/
renciam no que diz respeito ao sentido, não NukeNews/File2/July2007.pdf.
vindo ao caso saber se há ou não parentesco 34
Albert Schweitzer, The Quest of the
etimológico entre as palavras. O termo ori- Historical Jesus: A Critical Study of Its Pro-
gina-se do grego paranomasía, em que para gress, from Reimarus to Wrede, (Londres: A
tem o sentido de “próximo de” e onomasía, & C Black, 1954), 335 e 399.

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