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Curso de Capacitação em

Ludoterapia: A Psicoterapia através


do Brincar
Sumário
1 O que é Ludoterapia? ...................................................................................... 3

2 Histórico da Ludoterapia................................................................................ 12

2.1 A criança e o Brincar Segundo Vera Barros de Oliveira ......................... 15

2.2 O Jogo e o Brincar segundo Melanie Klein ............................................. 16

2.3 O Jogo e o Brincar Segundo Donald Winnicott ....................................... 16

3 Bases da Ludoterapia ................................................................................... 19

3.1 Método Fenomenológico e os princípios existenciais ............................. 20

3.2 Recursos Metodológicos ......................................................................... 23

3.3 O Papel do Psicólogo na Ludoterapia ..................................................... 24

3.4 Orientação dos Pais ................................................................................ 25

4 Ludoterapia: Pais e Professores, como podem ajudar? ................................ 27

5 Técnicas de Ludoterapia ............................................................................... 32

Referências ...................................................................................................... 37

Anexo I – Contribuição da Ludoterapia no Autismo Infantil .............................. 38

Resumo......................................................................................................... 38

Introdução ........................................................................................................ 39

Referencial Teórico .......................................................................................... 40

Conceitos e Características principais do autismo ........................................ 40

Testes Para Autismo e Funcionamento dos Níveis do Autismo .................... 41

A Ludoterapia e a Sua Importância ............................................................... 42

Ludoterapia e o Seu Funcionamento ............................................................ 44

Metodologia ...................................................................................................... 45

Resultados ....................................................................................................... 47

Conclusão ........................................................................................................ 50

Referências ...................................................................................................... 51
1 O que é Ludoterapia?

Ser criança é mergulhar em um mundo de descobertas, de


transformações e contato direto com o desconhecido. Para cada fase da vida há
um cuidado específico, e esse cuidado se intensifica quando falamos sobre a
infância.

É nessa fase que a criatividade se expressa com facilidade, que os


primeiros afetos vão proporcionar acolhimento para encorajar a vida no futuro e
que os monstros imaginários podem provocar mudança no comportamento e
alimentar medos fantasiosos.

Quando a bagunça e o barulho dão espaço ao silêncio e ao isolamento,


causando mudança no comportamento, significa que é um bom momento de
cuidar da saúde mental dos pequenos.

Esse cuidado na infância é de grande importância para que não tome


proporções maiores, impedindo que a as fases seguintes sejam prejudicadas.
Cuidar da saúde mental das crianças é também exercer a função de prevenção
da saúde mental do adolescente, tornando um adulto mais consciente de seus
sentimentos.

A psicoterapia infantil é o cuidado e a atenção com a saúde mental da


criança. É um espaço potencial para acolhimento das angústias, medos,
inseguranças e um momento de intervenções com os pais.

Com o intuito de promover uma infância saudável a psicoterapia infantil


utiliza a Ludoterapia para caminhar rumo ao bem-estar familiar, a prevenção e
solução de conflitos.

O objetivo é auxiliar na expressão das emoções de cada criança, pois


através da brincadeira ela pode expandir seus sentimentos acumulados de
tensão, frustração, insegurança, agressividade, medo, espanto, confusão e re-
significar os eventos traumatizantes.

Desta forma, o terapeuta exerce a função de facilitador, sendo capaz de


identificar os conflitos e auxiliar na busca de melhores alternativas para lidar com
eles, ao mesmo tempo em que, orienta os pais a como intervir diante dessas
vivências.

As primeiras sessões são realizadas com os pais, ou quem exerce essa


função. O psicólogo realiza entrevistas iniciais para reunir informações sobre a
história da criança e para conhecer a dinâmica da família em que a criança está
inserida. Depois, o psicólogo tem maiores condições de entender a queixa e
avaliar os objetivos do trabalho.

As sessões seguintes são realizadas apenas com a criança. Sabemos


que as crianças não expressam seus sentimentos e emoções como fazem os
adultos, verbalizam menos e tem outras formas de comunicações, por isso, o
atendimento a ela é feito de forma lúdica, ou seja, “brincando” (desenhos, jogos,
massinhas, etc.).

É através do brincar que a criança expressará seu mundo simbólico, e


com o auxílio do terapeuta encontrará recursos de enfrentamento para se
posicionar diante do mundo, mas desta vez, de forma saudável e sem prejuízos
no seu dia a dia.

Encontros periódicos com os pais serão importantes ao longo da


psicoterapia. A participação dos pais neste processo é imprescindível para
sua evolução, muitas vezes, se faz necessário solicitar aos pais informações,
como também, oferecer-lhes auxílio para o desenvolvimento satisfatório do
processo psicoterapêutico. A parceria com a escola também é importante, já que,
é no ambiente escolar que a criança passa boa parte do tempo.

São muitos os motivos que fazem uma pessoa necessitar de psicoterapia,


porém, isso pode ser percebido quando você sentir que seu filho está passando
por “alguma dificuldade” que nem ele e nem você, tem conseguido lidar ou
entender tais questões.

Outras vezes, o encaminhamento à psicoterapia pode ser feito por outros


profissionais da área da saúde como pediatra, psiquiatra, fisiologista,
fisioterapeuta, neurologista, entre outros, ou pela escola.

Muitos pais têm dúvidas sobre quando buscar ajuda para os filhos e
acabam inseguros por desinformação. Dificuldades no relacionamento com as
pessoas, na atenção ou aprendizado são aspectos relevantes para buscar
auxílio de um psicólogo, outras queixas comuns que indicam a necessidade de
acompanhamento psicológico são:

 Choro excessivo
 Irritabilidade
 Timidez excessiva
 Birras e malcriações
 Isolamento
 Agressividade
 Medo de ficar em determinado ambiente sozinho
 Ciúmes após a chegada do (a) irmão (a)
 Necessidade extrema de proximidade com os pais
 Enurese e encropese
 Dificuldades escolares
 Recusar ir à escola de forma repentina
 Demora a falar ou andar
 Separação dos Pais
 Perda de algum familiar
 Mudanças no comportamento em geral

Através do brincar a criança encontrará, com o auxílio do terapeuta,


recursos de enfrentamento e expressão dos sentimentos, permitindo a resolução
de conflitos internos e aliviando os sintomas. O acompanhamento psicológico na
infância promove uma vida emocional equilibrada, já que é ensinada de forma
lúdica a importância de compreender as emoções para enfrentar os conflitos de
forma saudável.

Os benefícios também são voltados aos pais, já que, também é trabalhado


as necessidades de se afastarem da ideia de terem que ser perfeitos em suas
funções.

É importante lembrar que, a busca de Psicoterapia Infantil não significa


que os pais não estão sendo bons suficientes, mas é preciso ressaltar que filhos
não vem com manual de instrução e que as falhas vão existir, mesmo quando
os pais estão fazendo de tudo para não falhar.

Muitos se sentem culpados por não conseguir dar o suporte necessário e


resolucionar as dificuldades que a criança está enfrentando. Quanto mais os pais
perceberem o psicólogo como companheiro, mais os ganhos serão alcançados
para o bem-estar da criança.

Ludoterapia é o nome científico da Terapia através do brincar, é a


psicoterapia adaptada para o tratamento infantil, através do qual a criança,
brincando, projeta seu modo de ser. O objetivo dessa modalidade de análise é
ajudar a criança, através da brincadeira, a expressar com maior facilidade os
seus conflitos e dificuldades, ajudando-a em sua solução para que consiga uma
melhor integração e adaptação social, tanto no âmbito da família como da
sociedade em geral.

O terapeuta observa e interpreta suas projeções para compreender o


mundo interno e a dinâmica da personalidade da criança. Para isso, buscam-se
instrumentos através dos quais as projeções são facilitadas uma vez que, quanto
menor a criança, mais difícil é para ela verbalizar adequadamente seus conflitos.
Pode ser brincar de casinha, criação e prática de estórias e contos de fadas, jogo
do rabisco, desenho, pintura, modelagem, dentre várias outras atividades.

Ao brincar, a criança de alguma forma “sabe” que está se expondo porque


ali ela atua representando as situações que a afligem. Como colocar toda a sua
energia, atenção e emoção na brincadeira, ela intui que está como que
“transparente” ao olhar do outro. Brincar é uma forma de linguagem tão clara
para a criança que ela pensa ser, o seu significado, compreensível também para
os outros.

É por essa razão que às vezes, ao terminar uma sessão, ela pode pedir
ao terapeuta que não mostre sua produção aos pais. Pode ser, por exemplo, um
desenho que ela fez de sua família, no qual ela desenhou o pai afastado no canto
da página e em tamanho menor.

A sua obra pode estar denunciando dificuldades de relacionamentos na


dinâmica familiar, as quais ela não se sente autorizada a abordar e com as quais
não sabe tampouco lidar. Desse modo, não pode expressá-las e pede a
cumplicidade do terapeuta para mantê-las em segredo. Outro exemplo: Ao
brincar com os bonequinhos, a criança cria uma família em que os pais brigam
muito ou batem nos filhos.

Ela não está contando uma estória adequadamente articulada através da


fala, como faria um adulto, mas reproduz uma cena possivelmente bastante
conhecida sua. Cabe ao terapeuta investigar a origem dos conflitos, averiguando
se trata-se de identificação com personagens de outras estórias, como filmes
vistos na TV ou lidos em estórias em quadrinhos ou se retrata a sua própria vida.

A maioria das crianças adere facilmente à ludoterapia e adquire, em


relação ao terapeuta, confiança suficiente para se expor, brincando livremente.
Outras, porém, e por várias possíveis motivações internas, esquivam-se das
atividades projetivas preferindo brinquedos cujo grau de exposição é muito
menor, como os jogos, por exemplo, em que as regras e o comportamento são
previamente determinados, reduzindo bastante o grau de sua exposição.

Nessa situação, fica mais difícil uma intervenção interpretativa de


finalidade diagnóstica porque, sem o recurso da atividade projetiva e sem a
verbalização do conflito, as sessões correm o risco de se tornar apenas uma
hora de brincadeiras o que, não sendo ruim – ao contrário, muito se elabora
durante a hora lúdica – pode também não ser suficientemente eficaz no sentido
de ajudar a criança a lidar com a dificuldade que a trouxe até ali.

Nesses casos, faz-se necessário que novos recursos sejam introduzidos,


no sentido de facilitar o acesso do terapeuta à problemática central do paciente.
Para isso é fundamental que, primeiramente, tenha sido construído um vínculo
terapêutico adequado e que o profissional tenha flexibilidade para seguir novos
caminhos de acordo com o gosto, necessidades e recursos da criança. Desta
nova porta, a criatividade de ambos poderá ditar qual a atividade mais fácil e
prazerosamente poderia trazer o problema à tona e ser acessado sem grandes
barreiras defensivas.

O que importa, na terapia, é que o contato com a emoção aconteça. O


processo de elaboração vai dando-se à medida que o analisando compartilha
sua dor, anseios e experiências traumáticas de uma maneira mais livre de crítica
e mesmo de autocensura.

