Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Dino Preti FALA E ESCRITA EM QUESTAO PDF
Dino Preti FALA E ESCRITA EM QUESTAO PDF
Comissão Editorial
PROJETO NURC/SP – NÚCLEO USP FFLCH/USP
Área de Filologia e Língua Portuguesa
Av. Prof. Luciano Gualberto, 403
sala 205 – Cidade Universitária
05508-900 – São Paulo – SP – Brasil
Tel: (011) 818-4864
e-mail: nurc@edu.usp.br
FFLCH/USP
FFLCH/USP
2000
PUBLICAÇÕES
FFLCH/USP
Copyright 2000 da Humanitas FFLCH/USP
ISBN 85-86087-88-2
HUMANITAS FFLCH/USP
e-mail: editflch@edu.usp.br
Tel.: 818-4593
Editor Responsável
Prof. Dr. Milton Meira do Nascimento
Coordenação editorial
Walquir da Silva
Diagramação
Marcos Eriverton Vieira
Capa
Joceley Vieira de Souza
Revisão
dos autores
SUMÁRIO
Apresentação ............................................................................................. 7
APRESENTAÇÃO
7
Fala e escrita em questão.
8
Fala e escrita em questão.
9
Fala e escrita em questão.
10
O discurso oral culto.
11
O discurso oral culto.
12
O discurso oral culto.
13
O discurso oral culto.
Truncamento (havendo
homografia, usa-se acento
indicativo da tônica e/ou
timbre) / e comé/ e reinicia
Prolongamento de vogal e
consoante (como s,r) ::podendo
aumentar
para ::::
ou mais ao emprestarem...
éh ::: ... dinheiro
Comentários descritivos do
transcritor ((minúscula)) ((tossiu))
15
O discurso oral culto.
Superposição, simultaneidade
de vozes
[ ligando
linhas
as A.na casa da sua irmã
B.
[ sexta-feira?
A.fizeram LÁ...
B. [ cozinharam lá?
OBSERVAÇÕES:
1. Iniciais maiúsculas: só para nomes próprios ou para siglas (USP etc.)
2. Fáticos: ah,éh, ahn, ehn, uhn, tá (não por está: tá? você está brava?)
3. Nomes de obras ou nomes comuns estrangeiros em itálico.
4. Números: por extenso.
5. Não se indica o ponto de exclamação (frase exclamativa)
6. Não se anota o cadenciamento da frase.
7. podem-se combinar sinais. Por exemplo: oh:::...(alongamento e pausa).
8. Não se utilizam sinais de pausa, típicos da língua escrita, como ponto- e-
vírgula, ponto final, dois pontos, vírgula. As reticências marcam qualquer
tipo de pausa.
16
Fala e escrita em questão.
1. Introdução
17
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
18
Fala e escrita em questão.
19
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
Textos da escrita
TE1, TE2... TEN
TE1
ESCRITA
TF1
FALA Textos da fala
TF1, TF2... TFn
20
Fala e escrita em questão.
2
Meise-Kuhn (1997: 14) apresenta, segundo o esquema acima, um rico quadro ilustrativo
da distribuição de uma grande variedade de gêneros textuais. Nele, situam-se: a) no plano
superior, à extrema direita, os textos acadêmicos, científicos, profissionais, contratos,
documentos oficiais; à extrema esquerda, bilhetes e cartas pessoais; b) no plano inferior,
à extrema esquerda, a conversação espontânea, telefônica e a pública; e à extrema direita,
exposições acadêmicas e sermões.
21
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
3
Meise-Kuhn (1989: 322) chama essa interação de “computer conversation”, e Meise-
Kuhn (1998: 213), de “computertalk”.
22
Fala e escrita em questão.
4
Do inglês nickname = apelido, alcunha.
23
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
5
Em estudos sobre a língua falada alemã, aparece com freqüência o termo “Geprächswörter”
(= palavras da fala), cf. Meise-Kuhn 1998, p. 228.
24
Fala e escrita em questão.
6
Na verdade, o caráter dialogal das relações carta-resposta, bilhete-resposta decorre da
alternância de monólogos.
7
Mais próximos da carta e do bilhete estariam os e-mails entre conhecidos e amigos: além
de, em geral, não ocorrerem em tempo real, pois ficam arquivados no endereço do desti-
natário, que os lerá quando acionar o seu provedor, têm como destinatários pessoas devi-
damente identificadas.
25
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
8
Hilgert 1989, p. 52, entende por dialogicidade “a dinâmica de alternância de turnos” na
interação. Quanto mais intensa for essa alternância, maior será a dialogicidade da conver-
sação.
9
Goffmann, apud Henne e Rehbock (1982: 22 e 23).
10
Nesse sentido é sugestiva a tradução alemã para a palavra inglesa “turn”: “Gesprächsschritt”
= “passo conversacional”, acepção que enfatiza o caráter dinâmico da conversação.
11
Cf. também Bergmann (1981: 76), Henne e Rehbock (1995: 23).
26
Fala e escrita em questão.
12
Ao momento ou ao ponto provável na evolução do turno (t1), em que pode ocorrer a
transição para o turno (t2), chamam Sacks, Schegloff e Jefferson (1974: 704) “lugar rele-
vante de transição” (“transition-relevance place”).
27
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
28
Fala e escrita em questão.
13
“Par adjacente (ou par conversacional) é uma seqüência de dois turnos que coocorrem e
servem para a organização local da conversação.” (Meise-Kuhn, 1986: 35).
29
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
30
Fala e escrita em questão.
31
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
32
Fala e escrita em questão.
33
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
34
Fala e escrita em questão.
15
Cf. também em Gülich e Kotschi, 1986; Gülich e Kotschi, 1995; Gülich e Kotshi, 1996.
16
A formulação também é concebida como trabalho em Blanche-Benveniste, 1990: 25ss.
35
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
36
Fala e escrita em questão.
37
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
[
L2 – para os operários (né?) ( )
(Idem, 1987: 221)
38
Fala e escrita em questão.
Acho que vai muito da:: da... da higiene nessa parte aí... relacionada
com o cabelo... procurando assistência com um técnico ou com uma
técnica que entende do assunto... e de:: de uma orientação como utili-
zar... meios pra que se... previna a cárie... a cárie desculpe ((risos)) a::
a:: queda do cabelo... calvície... precocemente... e assim procura-se
mantê-lo...
(Hilgert, 1997: 77-78)
Inf. Nós temos a nossa... nossa antiga capital que é uma cidade ma-
ravilhosa mesmo... encantadora com praias belíssimas com ser-
ra na própria cidade... lá pela Tijuca para Santa Teresa, mas...
assim nesses comentários assim um pouco rápidos há outros ou-
tras coisas também... impressionantes e:: encantadoras? (Hilgert
1997, p. 10).
39
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
40
Fala e escrita em questão.
41
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
42
Fala e escrita em questão.
43
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
44
Fala e escrita em questão.
Luci@n@ 23:05:47 fala com Ana: Olha, acho que vc tem ra-
zão no caso das homeopatias..mas acre-
dito na cura com revas tb..
Luci@n@ 23:06:25 fala com Ana: Desculpe, eu disse ervas!
Ana 23:06:07 fala com antonio: Pois é.... fica difícil pra
mim discutir com alguém que desconhece
metafísica... e que mesmo assim critica.
Ana 23:06:44 fala com antonio: Perdão... era “pra eu
discutir”...
Diotima 23:09:10 fala com Sebulba: Acho que sim. Que tipo
de cinema você gosta?
Diotima 23:10:13 sorri para Sebulba: Desculpe a repetição.
Esta máquina mortífera é que faz isso...
45
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
46
Fala e escrita em questão.
47
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
E aí, já se integrou?
Acho que você está ocupado....
Mas Hesse já foi muito lido. Muito mesmo. Está sendo redescoberto.
Mas até a batata deles tem gosto de plástico, eca!
48
Fala e escrita em questão.
49
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
19
Cf. nota 10.
50
Fala e escrita em questão.
51
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
7. Considerações finais
52
Fala e escrita em questão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
53
HILGERT, José Gaston. A construção no texto “falado” por escrito...
54
Fala e escrita em questão.
55
Fala e escrita em questão.
57
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões...
sociedade atual, em que fala e escrita não são sistemas cognitivos parale-
los e sim modos complementares de ver e compreender o mundo, em
que as duas modalidades devem ser examinadas na perspectiva de sua
organização textual-discursiva e em que há entre fala e escrita graus ou
posições intermediárias de variação.
Neste estudo faço apenas algumas reflexões sobre as posições in-
termediárias entre escrita e fala. Para as demais questões remeto aos tra-
balhos já mencionados do Autor.
Minhas reflexões são tecidas também na perspectiva dos estudos
do texto e do discurso, mas especificamente no quadro da semiótica dis-
cursiva. Em outras palavras são observados neste estudo os discursos (e
textos) que põem em uso as modalidades da fala e da escrita.
Estou convencida de que os textos falados e escritos têm papéis
diferentes nas sociedades que se servem tanto da fala quanto da escrita e
de que constroem sentidos de modos diversos, com estratégias e proce-
dimentos diferentes, ou preferenciais, e de que as posições intermediári-
as entre fala e escrita são outras tantas formas de produzir os sentidos do
mundo, mais próximas ou mais distantes dos da fala e da escrita.
Para examinar a questão, retomo, na perspectiva da semiótica, os
critérios e características mais freqüentemente apontados na literatura
para definir e distinguir escrita e fala. São eles, a meu ver, na proposta
semiótica, elementos do nível propriamente discursivo, no plano do con-
teúdo, e traços da oralidade, no plano da expressão.
O nível do discurso é, na teoria semiótica, a última etapa de orga-
nização do plano do conteúdo, a mais complexa e concreta e, portanto, a
mais próxima da manifestação e a que mais traços revela da instância de
sua enunciação. É nesse patamar que as organizações narrativas são
investidas de tempo, de espaço, de pessoa (tornam-se atores), de aspecto
e ainda tematizadas e figurativizadas.
O discurso é assim, para a semiótica, uma construção apenas do
plano do conteúdo de um texto, enquanto no texto casam-se uma organi-
zação da expressão com uma organização do conteúdo. No patamar pro-
priamente textual são observados as coerções do plano da expressão,
58
Fala e escrita em questão.
a – planejamento vs não-planejamento;
b – ausência vs presença de marcas de formulação e de reformula-
ção;
c – continuidade vs descontinuidade.
59
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões...
60
Fala e escrita em questão.
61
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões...
62
CONCOMITÂNCIA CONCOMITÂNCIA E NÃO- NÃO-CONCOMITÂNCIA TEMPORAL
TEMPORAL CONCOMITÂNCIA
dois momentos: três momentos: elabora- dois três dois
elaboração e ção, realização falada e momentos: momentos: momentos:
realização edição elaboração e elaboração, elaboração
falada-edição realização realização e realização
escrita escrita e
realização
falada
aspecto pontual aspecto pontual aspecto pontual e durativo aspecto aspecto aspecto
Fala e escrita em questão.
