Você está na página 1de 11

Para/Sobre o Luto das Crianças e Adolescentes

Sandra Rodrigues, Psicóloga e Mediadora de Conflitos

Ajudar as Crianças a Combater a Dor

Quando Alguém Que Ama Morre

Os adultos sofrem. Também as crianças. Tanto para o adulto como para a criança,
a experiência do luto significa “sentir”, não apenas “compreender”. Qualquer
pessoa com idade suficiente para amar tem idade suficiente para sofrer. Mesmo
antes das crianças falarem, elas sofrem quando alguém que amam morre. E estes
sentimentos sobre a morte tornam-se parte das suas vidas para sempre.

Os adultos atenciosos, sejam os pais, familiares ou amigos, podem ajudar as


crianças durante este período. Se os adultos são pessoas espontâneas, honestas e
amorosas, a experiência de perda de alguém que se ama pode ser uma
possibilidade para as crianças aprenderem sobre os sentimentos de alegria e dor
que advém do amor profundo pelos outros.

Falar da Morte com Crianças

Os adultos têm dificuldades em enfrentar a morte, por vezes. Assim, iniciar


discussões abertas sobre a morte com crianças pode ser difícil. Ainda existem
adultos que estão disponíveis para confrontar, explorar e aprender sobre os seus
próprios medos pessoais da morte e podem ajudar as crianças quando alguém de
quem elas gostavam morre. Como resultado, as crianças podem formar “uma
atitude saudável perante as questões da vida e da morte”.

Quando a morte acontece, as crianças necessitam de ser cercadas de sentimentos


calorosos, de aceitação e compreensão. Adultos atenciosos podem proporcionar
este apoio.

O Papel de Um Adulto Atencioso

A maneira como os adultos reagem à morte de alguém que amam tem grande
efeito na maneira como as crianças reagem à morte. Às vezes, os adultos não
querem falar sobre a morte, tentando proteger as crianças, tentando poupar-lhes a
dor e a tristeza.

Contudo, a realidade é muito simples: as crianças sofrem da mesma maneira.

Os adultos que estão dispostos a falar abertamente sobre a morte com as crianças
ajudam as crianças a entenderem que o luto é um sentimento natural quando
alguém que amamos morre. As crianças precisam dos adultos para terem a certeza
de que é correcto estar triste e chorar, e que a dor que estão a sentir não durará
para sempre.

Quando ignora, as crianças podem sofrer mais por se sentirem isoladas do que pela
ocorrência da morte em si mesma. Pior ainda, sentem-se sozinhas com essa dor.
Encoraje Perguntas Sobre a Morte

Quando alguém amado morre, os adultos devem ser abertos, sinceros e amorosos.
Pacientemente, devem responder às perguntas sobre a morte com uma linguagem
que as crianças entendam.

Os adultos não devem preocupar-se em ter todas as respostas. As respostas não


são tão importantes como o facto responderem às perguntas demonstrando que se
preocupam.

As crianças podem repetir as mesmas perguntas sobre a morte vezes sem conta. É
natural. Repetir perguntas e receber respostas ajuda-os a compreenderem e
ajustarem a perda de alguém amado.

Estabeleça Uma Relação de Ajuda

Responda às crianças de forma calorosa e sensível. Esteja atento ao tom de voz;


mantenha o contacto visual quando fala sobre a morte. O que é comunicado sem
palavras tem tanto significado para as crianças que o que é dito de facto.

Demonstre às crianças que os sentimentos delas serão aceites. Apesar de alguns


dos seus comportamentos possa parecer estranho, os adultos precisam
compreender as crianças durante este momento de stress, sem julgamentos ou
críticas ao seu comportamento.

As crianças precisam sentir que os adultos querem entender o ponto de vista deles.
Este compromisso para uma criança quer dizer, “És muito valioso; os teus
sentimentos são respeitados”.

Compartilhe Convicções Religiosas com a Criança

Frequentemente, os adultos desejam saber se devem compartilhar as suas crenças


religiosas sobre a morte com as crianças. É um assunto complexo; não existe
nenhuma directriz de regras sobre este assunto.