A participação do terapeuta neste tipo de trabalho é bastante mais ativa


do que seria numa ludoterapia tradicional. Aqui ele não pode ser apenas um
observador, precisa facilitar a viabilização do projeto, seja oferecendo ideias no
início (para que a exequibilidade do trabalho a ser feito seja perceptível para a
criança) seja operacionalizando algumas fases da criação (por exemplo, a
criança pode estar disposta a ditar a história ao invés de escrevê-la de próprio
punho).

Nesta situação, o terapeuta pode funcionar como uma espécie de


assistente do autor, uma vez que o que importa nessa fase do processo é o
conteúdo da narrativa. O produto concreto resultado dessa experiência, isto é, o
‘’livro’’ em si pode não ter importância no sentido de valor artístico, mas o que
conta é o resultado terapêutico obtido durante a sua elaboração, para cujo
processo ele funciona como uma ferramenta de acesso ao mundo interno da
criança.

Muitas são as possibilidades de intervenção na Ludoterapia e a


elaboração de um livro é apenas uma delas. O terapeuta poderá criar,
juntamente com a criança, o caminho mais suave e adequado para cada caso,
respeitando a personalidade, os recursos e as limitações de cada criança, enfim,
a sua individualidade.

A Ludoterapia destina-se principalmente a crianças na faixa de três a


onze anos de idade, aproximadamente, e pode ser aplicada individualmente ou
em grupo, dependendo da abordagem adotada e do problema a ser tratado. Os
motivos que levam os pais a buscarem a terapia para seus filhos são bastante
diversos, predominando dificuldades de aprendizagem e distúrbios
comportamentais, especialmente agressividade e comportamento antissocial,
ocorrendo igualmente em ambos os sexos.

A indicação da Ludoterapia é mais comumente feita por pediatras e pela


escola e vem aumentando cada vez mais nos últimos tempos. A procura ocorre
predominantemente entre famílias de classes média e alta. No entanto, dada a
sua importância no tratamento e ao alto índice de detecção de problemas em
crianças na idade escolar, cresce também o número de centros de serviços
gratuitos para atendimento à população carente.

O tratamento realiza-se através de sessões de cinquenta minutos cada e


as crianças geralmente gostam bastante, visto que na sala de Ludoterapia não
lhe serão solicitadas atividades desagradáveis ou entediantes. Ali elas poderão
falar e/ou brincar sendo, esta última, a forma mais apreciada e através da qual
cada criança se expressará de forma simbólica.

As representações variam em função do tipo de quadro clínico que a


criança apresenta, muito embora as atividades lúdicas sejam parecidas,
independentemente do sexo da criança e de sua sintomatologia, que inclui
também aquelas portadoras de déficits neurológicos e cognitivos. O que difere é
o grau da elaboração das representações.

Por exemplo, uma criança com motricidade fina abaixo da média,


apresentará um produto empobrecido em termos gráficos, o que não a impedirá
de elaborar seus conflitos de maneira satisfatória. No entanto, são as questões
emocionais o fator responsável pela maior parte dos distúrbios que chegam ao
consultório.

Durante as sessões, o terapeuta pode utilizar-se tanto de técnicas


diretivas como não-diretivas e isso vai depender principalmente da abordagem
por ele adotada. Através da postura diretiva, o terapeuta orienta a criança a
desenvolver atividades nas quais ele crê ser mais facilitado a expressão de um
determinado tipo de conflito.

Particularmente, prefiro a postura não-diretiva, posicionando-me mais


pontualmente apenas quando percebo ser importante para o andamento do
tratamento. Permito que a criança se autodirija praticamente o tempo todo,
sentindo-se livre para realizar a atividade que preferir e expressar-se do modo
que lhe for mais conveniente, consciente de que não será criticada por nada que
se refira ao seu modo de ser.

Limito-me a pontuar possíveis aspectos importantes ao detectá-los no seu


comportamento, porém sem forçá-la ostensivamente. Um clima de respeitosa
cordialidade é obtido, geralmente sem dificuldades. Para isso, na primeira
sessão do processo, estabeleço que naquele espaço estarão sempre presentes
três regras que deverão ser obedecidas o tempo todo: 1a.) é proibido machucar-
se de propósito; 2a.) é proibido quebrar qualquer coisa de propósito; e 3a.) é
proibido me machucar de propósito.

As crianças costumam achar bastante justa essa combinação e, às vezes,


me perguntam se elas valem também para mim, ao que respondo
afirmativamente. Elas se sentem satisfeitas por saberem que, exceto essas três
condições, tudo o mais é permitido, razão porque aquele espaço passa a ser
sinônimo de liberdade de expressão.

As crianças em processo terapêutico tendem a manifestar bastante


afetividade em relação ao terapeuta, o que facilita muito todo o trabalho. Este,
porém, deverá corresponder com reserva, pois seu papel será sempre acolhê-
las tendo em mente levá-las em busca da sua independência e autonomia, o que
é feito gradativamente.

Assim, o vínculo afetivo mais forte vai se desfazendo de forma lenta e


natural, preparando a criança para receber alta do processo terapêutico sem
sentir-se abandonada, rejeitada ou privada de um lugar que lhe fazia sentir-se
muito bem.

Quando essa transição é feita adequadamente – o que não ocorre,


infelizmente, quando os pais decidem interromper o processo abruptamente –
pode acontecer também que a própria criança, por sentir-se mais independente
e livre do problema que a levou até ali, decida espontaneamente finalizar a
terapia.

A participação dos pais é fundamental para o sucesso do tratamento


porque eles estão, invariavelmente, ligados ao quadro apresentado pela criança.
Não se trata de culpá-los pelo problema. É que a criança é, em geral, uma
espécie de reflexo da dinâmica familiar.

Daí a importância do envolvimento dos pais no tratamento, para que se


possa tratar a criança, orientando-os e recebendo deles o feedback necessário
ao acompanhamento do caso. Porém, nem sempre a receptividade dos pais é
favorável.
Para alguns, é muito difícil lidar com a constatação de que é necessário
fazer mudanças porque sua atitude em relação à criança, embora bem-
intencionada, vem sendo geradora de conflitos. No entanto, há muitos casos que
são gratificantes, nos quais os pais apresentam-se cooperativos e envolvem-se
inteiramente com o tratamento.

A melhora dos sintomas ou mesmo a supressão do quadro inicial é


detectada através da evolução das representações da criança. Muda sua
maneira de abordar o tema central numa mesma brincadeira, assim como
evoluem também o teor de seus desenhos e/ou o seu comportamento em geral.
No caso clínico citado anteriormente, um dos sinais da ocorrência de elaboração
(evidência de que o problema começa a ser processado e resolvido
internamente) foi o fato de que, ao longo do processo de criação do livro, Bruna
começou a gostar da história que estávamos construindo (a história do seu
conflito que, na verdade, estava sendo reconstruída agora de uma forma mais
consciente) e ao ver que o livro começava a ganhar forma (o seu livro, na
verdade, construído com uma experiência de sua vida), percebeu que a sua
história tem valor e importância (“minha vida é uma história importante,
interessante e merece ser lida, escrita e contada porque pode ser apreciada”).

Ao valorizar sua produção, a criança vai ganhando autoconfiança e maior


desenvoltura com o tema, vai internalizando as intervenções feitas e se
apropriando dos insights que surgem, num clima de criatividade e entusiasmo
pela atividade que desenvolve.

Além da observação no consultório, o profissional também busca


informações na escola e na família com a finalidade de certificar-se de que os
ganhos em terapia estão sendo generalizados para o universo de relações da
criança.

Às vezes os pais queixam-se de que a criança “piorou” relatando que ela,


que antes era dócil e pacata, tornou-se briguenta e rebelde. Dependendo do
caso, o profissional poderá interpretar esse comportamento como ganho real
para aquela criança em particular, visto que começou a sentir coragem para
expressar seus sentimentos de desagrado, caso fosse incapaz de fazê-lo
anteriormente. Caberá ao terapeuta interpretar cuidadosamente esses dados
para identificar se indicam realmente uma melhora da criança ou não, atuando
apropriadamente a partir dessa avaliação e do relato dos pais.

O tempo de duração do tratamento é variável, podendo ocorrer nas


primeiras seis semanas, nos casos mais simples e agudos, ou estender-se por
um ou mais anos, quando tratar-se de dificuldades estruturais ou mais
complexas.

2 Histórico da Ludoterapia

Melanie Klein ao iniciar seu trabalho na década de 20, desenvolveu um


novo instrumento de trabalho: ¨a técnica do brincar¨. Por meio dessa técnica
foi possível alcançar as fixações e experiências mais profundamente recalcadas
da criança e exercer uma influência importante em seu desenvolvimento.

Na psicanálise infantil o brincar tomou forma e sentido, passou a ser visto


e trabalhado como técnica infantil, chamada de ludoterapia. Para a psicanálise
infantil a palavra e o brincar da criança devem ser resgatados em toda sua
autenticidade.
Essa abordagem vai além da concepção cronológica e, objetiva revelar o
que há de específico no infantil e na criança. A Ludoterapia é uma técnica
psicoterápica usada no tratamento dos distúrbios de conduta infantis e, baseia-
se no fato de que o brincar é um meio natural de auto expressão da criança.

Podendo ser utilizada de forma individual ou grupal. Visto que não se pode
exigir de uma criança que faça associações livres, Melanie Klein tratou o brincar
como equivalente a expressões verbais, isto é, como expressão simbólica de
seus conflitos inconscientes.

Assim a Psicoterapia Infantil ajudaria a criança a resolver fixações e a


elaborar situações traumáticas do seu desenvolvimento. A análise através do
brincar mostra que o simbolismo possibilita à criança transferir não apenas
interesses, mas também fantasias, ansiedades e culpa a outros objetos além de
pessoas, ou seja, muito alívio é possibilitado através do brincar. Podemos assim
pensar que a criação, no uso da criatividade através do brincar seria um viés
sublimatório; forma encontrada pela criança de colocar suas pulsões à mostra,
expostas via objetos socialmente valorizados ou não.

Melanie Klein percebeu que o brincar da criança poderia representar


simbolicamente suas ansiedades e fantasias e , que estas brincadeiras
possibilitam conhecer os significados latentes e estabelecer correlações com
situações experimentadas ou imaginadas por elas, fornecendo à cada uma
delas a possibilidade de elaborar tais situações; mas, parece ter sido
Donald Woods Winnicott o primeiro pós-freudiano a se debruçar sobre a real
temática, como objeto de estudo específico.

De acordo com Cabral (2000) “Análise infantil é um método de diagnóstico


e terapia infantil que combina os princípios da Psicanálise freudiana e as técnicas
projetivas consagradas nos testes de Rorschach e de Murray (T.A.T.).