63
elaboração e de (interlocução);** mento (interlo- planejamento planejamento marcas de marcas
reelaboração marcas cução); apaga- (interlocução); (interlocução);
mento de algu- ausência de ausência de
mas marcas marcas marcas
fragmentação fragmentação fragmentação não- fragmentação fragmentação não-
fragmentação fragmentação
conver- bate-papo entrevista ao entrevista entrevista bate-papo do noticiário texto
sação do* tipo vivo falada escrita tipo IRC de tv e de escrito
espon- ICQ (2º “editada” (1º tipo) rádio em geral
tânea tipo) e oral
por com-
putador
* A conversação espontânea e o bate-papo do tipo ICQ distinguem-se por outras características que não dizem respeito direta-
mente ao tempo.
** A interlocução vai ser examinada nos itens sobre o ator.
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões...
64
Fala e escrita em questão.
essas relações são tratadas por meio de descrições mais detalhadas dos
atores e da localização e organização temporal e espacial. Não é possível,
portanto, que os discursos falados e escritos produzam os mesmos efei-
tos de sentido. Igualmente a gestualidade que acompanha a fala cumpre
aí várias funções relacionadas com a comunicação: estabelecer, manter
ou interromper a comunicação, julgar o que está sendo dito (concordar,
discordar, manifestar surpresa, dúvida, etc.), acompanhar a fala,
mimeticamente, e, principalmente, expressar sentimentos e emoções (so-
bretudo pela gestualidade do rosto). A escrita, em geral, serve-se de perí-
frases para recuperar, de outros modos, essas diferentes funções da
gestualidade: “João falou bravo”; “Ela interrompeu-o com um gesto brus-
co”; “Ele cumprimentou-o com um aceno de cabeça”; “Maria concor-
dou com um movimento de ombros” e assim por diante. Nas transcri-
ções de textos falados, a gestualidade e as expressões são, geralmente,
comentadas entre parênteses (risos, voz alegre, etc.).
Na comunicação pela Internet utilizam-se com freqüência outros
recursos para expressar os afetos e paixões, mais próximos dos encontra-
dos na fala em que, como se viu, as relações afetivas entre os falantes se
constroem em grande parte gestualmente: são as “caretinhas” (avatares,
ícones, emotions) alegres, tristes ou bravas que acompanham a comuni-
cação. Mantém-se, dessa forma, o caráter sincrético da fala em que se
juntam dois tipos de expressão (verbal e visual). Pode-se dizer, nesses
casos da internet, que há uma presença relativa ou parcial dos interlocu-
tores pela imagem das “caretas”. Da mesma forma, outros tipos de tex-
tos, produzem efeitos de presença parcial, como na conversa por telefo-
ne, graças à sonoridade da voz.
Mais próximas da fala, nesse aspecto, estão, sem dúvida, comuni-
cações por telefone com imagem, pela Internet com voz e imagem e pela
televisão, quando se faz contato ou entrevista com pessoas que estão em
espaços diferentes, mas se ouvem e se vêem na tela. Nesses casos, além
da presença relativa ou parcial dos interlocutores, em duas ordens senso-
riais (visual e sonora), ocorre também a presença relativa ou parcial do
contexto situacional (visual e sonora, ao menos no caso da televisão).
65
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões...
66
Fala e escrita em questão.
A semiótica utiliza o termo ator para tratar dos sujeitos que assu-
mem papéis na organização narrativa do discurso, são investidos pela
categoria lingüística de pessoa e preenchidos por temas e/ou figuras do
discurso. Além da diferença claramente reconhecida de que “falantes e
ouvintes” e “escritores e leitores” têm preenchimentos temáticos e figu-
rativos diferentes, relacionados em primeiro lugar aos recursos distintos
de expressão (sonoridade e visualidade), outros elementos distinguem os
atores da fala e da escrita e dizem respeito sobretudo aos papéis narrati-
vos que cumprem e ao investimento pela categoria da pessoa. Resultam
daí alguns dos traços mais comumente mencionados na separação entre
fala e escrita:
67
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões...
68
Fala e escrita em questão.
69
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões...
70
Fala e escrita em questão.
71
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões...
72
Fala e escrita em questão.
73
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões...
74
Fala e escrita em questão.
75
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões...
4. Considerações finais.
76
Fala e escrita em questão.
Referências bibliográficas
77
Fala e escrita em questão.
Considerações Iniciais.
1. Características da Entrevista
79
FÁVERO, Leonor Lopes. A entrevista na fala e na escrita.
(1)
Inf: (...) nos termos daque::la ahn... dispensa que eu me referi... quando
respondi à::... à pergunta anterior se não estou enganado... foi
até muito bom é/éh... muito boa essa pergunta agora porque...
ficou mais claro talvez agora... ficou mais clara a explicação
(SP DID 250: 131-135, p. 136)
(2)
Inf: e::... mais vulTOsas em relação a bancos... agora quem sabe se
vocês PREcisando... melhor... ou melhor insistindo em deter-
minadas perguntas eu poderia dizer mais alguma coisa...
(SP DID 250: 53-56, p. 134)
(3)
Inf: antes disso eu quero dizer uma coisa não... eu estou ficando tão
entusiasmado com estas perguntas que eu fico até com vonta-
de de ser banqueiro... ((risos)) embora eu não tenha a mínima
vocação pra isto... para esta profissão... bom... a vantagem de
abrir uma conta bancária...
(SP DID 250: 432-437, p. 143)
80
Fala e escrita em questão.
81
FÁVERO, Leonor Lopes. A entrevista na fala e na escrita.
(4)
Veja: Você ama o Roberto ainda?
Adriana: Por que você está me fazendo essa pergunta?
Veja: É uma entrevista
Adriana: Acho que não tem nada a ver. Nem quero que você coloque essa
pergunta
(Veja: entrevista – Adriane Galisteu, 8 de setembro de 1999, p. 15).
(5)
L1: eu fiz um “show” lá no teatro Quitandinha... que foi... ótimo... aliás eu
vou fazer uma apresentação... no Rio de Janeiro... não falei isso ainda...
vou falar... no Metropolitan... casa do Ricardo Amaral... vou fazer dia
oito de dezembro... vou fazer uma apresentação lá com o meu espetácu-
lo... inédito no Rio de Janeiro... ... o Gordo em Concerto... já aproveitei...
já encaixei
82
Fala e escrita em questão.
(6)
Isto é: Você não tem medo de que versos como “afogar o ganso” e “mo-
lhar o biscoito” esbarrem na pobreza poética?
Gabriel: O limite sou eu quem faço. E mesmo assim é muito relativo. Às
vezes bate uma dúvida, faço uma rima escrota e não gosto. Mas um f.d.p.
com conteúdo é um desabafo diferente. Não tenho o pudor do palavrão
em si, o que não pode é passar do ponto. (...)
(Isto é: entrevista – Gabriel O Pensador, 18 de fevereiro de 1998, p. 6).
(7)
Cláudia: O que considera uma “porrada da vida”?
Paulo Coelho: Por exemplo, acabei de ler uma entrevista que dei para um
jornal da Austrália. O cara veio até aqui me entrevistar e, em vez de falar
só sobre mim, metade do artigo que escreveu esculhamba o Brasil. Eu já
83
FÁVERO, Leonor Lopes. A entrevista na fala e na escrita.
(8)
Adriane – Nunca me recusei a dar um autógrafo.
Veja: Nunca?
Adriane: Nunca. Há dois anos, tive um problema de stress, minha glote
fechou, quase tive de fazer traqueotomia. Foi muito sério. Fui internada e
entrava gente no quarto do hospital para pedir autógrafo. Eu, toda entubada,
pedia caneta, esticava o braço e assinava. Quem fala que não gosta disso
está sendo hipócrita. Esse não é o preço da fama. É o prazer da fama.
Veja: E o preço?
Adriane: O preço acho que é o lado pessoal. Você não pode ser forte em
todos os campos da vida. Se fosse assim, eu estaria com o Beto até hoje.
Minha força é centrada para uma coisa: o profissional. O lado sentimental
acaba ficando aberto mesmo. É mais difícil para mim.
Veja: E isso a incomoda?
Adriane: Incomoda um pouco.
(Veja: entrevista – Adriane Galisteu, 8 de setembro de 1999, p. 15).
84
Fala e escrita em questão.
(9)
Doc. no seu entender o que é o imprescindível pruma:: peça de teatro obter
sucesso?
Inf. o que eu falei... é atingir diretamente ao o público... a:: ao qual ela foi
destinada...
(SP DID 161: 322-325; p. 45)
ou:
(10)
Doc. o que o que precisa existir numa peça de teatro pra ela:: atingir realmente
a massa?...
Inf. o que eu falei...
(SP DID 161: 490-92; p. 49)
85
FÁVERO, Leonor Lopes. A entrevista na fala e na escrita.
(11)
Doc. o senhor quando queria mandar (por exemplo::)... uma carta para seus
amigos ou parentes que estavam aqui no Brasil como é que o senhor
fazia?...
Inf. ia no correio... ((risos)) não é?
Doc. ((risos)) e onde é que se situava o correio?
(SP DID 161: 319-323; p. 80)
86
Fala e escrita em questão.
3. Tipologia
3.1. Função
A – Introdução de Tópico
(12)
Doc. bom dona H. eu gostaria de saber... éh... como a senhora entrou para a
esco:: la... e com que ida:: de por exemplo?
Inf. eu entrei com sete anos... porque... ante disso eu vivi na fazenda...
(SP DID 242: 1-3, p. 148)
(13)
L1 governador... inicialmente nós gostaríamos que o senhor respondesse o se-
guinte... o senhor estaria deixando o estado de São Paulo falido... procede
isso governador? é fato que o senhor está deixando São Paulo falido?
(“Programa Roda Viva”, entrevista com Fleury Filho, 1994
in Aquino, 1997)
87
FÁVERO, Leonor Lopes. A entrevista na fala e na escrita.
(14)
L1 O ano 2000 está impregnado de misticismo. O senhor acredita que este
reveillon será especial – um marco na vida das pessoas?
L2 Eu não acho. Será, sim, um ritual de passagem, como o de todos os anos
anteriores.
( Cláudia: entrevista – Paulo Coelho, novembro de 1999, p. 51)
B – Continuidade de Tópico
(15)
Doc. certo agora... depois desse curso... a senhora continuou a estudar:: certo? e
tem teve uma formação universitária... gostaria de... que a senhora falas-
se... os cursos que a senhora fez até então...
Inf. terminei todo curso secundário... no Mackenzie... fiz um curso normal::
do próprio Instituto Mackenzie...
(SP DID 242: 16-21, p. 148).
88
Fala e escrita em questão.
C – Redirecionamento do tópico
(16)
Veja – Voltando ao assunto “vício”, alguma vez o senhor experimentou dro-
gas?
Rossi – Jamais.
(Veja – entrevista de Reginaldo Rossi, p. 15, 13/10/1999).
(17)
Matinas – por que o senhor não proibe teste em carros?...
Maluf ( )... espera
Matinas – isso é perigoso... as pessoas morrem
89
FÁVERO, Leonor Lopes. A entrevista na fala e na escrita.
Doc. quando você falou em pintor se você tivesse que pintar um quadro o que
você iria comprar?
(SP DID 251: 306-7, p. 66)
D – Mudança de tópico
90
Fala e escrita em questão.
(19)
Na entrevista com Paulo Coelho, o tópico que está sendo desen-
volvido é Proliferação das seitas; havendo um esgotamento, o entrevis-
tador diz:
(20)
Na entrevista com Reginaldo Rossi à revista Veja, os tópicos que
estão sendo desenvolvidos são Políticos e Pena de Morte, quando o en-
trevistador muda e pergunta:
(21)
No inquérito 234 do Projeto NURC-SP, os interlocutores vêm fa-
lando sobre teatro, balê e o Documentador, mudando o tópico, pergunta:
91
FÁVERO, Leonor Lopes. A entrevista na fala e na escrita.