Lembre-se que os adultos só devem compartilhar com as crianças os conceitos em


que acreditam verdadeiramente. Qualquer explicação religiosa sobre a morte deve
ser descrita em situações concretas; as crianças têm dificuldade em perceberem
conceitos abstractos. A certeza teóloga da informação é, neste momento, menos
importante que o facto do adulto estar a comunicar com amor.

Permita Que as Crianças Participem

Crie uma atmosfera que transmita às crianças que os seus pensamentos, medos e
desejos serão reconhecidos quando alguém amado morre. Este reconhecimento
inclui tudo – até o planear dos arranjos para o funeral.

Apesar de as crianças não compreenderem completamente as cerimónias da morte,


o facto de estarem envolvidos no planeamento do funeral estabelece um
sentimento de conforto e a compreensão de que a vida acabou para alguém que
amavam.

Já que o funeral de alguém amado é um acontecimento importante, as crianças


devem ter a mesma oportunidade de prestar homenagem como qualquer outro
membro da família. Deve ser “permitido” assistir, mas não “forçado”. Explique o
objectivo do funeral: como um momento para homenagear a pessoa que faleceu;
como um momento para ajudarem-se, confortarem-se e apoiarem-se uns aos
outros e um momento para certificarem-se que a vida continua.

Ver o corpo de alguém amado que faleceu também pode ser uma experiência
positiva. Dá uma oportunidade para dizer “Adeus” e ajuda as crianças a aceitarem a
realidade da morte. Tal como na permissão de assistir ao funeral, porém, não
devem ser forçados a ver o corpo.

Crescer com o Luto

O luto é complexo. Varia de criança para criança. Os adultos devem ser atenciosos
e comunicar às crianças que este sentimento não deve ser escondido ou sentido
como vergonhoso. Pelo contrário, a dor é uma expressão natural do amor que se
sente por uma pessoa que faleceu.

Como um adulto atencioso, o desafio é claro: as crianças não escolher entre sofrer
ou não sofrer, mas os adultos podem escolher – ajudar ou não as crianças a
lutarem contra a tristeza.

Com carinho e compreensão, os adultos podem guiar as crianças durante estes


momentos vulneráveis e ajudar a torná-la numa experiência valiosa para o seu
crescimento e desenvolvimento pessoal.

Sugestão de Directrizes Sobre as Crianças e o Luto

Seja um bom observador. Veja como se comporta cada criança. Não apresse
explicações. Normalmente, é melhor questionar as perguntas do que responder
rapidamente.

Quando alguém amado morre, não espere reacções óbvias e imediatas das
crianças. Seja paciente e esteja disponível.

As crianças também fazem parte da família. E a confiança vem através da presença


de pessoas que amamos. As crianças sentem segurança no cuidado com abraços e
ternura.

Ao explicar a morte de alguém amado a uma criança, utilize uma linguagem


simples e directa.

Seja honesto. Expresse os seus próprios sentimentos em relação à morte. Assim,


as crianças terão um modelo para expressar os seus próprios sentimentos. Chorar
também é aceite.

Permita às crianças expressarem os sentimentos todos. Raiva, culpa, desespero e


protestar são reacções naturais à morte de alguém amado.

Não fale apenas com as crianças, escute-as também.

Não existe nenhuma fórmula ou procedimento tipo para todas as crianças, durante
o momento da morte ou após os meses que se seguem. Seja paciente, flexível e
ajuste-se às necessidades individuais.

Os adultos devem conhecer os seus próprios sentimentos sobre a morte. Enquanto


os adultos não explorarem conscientemente as suas próprias preocupações,
dúvidas e medos sobre a morte, é difícil apoiarem as crianças quando alguém
amado faleceu.

Ajudar as Crianças no Funeral

O Adulto Com o Papel de Modelo e Ajuda

Uma criança com quem se preocupa está de luto. Se você, também, amava a
pessoa que faleceu, tem de encarar uma tarefa difícil e critica de se ajudar a si
próprio e de ajudar a criança a recuperar. Durante os próximos meses terá o papel
de modelo e de ajudar a criança a recuperar.

Uma das primeiras oportunidades para si e para a criança demonstrarem a vossa


dor é no funeral. Este artigo irá ajudar a compreender a importância do funeral não
apenas para si e outros adultos que sofrem, mas também para as crianças.
Também oferece sugestões para guiar a criança por este importante ritual de
maneira saudável, de um modo saudável de viver.