A esse método, Melanie Klein (1932) deu o nome de playtechnique, ou


técnica de brinquedo, ou ainda ludoterapia, depois desenvolvida por outros
psicanalistas da Escola de Londres, como D. W. Winnicott e Money Kyrle, e
adotada no todo ou em parte por analistas de outras correntes.
A análise infantil funda-se no princípio da catarse, uma vez que tenta
explorar o mundo de sentimentos e impulsos inconscientes (os “fantasmas”
infantis) como origem efetiva de todas as ações e reações observadas nos
pequenos pacientes”.

Melanie Klein estudou e relatou as descobertas da psicanálise que


resultaram na criação de uma nova Psicologia Infantil.

A criança desde os seus primeiros anos de vida pode experimentar


sentimentos ruins como angústia e luto.

O caráter primitivo do psiquismo infantil requer uma técnica analítica


especialmente adaptada à criança, para isso utilizamos sua própria linguagem,
ou pelo menos tentamos usar uma linguagem acessível à criança como também
lançamos mão de todos os tipos de brincadeiras, desde jogos de regras como
também jogos com bonecos de pano ou animais, além de todo material
pedagógico que contribui muito para entendermos o mundo infantil. Por meio
deste método obtemos acesso às fixações e experiências profundamente
recalcadas da criança, o que nos possibilita exercer uma influência radical em
seu desenvolvimento.

O homem ao nascer é totalmente dependente nos primeiros anos de vida.


Essa dependência se estende às atividades corporais e emocionais, porque
depende do adulto até para saciar suas necessidades básicas como: agasalhar-
se, alimentar-se, etc. O poeta, o artista, o pai, a mãe, o amigo, os idealistas estão
latentes na criança pequena.

Toda brincadeira tem um significado a ser explorado. Analogamente ao


ator que pesquisa seu personagem, a criança constrói seu conhecimento com
brincadeiras, jogos, jogos dramáticos e jogos com regras.

Muitos pais ao verem seus filhos brincando se questionam se devem


deixá-los sem fazer nada, porém desconhecem o fato de que brincar é a forma
natural da criança vivenciar todos os acontecimentos do seu dia a dia e até
mesmo compreender o mundo que a cerca.

Brincar é o trabalho da criança. Ela o faz para aprender, ganhar


experiência, desenvolver-se, exercitar sua criatividade. Durante as brincadeiras
começa a identificar seus sentimentos: amor, raiva, agressividade, isso podemos
observar durante os jogos dramáticos da criança que procura imitar os adultos
em suas atividades e se utilizam de expressões e mímicas para representar o
personagem.

Dessa forma o melhor caminho para chegarmos ao mundo mágico da


criança é através da brincadeira.

A ludoterapia pode ser realizada também com adultos. Todos nós


precisamos brincar e sorrir sempre, para nos sentirmos felizes com a vida.

2.1 A criança e o Brincar Segundo Vera Barros de Oliveira

Segundo a Psicóloga Infantil, Vera Barros Oliveira (2000), no brincar


casam-se a espontaneidade e a criatividade com a progressiva aceitação das
regras sociais e morais; ou seja, brincando a criança se humaniza, aprendendo
a conciliar de forma efetiva a afirmação de si mesma à criação de vínculos
afetivos duradouros.

Oliveira explica que brincando a criança elabora progressivamente o luto


da perda relativa dos cuidados maternos, assim como encontra forças e
descobre estratégias para enfrentar o desafio de andar com suas próprias pernas
e pensar aos poucos com a própria cabeça, assumindo a responsabilidade por
seus atos.

Dessa forma, o brincar se constitui na ferramenta por excelência que a


criança dispõe para aprender a viver. É no brincar que a criança encontra
condições de desenvolver seu potencial já adquirido geneticamente.

Segundo Oliveira, o brincar tem um papel importante na construção da


inteligência e equilíbrio emocional do bebê, contribuindo para sua integração
com o meio em que vive e, até mesmo para sua autoafirmação.

Ela alega que as estruturas mentais, por serem orgânicas, só se


desenvolvem mediante a possibilidade de expressão e comunicação com o
meio. E, complementa, dizendo: “o brincar ensina a escolher, a assumir, a
participar, a delegar e, a postergar”.

Oliveira esclarece que é a crença no retorno periódico da mãe, que


alimenta, protege, aquece, conversa e brinca, que dá forças ao bebê para
suportar sua ausência. E, que o caráter ondulatório e cíclico de sua atividade
lúdica, com temas opostos como vimos, expressa simbolicamente que est á
aprendendo a esperar e a suportar a tensão e a frustração da separação,
justamente porque confia em seu retorno.

E, completa dizendo que o brincar compensa e reequilibra o organismo,


chegando mesmo a armazenar bem-estar, se assim podemos dizer, para
momentos futuros

2.2 O Jogo e o Brincar segundo Melanie Klein

Melanie Klein, discípula fiel de Sigmund Freud, acabou por criar sua
própria linha de psicanálise. Conjecturava a possibilidade do lúdico não apenas
com o propósito de resgatar a relação de amor que a criança pode não ter tido,
mas uma possibilidade de se trabalhar mais enfaticamente com o sujeito infantil.
A referida autora observou que existem outras emoções em jogo nessa relação,
como o ódio, a inveja, a sexualidade, etc. Verificou, então, que a criança havia
perdido a inocência e suas brincadeiras e jogos apresentavam conteúdos
sexuais. Para ela, os brinquedos e jogos infantis, tornaram-se processos
simbólicos, com sentidos e significações especiais e únicos para cada criança.

Em 1929, Melanie Klein, não focalizava a criatividade como sendo uma


temática específica, mas descreveu o processo criativo como sendo uma
tentativa de restauração de danos causados a objetos, sejam esses internos ou
externos.

Segundo ela, brincando a criança expressa de modo simbólico suas


fantasias, seus desejos e suas experiências vividas

2.3 O Jogo e o Brincar Segundo Donald Winnicott

Winnicott, observou que os bebês tendem a usar os punhos e os dedos


para satisfazerem seus instintos e, que após alguns meses passam a usar algum
objeto especial para substituir este meio de estimulação, já tendo a capacidade
de reconhecer este objeto como “não-eu”.

Adquirem também, a capacidade d e criar, imaginar, inventar, produz ir


um objeto e estabelecer uma relação afetuosa com este objeto. Segundo ele,
fenômenos transicionais é justamente a transferência que ocorre na troca do uso
do dedo ou polegar para a utilização de um objeto como o “não-eu ” a que ele
chama de objeto transicional.

Ou seja, quando pensamos no brincar como um instrumento valioso para


o trabalho analítico, sabemos que estamos tratando de uma atividade que ocorre
na área que foi denominada por Winnicott de transicional. Ele afirma que quando
o simbolismo é empregado, o bebê já está claramente distinguindo entre
fantasia e fato, entre objeto externo e interno, entre criatividade primária e
percepção.

E, diz que o brincar te m um lugar e um tempo, acontecendo primeiro


entre mãe e bebê, segundo as experiências de vida. Ele explica que o brincar
facilita o crescimento e, portanto, a saúde - além de conduzir aos
relacionamentos grupais, até por que, “brincar é fazer. ”. Segundo ele, no brincar
a criança manipula fenômenos externos a serviço do sonho e veste fenômenos
externos, escolhidos com significado e sentimentos oníricos.

E, prossegue dizendo que há uma evolução direta dos fenômenos


transicionais para o brincar, do brincar para o brincar compartilhado, e deste para
as experiências culturais. Winnicott esclarece ainda, que o brincar envolve o
corpo devido à manipulação de objetos. Assim sendo, a criatividade é
fundamental e é através dela que o indivíduo sente que a vida é digna de ser
vivida.

Ele explica que em todas as fases da vida, o mediador é fundamental


para o sucesso no desenvolvimento do bebê, criança, adolescente, adulto ou
velho. E, que tudo acontece com um mediador, com interação: o segurar, o
manejar, a apresentação de objetos, a destruição do objeto, a sobrevivência à
destruição. Assim, quando essa interação é feita com confiança, se a tarefa da
mãe é cumprida na sua integralidade o desenvolvimento emocional e mental do
bebê e da criança é conseguido sem consequências negativas.
E, de acordo com Winnicott o simples fato de estar ao lado da criança,
amando-a e respeitando seu ritmo natural, é o suficiente para proporcionar
condições para seu desenvolvimento. Ele afirma que quando a criança
experimenta angústia, medo e desamparo, o “objeto transacional” serve como
suporte - um apoio para criança. Segundo Winnicott, este objeto é reconhecido
pelos pais e é carregado para todos os lugares, pois ele representa conforto e
segurança para o bebê.

Um objeto que não é imposto à criança, antes é por escolhido pela própria
criança. Às vezes uma fralda velha, um pedaço de roupa dos pais, um cobertor,
possui características muito particulares, como, por exemplo, o cheiro e, por isso
não pode ser lavado. Ele esclarece que esse objeto não é auto erótico, como por
exemplo, chupar o dedo ou enrolar o cabelo; ou seja, não é auto erótico porque
é externo ao corpo da criança. Esclarece ainda que, para cada criança, esse
objeto tem um sentido, e é sentido como algo seu que lhe passa segurança e,
visto que lhe é familiar, pode experimentar um sentimento de posse e controle,
pois, sabe que pode levá-lo para onde quer. E, nos fala enfaticamente que “é no
brincar que o indivíduo criança ou adulto pode ser criativo e utilizar sua
personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o
eu.
3 Bases da Ludoterapia

Ludoterapia significa a aplicação de procedimentos de psicoterapia


através da ação do brincar, mais especificamente, é o processo
psicoterapêutico, que lançando mão do brinquedo, vai, através, da brincadeira
constituir-se na estratégia utilizada pelo psicoterapeuta, a fim de que se possa
rumar no sentido da autenticidade, aspecto este que fundamenta a essência da
psicoterapia de base fenomenológico-existencial.

A psicologia dispõe de três métodos básicos, através dos quais se


desenrola toda a sua prática. São eles: o comportamental, o psicanalítico e o
fenomenológico.

No método comportamental, que tem no seu bojo os princípios


positivistas, a terapêutica vai ocorrer através da sistematização das
contingências de reforço, frente aos comportamentos desadaptados de uma
dada criança. A partir de tal sistematização a criança vai reaprender os
comportamentos, que se tornarão adaptados.

Na prática psicanalítica o processo terapêutico só ocorrerá de fato com a


transferência. Esta constitui a essência do método psicanalítico, que tem como
fundamento a interpretação a partir de seus princípios e axiomas teóricos. A
interpretação das vivências da criança e a consequente reelaboração das
experiências passadas é o objetivo da terapêutica psicanalítica.

Na psicoterapia fenomenológico-existencial, o discurso constitui a


essência do processo psicoterápico e ocorre na relação entre duas ou mais
linguagens. É nesta relação de intersubjetividade que o psicoterapeuta vai
buscar, na vivência conflitiva do cliente a coerência entre as condições do existir.
O psicólogo vai percorrer nesta busca através de seu recurso básico de atuação:
a linguagem.

É na linguagem que vai ser articulado o processo de psicoterapia.