Doc. escuta Dona I, passando assim mais agora para o campo de filme... eu
queria saber qual o tipo de:: o que mais chama atenção da senhora no que
diz respeito a cinema? não é? eu sei que a senhora já:: a senhora disse que
não gosta de drama, gosta de comédia
Inf. comédia
(SP DID 234: 298-303, p. 111)
3.2. Natureza
A – Pedido de Informação.
(22)
Doc. ... e como eram os professores naquela época? Exigentes demais ou não?
Inf. ah isto ahn... variava não é? nós tínhamos... professores exigen/...
exigentíssimos viu? Outros já não eram tão exigente né? de modo que...
isso eu penso que continua mais ou menos do mesmo jeito...
(SP DID 242: 228-233, p. 153)
92
Fala e escrita em questão.
fala de Maluf mostram uma interação polêmica, pois, segundo ele, Matinas
está conduzindo mal a entrevista, encaminhando-a para um contexto
irrelevante; Maluf reclama seu espaço e procura marcar pontos com a
audiência (Fávero e Aquino, 1997).
B – Pedido de Confirmação.
(23)
Veja – Você já traiu?
Adriane – Já traí e já fui traída. Mas isso foi na época dos namoros menos
sérios.
Veja – E o Ayrton?
Adriane – Não.
Veja – O Júlio
Adriane – Não.
Veja – O Roberto?
Adriane – Não.
Veja – Nenhum deles?
Adriane – Não. Quer dizer, depende do que você entende por traição. Eu te dou
três opções de traição. É mais traição você sair com outro homem ou
viver com um homem que você não ama e não ser verdadeira com ele? A
pior traição não tem a ver com essa coisa de pele.
(Veja: entrevista de Adriane Galisteu, 8 de setembro de 1999, p. 15).
93
FÁVERO, Leonor Lopes. A entrevista na fala e na escrita.
(24)
Doc: escute me conta uma coisa... essas peças que você representou você e seu
grupo... elas foram apresentadas assim em outras faculda::des:: em outros
teatros em teatro você já falou que já foram... foram representadas... mas
eu quero saber se elas foram representadas em outras faculdades?... se
ELA foi representada em outras faculdades?
Inf. não... em outras faculdades não... a única faculdade... onde ela foi represen/
:: ahn faculdade não ahn não faculdade na Universidade Mackenzie no
auditório... lá no teatro Rui Barbosa... só lá que as três peças... as três não
as duas primeiras...
(SP DID 161: 64-75; p. 39)
C – Pedido de Esclarecimento.
(25)
Doc. que você acha que é importante... pruma boa representação teatral... com...
exceção da participação do artista... ou melhor da BOA participação do
artista?
94
Fala e escrita em questão.
(26)
Doc. uhn uhn... Dona I como é que a senhora descreveria um cinema... com
todos os elementos assim que compõem o cinema?...
Inf. como você diz descrever um:: um filme?
Doc. não o cinema em si o local o cinema...
Inf. eu não entendi a pergunta.
(SP DID 234: 530-535; p. 116)
D – Pergunta Retórica.
(27)
Inf. ... bem o banco faz o o... o que se chama o... como é que se... como é que
(eles chamam) essa essa folha de informação? O cadastro bancário... en-
tão o sujeito assina...
(SP DID 250: 417-420; p. 142)
(28)
Doc. escuta e QUAIS os tipos de programa que mais te atraem... humori::sticos...
nove::las.. fi::lme?...
Inf. DESENHO ANIMADO ((riu)) dos BONS desenhos animados...
Disneylândia quando passa um bom filme e um bom desenho do Pato
Donald quem É que não gosta? Não existe...
(SP DID 161: 811-816; p. 56).
95
FÁVERO, Leonor Lopes. A entrevista na fala e na escrita.
Considerações Finais
Referências bibliográficas
96
Fala e escrita em questão.
97
Fala e escrita em questão.
Considerações iniciais
1
Os nomes dos interactantes, quando mencionados, foram trocados para preservar a priva-
cidade das pessoas.
99
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
100
Fala e escrita em questão.
101
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
102
Fala e escrita em questão.
103
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
(1)
L2 tenho saído sim... assim em termos mas eu acho por exemplo::... de sair::...
éh::... sabe sair por aí:: descobrir
[
L1 uhn
L2 lugares novos e tal acho que meu conhecimento de São Paulo é muito
restrito se comparar com papai por exemplo...
L1 eu fui:: quinta-feira... não foi terça-feira à noite fui lá
no ( ) né? lá na Celso Furtado
L2 éh::
L1 passei ali em frente à:: Faculdade de Direito...então estava lembrando...
que ia muito lá quando tinha sete nove onze...(com) a titia sabe?... e:: está
muito pior a cidade... está...o aspecto dos prédios assim é bem mais sujo...
tudo acinzentado né?
L2 uhn:: poluição né?
(D2 343: 12-25, p. 17)
3
Neste artigo, seguiu-se a tipologia de digressões proposta por ANDRADE (1995).
4
Os trechos em que ocorre uam digressão foram destacados em itálico.
104
Fala e escrita em questão.
faz uma pausa e cria, por meio do marcador “então”, uma digressão
lógico-experiencial, introduzindo o tópico “Lembranças de L1”. A di-
gressão é percebida não só pela mudança de relevância tópica (aspecto
da cidade) para relevância marginal (lembranças de L1), mas também
pela mudança discursiva temporal: de “passei” (pretérito perfeito narra-
tivo) para “estava lembrando” (pretérito imperfeito narrativo-descriti-
vo). L1 denuncia o esgotamento da digressão fazendo pausas e alonga-
mentos e, finalmente, reintroduzindo o tópico “Opinião sobre a cidade”
com o marcador “e::”.
Casos bastante significativos desse tipo de digressão podem ser
observados em conversações espontâneas ou em entrevistas de TV como
nos segmentos colocados a seguir:
(2)
L1 eu fui ver um filme Ó::timo... Vestígios do Dia....
L2 ah;; me falaram que É muito bom
L3 neste fim de semana?... você viu Filadélfia?
L1 vi sim... vi semana passada... este:: fim de sema::na vi...
L3 é BOM?
L1 eu NÃO gostei muito... achei MUIto TRISte porQUE é
um filme sobre AIds e preconceito né?... o raPAZ ele é
mandado embora é um advogado ilustre... ele não É mandado
embora...porque tinha aids É mandado embora porque é
homossexual... porque uma coLEga que tem aids e que NÃO É
mandada embora.... quer dizer enTÃO fica CLAro que
a firma usou dois pesos duas medidas
L2 aí ele entra na justiça
L1 ENTÃO:: ele entra na justiça... o filme é isso... e Filadélfia é a
cidade dos direitos humanos... o FILme é MUI::TO bem interpretado
MAS é um filme cheio de clichês POR exemplo é um filme que deseja
105
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
mostrar que os Estados Unidos são no fim das contas O:: PAÍS da
justiça... onde MESmo que seja intolerante... você con::trata um BOM
advogado o advogado GAnha a CAUsa pra você É um filme ameriCAno
deMAIS::... pro meu gosto... Ele só vale pela interpretação de Tom Hanks
que traBAlha muito bem MAS a história É simples... MAS bom mesmo é
Vestígios do Dia... esse filme é impressionante
L2 você assistiu Vestígios do Dia?
L3 ainda não tive tem::po
L1 é LIN::do é:: impressioNANte... é uma adaptação né?
(Conversação espontânea 1)
(3)
L6 ...o que seu ministério fará sem dinheiro? se não há dinheiro nem pra
quatorze reais de aumento do salário mínimo... depois de quatro meses
de debate... nós tivemos a concessão por um mês só... o mês de janei-
ro...
[
L5 parece que estão falando de uma verba de
106
Fala e escrita em questão.
[
L2 (veja)... ( )
L5 cento e vinte milhões... uma coisa assim... cento e vinte milhões...
[
L2 não... veja... tem pouco dinheiro... Salomão... pra... má/ não é
tão miserável assim que não possa fazer nada... compreende? aliás...
eu acho que no Brasil... nós precisamos... eu... eu acho muito impor-
tante que os jornalistas sobretudo... não é? cutuquem os temas de
maneira direta... não é? agora... é também é... também é preciso per-
ceber que no Brasil...
(Programa “Entrevista Coletiva” – Francisco Weffort, p. 101-102)
(4)
L1 é... olha só... o que é que... o que é que... ahn... quantos shows por
ano? com essa loucura agora que tão de ( )... (o quê) todo dia cês
fazem show... ou não?
L2 depende da época do ano... né... Jô? esse ano a gente deve fechar o ano
com uma média de cento e sessenta...
[
107
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
108
Fala e escrita em questão.
(5)
L1 enTÃO... vocês gosTAram do projeto da casa?
L2 está Ótimo... adoraria morar numa casa como essa...
L3 pena que eu não dirijo... e Arujá cinco fica lon::ge demais do meu
trabalho...
L2 mesmo que você dirigisse... Paula... não teria condições... já penSOU::
quanto
tem::po você levaria atravessando toda a marginal até chegar a USP...
L3 é:: Rodolfo... só quando você construir Pinheiros QUAtro ((risos))
Garçonete: café com aÇÚcar... ou adoçante?...
L1 adoçante...
Garçonete: aqui está
L1 obrigado
L2 mas... FOra de brincadeira... Rodolfo ( ) se NÓS puDÉssemos...
compraRÍAmos essa Casa... quando ficasse pronta...
L1 eu tô pensan::do em ficar com ela para mim... mas... CLAro... se eu
tiver o dinhei::ro para pagar os cotistas...
L3 mas eu acho que/ que o João vai querer comprar também...
L2 ótimo... assim o preço SObe... e NÓS como cotistas... ganhamos
mais dinheiro... quem oferece MAIS... Leva
L1 ficando esperTI::nho hem::
(Conversação espontânea 2)
109
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
(6)
L1 é coitadinho... porque ele tá tão a perigo... a gente nota que ele tá... cê
tá com uma cara de quem tá com o boi na sombra e o irmão com a cara
de aflito... ((risos)) não sei porque (que é isso)...
L2 não... mas a última grana que eu tinha eu gastei em alfinete... pra por
na minha calça... ( )
[
L1 rapaz... eu não tinha olhado essa calça ainda...
[
110
Fala e escrita em questão.
111
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
(7)
L1 porque... eu fiz o curso normal... porque eu havia perdido
o meu pai fazia:: ah no no primeiro colegial e:: eu
precisava ter uma ah optar por uma carreira pro/ –
meu relógio está atrapalhando a nossa – ... por uma
carreira profissionalizante... eu achei que as coisas dali
para frente seriam mais difíceis eu comecei o colegial...
(SP D2 360: 1562-7, p. 175)
(8)
L2 não::... o cruzamento é ali adiante... mas não é para entrar ainda
neste PONto você daí para Jundiaí... nós só vamos sair lá no fim
112
Fala e escrita em questão.
113
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
(9)
L1 você acha que... desenvolvimento é BOM ou ruim?
L2 desenvolvimento em que sentido?