O Funeral Para Adultos e Crianças

A maioria dos rituais da nossa sociedade foca-se nas crianças. O que seriam os
aniversários ou o Natal sem crianças? Infelizmente, o ritual funerário, cujo
objectivo é ajudar as pessoas despojadas a encontrar algum conforto nos outros,
não é visto como um ritual para crianças. As crianças não são incluídas no funeral
porque os adultos querem protegê-las. Argumentam: o funeral é doloroso por isso
vou protegê-las dessa dor.

É verdade, os funerais são muito dolorosos, mas as crianças têm tanto direito de
participar neles como os adultos. Os funerais são importantes para sobreviventes
de qualquer idade porque:
• Ajudam a reconhecer a morte de alguém
• Promove uma estrutura de apoio e ajuda durante o período inicial do luto
• Promove um período de tempo para homenagear, lembrar e confirmar a
vida da pessoa que faleceu
• Permite a “procura de significado” no contexto religioso ou filosófico de
cada pessoa

Explicar o Que É...

A não ser que a criança já tenha ido a outro funeral antes, não sabem o que podem
esperar de um funeral. Pode ajudar explicando o que vai acontecer antes, durante e
depois da cerimónia. Deixe que as perguntas e natural curiosidade das crianças
guie a discussão.

Dê tantos detalhes quanto o interesse da criança em ouvir. Pode explicar como


estará a sala, quem estará presente e quanto tempo durará, por exemplo. Quando
possível, leve a criança antes do funeral à agencia funerária. Isto permite-lhes mais
liberdade para reagir e falar abertamente dos seus sentimentos e preocupações.

Deixe a criança saber, com antecedência, se o corpo estará à vista durante essa
visita ou no próprio funeral. Se o corpo for cremado, explique o que é a cremação e
o que acontecerá às cinzas. Certifique-se de que a criança percebe que a pessoa já
estava morta, que não sentiu dor ou qualquer outra coisa durante a cremação.
Também se deve ajudar as crianças a perceberem que no funeral irão ver as
pessoas expressarem muitas emoções. Irão ver pessoas a chorar, carrancudas e
até risadas. Se os adultos expressarem livremente as suas emoções, as crianças
sentir-se-ão mais livres para expressarem os seus próprios sentimentos de perda.

E os Porquê’s...

Ajude as crianças a compreenderem porque temos os funerais. As crianças


precisam que o funeral é um momento de tristeza porque alguém morreu, um
momento para homenagear a pessoa que faleceu, um momento para ajudar a
confortar e apoiar o outro e um momento para confirmar a vida da pessoa falecida.

Uma razão por que as crianças parecem aceitar facilmente o funeral, é por ser um
momento para se dizer adeus. E dizer adeus é reconhecer que a pessoa que
amamos foi embora e não volta mais. Se o corpo irá estar à vista, diga à criança
que ver o corpo ajuda as pessoas a dizerem adeus e que se quiser pode tocar na
pessoa que amou uma última vez.

Também é um bom momento para explicar qual o significado espiritual do funeral


para si. Pode ser difícil, até para os adultos é um momento complicado para
articular as suas convicções acerca da vida e da morte. Lembre-se: as crianças têm
dificuldade para compreenderem coisas abstractas, por isso é melhor utilizar coisas
concretas para explicar conceitos religiosos.

Inclua as Crianças no Ritual

Quando achar apropriado, pode convidar as crianças não apenas a assistir ao


funeral mas também a fazer parte dele. As crianças apreciam sentir que os
sentimentos deles “interessa” e que podem partilhar a sua recordação preferida ou
ler um poema especial no funeral. As crianças mais tímidas podem querer acender
uma vela ou colocando qualquer especial dentro da urna (uma recordação ou uma
fotografia, por exemplo). E muitas crianças sentem-se menos abandonadas quando
são convidadas a ajudar a planear o serviço funerário.