Heidegger afirma que é no discurso que o indivíduo revela aquilo que ele oculta.
Na linguagem, o ser se revela, e aquilo que oculta se dá na estrutura do
entendimento e do sentimento. Ainda segundo este filósofo, o estado de queda
ou decaimento acontece quando a linguagem, o sentimento e a
compreensibilidade apresentam-se desarticulados. Por outro lado, o dasein atua
no mundo de forma autêntica quando as três condições do existir mostram-se
em harmonia.

A diferença na aplicação destes três métodos pode se tornar clara a partir


da seguinte exemplificação:

“Num determinado momento, um menino de nove anos que já vinha há algum


tempo mostrando comportamentos agressivos na sessão de ludoterapia. Pega
um boneco pai, soca-o e depois isola-o do restante dos bonecos, escondendo-o
em uma caixa. ”

Na concepção behaviorista a atitude deste menino teria sido aprendida e


as contingências do meio, provavelmente, reforçaram-na. A estratégia
terapêutica consistiria numa reaprendizagem. Psicanaliticamente,
provavelmente a revelação da criança seria interpretada a partir de uma teoria
de base que se articula numa vivência edípica. No enfoque fenomenológico-
existencial todos os valores, teorias e pressupostos seriam colocados entre
parênteses, e desta forma a situação poderá ser compreendida no contexto em
que a revelação se evidencie. A terapêutica se daria no sentido de criar
condições para que os sentimentos se mostrem, sejam eles de amor, de
hostilidade, de culpa ou outros.

Ao processo de escuta e fala, enquanto articulação do sentido, que ocorre


no brincar, vai se denominar ludoterapia. A fala no adulto, que por si só muitas
vezes é suficiente, na criança, na maioria das vezes mostra-se insuficiente,
fazendo-se necessário o recurso do brinquedo para que desta forma o processo
psicoterapêutico possa fluir. No lúdico, a criança revela seus sentimentos, suas
vivências, enfim seus significados.

3.1 Método Fenomenológico e os princípios existenciais


A abordagem fenomenológico-existencial lança mão do método
fenomenológico utilizando os recursos da épochè, redução fenomenológica,
captação intuitiva e integração significativa, à luz da filosofia existencial com os
princípios de liberdade, responsabilidade, risco, angústia, desespero, morte e
autenticidade.
Enquanto método, que pretende se diferenciar do positivismo, a
fenomenologia propõe que, em contato com os fenômenos, suspendam-se os
juízos, os valores, as teorias, enfim, os princípios teóricos acerca do que
apresenta. A esta postura, frente ao aparente, vai se denominar épochè.

Na psicologia com este enfoque, as intervenções do psicoterapeuta vão


se fundamentar na redução fenomenológica como a estratégia pela qual o
psicólogo vai buscar o sentido do discurso do cliente. É neste aspecto que escuta
e fala se articulam, fundando o processo psicoterapêutico.

Ao psicoterapeuta cabe buscar os significados que estão implicados no


discurso do cliente; para tanto, ele vai pautar-se nos princípios da captação
intuitiva e da integração significativa. Na primeira se dá a percepção apurada a
partir da condição de sentir do terapeuta. O sentido é captado, porém não é
elaborado no nível reflexivo. Isto vai ocorrer num segundo momento com a
integração significativa, quando o conteúdo passado pelo cliente se refletirá na
relação entre ambos.

Os princípios existenciais vão possibilitar as reflexões acerca da


existência. A liberdade ocupa lugar de destaque nestas reflexões, uma vez que
é a partir das possibilidades dadas ao existente que este se torna livre para
escolher. Enquanto livre o indivíduo torna-se responsável pela possibilidade
escolhida. Ao se tornar responsável, sente-se culpado e angustiado frente às
possibilidades abandonadas e às que serão preteridas respectivamente.

Quando a criança chega à sala, o terapeuta se apresenta e pergunta-lhe


se sabe o porquê de estar ali. Apresenta-lhe o espaço de ludo com todas as suas
possibilidades: papel para desenhar, lápis de cor, água, areia, barro, tesoura,
quadro negro, jogos, livros infantis, fantoches, casa de bonecas, carrinhos, entre
outros.

Neste momento, cabe à criança escolher. O princípio a ser trabalhado é o


da liberdade. Não se escolhe pelo cliente; é ele quem vai escolher; desta forma
vai exercer a sua possibilidade de escolha.

Ele pode dizer: “não sei tia, escolhe qualquer coisa. ”


O terapeuta pode responder: “você está dizendo que eu posso escolher por
você. ”
- É.

- Você está dizendo que não quer escolher.

- Não. Você pode escolher, eu não quero escolher.

- Quando você me manda escolher por você, sou eu quem vou definir a tarefa.
Você então se dispõe a fazer o que eu quiser. Então vamos fazer contas de
multiplicar.

- Não, mas isso eu não quero.

- Mas você disse que eu poderia escolher.

- Mas multiplicar não.

- Então tá. O que você escolhe?

Se a criança insistir em não escolher, o terapeuta pode continuar


escolhendo coisas que a criança provavelmente não gostaria de fazer e então
refletiria para ela: “quando a gente não escolhe o que quer, deixa o outro
escolher e aí a escolha do outro pode acabar por desagradar”. Nesse caso,
trabalha-se a forma como ele constrói o seu ser no mundo: “é sempre assim com
seus coleguinhas, eles escolhem por você? ” / “é assim na sua casa? ” Exploram-
se todas as suas situações de vida. Ao acabar a sessão, pede-se para que ele
observe como isso acontece lá fora. Nesta situação foi trabalhada a liberdade de
escolha. A responsabilidade também foi vista. Ela escolheu e é responsável pelo
que escolhe. Quando escolhe não escolher, continua responsável por não ter
escolhido. É responsável por deixar que a outra escolha por ela.

A angústia é o sentimento original que se dá na abertura do ser para o


mundo. Frente às possibilidades oferecidas, ao dasein cabe escolher. A opção
por uma das possibilidades encerra todas as outras. Isto acontece, por exemplo,
quando, faltando poucos minutos para terminar a sessão, a criança ainda deseja
realizar muitas tarefas que o tempo não permitiria. A criança deve fazer uma
escolha, situação que vem carregada de angústia, uma vez que ela terá que abrir
mão de outras possibilidades. Neste momento, o psicoterapeuta deve atuar no
sentido de não aliviar a angústia, pois se assim o fizer estará aniquilando a
situação de crescimento.

A autenticidade caracteriza-se pelo fluir juntamente as três condições da


existência. São elas: sentimento, entendimento e linguagem. O terapeuta atua
no sentido de que tais condições se articulem sem conflitos.

Na vivência dialética entre o eterno e o temporal, o terceiro termo é a


existência no tempo, onde a morte é a constante companheira da vida. Neste
sentido, o temporal constitui-se num aspecto fundamental no trabalho da
psicoterapia. A partir da consciência da coexistência morte e vida, o
psicoterapeuta atua de forma a trazer as limitações do existir.

3.2 Recursos Metodológicos

A ludoterapia constitui-se numa prática da psicologia, portanto vai se


articular a partir de um método e de reflexões teóricas. O fazer do psicólogo além
de utilizar-se destes instrumentos, vai se dar a partir de alguns recursos
metodológicos, tais como: atitudes, intervenções, livros, jogos, fábulas,
dinâmicas, entre outros.

Com relação às atitudes, a ética deve ocupar o lugar central. A sua


atuação deve ser isenta de seus valores. Não cabe ao terapeuta avaliar uma
atitude feia, nem bonita, nem certa ou errada, enfim, ele deve evitar ao máximo
uma atitude de julgamento, uma direção quanto ao caminho que a criança deve
seguir. Deve estabelecer uma relação com a criança pautada na autenticidade.
Evitar, por exemplo, falar com a criança como se estivesse falando com alguém
que não compreenda a linguagem comum, provavelmente se pensar desta forma
não irá estabelecer uma relação de confiança. O psicólogo brinca com a criança,
mas fala a sua própria fala, ao brincar.

Virginia Axline, que adota a teoria de Rogers em sua atuação, descreve


em seu livro Dibs: em busca de si mesmo algumas intervenções que são
classificadas por Rogers como refletora de conteúdo verbal e clarificadora de
vivência emocional. A primeira ocorre quando o cliente, ao brincar, revela um
significado incongruente e o psicólogo sintetiza o discurso e o devolve. Na
segunda, o psicólogo extrai o sentimento que foi explicitado naquela brincadeira
e clarifica-o.

Alguns psicólogos constroem as suas intervenções de forma afirmativa.


Virginia Axline o faz de forma inquisitiva. Cada um vai construir seu próprio estilo
e suas modalidades de intervenções, desde que o método fenomenológico seja
considerado.

3.3 O Papel do Psicólogo na Ludoterapia

A atuação do psicólogo muitas vezes constitui-se numa arte muito mais


do que numa técnica. Este aprendizado ocorre na medida em que há a
experiência. Os aprendizes de ludoterapia acabam por passar por momentos
difíceis, em que se separar da forma como lidam com o cotidiano para assumir
uma postura de psicoterapeuta torna-se uma tarefa árdua. É comum, em
psicólogos inexperientes, ocorrerem alguns deslizes, tais como, entrar em
competição com a criança que assume no mundo uma postura autoritária,
levando o psicólogo a imbuir-se do lema: “vamos ver quem é que manda! ”. Agir
desta forma implica em prejuízo do processo. Neste contexto não há lugar para
disputa, a relação deve se estruturar como de ajuda. O psicólogo atua como
facilitador que junto com a criança cria condições de crescimento num ambiente
que lhe permita no brincar a expressão dos seus significados.

No início pode ocorrer que o terapeuta tenha dificuldade em dar limites à


criança. Com frequência, a criança opõe-se ao fato de ter que ir embora, ao
término das sessões. Os limites têm que ser estabelecidos e trabalhados com a
criança.

Outra questão à qual o psicólogo deve estar atento é a curiosidade:


psicólogo nenhum deve ser curioso, pois, se assim for, não vai estar atento ao
outro, estará atento a si mesmo.

Não se faz necessário insistir nos porquês, hábito bastante frequente nos
novatos. Este tipo de questionamento muitas vezes acaba por irritar a criança,
que muitas vezes reage dizendo: “tia, para de perguntar o porquê” ou “você
pergunta muito”. O psicólogo deve sempre continuar o processo na linha que a
criança conduz. Ao invés de ficar perguntando: “mas por que você disse isso? ”
Ou, “mas por que você prefere esse jogo? ”, o psicólogo deve ir junto com a
criança: “Ah, sim, você escolheu esse jogo”, e
deixá-la continuar procedendo sobre o jogo da forma que ela própria escolheu.