L1 crescimento... o Brasil diz-se basicamente
subdesenvolvido e diz-se também que ele está crescendo...
se desenvolvendo... parece que está saindo de uma
condição de subdesenvolvido para chegar sei lá numa
de desenvolvido... okay?... uma:: um caminho
L2 ahn ahn
L1 agora PE::gue... os indivíduos... desse país... é melhor
ou é pior para eles isso?
L2 não sei porque acho que aí quando se fala em
desenvolvimento geralmente está se falando num plano né? ((...))
(SP D2 343: 497-509, p. 29-30)
114
Fala e escrita em questão.
(10)
L4 já deu pra fazer um plano de rescalonamento dessa dívida... aí?
L2 de qual?
L4 dessa dívida total... já deu pra estabelecer uma estratégia... ou é muito
cedo ainda?
[
L2 ah... depende... você tem que analisar cada uma das coisas separada-
mente...
(“Programa Entrevista Coletiva” – Mário Covas, p. 116)
(11)
L4 o papel do governante aí no caso... governador... o senhor desculpe... é
criar uma estrutura que fique a salvo dessa politização maluca aí... que
volta e meia vota...
[
L2 perfeitamente...
115
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
[
L4 ué ... isso
não é ( )...
[
L2 e você acha que isso que tá acontecendo impede tal ou qual
pessoa de ser eleita?
L4 de ser eleita não... de tomar... de... de politizar do jeito que foi feito... se
se estabelece asregras definitivas que impeçam...
[
L2 quais definitivas? que alguém
quando chegar no governo aja em relação às suas escolhas da mesma
maneira que eu?
[
L4 não...
[
L2 que tipo de regra eu posso impor à
empresa de tal maneira a que... quem quer que seja como acionista
majoritário... não vá dispor sobre isso segundo a sua vocação...
L4 tem maneiras legais de estabelecer conselhos que evitem esse poder
[
L2 sim mas os conselhos estão
aí... os conselhos existem...
[
L4 mas num ( )...
[
L2 os conselhos existem...
(“Programa Entrevista Coletiva” – Mário Covas, p. 125)
116
Fala e escrita em questão.
(12)
L2 e eu acho que a gente está num período de decadência
[
L1 veja o
seguinte... cada vez não aumenta mais a prioridade de...
ter hecatombe?... ou é mais fácil?...
L2 atualmente?
[
L1 pelo menos teoricamente?...
L2 ahn
L1 é né?
L2 ahn ahn...
L1 cada vez não se aumenta mais essa pro/ essa::...
potencialidade de fazer:: uma hecatombe?
L2 ahn ahn
L1 então
[
L2 mas isso está dentro de um ciclo né? maior... ou você
acha que não?...
L1 ou seja... uma época há vontade de fazer hecatombe
outra época não há... de qualquer maneira... numa época
ou noutra a tua potencialidade de fazer hecatombe
aumenta né? então você veja a própria bomba atômica
né?... ((...))
(SP D2 343: 1689-1708, p. 58-59)
117
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
118
Fala e escrita em questão.
5
Termo retirado de José Paulo Paes na introdução à obra de Laurence Sterne, A vida e as
opiniões do cavaleiro Tristam Shandy, romance significativo pelas digressões que apre-
senta, publicado no Rio de Janeiro, pela Editora Nova Fronteira, em 1984, p. 31.
6
Sentido derivado, que se atribui a um enunciado a partir da constatação de que seu senti-
do literal seria irrelevante na situação. Exemplo: Numa interação em que os participantes
estão preparando um bolo e após a pergunta feita por A: “Você viu onde está o vidro de
baunilha?”, B responde: “Você perdeu seu óculos?” e A complementa: “A propósito,
você leu aquele artigo sobre miopia que saiu na revista Cláudia?”, o desvio tópico baseia-
se na implicatura do enunciado de B, em detrimento de alguma particularidade do pró-
prio enunciado: “Você está ficando cada vez mais míope” ou “Pessoas míopes devem
usar óculos, onde estão os seus?”.
119
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
120
Fala e escrita em questão.
121
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
122
Fala e escrita em questão.
123
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
124
Fala e escrita em questão.
125
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
7
A relação do nome Jacobina (derivado do local que serviu de sede de um clube político
revolucionário fundado em Paris em 1789, ou seja, a biblioteca dos monges dominicanos
ou jacobinos) e o termo alma (que pode ser usado para traduzir o hebreu nefesh, signifi-
cando infeliz; ou na linguagem comum, reflete o complexo de idéias que remontam à
filosofia grega passada através do escolasticismo medieval) merece um estudo à parte, à
medida que cria uma relação entre o significado do nome da personagem, sua maneira de
ser e agir, bem como o que se mostra no espelho.
126
Fala e escrita em questão.
Considerações Finais
Referências bibliográficas
127
ANDRADE, Maria Lúcia da C. V. de O. A digressão como estratégia...
Fontes
128
Fala e escrita em questão.
Considerações iniciais
129
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
1. Descrição do corpus
As duas versões da MGP são bem diferentes em alguns aspectos.
O próprio autor reconhece isso quando diz: “Amadurecido pela leitura
130
Fala e escrita em questão.
EUGENIO COSERIU
JOSÉ HERCULANO DE CARVALHO
J. MATTOSO CÂMARA JR.
a cujas lições fui colher o que de melhor existe nesta nova versão”.
131
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
1ª versão 2ª versão
Índice Sumário
Prefácio Prefácio da 37ª edição
Prefácio da 1ª edição
Introdução [03 páginas] Introdução [33 páginas]
Que é uma língua? A) Linguagem: suas dimensões univer-
A língua é um fenômeno cultural sais
Modalidades de uma língua: língua B) Planos e níveis da linguagem como
falada e língua escrita atividade cultural
Língua geral e língua regional C) Língua histórica e língua funcional
Objeto da Gramática D) Sistema, norma, fala e tipo lingüístico
Divisão da Gramática E) Propriedades dos estratos de
Partes da Gramática estruturação gramatical
Objeto da Estilística F) Dialeto – Língua comum – Língua
exemplar: Correção e exemplaridade.
Gramáticas científicas e gramática
normativa. Divisões da gramática e
disciplinas afins. Lingüística do texto.
I – Fonética e Fonêmica I – Fonética e Fonologia
II – Morfologia II – Gramática descritiva e normativa:
A) Classes de vocábulos as unidades do enunciado
1 – Substantivo A) Formas e funções
2 – Adjetivo 1 – Substantivo
1
Por questão de espaço, apresentaremos apenas os itens principais do índice e do sumário.
132
Fala e escrita em questão.
3 – Artigo 2 – Adjetivo
4 – Pronome 3 – Artigo
5 – Numeral 4 – Pronome
6 – Verbo 5 – Numeral
7 – Advérbio e os denotativos 6 – Verbo
8 – Preposição 7 – Advérbio
9 – Conjunção 8 – Preposição
10 – Interjeição 9 – Conjunção
B) 1 – Estrutura dos vocábulos 10 – Interjeição
2 – Formação de palavras B) Estrutura das unidades: análise mórfica
III – Sintaxe 1 – Estrutura das palavras
A) Noções gerais 2 – Formação de palavras do ponto
B) O período simples de vista constitucional
C) O Núcleo 3 – Estudo estrutural do léxico: a lexemática
1 – Termos essenciais da oração 4 – Formação de palavras do ponto de
2 – Tipos de predicado verbal vista do conteúdo
3 – Constituição do predicado verbal 5 – Alterações semânticas
4 – Complementos nominais C) Estrutura do enunciado ou período.
5 – Adjunto: seus tipos A oração e a frase
6 – Agente da passiva 1 – A oração: funções oracionais
7 – Aposto: seus tipos 2 – Orações complexas e grupos oracionais:
8 – Vocativo A subordinação e a coordenação.
A) O período composto A justaposição
1 – Orações independentes e dependentes 3 – As chamadas orações reduzidas
2 – Oração principal 4 – As frases: enunciados sem
3 – Interrogação direta e indireta núcleo verbal
4 – Orações coordenadas conectivas 5 – Concordância
5 – Orações intercaladas 6 – Regência
133
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
134
Fala e escrita em questão.
2. Fundamentação teórica
2
Veja-se, por exemplo, o que diz Niskier (1999): “(...) pode-se registrar o fato, facilmente
comprovável, de que nunca se escreveu e falou tão mal o idioma de Rui Barbosa. (...)
Novas formas de regência verbal são adotadas e, também, por influência do economês,
todos ‘oportunizam’, ‘absolutizam’, ‘otimizam’, ‘a nível’ disto e daquilo, e ‘colocam’
135
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
136
Fala e escrita em questão.
5
Não nos referimos aqui ao autor da MGP, Prof. Evanildo Bechara, que antes de tudo é um
lingüista. A MGP, que ora analisamos é uma prova disso, pois desde a 1ª edição inova,
como já dissemos, incorporando dados da realidade da língua e oferecendo tratamento
diferenciado sobre muitas questões de língua, e também porque a 37ª edição incorpora
significativamente a teoria lingüística, especialmente a funcionalista, de Eugenio Coseriu,
para explicar o funcionamento da língua.
6
Usamos aqui a terminologia de Aleóng (1983), para quem norma explícita é a norma da
gramática tradicional e normas implícitas são as normas relativas ao uso da língua em
todas as suas variedades regionais / sociais e situacionais. Neste trabalho, usamos tam-
bém o termo norma prescritiva no mesmo sentido de norma explícita.
137
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
138
Fala e escrita em questão.
7
Hopper & Traugott (1994: 04) falam também sobre a independência sintática das prepo-
sições do inglês que podem atuar no fim de uma oração sem uma frase nominal, o que
não é normal em português. Se bem que, em certas circunstâncias, quando há intenção de
elidir uma oração, a preposição pode aparecer isolada no final da frase, criando um efeito
de sentido de tensão acerca do que se diz. É o que faz Mário de Andrade em Amar Verbo
Intransitivo, por exemplo, quando num momento de tensão Sousa Costa tem de explicar
à Dona Laura exatamente qual era a tarefa de Fräulen naquela casa, e termina ofendendo
a acusada:
“– Mas Fräulen não tive a intenção de!” (Andrade, 1944: 78) (Grifamos)
139
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
140
Fala e escrita em questão.
141
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
142
Fala e escrita em questão.
8
Cunha & Cintra (1985: 284) dizem: “No português do Brasil o uso do tu restringe-se ao
extremo Sul e a alguns pontos do Norte, ainda não suficientemente delimitados. Em qua-
se todo o território brasileiro, foi ele substituído por você como forma de intimidade. Você
também se emprega fora do campo da intimidade, como tratamento de igual para igual ou
de superior para inferior.”
143
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
9
Por exemplo, Omena, N. P. de & Braga, M. (1996); Leite, M. Q. (1999).
144
Fala e escrita em questão.
Observações:
(...)
145
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
146
Fala e escrita em questão.
11
Exceção feita à descrição da morfologia do verbo, que está conforme a teoria estruturalis-
ta.
147
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
12
Cf. Lausberg (1974: 36).
148
Fala e escrita em questão.
149
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
prio para justificar um uso vernáculo, mas é válido e pode ser tomado
como princípio explicativo para a justificação da novidade nesse campo
tão inóspito a inovações. E elas existem, como estamos percebendo.
