Você está na página 1de 5

ACORDOS DE KINSHASA

Nota de Abílio Kamalata Numa

Com o derrube do regime colonial português em 25 de Abril de 1974, a Unita rapidamente fez um
balanço de todo o processo da luta de libertação contra a potencia colonial e levada a cabo pelos
movimentos de Libertação FNLA, MPLA e UNITA e tirou as conclusões que determinaram a estratégia
baseada na necessidade de se formar uma plataforma de entendimento entre os Movimentos de
Libertação que os levaria para a negociação com o Governo Português.

Nesta perspectiva, Jonas Malheiro Savimbi tomou a iniciativa com a sua deslocação a Kinshasa onde aos
25 de Novembro de 1974 assinaria os acordos de entendimento entre a UNITA e a FNLA que ficariam
conhecidos como "Acordos de Kinshasa".

TEXTO DO COMUNICADO CONJUNTO - UNITA E FNLA

Aproveitando da sua estada em Kinshasa, a delegação da União Nacional Para a Independência Total de
Angola - UNITA, chefiada pelo Dr.Jonas Malheiro Savimbi, seu presidente, encontrou-se com uma
delegação da Frente Nacional de Libertação de Angola - FNLA, igualmente dirigida pelo seu presidente,
Sr, Holden Roberto. Os dois movimentos de libertação examinaram, em pormenor, todos os problemas
relacionados com a descolonização de Angola em geral e em particular com a actual fase de transição. E
logo na ocasião, a delegação da FNLA teve por bem reafirmar, junto dos responsáveis da UNITA, a sua
resoluta vontade de transcender tudo que pudesse vir a retardar a tão esperada aproximação dos
movimentos de libertação de Angola.

A delegação da UNITA reiterou, por sua vez, posições já anteriormente tomadas a favor da necessidade
que há em se conjugar esforços de todos os combatentes angolanos no sentido de acelerar o processo
de libertação da pátria.

as duas delegações examinaram as questões que minam o outro movimento de libertação irmão, o
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola e ansiaram pela constituição e existência duma
direcção única, que represente incontestavelmente e no seu todo esta entidade política.

Respeitando o princípio de não ingerência nos problemas internos do MPLA, as duas delegações lançam,
entretanto, um fraterno mas vibrante apelo às diversas facções desse movimento para que ponham
termo às suas controvérsias que não fazem senão o jogo dos inimigos da independência de Angola. Logo
assim, dão aos três movimentos a possibilidade de estabelecimento duma plataforma de entendimento
que lhes permita asumir, com responsabilidade, os destinos de Angola independente.

Consequentemente, depois deste encontro, as duas delegações publicaram o seguinte comunicado:

Conscientes do papel que desempenharam na luta armada e no combate libertador do povo angolano,
contra o colonialismo portugês; conscientes de que a relação do povo angolano e o seu poder histórico
conduzirão Angola à sua independência nacional; cientes de que lhes cabe agora a responsabilidade para
a reconstrução duma Angola verdadeiramente angolana, livre e independente; conscientes de que a
aproximação dos movimentos de libertação corresponde às mais profundas aspirações do povo
angolano, e do próprio interesse supremo da nação, que se transcendam ódios, rancores, suspeitas e
divergências de toda e qualquer espécie, já que as persistentes divisões, no seio dos moviementos de
libertação, constituem uma ameaça à paz, à segurança, à ordem e até mesmo à independência de
ANgola. E indo ao encontro, à necessidade e urgência de pôr cobro às manobras imperialistas e
neocolonialistas de toda e qualquer espécie para a união dos movimentos de libertação;

Decidem:

1º Pôr termo a toda e qualquer forma de ataque ou propaganda susceptível de prejudicar uma das
partas signatárias;

2º Instalar, depois da plublicação do presente comunicado uma cooperação e assistência militar mútuos
no intuito de fazer face a toda e qualquer eventualidade dos extremistas de toda espécie que ameaçam
as conquistas da revolução e o processo normal da escensão do nosso país à independência total;

3º Estabelecer uma comissão mista encarregada de elaborar uma plataforma que regulamente as tarefas
políticas que se referem à reconstrução de Angola independente.

Kinshasa, 25 de Novembro de 1974

Pela FNLA

Presidente Holden Roberto

Pela UNITA

Presidente Jonas Savimbi

ACORDOS DO LUSO

Comentário de AJAKNuma

Na concretização da estratégia para a criação da plataforma de entendimento entre os Movimentos de


Libertação, Dr, Jonas Malheiro Savimbi deslocou-se ao Luso (Luena) onde se encontrou com o Dr.
Agostinho Neto e assinado o Acordo do Lusoaos 10 de Dezembro de 1974 que viria determinar o acordo
de Mombaça com a presença dos três Movimentos de Libertação.

COMUNICADO COMUM ENTRE O MPLA E A UNITA

As conversações iniciadas em 10 de Dezembro de 1974 entre as delegações do MPLA e da UNITA


respectivamente chefiadas pelos presidentes Dr. António Agostinho Neto e Dr. Jonas Savimbi
debruçaram.se minuciosamente sobre a situação reinante em Agosto, dando ênfase à busca de uma
solução dos problemas da fase actual de descolonização.

