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1 - Apostila - Propriedades Mecanicas PDF
1 - Apostila - Propriedades Mecanicas PDF
Aula 1
Introdução
Ao longo do tempo, a exploração madeireira fixou-se nas madeiras nobres, de melhor aspecto e mais
estáveis, utilizadas na confecção de produtos de maior preço. Em móveis, na construção naval e na
construção civil, em peças de decoração e acabamento.
Isso resultou numa “caça” a determinadas madeiras, muitas vezes de ocorrência minoritária na
Floresta Amazônica e, antes dela, na Mata Atlântica.
Ainda hoje, hectares de mata são destruídos para a extração dos exemplares procurados pelo
comércio. Centenas de árvores, derrubadas apenas para “abrir caminho”, são abandonadas aos
cupins e ao apodrecimento. Ou são queimadas para dar lugar a pastagens.
Porém, toda a madeira é matéria-prima nobre. Todas têm utilidade e podem encontrar alguma
aplicação. Se o mercado exige espécies mais rentáveis, as demais poderão ser usadas com
resultados semelhantes, a custos baixos.
A madeira, qualquer madeira, enobrece a construção civil e o mobiliário. Certamente alguns clientes
exigirão madeiras famosas, dispostos a pagar preços elevados, mesmo sem saber exatamente por
quê.
Quantos compram “mogno brasileiro”, ignorando que não se trata de mogno verdadeiro? Bem
orientadas, pessoas de bom-senso aceitarão outras madeiras, se suas características lhes forem
explicadas. E estarão bem servidas. Madeira é sempre um belo material.
Enobrece o acabamento e é muito mais agradável ao tato do que o aço, a cerâmica ou o plástico,
considerados materiais “frios”.
Secada de maneira correta, a madeira ganha mais estabilidade e resistência. Devidamente tratada – e
toda madeira deve ser tratada – adquire durabilidade extraordinária.
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Bom exemplo disso é o pinus autoclavado, aquele tratado com preservativo, sob alta pressão. Esse
material é empregado em deques, passarelas, trapiches e outras obras externas, com durabilidade
garantida por dez anos, no mínimo.
Aos usos mais grosseiros, devemos destinar as madeiras exóticas de reflorestamento, como a de
eucalipto e a de pinus, após o tratamento adequado.
A substituição das espécies de maior valor econômico é difícil, pois implica em mais pesquisas,
adaptação de máquinas e no convencimento da clientela, o que significa um esforço árduo. Mas esse
é o melhor caminho para a utilização racional do que resta de nossas florestas. É necessário pesquisar
quais das espécies disponíveis podem substituir as que são raras. Qual tratamento tornará a madeira
encontrada parecida e tão durável quanto a antiga madeira de lei.
Nos EUA, a madeira é o material de construção mais usado, com uma produção anual que ultrapassa
todos os outros materiais de engenharia, incluindo o betão (concreto) e o cimento. Além da madeira
ser utilizada nas estruturas e nos revestimentos de casas, edifícios, pontes, etc., é também utilizada
para o fabrico de materiais compósitos como, por exemplo, compensados, painéis reforçados e papel.
Materiais são substâncias com as quais se fazem coisas. Desde os primórdios da civilização, o homem
em usado os materiais, conjuntamente com a energia, para melhorar os seus padrões de vida. Os
materiais são parte integrante da nossa vida, uma vez que os produtos são feitos de materiais.
Madeira, concreto, tijolo, aço, plástico, vidro, borracha, alumínio, cobre e papel são alguns materiais
freqüentemente utilizados. No entanto, existem muitos mais tipos de materiais, bastando olhar à nossa
volta para o constatar. Em resultado das atividades de IDT (investigação e desenvolvimento
tecnológico), novos materiais são, frequentemente, inventados.
Os materiais competem uns com os outros, na conquista dos mercados atuais e futuros. No decurso
de determinado período de tempo, podem surgir vários fatores que levam a que, para determinadas
aplicações, um material seja substituído por outro. O preço é, certamente, um desses fatores. Se
ocorrer um desenvolvimento no modo de processamento de um certo tipo de material que tenha como
conseqüência uma diminuição significativa de seu custo, é provável que este material possa substituir
outro em algumas aplicações.
Outro fator que contribui para a substituição de materiais é o desenvolvimento de um novo material
com propriedades mais adequadas para as aplicações pretendidas. Assim, ao longo de um certo
período de tempo, o grau de utilização dos diferentes tipos de materiais sofre modificações.
No Brasil, o uso da madeira é bastante difundido, embora nem sempre em nível tecnológico adequado.
Por isso, torna-se patente a conveniência de serem realizados estudos para viabilizar a utilização das
espécies ainda não conhecidas a partir de procedimentos experimentais normalizados.
Os brasileiros sempre gostaram de pensar que o Brasil tem as maiores reservas florestais do mundo.
Em 1973, as florestas remanescentes no Brasil ocupavam a área de 3,5 milhões de km2,
representando 12% da área mundial de florestas e, na oportunidade, ocupava o segundo lugar mundial
em extensão.
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Segundo a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação, 2008) duzentos e onze milhões de hectares, ou
25% do território nacional, era o tamanho do total de florestas públicas cadastradas no Brasil, em
2008. O dado foi divulgado pelo Sistema Florestal Brasileiro, órgão ligado ao Ministério do Meio
Ambiente, e representa um crescimento de 11,26% em relação ao ano de 2007, quando foram
catalogados 194 milhões de hectares. Pode-se imaginar a importância econômica do material madeira
no Brasil.
Apesar do grande número de espécies nativas, muito ainda deve-se fazer no sentido da caracterização
de madeiras, quer sejam nativas (principalmente) ou de reflorestamento, incluindo cones e
melhoramentos genéticos que podem advir da Engenharia Florestal.
Assim, o estudo das madeiras e de sua caracterização mecânica é de fundamental importância para
que se possa alcançar melhor utilização desse material, ao lado daqueles cujas propriedades são
largamente conhecidas, quaisquer que sejam os segmentos industriais envolvidos.
A Madeira na História
A história registra claramente que a madeira tem sido o esteio de muitas culturas passadas. O seu uso
inicial era para prover abrigo, preferencialmente uma função para a qual ainda serve hoje em dia.
Através da História, a madeira foi utilizada como matéria-prima para a construção de veículos de
transporte, dentre eles embarcações. Terras com florestas (como fonte de madeira para a construção
de navios) eram essenciais para as nações que controlavam os mares para negociar ou para
expansão territorial. Os cedros do Líbano, os carvalhais da Nova Inglaterra, são todos exemplos de
fontes de madeira foram utilizadas para a construção naval.
Os laminados de madeira e o papel foram produzidos pelos egípcios há mais de três mil anos. Estes
dois produtos, que hoje recebem uma extensiva utilização ao redor do mundo, foram os dois primeiros
compósitos preparados de madeira e de fibra de madeira.
Importância Econômica
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1970, foram utilizados mais produtos de madeira no setor da construção do que todos os outros
materiais de construção combinados. Além disso, no mundo presente, o consumo de madeira sozinho
– cerca de um bilhão de toneladas por ano – equivale a toda a produção mundial de aço e ferro.
Nos EUA, a madeira é o material de construção mais usado, com uma produção anual que ultrapassa
todos os outros materiais de engenharia, incluindo o betão (concreto) e o cimento. Além da madeira
ser utilizada nas estruturas e nos revestimentos de casas, edifícios, pontes, etc., é também utilizada
para o fabrico de materiais compósitos como, por exemplo, compensados, painéis reforçados e papel.
A madeira é um dos muitos recursos naturais na produção de energia e alimentos, relacionando-se por
isso com a população, indústria, poluição e saúde humanas. Temos que considerar que, de maneira
gradual, todas estas funções essenciais da sociedade humana estão inteiramente relacionadas entre
si, e que ajustes numa delas podem alterar substancialmente as outras. A diminuição dos níveis de
poluição e o suprimento de energia têm agregado valor sobre a capacidade produtiva dos sistemas
naturais, tais como florestas.
A sua capacidade de absorver poluentes ao mesmo tempo em que utiliza energia solar para a
produção de biomassa tem, de fato, dado às florestas um lugar importante na economia mundial. Sua
importância só tende a aumentar num mundo que vê sua realidade se tornar cada vez mais crítica no
que diz respeito às fontes de matéria-prima.
A anatomia da madeira e o exame dos seus principais tecidos muito nos informam, na prática, sobre o
comportamento de suas partes. Qual é seu nível de resistência a fungos e insetos xilófagos, às
deformações e ao “trabalho” a que está sujeita. O aspecto, a anatomia e a disposição dos tecidos
lenhosos da madeira dependem estritamente da espécie vegetal que a originou.
As coníferas, do grupo das gimnospermas, têm um lenho completamente distinto do das angiospermas
dicotiledôneas, ao qual pertencem quase todas as árvores que produzem madeira no Brasil.
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Variabilidade inerente da madeira
A madeira é um material compósito que ocorre na natureza e que é formado, fundamentalmente, por
um arranjo complexo de células de celulose reforçadas por uma substância polimérica denominada
lignina e por outros compósitos orgânicos.
Devido a sua origem natural, as propriedades físicas da madeira freqüentemente exibem um vasto
grau de variabilidade não usual. Essas variações são, em parte, o resultado das condições de
crescimento da madeira produzida a partir de fatores de desenvolvimento tais como o clima, o solo,
suprimento de água, nutrientes disponíveis, etc.
Além disso, todas as propriedades da madeira são em parte hereditárias; conseqüentemente, uma
porção substancial da variabilidade natural da madeira pode ser atribuída a diferenças no código
genético. Por exemplo, não é usual a densidade da madeira variar trinta vezes entre espécies, cinco
vezes dentro de uma mesma espécie e três vezes dentro de um mesmo anel de crescimento.
A estrutura interna complexa da madeira tornam complicadas as suas propriedades físicas, e dão a ela
um comportamento anisotrópico, ou seja, as propriedades físicas e mecânicas diferem em diferentes
direções dentro do material. A anisotropia é reconhecida a vários níveis de organização do material.
Tipos particulares de anisotropia podem ser identificados (1) dentro de uma camada de uma célula da
madeira, (2) na parede celular como um todo, (3) na célula inteira, (4) na agregação das células e, (5)
finalmente na agregação de muitos tipos de tecidos de madeira.
Além da variabilidade e anisotropia naturais da madeira, ela é porosa e não homogênea. Estas
propriedades são comumente reconhecidas por usuários casuais da madeira. A estrutura porosa toma
diferentes formas de acordo com as espécies. Nas espécies hickory, oak (carvalho) e ash a magnitude
é tal que os poros podem ser observados a olho nu.
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(a) (b)
Em outras espécies tais como o beech e maple, a porosidade é menos observável. A não-
homogeneidade refere-se a diferentes propriedades de ponto a ponto no material. Um nó, por
exemplo, é uma não-homogeneidade em uma prancha.
Os nós, entretanto, estão entre as formas mais óbvias da não-homogeneidade da madeira. Outras
formas mais sutis, tal como madeira juvenil e zonas de madeira mais velha, podem ser críticas no uso
da madeira.
(a) (b)
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Tais fontes de variabilidade têm introduzido numerosas dificuldades no processamento e utilização da
madeira. No passado, algumas destas dificuldades poderiam ser contornadas pela utilização seletiva
de certas espécies e na confiança nas classes de madeira maiores e mais velhas possuírem maior
uniformidade.
Agora é claro, entretanto, que nós não estamos longe de ser capazes de possuir tais “excentricidades”.
Mais e mais espécies são caracterizadas em pequenos tamanhos e maior variabilidade. Onde no
passado a remanufatura da madeira foi limitada, a sua utilização futura deve requerer extensiva
remanufatura para prover os tipos de materiais necessários para a economia moderna.
Físicos:
Umidade;
Densidade;
Estabilidade dimensional.
Mecânicos:
Botânica
Esta classificação, entretanto, induz a um erro já que muitas das espécies de madeira “mole” são um
tanto mais duras do que as chamadas madeiras “duras”. A distinção entre os dois grupos que são
baseadas nas características anatômicas são muito mais precisas.
A energia radiante do sol é usada para a produção de celulose e de moléculas orgânicas mais
complexas encontradas nos tecidos das árvores. O maior volume de energia investido, particularmente
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durante os anos iniciais do crescimento da planta, finalmente obtém a forma de tecidos. Se usada pelo
homem ou deixada em seu desenvolvimento natural, a madeira passa a níveis de decomposição no
ecossistema.
A decomposição retorna os elementos para o solo e para o ar na forma processada outra vez através
do sistema. Esta é uma característica renovável da madeira que torna-a uma fonte de material atrativo.
Gimnospermas
As árvores estão no grupo das coníferas, cujo aglomerado de sementes tem formato cônico. Suas
folhas (ou, mais exatamente, acículas), como as do Pinus, assemelham-se a escamas ou a agulhas
compridas.
Costumam ser chamadas de softwoods (madeiras moles), que ainda hoje dominam as florestas do
Hemisfério Norte e respondem por quase metade do consumo mundial de madeiras.
Duas famílias nativas de coníferas no Brasil: Podocarpaceae (P. brasiliensis; P. lambertii; P. Selowri) –
produção sem expressão econômica.
A segunda família é: Araucariaceae – tem apenas um gênero, com uma espécie: Araucaria angustifólia
– Regiões Sul e Sudeste.
Reflorestamento: coníferas do Hemisfério Norte, nas Regiões Sul e Sudeste – pinus das espécies
taeda, ellioti e caribaea var. hondurensis – crescimento destas árvores: 2 cm/ano (diâmetro) – madeira
menos rija. Geralmente mantém as suas folhas.
Angiospermas
Monocotiledôneas, nas quais o fruto não tem a semente dividida. Somente a família Palmaceae produz
troncos arbóreos (coqueiros, árvores que não produzem exatamente madeiras);
Dicotiledôneas, que possuem sementes divididas em dois cotilédones. Também chamadas “folhosas”,
costumam perder as folhas no outono/inverno e respondem pela quase totalidade da produção
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madeireira no Brasil (são milhares de espécies). Também são conhecidas como hardwoods (madeiras
duras). Perdem suas folhas anualmente (folhas caducas).
Meliaceae: Madeiras estáveis. Apresentam boa trabalhabilidade, boa resistência a fungos e xilófagos e
peso moderado. Espécies: cangerana (pau-de-santo), andiroba, cedro-rosa, mogno-brasileiro e
catiguá.
Lauraceae: Madeiras estáveis e de múltiplas aplicações: esquadrias, móveis, construção civil e naval.
Espécies: louro, canela, imbuia e itaúba (amarela e preta).
Moraceae: Excelentes madeiras. São as madeiras brasileiras com mais altos coeficientes de qualidade
segundo o IPT/SP, comparáveis à teca – Tectona Grandis (da Índia). Espécies: figos, amoras, conduru
ou guariúba.
Araucariaceae: Madeira excepcional, versatilidade inigualável, para usos nobres. Espécie: Araucária.
Bibliografia:
BODIG, J.; JAYNE, B. A. Mechanics of wood and wood composities. 2. ed. Malabar: Krieger
Publishing Company, 1993. 712p.
SMITH, W. F. Princípios de ciência e engenharia dos materiais. 3. ed. Portugal: McGraw – Hill Ltda,
1998. 892p.
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Propriedades Mecânicas da Madeira
Aula 2
Sintetizando o pensamento de diversos autores, OLIVEIRA (1998) registra ser a atividade florestal
uma das poucas que, com a utilização de métodos racionais de exploração, poderá conjugar a
expansão econômica à conservação da qualidade da vida. Trata-se do chamado desenvolvimento
sustentado, possível de ser proporcionado pelo setor florestal, não apenas através da produção direta
da madeira e dos produtos dela derivados, mas também na geração de outros bens indispensáveis ao
tão desejado equilíbrio ecológico. Tais bens podem ser exemplificados como:
a melhoria da qualidade do ar pela fixação do dióxido de carbono e pela liberação do oxigênio
decorrentes da fotossíntese;
a manutenção da biodiversidade com a preservação da fauna e da flora, associada ao
conveniente manejo florestal convenientemente conduzido;
redução da incidência de áreas erodidas e de suas graves conseqüências.
Relativamente aos recursos florestais naturais brasileiros, especial atenção deve ser dada à
Floresta Amazônica, que ocupa uma área de aproximadamente 280 milhões de hectares (2,8 milhões
de quilômetros quadrados) nas regiões norte e centro-oeste do país, abrangendo os estados: Acre,
Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, representando em
torno de trinta e três por cento do território nacional.A Floresta Amazônica tem reservas estimadas em
50 bilhões de metros cúbicos de madeira, distribuídos por mais de 4.000 espécies arbóreas, conforme
o registro de REZENDE e NEVES (1988).
BRUCE (1976), em trabalho patrocinado pelo então IBDF (Instituto Brasileiro do Desenvolvimento
Florestal) e pela FAO (Food and Agriculture Organization), destacou que, em 1975, apenas sete
espécies tinham importância significativa no panorama brasileiro de comércio internacional,
representando perto de noventa por cento do volume de madeira exportada: Cedro (Cedrella fissilis),
Virola (Bagassa surinamensis), Mogno (Swietenia macrophylla), Andiroba (Carapa guianensis),
Maçaranduba (Manilkara huberi), Assacu (Hura crepitans) e Jatobá (Hymenaea stilbocarpa). Em artigo
publicado em 1991, afirma VANTOMME (1991) que o Mogno e a Virola representaram, em 1988,
respectivamente 47 e 21% do volume de madeira tropical exportada, sendo os restantes 32%
provenientes de outras trinta espécies arbóreas.
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Ainda são necessárias providências enérgicas para reduzir a taxa de desmatamento, destacando-se:
incentivo à aplicação dos procedimentos de manejo florestal auto-sustentado;
divulgação das informações tecnológicas disponíveis a respeito de espécies alternativas de
madeira caracterizadas pelos diversos institutos de pesquisa que se ocupam desta tarefa;
manutenção e incremento dos programas de pesquisa para caracterização de espécies
nativas;
campanhas de conscientização a serem realizadas junto aos mercados nacional e internacional
sobre a conveniência da substituição de espécies.
No que diz respeito às florestas plantadas, a opção prioritária brasileira envolveu dois gêneros: o
Pinus e o Eucalyptus, visando a produção de madeira para suprir algumas necessidades particulares
de utilização. É claro que os números que descrevem a disponibilidade de madeira de reflorestamento
no Brasil são modestos se comparados aos de espécies nativas.
Deve-se considerar, também, a produtividade volumétrica de madeira nas diferentes regiões do
país, que varia entre 50 m³/ha/ano em áreas da Floresta Amazônica e 20 m³/ha/ano em áreas de
reflorestamento no sul e no sudeste do país. Na Finlândia, nação cuja economia está fortemente
alicerçada no desempenho do setor florestal, produz-se, em média, 5 m³/ha/ano. Nos Estados Unidos
da América do Norte chega-se, no máximo, a 15 e, na África do Sul, a 18. Sem dúvida, são números
que expressam a vocação florestal do Brasil. Sua importância é ainda maior num momento histórico
onde, mais do que a conscientização do nosso potencial, é preciso o convencimento de que utilizá-lo
inteligentemente não é uma utopia inalcançável mas, sim, uma necessidade inadiável.
No Brasil, a madeira é empregada, com freqüência, para fins estruturais, na solução de problemas
relacionados a coberturas (residenciais, comerciais, industriais), cimbramentos (para estruturas de
concreto armado e protendido), travessia de obstáculos (pontes, viadutos, passarelas para pedestres),
armazenamento (silos verticais e horizontais), linhas de transmissão (energia elétrica, telefonia),
benfeitorias rurais, entre outros.