Ainda no terreno das preposições, vêem-se outros aproveitamen-
tos da realidade lingüística. No que tange ao emprego da preposição por
(e per), observamos o seguinte:
“(...)
m) depois de nomes que exprimem disposição ou manifestação de dis-
posição de ânimo para alguma coisa:
Ter alguém por sábio. Enviou alguém por embaixador. Tenho por certo
que ele virá.
150
Fala e escrita em questão.
muito alta, e fatos como esse perduram marginalmente por muito tem-
po.
No capítulo das conjunções, o autor da MGP introduz algumas
novidades, no âmbito do texto normativo, referentes à conceituação des-
sa classe de palavra, por estabelecer diferenças entre conector (a conjun-
ção coordenativa) e transpositor (a conjunção subordinativa). Essa posi-
ção leva-o ao seguinte: as conjunções coordenativas são apenas três:
aditivas, adversativas e alternativas. As explicativas e as conclusivas,
segundo anuncia, são representadas por unidades adverbiais (pois, logo,
entretanto, não obstante etc.) que têm comportamento sintático diferente
dos conectores. Nesse grupo incluem-se alguns itens lexicais antes tidos,
inclusive pelo próprio Bechara (1983: 161-62), como conjunções
adversativas, tais como: contudo e todavia. Nas duas versões da gramá-
tica, porém, o autor faz certas observações que vêm ao encontro de nosso
objetivo de estudo. No que toca às conjunções causais, por exemplo, se
de um lado abona uma expressão consagrada pelo uso (mas, antes, rejei-
tada pela tradição), de outro, condena uma outra expressão igualmente
usada e condenada. Vejamos:
“OBSERVAÇÕES:
1.ª) Já se condenou injustamente o emprego de desde que em sentido
causal, só o aceitando com idéia temporal (assim que) ou condicional.
2.ª) Evite-se o emprego de de vez que por não ser locução legítima.
(MGP, 1999: 326)
151
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
quanto que, apenas que, embora que, mal que, etc., construções que os
puristas não têm visto com bons olhos, apesar dos exemplos de escrito-
res corretos:
‘... porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto
que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos’ [MA.
1, 24].
Aparece ainda o que excessivo depois de expressões de sentido tempo-
ral como:
Desde aquele dia que o procuro.” (Ib.)
Considerações finais
152
Fala e escrita em questão.
153
LEITE, Marli Quadros. A influência da língua falada na gramática tradicional.
Referências bibliográficas
154
Fala e escrita em questão.
155
Fala e escrita em questão.
Hudinilson Urbano
Considerações iniciais
157
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
1. Texto falado
1
Eis a relação das crônicas analisadas:
“De vídeo e sua Linguagem”, 18.2.73, p. 62; “Avaliações das festas, com olhos no vídeo”,
4.1.75, p. 28; “Inteligência e audiência”, 8.1.75, p. 34; “Os deuses na escalada”, 9.1.75, p.
39; “Abertura, mas fugindo ao chavão gênio que surge”, 10.1.75, p. 38; “No Ano Interna-
cional da Mulher, a TV como habitat feminino”, 11.1.75, p. 32; “Encontro marcado com
o tucano”, 14.1.75, p. 38; “Marquês de Sade rende IBOPE”, 11.3.76, p. 38; “Show certo,
verdade errada”, 16.3.76, p. 42; “Vago perfil do homem da praça”, 20.3.76, p. 40; “Vídeo-
art e novela”, 25.3.76, p. 38; “Oscar’ número 48, 31.3.76, p. 38; “Os muitos cardápios da
crítica”, 3.4.76, p. 30; “O Uruguai assiste ao ‘Bem Amado”, 6.4.76, p. 38; “Cacoetes do
palco para o vídeo”, 8.4.76, p. 40; “Novelas, novelas, novelas, e mais novelas”, 10.4.76,
p. 32; “Um sugestivo discurso”, 20.4.76, p. 40; “O contar-se de Lourenço”, 23.4.76, p.
44; “Vídeo dá um jeitinho na vida”, 24.4.76, p. 36; “Pecado Capital com plena absolvi-
ção”, 27.4.76, p. 48; “Dois mil anos de teatro”, 28.4.76, p. 36; “Os programas femininos
estão como Carolina”, 30.4.76, p. 40.
158
Fala e escrita em questão.
2
Cf., entre outros, os estudos da Série PROJETOS PARALELOS do Projeto NURC/SP-
USP, organizada por Dino Preti (Vol. 1, 2, 3).
3
Por exemplo URBANO, H. Oralidade na literatura.
159
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
4
Para maiores informações, cf. Análise da Conversação, de Marcuschi, L. A.
160
Fala e escrita em questão.
Doc. Dona Isa e Dona Helena gostaríamos que dessem as suas opi-
niões a respeito de televisão (3)
L1 Olha Isa... eu (1,5) como você sabi (2) u::ma pessoa/ um diretor
lá da Folha (l,5) certa feita mi chamou (1,5) e m’incumbiu
d’iscrever sobri televisão (1,5) o qui mi pareci é qui na ocasião
(1) quando ele m’incumbiu disso (1) ele pensou/ (1) que ele ia::
(1,5) ficar em faci di uma recusa (2) i qu’eu ia... esnoBAR ((ri)) —
agora vamus usar um termu (1) qu’eu usu bastanti i qui todo mundu
usa muitu – eu iria ESnobar a televisão (1) como todo intelectual
realment’isnoba (1) mas aconteci (1) qu’eu já tinha vistu duranti
muitu tempu televisão (1,5) por::que:: houv’uma época na minha
vida qui a literatura:: mi fazia prestar muit’atenção... i eu queria
era uma fuga ... intão a minha fuga (1) era mi deitar na cama (1)
ligar o:: o receptor e ficar vendu... ficar vendu... (1,5) I:: aí eu
comecei a prestar atenção naquela tela pequena...(1) vi (1) não só
qui já si fazia muita coisa boa i também muita coisa rúim é claru
5
Flag: expressão genérica que antecipa o tipo de função sintática e semântica que se vai
realizar, pleonasticamente, na expressão que segue, do tipo: Lá em casa tudo vai bem.
(Cf. Ilari et al., 1990: 70)
161
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
6
A gravação foi reouvida várias vezes e o trecho foi retranscrito com algumas correções
na transcrição e com as seguintes adaptações: a) pausas com duração maior do 0,5 segun-
do foram indicadas com números, conforme sua duração em segundos; b) o continuum
sonoro foi indicado pelas elisões (m’incumbiu) e pela transcrição fonética das vogais
átonas iniciais e finais, quanto à realização dos timbres fechados (díscrever, sabi); c) a
barra (/) indica glottal stop (interrupção do som na glote).
7
A numeração simples após os exemplos, entre parênteses ou não, indica o número da
linha do texto falado; as datas (por exemplo: 10.1.75) indicam as datas das crônicas ana-
lisadas.
162
Fala e escrita em questão.
8
Pronome que retoma um referente topicalizado.
163
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
9
Cabe lembrar que os dicionários consultados, sobretudo o do AURÉLIO, são de 1975/76,
época da produção dos textos.
164
Fala e escrita em questão.
165
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
166
Fala e escrita em questão.
167
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
168
Fala e escrita em questão.
2. Texto escrito
12
Referimo-nos a Antônio Cândico (1979), Ledo Ivo (1981), Massaud Moises (1968), J. Sà
(1987), Nilo Scalzo (1982).
169
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
170
Fala e escrita em questão.
171
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
172
Fala e escrita em questão.
2.3. Linguagem
2.3.1. Coloquial
173
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
174
Fala e escrita em questão.
13. E as festas, leitor? Eu [as] passei longe de São Paulo (4.1.75; g.n.);
15. Diante de O Recém-Chegado (...) eu me indaguei como (...) (4.1.75;
grifo nosso);
14. (...) eu que nunca joguei na Loteria Esportiva (16.3.76; grifo nos-
so).
13
Deixamos de considerar aqui a frase “Mas eu nunca fui cronista social”, do exemplo 43,
por se tratar de simples reprodução de diálogo.
175
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
20. E por que ? Um caso que deixo para estudos do setor de economia
(4.1.75);
21. Não leitor, você não se enganou de coluna, não. (23.4.76; grifo
nosso);
22. a) Bem, meus senhores, se vocês pensam que hoje vou levar as
coisas a sério estão muito enganados. (...); b) (...) E sabem por quê ?
Porque [a vida] não imita a novela. (...); c) (...) Meus amigos, iniciei
estes tópicos de brincadeirinha. (24.4.76; grifo nosso);
23. Hoje, a novela está aí e não adianta (...) (25.3.76);
24. Bem, meninas, onde quero chegar é no seguinte: (...) (30.4.76; grifo
nosso).
14
Cf. Marcuschi, 1997.
176
Fala e escrita em questão.
25. a) Não leitor, você não se enganou de coluna não (...); b) (...) en-
quadrar-se na própria (...); c) é lindo, não acham ? (...); d) (...)
cachorricizada (23.4.76; grifo nosso);
26. Ora, isto tudo ocorre em tempo em que a vídeo-art está aí (25.3.76;
grifo nosso);
27. (...) dava ensejo a toda uma enfiada de considerações. (4.1.75; gri-
fo nosso);
28. Aí, o espetáculo correu rápido (31.3.75; grifo nosso);
29. Mas tenho cá minhas razões (3.4.76; grifo nosso);
30. a) Novelas, novelas; novelas: não entendi bulhufas (...): b) herói de
Cervantes ficou completamente abilolado – na expressão pitoresca da
gente do Nordeste.; c) (...) fico nesse pula-pula insatisfatório (...); d)
(...) aturar xaropadas inglórias (...); e) (...) um redondo ‘não” (10.4.76;
grifo nosso);
31. a) despojado de saberetice tipo ‘Seleções” (...); b) (...) como manda
o figurino (16.3.76; grifo nosso);
32. a) gatos escaldados que têm medo da água fria (...); b) nada feito.;
c) o autor joga tudo para o ar; d) Seria teste definitivo fechando a boca
dos que apostam na burrice de nossas platéias. (8.1.75; grifo nosso);
33. a) (...) audaciosos rapazes entram com a cara e a coragem para
cima de uma crítica temerosa de ser rotulada quadrada, bitolada e ou-
tros adas, em que entra a desinformada, também. (...); b) (...) é um bota
pra quebrar geral e encucativo (...); c) (...) parecer não estar por dentro
(...) (10.1.75; grifo nosso);
34. Entrou com a cara e a coragem (...) (27.4.76);
35. (...) “uma andorinha só não faz verão” (20.4.76);
36. a) Uma glória a presença de Lima Duarte; b) Certa feita, eu estava
177
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
40. (...) O estúdio chama, o roteiro não pode esperar, as gravações estão
marcadas para tal data... se realmente não pode vir, sentimos muito,
178
Fala e escrita em questão.
41. No ponto em que está, a novela torna seu público exigente. Deve
ser cuidada desde sua abertura. Frise-se: principalmente esta [= aber-
tura] deve ser cuidada. (25.3.76; itálico e grifo nossos)
179
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
2.3.2. Culta
180
Fala e escrita em questão.
181
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
59. a) E como posso espiar o meu [vídeo de TV] se a Light m’o apaga,
(ah, este m’o apaga, é lindo não acham?); b) (...) Pois é, Lourenço, não
pude (...) comprar seu livro e dar-lhe meu abraço. Falei com Aroldo
Chiorino, pedi-lhe que desse o amplexo por mim ( amplexo aí vai para
não haver repetição, mas não é um vocábulo do qual eu seja devota.;
(23.4.76; grifo nosso)
2.3.3. Literária
182
Fala e escrita em questão.