Encoraje, Mas Não Force

As crianças devem ser convidadas e assistir ou a participar nos funerais, mas nunca
devem ser forçadas. Quando são afectuosamente guiados no processo a maioria
das crianças quer assistir ao funeral. Ofereça opções à criança: “Podes ir hoje com
todos ou se quiseres posso levar-te hoje de manha cedo para dizeres adeus em
privado”.

Compreenda e Aceite o Modo da Criança Sofrer

Não diga À criança o que ele deve ou não sentir, principalmente durante o funeral.
Lembre-se que frequentemente as crianças precisam aceitar o sua dor em fases, e
esses sinais externos podem ir e vir. Não é nada invulgar, por exemplo, as crianças
quererem brigar com os primos durante a cerimónia ou jogarem jogos logo após o
funeral. Em vez de castigar o comportamento deles, deve respeitar a necessidade
da criança ser criança durante este período difícil. Se o comportamento da criança
estiver a perturbar os outros, explique-lhe que existem comportamento aceitáveis e
comportamento inaceitáveis num funeral e que espera que ela (ou ele) tenha em
consideração os sentimentos dos outros que também sofrem – incluindo você.
Esteja Presente

Estar presente (antes, durante e depois do funeral) é a coisa mais importante que
pode fazer para ajudar a criança. Quando estamos a sofrer, todos precisamos do
apoio dos outros. Mas, principalmente, as crianças que sofrem precisam saber que
não estão sozinhas.

A proximidade física e o conforto transmitem segurança à criança durante os


tempos de angústia. O que diz pode não ser tão importante como um toque no
ombro, uma mão nas costas ou um ombro para chorar.

Lembre-se de ser um bom observador do comportamento das crianças. Seja


paciente e esteja disponível assim como permita aprender com as crianças o que o
funeral significa para elas.

Funerais: Uma Palavra Final

Uma autor anónimo escreveu “Quando as palavras são inadequadas, crie um


ritual”. Tanto para as crianças como para os adultos a morte deixa-nos, de maneira
semelhante, estupefactos. O funeral, um ritual conhecido desde o inicio dos
tempos, existe para nos ajudar lembrar a vida que já foi vivida e para nos
apoiarmo-nos uns aos outros. Como adultos, devemos ter em atenção a explicação
às nossas crianças do valor que tem para todos a morte daquela pessoa amada.

A Linguagem dos Funerais

Lembre-se de usar palavras simples e concretas ao falar com a criança sobre a


morte. Seguem-se algumas sugestões para explicar alguns termos funerários:

Cinzas
O que resta do corpo morto depois da cremação. Parecem-se com as cinzas de um
fogo.

Enterro
Colocar o corpo morto (que está dentro de uma urna) debaixo da terra.

Urna (também denominado por “caixão”)


Uma caixa de madeira especial para enterrar um corpo morto.

Cemitério
Um lugar onde são enterrados muitos corpos mortos.

Morto (também denominado por “corpo morto” ou “cadáver”)


Quando o corpo de uma pessoa deixa de trabalhar. Não vê, não ouve, não sente,
não respira, não come, etc..

Funeral
Um momento em que os amigos e a família se juntam para dizerem adeus e
recordarem os bons momentos que passaram junto à pessoa que faleceu.

Casa Mortuária
Local onde se colocam os mortos até à cerimónia do funeral.
Sepultura
O buraco no chão do cemitério onde o corpo é enterrado.

Carro Funerário
Um carro especial que leva o corpo morto dentro do caixão para a sepultura no
cemitério.

Obituário
Um artigo pequeno de papel, onde se escreve coisas sobre a pessoa que faleceu.

Agentes Funerários
Pessoas que ajudam a levarem o caixão no funeral.

Velório
O período de tempo em que as pessoas podem ver o corpo da pessoa que morreu.

Ajudar Adolescentes a Combater a Sua Dor

Os Adolescentes Também Sofrem

Todos os anos milhares de adolescentes passam pela experiência da morte de


alguém que amavam. Quando um pai, irmão, amigo ou familiar morre, os
adolescentes sentem a perda desse alguém que ajudou a moldar as suas frágeis
auto-identidade de forma opressiva. E estes sentimentos sobre a morte passam a
fazer parte da vida deles para sempre.