Além disto, é muito empregada na fabricação de componentes para a edificação, como painéis
divisórios, portais, caixilhos, lambris, forros, pisos. A indústria moveleira e a indústria de embalagens
usam largamente a madeira e os produtos dela derivados, tais como chapas de diferentes
características. Outros usos podem ser mencionados: nos meios de transporte (barcos, carroçarias,
vagões de trem, dormentes), nos instrumentos musicais, em artigos esportivos, nas indústrias de
bebidas, de brinquedos, de fósforos, de lápis e de papel.
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Tal emprego vem se mantendo crescente, apesar dos conhecidos preconceitos inerentes à
madeira, sempre relacionados principalmente a:
insuficiente divulgação das informações tecnológicas já disponíveis acerca de seu
comportamento sob as diferentes condições de serviço;
falta quase sistemática de projetos específicos, desenvolvidos por profissionais habilitados.
Por exemplo, tem sido usual, mas não é o ideal, que as estruturas de madeira sejam concebidas
por oficiais carpinteiros, muitas vezes bem intencionados, mas na preparados para essa tarefa. Outro
exemplo é a existência de numerosas marcenarias que trabalham com equipamentos ultrapassados e
mão-de-obra pouco qualificada, prejudicando a qualidade dos produtos finais.
Os problemas daí decorrentes incentivam a formação de uma mentalidade distorcida por parte dos
usuários. São muito comuns móveis e estruturas de madeira construídos deste modo, contaminadas
pelo deconhecimento das características do material e pela inexistência de projeto. Ao mesmo tempo,
outras idéias errôneas são divulgadas, como a que associa o uso da madeira à devastação de
florestas, fazendo parecer que o referido uso se constitui numa perigosa ameaça ecológica.
É importante ser lembrado, também, que o crescimento, a extração e o desdobro de árvores
envolvem baixo consumo de energia, além de não provocarem maiores danos ao meio ambiente,
desde que providenciada a respectiva reposição. Outros materiais estruturais, como o aço e o concreto
armado, são produzidos por processos altamente poluentes, antecedidos por agressões ambientais
consideráveis para a obtenção de matéria-prima. Os referidos processos requerem alto consumo
energético e a matéria-prima retirada da natureza jamais será reposta. O contrário se verifica com a
madeira, que se renova mesmo sob rigorosas condições climáticas.
Outro aspecto que favorece a madeira é sua alta resistência em relação à densidade. Conforme
consta na Tabela 1, a seguir, essa razão é quatro vezes superior ao aço e dez vezes superior ao
concreto.
Tabela 1 – Materiais estruturais – dados comparativos.
Material A B C D E F G
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conhecimentos relativos ao comportamento da madeira sob diferentes solicitações mecânicas, com a
elaboração de projetos adequadamente fundamentados nos conceitos mais atualizados de segurança,
e com a construção obedecendo aos critérios de qualidade envolvendo material e mão-de-obra, já
adotados para outros materiais.
Considera-se estrutura macroscópica da madeira aquela visível a olho nu ou, no máximo, com o
auxílio de lentes de dez aumentos. Neste nível são possíveis algumas distinções.
A madeira é um produto natural com uma estrutura complexa e, por isso, não podemos esperar
que com ela se possa obter um produto homogêneo, como é, por exemplo, uma barra de aço ou uma
peça de termoplástico moldado por injeção. A resistência da madeira é altamente anisotrópica, sendo
a sua resistência à tração muito maior segundo a direção paralela ao tronco da árvore.
O tronco de uma árvore produtora de madeira pode ser descrito, de forma simplificada, como uma
pilha de cones superpostos. O corte transversal de um tronco apresenta um desenho de círculos
concêntricos, chamados anéis de crescimento ou anéis anuais. Em clima temperado, um anel “anual”
típico apresenta duas faixas:
Lenho inicial (primaveril): mais largo e mais brando, do início do calor, das chuvas e dos
ventos, que vergam a árvore, bombeando água tronco acima;
Lenho tardio (estival ou outonal): mais compacto e mais rijo, produzido no tempo calmo,
quando caem as chuvas e pouco chove.
O termo anel anual não é adequado, pois podem surgir falsos anéis devido a estímulos ao
crescimento recebidos fora da época, por volta de veranicos, de um outono chuvoso, ou de outros
fatores. Também não é adequado, no Brasil, de múltiplos climas, chamá-los de primaveris e outonais,
o que é correto em clima frio.
O tronco apenas amplia seu diâmetro a cada ano, ganhando mais dois anéis, mas não “cresce” no
sentido vertical, o que só ocorre com as pontas dos galhos. Os anéis de crescimento são
especialmente visíveis nas coníferas, o seu lenho inicial tem uma cor mais clara e o tamanho das
células é maior.
As árvores de clima temperado e subtropical apresentam anéis mais distintos (mais contrastados)
do que os das árvores de clima tropical, nas quais o contraste é pequeno. Entretanto, sempre há uma
diferença, pois nos trópicos, inverno não significa frio, mas seca, e verão quer dizer chuva. No clima
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frio, a árvore entra em dormência total logo após o outono, parando de crescer. Os anéis apresentarão
um contraste abrupto com as da próxima primavera.
Examinando o corte transversal feito numa árvore, como o da Figura 1, podemos identificar as
regiões importantes da estrutura em camadas. Na mesma, indica-se o nome e a função de cada uma
dessas regiões.
Figura 1: Corte transversal do tronco de uma árvore: anéis de crescimento e camadas. Fonte:
GONZAGA, A. L.
a) Casca exterior (ritidoma): seca, morta e totalmente inerte, tem apenas a função protetora
para o tronco. Ela se racha ou se solta.
b) Floema (casca interior): é úmida, macia e tem como função principal o transporte da seiva
elaborada a ser distribuída ao câmbio e ao alburno. Transporta o alimento desde as folhas até
todas as partes em crescimento da árvore.
c) Câmbio: é uma película de espessura microscópica, o tecido que produz o crescimento
diametral do tronco, que gera um anel exterior para o floema, e um interior para o xilema. É
chamado de lenho inicial, o tecido de células maiores, menos densas e de lenho tardio, o lenho
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de células menores, com tecido fibroso mais denso, em geral mais escuro. Esses anéis,
alternados revelam, além da idade da árvore, as condições climáticas que prevaleceram na
época de seu desenvolvimento.
d) Xilema: é a madeira, propriamente dita. Divide-se em:
(I) alburno (lenho ativo ou sapwood), as camadas externas e mais jovens de crescimento
constituem o alburno, adjacente ao câmbio, de tecido mais brando, mais claro, mais
fraco e menos resistente a fungos e insetos (menos em algumas madeiras das folhosas
e nas coníferas em geral), por onde sobe a seiva vinda das raízes e que contém
algumas células vivas, que armazenam alimentos e que transportam a seiva bruta
desde as raízes até as folhas da árvore.
(II) cerne (durame ou heartwood), composto pelas camadas mais internas e mais antigas
do tronco, formado pela deposição de resinas, óleo, cera e outras substâncias de alto
peso molecular na camada mais interna do alburno, tornando-se mais escuras, com
maior resistência à demanda biológica. Essa camada é anexada anualmente ao cerne.
É a região interior, mais antiga do tronco da árvore, formada por células mortas.
Geralmente as suas camadas são mais escuras do que as do alburno e dão resistência
à árvore. Pode-se dizer que, quanto mais contrastado do cerne, mais fraco e vulnerável
será o alburno. A cor mais escura é devida a deposição de extrativos por processos
fisiológicos das células do xilema. Esses extrativos podem influenciar substancialmente
algumas das propriedades físicas da madeira. É freqüentemente menos permeável e
mais resistente a degradação do que o alburno, com coloração mais clara.
e) Medula: tecido macio, no centro do tronco da árvore, em volta do qual se realiza o primeiro
crescimento da árvore. Tem características específicas, em geral menos favoráveis em relação
à madeira propriamente dita. A partir da medula, as camadas de crescimento se dispõem em
arranjos concêntricos.
Ao cortar o tronco longitudinalmente como mostra a Figura 2, tangenciando e também seccionando
os anéis para se obter tábuas, esses cones produzirão desenhos na face da madeira. Chama-se esse
corte de tangencial. Se o corte é feito da periferia para o centro (medula) é chamado de radial, pois
acompanha o sentido dos raios.
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Figura 2: Corte tangencial do tronco de uma árvore. Fonte: GONZAGA, A. L.
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Sua anatomia é mais simples. O principal elemento (cerca de 90%) do xilema são os traqueídeos
fibrosos, tecidos constituídos por pequenos tubos de dois a seis milímetros de comprimento e até 60
m (0,06mm) de diâmetro, com comunicação pelas extremidades, através de válvulas denominadas
pontuações. Segundo diversos autores, os traqueídes têm a função de conduzir a seiva bruta (no
alburno), de depósito de substâncias polimerizadas (no cerne), de conferir resistência mecânica ao
tronco e, como conseqüência, às peças a serem utilizadas para as diferentes finalidades.
Têm dupla função: conduzem a seiva ascendente e garantem a estrutura do tronco. O grande
espaço aberto no centro das células é chamado de lúmen, usado para o transporte de água. As
células do lenho inicial têm diâmetro relativamente grande, paredes finas e um lúmen de grandes
dimensões. As células do lenho tardio têm um diâmetro menor e paredes espessas, com um lúmen
menor do que as células do lenho inicial. As pontuações, pequenas válvulas de passagem, fazem a
seiva passar de um elemento tubular para outro, e também distribuir-se por todos os tecidos. Num
corte transversal da tora, examinando com lente (aumento de dez vezes), o conjunto dos traqueídeos
lembra, de forma simplificada, um aglomerado de canudinhos de refrigerante (Figura 3).
Os raios são conjuntos de células alongadas e achatadas, dispostos horizontalmente, da casca à
medula. Podem constituir até 10% da madeira das Coníferas e têm a função principal de conduzir a
seiva elaborada da periferia do lenho em direção à medula.
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Mais de quinhentas espécies de coníferas já foram classificadas, segundo HARLOW e HARRAR
(1958). Na América do Sul se encontra uma Conífera típica: o Pinho do Paraná (Araucaria
angustifolia). Situa-se no Brasil uma parte expressiva da zona de crescimento dessa espécie,
englobando os estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. O consumo interno e a
exportação em larga escala promoveram grave redução das reservas nativas do Pinho do Paraná.
Entretanto, experiências conduzidas em algumas áreas do oeste paranaense evidenciaram a
possibilidade de reflorestamento com esta essência, e os resultados têm sido animadores. O gênero
Pinus, com algumas dezenas de espécies, também pertence às Coníferas. Sua introdução no Brasil
vem obtendo sucesso, com destaque para o Pinus elliottii, o Pinus taeda, o Pinus oocarpa, algumas
variedades do Pinus caribaea (hondurensis, bahamensis, caribaea, cubanensis), entre outras.
Nas araucárias, os traqueídeos alcançam até seis milímetros de comprimento (árvores de fibra
longa). São utilizadas, por esse motivo, para a fabricação de papéis mais finos e possuem alta
resistência a tração.
Os raios, tecidos semi-permeáveis destinados a levar a seiva elaborada aos tecidos do interior da
planta, correm horizontalmente do floema para o centro da tora.
As pináceas apresentam um outro tipo de tecido não encontrado nas demais coníferas, os canais
resiníferos, que correm no sentido longitudinal do tronco.
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função de transporte ascendente da seiva bruta (no alburno) e de depósito de substâncias
polimerizadas (no cerne).
Fibras: células longas de parede grossa. Apresentam um vazio interior chamado lúmen.
Medem de 0,5 a 2,5 mm, possuem seção transversal vazada e arredondada, paredes de
espessura superior à dos vaso, não possuindo comunicação através das extremidades.
Podem constituir, dependendo da espécie, até 50% da madeira das Dicotiledôneas, sendo
responsáveis por sua resistência mecânica. São células alongadas com extremidades
aguçadas e com paredes geralmente espessas. O volume de lenho constituído por fibras varia
muito. Por exemplo, o volume de fibras numa sweetgum (árvore da América do Norte, cuja
madeira é usada para o fabrico de mobiliário) é 26%, enquanto que numa nogueira é de 67%.
Parênquima axial: tecido de células de paredes finas não lignificadas, com pontuações
(perfurações) simples. Tem como principal função o armazenamento da seiva. É uma elemento
chave na identificação das espécies. Assume basicamente duas formas de distribuição,
observadas na seção transversal: parênquima paratraqueal (para = próximo, do grego) ou seja,
associado aos vasos/poros (traquéias) e parênquima apotraqueal (apo = longe, do grego) ou
seja, afastado dos vasos.
Raios ou parênquima radial: constituídos por tecido idêntico ao do parênquima axial, com
células curtas e paredes finas, têm como funções primordiais armazenar, transformar e
conduzir transversalmente a seiva elaborada. Levados pelos raios, óleos e resinas vão se
depositar nos dois anéis de crescimento mais profundos, um inicial e outro tardio,
transformando-os em anéis do cerne. Em tamanho, os raios variam de dimensões
microscópicas, sendo visíveis, no mínimo sob lupa (com ampliação de dez vezes), o que é
comum nas coníferas, até grandes dimensões, o que só raramente ocorre em algumas
folhosas. Os raios das madeiras de folhosas dicotiledôneas são normalmente muito maiores do
que os das madeiras de coníferas.
A madeira de folhosas (dicotiledôneas) pode ser classificada como de:
Porosidade em anel: os vasos que se formam no lenho inicial são maiores do que os que se
formam no lenho tardio.
Porosidade difusa: os diâmetros dos vasos são praticamente iguais ao longo de todo o anel de
crescimento.
Além dos elementos ou tecidos anatômicos normais, algumas folhosas apresentam características
anatômicas especiais:
11
Canais resiníferos: contendo óleos, gomas, ceras, bálsamos, taninos e outras resinas,
podendo ocupar posições axiais ou transversais. Podem ainda ser celulares ou intercelulares.
Estrutura estratificada: em algumas espécies, os elementos anatômicos, mais comumente os
raios, podem estar organizados em camadas, o que confere um importante elemento de
identificação.
Cristais e sílica: Interferem no comportamento e uso de algumas espécies. Os cristais são
formados, em geral, por oxalato de cálcio, encontrados depositados em células do parênquima.
A sílica, sob a forma de silicato de sódio, ou de cálcio, deposita-se no tecido parenquimatoso,
axial ou radial. Há alguma correlação entre a presença de cristais e sílica – que é
excepcionalmente dura (cristal de rocha) e a durabilidade natural de algumas madeiras. O
excesso de cristais de sílica pode diminuir a trabalhabilidade de algumas espécies (tirar o fio de
corte das ferramentas).
Densidade (massa específica aparente): é um indicativo de quanto o cerne da madeira foi
impregnado com resinas, óleos, cristais e outros extrativos, em sua defesa contra os xilófagos
da floresta. Densidade alta deveria significar também resistência e, portanto, alta qualidade da
madeira. Embora isso quase sempre seja verdade em relação à resistência, não é bem assim
quanto a qualidade da madeira em seu usos mais nobres. As madeiras de mais alta densidade
em geral são bem adequadas ao uso no solo, como estacas, mourões, dormentes e na
construção de pontes, pois enfrentam bem a umidade.
Também pertence às Dicotiledôneas o gênero Eucalyptus, com suas centenas de espécies.
Originárias da Austrália, dezenas delas estão perfeitamente aclimatadass nas regiões sul e sudeste do
Brasil, com predominância do Eucalyptus grandis, Eucalyptus saligna, Eucalyptus citriodora,
Eucalyptus paniculata, Eucalyptus tereticornis, Eucalyptus dunii, Eucalyptus microcorys, Eucalyptus
urophylla e Eucalyptus deglupta.
12
Figura 4: Desenho esquemático da anatomia de uma folhosa. Fonte: GONZAGA, A. L.
13
5. Composição Química da Madeira
6(CO2 2 H 2 O ) clorofila
6(CH 2 O H 2 O O2 )
14
Os componentes celulares podem ser classificados como carboidratos ou fenólicos. Todos os
carboidratos são, essencialmente, polímeros lineares (polissacarídeos) e correspondem a cerca de
75% das substâncias da madeira. A maior parte do material fenólico é a lignina que, sendo
tridimensional, é uma substância polimérica complexa. Sua estrutura molecular ainda não é
completamente entendida. Quando a madeira isenta de extrativos é deslignificada sob condições que
retêm a fração de carboidratos num estado altamente inalterado, o produto obtido é a holocelulose.
Reações de polimerização subseqüentes originam os açúcares que, por sua vez, formam as
substâncias orgânicas constituintes da estrutura anatômica dos vegetais. As mais importantes são a
celulose, a hemicelulose (ou poliose) e a lignina.
Celulose
É o componente primário da parede celular. Ela é o elemento químico mais abundante na
natureza. Estruturalmente, a celulose é o mais simples dos componentes celulares – um polímero
linear de unidades de glicose.
A celulose, segundo FOELKEL (1977), é um polissacarídeo linear, de alto peso molecular, não
solúvel em água, provavelmente o composto químico mais abundante no planeta. Trata-se do principal
componente estrutural da madeira, com cadeia longa e sem ramificações, caracterizado por regiões
cristalinas em grande parte de seu comprimento, entrecortadas por zonas amorfas (consideradas
descontinuidades fragilizantes quando se avaliam os fenômenos de ruptura da madeira sob
solicitações mecânicas). As ligações covalentes, no interior e entre as unidades de glucose (que
formam a celulose), dão origem a uma molécula muito rígida, com grande resistência à tração.
Hemicelulose
Corresponde a cerca de 30% da massa total da parede celular. É composta por dois polímeros,
carboidratos, um sendo xilose e o outro a manose, contendo polissacarídeos. As hemiceluloses
contidas nas coníferas são diferentes das encontradas nas folhosas.
As hemiceluloses constituem entre 20 a 25% do peso do material sólido do lenho, e são moléculas
amorfas ramificadas, contendo vários tipos de unidades de açúcar. As moléculas de hemicelulose têm
um grau de polimerização entre 150 e 200. No que se refere à hemicelulose, deve ser observado que
o termo não designa um único composto químico definido, mas sim um conjunto de componentes
poliméricos presentes em vegetais fibrosos, possuindo cada componente propriedades peculiares.
As hemiceluloses são polímeros amorfos, constituídos de uma cadeia central à qual se somam
cadeias laterais. Além de atuarem como uma "matriz" onde estão imersas as cadeias de celulose (nas
pareces celulares dos elementos anatômicos que constituem a madeira, as hemiceluloses são os
componentes mais higroscópicos (atraem moléculas de água das paredes celulares) das paredes
15
celulares, conforme FOELKEL (1977). A associação de um grupo de cadeias de celulose "envolvidas"
por moléculas de hemicelulose pode ser chamada de microfibrila.
Lignina
O terceiro constituinte principal das células do lenho é a lignina, a qual constitui cerca de 20 e 25%
em peso do material sólido. É um polímero tridimensional com arranjo aparentemente ordenado, e
constitui o terceiro componente em importância na parede celular. Tem repelência à água. É
completamente amorfo, começa a amolecer à temperatura de 165 a 175 o C. É a “cola” ou o “cimento”
dos constituintes celulares. As ligninas são materiais poliméricos muito complexos, com ligações
cruzadas de tipo tridimensional, formadas a partir de unidades fenólicas.
A lignina é definida como um polímero tridimensional complexo, de elevado peso molecular, amorfo,
que trabalha como material incrustante em torno das microfibrilas, conferindo rigidez às paredes
celulares dos elementos anatômicos, tornando-as resistentes a solicitações mecânicas.
Consideradas constituintes secundários, diversas substâncias podem ser extraídas da madeira por
intermédio da água, de solventes orgânicos ou por volatilização (redução de substância em gás ou
vapor). São os extrativos, que abrangem taninos, óleos, gomas, resinas, corantes, sais de ácidos
orgânicos, compostos aromáticos (em geral de elevado peso molecular), depositados
preponderantemente no cerne, conferindo-lhe coloração mais acentuada e maior densidade.