183
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
subsídio para estudos estilísticos, mas sem essa pretensão, tarefa fora dos
nossos propósitos, que só um estudo específico e profundo poderá realizar.
Parece-nos que um dos recursos de feição mais literária, sob o
aspecto de poeticidade, é o uso de imagens e metáforas, com ou sem
ironia, elaboradas ou revitalizadas; achados e arranjos pitorescos e artís-
ticos; trocadilhos e jogos de palavras de grande efeito:
15
Já tínhamos observado esse emprego de paralelismos morfológicos, sintáticos e semânti-
cos, no texto falado de Helena Silveira, em análise anterior, o que explica certa inclinação
da jornalista para esse tipo de construção retórica e expressiva: a medida do homem... a
184
Fala e escrita em questão.
185
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
186
Fala e escrita em questão.
Considerações finais
Referências bibliográficas
187
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
188
Fala e escrita em questão.
“Videonário”
O contar-se de Lourenço
Helena Silveira
189
URBANO, Hudinilson. A linguagem falada e escrita de Helena Silveira.
190
Fala e escrita em questão.
REFERENCIAÇÃO E COGNIÇÃO:
O CASO DA ANÁFORA SEM ANTECEDENTE
1. A referenciação textual
191
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
1
É oportuno ter presente que todo preenchimento anafórico pronominal e toda a relação
anafórica nominal se dá por processos inferenciais, sejam eles automáticos ou não. Meu
interesse centra-se precisamente nas atividades inferenciais não automáticas e de caráter
cognitivo-pragmático envolvidas na compreensão de pronomes sem referentes pontuali-
zados. Note-se que nos procedimentos aqui citados não estão incluídas as continuidades
elípticas, ou seja, aqueles casos de preenchimento do que se chama de anáfora zero.
Contudo, estes casos poderiam estar subsumidos em (a), desde que o preenchimento de
uma elipse é seu preenchimento por um elemento antecedente sem que haja um indicador
explícito.
2
Pode-se levantar aqui uma objeção quanto à distinção feita entre d) e e) na medida em
que a associação também é um proceso cognitivo, como os demais. Contudo, creio que
há uma distinção sistemática a fazer entre conhecimentos estritamente lexicais que emba-
sam em boa medida as associações e conhecimentos enciclopédicos e pessoais que não se
inserem nos conhecimentos lexicais. Esta questão não é aqui tratada e admito que as duas
sugestões d) e e) poderiam, em última análise e numa justificativa refinada, serem
distinguidas por outros meios e talvez serem parcialmente fundidas.
192
Fala e escrita em questão.
2. Referenciação anafórica
193
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
4
Quanto ao problema da correferencialidade, há ainda um aspecto que não foi de todo
esclarecido. Não convém confundir a retomada pronominal correferencial com a reapre-
sentação do referente tal como ele se encontra naquele momento textual. Isto é, convém
não confundir a troca de estado de um referente com o próprio referente, tal como lembra
Kleiber (1994: 151). Este aspecto recebe a seguinte observação de Kleiber (p. 151): “no
momento da interpretação de um pronome subseqüente, esse modelo contextual ou seu
conteúdo descritivo, em suma, a representação mental do referente, não é jamais total-
mente idêntica àquela do SN antecedente correferencial”. A anáfora situa-se sempre num
foco discursivo imediato que se dá no universo textual (discursivo), o que faz com que a
anáfora não seja vista apenas como um mecanismo de reenvio automático a elementos
referenciais, mas também como um mecanismo de construção de foco no próprio proces-
so discursivo com seleção de espaços não abarcados pelo elemento referido. De certo
modo, este é tipo de funcionamento específico das anáforas aqui trabalhadas.
5
Embora considere o trabalho de Kleiber (1994) muito mais completo que o de Milner
(1982), a vantagem de Milner está precisamente na radicalidade com que trata e define a
anáfora, sem se preocupar em matizar sua posição gerativista, mesmo sabendo que há
uma série de problemas com sua teoria. Além disso, Milner situa sua posição dentro de
um quadro ateórico precedido de uma teoria da referência, indispensável para o tratamen-
to da anáfora. Este aspecto fica a dever em Kleiber.
194
Fala e escrita em questão.
6
Quanto a estas duas categorias, Milner (1982: 38-39) estabelece o seguinte quadro geral
de diferenças:
Anáfora pronominal Anáfora nominal
O anaforizante não é autônomo e está des- O anaforizante é autônomo e provido duma
provido de referência virtual própria referência virtual própria
O efeito é de fornecer uma referência virtual O efeito é de identificar o referente atual do
ao anaforizante; não de idenficar o anaforizante e não de fornecer uma referên-
referente atual cia virtual
O anaforizante não tem necessariamente O anaforizante tem necessariamente uma re-
uma referência atual ferência atual
O anaforizado não tem necessariamente O anaforizado tem necessariamente uma re-
uma referência atual; basta-lhe que tenha ferência atual
uma referência virtual
A referência atual do anaforizado pode ser A referência atual do anaforizado deve ser não
identificada ou não, identificável ou não. O identificada; o anaforizado deve ser indefini-
195
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
anaforizado pode, pois, ser definido ou inde- do. A referência atual do anaforizado deve ser
finido, especificado ou genérico identificável. Ela deve, pois, ser particular e
não pode ser genérica nem quantificada
A relação de anáfora tem como condição ne- A correferência – virtual ou atual – não é nem
cessária e suficiente a correferência virtual necessária nem suficiente
Com base nessas especificações, Milner (1982: 39) chega ao seguinte princípio geral:
“O anaforizante – nominal ou pronominal – tem exatamente o mesmo grau
de particularidade que o anaforizado.”
Certamente, não podemos concordar com a limitação estrita imposta por este princípio,
pois ele impede que se consiga tratar a maioria dos casos de anáforas, especialmente as
nominais, que não preenchem esse requisito. E elimina do campo de análise os casos que
trato neste estudo.
7
Muitos outros aspectos relevantes, levantados por Milner (1982) a propósito da anáfora
poderiam e deveriam ser aqui tratados. Contudo, não é o caso neste estudo. Mas é bom
lembrar um traço fundamental das anáforas pronominais. Mesmo sendo correferenciais,
elas não são transitivas (p. 33). Assim, por exemplo, no caso de uma seqüência como:
– um livro…ele… ele… o …
não se pode imaginar que o esteja retomando o pronome ele imediatamente anterior, mas
sim o nome inicial: um livro. Isto porque um anaforizante será sempre um anaforizante e
um anaforizado será sempre o mesmo anaforizado. Esta é apontada por Milner (1982: 33)
como uma das diferenças entre as anáforas nominais e pronominais. Veja-se que no caso
da seqüência:
– um livro… o livro… o livro…
a segunda ocorrência de o livro retoma anaforicamente o livro que lhe antecede imediata-
mente e não um livro, tal como ocorria com o pronome ou com o livro na primeira se-
qüência acima.
196
Fala e escrita em questão.
(a) em (1) teríamos uma anáfora pressuposicional baseada numa relação entre
dois termos que assumem seus referentes na relação cotextual;
197
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
(b) em (2) haveria dificuldade em admitir uma relação anafórica tal que no
caso anterior e, para Milner, no máximo, trata-se de uma anáfora contex-
tual baseada em conhecimentos outros do que os textuais;
(c) já no caso de (3) ter-se-ia nitidamente uma anáfora contextual que exorbita
a competência pronominal para sua interpretação.
198
Fala e escrita em questão.
ouvinte. Já para Levinson (1987), parece que uma revisão dos postula-
dos griceanos seria suficiente. Na realidade, temos, no caso de Ariel,
uma perspectiva que privilegia a cognição (representações mentais) e, no
caso de Levinson, uma perspectiva mais de natureza pragmática (proje-
ções inferenciais situacionais).
Talvez se possa dizer que a interpretação referencial das anáforas
não é uma questão de implicaturas (pragmáticas), nem de pressuposi-
ções (semânticas) ou algo deste tipo, e sim uma questão de representa-
ções ou de espaços mentais gerados no contexto discursivo e com obje-
tivos específicos. Assim, a perspectiva que considera processos cognitivos
na construção referencial anafórica parece estar mais perto do acerto e
será por mim adotada aqui.
199
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
200
Fala e escrita em questão.
8
Lembro aqui que a anáfora esquemática, tal como a trato neste estudo, não se confunde
com as chamadas anáforas plurais representadas por casos do tipo: “Todo indivíduo que
tem um burro bate nele”. O nele neste caso é um plural, pois indica muitos burros, ou
seja, o burro de cada um. Veja-se, a respeito a obra de Hornstein.
201
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
b) não é correferencial
c) não é linearmente continuativa
d) não apresenta congruência morfológica com algum elemento
cotextual
e) é inferencial, mas não logicamente inferida 9
f) refere uma pluralidade indeterminada (Kleiber, 1994: 170)
g) introduz elementos novos como dados
9
Com a expressão “logicamente” entendo aqui apenas a indução e dedução. Poder-se-ia
falar num tipo de lógica abdutiva, mas isso é questionável, embora alguns autores a
imaginem possível nestes casos.
202
Fala e escrita em questão.
Não é necessário muito esforço para se inferir que elas tem como
referente o conjunto das prostitutas que lá se encontravam (e não um
grupo de policiais femininas). Já no caso (6) não poderíamos pôr o prono-
me no feminino plural, pois não teria uma interpretação plausível. Veja-se:
203
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
Como se vê, o enunciado *10’ sofre uma restrição que diz que não
se pode predicar referencialmente elementos negados. Essa restrição não
vale para 10”. Neste segundo caso parece que se dá uma predicação
atributiva e não referencial. Essa questão mereceria mais atenção, pois
existem mais assimetrias entre os dois usos pronominais apontados. Pa-
rece que a restrição acima vale de modo especial para as subordinadas
204
Fala e escrita em questão.
12. Ontem à noite estive num concerto. Eles (os músicos) tocavam a
9ª Sinfonia.
205
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
206
Fala e escrita em questão.
mostra que o pronome anafórico em casos desse tipo tem uma cabeça de
Janus, ou seja, apresenta um caso de dupla determinação, sendo anaca-
tafórico se é que um termo desses pode dizer algo.
207
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
208
Fala e escrita em questão.
Para Kleiber (1998: 208), podemos dizer que três são os fatores
que entram em questão para resolver o problema posto pelos pronomes
nos casos (13-17):
(i) a semântica lexical de verbos tais como destruir, matar, queimar, pul-
verizar... faz com que os objetos ou entidades em questão nesses casos
não mais existam após sofrer tais ações. Assim, os elementos da pro-
posição a que apresenta a primeira entrada e da proposição b que re-
presenta suas retomadas não são necessariamente da mesma entidade
antes da destruição, ou seja, temos que considerar aqui as entidades
num tempo ti e um tempo tj
(ii) as relações binárias de discurso que ligam as proposições entre si se-
guem certas condições. Em 13) e 14) trata-se de uma relação de nar-
ração que une as proposições; em 15) é a elaboração; em 16) é o
contraste e o pano de fundo; em 17) é a elaboração. Note-se que: (a)
o plano narrativo que se estabelece em 13) e 14) na seqüenciação de
um evento a para um evento b pode identificar a validade dessa rela-
ção. Assim, se o pronome retoma o elemento anterior em tempo ante-
rior ou posterior à destruição é relevante para o processo referencial e
para a construção da coerência textual; (b) na elaboração, o evento
descrito em b (situação subseqüente) contribui para a culminação do
evento descrito em a; na realidade, b é a parte final da fase preparatória
de a; (c) no pano de fundo (background) o evento descrito em b
causou o evento descrito em a.