Adultos atenciosos, sejam pais, professores, conselheiros ou amigos, podem ajudar


os adolescentes durante este período. Se os adultos são abertos, honestos e
carinhosos, a experiência da perda de alguém amado pode ser uma possibilidade
para estes jovens aprenderem sobre a alegria e dor que pode vir pelo facto de se
amar e querer bem aos outros.

A Muitos Adolescentes É-lhes Dito Para “Serem Fortes”

É triste dizer, muitos adultos a quem falta entenderem as suas próprias


experiências desencorajam os adolescentes a partilharem o seu sofrimento.
Adolescentes despojados demonstram todos sinais de quem está a lutar com
sentimentos complexos, ainda assim muitas vezes são pressionados para actuar
melhor do que realmente são capazes.

Quando um pai morre, é dito a muitos adolescentes para “serem fortes” e “para
continuar”. Eles podem não saber se eles próprios sobrevivem, quanto mais dar
apoio a outra pessoa. Obviamente, este tipo de conflitos impede o “trabalho do
luto”.

Os Anos da Adolescência Podem Ser Naturalmente Difíceis

Os adolescentes já não são crianças, mas também não são adultos. Com excepção
da infância, nenhum período do desenvolvimento possui tantas mudanças como a
adolescência. Ao deixar a segurança da infância, o adolescente inicia o processo de
separação dos pais. A morte de um pai ou irmão, pode então ser uma experiência
particularmente devastadora durante este período, já em si, difícil.
Ao mesmo tempo que o adolescente é confrontado com a morte de alguém que
ama, também enfrenta pressões fisiológicas, psicológicas e académicas. Enquanto
adolescentes podem começar a parecer “homens” ou “mulheres”, mas ainda
precisam de um apoio consistente e compassivo no “processo de luto”, porque
desenvolvimento físico não implica desenvolvimento da maturidade emocional.

Os Adolescentes Passam Frequentemente por Mortes Súbitas

A experiência do sofrimento que os adolescentes sentem surge muitas vezes de


maneira inesperada. Um pai pode falecer de um súbito ataque de coração, um
irmão ou irmã pode morrer num acidente de viação, ou um amigo pode suicidar-se.
A verdadeira natureza destas mortes muitas vezes resulta num prolongado e
elevado sentimento de irrealismo.

Sentindo-se ofuscados ou entorpecidos quando alguém amado morre é


frequentemente a experiência de quem passa por este sofrimento cedo. Este
entorpecimento tem uma função valiosa: dá tempo às emoções para aceitarem o
que a cabeça lhes transmite. Este sentimento ajuda a separar a realidade da morte
até estarem preparados para tolerarem o que não querem acreditar.

O Apoio pode Faltar

Muitas pessoas assumem que os adolescentes têm muitos amigos encorajadores e


que a família está sempre disponível para eles. Na realidade, isto pode não ser
verdade. A falta de apoio disponível relaciona-se frequentemente com as
expectativas sociais colocadas na adolescência.

Normalmente, espera-se que os adolescentes sejam “crescidos” a apoiem os outros


membros da família, principalmente um pai ou mãe sobrevivente e/ou os irmãos e
irmãs mais jovens. Já foi dito a muitos adolescentes, “Agora, terás de cuidar da tua
família”. Quando um adolescente sente a responsabilidade de “cuidar da sua
família”, ele ou ela não tem a oportunidade – ou a permissão – para sofrer.

Às vezes, pensamos que os adolescentes encontram conforto com outros


adolescentes. Mas quando se fala de morte, isto pode não ser verdade. Muitos
adolescentes despojados são cumprimentados com indiferença pelos outros
adolescentes. Parece que a não ser que também os amigos tenham também
passado pela experiência do luto, eles projectam os seus próprios sentimentos de
desamparo ignorando completamente o assunto da perda.

Como nos esforçamos para ajudar os adolescentes despojados, devíamos


lembrarmo-nos sempre que muitos deles vivem em ambientes que não lhes
garantem apoio emocional. E ao virarem-se para os amigos e a família ouvirem
“”Para seguirem com a vida”.

Podem Existir Relações Conflituosas

Os adolescentes esforçam-se para alcançarem a sua independência, por isso


frequentemente possuem relações conflituosas com os outros membros da família.
Um normal, porém difícil modo dos adolescentes se separem dos pais é passando
por um período de desvalorização.