O treinamento da épochè faz-se necessário para que o psicoterapeuta


atue de uma forma própria que não se confunda com a vivência cotidiana.
Através da ação, do brincar, por exemplo, a criança vai expressando toda a sua
hostilidade e o terapeuta vai criar um ambiente permissivo para que ela externe
esses sentimentos. Não vai dizer para ela que em pai não se bate. Se a criança,
neste contexto, quiser bater no pai, ela o fará. Essa forma de atuar vai diferenciar
o psicólogo das pessoas comuns. As pessoas comuns vão dizer: “o que é isso?
Seu pai é tão bonzinho para você”, ao psicólogo, no entanto caberá a
compreensão desta expressão.

A expressão dos sentimentos é muitas vezes ambígua e contraditória. Ora


sente culpa, ora se sente ódio. A nós terapeutas cabe remover a culpa para que
o sentimento de origem apareça espontaneamente. Com culpa há repressão dos
sentimentos. Portanto, alimentar a culpa é terminantemente proibido no
processo terapêutico.

As intervenções do terapeuta deverão mobilizar os sentimentos de forma


que estes apareçam através do brincar, da ação e consequentemente pela
linguagem. Para tanto faz-se mister que o psicoterapeuta mantenha “as orelhas
em pé e os olhos abertos”.

3.4 Orientação dos Pais

A orientação dos pais acontece sempre que o terapeuta perceber que os


estes não estão atuando de forma a facilitar o crescimento da criança. Os pais
ou boicotam o processo ou continuam mentindo, ou ainda castigando em
demasia. No início pode-se chamá-los uma vez por mês. Depois, de acordo com
a situação, pode-se espaçar as orientações. Neste momento, o terapeuta vai
levá-los a refletir sobre a forma como as coisas estão acontecendo na família. O
terapeuta traz as situações familiares conflitivas e todos refletem sobre tais
situações. Não diz diretamente o que deve ser feito. Pede-se para eles que deem
sugestões do que se pode fazer e aí vão refletindo em cada uma das sugestões
e depois, juntos, descobrem qual é a orientação que eles acreditam que devem
utilizar. Pode-se utilizar como recurso os livros infantis a fim de ampliar as
possibilidades de atuação.

Nesta etapa do trabalho, alguns itens merecem atenção especial: a forma


como se dá a disciplina familiar. Através de chantagem? Os pais fazem
chantagem com os filhos e reclamam que eles também estão fazendo? A
dinâmica é chantagem? A disciplina é rígida, se dá através da punição física?
Não há disciplina? Não há limites? Na família tudo vale? Tudo tem que ser
trabalhado. Muitas vezes os pais dizem: “não adianta, ele não respeita ninguém”,
“não cumpre horário”, “nunca chega cedo” e os pais sempre chegam atrasados
à sessão. Pode-se fazer uma brincadeira: “ah, nisso ele tem a quem puxar.
Vocês também sempre chegam atrasados aqui”.

Nesse caso, fala-se do atraso como uma característica familiar, ou seja,


tira-se da criança o papel de bode expiatório e localiza-se essa situação na
família. Desta forma pode-se tornar claro o modo como a família atua frente às
regras. Outra queixa comum: “ele é muito dependente. Imagina, ele não faz
nada sozinho”. E o terapeuta responde: “sim, mas eu soube que ele quis ir à
padaria sozinho e não lhe foi permitido”. Os pais replicam: “ah, mas a padaria é
perigosa. Lá não adianta que eu não deixo, de jeito nenhum”. Então deve-se
mostrar que a questão da dependência é algo que serve à família. A criança
utiliza, mas a família se serve disso. Vai-se trabalhando assim a questão da
dependência, entre outras.

A comunicação, por exemplo, do tipo paradoxal pode acabar por trazer


conflitos sérios na criança. Um exemplo pode tornar clara a confusão provocada
quando os pais assim se comunicam: “homem não pode descansar”, diz a mãe.
Logo depois pergunta: “filho, está cansado, quer colo? ” A criança fica na dúvida:
afinal, sou homem ou não sou homem?

E os vínculos afetivos? Como se dão? Eles são de dependência? Não


existem? É cada um por si e Deus por todos? São meio confusos, uma hora há,
outra hora não há? O relacionamento em si e o relacionamento familiar como um
todo, como ele ocorre? Que influência exerce na vida da criança?

Outros recursos podem ser utilizados, como por exemplo, os livros


infantis; fábulas, que às vezes trazem questões que são fundamentais, próprias
à situação vivida pela família ou pela criança; crônicas que podem ser usadas
no trabalho com os pais e com a criança. A leitura pode ser feita em casa ou na
próxima sessão, pode-se ler junto com a criança para ver como ela lê, se ela tem
compreensão do que lê, como é o entendimento, o sentimento e a articulação da
linguagem.

A família na psicoterapia permite estabelecer a hora da verdade, uma vez


que são trazidas questões que não são relatadas pela família. Neste momento,
o terapeuta lança a questão e vê o que eles vão fazer com ela, como a família
vai lidar com aquela verdade.

A partir da colocação clara das dificuldades vividas pela família, as coisas


começam a melhorar porque a verdade seja dita e o objetivo é que esse diálogo
continue em casa, sem precisar da ajuda de um terceiro.

O terapeuta vai pontuando as questões levantadas de forma a intervir nos


conflitos e vai estimulando para que a coisa se resolva, para que negociem
aquela situação, sem, contudo, se intrometer ou dar a sua opinião.

4 Ludoterapia: Pais e Professores, como podem ajudar?

O papel dos pais na psicoterapia infantil é de extrema importância.


Inicialmente porque é um deles, ou ambos, que identifica a necessidade de
atendimento e leva o filho ou filha até o psicólogo. A partir do primeiro contato,
se estabelece uma parceria entre a família e o terapeuta que será imprescindível
para o sucesso do tratamento.

Os pais, ao escolherem um profissional para tratar de seu filho, assumem


também responsabilidades, como a manutenção da frequência, a efetivação do
pagamento e o cumprimento das demais combinações realizadas
conjuntamente. Para tanto, é necessário que se estabeleça uma relação de
confiança. Tendo isso em vista, geralmente, no início do tratamento, é realizada
uma ou mais entrevistas com ambos ou com um dos pais. Nessas entrevistas, o
profissional irá escutar a demanda familiar, realizar uma avaliação prévia do
caso, esclarecer as dúvidas da família, explicar como realiza o seu trabalho e
estabelecer combinações.

Nesse momento, é importante que os pais relatem tudo o que julgarem


pertinente para que o psicólogo possa ter um entendimento o mais abrangente
possível da problemática envolvendo a criança e sua família. O psicólogo deve
se colocar de forma que os pais se sintam à vontade para fazer todos os
questionamentos que julgarem necessários, esclarecendo todas as suas dúvidas
quanto aos procedimentos a serem utilizados, ao referencial teórico adotado pelo
profissional, aos honorários, à frequência, aos horários, às férias, aos intervalos,
etc.

Alguns profissionais, ao atenderem crianças, costumam realizar um


processo avaliativo antes de iniciar a psicoterapia propriamente dita. Essa
avaliação varia no tempo e nos instrumentos utilizados conforme a orientação
teórica e prática de cada profissional. Os psicólogos que adotam a avaliação
inicial, realizam uma devolução para os pais ao final da mesma. Nessa
devolução, são discutidos com a família os resultados obtidos, a possibilidade
ou não de um diagnóstico inicial, os instrumentos utilizados e a indicação
terapêutica. Toda e qualquer dúvida ou discordância deve ser discutida com o
profissional, que tem a obrigação ética de acolher e esclarecer os
questionamentos da família.

Durante o processo psicoterapêutico infantil, a participação dos pais é


constante, pois é essencial que acompanhem e participem do tratamento. Essa
participação pode ocorrer de diversas formas, com entrevistas semanais,
quinzenais ou mensais; com entrevistas com pai e mãe juntos; com entrevistas
só com o pai ou só com a mãe, ou mesmo com outro familiar cujo vínculo seja
significativo para o paciente; com atendimento conjunto da criança com ambos
os pais, ou com um dos pais. Nada disso é pré-definido e existem muitas
possibilidades que vão sendo construídas conjuntamente pelo terapeuta, pelo
paciente e pelos pais. O contato contínuo com os pais propicia que estes se
apropriem do processo terapêutico dos filhos, podendo acompanhar o progresso
e a evolução, dando ao psicólogo feedbacks que subsidiarão a sua intervenção.

Cria-se também um espaço de escuta para os pais, onde as questões


individuais e familiares podem ser trabalhadas, colaborando para a melhora dos
filhos. Não se trata de psicoterapia para os pais, mas do acompanhamento
familiar visando o progresso terapêutico da criança. Havendo a necessidade de
atendimento psicológico dos pais, o psicólogo os encaminhará para outro
profissional.

Além disso, a psicoterapia infantil também exige que o psicólogo muitas


vezes realize intervenções junto a outros profissionais que atendem a criança,
como médicos e professores. Essas intervenções são sempre realizadas com a
ciência e anuência dos pais e muitas vezes, é solicitado que a família realize a
mediação dos contatos entre o psicólogo e os demais profissionais.

No momento da alta, também é indicada a realização de uma ou mais


entrevistas de encerramento com os pais para avaliação do processo e
discussão das indicações futuras.

É importante que os pais tenham a segurança de que a qualquer momento


podem interpelar o profissional, seja para esclarecimentos, pontuações ou
recombinações. O psicólogo e a família são aliados no processo
psicoterapêutico infantil. O receio de muitos pais de que o psicólogo possa julgar
ou criticar suas crenças, posturas ou formas de educar os filhos deve ser
superado. O trabalho do psicólogo não é de julgamento e sim de auxílio à família
para entender o que se passa com o filho, buscando soluções para os problemas
apresentados, de forma que a criança retome o seu desenvolvimento saudável
e a família siga a sua vida de forma mais tranquila e satisfeita.

O papel do professor na vida educacional das crianças desde as primeiras


séries, mesmo quando ainda estão na creche ou pré escola, carrega uma forte
simbologia para a vida dos alunos. Quem de nós não tem no imaginário um
professor ou vários, para a vida toda? Pensar na escola sem professor é algo
que nos parece bizarro. Pelo menos por enquanto.
A principal função do professor ainda parece ser a de ensinar, mas este
processo precisa passar pelo tramite transferencial, em que a criança vai projetar
de si no professor e introjetar em si algo do professor. Aqui temos um dos
elementos que mais é acionado na interação professor/aluno, a relação de
espelho. O professor espelha na criança o conhecimento, o suporte, a proteção,
os afetos. Ao se interagir com o professor a criança identificará com ele
elementos que se assemelham aos fatores de sua família, pai e mãe, e também
do ambiente de origem. A criança projeta no professor suas necessidades
básicas de apoio e proteção e introjeta dele aquilo que de fato ele está tendo
condições de oferecer.

Podemos observar que as crianças, antes mesmo de chegar a escola, já


nomeiam objetos para projetar/introjetar dentro da dinâmica de afastamento dos
pais. É o que Winnicott chamou de “objeto transicional”, os bichos de pelúcia, a
chupeta e muitos outros brinquedos. Assim na evolução da criança até o mundo
escolar, haverá uma transferência automática dela para o professor, no processo
em que o professor torna-se espelho para o aluno.

