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2. RESULTADOS
2.1 DEFINIÇÃO
A definição e classificação do EME sofreram várias alterações ao longo dos anos.
Em 1970, o EME era definido como uma crise que persistia por tempo suficiente, ou
que se repetia com frequência, para provocar uma condição fixa e duradoura (status).
Era classificado em parcial (ex. jacksoniana), generalizado (ex. crise de ausência ou
crise tônico-clônica) ou unilateral (ex. crise hemiclônica). Em 1981, ocorreu uma
revisão da definição e classificação do EME, sendo redefinido como uma crise
convulsiva que persiste por um período de tempo, ou se repete com frequência,
suficiente para que a recuperação entre as crises não ocorra. Foi classificado em parcial
(ex. jacksoniana) ou generalizado (ex. crises de ausência ou tônico-clônica). Quando
ocorre de maneira muito localizada e afeta a motricidade é chamada de epilepsia
partialis continua. Estudos realizados em 2005 não chegaram a uma definição formal de
EME, de modo que este fora definido apenas como uma circunstância especial na qual
há crises prolongadas ou recorrentes. Em 2006, estudo realizado pela ILAE descreveu o
EME como uma falha da homeostase dos mecanismos supressores da crise epiléptica
responsáveis por seu término. Tais mecanismos assemelham-se, de maneira geral,
àqueles envolvidos com início e término dos eventos autolimitados, entretanto, fatores
adicionais devem ser considerados para a classificação do EME: diferentes mecanismos
que podem evitar o término da crise; características progressivas que podem contribuir
para distúrbios cerebrais funcionais e estruturais; erros inatos do metabolismo 2 E ILAE.
Dessa forma, o EME pôde ser dividido em 9 diferentes tipos:
1) Epilepsia partialis continua de Kojevnikov;
2) EME da área motora suplementar;
3) Aura contínua;
4) EME discognitivo (psicomotor, parcial, complexo);
5) EME tônico-clônico;
6) EME de ausência;
7) EME mioclônico;
8) EME tônico;
9) EME sutil2 E ILAE.
Em 2008, o consenso Europeu adotou a seguinte classificação:
1) EMENC ocorrendo nas síndromes epilépticas infantil e neonatal;
2) EMENC ocorrendo somente na infância;
3) EME convulsivo ocorrendo somente na infância;
4) EMENC ocorrendo na infância e na vida adulta com encefalopatia;
5) Formas convulsivas de EME ocorrendo na infância e na vida adulta;
6) EMENC ocorrendo na vida adulta tardia;
7) Síndromes limítrofes2 E ILAE).
Em 2015, a Liga Internacional contra a Epilepsia (ILAE), através do estudo
realizado por Trinka et al., definiu, teoricamente, EME como uma condição resultante
da falha dos mecanismos que são responsáveis pela finalização da crise ou de erros no
início de mecanismos que ocasionam crises anormalmente prolongadas, tais falhas
podem ocasionar alterações à longo prazo, como lesão dos neurônios, alterações dos
circuitos neuronais e até morte neuronal. O mesmo estudo propôs também uma nova
conceituação prática do EME, dividindo-o em dois marcos temporais, o primeiro marco
(t1), após ser ultrapassado, indica que a crise já pode ser considerada como prolongada e
o marco (t2) é o tempo em que a atividade epileptogênica tem grandes chances de
ocasionar consequências à longo prazo. Em termos de prática clínica, t1 representa o
período em que o tratamento deve ser iniciado, enquanto que t2 orienta a agressividade
com que esse tratamento deve ser imposto a fim de ser evitar as lesões tardias já citadas.
O escasso conhecimento da fisiopatologia e a necessidade de rápidas medidas de
tratamento para os pacientes culminaram na elaboração de duas definições sobre EME:
uma teórica e outra prática.6
A definição de EME refratário (EMER) não está consensualmente estabelecida
na literatura5,2,25, mas de uma maneira mais geral, trata-se de convulsões incessantes
mesmo após tratamento com doses adequadas de AE iniciais 5,7,16,35,50. As diversas
caracterizações do EMER divergem quanto à quantidade e tipo de anticonvulsivantes
que falharam, bem como o tempo de convulsão necessário 5,2,25, sendo que esse último
aspecto já não é atualmente considerado pela maioria dos especialistas no assunto50.
Substancial parte dos artigos aceitam EMER como uma atividade persistente de crise
convulsiva, percebida clinicamente ou eletroencefalograficamente, não responsiva ao
menos a dois AE na dose apropriada, sendo o primeiro um BZD e o segundo um não-
BZD de segunda-linha, também chamado de AE urgente3,5,7,16,50,25,34,35,36,38.
O conceito de EME super-refratário (EMESR), também denominado EME
maligno5, surgiu para designar episódios de EME que perduram por 24 horas ou mais
após a administração de anestésicos gerais2,3,5,9,36, tal fato ocorre em 50% dos EMER 3,
podendo durar semanas a meses5.
2.2 CLASSIFICAÇÃO
A classificação do EME objetiva melhorar o tratamento dos pacientes, permite a
realização de estudos epidemiológicos e facilita a comunicação entre os clínicos através
de uma linguagem comum. A classificação proposta pela ILAE, em 2015, é meramente
um quadro montado pela instituição e não deve ser aplicada como uma doutrina rígida.6
Divide-se em quatro eixos: 1) Semiologia, 2) Etiologia, 3) EEG, 4) Idade. Todos os
pacientes deveriam ser classificados nas quatro categorias, contudo durante o
atendimento hospitalar inicial, a definição da etiologia e do traçado EEG podem não ser
facilmente precisados, ao passo que a classificação semiológica e da idade são
obrigatórias, já que são iminentemente determinados e guiam a forma do tratamento.
Tanto a semiologia do paciente, quanto seu padrão de EEG podem ser mutáveis de
quando em quando. Tal classificação não se espelha na classificação para convulsões
epilépticas rápidas, visto que os sinais e sintomas costumam frequentemente serem
diferentes em comparação com os de convulsões de curta duração. (Referência)
O primeiro eixo, semiológico, baseia-se na apresentação clínica do estado de
mal, sendo a parte mais importante da classificação (Tabela 2). Dividido em dois
principais critérios: 1) Presença ou ausência de sintomas motores proeminentes e 2)
Nível de consciência. O segundo eixo, etiológico, foi qualificado baseado nos conceitos
da própria ILAE estabelecidos em 2010, mas também nos conhecimentos já enraizados
no meio médico dos neurologistas, emergencistas, neurocirurgiões e médicos da família.
Sobre a 2) Etiologia do estado de mal epiléptico e 4) Idade, as mesmas foram
analisadas em outro momento da presente discussão.
TABELA 2. CLASSIFICAÇÃO SEMIOLÓGICA DO ESTADO DE MAL EPILÉPTICO (EME) ADAPTADA DE E. TRINKA ET AL. (?
REFERENCIA)
(A) Com proeminentes sintomas motores
B.2.a. Generalizado
B.2.b. Focal
B.2.b.a Sem alteração da consciência (aura contínua, com sintomas autonômico, sensentivo, visual, olfativo, gustatório,
emocional/psíquico/experencial ou auditivo.
B.2.b.b Crise afásica
Tipo de EME T1 T2
EME tônico-clônico 5 minutos 30 minutos
EME focal com alteração da 10 minutos > 60 minutos
consciência
EME de ausência 10-15 minutosa Desconhecido
a
Evidência limitada e sujeita a futura modificações.