As folhosas possuem mais celulose que as coníferas (45% a 41%) e menos lignina (22% a 28%).
Sua hemicelulose total é aproximadamente a mesma (cerca de 30%). As folhosas são relativamente
ricas em xilose, enquanto as coníferas possuem mais manose. As folhosas e coníferas são
relativamente uniformes dentro de seus respectivos grupos, mas podem ocorrer pequenas exceções.
A Elm, por exemplo, contém cerca de 10% mais lignina do que as folhosas em zonas temperadas.
Extrativos
Possuem pequeno efeito direto nas propriedades mecânicas da madeira. Entretanto, os extrativos
são responsáveis pelo aumento na densidade e redução no teor de umidade de equilíbrio. Por
conseguinte, os extrativos podem modificar muitas propriedades mecânicas indiretamente. Por
exemplo, a relação entre a densidade e a resistência para muitas espécies são influenciadas pela
presença de extrativos.
Os extrativos determinam a utilização de algumas espécies. Freqüentemente estas propriedades
da madeira, que são dependentes do teor de extrativos, determinarão seu valor e forma de utilização.
Os extrativos podem controlar a durabilidade, a cor, o odor e o sabor da madeira.
16
Os tipos e quantidades de extrativos são extremamente variáveis numa mesma espécie, e mesmo
dentro de uma única árvore. O alburno é geralmente considerado isento de extrativos se a sua cor for
clara e tiver durabilidade freqüentemente básica quando comparada ao cerne.
De acordo com MOREY (1980), a estrutura anatômica da madeira pode ser compreendida não
apenas em termos do arranjo de suas células, como também com base na organização e nas
peculiaridades das substâncias químicas componentes das paredes celulares. Fibras e traqueídes são
caracterizadas por paredes celulares heterogêneas, em estrutura e em composição química.
Parede celular primária é o termo aplicado para designar a parede cambial original. A parede
celular primária é capaz de crescer em área quando, por exemplo, um vaso aumenta de diâmetro.
Derivadas cambiais adjacentes, neste estágio inicial, são separadas por duas finas paredes primárias
unidas por uma substância intercelular, a lamela média. Por outro lado, em traqueídes e fibras adultas,
a parede celular primária constitui a porção mais externa da parede celular e corresponde a uma
pequena porcentagem de sua espessura.
Durante o seu crescimento, a primária alarga-se segundo as direções transversal e longitudinal; o
crescimento da parede celular se completa quando uma espessa parede secundária se deposita no
lado interno da parede primária, em camadas concêntricas que crescem para o centro da célula. A
aglutinação dos componentes celulares é feita pela lignina, substância cujas características já foram
referidas anteriormente.Tais camadas são designadas por S1, S2 e S3. O arranjo das microfibrilas varia
nas diferentes camadas, sendo que a camada S3 pode estar ausente.
A organização da parede celular das fibras e dos vasos das folhosas é similar à dos traqueídeos.
A espessura das várias camadas da parede celular, como descrito anteriormente, varia
consideravelmente entre os três tipos de células, entretanto. Nas Figuras 5 e 6 podem ser observados
os diferentes arranjos direcionais das microfibrilas nas várias camadas, especialmente do seu arranjo
vertical na camada S2. Devido a sua espessura relativa em comparação às demais camadas e a
orientação das microfibrilas, as propriedades físicas dessa camada tendem a dominar o
comportamento da célula. A organização estrutural desse tipo deve ser sugestiva dos muitos tipos de
modelos que podem ser idealizados para representar propriedades físicas.
A parede celular é formada principalmente por microfibrilas ligadas entre si por um “cimento” de
lignina. Crê-se que as microfibrilas são formadas por um núcleo cristalino de celulose, rodeados por
uma região amorfa de hemicelulose e lignina. A disposição e a orientação das microfibrilas varia nas
17
diferentes camadas da parede celular, conforme indicado na Figura 5. As ligninas fornecem rigidez à
paredes celulares e permitem que estas possam resistir as forças de compressão. As células do lenho
podem absorver água até cerca de 30% do seu peso.
a) b)
Figura 5: Diagrama da estrutura em camadas da parede de uma célula do lenho. O ângulo de
deposição das microfibrilas é mostrado pelas linhas oblíquas na parede primária e camadas S1
(externa), S2 (central), S3 (interna) na parede secundária. LM - lamela média; PP - parede primária;
PS - parede secundária. Fonte: a) http://www.herbario.com.br/cie/universi/teoria/1027pare.htm e
b) Santos, D. M. M. (2007).
Figura 6: Diagrama da estrutura em camadas de uma célula do lenho e foto correspondente. Fonte:
Santos, D. M. M. (2007).
18
7. Eixos de simetria da madeira
(a) (b)
19
8. Bibliografia:
BODIG, J.; JAYNE, B. A. Mechanics of wood and wood composities. 2. ed. Malabar: Krieger
Publishing Company, 1993. 712p.
BRUCE, R. W. Production and distribution of amazon timber. Brasília, IBDF, 1976. 60p.
CALIL JUNIOR, C.; DIAS, A. A. Utilização da madeira em construções rurais. Revista Brasileira em
Engenharia Agrícola e Ambiental (Campina Grande) set./dez. 1997, v.1, p.71-77.
HARLOW, W. M.; HARRAR, E. S. Textbook of dendrology. 4.ed. Nova York, Mc Graw Hill Book
Company, 1958.
MOREY, P. R. O crescimento das árvores. Coleção temas de biologia (São Paulo), 1980, v.12.
REZENDE, J. L.; NEVES, A. R. Evolução e contribuição do setor florestal para a economia brasileira.
In: Simpósio Bilateral Brasil – Finlândia sobre Atualidades Florestais, 1, Curitiba, 1988. Anais. Curitiba,
UFPR, 1983, p.215-265.
SMITH, W. F. Princípios de ciência e engenharia dos materiais. 3. ed. Portugal: McGraw – Hill Ltda,
1998. 892p.
VANTOMME, P. The timber export potential from de Brazilian Amanzon. Bois et Forêts des
Tropiques, n.227, p.69-74, 1991.
20
Propriedades Mecânicas da Madeira
Aula 3
Pelo fato de a madeira ser um material de origem biológica, está sujeita a variações me sua estrutura,
o que pode acarretar mudanças em suas propriedades. Estas mudanças são resultantes de três
fatores principais: anatômicos, ambientais e de utilização.
1. Umidade
A presença de água na madeira pode ser mais facilmente entendida tomando-se por base alguns
aspectos relacionados à fisiologia da árvore. Esta, por intermédio de seu sistema radicular, absorve
água e sais minerais do solo, compondo a solução denominada seiva bruta, que, através do alburno,
em movimento vertical ascendente, desloca-se até as folhas. Das folhas até as raízes, circula a seiva
elaborada, constituída de água e de substâncias formadas por meio de fotossíntese.
1
Daí decorre que a madeira das árvores vivas ou recém-abatidas apresenta elevada porcentagem de
umidade. Nas citadas condições, as moléculas de água estão presentes no interior dos elementos
anatômicos (lúmem), bem como no interior das respectivas paredes, promovendo sua saturação.
Nestes níveis de umidade, diz-se, usualmente, que a madeira está saturada ou “verde”.
Exposta ao meio ambiente, a madeira de uma árvore abatida perde continuamente umidade, a
princípio pela evaporação das moléculas de água nos lumens, denominada água livre ou água de
capilaridade. Concluída esta parte do processo, diz-se que a madeira atingiu o ponto de saturação das
fibras ou, simplesmente, ponto de saturação (PS), definido como a condição na qual se mantêm, na
madeira, apenas as moléculas de água localizadas no interior das paredes celulares, a água de
impregnação ou água de adesão.
Apesar de ser um conceito útil, o termo ponto de saturação das fibras não é muito preciso. Em tese,
ele distingue entre as duas maneiras que a água é retida na madeira. De fato, é possível para todos os
lumens celulares estarem vazios e ter as paredes celulares parcialmente secas numa parte de um
pedaço de madeira, enquanto que em outra parte do mesmo pedaço as paredes celulares podem
estar saturadas e os lumens parcial ou completamente preenchidos com água.
É até mesmo provável que uma parede celular comece a secar antes que toda água tenha saído do
lúmen dessa mesma célula. O ponto de saturação das fibras da madeira é, em média, cerca de trinta
por cento do teor da umidade. Mas, em espécies individuais e pedaços de madeira individuais ele
pode variar vários pontos percentuais desse valor.
O ponto de saturação das fibras também é frequentemente considerado como aquele teor de umidade
abaixo do qual as propriedades físicas e mecânicas da madeira começam a mudar como uma função
do teor da umidade. Durante o processo de secagem as partes externas de uma prancha de madeira
podem possuir umidade inferior à do ponto de saturação das fibras enquanto que as partes internas ainda
possuam umidade superior a esse.
Nas coníferas em estado verde, o teor médio de umidade do alburno é cerca de 150%, enquanto que
no cerne é de cerca de 60%. Nas madeiras de folhosas no estado verde, a diferença entre os teores
de umidade do alburno e do cerne é geralmente muito menor, possuindo ambos, em média, cerca de
80% de umidade.
O ponto de saturação das fibras varia entre as espécies. Como os extrativos ocupam espaços
usualmente disponíveis para a água na parede celular, um teor alto de extrativos é acompanhado de
um baixo ponto de saturação das fibras. Por outro lado, espécies com baixo teor de extrativos
possuem um mais alto ponto de saturação das fibras do que aquelas com teores de extrativos mais
altos.
2
Por exemplo, para o white spruce, uma madeira de baixo teor de extrativos, o ponto de saturação das
fibras é de 30%, enquanto que para o western redcedar, que possui um maior teor de extrativos, o
ponto de saturação das fibras é igual a 22%.O ponto de saturação da fibras da maioria das madeiras
cultivadas em regiões temperadas varia de 20 a 30%.
O ponto de saturação das fibras da maior parte das madeiras tropicais é menor por causa do seu
maior teor de extrativos. Devido ao efeito dos extrativos segue-se que para uma dada espécie o ponto
de saturação das fibras do alburno é maior do que o do cerne. Deve-se notar, também, que as
medidas dos pontos de saturação das fibras são sensíveis à temperatura, ou seja, temperaturas mais
altas resultam em menores valores.
A evaporação das moléculas de água livre ocorre mais rapidamente, até ser atingido o ponto de
saturação, em geral correspondente a um teor de umidade entre 20% e 30%. A NBR 7190/1997 –
Projeto de Estruturas de Madeira – adota, como valor de referência, a umidade de 25% para o PS.
A saída da água livre não interfere na estabilidade dimensional nem nos valores numéricos
correspondentes às propriedades de resistência e de elasticidade. Após o PS, a evaporação vai
prosseguindo com menor velocidade até alcançar o nível de umidade de equilíbrio (UE), que é função
da espécie considerada, da temperatura (T) e a da umidade relativa do ar (URA). A NBR 7190/1997
trabalha com UE = 12%, condição que é atingida com T = 20 o C e URA = 65%. Porcentagens de
umidade inferiores à UE são somente conseguidas em estufas ou câmeras de vácuo.
O teor de umidade da madeira abaixo do ponto de saturação das fibras é uma função de ambas a
umidade relativa e temperatura ambiente. O teor de umidade de equilíbrio (UE) é definido como aquele
teor de umidade no qual a madeira nem está ganhando nem está perdendo umidade; uma condição de
equilíbrio foi conseguida.
A madeira em serviço está exposta a mudanças na umidade relativa e temperatura ambiente tanto a
longo prazo (sazonais) quanto a curto prazo (diárias). Assim, a madeira está sempre sujeita pelo
menos a mudanças sutis no teor de umidade. Essas mudanças geralmente são graduais, e variações
a curto prazo tendem a influenciar somente a superfície da madeira.
As mudanças no teor de umidade podem ser retardadas mas não evitadas, por revestimentos de
proteção tais como vernizes, laca ou tinta. O objetivo da secagem da madeira é aproximá-la do
conteúdo de umidade que um produto final terá em serviço.
A madeira é dimensionalmente estável quando o teor de umidade é maior que o ponto de saturação
das fibras. A madeira tem suas dimensões alteradas quando ganha ou perde umidade abaixo desse
ponto. Ela se retrai ao perder umidade das paredes celulares e se incha quando ganha umidade nas
mesmas. Esta retração e inchamento podem resultar por exemplo, em empenamento entre outros
defeitos possíveis, que prejudicam a utilização final do produto de madeira. Portanto, é importante que
3
estes fenômenos sejam compreendidos e considerados quando eles puderem afetar um produto no
qual a madeira é utilizada.
A madeira pode, ainda, apresentar água sob a forma de vapor. Esta parcela é quantitativamente
desprezada, tendo em vista a baixa densidade do vapor em consideração com a da substância no
estado líquido.
O teor de umidade no qual tanto os lumens celulares quanto as paredes celulares estão
completamente saturadas com água é o teor máximo de umidade possível. A densidade é a principal
determinante do teor máximo de umidade possível. O volume do lúmen diminui a medida em que a
densidade aumenta. Assim, o teor máximo de umidade também diminui a medida que a densidade
aumenta por que há menos espaço disponível para a água livre. O teor máximo de umidade Umax para
qualquer gravidade pode ser calculada pela Equação (1):
Onde Db é a densidade básica (baseada peso a seco e volume da madeira verde) e 1,54 é a
densidade das paredes celulares da madeira. O teor máximo de umidade possível varia de 267% à
densidade de 0,30 à 44% à densidade de 0,90. O teor máximo de umidade possível raramente é
obtido em árvores. Todavia o teor de umidade da madeira verde pode ser bem alto em algumas
espécies naturalmente ou por meio de imersão das toras em água. O teor de umidade em que a
madeira será imersa na água pode ser calculado pela Equação 2:
4
A evaporação da água diminui a densidade da madeira e isto acaba por reduzir o custo de seu
transporte. Além disso, a transformação da madeira bruta em produtos próprios para emprego nas
mais diversas aplicações requer prévia secagem por diversas razões, das quais são aqui destacadas:
Convém ser observado que, para temperaturas da ordem de 100 oC, corpos-de-prova das dimensões
citadas necessitam de aproximadamente 48 horas até atingir a massa seca. Para facilitar o processo,
sugere-se que eles sejam mantidos em estufa por esse período e, na continuação, que seja avaliado,
a cada seis horas, se o processo de secagem foi completado.
O teor de umidade da madeira (U), em porcentagem, corresponde à razão entre a massa da água nela
contida e a massa da madeira seca, sendo obtido pela expressão (3):
mi m s
U (%) x100 (3)
ms
Onde:
5
mi é a massa inicial da amostra;
Exemplo 1: Uma peça de madeira úmida pesa 165,3 g e, após ter sido seca numa estufa, até ficar com
um peso constante, passa a pesar 147,5 g. Qual é o seu teor de umidade?
Resolução: O peso da água presente na amostra da madeira é igual ao peso da amostra úmida,
menos o seu peso após secagem, até ficar com o peso constante. Assim,
165,3 147,5
U x100% = 12,1%
147,5
Tais equipamentos são usualmente calibrados para duas faixas. Uma delas corresponde ao intervalo
entre 5 e 25% de umidade (inferiores ao PS), em que a resistência elétrica é por ela afetada de modo
significativo. A outra faixa se refere a valores superiores a 25% de umidade, situação me que a
resistência elétrica é bem menos influenciada, aspecto que conduz a um considerável decréscimo da
precisão das estimativas fornecidas pelos equipamentos.
O projeto das estruturas de madeira deve ser feito admitindo-se uma das classes de unidade
especificadas na Tabela 1, da NBR 7190/97.
6
Tabela 1: Classes de umidade
O teor de umidade tem influência direta nas propriedades de resistência e elasticidade da madeira.
Para referenciar o documento normativo brasileiro NBR 7190/97 considera o teor de umidade igual a
12%. Para outros valores, devem ser feitas as devidas correções.
São decorrentes dos ataques que provêem de fungos ou insetos. Os insetos causam as perfurações,
que podem ser pequenas ou grandes; já os fungos causam manchas azuladas e podridões (clara ou
parda).
4. Defeitos de secagem
5. Defeitos de processamento
7
Considerações gerais em função das influências externas da madeira
As seguintes considerações devem ser feitas, quanto às influências externas que podem afetar os
resultados de ensaios na avaliação das propriedades da madeira e sua utilização:
1. Densidade
A densidade é uma das propriedades físicas fundamentais na definição das melhores aplicações da
madeira de diferentes espécies. No caso de estruturas, seu peso próprio é estimado com base no
valor de densidade da espécie (ou classe) utilizada. O conceito físico indispensável à compreensão d
assunto é o da quantidade de massa contida em uma unidade de volume. Considerando a natureza
típica da madeira, decorrente de sua estrutura anatômica, é complicada a aplicação das definições de
densidade absoluta e de densidade relativa. Seu caráter higroscópico combinado com a sua
porosidade e suas singularidades fisiológicas associadas à sua permeabilidade requerem uma
abordagem particular da densidade à madeira.
A densidade da madeira, exclusivamente de água, varia grandemente tanto dentro quanto entre
espécies. Embora a densidade da maior parte das espécies varie entre cerca de 320 e 720 kg/m 3 o
intervalo de variação se estende, de fato, de cerca de 160 kg/m 3 para a Balsa a te mais de 1040 kg/m 3
para algumas outras madeiras. Um coeficiente de variação de cerca de 10% é considerado adequado
para se descrever a variabilidade de densidade nas espécies domésticas comuns.
8
A densidade calculada da madeira, incluindo a água contida na madeira, geralmente é baseada em
características médias de espécies. Este valor deve sempre ser considerado uma aproximação por
causa da variação natural na anatomia, teor de umidade, e razão de cerne para alburno que acontece.
Não obstante, esta determinação de densidade geralmente é suficientemente precisa para permitir a
utilização adequada de produtos de madeira onde o peso é importante. Tais aplicações variam desde
a estimativa de cargas estruturais até o cálculo de pesos aproximados de carregamento.
ma
U x100% (4)
ms
Onde,
Uma vez que a porcentagem de água é calculada em relação a uma amostra seca, o teor de umidade
de uma madeira pode, por vezes, exceder 200%.
Mesmo sem discutir os procedimentos experimentais adotados pelo autor, menciona-se que
Hellmeister (1973) estudou 12 espécies de madeira, entre coníferas e dicotiledôneas, tendo obtido o
resultado de 1,53 ± 0,03 g/ cm3 para os respectivos valores da densidade real.
9
1.2. Densidade básica (ρbas)
Convencionalmente, é definida pela razão entre a massa seca da amostra considerada e o respectivo
volume nas condições de total saturação, ou seja, tendo todos os seus vazios internos preenchidos por
água, dada pela expressão (5), em g/cm3.
ms
bas (5)
Vsat
Onde:
Onde,
m12 é a massa da amostra a 12% de umidade
V12 é o volume da madeira a 12% de umidade
Exemplo 2: Uma madeira verde tem uma densidade de 0,86 g/cm 3 e contém 175% de água. Calcule a
densidade da madeira após ela ter sido completamente seca.
Solução:
Uma amostra de 100 cm3 da madeira pesaria 86 g. Da Equação 3, pode-se calcular o peso da madeira
seca:
10
ma m ms
U x100% 175 sat x100 175
ms ms
100.m s at 100 * 86
ms 31,3 g
275 275
31,3 g
D 3
0,313 g / cm 3
100cm
A porcentagem de umidade tem grande influência na densidade aparente da madeira. Um dos mais
conhecidos procedimentos para quantificar esta variação foi proposto em 1984 por Kollmann,
conforme relatam Kollmann e Cotê (1968). Em sua pesquisa, o autor trabalhou com espécies de clima
temperado e de clima frio, caracterizadas por pequena taxa de crescimento anual.