Nesta interação professor/aluno, o professor passa ser a sequência e


extensão dos pais. Se esta interação for favorável, a criança vai criar
identificação com o professor e desta identificação poderá construir seu
processo de aprendizado de forma mais tranquila. Do contrário se o professor
não conseguir fazer esta interação de espelho com a criança o processo de
pertença e interatividade com o aprendizado pode ser rompido, daí a criança
entra em um sofrimento emocional e provavelmente terá seu desenvolvimento
educacional comprometido. Por isso que em um equipamento educacional o
professor não está sozinho, uma equipe de profissionais e outros professores
podem colaborar neste processo de interação com a criança. Muitas vezes, num
primeiro momento, a criança pode refutar o seu professor direto, mas a acolhida
por toda equipe de trabalho pode trazer a segurança e tranquilidade e depois a
possível vinculação ao professor.

Assim o papel do professor nas escolas, creches, pré-escolas e ensino


fundamental carrega uma necessidade de potencial de vínculo afetivo no perfil
do professor. Uma maturidade relacional e uma prontidão para se desdobrar
àqueles que muitos necessitam de suporte.
O professor então, precisa ser um indivíduo maduro pois será exigido dele
tanto o conhecimento como o potencial de acolhida afetiva. Uma escola, ao
selecionar professores para as tenras idades escolares, não pode simplesmente
escolher por serem recém-formados ou estarem em fase de aprendizado. Na
verdade, são nas séries iniciais que os professores devem ser melhor
selecionados e até melhor remunerados. Entretanto no Brasil esta posição é
inversa, os professores de segundo grau e universidades são melhores pagos
do que os do ensino fundamental.

A base de uma carreira educacional está nos primeiros anos de vida. E


esta base vai para além dos conteúdos. É uma base de aporte e suporte
emocional. Assim, o professor das séries iniciais precisa ter muito conhecimento
de conteúdos e de vínculos afetivos para poder espelhar na criança o desejo de
desbravar novos conhecimentos e dar a ela certeza que estará sendo acolhida
na outra casa sua que não é a da sua própria família, mas sim a escola, onde
ela passará por longos períodos nela.
5 Técnicas de Ludoterapia

Livros Infantis
O terapeuta pode ter em seu consultório vários livros infantis. Hoje em dia
é possível encontrar textos com ilustrações bastante sensíveis explorando
inúmeros temas pertencentes ao mundo das crianças. Quando uma criança
escolhe um destes livros abre-se um tema a ser explorado, um universo afetivo a
ser compreendido.

O corpo
Na ludoterapia pode-se fazer brincadeiras como “o macaco mandou” ou
imitar animais em seus movimentos ou sentimentos. Pode-se jogar bola, correr,
pular, ir a um trepa-trepa. Pode-se dirigir a criança num relaxamento onde ela
imagina-se com uma lanterna na mão passeando por dentro de seu corpo.
Podes-lhe pedir que pare quando sentir um músculo mais tenso ou uma dor e
que então descreva o que está percebendo ou sentindo. Ela pode deitar-se sobre
um papel e o terapeuta desenhar seu contorno que será depois “vestido”. Ela
pode também fazer um desenho livre de seu corpo sobre um grande papel. A
parede pode ser usada para registrar o crescimento dela. É sempre uma
surpresa constatar a mudança de tamanho. O espelho também pode ser
utilizado. A criança pode gostar ou não do que vê. Pode ser simpática ou
agressiva a si mesma através do espelho. O terapeuta pode usar também o
espelho para demonstrar a incongruência entre a fala e a expressão.

Dramatização
A criança pode fazer uma brincadeira dramática livre utilizando os objetos
da sala como a casinha de bonecas, objetos de casinha, bonecas, fantoches,
bonecos, armas, carros etc. Nestas brincadeiras, quando o terapeuta é
convidado a contracenar, é importante que ele atue segundo instruções da
criança para que não represente o personagem por seus próprios critérios, mas
pelos critérios da criança.

Pode-se construir com a criança uma caixinha dos sentimentos. Criança


e terapeuta juntos nomeiam os sentimentos que conhecem que são então
escritos num papelzinho e guardados na caixa. Posteriormente pode-se sortear
um ao acaso e representá-lo para que o outro adivinhe do que se trata. É uma
forma de exercitar a criança a compreender os sentimentos dos que a cercam e
os seus próprios.
Testes Projetivos

TPO – Teste projetivo Ômega, CAT –Teste de apercepção temática para


crianças, Rorschach – Teste psicodiagnóstico de Hermann Rorschach e outros.

No psicodiagnóstico este material é utilizado para recolher dados úteis na


elaboração da conclusão psicodiagnóstico. Na ludoterapia o terapeuta pode
utilizá-los como recurso para explorar com a criança os significados externados.
De forma que o material produzido é discutido, pensado e questionado, e o que
importa é o significado emergente.

Jogos

Baralho, jogo da velha, memória, loto, ludo, boliche, bola-de-gude,


belisca, risk, espião e muitos outros que se pode comprar à vontade nas
prateleiras de jogos para crianças. No processo terapêutico pode-se trabalhar a
forma como a criança joga, conhecer sua forma de raciocinar, como lida com a
competição, quais suas maiores preocupações durante um jogo etc. Outras
vezes a criança é introduzida num jogo não conhecido anteriormente e pode-se
conhecer sua forma de lidar com estas situações.
Histórias e Poesias

Eis algo que a criança em idade escolar se vê obrigada a fazer


diariamente. É certo que muitos têm prazer nisto. A utilização na terapia pretende
a exteriorização de sentimentos e ideias em palavras. Isto não é uma tarefa fácil
para todas as crianças, mas é um caminho bonito de ser trilhado. Pode-se propor
uma história interativa, construída em dupla pelo terapeuta e o cliente.

Alguém começa, o outro completa, depois o outro traz uma nova frase,
depois o outro, assim até que considerem a história encerrada. Pode começar
assim: “Era um dia especial...”. A poesia é também interessante e pode ser
trabalhada de forma interativa. Pode-se pedir à criança que escreva uma poesia
comunicando à sua mãe seus sentimentos. A poesia dispensa muitas
informações e pode ser mais direta que uma prosa, o que torna o exercício
bastante emocionante. A criança pode fazer uma redação com um tema proposto
pelo adulto. Outras vezes ela própria escolhe sobre o que escrever.

Recursos Artísticos – Tinta, água, argila, massa

Muitas vezes o terapeuta poderá trabalhar apenas o contato da criança


com estes materiais, o que pode lhe ser bastante prazeroso ou uma experiência
asquerosa. Parece verdadeiro que a criança menor lida mais livremente com
este tipo de material. Mas crianças maiores têm tido bastante prazer no
reencontro com a manipulação de argila e tinta, com os quais tendem logo a
construir algo. Assim, a utilização pode ser livre ou dirigida: a criança pode criar
livremente e o terapeuta buscará articular com ela o sentido do que está
vivenciando, ou o terapeuta pode sugerir-lhe que expresse algum sentimento
através da argila, ou utilizando tinta da cor de sua preferência. Por ocasião do
aniversário das crianças o terapeuta pode sugerir-lhes que construam um
presente para si mesmas. Argila e tinta resultam num presente concreto bastante
interessante.

Fazer um presente para você mesmo não parece ser coisa fácil, mas esta
atividade tem sido realizada com bastante prazer pelas crianças, que levam com
bastante cuidado seus presentes para casa. Uma criança fez um porta-lápis que
levou com muito cuidado para casa. Passado um tempo a irmã o quebrou
acidentalmente. A criança, muito sentida, pediu para fazer outro. Este objeto já
tinha um lugar especial em seu quarto que não gostaria que ficasse vazio.
Enquanto a criança utiliza este material é possível ao terapeuta atento perceber
a forma como ela utiliza o espaço, o material e como está sua motricidade fina e
ampla.
Referências

https://www.vittude.com/blog/psicoterapia-infantil/

Eliane Pisani Leite - Autora do livro: Pais Educativos

https://br.mundopsicologos.com/artigos/quais-sao-as-bases-da-ludoterapia

https://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?o-papel-dos-pais-na-
psicoterapia-infantil&codigo=AOP0421

https://abarcapsicologo.com.br/?223/artigo/o-professor-e-a-sua-funcao-de-
espelho

PROTASIO, Myriam Moreira. Técnicas da gestalt terapia aplicada a ludoterapia.

Revista de Ludoterapia do Instituto de Psicologia fenomenológico-existencial do


Rio de Janeiro - IFEN
http://www.ifen.com.br/publica.html

Aspectos teórico-práticos na Ludoterapia - Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo*

AXLINE, Virginia. Ludoterapia. Belo Horizonte: Interlivros, 1984.

______. Dibs: em busca de si mesmo. Rio de Janeiro: Agir, 1989.

MALDONADO, Mª Tereza. Comunicação entre pais e filhos. Rio deJaneiro:


Vozes, 1989.

SATIR, Virginia. Terapia do grupo familiar. Rio de Janeiro: FranciscoAlves, 1976.


Anexo I – Contribuição da Ludoterapia no Autismo Infantil

Fernanda Karina Uchôa da Silva


Ana Cláudia Barroso

Resumo

O objetivo deste trabalho é averiguar a relevância da ludoterapia no


tratamento do distúrbio de neurodesenvolvimento, chamado autismo, em
crianças. O autismo se caracteriza pela presença de desvios nas relações
interpessoais, linguagem e comunicação. Dessa forma, a ludoterapia é um
processo facilitador as demais terapias, especialmente de crianças autistas. O
objetivo da pesquisa foi alcançado pelo uso da Revisão Sistemática em conjunto
com a estatística descritiva. A base de dados utilizada para a realização da busca
de artigos que tratam do assunto se deu na PsycINFO. Os resultados
demonstraram que a nível internacional, embora escassos, há estudos que
relacionam a ludoterapia ao tratamento de crianças com autismo, no entanto, a
situação ainda é pior em se tratando de pesquisas de cunho nacional. Palavras-
chaves: Autismo. Ludoterapia. Revisão Sistemática.

CONTRIBUTION OF PLAY THERAPY IN CHILDREN'S AUTISM

Abstract

The objective of this study is to investigate the relevance of Play Therapy in the
treatment of the neurodevelopmental disorder, called autism, in children. Autism
is characterized by the presence of deviations in interpersonal relationships,
language and communication. In this way, Play Therapy is a process that
facilitates the other therapies, especially of autistic children. The objective of the
research was achieved through the use of Systematic Review in conjunction with
descriptive statistics. The database used to perform the search of articles that
deal with the subject occurred in PsycINFO. The results showed that at
international level, although scarce, there are studies that relate Play Therapy to
the treatment of children with autism, however, the situation is still worse in the
case of national research.

Keywords: Autism. Play Therapy. Systematic review.