209
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
210
Fala e escrita em questão.
21. O vaso tombou por terra e se esfacelou em mil pedaços. *Em seguida,
Paulo o restaurou.
Certamente, não foi o vaso que se restaurou, mas sim os mil peda-
ços que foram novamente remassados. Veja-se, no entanto, este outro
enunciado:
211
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
6. Modelo analítico da AE
212
Fala e escrita em questão.
213
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
1. Matriz discursiva
2. Referenciador
3. Matriz conformativa
4. Quadro de propriedades
5. Estratégias de construção de referentes
6. Determinação referencial
214
Fala e escrita em questão.
215
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
1 2 3
determinação
grupo construído Contexto configuracional
como indivíduos:
referencial em que agem indivíduos
médico 1; médico 2; do grupo da área médica
médico 3; médico n
OS MÉDICOS
quadro de propriedades
216
Fala e escrita em questão.
217
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
218
Fala e escrita em questão.
10
Refiro-me, em especial aos trabalhos das bolsistas de IC no âmbito do Projeto Integrado:
Fala e Escrita: Características e Usos III, desenvolvido no Núcleo de Estudos Lingüísticos
da Fala e Escrita (NELFE), sob minha coordenação, na UFPE, e financiado pelo CNPq,
proc. Nº 523612/96-6. Esses estudos mostraram que as AE são mais comuns na fala, em
especial nos materiais do NURC do tipo D2 (Diálogos entre dois Informantes) e DID
(Diálogos entre um Informante e o Documentador), sendo menos comum Ef (Elocuções
Formais). Mas aparecem também em cartas, como no caso do exemplo aqui citado.
219
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
(23)
NN, 00/00/1991
Amiga A.P.
Oi!
/.../
015 Demorei um tempão pra responder, espero sinceramente que você
não esteja chateada comigo. Eu me amarrei de verdade em vocês
aí, do PP., principalmente a galera da ET., vocês são muito ma-
neiros! Meu maior sonho é viajar, ficar um tempo por aí, conhe-
cer legal vocês todos, sairmos juntos... Só que não sei ao certo se
vou realmente no início de 1992. Mas pode ser que dê, quem sabe?!
É o seguinte:
020 como você sabe, estudo no CT. – RJ e estou no último ano do
curso técnico de Metereologia. Bem, já estou estagiando em Furnas
Centrais Elétricas. É uma das empresas que gera eletricidade para
o Brasil, com suas usinas hidroelétricas. Você deve estar pensan-
do: mas porque eles querem um metereologista? Lá eu faço a
previsão das chuvas, ou seja, digo se vai chover e quanto vai cho-
ver em todas as
025 cidades por onde passam os rios Paraíba do Sul e Grande. Com
minha previsão eles sabem o quanto vão abrir as portas das usi-
nas. Assim a chuva não inunda as cidades. Imagine se eu digo que
vai chover, eles abrem as comportas e na verdade não chove? A
hidroelétrica fica sem água para transformar em energia elétrica,
o que acontece? Todos os estados da região Sudeste e Sul ficam
sem energia.
(Fonte: NELFE, E002 Carta pessoal)
Note-se o uso do pronome eles (linhas 23, 25 e 27) sem que tenha
sido identificado de quem se trata. Há o contexto discursivo “já estou
220
Fala e escrita em questão.
(24)
Doc: outras revistas o senhor citaria assim... da imprensa...
vamos dizer assim...
L2: outras revistas? lá em casa nós temos assim... por força da escola
e das crianças temos a Veja... não é? e:: ... revista de reportagem
é raro... uma vez ou outra Manchete... principalmente quando a
Manchete publica essas... essas reportagens sobre... cidades e::
por exemplo sobre o Rio de Janeiro... sobre São Paulo inclusive Ø
fazem aquelas edições especiais entende?
(NURC/SP, D2, Inq. 255 linhas 1264 1271)
221
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
222
Fala e escrita em questão.
assim tudo duro… tipo assim cajá-manga… eles têm muita coisa
assim /…/ é gozado como a gente sente essa diferença… lá lá a
gente não comia fruta… a banana é uma banana tão grande que
não dá pra você comer uma inteira … o que a gente chama de
banana aqui… a banana deles lá é uma coisa imensa…
(NURC/RIO, DID, Inq. 328, linhas 90-97)
33. aqui no Rio tinha uma espécie de banana parecida… parece que
se não me engano era banana-figo que eles chamam aqui no Rio…
mas ainda lá é muito maior que a banana-figo /…/
(NURC/RIO, DID, Inq. 328, linhas 98-100)
34. Inf. /.../ ah e vi também com a Lisa a Lisa Minelli dois filmes
inclusive o Cabaré antes de ser premiado eu tinha assistido... e vi
um outro que ela fazia o papel duma moça toda queimada (mas)
achei que ela trabalhou excepcionalmente bem que eu me pego
muito no paPEL que eles estão fazendo... (NURC/POA, DID, Inq.
121, linhas 638-645))
35. Telefonema entre duas amigas:
B: e eu também achei que não ficou muito bom sabe V. aquele
negócio do coquetel sabe?
V: diz que ficô as prate/as ninguém se serviu direito não foi?
B: não é n/ e também... éh mais ou menos isso...
mas olha uma pouca vergonha ((rindo)) viu
V: o povo foi em cima
B: é: menina... que coisa FEia tá...tão FEio V.
V: éh:... agora sabe o que é que ia servi...
ia servi no terraço mas choviscou não foi
B: mas naquela hora não tava choviscando né
V: diz que tava cho[viscando...
B: [ éh
V: eu tava lá dentro... mas sabe que eu não me servi de ab-
solutamente nada a não ser uma coca-cola...porque eu vi
passando mas eu tava tão agoniada tão tensa sabe[...
223
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
B: [éh
V: mas diz que foi terível né?
porque os meios das cadeiras eram estreitas e não dava
pra ele passá né?
B: é... exato... aí ficava um avanço ficava uma coisa feia
(NELFE – F001)
36. Filha: papai, vou me casar no mês que vem
Pai: e o que é que ele faz?
37. No Recife, eles dirigem perigosamente naquele trânsito maluco.
(a) coleções: representadas por expressões como malta, tropa, grupo, que
sob o ponto de vista do agrupamento indicam indivíduos indistinta-
mente e constituem conjuntos abertos;
(b) classes: representadas por expressões tais como burguesia, aristocra-
cia, classe baixa, cujo agrupamento de indivíduos se dá por certas pro-
priedades similares ou objetivos comuns;
(c) grupos: tais como família, júri, comitê, equipe, que constituem classes
fechadas que agrupam indivíduos em sistemas e lhes dão a proprieda-
de de membros de uma instituição ou de uma classe.
224
Fala e escrita em questão.
225
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
226
Fala e escrita em questão.
227
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
228
Fala e escrita em questão.
30. /.../ no Amazonas por exemplo… que nós estivemos em Manaus… ah…
nós passamos uma tarde num… num lugar onde eles serviram uma refei-
ção e depois era só frutas… mas frutas que realmente nunca havia visto
/…/ completamente diferentes daquelas que nós estamos acostumadas
aqui no Rio /…/
229
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
34. Inf. /.../ ah e vi também com a Lisa a Lisa Minelli dois filmes inclusive o
Cabaré antes de ser premiado eu tinha assistido... e vi um outro que
ela fazia o papel duma moça toda queimada (mas) achei que ela
trabalhou excepcionalmente bem que eu me pego muito no paPEL
que eles estão fazendo... ((NURC/POA, DID, Inq. 121, linhas 638-
645))
230
Fala e escrita em questão.
231
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
/ ………/
V: eu tava lá dentro... mas sabe que eu não me servi de absolutamente
nada a não ser uma coca-cola... porque eu vi passando mas eu tava
tão agoniada tão tensa sabe[...
B: [éh
V: mas diz que foi terrível né?
porque as meios das cadeiras eram estreitas e não dava pra ele passá
né?
B: é... exato... aí ficava um avanço ficava uma coisa feia
Esta série não pretende ser exaustiva nem pode ser tomada como
uma proposta de tipologia. A intenção foi elencar algumas das ocorrên-
cias constatadas e certas formas de funcionamento mais comuns. Valeria
a pena uma análise rigorosa e controlada de um corpus representativo,
tanto da fala como da escrita para confirmar ou modificar a sugestão aqui
trazida. Veja-se, por exemplo, a dificuldade de situar os casos abaixo,
extraídos de uma entrevista do Projeto NURC de Salvador. Trata-se de
uma passagem em que a entrevistadora vinha indagando de sua entrevis-
tada (uma médica) a respeito das decisões de pôr a filha em colégio pú-
blico ou não e do problema do colégio hoje. Num dado momento, o
assunto é o ensino básico e seus diversos níveis. Nesse ponto, a docu-
mentadora indaga:
232
Fala e escrita em questão.
(38)
140 Doc— Exato. Bem, mas o... então, depois desse
141 maternal, qual é o outro tipo de escola a que a
142 criança chega? Depois do maternal, do infantil...
143 (superp)
144 FF— É o (superp) primário. É... é o primário, né...
145 Sim. (superp)
146 ... que eles (superp) não dizem mais primário
147 agora, né, é por série... Como... É um...
148 Doc- Primeiro, primeiro grau, né?
(NURC-SSA, DID, Inq. 231, linhas 140-148)
233
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
(39)
280 Doc— E agora (superp) reformaram também os
281 departamentos, né, aumentaram ou... reduziram, de
282 forma que...
282 FF— É, porque eles fizeram exatamente isso, porque
283 nós tínhamos duas cadeiras, duas disciplinas,
284 formando um departamento. Então, Dermatologia e
285 Moléstia Tropical seria um departamento só. Era
286 por número: departamento dez. Agora eles
287 resolveram agrupar mais: botar Clínica Médica,
288 Gastroenterologia, fazer um depart... Cardiologia,
289 tudo no Departamento de Medicina. Então, fizeram
290 quatro ou cinco departamentos: Medicina, Cirurgia,
291 Neuropsiquiatria e, se não me engano, Pediatria e
292 Puericultura, um departamento à parte.
(NURC-SSA, DID, Inq. 231, linhas 280-292)
234
Fala e escrita em questão.
8. Cognição e referenciação
235
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
(40)
81 Doc: professor R. ... já viajou de avião?
82 L2: já ... viajei de avião há dez anos atrás eu trabalhava com
83 um jornal e:: ... não era professor ... então minha
84 atividade era ... mais diversificada ... então viajei
85 bastante de avião ... andei MUIto também por aí afora de
86 avião ... e:: ... mas não gostava assim como ... parece que
87 o C. gosta né C.? quer dizer minhas viagens de avião
88 eram mesmo por negócio ... estritamente ... quando eu
89 podia fazer viagem de automóvel ou por outro meio eu
90 prefi/ ... sempre dei preferência ... talvez:: ... há dez anos
91 atrás os aviões não tinham o conforto de hoje ... e eu tive
92 uma experiência assim meio desagradável numa viagem de
93 um ...Viscount da VASP até por sinal ... pegamos um
94 desses:: ... CB que eles chamam né? e o avião quase caiu
95 comigo lá perto de Goiânia né e:: então ... isso também
96 ... colaborou para que eu não tivesse muito entusiasmo
97 em viagens aéreas sabe?