Recentemente, Logsdon (1998), empregando espécies crescidas no Brasil, propôs a Expressão (7)
para representar a influência da umidade na densidade aparente.
(12 U )
12 U U (1 V ) (7)
100
V V Vs
V e V U .100
U Vs
Onde:
11
O diagrama elaborado por Kollmann e a expressão sugerida por Logsdon podem ser usados para
corrigir o valor da densidade aparente de um corpo-de-prova para a umidade de 12%. Tal correção se
faz necessária, pois é praticamente impossível condicionar uma amostra a exatos 12% de umidade a
fim de obter sua densidade e as demais propriedades requeridas para o desenvolvimento de projetos
estruturais.
Deve ser lembrado que a NBR 7190/1997 não faz nenhuma indicação a respeito do procedimento a
ser seguido a fim de corrigir a densidade aparente para a umidade de referência de 12%, adotada pelo
mencionado documento normativo.
Quanto maior a densidade, maior é a quantidade de madeira por volume e, como conseqüência, a
resistência também aumenta. Mas deve-se ter cuidado, pois a presença de nós, resinas e extrativos
pode aumentar a densidade sem, contudo, contribuir para uma melhora significativa na resistência.
Outro aspecto importante a ser considerado é a umidade da madeira, que interfere aumentando a sua
densidade aparente e reduzindo a sua resistência mecânica. Portanto, a densidade deve ser tomada
para um teor de umidade de referência que, segundo a NBR 7190/97, da ABNT, é de 12%.
Um terceiro fator, minerais e extrativos, têm um efeito notável apenas num número limitado de
espécies.
12
ou afastam as cadeias de celulose e as microfibrilas, ocasionando as correspondentes variações
dimensionais de retração ou de inchamento.
As múltiplas implicações práticas daí decorrentes enfatizam a relevância do seu estudo. Às vezes,
espécies com grande disponibilidade numa determinada região não podem ser indicadas para as
aplicações nas quais a estabilidade dimensionais seja um dos requisitos prioritários. Entretanto, o
conhecimento das características de movimentação dimensional da madeira, acabam por viabilizar o
aproveitamento de espécies menos estáveis na produção, por exemplo, de celulose e papel, chapas
de fibras, chapas de aglomerado, de compensado, e outras.
A diferença entre as porcentagens de retração radial e tangencial é um dos fatores responsáveis pelo
aparecimento de trincas, rachaduras, empenamentos, encanoamentos, torcimentos e outros defeitos
no transcurso dos processos de secagem.
A madeira, quando verde, sofre retração a medida em que a umidade é eliminada, o que provoca a
distorção das peças de madeira, conforme mostrado na Figura 2, para as direções radial e tangencial
num corte transversal de uma árvore. A madeira retrai-se mais na direção transversal do que na
longitudinal, sendo a retração transversal normalmente entre 10 e 15%, enquanto que a retração
longitudinal é apenas de cerca de 0,1%.
Quando a água é eliminada das regiões amorfas da parte exterior das microfibrilas, estas aproximam-
se umas das outras e a madeira torna-se mais densa. A madeira retrai principalmente na direção
transversal porque a maioria das microfibrilas tem o seu comprimento orientado segundo a direção
longitudinal do tronco da árvore.
A inclinação das fibras (ou traqueídes) tem uma influência significativa sobre as propriedades da
madeira com base em certos valores. Esta inclinação descreve o desvio da orientação das fibras da
13
madeira em relação a uma linha paralela à borda da peça. A NBR 7190/97, da ABNT, permite
desconsiderar a influência da inclinação das fibras para ângulos de até seis graus.
Nas propriedades mecânicas e elásticas da madeira, também manifesta-se o fenômeno da anisotropia
(desigualdade entre os diferentes eixos de crescimento da madeira). Porém, neste caso, as grandes
influências da anisotropia são, principalmente, determinadas pelas direções paralela ou perpendicular
às fibras; as diferenças quase não são observadas levando-se em conta os sentidos tangencial, radial
e longitudinal da madeira, como no caso da contração e do inchamento.
Há muitos anos Baumann (1922) demonstrou o efeito do ângulo das fibras sobre a resistência da
madeira. A Figura 3 apresenta um dos gráficos desenvolvidos pelo autor, mostrando que o ângulo das
fibras afeta mais a resistência à tração, depois à flexão e, por último, à compressão.
Para fins práticos, considera-se madeira industrialmente prejudicada as que possuem grã espiralada,
cujas fibras dêm uma volta completa em menos de 10 m do comprimento de uma tora.
Madeira com excessiva inclinação das fibras se torcerão por ocasião da sua secagem, e tornam-se de
difícil trabalhabilidade. Além disto, devido a descontinuidade das fibras ao longo do seu comprimento,
têm suas propriedades de resistência diminuídas.
4. Posição no tronco
As variações da massa específica da madeira dentro do tronco de uma árvore, em função da
altura e da distância a partir da medula, são assim observadas:
- Quanto maior a altura do tronco, a partir da base da árvore, menor será a massa específica da
madeira;
14
- Quanto mais próxima da medula da árvore , menor será a massa específica da madeira
(madeira sem cerne), numa mesma altura em relação ao solo.
A influência do percentual das madeiras de lenho inicial e lenho tardio em uma peça de madeira,
diz respeito às diferenças existentes em consistência e massa específica dos lenhos que os
forma: O lenho inicial, em relação ao lenho tardio, é formado por elementos com grandes
diâmetros, de paredes finas e mais curtos, características estas que lhe conferem baixas
resistências.
Em função do exposto acima, é razoável esperar que quanto menor for o percentual de lenho
inicial em uma madeira (e maior for o percentual de lenho tardio), melhores serão suas
propriedades de resistência.
A madeira de uma árvore que apresenta irregularidade na largura dos anéis de crescimento terá
propriedades desiguais. Como conseqüência ao secar a madeira se torcerá, além de estar sujeita
a se abrir em duas seções em alguma zona de maior fragilidade.
As causas deste problema normalmente são os tratos silviculturais e as condições de crescimento
da árvore ( adubação, alteração drástica do espaçamento por desbaste, etc.).
A grande diferença existente entre a largura dos anéis do lenho juvenil e a dos anéis de lenho
adulto também afetam a qualidade da madeira. Contudo a formação do lenho juvenil é uma
resposta do espaçamento inicial do povoamento florestal (e da madeira desenvolvida na região da
copa da árvore), permanente até que ocorra a competição entre árvores, enquanto o lenho adulto
só é formado longe da copa e após estabelecida esta competição.
A pobre qualidade do lenho juvenil também pode ser verificada em madeira adulta,
particularmente em anéis de crescimento largos, formados no fuste após o povoamento florestal
sofrer desbaste drástico.
O crescimento excêntrico dos anéis, de forma acentuada, é outra causa de variação nas
propriedades da madeira. Uma das razões é a alta diferença em consistência do material formado
em lados opostos do fuste; outra é a formação de lenho de reação, em diferentes posições para o
caso das coníferas ou de folhosas.
15
7. Defeitos da madeira
7.1. Nós
Os nós são originários dos galhos existentes nos troncos da árvore. Trata-se da porção basal de um
ramo, que provoca desvios no tecido lenhoso de sua vizinhança. Existem dois tipos de n os: os soltos
e os firmes. Ambos reduzem a resistência da madeira pelo fato de interromperem a continuidade e
direção das fibras. Podem também causar efeitos localizados de tensão concentrada. A influência de
um nó depende do seu tamanho, localização, forma, firmeza e do tipo de tensão considerada. Em
geral, os nós têm maior influência na tração do que na compressão. Quanto a sua aderência na
madeira, podemos considera-los como:
a) Nós vivos: Os nós que correspondem à porção basal de ramos vivos, havendo perfeita
continuidade dos tecidos lenhosos entre esta porção com a madeira dos entrenós. Esta íntima ligação
lhe confere estabilidade na peça de madeira; e
b) Nós mortos: Os nós que correspondem à porção basal de um ramo sem vida, que deixou de
participar do desenvolvimento do fuste da árvore. Assim, deixa de existir continuidade da estrutura,
ficando preso à madeira apenas pela compressão periférica exercida pelo crescimento diametral do
fuste.
A importância de como os nós se apresentam (incluso, transverso ou repassado), é justificada pelo
fato que seus tamanhos, concentrações ou agrupamentos, etc, influem de forma muito significativa na
classificação e no valor comercial da madeira.
Os nós depreciam as peças de madeira, principalmente devido à presença do veio irregular que, no
caso de um esforço de compressão paralelo às fibras, fará que a madeira se comporte com
instabilidade.
16
O veio irregular também pode afetar a resistência das peças sujeitas à flexão, além de dificultar a sua
trabalhabilidade e causar prejuízo às ferramentas.
Esta grã é típica em madeira de árvores que apresentam fibras orientadas em mais de um sentido.
Geralmente trata-se de uma característica genética, própria da espécie, sendo muito comum em
espécies tropicais.
Grã irregular também pode ser causada pelo crescimento irregular ou muito rápido da madeira, pela
existência de um tecido de cicatrização no fuste, etc.
Este tipo de defeito é responsável pela variação do ângulo das fibras, pela alta dilatação e
desenvolvimento de tensões internas da madeira, tendo como conseqüência baixas propriedades de
resistência.
As tensões internas existentes no fuste de uma árvore são consideradas muito problemáticas pois,
uma vez que este seja cortado, elas são liberadas e normalmente rompem as fibras ao longo dos
raios, causando rachaduras, empenamentos, etc., e consideráveis prejuízos às propriedades de
resistência da madeira.
Além da grã irregular, o crescimento rápido da madeira é responsável pelo desenvolvimento de
madeira com baixa massa específica e elevadas tensões internas, ocasionando rachaduras internas
neste material.
Lenho de reação - Árvores com fustes que se desviam da direção normal de crescimento,
desenvolvem lenhos especiais para compensarem o esforço que lhes é submetido em decorrência de
qualquer ação externa, em intensidade, tempo e sentido constantes. De forma genérica este tipo
particular de lenho é denominado de lenho de reação.
O lenho de compressão é facilmente observado macroscopicamente, pelo crescimento do fuste,
transição quase indistinta entre o lenho inicial e o lenho tardio, com cor mais intensa que o lenho
normal e sem brilho.
Microscopicamente as células do lenho inicial apresentam membranas mais espessas que a
normal e um contorno arredondado, com espaços intercelulares entre eles e rachaduras oblíquas
em suas paredes, quando observadas em seção longitudinal e estrutura microfibrilar espiralada.
Quimicamente o lenho de compressão tem alto teor de lignina e baixo teor de celulose.
Estes tipos de lenho têm propriedades bem diferentes do lenho normal e afetam consideravelmente as
propriedades tecnológicas da madeira.
As principais conseqüências da presença de lenho de compressão na madeira são:
- comportamento desigual da madeira;
17
- madeira quebradiça, suscetível à ocorrência de rachaduras longitudinais irregulares durante a
secagem;
- maior resistência à compressão axial e perpendicular às fibras;
- coloração típica, normalmente depreciando o material.
O lenho de tração, da mesma forma que o lenho de compressão, normalmente é associado ao
crescimento excêntrico do fuste da árvore, causados por ventos dominantes, curvaturas geotrópicas e
iluminação desigual que originam copas assimétricas, fazendo com que haja má distribuição de
esforços no fuste.
Macroscopicamente ele pode ser identificado por sua coloração distinta, mais clara ou escura que o
lenho normal. Microscopicamente ele é caracterizado pela presença de fibras com espessamento nas
paredes internas anormais (gelatinosas), que conferem brilho diferenciado. As paredes das células da
madeira têm elevado teor de celulose e lignina quase ausente.
O lenho de tração causa sérios problemas durante a secagem da madeira, promovendo o seu colapso
e rachaduras longitudinais. Na fabricação de papel, apesar de se obter maior rendimento de polpa
com o lenho de tração, ele oferece maior resistência à polpação e origina produtos de baixa
resistência.
Além do desenvolvimento de colapso e da má qualidade dos produtos de polpa, as principais
conseqüências da existência do lenho de tração na madeira são:
- Difícil trabalhabilidade;
- difícil acabamento superficial;
- comportamento desigual da madeira;
- maior resistência à tração; e
- depreciação do material pela coloração.
7.3. Bolsas de resina: Este efeito ocorre somente em coníferas, porém, em folhosas, pode ocorrer
aspectos análogos, denominados bolsas de goma. Trata-se de um espaço localizado dentro de um
anel de crescimento, contendo resina no estado líquido ou sólido, algumas vezes com casca inclusa.
Bolsas de resina afetam não somente o aspecto da superfície das peças, mas também suas
propriedades mecânicas. Além disso o fluxo anormal de resinas origina zonas de lenho translúcido em
tábuas de pouca espessura, onde a resina pode se liquefazer quando são aquecidas, mesmo que a
superfície das peças já tenha recebido acabamento superficial, como por exemplo verniz.
7.4. Fissuras de compressão: Este tipo de defeito constitui sério defeito na madeira, pelo fato dele
muitas vezes não ser aparente, mas torná-la friável e quebradiça.
18
A fissura de compressão apresenta-se como uma desorganização do tecido lenhoso, que se apresenta
em peças de madeira serrada como linhas quebradas, de cor clara e dispostas perpendicularmente à
grã na face de corte. Algumas vezes observa-se uma marca de tonalidade mais escura
contornando o tecido lesado, como resultado de um fluxo anormal de goma nesta região.
Esta fissura provoca um calo cicatricial que acabará cobrindo a zona lesada. Sendo ela muito extensa,
há condições de observá-la pelo lado externo do fuste pela superfície rugosa deste ou pequenos
mamilos.
Este defeito é resultado de traumatismos causados à madeira ainda na árvore em pé, pelo esforço de
caudado pelo seu peso próprio ser superior ao que o fuste poderia suportar, ou por outras razões
como excessivo esforço causado pelo vento, peso de neve, queda de árvores vizinhas por ocasião da
exploração florestal, entre outros que provoquem curvaturas excessivas sem, contudo, que o fuste se
rompa.
Dois tipos de falhas principais podem ocorrer devidos à natureza da madeira. A primeira delas está
relacionada com o encurvamento do tronco e dos galhos durante o crescimento da árvore, alterando o
alinhamento das fibras e podendo influenciar na resistência. Outro fator a ser observado é a presença
de alburno, que por suas próprias características físicas apresenta valores diferentes de resistência.
Quando a peça serrada contém a medula, provoca diminuição da resistência mecânica e facilita o
ataque biológico. Podem também surgir rachaduras no cerne próximo à medula, decorrentes de fortes
tensões internas causadas pelo processamento.
As faixas de parênquimas têm baixa densidade e pouca resistência mecânica. Quando presentes em
elementos submetidos à compressão, estes podem entrar em ruína por separação dos anéis.
As variações observadas nos resultados dos testes efetuados em laboratório decorrem por causa de
diferentes fatores, atribuídos a:
- Condições do ensaio efetuado (método empregado);
- Influências internas (características e propriedades internas da madeira);
- Influências externas.
Condições do Ensaio
2. Velocidade do ensaio
Em geral, quanto maior for a velocidade de teste utilizada, maior será a resistência observada. Isto
ocorre porque as fibras e moléculas que constituem o material apresentam certa inércia para reagir ao
esforço aplicado.
20
3. Método de ensaio adotado
O método de ensaio utilizado representa uma grande fonte de variação nos resultados obtidos. Como
exemplo podem-se citar as diferentes formas de determinar os módulos de elasticidade da madeira,
não permitindo a comparação direta dos valores obtidos.
Pela mesma razão, não são diretamente comparáveis os valores obtidos pelos ensaios de
cisalhamento ou de dureza (Janka, Brinnell, Rokwell, etc.)
A aplicação de diferentes cargas durante o teste de flexão estática resulta em momentos de
distribuição das tensões desiguais dentro dos corpos-de-prova, dando diferentes resultados.
Todas estas influências supracitadas mostram que:
- É indispensável a utilização de normas;
- Nunca se pode comparar resultados de diferentes testes (exceto em casos onde há um
relacionamento entre os resultados muito alto);
Há necessidade de sempre se indicar e descrever detalhadamente os processos ou testes
empregados na avaliação efetuada.
Umidade
Definições
O teor de umidade da madeira corresponde à relação entre a massa da água nela contida e a massa
da madeira seca, dado pela Equação 8:
( mi ms )
U (%) .100 (8)
ms
onde:
21
O corpo-de-prova deve ter seção transversal retangular, com dimensões nominais de 2,0 cm por 3,0
cm e comprimento, ao longo das fibras, de 5,0 cm, como indicado na Figura 1, com as dimensões
dadas em cm.
Figura 1: Dimensões do corpo-de-prova a ser utilizado para a determinação do teor de umidade do lote
de madeira. Fonte: NBR 7190 (1997).
Na fabricação dos corpos-de-prova devem ser utilizadas ferramentas afiadas para se evitar a chamada
“queima” de suas faces, que pode provocar uma perda de água imediata, prejudicial à determinação
da real umidade da amostra.
Procedimento
Durante a secagem a massa do corpo-de-prova deve ser medida a cada 6 h, até que ocorra uma
variação, entre duas medidas consecutivas, menor ou igual a 0,5% da última massa medida. Esta
massa será considerada como a massa seca (ms). Conhecida a massa seca (m s) do corpo-de-prova,
determina-se a umidade à base seca pela Equação 1 .
Os resultados obtidos devem ser apresentados na forma de seu valor médio, que representa a
umidade média do lote, em relatório técnico especificado anteriormente.
Densidade
Objetivo
22
Definições
A “densidade básica” é uma massa específica convencional definida pela razão entre a massa seca e
o volume saturado, sendo dada pela Equação 9:
ms
bas (9)
Vsat
onde:
O volume saturado é determinado pelas dimensões finais do corpo-de-prova submerso em água até
que atinja massa constante ou com no máximo uma variação de 0,5% em relação à medida anterior.
A densidade aparente ap é uma massa específica convencional, definida pela razão entre a massa e
o volume de corpos-de-prova com teor de umidade de 12%, sendo dada pela Equação 10:
m12
ap (10)
V12
onde:
Os corpos-de-prova devem ter forma prismática com seção transversal retangular de 2,0 cm x 3,0 cm
de lado e comprimento ao longo das fibras de 5,0 cm. Se a distância radial entre os anéis de
crescimento for maior que 4 mm, a seção transversal do corpo-de-prova deve ser aumentada para
abranger pelo menos cinco anéis de crescimento.
Procedimento
23
Com o corpo-de-prova saturado, determinar o volume saturado por meio das medidas dos lados da
seção transversal e do comprimento, com precisão de 0,1 mm. Tomar mais de uma medida para levar
em consideração as imperfeições devidas ao inchamento do corpo-de-prova.
Conhecidos os valores de ms, m12, Vsat e V12 , determinam-se as densidades básica e aparente pelas
Equações 2 e 3.
Os resultados das densidades básica e aparente devem ser apresentados na forma de valores
médios, em relatório técnico, como especificado anteriormente.
Retratibilidade
Objetivo
Definições
estabilidade dimensional e são determinadas, para cada uma das direções preferenciais, em função
das respectivas dimensões da madeira saturada (verde) e seca, sendo dadas pelas equações 11, 12,
13, 14, 15 e 16:
24
A variação volumétrica é determinada em função das dimensões do corpo-de-prova nos estados
saturado e seco, sendo dada pela Equação 17:
(Vsat Vsec a )
V .100 (17)
Vsec a
onde:
Os corpos de prova devem ser fabricados com o lado maior da seção transversal paralelo à direção
radial, como indicado na Figura 2, com as dimensões dadas em cm.
Procedimentos
Para o estudo da retratibilidade o corpo-de-prova deve conter umidade acima do ponto de saturação
das fibras.
Quando o teor de umidade for menor que o ponto de saturação das fibras, deve-se reumidificar o
corpo-de-prova.