Resumen

El objetivo de este trabajo es averiguar la relevancia de la ludoterapia en el


tratamiento del trastorno de neurodesarrollo, llamado autismo, en niños. El
autismo se caracteriza por la presencia de desvíos en las relaciones
interpersonales, el lenguaje y la comunicación. De esta forma, la ludoterapia es
un proceso facilitador las demás terapias, especialmente de niños autistas. El
objetivo de la investigación fue alcanzado por el uso de la Revisión Sistemática
en conjunto con la estadística descriptiva. La base de datos utilizada para la
realización de la búsqueda de artículos que tratan del asunto se dio en la
PsycINFO. Los resultados demostraron que a nivel internacional, aunque
escasos, hay estudios que relacionan la ludoterapia al tratamiento de niños con
autismo, sin embargo, la situación aún es peor en lo que se refiere a
investigaciones de cuño nacional.

Palabras claves: Autismo. Ludoterapia. Revisión sistemática.

Introdução
Os familiares que possuem uma criança autista precisam ter os melhores
artifícios para auxiliar essa criança, e como a ludoterapia vem sendo
comprovadamente útil nesse processo de ajuda é muito importante os familiares
saberem as qualidades desse tratamento. Sobre isso, Martelli et. al. (2000)
explicam que a ludoterapia é um recurso muito poderoso, visto que através do
brincar se revelam as estruturas mentais da criança autista, colaborando assim
para um melhor entendimento de como ele percebe a si próprio e o meio à sua
volta.

Assim, torna-se importante apresentar para as famílias como o tratamento


da ludoterapia pode dar assistência à criança autista ajudando esta a libertar os
seus sentimentos e problemas através de brincadeiras e jogos, possibilitando a
acessibilidade do entendimento sobre o tratamento da ludoterapia.
Referencial Teórico
Conceitos e Características principais do autismo

Segundo Amy (2001), o conceito de autismo surgiu quando Leo Kanner,


em 1943, no artigo intitulado: Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo descreveu
uma síndrome à qual deu o nome de autismo infantil. Nessa publicação, Kanner
(1943) destaca que o sintoma fundamental, “o isolamento autístico”, estava
presente na criança desde o início da vida dizendo que se tratava então de um
distúrbio inato.

Nela, descreveu os casos de onze crianças que tinha em comum um


isolamento extremo desde o início da vida e um anseio obsessivo pela
preservação da rotina. Em 1944, Hans Asperger escreve outro artigo com o título
“Psicopatologia Autística da Infância”, descrevendo crianças muito parecidas às
descritas por Kanner. O autismo é conceituado como uma síndrome
comportamental, com causas de um distúrbio de desenvolvimento. Sendo assim,
o autismo se caracteriza pela presença de desvios nas relações interpessoais,
linguagem e comunicação, tais como: comportamentos não-verbais, prejuízo no
contato visual direto, expressão visual, semblante e gestos corporais, e um
conjunto marcantemente pequeno de atividades e interesses (SOUZA et. al,
2004).

De acordo com o DSM-5 (APA, 2014), o autista apresenta padrões


repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses ou atividades, isto é,
observa-se inflexível adesão a rotinas ou rituais específicos e não funcionais,
maneirismos motores e/ou preocupação persistente com partes de objetos. O
autista apresenta ainda comportamentos hiperativo, agressivo e injurioso em
relação a si e aos outros, assim como pensamentos e comportamentos
interferentes e repetitivos.

Estima-se que 66% dos afetados mantêm severos comprometimentos no


seu desenvolvimento e jamais atingem uma função social independente
(MARTELLI et. al., 2000, p. 20). Diversos são os fatores que podem desencadear
o autismo, dentre os quais se incluem o desequilíbrio nos sistemas
neuroquímicos e fatores genéticos. Devido aos enormes custos psicossociais,
clínicos e econômicos, é de se considerar essencial à administração de
medicamentos que possam contribuir para a redução do sintoma autísticos.

A prescrição desses medicamentos só pode ser realizada por médicos


especialistas, tais como o psiquiatra ou o neurologista e, por serem drogas que
podem apresentar os mais diversos efeitos colaterais, suas receitas médicas
sempre ficam retidas nas farmácias (MARTELLI et. al., 2000). O autismo pode
ter como principais diagnósticos diferenciais a esquizofrenia de início na infância,
retardo mental com sintomas comportamentais, transtorno misto de linguagem
receptivo/expressiva, surdez congênita ou transtorno severo da audição,
privação psicossocial e psicoses desintegrativas (SOUZA et. al, 2004). É comum
apresentar-se dúvidas em relação ao conceito de Transtorno do Espectro Autista
(TEA), Autismo e Síndrome de Asperger.

Para Souza e Alencar (2016) o TEA é um conjunto abrangente de


distúrbios complexos do neurodesenvolvimento, que são: o Autismo; a Síndrome
de Asperger; a Síndrome de Rett; o Transtorno Infantil Desintegrativo; e o
Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especificação (TGDSOE). O
Autismo é caracterizado por indivíduos com pouco interesse na convivência em
sociedade, com problemas de socialização e dificuldades de comunicar-se com
eficácia. Por outro lado, a Síndrome de Asperger é caracterizada por indivíduos
que possuem o interesse na convivência em sociedade, e que possuem
comunicação constituída de fala extensa e palavras “complicadas” (SOUZA e
ALENCAR, 2016).

A nomenclatura de Síndrome de Asperger foi tirada do DSM–V (Manual


Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e ela foi agrupada aos
transtornos do espectro autista de grau leve, classificada como Desordem do
Espectro Autista de Nível 1, sem a presença de défices cognitivos ou linguísticos.
Há 3 níveis de grau no autismo, sendo 1 o mais leve, 2 o nível moderado e 3 o
grau mais grave (PEREIRA, RIESGO e WAGNER, 2008).

Testes Para Autismo e Funcionamento dos Níveis do Autismo


De acordo com Wilson (2012), para diagnosticar alguém com autismo, o
especialista precisa fazer alguns testes. Estes testes incluem exames físicos,
entrevistas, questionários, observações e testes de sangue e, por vezes, podem
ser realizados por vários especialistas ao longo de várias visitas. Depois que o
profissional determina os resultados dos testes, ele ou ela vai se encontrar com
os pais para discutir se a criança cumpre os critérios de diagnóstico para o
autismo.

Alguns dos testes para ver se a criança tem autismo são: teste auditivo,
exame neurológico, ressonância magnética, eletroencefalografia, testes
genéticos para detectar anomalias cromossômicas, exames para verificar os
níveis de chumbo. Para Wilson (2012), a inteligência de cada autista pode variar,
visto que alguns têm inteligência acima da média e habilidades verbais e outros
têm alterações cognitivas e uma completa falta de linguagem falada.

O nível de funcionamento pode por muitas vezes mudar com o tratamento,


então a pessoa diagnosticada com autismo de baixo funcionamento pode,
eventualmente, chegar a um nível mais elevado. Segundo Wilson (2012), os
especialistas usam o Gilliam Autism Rating Scale ou Childhood Autism Rating
Scale para determinar o nível de funcionamento da criança com autismo. As
crianças com autismo podem ter um desses níveis de funcionamento: alto
funcionamento, que é caracterizado por QI médio ou acima da média, porém
com o comportamento social incomum e os padrões de comportamentos
repetitivos ou restritivo; autismo moderado que é caracterizado por QI normal ou
quase normal, com alguns desafios de linguagem e desafios emocionais; baixo
funcionamento, quando o discurso é limitado ou completamente ausente,
quando as habilidades sociais são muito limitadas, quando os desafios
emocionais são extremos.

A Ludoterapia e a Sua Importância


O termo “ludoterapia” surgiu no cenário das psicoterapias com a
publicação do livro de Virginia Axline intitulado Play therapy. Depois disso,
disseminou-se o uso dessa expressão para designar todo e qualquer trabalho
com crianças em função do uso de brinquedos como recurso facilitador da
expressão infantil no espaço terapêutico (AGUIAR, 2014).

A definição da ludoterapia pode ser dada como: uma relação interpessoal


dinâmica entre a criança e um terapeuta treinado em ludoterapia que providencia
a esta um conjunto variado de brinquedos e uma relação terapêutica segura de
forma que possa expressar e explorar plenamente o seu self (sentimentos,
pensamentos, experiências, comportamentos) através do seu meio natural de
comunicação: o brincar (LANDRETH, 2002, p. 16 apud HOMEM, 2009, p. 21).

Para Almeida (1998), a ludoterapia favorece as crianças a manifestar e


indicar sentimentos, sensações e preocupações em reação às circunstâncias da
vida, utilizando objetos conhecidos para assimilar situações de stress ou novas
aprendizagens que não conseguem articular ainda. De acordo com Martelli et.
al. (2000), a ludoterapia é um processo facilitador as demais terapias,
especialmente de crianças autistas, devido algumas crianças não possuírem
uma comunicação verbal adequada.

Sendo assim, é por meio do brincar, o autista expressa seu entendimento


do mundo e, por não possuir as repressões que geralmente temos, libera todo
seu sentimento ao manipular objetos. Porém, o brincar pressupõe regra e ordem
e a repetição que existe na brincadeira. Assim a criança pode se reencontrar,
não apenas com os objetos e as situações das brincadeiras, como também
consigo próprio, reafirmando sua pessoa, fortalecendo-se (MARTELLI et. al.,
2000, p. 23).

A Ludoterapia e a Terapia pelo Brincar são distintas, visto que a Terapia


pelo Brincar é um instrumento que pode ser usada por professores, enfermeiros
e/ou até mesmo pelos pais das crianças para aliviar uma condição leve. É
necessária uma compreensão dos princípios básicos da psicologia da criança e
um treinamento baseado no “kit de ferramentas” da terapia do brincar. Uma
relação terapêutica pode ou não ser formada, e se for o caso, a supervisão
clínica é necessária (PLAY THERAPY AFRICA, 2017).

Já a Ludoterapia é uma modalidade terapêutica em que será necessário


ter muito mais treinamento, compreensão das teorias que tratam dos fenômenos
psicológicos, trabalhos baseados no código de ética e supervisão clínica para
formar uma relação terapêutica segura. Além disso, é importante que o terapeuta
tenha uma variedade de técnicas para trabalhar com uma ampla gama de
condições e combinações delas (PLAY THERAPY AFRICA, 2017). O brincar é
uma tarefa em que o autista se impõe e precisa ter algum grau de dificuldade
para ser atraente para ele. É um trabalho que exige esforço e que tem um
objetivo final a ser atingido. Ao terapeuta cabe a interpretação da situação. A
troca das informações com os demais terapeutas do indivíduo autista em muito
colaborará para um melhor entendimento de como ele percebe a si próprio e o
meio à sua volta (MARTELLI et. al., 2000).

De acordo com Friedmann (1998) as capacidades intelectuais e


cognitivas podem ser desenvolvidas através das brincadeiras quando este
permite que a criança apure a associação causa-efeito que dificilmente pode ser
feita na vida real devido ao perigo de acidentes.