(NURC-SP, D2, Inq. 255, linhas 81-97)
236
Fala e escrita em questão.
9. Observações finais
237
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
238
Fala e escrita em questão.
Referências bibliográficas
239
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Referenciação e cognição: o caso da anáfora...
240
Fala e escrita em questão.
Dino Preti
Considerações iniciais.
241
PRETI, Dino. A gíria na língua falada e na escrita: uma longa história...
242
Fala e escrita em questão.
243
PRETI, Dino. A gíria na língua falada e na escrita: uma longa história...
“Visto que existem tantas lacunas, os leitores podem muito bem se per-
guntar se uma história social do falar é um empreendimento viável,
pelo menos antes do aparecimento dos gravadores. No entanto, no caso
da Europa ocidental do final da Idade Média em diante, existem algu-
mas fontes extremamente volumosas e razoavelmente confiáveis no que
diz respeito ao falar, em especial os registros de tribunais, onde toma-
va-se o cuidado especial de solicitar às testemunhas que depusessem
sobre a exatidão das palavras usadas em determinadas ocasiões. A
Inquisição, em especial, foi bastante longe nesse sentido. As instruções
dadas aos inquisidores romanos do século XVII, por exemplo, diziam-
lhes para garantir que o notário, que deveria estar presente em todos
os interrogatórios, transcrevesse ‘não só todas as respostas do acusa-
do, mas também todas as outras observações e comentários por ele
feitos, além de cada palavra por ele pronunciada sob tortura, incluin-
do-se cada suspiro, grito, gemido e soluço.’ Uma diretriz assustadora,
mas que tem sido inestimável para os historiadores.” (id. p. 35)
244
Fala e escrita em questão.
245
PRETI, Dino. A gíria na língua falada e na escrita: uma longa história...
to, que, atualmente, esse vocábulo está muito ligado a uma linguagem
técnica banalizada enfatizando “a afetação ou a pretensão, como o em-
prego daquilo que os ingleses do século XVI às vezes chamavam de
‘termos de tinteiro’ ou ‘tinteirismos’ e outras ‘palavras difíceis”. (Burke,
P. id. p. 18). Ou seja, o jargão “também gera uma verbosidade mistifica-
dora que é obscura para o público”, afirma Porter, referindo-se ao jargão
profissional dos médicos. (Porter, R. 1996: 57)
A gíria dos grupos restritos, teve, historicamente, seu estudo liga-
do à vida do submundo da contraversão e do crime, caracterizando-se,
no dizer de Burke, como “uma antilinguagem de uma contracultura ou
uma linguagem para marginais.” (Burke, P. 1996: 8) Essa espécie de
gíria sempre constituiu a maior fonte de pesquisas para historiadores,
sociólogos e lingüistas, possivelmente, observa o mesmo autor, “em ra-
zão da excitação para os sedentários acadêmicos de uma participação
indireta em um mundo secreto e proibido de sexo, trapaças e violência.”
(id. p. 13)
Mas há, também, vocabulários de grupos restritos que não se li-
gam ao crime. Assim, mais recentemente, tem-se estudado a gíria dos
estudantes (cf. Castro, A.F.: 1947; Connie, E. 1996), a gíria dos jovens
(cf. Rector, M. 1975; 1994), a gíria do futebol (cf. Fernandes, M.C.L.O.
1974; Proença, I.C. 198l; Feijó, L.C.S. 1994). etc.
Esses e outros grupos restritos, cujo vocabulário conserva tam-
bém suas características criptológicas, possuindo, ainda, uma feição lúdica,
têm ainda maior interação com a grande comunidade. E seus vocábulos,
em constante renovação, facilmente se misturam e são empregados na
linguagem comum, perdendo sua condição identificadora do grupo so-
cial. É o que costumamos chamar de gíria comum.
Hoje, o maior desafio dos pesquisadores do assunto reside na gí-
ria comum, isto é, na descaracterização do signo grupal e a conseqüente
dispersão desses vocábulos na linguagem comum, nos mais variados
contextos e situações de comunicação. Alguns lingüistas mais ortodoxos
chegam a negar a esses vocábulos, nesse estágio, a própria condição de
gíria, preferindo aceitá-los como vocábulos comuns (cf. Caradec, F. 1988).
246
Fala e escrita em questão.
O preconceito lingüístico.
247
PRETI, Dino. A gíria na língua falada e na escrita: uma longa história...
248
Fala e escrita em questão.
“De certa forma, podemos afirmar que, do ponto de vista que nos inte-
ressa, o lingüístico, o fato importante é que essa cultura de massa tor-
nou necessária uma uniformidade de produção que incidiu diretamen-
te sobre a linguagem. Novelas, noticiários, programas cômicos, divul-
gação científica, noticiário diário da imprensa, legendas de filmes de
cinema, propaganda etc. devem atingir um receptor padrão, sempre
que possível uniforme. Teoricamente não existe uma novela para pes-
soas cultas e outra para tele-expectadores de baixa escolaridade. Tor-
na-se necessário criar temas mais amplos, acessíveis a todas as clas-
ses sociais, dentro de seus interesses mais imediatos, ligados à realida-
de mais recente, dentro de uma linguagem que todos entendem. Daí o
processo de uniformização cultural e, por conseguinte lingüístico. Re-
cebemos, cultos e incultos, um lazer e uma informação iguais, numa
linguagem que todos entendem, que não favorece a reflexão, nem ins-
tiga a dúvida, muito menos gera a incompreensão. Eis instaurada a
norma lingüística da mídia, mistura dos hábitos lingüísticos orais e
escritos, atenta às transformações constantes, à ‘moda lingüística’, à
maneira mais original ou expressiva de dizer as coisas no momento,
muito mais voltada para a linguagem popular que, assim, ganha ines-
perado prestígio social. (Preti, D. 1998: 121)
249
PRETI, Dino. A gíria na língua falada e na escrita: uma longa história...
“Estado não tem grana para cobrir títulos ilegais.” (Jornal da Tarde,
25-11-96)
“Outro bafafá nas contas dos Salinas.” (Veja, 12-6-98)
“O dia em que o Vasco eternizou a maracutaia.” (Jornal da Tarde, 22-
12-97).
“A mulher, casada, havia mantido relações sexuais com outro homem
logo depois de ter transado com o marido.” (O Estado de S.Paulo, 1º-
1-98)
“Na madrugada de ontem, o bailarino Valdomiro Muniz de Santana, 39,
conhecido como Sulimana, chegou do desfile da Viradouro e encontrou
seu apartamento todo bagunçado.” (Folha de S.Paulo, 25-2-98)
“Estréia de Ratinho, na terça, bagunça o coreto do SBT.” (O Estado de
S.Paulo, 6/9/98)
“Timão cata o caneco na porrada. Aos 30 do 2º tempo Edílson humi-
lhou. O Verdão pirou. O pau comeu e o jogo não acabou.” (Notícias
Populares, 21-6-99)
“Artistas no susto com a uruca de 94”. (Notícias populares, 27-12-94)
“A saia justa da festa de Sasha ficou por conta do trio Luciano Huck-
Ivete Sangalo-Eliana.” (Folha de S.Paulo 29-7-99)
“O espaço era tão grande que a saia nem ajustou, quando os ex se
encontravam – se é que se encontravam...” (Folha de S.Paulo, 29-7-
99)
“Pistolas, ameaças e fuzuê – A vereadora Maria Helena, presa com oito
armas de fogo em casa, enreda-se em mais um rolo que envolve chanta-
gem e complôs de assassinato” (Veja São Paulo, capa, 9-15/8/99)
250
Fala e escrita em questão.
do jornal ou revista etc.) pode até ser considerado como um uso adequa-
do, com objetivo de criar uma interação mais satisfatória com o leitor, no
caso da imprensa.
Os manuais da redação dos grandes jornais, porém, continuam
fazendo sérias restrições ao seu uso, embora, em geral, os redatores pas-
sem por cima de tais regras e, cada vez mais, utilizem esse vocabulário:
Tal atitude faz parte do que Dias, A.R.F. (op. cit. P. 40-4l) denomi-
na de pretensas “leis de boa conduta lingüística” adotadas pelos jornais,
bem como de um resquício ainda vivo do purismo lingüístico (Leite, M.
Q. 1999: 230-40).
A presença, apesar de tudo, da gíria, nos jornais de “elite”, pode
ser justificada pelo fato de boa parte desses vocábulos ter perdido sua
condição de vocabulário fechado, ampliando-se seu uso, perdida a noção
de sua origem. Mas não é o caso de alguns dos vocábulos citados antes,
como saia justa, por exemplo, ainda de sentido pouco divulgado, porque
restrito aos ambientes da noite e da alta sociedade. Sua presença, no
noticiário geral do jornal, apenas indica uma das características impor-
tantes da ampliação do uso da gíria: sua divulgação para a linguagem
comum com a conseqüente perda do signo de grupo.
251
PRETI, Dino. A gíria na língua falada e na escrita: uma longa história...
252
Fala e escrita em questão.
253
PRETI, Dino. A gíria na língua falada e na escrita: uma longa história...
(Professor):
“Não adianta o marido ou a mulher reclamar um milhão de vezes,
alerta o professor Aílton. Ninguém convence ninguém argumentando
que a casa está uma bagunça.” (Veja, 11/8/99, p. 104).
Apresentador de TV:
“Por fim o apresentador Cid Moreira, no Fantástico: ‘ Príncipe Negro
das noites de domingo, você é espada?’ trovejou Cid. ‘Claro! Além de
espada sou sortudo.” (Veja, 4/8/99, p. 113)
Jornalista:
“Mas acredito que os outros 35 episódios sejam mesmo fruto da ação
de quem curte o prazer sádico de ver o circo pegar fogo.” (Veja, 4/8/
99, p. 121)
Deputado:
“Referiu-se em seguida a uma nota que apontava a existência de
maracutaia legítima na decisão do Senado” (O Estado de S.Paulo, 15/
3/97, p. A-18)
254
Fala e escrita em questão.
Economista:
“O exemplo mais recente foi o do presidente do BNDS, manifestando-
se contra a ‘abertura babaca’, desconhecendo que abertura, como
democracia não admite qualificativos. (...) Mas nem só de babacas
compõe-se o governo.” (Folha de S.Paulo, 1º/4/97, p. 2-2)
Delegado de Polícia:
“Em seu passaporte consta que ele chegou ao Brasil em 24 de maio.
Geralmente as mulas só ficam por aqui por cerca de quatro a cinco
dias.” (Folha de S.Paulo, 6/10/96, p. 3-13)
Ministro:
“O que foi feito recentemente não foi – como dizem os mais afoitos e
açodados de sempre – um liberar geral, um soltar a franga no que diz
respeito à cobrança de tarifas bancárias, disse Malan.” (Folha de
S.Paulo, 6-9-96, p. 2-7)
Considerações finais.
255
PRETI, Dino. A gíria na língua falada e na escrita: uma longa história...
Referências bibliográficas.
256
Fala e escrita em questão.
257
PRETI, Dino. A gíria na língua falada e na escrita: uma longa história...
Ficha técnica
258