Para isso, o corpo-de-prova deve ser colocado em um ambiente saturado, com temperatura de 20°C ±
5°C, até que a variação dimensional se estabilize em torno da diferença de 0,02 mm entre duas
medidas sucessivas. A reumidificação do corpo-de-prova deve ser reportada no relatório técnico do
ensaio.
Para o estudo do inchamento o corpo-de-prova deve estar seco. Normalmente se utiliza o mesmo tipo
de corpo-de-prova empregado para o estudo da retratibilidade.
25
Determinar as distâncias entre os lados do corpo-de-prova durante os processos de secagem e de
reumidificação, com precisão de 0,01 mm. As distâncias devem ser determinadas com pelo menos três
medidas em cada lado do corpo-de-prova.
Para o estudo da variabilidade volumétrica da madeira também pode ser utilizado o procedimento
baseado na medida de volume do corpo-de-prova submerso em mercúrio. Para isso, o corpo-de-prova
deve ter volume entre 4 cm3 e 16 cm3.
Bibliografia
ASKELAND, D. R. The science and engineering of materials. 3. ed. Boston: PWS publishing
Company, University of Missouri – Rolla, 1994. 812p.
BODIG, J.; JAYNE, B. A. Mechanics of wood and wood composities. 2. ed. Malabar: Krieger
Publishing Company, 1993. 712p.
Forest Products Laboratory (1999). Wood handbook – Wood as an engineering material. Gen. Tech.
Rep. FPL – GTR – 113. Madison, WI: US. Departament of Agriculture, Forest Service, Forest Products
Laboratory, 463p.
KOLLMANN, F.; COTÊ, W. A. Principles of wood science and technology. Germany, Springer
Verlag, 1968. 592p.
SMITH, W. F. Princípios de ciência e engenharia dos materiais. 3. ed. Portugal: McGraw – Hill Ltda,
1998. 892p.
27
Propriedades Mecânicas da Madeira
Aula 4
Tensão e deformação
A força por unidade de área ou a intensidade das forças distribuídas numa certa seção transversal é
chamada tensão atuante (Figura 1), nessa seção, e é indicada pela letra grega σ (sigma). A tensão em
uma barra de seção transversal A, sujeita a uma força axial P, é então obtida dividindo-se o módulo P
da força pela área A (Equação (1)):
F
(1)
A
P’
P’
Deve-se notar, também, que na Equação (1), σ é obtida dividindo-se a intensidade P da resultante das
forças internas que atuam na seção transversal pela área A dessa seção; essa relação, no entanto,
representa o valor médio das tensões na seção transversal, e não o valor específico da tensão em um
determinado ponto da seção transversal.
1
Na prática, vamos assumir que a distribuição das tensões é uniforme em uma barra carregada
axialmente, com exceção das seções nas vizinhanças do ponto de aplicação da carga. O valor σ da
tensão é adotado igual ao valor da tensão média e pode ser calculado pela Equação 1.
Quando se assume uma distribuição uniforme de tensões, isto é, quando adotamos que as forças
internas estão uniformemente distribuídas ao longo da seção, segue-se da estática elementar que a
resultante P das forças internas está aplicada no centróide da seção transversal (Figura 2).
Figura 2: Resultante P das forças internas aplicadas através de uma distribuição uniforme de tensões.
Então, uma distribuição uniforme de tensões só é possível se a linha de ação das forças aplicadas P e
P’ passar pelo centróide da seção considerada, como mostra a Figura 3.
P’
Figura 3: Linha de ação das forças aplicadas passando pelo centróide da seção da peça considerada.
Conside-se uma barra BC (Figura 4-a), de comprimento L e seção transversal de área A, que é
suspensa do ponto B. Se aplicarmos uma carga P na extremidade C, correspondentes valores de
alongamento δ = L – L0 (delta) são obtidos e pode-se plotar um diagrama carga-deformação (Figura 4-
b). Todavia, este diagrama contém informações úteis para o estudo da barra considerada, mas não
pode ser usado diretamente para prever deformações de outras barras do mesmo material e que
tenham outras dimensões.
2
B B P
L0
C
C
A δ
δ P
(a) (b)
Figura 4: (a) barra BC, de comprimento L0 e seção transversal de área A, que é suspensa do ponto B
e (b) diagrama carga-deformação.
A deformação específica num membro, denotada por ε (epsilon), é definida como a deformação de um
membro por unidade de comprimento, dada pela Equação (2). É dada pela relação entre o
alongamento δ e comprimento total L 0 da barra. Desde que δ e L0 sejam expressos nas mesmas
unidades, ε será uma grandeza adimensional.
(2)
L0
Plotando a tensão versus a deformação específica, enquanto cresce a carga aplicada a um membro,
obtem-se um diagrama tensão-deformação (uma curva) que caracteriza as propriedades do material
em estudo e que não depende das dimensões da amostra do material utilizado.
Desse diagrama é possível determinar algumas importantes propriedades do material, tais como o
módulo de elasticidade, se o material é dútil ou frágil e se as deformações na amostra do material irão
desaparecer depois de o carregamento ter sido removido (neste caso, o material é dito ter
comportamento elástico), ou se resultará numa deformação plástica ou permanente.
Para a obtenção do diagrama tensão - deformação de certo material, normalmente se faz um ensaio
de tração em uma amostra do material. Este diagrama varia muito de material para material, e, para
um mesmo material, podem ocorrer resultados diferentes em vários ensaios, dependendo da
temperatura do corpo-de-prova ou da velocidade de carregamento. Entre os diagramas tensão-
deformação de vários grupos de materiais, no entanto, é possível distinguir algumas características
comuns. Essas características levam a divisão dos materiais em duas categorias: os materiais dúteis e
os frágeis (Figura 5).
3
Figura 5: Comportamentos típicos das curvas tensão – deformações.
Fonte: http://www.cimm.com.br/cimm/construtordepaginas/htm/3_24_6926.htm
Em a) vê-se um material dúctil típico, como um aço de baixo carbono recozido. Entre os materiais
dúcteis existem aqueles que não mostram claramente o patamar de escoamento, como em b). As
figuras c) e d) mostram possíveis curvas de comportamento para materiais frágeis. No caso c) aparece
um comportamento não linear em baixos níveis de tensão, que é característica dos ferros fundidos. Já
em d) o comportamento é elástico e linear até próximo da ruptura,característica de materiais
cerâmicos, ligas fundidas de elevada dureza e a madeira.
Deve-se levar em conta que a classificação de materiais dúcteis e frágeis não é rígida, pois um
material pode mudar suas características de comportamento, por influência de vários fatores como por
exemplo, a temperatura de trabalho. Altas temperaturas tendem a promover o comportamento dúctil.
Baixas temperaturas tendem a promover o comportamento frágil. Então um material de
comportamento frágil em temperatura ambiente poderá se tornar dúctil em altas temperaturas, ou um
material dúctil se tornar frágil em baixas temperaturas.
Os materiais dúteis (Figura 6-a), que compreendem o aço estrutural e outros metais, se caracterizam
por apresentarem escoamentos a temperaturas normais. O corpo-de-prova é submetido a
carregamento crescente, e seu comprimento aumenta, de início, lentamente, sempre proporcional ao
carregamento. Desse modo, a parte inicial do diagrama tensão-deformação é uma linha reta com
grande coeficiente angular.
Entretanto, quando é atingido um valor crítico de tensão σe, o corpo-de-prova sofre uma longa
deformação, com pouco aumento da carga aplicada. Essa deformação é causada por deslizamento
4
relativo de camadas do material de superfícies oblíquas, o que mostra que esse fato se dá
principalmente por tensões de cisalhamento.
Figura 6: Diagrama tensão-deformação (a) para materiais dúcteis e (b) para materiais frágeis. Fontes:
http://www.cimm.com.br/cimm/construtordepaginas/htm/3_24_6964.htm e
http://www.cimm.com.br/cimm/construtordepaginas/htm/3_24_6965.htm
Materiais frágeis (Figura 6-b), como ferro fundido, vidro e pedra, são caracterizados por uma ruptura
que ocorre sem nenhuma mudança sensível no modo de deformação do material. Então, para os
materiais frágeis não existe diferença entre tensão última e tensão de ruptura. Além disso, a
deformação até a ruptura é muito menor nos materiais frágeis do que nos materiais dúteis. Para
materiais frágeis não ocorre estricção, a ruptura se dá numa superfície perpendicular ao carregamento
e, assim, as rupturas em tais materiais se deve principalmente a tensões normais.
No caso do alumínio e de muitos outros materiais dúcteis, o início do escoamento não é caracterizado
pelo trecho horizontal do diagrama (patamar de escoamento); ao invés disso, as tensões continuam
aumentando – embora não mais de maneira linear – até que a tensão última é alcançada. Começa
então a estricção, que pode levar à ruptura. Para esses materiais se define um valor convencional para
a tensão σe. A tensão convencional de escoamento é obtida tomando-se no eixo das abscissas a
deformação específica ε = 0,2% (ou ε = 0,002), e por esse ponto, traçando-se um reta paralela ao
5
trecho linear inicial do diagrama. A tensão σe corresponde ao ponto de intersecção dessa reta com o
diagrama; é definida como tensão convencional a 0,2%.
As estruturas correntes são projetadas de modo a sofrerem apenas pequenas deformações, que não
ultrapassem os valores do diagrama tensão-deformação correspondentes ao trecho linear do
diagrama. Na parte inicial do diagrama, a tensão σ é diretamente proporcional à deformação específica
ε e pode-se escrever (Equação (3)):
E. (3)
Essa relação é conhecida como Lei de Hooke e o coeficiente E é chamado Módulo de Elasticidade do
material, ou módulo de Young. Como a deformação específica é uma grandeza adimensional, o
módulo E é expresso na mesma unidade de σ, pascal ou seus múltiplos no SI.
Ao maior valor ao qual a Lei de Hooke é válida se denomina limite de proporcionalidade do material.
Figura 7: Relação carga x deformação para ensaios de tração e de compressão. Fonte: MORESCHI, J.
C. (2008).
6
Se o material tem início de escoamento bem definido, então o limite de elasticidade e o limite de
proporcionalidade coincidem com a tensão de escoamento. Assim, o material se comporta como
elástico enquanto as tensões se mantêm abaixo de valor de escoamento.
Resistência e Elasticidade
Esse conhecimento é adquirido através do estudo das características da madeira, feito através de
ensaios convencionais de compressão, tração, cisalhamento, flexão e outros.
Para a madeira, o andamento dos ensaios geralmente ocorre de acordo com a representação da
Figura 6-b, com deformação plástica pequena na tração paralela, isto é, ruptura sem aviso, com
deformação plástica exagerada na compressão normal e com deformação plástica média na
compressão paralela e na flexão.
7
(a) (b)
A direção longitudinal (axial) das peças é coincidente com a orientação das fibras, sendo denominada
direção paralela às fibras. É aquela que apresenta valores maiores de resistência e de rigidez.
Em termos práticos de construção civil, não é possível fazer distinção entre as direções radial (R),
tangencial (T), que são denominadas direção normal (ou perpendicular) às fibras. Ambas direções
apresentam valores próximos de resistência e de rigidez, mas muito inferiores ao da direção paralela
às fibras.
As propriedades de resistência e rigidez da madeira na direção paralela às fibras são indicadas pelo
símbolo “0”, enquanto o índice “90” caracteriza as da direção normal às fibras. Este índice indica o
ângulo entre a direção do esforço aplicado e a direção das fibras.
Compressão
Em regra, a resistência à compressão é proporcional ao peso específico. “Há casos, porém, escreve o
técnico José Aranha Pereira, em que em relação ao próprio peso específico, algumas madeiras são
altamente resistentes, o que se explica pela uniformidade do tecido, disposição homogênea de seus
elementos e também pela natureza físico-química desses próprios elementos. Essa particularidade é
notável nas coníferas, que apresentam baixo peso específico e, proporcionalmente, elevada
resistência à compressão. Delas se destaca o Spruce (Picea sp), madeira americana preciosa por
essa propriedade”, PEREIRA apud SANTOS (1987).
Quando a peça é solicitada por compressão paralela às fibras, as forças agem paralelamente à
direção dos elementos anatômicos responsáveis pela resistência, o que confere uma grande
resistência à madeira.
No caso de solicitação normal às fibras, a madeira apresenta valores de resistência menores, pois a
força é aplicada na direção normal ao comprimento das fibras (ou dos traqueídes), provocando seu
esmagamento. Os valores de resistência à compressão normal às fibras são da ordem de ¼ dos
valores apresentados pela madeira na compressão paralela.
8
A razão para esta diferença resulta do fato de que, na direção longitudinal, a resistência da madeira
deve-se, fundamentalmente, às fortes ligações covalentes das microfibrilas de celulose, as quais estão
orientadas, principalmente, segundo a direção longitudinal. A resistência da madeira na direção
perpendicular às fibras é muito menor porque esta depende da resistência das ligações de hidrogênio,
mais fracas, que ligam lateralmente as moléculas de celulose. A Figura 9 mostra o comportamento da
madeira na compressão (A) paralela e (B) perpendicular às fibras.
Figura 9: Comportamento da madeira na compressão (A) paralela e (B) perpendicular às fibras. Fonte:
RITTER(1990), apud CALIL, ROCCO LAHR e DIAS (2003).
A NBR 7190/1997 permite ignorar a influência da da inclinação das tensões normais em relação às
fibras da madeira até o âncgulo de α = 6o. Caso a inclinação seja superior a esse valor, é preciso
considerar a redução da resistência, onde adotam-se valores de resistência intermediários entre a
compressão paralela e a normal, valores estes obtidos pela expressão de Hankinson (Equação 4).
f 0 . f 90
f (4)
f 0 .sen f 90 . cos 2
2
Três tipos de solicitações são consideradas como principais nos elementos utilizados na construção
civil em geral, mobilizando as resistências à tração, à compressão e ao cisalhamento, bem como as
propriedades elásticas.
9
As propriedades da madeira são condicionadas por sua estrutura anatômica, devendo distinguir-se os
valores correspondentes à tração dos correspondentes à compressão, bem como os valores
correspondentes à direção paralela às fibras dos correspondentes à direção normal às fibras. Devem
também distinguir-se os valores correspondentes às diferentes classes de umidades, definidas no item
umidade.
As propriedades mecânicas aqui consideradas devem ser obtidas através de ensaios de pequenos
pedaços de madeira chamados “clear specimen”. Os corpos-de-prova deste tipo são normalmente
considerados homogêneos na mecânica da madeira.
A resistência é determinada convencionalmente pela máxima tensão que pode ser aplicada a corpos-
de-prova isentos de defeitos do material considerado até o aparecimento de fenômenos particulares de
comportamento além dos quais há restrição de emprego do material em elementos estruturais. De
modo geral, estes fenômenos são os de ruptura ou de deformação específica excessiva.
a) umidade;
b) densidade;
10
c) estabilidade dimensional;
h) cisalhamento;
i) fendilhamento;
j) flexão;
k) dureza;
m) embutimento;
Amostragem
Para a investigação direta de lotes de madeira serrada considerados homogêneos, cada lote não deve
ter volume superior a 12 m3.
Do lote a ser investigado deve-se extrair uma amostra, com corpos-de-prova distribuídos
aleatoriamente ao longo do lote, devendo ser representativa da totalidade deste. Para isso não se
devem retirar mais de um corpo-de-prova de uma mesma peça. Os corpos-de-prova devem ser isentos
de defeitos e retirados de regiões afastadas das extremidades das peças de pelo menos cinco vezes a
menor dimensão da seção transversal da peça considerada, mas nunca menor que 30 cm (Figura 11).
11
Figura 11: Esquema para extração de corpos-de-prova das peças. Fonte: NBR 7190 (1997).
Valores característicos
Os valores característicos das propriedades da madeira devem ser estimados pela Equação 58:
x1 x 2 ... x n
1
x wk 2 2
x n x1,1 (5)
n 2
1
2
onde os resultados devem ser colocados em ordem crescente x1 ≤ x2 ≤ ... ≤ xn, desprezando-se o valor
mais alto se o número de corpos-de-prova for ímpar, não se tomando para xwk valor inferior a x1, nem a
0,70 do valor médio (xm).
Relatório
Os resultados dos ensaios devem ser apresentados em relatório técnico que deve conter:
12
e) valores determinados das propriedades da madeira.
Objetivo
Definições
A resistência à compressão paralela às fibras (fwc,0 ou fc0) é dada pela máxima tensão de compressão
que pode atuar em um corpo-de-prova com seção transversal quadrada de 5,0 cm de lado e 15,0 cm
de comprimento, sendo dada pela Equação 6:
Fc 0, max
f c0 (6)
A
onde:
O valor característico da resistência à compressão paralela às fibras fc0,k deve ser determinado pelo
estimador dado pela Equação 5.
A rigidez da madeira na direção paralela às fibras deve ser determinada por seu módulo de
elasticidade, obtido do trecho linear do diagrama tensão x deformação específica, como indicado na
Figura 12, sendo expresso em megapascais.
Para esta finalidade, o módulo de elasticidade deve ser determinado pela inclinação da reta secante à
curva tensão x deformação, definida pelos pontos ( 10% ; 10% ) e ( 50% ; 50% ), correspondentes,
50% 10%
Ec 0 (7)
50% 10%
onde:
13
10% e 50% são as tensões de compressão correspondentes a 10% e 50% da resistência f c0,
representadas pelos pontos 71 e 85 do diagrama de carregamento (Figura 13);
10% e 50% são as deformações específicas medidas no corpo-de-prova, correspondentes às tensões
de 10% e 50% .
Figura 12: Diagrama tensão x deformação específica para determinação da rigidez à compressão
paralela às fibras. Fonte: NBR 7190 (1997).
14
Amostra
Figura 14: Corpo-de-prova para ensaio de compressão paralela às fibras. Fonte: NBR 7190 (1997).
Procedimento
Para a determinação das propriedades de resistência e de rigidez, as medidas dos lados do corpo-de-
prova devem ser feitas com exatidão de 0,1 mm.
Para a determinação do módulo de elasticidade devem ser feitas medidas de deformações em pelo
menos duas faces opostas do corpo-de-prova.
Para determinação do módulo de elasticidade podem ser utilizados relógios comparadores, com
precisão de 0,001 mm (Figura 15), fixados por meio de duas cantoneiras metálicas pregadas no corpo-
de-prova, com distância nominal de 10 cm entre as duas linhas de pregação (Figura 16).
As medidas das deformações específicas devem ser feitas com extensômetros com exatidão mínima
de 50 µm/m. Para o ajuste do corpo-de-prova na máquina de ensaio deve se utilizar uma rótula entre o
atuador e o corpo-de-prova.
A resistência deve ser determinada com carregamento monotônico crescente, com uma taxa em torno
de 10 MPa/min.
15
Figura 15: Relógios comparadores com precisão de 0,001mm.
(b)
(a)
Figura 16: Arranjo de ensaio para compressão paralela às fibras, com instrumentação baseada em
relógios comparadores. Fonte: (a) Fonte: NBR 7190 (1997).
Para determinação da rigidez, a resistência da madeira deve ser estimada (f c0,est) pelo ensaio
destrutivo de um corpo-de-prova selecionado da mesma amostra a ser investigada.
Conhecida a resistência estimada da amostra fc0,est, o carregamento deve ser aplicado com dois ciclos
de carga e descarga, de acordo com o procedimento especificado no diagrama de carregamento da
Figura 13. A taxa de carregamento deve ser de 10 MPa/min.
16
Os registros das cargas e das deformações devem ser feitos para cada ponto do diagrama de
carregamento mostrado na Figura 13.
Para a caracterização mínima de espécies pouco conhecidas, devem ser utilizadas duas amostras,
sendo uma com corpos-de-prova saturados e outra com corpos-de-prova com teor de umidade em
equilíbrio com ambiente (seco ao ar). A determinação do teor de umidade deve ser feita por meio dos
procedimentos estabelecidos no item referente a umidade.