Nas brincadeiras a criança pode experimentar à vontade e testar


inúmeras possibilidades de ação, como as ações interferem no resultado das
brincadeiras, é importante que a criança projete estratégias para vencer, quando
a brincadeira é individual a criança pode testar as suas próprias concepções e
relacioná-las com os resultados, mas quando a brincadeira é coletiva, é
necessário um planejamento que aproveite as possibilidades e diminua as
limitações do grupo, assim além de desenvolver a capacidade de planejar, a
criança também aprende a se relacionar com os outros e lidar com os conflitos
sociais que surgem no decorrer da brincadeira. Essas habilidades serão
fundamentais e utilizadas ao longo da vida.

Ludoterapia e o Seu Funcionamento

Para Homem (2009), a brincadeira é conduzida pela criança, com ela


escolhendo o que quer e como quer brincar, e assim vai apreendendo a
exteriorizar as suas emoções e sentimentos. No entanto, o desenvolvimento da
liberdade de expressão na criança poderá ser algo que demore um pouco. A
ludoterapia é um processo lento (BRANCO, 2001).

De acordo com Branco (2001), o ambiente para se fazer a ludoterapia


precisa ter uma sala confortável, clara, espaçosa e à prova de som. Nela também
deve ter materiais variados como pincel, cola, papel, tesoura, carrinhos,
bonecas, lápis colorido, mobílias de casinha, família de bonecos, revólver,
joguinhos para diversas faixas etárias, mesinha com cadeiras. Axline (1972),
afirma que os materiais usados na ludoterapia devem ser guardados em lugares
à vista e de fácil acesso as crianças, de maneira que elas possam ter a liberdade
de optar por aquele que mais querem.

A criança precisa poder escolhê-los como seus meios de expressão. Isso


dará um resultado contrário à quando o terapeuta dispõe de materiais
selecionados, na mesa em frente à criança e assenta-se, quietamente,
esperando por ela numa conduta não-diretiva. Alguns terapeutas preferem usar
um mínimo de materiais e têm observado interessantes resultados com objetos
selecionados seja a própria criança que os escolha na ludoterapia (AXLINE,
1972, p. 53). Segundo Queluz (1984), o ambiente precisa ser favorável ao
avanço e, para isso, é preciso que o facilitador possa se ligar por inteiro à criança
sendo indispensável garantir-lhe condições físicas ideais, inserindo neste meio
material interessante, rico, real e crianças se organizando para tornarem-se
pessoas.

Metodologia
A presente pesquisa é classificada como quantitativa e descritiva. Foi
utilizada a Revisão Sistemática de Literatura em conjunto com a estatística
descritiva. A Revisão Sistemática de Literatura consiste em uma pesquisa que
utiliza como fonte de dados a literatura sobre determinado tema. De acordo com
Sampaio e Mancini (2007, p. 84), “esse tipo de investigação disponibiliza um
resumo das evidências relacionadas a uma estratégia de intervenção específica,
mediante a aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca,
apreciação crítica e síntese da informação selecionada”.

A realização de uma Revisão Sistemática de Literatura envolve algumas


etapas que constituem o processo de elaboração de um estudo de revisão
sistemática, sendo elas demonstradas na Figura 1.
Já o método estatístico foi utilizado em conjunto com a Revisão
Sistemática de Literatura para quantificar as conclusões num campo de pesquisa
específico.

A escolha desses métodos deu-se devido a estes permitirem a busca, a


avaliação crítica e a síntese das evidências disponíveis sobre a ludoterapia no
tratamento do autismo. Os dados foram retirados da base de dados PsycINFO
sobre o tratamento de crianças com autismo com e sem o uso da ludoterapia.
Assim, foi possível apurar o que foi pesquisado até o momento sobre a
relevância da ludoterapia no tratamento do autismo de forma a comparar
resultados dos tratamentos que foram utilizados até o momento.
Resultados
Inicialmente foram encontrados 1351 textos com a palavra-chave Play
Therapy (Ludoterapia) e 861 com Autism (Autismo). Ao fazer o cruzamento
dessas duas palavras-chaves encontrou-se 176 textos. Desses 176 textos, 46
(28%) eram boletins de notícias (Newsletter), 19 (11%) eram artigo de jornal, 16
(10%) eram relatórios e 14 (8%) eram artigos de revista, conforme demonstra a
Figura 2.

Com relação à quantidade de textos publicados no decorrer dos anos tem-


se que a grande maioria ocorreu entre os anos de 2011 a 2016, com um pico em
2014, onde foram publicados 14 textos com as palavras-chaves pesquisadas.

O critério de seleção para a leitura dos textos foi o tipo de documento e


que tratassem do autismo. Sendo assim, foram analisados apenas aqueles
documentos que se classificaram como Journal Article (artigos de jornal) e cujo
tópico principal do texto fosse o Autismo, tendo, portanto, um quantitativo de 4
artigos.

Antes de iniciar a análise dos artigos selecionados, vale mencionar um


periódico relevante em Ludoterapia, o International Journal of Play Therapy. Esta
revista é uma publicação da Association for Play Therapy e é dedicado a publicar
e divulgar relatórios de pesquisas originais, artigos teóricos e revisões
substantivas de tópicos relacionados à ludoterapia. Além deste periódico, entre
os 176 textos destaca-se também o livro Play Therapy in Middle Childhood, que
trata da ludoterapia em crianças entre 6 a 12 anos, conhecido como infância
média. O livro apresenta vários tipos de intervenções de jogo que podem ser
utilizados com crianças em idade escolar para abordar distúrbios de
internalização, distúrbios de externalização, déficits relacionais e transtorno do
espectro do autismo.

Os autores explicam, ainda a teoria e a pesquisa para cada intervenção


apresentada, além de fornecem exemplos ilustrativos. Com relação aos 4 artigos
selecionados para análise, tem-se que em dois deles foram utilizadas revisões
bibliográficas como método de análise e nos dois últimos artigos publicados,
foram realizadas pesquisas experimentais.

O Quadro 1 apresenta os artigos selecionados indicando o ano de publicação e


autores. Os principais resultados são apresentados logo após o referido quadro.

O primeiro artigo (FILIPEK et. al., 2000) faz buscas bibliográficas


utilizando os bancos de dados da MEDLINE e PsychINFO de forma a identificar
evidências e fornecer recomendações para a identificação de crianças com
autismo. Este artigo traz recomendações para triagem e diagnóstico de autismo,
mas não aborda o uso da ludoterapia para estas crianças. No artigo de Simeone-
Russell (2001), a autora descreve uma forma de se utilizar a Ludoterapia em
crianças com espectro autista.

A pesquisa faz um comparativo da eficácia da ludoterapia em grupo (em


especial aquelas que são incorporadas em uma sala de aula de jardim de
infância) com as abordagens terapêuticas alternativas. A Ludoterapia possui
quatro dimensões: estrutura, engajamento, estimulo e desafio. Cada uma das
atividades de brincar se enquadram em uma dessas dimensões. Sendo assim,
atividades de estrutura buscam ensinar à criança que o mundo é um lugar
seguro, seguro e previsível, melhorando os sentimentos de segurança geral. Já
as atividades de engajamento têm por objetivo facilitar as interações positivas da
criança com autismo com o professor, o profissional de saúde mental e colegas.

As atividades de estimulo procuram causar à criança uma experiência de


aceitação e valor. Por fim, as atividades de desafio, que proporcionam às
crianças com autismo a capacidade de explorar coisas novas e ter sucesso
nessas tentativas.

A autora conclui que a ludoterapia, principalmente se for utilizada em


grupo, é uma forma eficaz de terapia que pode ser integrada nas salas de aula,
utilizando recursos que já estão no local, como o profissional de saúde mental e
o professor. O artigo de Koegel et. al. (2013) tem por objetivo explorar o
engajamento social atípico em bebês encaminhados por questões sociais. O
estudo foi conduzido com três bebês com menos de 12 meses de idade que
foram encaminhados ao Centro de Autismo Universitário da Universidade da
Califórnia. Inicialmente foi avaliado o nível e estabilidade dos comportamentos
sociais das crianças.

A etapa de intervenção foi realizada até que as crianças apresentassem


pelo menos 3 sessões com alto impacto. Foi empregado o Tratamento de
Resposta Pivotal (PRT) modificado para avaliar a viabilidade de aumentar
rapidamente a motivação infantil para se envolver na interação social. Os autores
concluíram que o engajamento social pode ser rapidamente aumentado e
estabilizado em níveis elevados através do uso de um programa de educação
dos pais utilizando técnicas motivacionais. Concluíram ainda que o PRT para
bebês aumenta o efeito positivo, a resposta ao nome e o contato visual nas
crianças com autismo, de forma a melhorar seu desenvolvimento social. A
intervenção produziu melhorias imediatas em relação à resposta ao nome. Vale
mencionar que a falta de resposta ao nome é um sintoma notável do autismo. O
último artigo analisado foi o trabalho de Salter, Beamish e Davies (2016), sendo
este o mais recente entre os quatro.

O estudo foi conduzido na Austrália e explorou os efeitos da ludoterapia


centrada na criança (Child-Centered Play Therapy - CCPT) sobre o crescimento
social e emocional de 3 crianças pequenas com autismo com idades entre 4 e 6
anos. De acordo com os autores, todas as crianças participaram de 10 sessões
semanais de terapia individual, que se concentraram em objetivos específicos
estabelecidos pelos pais.

Foram utilizados o Método de avaliação do comportamento adaptativo


(ABAS®-II) e checklist do desenvolvimento do comportamento (DBC-P) como
instrumentos para medir crescimento social e emocional pré e pós-terapia. Os
resultados indicaram que houve melhorias para todas as crianças em diversas
áreas de funcionamento social e emocional, isto é, o CCPT foi uma intervenção
eficaz para esta pequena amostra de crianças com autismo.

Conclusão
Inicialmente foram pesquisados artigos que abordassem a ludoterapia em
crianças com autismo em periódicos brasileiros, mas especificamente, na
Scientific Electronic Library Online (SciELO). No entanto, percebeu-se a carência
de estudos a nível nacional na área mencionada. Sendo assim, partiu-se para
outra biblioteca eletrônica: PsycINFO.

Percebeu-se que a nível internacional há estudos que relacionam a


ludoterapia ao tratamento de crianças com autismo, no entanto, ainda são
escassos os estudos na área, destacam-se aqui os estudos de Koegel et. al.
(2013) e de Salter, Beamish e Davies (2016). Há de se mencionar, ainda, o
periódico International Journal of Play Therapy, que publica artigos relacionados
à ludoterapia, e o livro Play Therapy in Middle Childhood que também aborda
esse tipo de terapia e menciona o uso desta em crianças com autismo.
Importante notar que dois dos artigos analisados neste estudo foram publicados
no periódico citado acima.

Diante dos resultados encontrados nos artigos analisados e da escassez


de estudos que busquem verificar a eficácia da ludoterapia em crianças com
autismo, tanto a nível internacional quanto e, principalmente, a nível nacional,
recomenda-se para futuras pesquisas o avanço de estudos na referia área.

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