Se um pai morre enquanto o adolescente está a passar pela fase de repelir o pai
física e emocionalmente, frequentemente surge um sentimento de culpa e de
“trabalho inacabado”. No entanto a necessidade de criar esta distância é normal,
mas podemos facilmente verificar como isto vai complicar todo o processo de luto.

Sabemos que a maioria dos adolescentes passa momentos difíceis com os pais e
irmãos. Os conflitos resultam do processo normal de formação de identidade
individual. Morte, combinada com a turbulência das relações entre o adolescente e
pais ou irmãos, pode criar uma necessidade real para “falar com alguém de fora”
sobre a relação dele (adolescente) com a pessoa que faleceu.

Sinais de Que Um Adolescente Precisa de Ajuda Extra

Como já se disse, existem muitas razões para que uma recuperação saudável seja
especialmente difícil para os adolescentes. Alguns adolescentes em luto podem
comportar-se de maneira inapropriada ou amedrontada. Esteja atento a:

• Sintomas de depressão crónica, dificuldades em dormir, inquietude e


abaixa auto-estima
• Insucesso escolar ou indiferença para actividades relacionadas com a
escola
• Deterioração das relações com a família e os amigos
• Comportamentos de risco como abuso de drogas e álcool, lutas e
experiências sexuais
• Negação da dor enquanto age ao mesmo tempo como forte e com
maturidade

Para ajudar um adolescente que está a passar por um período particularmente


difícil com a sua perda, explore bem os serviços de ajuda na sua comunidade. Os
conselheiros escolares, os grupos da igreja e os terapeutas privados são os
recursos mais apropriados para alguns jovens, enquanto outros podem apenas
precisar um pouco mais de tempo e atenção de amigos atenciosos que gostem
deles. O mais importante é que ajude o adolescente que sofre a encontrar
segurança e a criar saídas emocionais neste momento difícil.

O Papel do Adulto Atencioso

O modo como os adultos reagem à morte de alguém amado produz efeito no modo
de reagir dos adolescentes. Às vezes, os adultos não querem falar da morte.,
pensando que ao fazerem isso poupam os mais jovens da dor e tristeza. Contudo, a
realidade é muito simples: os adolescentes sofrem de qualquer maneira.

Frequentemente, os adolescentes precisam de adultos atenciosos como terem a


certeza de que é correcto estarem tristes e sentir muitas emoções quando alguém
que amavam morreu. Normalmente, também precisam de ajuda para saberem que
a dor que sentem nesse momento não durará para sempre. Ao ignorar, os
adolescentes podem sofrer mais e sentirem-se isolados da actual morte. Pior ainda,
podem sentir-se sozinhos com o seu sofrimento.

Esteja Atento aos Grupos de Apoio

Grupos de apoio com adolescentes na mesma situação são um dos melhores modos
de ajudar um adolescente. Num grupo, os adolescentes podem comunicar com
outros adolescentes que passaram pela experiência da perda. Permitem e
encorajam a contar a historia deles ou delas as vezes que eles quiserem e como
quiserem. Normalmente, a maioria está disposto a reconhecer que aquela morte
alterou a sua vida para sempre. Pode ajudar um adolescente a encontrar um grupo
de ajuda. Este esforço da sua parte será apreciado.

Compreendendo a Importância da Perda

Lembre-se na adolescência a morte de alguém amado é uma experiência cortante.


Como resultado desta morte a vida do adolescente está em reconstrução.
Compreenda o significado da perda e seja sensível e compassivo em todos os seus
esforços de ajuda.

O luto é complexo. Depende muito de adolescente para adolescente. Os adultos


atenciosos precisam comunicar aos adolescentes que não é vergonhoso. Pelo
contrário, a dor é a expressão natural de amor pela pessoa que faleceu.

Para adultos atenciosos, o desafio é claro, adolescentes não escolhem entre sofrer
ou não sofrer, mas os adultos podem escolher entre ajudar ou não ajudar os
adolescentes com o seu sofrimento.

Com amor e compreensão, os adultos podem apoiar e ajudar os adolescentes


vulneráveis durante este tempo, tornando este período numa experiência valiosa
para o crescimento pessoal e desenvolvimento da adolescência.