Para a determinação dos módulos de elasticidade devem ser construídos os diagramas tensão x
deformação específica para todos os ensaios realizados.
Os resultados das propriedades de resistência e de rigidez à compressão paralela às fibras devem ser
analisados e apresentados, em valores característicos para resistência e em valor médio para o
módulo de elasticidade, acompanhados do respectivo teor de umidade. Estes valores devem ser
apresentados em relatório técnico como especificado anteriormente.
Exemplo prático
As leituras dos relógios, referentes às variações na dimensão dos corpos-de-prova são anotadas e são
calculadas as médias das mesmas. As médias deverão, ainda, ser multiplicadas por 0,001mm
(precisão do relógio) e divididas por 100mm (distância para a leitura nos relógios comparadores) para
o cálculo das deformações, como mostrado na planilha a seguir.
As forças devem ser transformadas de kgf para N, multiplicando-se por 9,8, já que 1 kgf = 9,8 N, ou a
transformação devida deve ser realizada nas contas finais, para que o resultado seja dado em MPa
(N/mm2). A força estimada para a ruptura é igual a 9000 kgf, neste exemplo.
17
01 05 15 21 31 35 45 51 61 62 63 64 65 66 67
R1* 18 84 86 28 26 85 88 28 28 36 53 70 90 118 138
R2** 18 115 117 20 20 117 118 22 22 45 70 85 117 145 168
Média 18 99,5 101,5 24 23 101 103 25 25 40,5 61,5 77,5 103,5 131,5 153
*R1 – Relógio 1
**R2 – Relógio 2
Fc 0, max
Utilizando-se a expressão f c 0 , onde Fc0,max equivale a força de ruptura, calcula-se o valor da
A
resistência à compressão paralela às fibras, que neste caso é igual a 38,7 MPa.
18
Esta mesma expressão é utilizada para encontrar as tensões a 10% (900 kgf) e a 50% (4000 kgf) da
carga de ruptura, medidas em MPa. Calculadas as tensões e respectivas deformações nos pontos de
50% 10%
10% e 50% da carga de ruptura e utilizando-se a expressão Ec 0 , calcula-se o valor do
50% 10%
módulo de elasticidade na compressão paralela às fibras, que neste caso é igual a 18150,9 MPa.
Bibliografia
ASKELAND, D. R. The science and engineering of materials. 3. ed. Boston: PWS publishing
Company, University of Missouri – Rolla, 1994. 812p.
BEER, F. P.; JONSTON Jr, E. R. Resistência dos Materiais. Pearson Makron Books, 3ª ed. 1995.
Forest Products Laboratory (1999). Wood handbook – Wood as an engineering material. Gen. Tech.
Rep. FPL – GTR – 113. Madison, WI: US. Departament of Agriculture, Forest Service, Forest Products
Laboratory, 463p.
SANTOS, E. Nossas madeiras. v. 7. ed. Belo Horizonte: Itatiaia Ltda, 1987. 313p.
SMITH, W. F. Princípios de ciência e engenharia dos materiais. 3. ed. Portugal: McGraw – Hill Ltda,
1998. 892p.
19
Propriedades Mecânicas da Madeira
Aula 5
Densidade
Define-se o termo prático “densidade básica” da madeira como sendo a massa específica
convencional obtida pelo quociente da massa seca pelo volume saturado.
A massa seca é determinada mantendo-se os corpos-de-prova em estufa a 103oC até que a massa do
corpo-de-prova permaneça constante. O volume saturado é determinado em corpos-de-prova
submersos em água até atingirem peso constante.
Umidade
O projeto das estruturas de madeira deve ser feito admitindo-se uma das classes de unidade
especificadas na Tabela 1.
As classes de umidade têm por finalidade ajustar as propriedades de resistência e de rigidez da
madeira em função das condições ambientais onde permanecerão as estruturas. Estas classes
também podem ser utilizadas para a escolha de métodos de tratamentos preservativos das madeiras.
1
Tabela 1: Classes de umidade
Condições de referência
a) Condição-padrão de referência
Os valores especificados pelo documento normativo ABNT 7190/1997 para as propriedades de
resistência e de rigidez da madeira são os correspondentes à classe 1 de umidade, que se
constitui na condição padrão de referência, definida pelo teor de unidade de equilíbrio da madeira
de 12%.
Na caracterização usual das propriedades de resistência e de rigidez de um dado lote de material,
os resultados de ensaios realizados com diferentes teores de umidade da madeira, contidos no
intervalo entre 10% e 20%, devem ser apresentados com os valores corrigidos para a umidade
padrão de 12%, classe 1.
A resistência deve ser corrigida pela Equação 1 e a rigidez pela Equação 3, citadas anteriormente
admitindo-se que a resistência e a rigidez da madeira sofram apenas pequenas variações para
umidades acima de 20%.
Admite-se como desprezível a influência da temperatura na faixa usual de utilização de 10 oC a
60oC.
b) Condições especiais de emprego
A influência da temperatura nas propriedades de resistência e de rigidez da madeira deve ser
considerada apenas quando as peças estruturais puderem estar submetidas por longos períodos
de tempo à temperaturas fora da faixa usual de utilização.
2
Caracterização da resistência da madeira serrada
central de seção transversal uniforme de área A e comprimento não menor que 8 A , com
extremidades mais resistentes que o trecho central e com concordâncias que garantam a
ruptura no trecho central;
c) Resistência à compressão normal às fibras (fwc,90 ou fc,90) a ser determinada em um ensaio de
compressão uniforme, com duração total de 3 min a 8 min, de corpos-de-prova de seção
quadrada de 5 cm de lado e com comprimento de 10 cm;
d) Resistência à tração normal às fibras (fwt,90 ou ft,90) a ser determinada por meio de ensaios
padronizados;
Obs. Para efeito de projeto estrutural, considera-se como nula a resistência à tração normal às
fibras das peças de madeira.
e) Resistência ao cisalhamento paralelo às fibras (fwv,0 ou fv,0) a ser determinada pelo ensaio de
cisalhamento paralelo às fibras;
f) Resistência de embutimento paralelo às fibras (fwe,0 ou fe,0) e resistência de embutimento
normal às fibras (fwe,90 ou fe,90) a serem determinadas por meio de ensaios padronizados (os
resultados são equivalentes à compressão, usado para estudo de ligações);
g) Densidade básica, determinada de acordo com o item referente à densidade, e a densidade
aparente, com os corpos de prova a 12% de umidade.
3
b) Resistência à tração paralela às fibras (fwt,0 ou ft,0): permite-se admitir, na impossibilidade da
realização do ensaio de tração uniforme, que este valor seja igual ao da resistência à tração na
flexão;
c) Resistência ao cisalhamento paralelo às fibras (fwv,0 ou fv,0);
d) Densidade básica e densidade aparente.
Caracterização completa
A caracterização completa de rigidez das madeiras é feita por meio da determinação dos seguintes
valores, que devem ser referidos à condição padrão de umidade (U=12%):
a) Valor médio do módulo de elasticidade na compressão paralela às fibras: E c0,m determinado
com pelo menos dois ensaios;
b) Valor médio do módulo de elasticidade na compressão normal às fibras: E c90,m determinado
com pelo menos dois ensaios;
Admite-se que sejam equivalentes os valores dos módulos de elasticidade à compressão e à tração
paralelas às fibras: E c0,m = Et0,m.
4
Caracterização simplificada
A caracterização simplificada da rigidez das madeiras pode ser feita apenas na compressão paralela
às fibras:
a) Valor médio do módulo de elasticidade na compressão paralela às fibras (E c0,m);
1
b) Na direção normal vale a relação Ec 90 Ec0 .
20
Na impossibilidade da realização do ensaio de compressão simples, permite-se avaliar o módulo de
elasticidade Ec0,m por meio de ensaio de flexão, de acordo com o método especificado no anexo B do
documento normativo NBR 7190/1997, da ABNT. Por este ensaio, determina-se o módulo aparente de
elasticidade na flexão EM, admitindo as seguintes relações:
a) Coníferas: E M 0,85Ec 0 ;
b) Dicotiledôneas: E M 0,90 Ec 0 .
Para as espécies já investigadas por laboratórios idôneos, que tenham apresentado os valores médios
das resistências fwm e dos módulos de elasticidade Ec0,m, correspondentes a diferentes teores de
umidade U% ≤ 20%, admite-se, como valor de referência a resistência média fwm,12 correspondente a
12% de umidade. Admite-se, ainda, que esta resistência possa ser calculada pela Equação 1.
3.(U % 12)
f12 fU % 1 (1)
100
Neste caso, para o projeto, pode-se admitir a seguinte relação entre as resistências característica e
média (Equação 2):
Para a investigação direta da resistência de lotes homogêneos de madeira, cada lote não deve ter
volume superior a 12 m3. Os valores experimentais obtidos devem ser corrigidos pela expressão dada
pelas equações 1 e 3 para o teor de umidade de 12%.
2.(U % 12)
E12 EU % 1 (3)
100
A determinação da resistência média deve ser feita com pelo menos dois ensaios.
O valor característico da resistência deve ser estimado pela Equação 4:
5
f1 f 2 ... f n
1
f wk 2 2
f n x1,1 (4)
n 2
1
2
onde os resultados devem ser colocados em ordem crescente f1 ≤ f2 ≤ ... ≤ fn, desprezando-se o valor
mais alto se o número de corpos-de-prova for ímpar, não se tomando para fwk valor inferior a f1, nem a
0,70 do valor médio.
Valores característicos
Os valores característicos das propriedades da madeira devem ser estimados pela Equação 5:
x1 x 2 ... x n
1
x wk 2 2
x n x1,1 (5)
n 2
1
2
onde os resultados devem ser colocados em ordem crescente x1 ≤ x2 ≤ ... ≤ xn, desprezando-se o valor
mais alto se o número de corpos-de-prova for ímpar, não se tomando para xwk valor inferior a x1, nem a
0,70 do valor médio (xm).
CP CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6 CP7 CP8 CP9 CP10 CP11 CP12 Média
fc0 (MPa) 56,7 43,0 61,9 64,7 59,6 54,9 38,6 34,9 43,0 58,0 58,1 50,1 52,0
Para se estimar o valor característico da amostra (com n=12 exemplares), devem-se ordenar os
valores em ordem crescente e utilizar apenas os n/2=6 valores menores: 34,9 – 38,6 – 43,0 – 43,0 –
50,1 – 54,9.
6
34,9 38,6 43,0 43,0 50,1
f c 0,k 2 54,9 x1,1 = 31,8 MPa
5
Não se deve, no entanto, tomar valor inferior ao menor valor observado nos ensaios (34,9 MPa) ou
inferior a 70% do valor médio da resistência da amostra (0,7*52,0 = 36,4 MPa). Portanto o valor
característico para a resistência à compressão paralela será: 36,4 MPa.
Classes de resistência
As classes de resistência das madeiras têm por objetivo o emprego de madeiras com propriedades
padronizadas orientando a escolha do material para a elaboração de projetos estruturais e são
mostradas nas Tabelas 2 e 3.
Coníferas
(Valores na condição-padrão de referência U = 12%)
Classes
fc0k fvk E c0,m bas ,m aparente
MPa MPa MPa kg/m 3
kg/m3
C 20 20 4 3500 400 500
C 25 25 5 8500 450 550
C 30 30 6 14500 500 600
Dicotiledôneas
(Valores na condição-padrão de referência U = 12%)
Classes
fc0k fvk E c0,m bas ,m aparente
MPa MPa MPa kg/m
3
kg/m
3
7
Resistência à compressão normal às fibras
A solicitação de compressão normal às fibras ocorre com maior assiduidade na região dos apoios de
peças estruturais, com forças relativamente altas aplicas em uma direção na qual a madeira apresenta
menor resistência, comparada com a compressão paralela, em função de sua constituição anatômica.
No caso de solicitação normal às fibras, a madeira apresenta valores de resistência menores que na
compressão paralela às fibras, pois a força é aplicada na direção normal ao comprimento das fibras
(ou dos traqueídes), provocando seu esmagamento. Os valores de resistência à compressão normal
às fibras são da ordem de ¼ dos valores apresentados pela madeira na compressão paralela.
A razão para esta diferença resulta do fato de que, na direção longitudinal, a resistência da madeira
deve-se, fundamentalmente, às fortes ligações covalentes das microfibrilas de celulose, as quais estão
orientadas, principalmente, segundo a direção longitudinal. A resistência da madeira na direção
perpendicular às fibras é muito menor porque esta depende da resistência das ligações de hidrogênio,
mais fracas, que ligam lateralmente as moléculas de celulose. A Figura 1 mostra o comportamento da
madeira na compressão (A) paralela e (B) perpendicular às fibras.
Figura 1: Comportamento da madeira na compressão (A) paralela e (B) perpendicular às fibras. Fonte:
RITTER(1990), apud CALIL, ROCCO LAHR e DIAS (2003).
O comportamento da madeira quando solicitada por compressão normal é bem distinto do que ocorre,
por exemplo, nos casos de compressão paralela, tração paralela ou normal às fibras. Isto pode ser
melhor compreendido analisando-se a estrutura interna do material.
Efetuando-se um ensaio de compressão normal às fibras em uma peça em uma peça de madeira,
verifica-se um trecho iniciaimente linear no diagrama tensão x deformação. Posteriormente, se observa
um aumento proporcionalmente maior nas deformações em relação às tensões. As deformações
atingem valores grandes sem a ocorrência de ruptura.
Segundo HELLMEISTER (1973), “após ser atingido o limite de deformação elástica, as fibras e vasos
ou traqueídes admitem grande deformação plástica e começam a ser facilmente esmagados”.
8
MADSEN et al (1982) sugerem que o mecanismo de ruptura na solicitação de compressão normal às
fibras pode ser visualizado, num modelo muito simplificado, como esmagamento das paredes das
células, conforme Figura 2. Salientam que, devido à presença de nós ou outras características de
crescimento, o mecanismo de ruptura reaI é muito mais complicado.
Na maioria dos casos, a orientação mais crítica para a solicitação de compressão normal às fibras é a
aplicada sobre a seção radial, isto é, na direção tangencial aos anéis de crescimento. BOLZA &
KLOOT (1963) apresentam banco de dados de propriedades mecânicas de madeiras australianas,
onde este fato pode ser constatado: poucas espécies apresentam maior resistência para o caso de
carga aplicada na direção radial e, quando isto ocorre, existe pequena diferença entre as duas
situações.
No caso do alumínio e de muitos outros materiais dúcteis, o início do escoamento não é caracterizado
pelo trecho horizontal do diagrama (patamar de escoamento); ao invés disso, as tensões continuam
aumentando – embora não mais de maneira linear – até que a tensão última é alcançada. Começa
então a estricção, que pode levar à ruptura. Para esses materiais se define um valor convencional para
a tensão σe. A tensão convencional de escoamento é obtida tomando-se no eixo das abscissas a
deformação específica ε = 0,2% (ou ε = 0,002), e por esse ponto, traçando-se um reta paralela ao
trecho linear inicial do diagrama. A tensão σe corresponde ao ponto de intersecção dessa reta com o
diagrama; é definida como tensão convencional a 0,2%.
Para a madeira, o andamento dos ensaios geralmente ocorre de acordo com a representação da
Figura 3-b, com deformação plástica pequena na tração paralela, isto é, ruptura sem aviso, com
deformação plástica exagerada na compressão normal e com deformação plástica média na
compressão paralela e na flexão. A deformação plástica é tipicamente grande neste tipo de ensaio.
9
(a) (b)
Figura 3: Diagrama tensão-deformação (a) para materiais dúcteis e (b) para materiais frágeis. Fontes:
http://www.cimm.com.br/cimm/construtordepaginas/htm/3_24_6964.htm e
http://www.cimm.com.br/cimm/construtordepaginas/htm/3_24_6965.htm
Módulo de Elasticidade
A elasticidade implica que deformações produzidas por baixa tensão são completamente recuperáveis
após as cargas serem removidas. O Módulo de Elasticidade (E) ou Módulo de Young, é a inclinação
da curva tensão deformação na região elástica. Esta relação é baseada na Lei de Hooke (Equação 6):
E (6)
Os três módulos de elasticidade, que são denotados por E L, ER e ET, respectivamente, são os módulos
elásticos ao longo dos eixos longitudinal, radial e tangencial da madeira. Estes módulos são obtidos
geralmente de ensaios de compressão; contudo, dados para E R e ET não são comuns.
As razões elásticas, bem como as constantes elásticas, em si, variam dentro e entre as espécies e
com o teor de umidade e a densidade.
O módulo de elasticidade determinado da flexão, EL, segundo um ensaio axial, pode ser o único
módulo de elasticidade disponível para uma espécie. Esse valor inclui um efeito de deflexão por
cisalhamento e pode ser aumentado em aproximadamente 10% ao remover este efeito.
A rigidez dos materiais é medida pelo valor médio do módulo de elasticidade, determinado na fase de
comportamento elástico-linear. O módulo de elasticidade EW0 na direção paralela às fibras é medido no
10
ensaio de compressão paralela às fibras e o módulo de elasticidade EW90 na direção normal às fibras é
medido no ensaio de compressão normal às fibras.
1
EW 90 EW 0 (7)
20
Objetivo
Definições
A resistência à compressão normal às fibras (fwc,90 ou fc90) é o valor convencional determinado pela
deformação específica residual de 2‰ , mostrado na Figura 4, obtida em um ensaio de compressão
uniforme em corpos-de-prova prismáticos.
O valor característico da resistência à compressão normal às fibras f c90,k deve ser estimado pelo
estimador dado pela Equação 8:
11
f1 f 2 ... f n
1
f wk 2 2
f n x1,1 (8)
n 2
1
2
A rigidez da madeira na direção normal às fibras deve ser determinada por seu módulo de
elasticidade, obtido do trecho linear do diagrama tensão x deformação específica, como indicado na
Figura 4.
Para esta finalidade o módulo de elasticidade deve ser determinado pela inclinação da reta secante à
curva tensão x deformação, definida pelos pontos ( 10%; 10%) e ( 50%; 50%) correspondentes,
respectivamente, a 10% e 50% da resistência convencional à compressão normal às fibras fc90, sendo
dado pela Equação 9:
50% 10%
Ec 90 (9)
50% 10%
onde:
10% e 50% são as tensões de compressão normal correspondentes a 10% e 50% da resistência
convencional fc90, representadas pelos pontos 71 e 85 do diagrama de carregamento mostrado na
Figura 5;
10% e 50% são as deformações específicas medidas na direção normal às fibras correspondentes às
tensões 10% e 50%.
O corpo-de-prova deve ter forma prismática, com seção transversal quadrada de 5,0 cm de lado e
altura, na direção tangencial, de 10 cm, como indicado na Figura 6.
Procedimento
Para a determinação das propriedades de resistência e rigidez, as medidas dos lados dos corpos-de-
prova devem ser feitas com exatidão de 0,1 mm.
Para determinação do módulo de elasticidade devem ser feitas medidas de deformações em pelo
menos duas faces opostas do corpo-de-prova.
Para determinação do módulo de elasticidade podem ser utilizados relógios comparadores, com
exatidão de 0,01 mm, para medidas das deformações totais do corpo-de-prova, como indicado na
Figura 7. Destas medidas devem ser descontadas deformações intrínsecas da máquina de ensaio.
13
Figura 7: Arranjo de ensaio para compressão normal às fibras. Fonte: NBR 7190 (1997).
Para o ajuste do corpo-de-prova na máquina de ensaio, deve-se utilizar uma rótula entre o atuador e o
corpo-de-prova. O carregamento deve ser monotônico crescente correspondente a uma taxa de 10
MPa/min. Quanto maior for a velocidade do carregamento no ensaio, maior será o valor da resistência
encontrado. Isto se deve ao fato de as fibras e moléculas que constituem o material apresentarem
certa inércia para reagir ao esforço aplicado.
Para determinação da rigidez, a resistência da madeira deve ser estimada (f c90,est) por ensaio destrutivo
de um corpo-de-prova gêmeo, selecionado da mesma amostra a ser investigada. Conhecida a
resistência estimada da amostra fc90,est, o carregamento deve ser aplicado com dois ciclos de carga e
descarga, de acordo com o procedimento especificado no diagrama de carregamento da Figura 5.
Os registros das cargas e das deformações devem ser feitos para cada ponto do diagrama de
carregamento mostrado na Figura 5. Em seguida deve-se retirar a instrumentação e levar o
carregamento até a ruptura do corpo-de-prova.
Para a caracterização mínima de espécies pouco conhecidas, devem ser utilizadas duas amostras,
sendo uma com corpos-de-prova saturados e outra com corpos-de-prova com teor de umidade em
equilíbrio com o ambiente (seco ao ar). A determinação do teor de umidade deve ser feita por meio
dos procedimentos estabelecidos em aula anterior.
14
Apresentação dos resultados
Para a determinação dos módulos de elasticidade devem ser construídos diagramas tensão x
deformação específica para todos os ensaios realizados.
Os resultados das propriedades de resistência e de rigidez à compressão normal às fibras devem ser
apresentados com valor característico para resistência, e com valor médio para o módulo de
elasticidade, acompanhados do respectivo teor de umidade. Estes valores devem ser apresentados
em relatório técnico especificado em aula anterior.
A resistência à compressão normal às fibras (fwc,90 ou fc90) é dada pela máxima tensão de compressão
que pode atuar em um corpo-de-prova com seção transversal quadrada de 5,0 cm de lado e 10,0 cm
de comprimento, sendo dada pela Equação 10:
Fc 90 ,max
f c90 (10)
A
onde:
Exemplo prático
1) Determinação de fc90,est
Carrega-se o corpo-de-prova de estimativa de 100 kgf a 1000 kgf, de 100 kgf em 100 kgf, ou seja, pelo
menos dez leituras, sendo necessárias mais leituras se a resistência da espécie estudada for um valor
muito alto, e medem-se as suas respectivas deformações . Multiplicando-se as cargas por 9,8 a
unidade é transformada para Newtons. Dividindo-se as forças, em N, pela área dos corpos-de-prova
(cerca de 2500 mm) obtém-se as tensões respectivas.
Somam-se os valores obtidos nos dois relógios (previamente multiplicadas por 0,01, para a unidade
ficar em mm, devido à precisão dos relógios) e divide-se por 100 mm, referente ao comprimento inicial
do corpo-de-prova encontrando-se, assim, as deformações.
15
Plota-se o diagrama tensão x deformação. Traça-se uma reta que passe sobre a parte elástica do
diagrama e, em seguida, uma reta paralela à esta numa distância de 0,002 de deformação. O ponto
em que esta segunda reta toca na curva é referente a resistência estimada da amostra (fc90,est ) para os
ensaios seguintes.
Como indicado na Figura 8, a tensão de ruptura estimada (fc90,est) é, neste caso, aproximadamente
igual a 4,9 MPa. Dividindo-se este valor por 9,8 e multiplicando-se pela área do corpo-de-prova (2540
mm2) obtém-se o valor da carga estimada em kgf, que neste caso é igual a 1270 kgf e a carga
estimada da amostra considerada foi de 1200 kgf.
16
Figura 8: Cálculo da resistência estimada (fc90,est) na compressão normal às fibras para a amostra da
espécie Pinus Caribaea Hondurensis.
01 05 15 21 31 35 45 61 71 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91
R1 25 71 72 35 34 73 73 35 34 45 54 64 74 84 95 107 121 135 152
R2 13 59 60 24 23 61 61 24 23 34 43 53 62 72 83 94 108 122 138
M 19 65 66 29,5 28,5 67 67 29,5 28,5 39,5 48,5 58,5 68 78 89 100,5 114,5 128,5 145
*R1 – Relógio 1
**R2 – Relógio 2
*** M - média
17
A determinação da resistência convencional (f c,90) à compressão normal da madeira é determinada
através de um diagrama carga x deformação e corresponde ao seguinte ponto desse diagrama:
desloca-se o trecho linear do diagrama, paralelamente na direção horizontal, um valor correspondente
a 0,2% de deformação de corpo-de-prova; o cruzamento desta reta com o diagrama define o ponto
com o valor de carga correspondente à resistência.
O ensaio deve ser realizado até um nível de carga que garanta que a resistência convencional da
madeira já tenha sido excedida. Este nível pode ser definido quando for observado um apreciável
aumento do acréscimo das deformações para incrementos constantes de carga.
No caso de utilização de relógios comparadores, devem ser feitas medidas de deformações para dez
níveis de carga, pelo menos, do início do ensaio até ser atingida a resistência.
As leituras dos relógios, referentes às variações na dimensão dos corpos-de-prova são anotadas e são
calculadas as médias das mesmas. As médias deverão, ainda, ser multiplicadas por 0,01mm (precisão
do relógio) e divididas por 100mm (distância para a leitura nos relógios comparadores) para o cálculo
das deformações, como mostrado na planilha a seguir.
As forças devem ser transformadas de kgf para N, multiplicando-se por 9,8, já que 1 kgf = 9,8 N, ou a
transformação devida deve ser realizada nas contas finais, para que o resultado seja dado em MPa
(N/mm2). A força estimada para a ruptura é igual a 1200 kgf, neste exemplo.
Figura 9: Dados para a determinação da resistência (fwc,90 ou fc90) e da rigidez (Ec,90) à compressão
normal às fibras para uma amostra de Pinus Caribaea Hondurensis.
18
A Figura 10 é referente ao diagrama tensão x deformação específica para determinação da resistência
e da rigidez da madeira na direção normal às fibras, relacionado aos dados da Figura 9.
Figura 10: Diagrama tensão x deformação específica para determinação da resistência e da rigidez da
madeira na direção normal às fibras.
Como pode ser observado na Figura 10, a resistência à compressão normal às fibras (fwc,90 ou fc90) é o
valor convencional determinado pela deformação específica residual de 2‰, equivalente a 5,1 MPa.
Para a determinação da rigidez da amostra, calculam-se as tensões a 10% (120 kgf) e a 50% (600 kgf)
da força de ruptura estimada, medidas em MPa. Obtidas as tensões e respectivas deformações nos
50% 10%
pontos de 10% e 50% da carga de ruptura e utilizando-se a expressão Ec 90 , calcula-se
50% 10%
o valor do módulo de elasticidade na compressão normal às fibras, que neste caso é igual a 468 MPa.
19
Classificação dos tipos de ruptura em um ensaio de compressão paralela às fibras
Segundo o documento ASTM D 143-52, as formas de ruptura, bem como a classificação das formas
de ruptura de acordo com o surgimento da superfície fraturada, na compressão paralela às fibras, são
mostradas na Figura 11.
Figura 9 – Classificação dos tipos de ruptura em um ensaio de compressão paralela às fibras. Fonte:
ASTM D 143-52 (1982) apud TRINCA (2006).
1 – Esmagamento: termo utilizado quando a ruptura é aproximadamente horizontal;
3 – Cisalhamento: quando o plano de ruptura forma ângulo de 45 o ou mais com o topo de corpo-de-
prova;
20
Tabela – Valores médios de madeiras coníferas nativas e de florestamento
Pinho do Paraná Araucaria angustifolia 580 40,9 93,1 1,6 8,8 15225 15
Pinus caribea Pinus caribea var. caribea 579 35,4 64,8 3,2 7,8 8431 28
Pinus bahamensis Pinus caribea var. bahamensis 537 32,6 52,7 2,4 6,8 7110 32
Pinus hondurensis Pinus caribea var. hondurensis 535 42,3 50,3 2,6 7,8 9868 99
Pinus elliottii Pinus elliottii var. elliottii 560 40,4 66,0 2,5 7,4 11889 21
Pinus oocarpa Pinus oocarpa shiede 538 43,6 60,9 2,5 8,0 10904 71
Pinus taeda Pinus taeda L. 645 44,4 82,8 2,8 7,7 13304 15
1)
ap (12%) é a massa específica aparente a 12% de umidade
2)
fc0 é a resistência à compressão paralela às fibras
3)
ft0 é a resistência à tração paralela às fibras
4)
ft90 é a resistência à tração normal às fibras
5)
f v é a resistência ao cisalhamento
6)
Ec0 é o módulo de elasticidade longitudinal obtido no ensaio de compressão paralela às fibras
7)
n é o número de corpos-de-prova ensaiados
Notas
21
Bibliografia
BEER, F. P.; JONSTON Jr, E. R. Resistência dos Materiais. Pearson Makron Books, 3ª ed. 1995.
BOLZA, E. KLOOT, N. H. (1963) The mechanical properties of 174 australian timber. Melbourne,
CSIRO. 112p. (Division of Forest Products Technological Paper, 25)
DIAS, A. A. Estudo da solicitação de compressão normal às fibras da madeira. São Carlos, 1994,
144p. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1994.
MADSEN, B.; HOOLEY, R. F.; HALL, C. P. (1982) A design method for bearing stresses in Wood.
Canadian Jounal of Civil Engineering, v. 9, n. 2, p. 338 -349.
22
Propriedades Mecânicas da Madeira
Aula 6
Tração
Dois tipos diferentes de tração podem ocorrer em peças de madeira: tração paralela ou tração
perpendicular às suas fibras. As propriedades da madeira referentes a estas solicitações diferem
extremamente.
A ruptura por tração paralela pode ocorrer por deslizamento entre as fibras (ou traqueídes) ou por
ruptura de suas paredes. Em ambos os modos de ruptura, a madeira apresenta baixos valores de
deformação e elevados valores de resistência.
Já na ruptura por tração normal, a madeira apresenta baixos valores de resistência, pois os esforços
atuam na direção perpendicular às fibras (ou traqueídes), tendendo a separá-las, com baixos valores
de deformação. Considerando a baixa resistência da madeira nesta direção, devem ser evitadas, em
projeto, situações que conduzam a esta forma de solicitação.
Figura 1: Comportamento da madeira na tração (A) paralela e (B) perpendicular às fibras. Fonte:
CALIL, ROCCO LAHR e DIAS (2003).
Materiais frágeis (Figura 2-b), como ferro fundido, vidro e pedra, são caracterizados por uma ruptura
que ocorre sem nenhuma mudança sensível no modo de deformação do material. Então, para os
materiais frágeis não existe diferença entre tensão última e tensão de ruptura. Além disso, a
deformação até a ruptura é muito menor nos materiais frágeis do que nos materiais dúteis. Para
materiais frágeis não ocorre estricção, a ruptura se dá numa superfície perpendicular ao carregamento
e, assim, as rupturas em tais materiais se deve principalmente a tensões normais.
Para a madeira, o andamento dos ensaios geralmente ocorre de acordo com a representação da
Figura 2-b, com deformação plástica pequena na tração paralela, isto é, ruptura sem aviso, com
1
deformação plástica exagerada na compressão normal e com deformação plástica média na
compressão paralela e na flexão. A deformação plástica é tipicamente grande neste tipo de ensaio.
(a) (b)
Figura 2: Diagrama tensão-deformação (a) para materiais dúcteis e (b) para materiais frágeis. Fontes:
http://www.cimm.com.br/cimm/construtordepaginas/htm/3_24_6964.htm e
http://www.cimm.com.br/cimm/construtordepaginas/htm/3_24_6965.htm
Objetivo
Definições
A resistência à tração paralela às fibras (fwt,0 ou ft0) é dada pela máxima tensão de tração que pode
atuar em um corpo-de-prova alongado com trecho central de seção transversal uniforme de área A e
comprimento não menor que 8 A , com extremidades mais resistentes que o trecho central e com
concordâncias que garantam a ruptura no trecho central, sendo dada pela Equação 1:
Ft 0,max
ft0 (1)
A
onde:
2
A é a área inicial da seção transversal tracionada do trecho central do corpo-de-prova, em metros
quadrados;
O valor característico da resistência à tração paralela às fibras f t0,k deve ser determinado pelo
estimador dado anteriormente.
A rigidez da madeira, na direção paralela às fibras, obtida pelo ensaio de tração paralela às fibras, é
caracterizada pelo módulo de elasticidade determinado pelo trecho linear do diagrama tensão x
deformação específica, como indicado na Figura 3.
Figura 3: Diagrama tensão x deformação específica da tração paralela às fibras. Fonte: NBR 7190 (1997).
Para esta finalidade, o módulo de elasticidade deve ser determinado pela inclinação da reta secante à
curva tensão deformação, definida pelos pontos ( 10% , 10% ) e ( 50% , 50% ) correspondentes
respectivamente a 10% e 50% da resistência a tração paralela às fibras medida no ensaio, sendo dado
pela Equação 2:
50% 10%
Et 0 (2)
50% 10%
onde:
3
10% e 50% são as tensões de tração correspondentes a 10% e 50% da resistência ft0, representadas
pelos pontos 71 e 85 do diagrama de carregamento (Figura 4);
10% e 50% são as deformações específicas de tração medidas no trecho central do corpo-de-prova
alongado, correspondentes às tensões de 10% e 50% , respectivamente.
Figura 4: Diagrama de carregamento para a determinação da rigidez da madeira à tração. Fonte: NBR
7190 (1997).
Amostra
Para se determinar a resistência e o módulo de elasticidade na tração paralela às fibras, deve ser
utilizado um dos dois tipos de corpos-de-prova indicados na Figura 5, com as medidas dadas em cm.
4
Figura 5: Corpos-de-prova para ensaios de tração paralela às fibras. Fonte: NBR 7190 (1997).
Procedimento
Para determinação do módulo de elasticidade devem ser feitas medidas de deformações em pelo
menos duas faces opostas do corpo-de-prova e, no caso de corpo-de-prova com seção circular, em
duas posições diametralmente opostas.
Para determinação do módulo de elasticidade podem ser utilizados relógios comparadores, com
precisão de 0,001mm, como indicado na Figura 6.
5
Figura 6: Dispositivo de ensaio de compressão paralela às fibras da madeira. Fonte: NBR 7190 (1997).
As medidas das deformações específicas devem ser feitas com extensômetros com exatidão mínima
de 50 µm/m.
Para o ajuste do corpo-de-prova na máquina de ensaios mecânicos, deve-se utilizar uma rótula entre o
atuador e o corpo-de-prova.
Para a determinação da rigidez, a resistência da madeira deve ser estimada (f t0,est) pelo ensaio
destrutivo de um corpo-de-prova gêmeo, selecionado da mesma amostra a ser investigada. A Figura
7a mostra o corpo-de-prova de tração paralela às fibras da madeira após serem retirados os relógios
comparadores e a Figura 7b, após a sua ruptura.
6
(a) (b)
Figura 7: a) Corpo-de-prova de tração paralela às fibras de madeira após serem retirados os relógios
comparadores e b) Corpo-de-prova de tração paralela às fibras de madeira após a sua ruptura.
Conhecida a resistência estimada da amostra ft0,est, o carregamento deve ser aplicado com dois ciclos
de carga e descarga, de acordo com o procedimento especificado no diagrama de carregamento da
Figura 4.
Para a caracterização mínima de espécies pouco conhecidas, devem ser utilizadas duas amostras,
sendo uma com corpos-de-prova saturados e outra com corpos-de-prova com teor de umidade em
equilíbrio com o ambiente.
A determinação do teor de umidade deve ser feita por meio dos procedimentos estabelecidos
anteriormente.
Para a determinação dos módulos de elasticidade devem ser construídos diagramas tensão de
formação específica para todos os ensaios realizados.
Os resultados das propriedades de resistência e de rigidez à tração paralela às fibras devem ser
analisados e apresentados em valores característicos para resistência e em valor médio para o módulo
de elasticidade, acompanhados do respectivo teor de umidade. Estes valores devem ser apresentados
em relatório técnico especificado em aula anterior.
7
Exemplo prático
01 05 15 21 31 45 55 61 71 82 83 84 85 86 87
R1* 5 14 14 4 4 15 14 5 5 13 14 16 18 30 55
R2** 38 165 161 22 15 167 167 20 23 60 100 137 165 205 248
Média 21,5 89 87,5 13 9,5 84 83,5 12,5 14 36,5 57 69 91,5 117,5 151,5
As leituras dos relógios, referentes às variações na dimensão dos corpos-de-prova são anotadas e são
calculadas as médias das mesmas. As médias deverão, ainda, ser multiplicadas por 0,001mm
(precisão do relógio) e divididas por 100mm (distância para a leitura nos relógios comparadores) para
o cálculo das deformações, como mostrado na planilha a seguir.
As forças devem ser transformadas de kgf para N, multiplicando-se por 9,8, já que 1 kgf = 9,8 N, ou a
transformação devida deve ser realizada nas contas finais, para que o resultado seja dado em MPa
(N/mm2). A força estimada para a ruptura é igual a 1000 kgf, neste exemplo.
8
Ft 0,max
Utilizando-se a expressão f t 0 , onde Ft0,max equivale a força de ruptura, calcula-se o valor da
A
resistência à compressão paralela às fibras, que neste caso é igual a 40,2 MPa.
Esta mesma expressão é utilizada para encontrar as tensões a 10% (100 kgf) e a 50% (500 kgf) da
carga de ruptura, medidas em MPa. Calculadas as tensões e respectivas deformações nos pontos de
50% 10%
10% e 50% da carga de ruptura e utilizando-se a expressão Et 0 , calcula-se o valor do
50% 10%
módulo de elasticidade na compressão paralela às fibras, que neste caso é igual a 12862,4 MPa.
9
Tabela – Valores médios de madeiras coníferas nativas e de florestamento
Pinho do Paraná Araucaria angustifolia 580 40,9 93,1 1,6 8,8 15225 15
Pinus caribea Pinus caribea var. caribea 579 35,4 64,8 3,2 7,8 8431 28
Pinus bahamensis Pinus caribea var. bahamensis 537 32,6 52,7 2,4 6,8 7110 32
Pinus hondurensis Pinus caribea var. hondurensis 535 42,3 50,3 2,6 7,8 9868 99
Pinus elliottii Pinus elliottii var. elliottii 560 40,4 66,0 2,5 7,4 11889 21
Pinus oocarpa Pinus oocarpa shiede 538 43,6 60,9 2,5 8,0 10904 71
Pinus taeda Pinus taeda L. 645 44,4 82,8 2,8 7,7 13304 15
1)
ap (12%) é a massa específica aparente a 12% de umidade
2)
fc0 é a resistência à compressão paralela às fibras
3)
ft0 é a resistência à tração paralela às fibras
4)
ft90 é a resistência à tração normal às fibras
5)
f v é a resistência ao cisalhamento
6)
Ec0 é o módulo de elasticidade longitudinal obtido no ensaio de compressão paralela às fibras
7)
n é o número de corpos-de-prova ensaiados
Notas
Bibliografia
10
Propriedades Mecânicas da Madeira
Aula 7
Tração
Dois tipos diferentes de tração podem ocorrer em peças de madeira: tração paralela ou tração
perpendicular às suas fibras. As propriedades da madeira referentes a estas solicitações diferem
extremamente.
A ruptura por tração paralela pode ocorrer por deslizamento entre as fibras (ou traqueídes) ou por
ruptura de suas paredes. Em ambos os modos de ruptura, a madeira apresenta baixos valores de
deformação e elevados valores de resistência.
Já na ruptura por tração normal, a madeira apresenta baixos valores de resistência, pois os esforços
atuam na direção perpendicular às fibras (ou traqueídes), tendendo a separá-las, com baixos valores
de deformação. Considerando a baixa resistência da madeira nesta direção, devem ser evitadas, em
projeto, situações que conduzam a esta forma de solicitação.