É importante reconhecer que a ajuda dos adolescentes em luto não é tarefa fácil.
Terá de disponibilizar tempo, amor e preocupação. Mas esse esforço será
valorizado.

Ao “Caminhar com” um adolescente durante o seu processo de luto, está a dar o


melhor presente – você mesmo.

Os Meus Direitos no Luto:


Dez Direitos da Criança no Sofrimento e Recuperação

Nota: É pretendido que esta “lista de direitos” das crianças em luto as ajudem a
recuperarem – e que ajude os adultos significativos nas suas vidas a serem
encorajadores, também.

Alguém amado morreu. Provavelmente está a ter muitos sentimentos e


pensamentos dolorosos e assustadores. Perto desses sentimentos e pensamentos a
denominada dor ou sofrimento, que é normal (apesar de muito difícil), momento
por que todas as pessoas que perderam alguém que amavam passam.

Os seguintes dez direitos servem para o ajudar a compreender a sua dor e,


eventualmente, para se sentir novamente bem com a vida. Faça uso das ideais que
têm a ver consigo. Pendure esta lista no seu frigorífico ou na porta do seu quarto.
Ao lê-la frequentemente faz com que as ideias comecem a fazer parte de si e
recuperar da sua perda. Pode também pedir aos adultos que o rodeiam para lerem
de modo a eles o ajudarem da melhor maneira possível.

1. Tenho o direito a ter os meus próprios sentimentos, únicos e individuais


sobre a morte. Posso sentir raiva, tristeza e solidão. Posso sentir-me
assustado ou aliviado. Posso sentir entorpecimento ou, às vezes, não sentir
nada. Ninguém se pode sentir exactamente da mesma maneira que eu.
2. Tenho o direito de falar sobre o meu sofrimento sempre que tenho
vontade de o fazer. Quando precisar de falar, procurarei alguém que me
escute e me ame. Quando não quiser falar, também não faz mal.

3. Tenho o direito de demonstrar os meus sentimentos de dor da minha


própria maneira. Quando estão a sofrer, algumas crianças gostam de brincar
pois assim durante algum tempo estão bem. Posso brincar e também rir.
Também posso aborrecer-me e chorar. Isto não significa que sou mau,
apenas significa que tenho sentimentos assustadores para os quais preciso de
ajuda para combater.

4. Tenho o direito de precisar de outras pessoas para combater a minha


dor, especialmente de adultos que se preocupam comigo. Mais, preciso deles
para prestarem atenção ao que estou a sentir e dizer e me amarem mesmo
assim.

5. Tenho o direito de ficar transtornado com problemas quase normais,


quotidianos. Posso estar chateado e ter dificuldade em estar com os outros,
às vezes.

6. Tenho o direito de ter “explosões de dor”. As explosões de dor são


sentimentos súbitos, inesperados de tristeza que tomam conta de mim por
vezes – mesmo depois de muito tempo após a morte. Estes sentimentos
podem ser muito fortes e muito assustadores. Quando isto acontece, posso
sentir medo de estar só.

7. Tenho o direito de usar as minhas convicções sobre o meu Deus para me


ajudar a lidar com os meus sentimentos de dor. Rezar pode fazer sentir-me
melhor e de alguma maneira mais próximo da pessoa que faleceu.

8. Tenho o direito a tentar compreender porque a pessoa que amei está


morta. Está bem mesmo que não encontra resposta. Por que as perguntas
sobre a vida e a morte são as mais duras do mundo.

9. Tenho o direito de pensar e falar sobre as recordações que tenho da


pessoa que faleceu. Às vezes, essas recordações são alegres e outras vezes
podem ser tristes. De qualquer maneira, estas recordações ajudam a
perpetuar o amor que sinto pela pessoa que faleceu.

10. Tenho o direito de modificar o meu sentimento de sofrimento e, com o


passar do tempo, recuperar. Irei ser feliz, mas a vida e a morte dessa pessoa
que faleceu farão sempre parte da minha vida. Sentirei sempre a falta dessa
pessoa especial.

Bibliografia: www.allnutt.com – Alan D. Wolfelt

Você também pode gostar