Figura 1: Comportamento da madeira na tração (A) paralela e (B) perpendicular às fibras. Fonte:
CALIL, ROCCO LAHR e DIAS (2003).
Objetivos
Definições
A resistência à tração normal às fibras da madeira (fwt,90 ou ft90) é dada pela máxima tensão de tração
que pode atuar em um corpo-de-prova alongado com trecho central de seção transversal uniforme de
1
área A e comprimento não menor que 2,5 A , com extremidades mais resistentes que o trecho central
e com concordâncias que garantam a ruptura no trecho central, sendo dada pela Equação 1:
Ft 90,máx
f wt ,90 (1)
At 90
onde:
At90 é a área inicial da seção transversal tracionada do trecho alongado do corpo-de-prova, em metros
quadrados.
O valor característico da resistência à tração normal às fibras f t0,k deve ser determinado pelo estimador
dado anteriormente.
A resistência à tração normal às fibras determinada por meio do corpo-de-prova indicado na Figura 2
(onde as dimensões são dadas em cm), deve ser utilizada apenas para estudos comparativos entre
diferentes espécies de madeira, não devendo ser aplicada na avaliação da segurança das estruturas
de madeira.
O corpo-de-prova deve ser alongado com trecho central de seção transversal uniforme de área A e
comprimento não menor que 2,5 A , com extremidades mais resistentes que o trecho central e com
concordâncias que garantam a ruptura no trecho central.
Figura 2 – Corpo-de-prova para o ensaio de tração normal às fibras. Fonte: NBR 7190 (1997).
2
Para um estudo comparativo entre diferentes espécies de madeira, permite-se utilizar o corpo-de-
prova mostrado na Figura 3.
Figura 3 – Arranjo de ensaio para tração normal às fibras. Fonte: NBR 7190 (1997).
Procedimento
Para a determinação da resistência à tração normal às fibras, as medidas das faces dos corpos-de-
prova devem ser feitas com precisão de 0,1 mm.
Para o ajuste do corpo-de-prova na máquina de ensaio mecânico, deve-se utilizar uma rótula entre o
atuador e o corpo-de-prova.
O carregamento deve ser monotônico crescente, correspondente a uma taxa de 2,5 MPa/min.
Para a caracterização mínima de espécies pouco conhecidas, devem ser utilizadas duas amostras,
sendo uma com corpos-de-prova saturados e outra com corpos-de-prova com teor de umidade em
equilíbrio com o ambiente (seco ao ar). A determinação do teor de umidade deve ser feita por meio
dos procedimentos estabelecidos em aula anterior.
A Figura 4 mostra o corpo-de-prova para tração normal às fibras rompido, após o término do ensaio.
3
Figura 4 - Corpo-de-prova para tração normal às fibras rompido, após o término do ensaio.
Os resultados obtidos de resistência à tração normal às fibras devem ser apresentados com valores
característicos, acompanhados do respectivo teor de umidade. Estes valores devem ser apresentados
em relatório técnico especificado em aula anterior.
Exemplo prático:
4753
f wt ,90 3,73 MPa
1274,206
4
Flexão
Objetivo
Definições
A resistência da madeira à flexão (fwM ou fM) é um valor convencional, dado pela máxima tensão que
pode atuar em um corpo-de-prova no ensaio de flexão simples, calculado com a hipótese de a madeira
ser um material elástico, sendo dado pela Equação 2:
M máx.
fM (2)
We
onde:
Mmáx. é o máximo momento aplicado ao corpo-de-prova, dado por P.L /4, em newtons-metro;
L
P
3PL
f M 42 (3)
bh 2bh 2
6
O valor característico da resistência convencional à flexão f M,k deve ser determinado pelo estimador
dado anteriormente.
A rigidez da madeira à flexão é caracterizada pelo módulo de elasticidade determinado no trecho linear
do diagrama carga x deslocamento, indicado na Figura 5.
5
Figura 5: Diagrama carga x deslocamento para a determinação da rigidez à flexão. Fonte: NBR 7190
(1997).
Para esta finalidade o módulo de elasticidade deve ser determinado pela inclinação da reta secante à
curva carga x deslocamento no meio do vão, definida pelos pontos (F 10%; v 10%) e (F50%; v50%)
correspondentes, respectivamente, a 10% e 50% da carga máxima de ensaio estimada por meio de
um corpo-de-prova gêmeo, sendo dado pela Equação 4:
onde:
FM,10% e FM,50% são as cargas correspondentes a 10% e 50% da carga máxima estimada, aplicada ao
corpo-de-prova, em newtons, representadas pelos pontos 71 e 85 do diagrama de carregamento
mostrado na Figura 6;
v10% e v 50% são os deslocamentos no meio do vão correspondentes a 10% e 50% da carga máxima
estimada FM,est, em metros;
6
Figura 6: Diagrama de carregamento para o ensaio de flexão. Fonte: NBR 7190 (1997).
Amostra
Os corpos-de-prova devem ter forma prismática, com seção transversal quadrada de 5,0 cm de lado e
comprimento, na direção paralela às fibras, de 115 cm, como mostrado na Figura 7.
O corpo-de-prova deve ser fabricado de preferência com o plano de flexão perpendicular à direção
radial da madeira, não se admitindo inclinações de fibras maiores que 6° em relação ao comprimento
do corpo-de-prova.
Figura 7: Corpo-de-prova para o ensaio de flexão estática. Fonte: NBR 7190 (1997).
Procedimento
No ensaio, o corpo-de-prova deve ser vinculado a dois apoios articulados móveis, com vão livre entre
apoios de 21 h, sendo o equilíbrio do sistema garantido pelo atrito com o atuador.
7
O carregamento consiste em uma carga concentrada, aplicada por meio de um cutelo acoplado ao
atuador, como indicado na Figura 8.
Figura 8: Cutelo de aplicação de carga par ao ensaio de flexão. Fonte: NBR 7190 (1997).
No ensaio para determinação da resistência à flexão, o carregamento deve ser monotônico crescente,
com uma taxa de 10 MPa/min.
Para a caracterização mínima de espécies pouco conhecidas, devem ser utilizadas duas amostras,
sendo uma com corpos-de-prova saturados e outra com corpos-de-prova com teor de umidade em
equilíbrio com o ambiente. A determinação do teor de umidade deve ser feita por meio dos
procedimentos estabelecidos anteriormente.
Para a determinação da rigidez, a resistência deve ser estimada (f M,est) pelo ensaio destrutivo de um
corpo-de-prova gêmeo, selecionado da mesma amostra a ser investigada.
Conhecida a resistência estimada da amostra fM,est, o carregamento deve ser aplicado com dois ciclos
de carga e descarga, de acordo com o procedimento especificado no diagrama de carregamento da
Figura 5. A taxa de carregamento deve ser de 10 MPa/min.
A medida dos deslocamentos transversais no meio do vão deve ser feita para cada ponto do diagrama
de carregamento especificado na Figura 6; com transdutores de deslocamentos com exatidão de 0,01
mm. A Figura 9 mostra o ensaio de flexão e o relógio comparador posicionado para medir as flechas.
8
Figura 9: Ensaio de flexão.
Figura 10: Ensaio de flexão após a retirada do relógio comparador (a) corpo-de-prova sendo fletido e
(b) corpo-de-prova após a ruptura.
9
Apresentação dos resultados
Para a determinação dos módulos de elasticidade devem ser construídos diagramas carga x
deslocamento para todos os ensaios realizados.
Exemplo de aplicação:
01 05 15 21 31 45 55 61 71 82 83 84 85 86 87
Flechas
1,48 6,13 6,12 1,20 1,20 5,85 5,85 1,17 1,17 2,38 3,55 4,68 5,88 7,35 8,57
(mm)
10
A Figura 11 mostra o diagrama carga x deslocamento para a determinação da rigidez à flexão do
corpo-de-prova estudado.
Figura 11: Diagrama carga x deslocamento para a determinação da rigidez à flexão do corpo-de-prova
estudado.
11
Tabela – Valores médios de madeiras coníferas nativas e de florestamento
Pinho do Paraná Araucaria angustifolia 580 40,9 93,1 1,6 8,8 15225 15
Pinus caribea Pinus caribea var. caribea 579 35,4 64,8 3,2 7,8 8431 28
Pinus bahamensis Pinus caribea var. bahamensis 537 32,6 52,7 2,4 6,8 7110 32
Pinus hondurensis Pinus caribea var. hondurensis 535 42,3 50,3 2,6 7,8 9868 99
Pinus elliottii Pinus elliottii var. elliottii 560 40,4 66,0 2,5 7,4 11889 21
Pinus oocarpa Pinus oocarpa shiede 538 43,6 60,9 2,5 8,0 10904 71
Pinus taeda Pinus taeda L. 645 44,4 82,8 2,8 7,7 13304 15
1)
ap (12%) é a massa específica aparente a 12% de umidade
2)
fc0 é a resistência à compressão paralela às fibras
3)
ft0 é a resistência à tração paralela às fibras
4)
ft90 é a resistência à tração normal às fibras
5)
f v é a resistência ao cisalhamento
6)
Ec0 é o módulo de elasticidade longitudinal obtido no ensaio de compressão paralela às fibras
7)
n é o número de corpos-de-prova ensaiados
Notas
Bibliografia
12
Propriedades Mecânicas da Madeira
Aula 8
Cisalhamento
As forças internas e correspondentes tensões, que foram discutidas nas aulas anteriores, eram
normais à seção transversal. Quando duas forças P e P’ são aplicadas a uma barra AB, na direção
transversal à barra, ocorre um tipo de tensão muito diferente (Figura 1).
A B
P’
Figura 1: Duas forças P e P’ aplicadas a uma barra AB, na direção transversal à barra.
Se passarmos uma seção transversal pelo ponto C, entre os pontos de aplicação das forças, como na
Figura 2.a, podemos desenhar o diagrama da parte AC (Figura 2.b), e concluímos que devem existir
forças internas na seção transversal, e que sua resultante deve igualar a P.
P
A C B A C
P’ P’
Figura 2: a) Seção transversal pelo ponto C na barra AB e b) resultante P, no ponto C.
1
F
f vméd (1)
A
Deve-se frisar bem que o valor obtido na Equação 1 é um valor médio das tensões de cisalhamento.
Contrariamente ao que é válido para as tensões normais, a distribuição das tensões de cisalhamento
na seção transversal não pode se assumida como uniforme. O valor real da tensão de cisalhamento
varia da superfície para o interior da peça, onde pode assumir valores bem superiores a f vméd.
As tensões de cisalhamento são encontradas em parafusos, pinos e rebites, ligando dois membros
estruturais ou componentes de máquinas.
Cisalhamento
A direção do plano de atuação das tensões de cisalhamento tem influência direta na resistência da
madeira, para este tipo de solicitação. Quando este plano é perpendicular à direção das fibras (ou
traqueídes), a madeira apresenta alta resistência pelo fato da ruptura cisalhar esses elementos. Antes
de romper por cisalhamento, certamente a peça já apresentará problemas de resistência na
compressão normal.
Quando o plano de atuação das tensões de cisalhamento é paralelo às fibras (ou traqueídes), duas
situações distintas podem ocorrer. Se a direção das tensões é na direção das fibras (ou traqueídes),
ocorre o cisalhamento horizontal. Se a direção das tensões é perpendicular à direção das fibras (ou
traqueídes), existe a tendência desses elementos rolarem uns sobre os outros (cisalhamento Rolling).
A situação na qual a madeira apresenta menor resistência é o de cisalhamento horizontal.
Figura 3: Comportamento da madeira no cisalhamento. Fonte: CALIL, ROCCO LAHR e DIAS (2003).
Objetivo
A resistência ao cisalhamento paralelo às fibras da madeira (fwv,0 ou fv0) é dada pela máxima tensão de
cisalhamento que pode atuar na seção crítica de um corpo-de-prova prismático, sendo dada pela
Equação 2:
Fv 0, max
f v0 (2)
Av 0
onde:
Av0 é a área inicial da seção crítica do corpo-de-prova, em um plano paralelo às fibras, em metros
quadrados.
O valor característico da resistência ao cisalhamento paralela às fibras fv0,k deve ser determinado pelo
estimador dado em aula anterior.
3
O corpo-de-prova deve ser fabricado com o plano da seção crítica paralelo à direção radial da madeira
(normal ao eixo 3), conforme mostrado na Figura 4, com as medidas dadas em cm.
Procedimento
Para a determinação da resistência ao cisalhamento paralelo às fibras, as medidas dos lados dos
corpos-de-prova devem ser feitas com exatidão de 0,1 mm.
Para o ajuste do corpo-de-prova na máquina de ensaio deve-se utilizar uma rótula entre o atuador e o
corpo-de-prova.
O carregamento deve ser monotônico crescente, correspondente a uma taxa de 2,5 MPa/min.
Para a caracterização mínima de espécies pouco conhecidas, devem ser utilizadas duas amostras,
sendo uma com corpos-de-prova saturados e outra com corpos-de-prova com teor de umidade em
equilíbrio com o ambiente.
Figura 5: Arranjo de ensaio para cisalhamento paralelo às fibras. Fonte: NBR 7190 (1997).
Análise de resultados
Quando a madeira é solicitada à flexão simples, ocorrem as tensões: compressão paralela às fibras,
tração paralela às fibras, cisalhamento horizontal e, na região dos apoios, compressão normal às
fibras.
A ruptura em peças de madeira solicitadas à flexão ocorre pela formação de minúsculas falhas de
compressão seguidas pelo desenvolvimento de enrugamentos de compressão macroscópicos. Este
fenômeno gera o aumento da érea comprimida na seção e a redução da área tracionada, podendo,
eventualmente, romper por tração.
Figura 6: Comportamento da madeira na flexão. Fonte: CALIL, ROCCO LAHR e DIAS (2003).
5
Tabela – Valores médios de madeiras coníferas nativas e de florestamento
Pinho do Paraná Araucaria angustifolia 580 40,9 93,1 1,6 8,8 15225 15
Pinus caribea Pinus caribea var. caribea 579 35,4 64,8 3,2 7,8 8431 28
Pinus bahamensis Pinus caribea var. bahamensis 537 32,6 52,7 2,4 6,8 7110 32
Pinus hondurensis Pinus caribea var. hondurensis 535 42,3 50,3 2,6 7,8 9868 99
Pinus elliottii Pinus elliottii var. elliottii 560 40,4 66,0 2,5 7,4 11889 21
Pinus oocarpa Pinus oocarpa shiede 538 43,6 60,9 2,5 8,0 10904 71
Pinus taeda Pinus taeda L. 645 44,4 82,8 2,8 7,7 13304 15
1)
ap (12%) é a massa específica aparente a 12% de umidade
2)
fc0 é a resistência à compressão paralela às fibras
3)
ft0 é a resistência à tração paralela às fibras
4)
ft90 é a resistência à tração normal às fibras
5)
f v é a resistência ao cisalhamento
6)
Ec0 é o módulo de elasticidade longitudinal obtido no ensaio de compressão paralela às fibras
7)
n é o número de corpos-de-prova ensaiados
Notas
Bibliografia
BEER, F. P.; JONSTON Jr, E. R. Resistência dos Materiais. Pearson Makron Books, 3ª ed. 1995.
6
Propriedades Mecânicas da Madeira
Tenacidade
Objetivo
Procedimento
Para a determinação da resistência ao impacto na flexão, as medidas dos lados dos corpos-de-prova
devem ser feitas com exatidão de 0,1 mm.
Para o ensaio de impacto à flexão deve-se utilizar uma máquina de pêndulo com capacidade três a
cinco vezes maior que a energia necessária à ruptura do corpo-de-prova por flexão.
1
Os resultados da propriedade de resistência ao impacto na flexão devem ser apresentados com valor
característico, acompanhado do respectivo teor de umidade. Estes valores devem ser apresentados
em forma de relatório técnico especificado em aula anterior.
Tenacidade é o trabalho requerido para quebrar uma dada amostra à flexão sob uma carga de
impacto.
O teste dinâmico pode ser determinado usando a queda de peso como é o caso da máquina Hatt-
Turner, flexão dinâmica, ou utilizando o pêndulo de Charpy. Segundo vários autores (Bodig, 1982),
pesquisadores do FPL e GERHARDS (1995), o ensaio feito com a máquina com o pêndulo de Charpy
oferece maiores vantagens que o ensaio de flexão dinâmica, adotado pela NBR 7190/1997,
(SIQUEIRA, 1986).
Uma tensão de impacto age somente a curto período de tempo, por exemplo, poucos microssegundos.
A solicitação da madeira à tensão ao impacto é chamada resistência ao choque. Um material de alta
resistência é denominado tenaz.
*Vigas sob teste de impacto: deformação cerca de duas vezes maior que a deformação da viga sob
teste estático.
O U.S. Forest Product Laboratory em Madison, Wisconsin, desenvolveu uma máquina de testar a
tenacidade. O princípio básico de funcionamento dessa máquina consiste na transmissão da energia
cinética fornecida pelo pêndulo, através de uma corrente flexível que contém, na sua extremidade, um
apoio de 1,8 cm. A máquina foi aprovada sem alteração em 1961 pela ASTM, estando nos parágrafos
71 a 76 da norma D143.
2
Essa máquina deverá ser preparada antes dos ensaios. Ajusta-se inicialmente o pêndulo na vertical
para se compensar a perda por atrito. Para ajustar a corrente, o pêndulo deve ser posicionado
(posição C) a um ângulo de 2 = 15o com referência a vertical (AO), isto é, este ajuste da corrente deve
ser de tal maneira que a aplicação da carga na amostra se inicie no momento em que o pêndulo atinja
o valor 2 = 15o. Recomenda-se também que haja uma completa ruptura do corpo-de-prova.
A posição do pêndulo pode ter os ângulos iniciais ( 0 ) de 30o, 45o e 60o. O ângulo final 1 é o ângulo
que o pêndulo atinge após a ruptura da amostra. Resultados satisfatórios são obtidos quando a
diferença entre os ângulos inicial e final não ultrapassem 10 o ( 0 - 1 < 10o). A diferença dos ângulo
inicial e final será lida com uma precisão de 0,1 do grau dado pelo Vernier adequadamente fixado na
máquina.
A Figura 2 mostra a máquina de ensaios para a tenacidade da madeira, projetada por Milton Luiz
Siqueira (1986), em trabalho de mestrado, pertencente ao LaMEM (Laboratório de Madeiras e de
Estruturas de Madeira), do SET (Departamento de Estruturas), da EESC (Escola de Engenharia de
São Carlos), da USP (Universidade de São Paulo).
As Figuras 3a e 3b mostram as diferentes graduações da haste e os três possíveis ângulos (30 o, 45o e
60o), respectivamente.
3
(a) (b)
(a) (b)
4
(a) (b) (c)
A tenacidade será calculada segundo a Equação 1, onde o peso inicial e l ( comprimento da haste)
podem ser ajustados para níveis de energia.
Onde,
T = tenacidade (N.m)
Exemplos de aplicação:
Assim,
5
2. Dimensões do cp: 21,00 mm x 21,10 mm Espécie: Pinus Elliottii
Assim,
c) Densidade. A relação tenacidade x densidade apresenta uma função cúbica. Maior densidade
implica em maior tenacidade.
d) Teor de umidade. Para a tenacidade ocorre o inverso de que para a flexão estática. A madeira
seca é menos flexível que a madeira úmida. Segundo o Wood Handbook (1955), para uma
variação de 1% de conteúdo de umidade ocorre 0,5% de variaçào tanto na flexão dinâmica
quanto na estática. A deformação dada pelo impacto da madeira é diretamente proporcional a
variação na umidade.
h) Degradação. A tenacidade tem se apresentado como um dos mais eficazes ensaios para
qualificar os efeitos da degradação, tal como o ataque de fungos e ataque químico.
Bibliografia
STOLF, D. O. Tenacidade da madeira. São Carlos, 2000. 101p. Dissertação (Mestrado) – Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.