· Considerando que a unidade dos movimentos de libertação de Angola é essencial à luta contra o
clonialismo e o imperialismo e um instrumento de salvação-guarda de independência nacional;

· Tendo bem presente as manobras imperialistas que põem em causa a paz e a integridade
territorial do país;

· Considerando que a ingerÊncia de interesses estrangeiros na vida política e a existÊncia de uma


reação interna em Angola constituem uma ameaça à independência e ao desenvolvimento
harmonioso da sociedade angolana;

· Preocupados com o agravamento constante da situação económica de Angola e suas incidências


sociais.

O MPLA e a UNITA decidem;

1. Pôr termo a toda espécie de hostilidades e de propaganda que dificultem a colaboração franca e
sincera entre as duas organizações.

2. Estabelecer um clima favorável à cooperação estreita entre as duas organizações, da base ao


topo, e ao respeito mútuo entre elas.

3. Defender constantemente e em comum os interesses das massas trabalhadoras e camponesas e


lutar pela extinção de todos os vestígios de colonialismo.

4. Criar em comum organismos a todos os níveis da sociedade angolana tendentes a solucionar "in
loco" os problemas relacionados com a vida das populações; criar em particular um gabinete de
questões económicas, que permita desde já estudar com os diferentes sectores interessados as
causas e os eventuais remédios para ultrapassar a actual recessão económica.

5. Não se intrometer nos assuntos internos das organizações signatárias desse acordo.

6. Ter como objectivo fundamental o benefício das camadas mais exploradas do povo angolano na
reconstrução nacional e em todos os domínios.

7. Procurar estabelecer em conjunto com a FNLA, neste momento crucial da história do nosso
povo, uma plataforma política comum que sirva de base à discussão com o governo Portugês
sobre a formação do Governo de Transição.

8. Estudar as formas práticas de cooperação imediata nso planos político e militar.

9. Opor-se tenazmente às manobras da reação interna que visam perpetuar as relações injustas
herdadas do colonialismo, perturbando assim a paz duramente consquistada após inúmeros
anos de sacrifício.
10. Combater com vigor as manobras que atentem contra a unidade e visem a secessão do país.

Luso, aos 18 de Dezembro de 1974.

Pelo Comité Central da UNITA - Dr. Jonas Malheiro Savimbi (Presidente)

Pelo Comité Central do MPLA - Dr. António Agostinho Neto (presidente)

ACORDOS DE MOMBAÇA

Nota de Kamalata Numa

Em Novembro de 1974, por decisão tomada na conferência anual do Partido na Úria - Kangumbe -
Moxico, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi deslocou-se a Lusaka, onde encontrou antigos amigos, que tinham
partilhado, na última fase da luta de libertação nacional, dos sofrimentos e angústias por que a UNITA
passara.

Nesta Viagem chegou de conversar com Kaunda, an véspera da sua viagem a Moscovo e isso foi feito
com a deliberada intenção que se reforçava na estratégia do progrma de momento, que consistia na
assinatura de um tratado de cooperação com a FNLA e o MPLA, que possibilitasse uma plataforma
comum de negociações com o governo português. O presidente da Zâmbia apoiou inteiramente essa
nossa iniciativa da UNITA.

Ainda em Novembro e em Dezembro de 1974, quando a maior parte da população angolana duvidava
que fosse possível a criação de uma plataforma entre os três movimentos de libertação e o espectro da
guerra civil pairava já sobre Angola, a UNITA conseguiu afastar, infelizmente só por algum tempo mais,
todas essas dúvidas pessimistas, assinando uma plataforma de cooperação com os outros dois
movimentos: em Novembro, em Kinshasa, com a FNLA; e em Dezembro, no Luso, com o MPLA.

Sem pressões de qualquer espécie, após apenas uma reunião do seu Comité Central, que decidiu
unanimemente tomar essa decisão, a UNITA contribuiu para que o Dr. António Agostinho Neto
consolidasse a sua posição como presidente do MPLA. A decisão foi anunciada pelo Dr. Savimbi, num
discurso que fez no Luso, em Dezembro de 1974, reconhecendo no Dr. Agostinho Neto a direcção do
MPLA. E dessa forma, a UNITA afastava toda a tentativa de concorrência das outras duas facções daquele
movimento - a de Chipenda e a de Pinto de Andrade. Este posicionamento foi assumido sem nenhuma
visão oportunista, mesmo sabendo que o MPLA estava a preparar acções militares para dizimar a UNITA.
É que os dirigentes da UNITA sabiam que a única maneira de servir os interesses de Angola era tomar em
consideração a carreira de militância do Dr. Neto e daqueles que, em Luanda, haviam aderido ao MPLA.
Além disso, era uma contribuição para que as negociações com o governo português fossem facilitadas.

Coube também à UNITA a iniciativa e o esforço de convencer o governo do Quénia, no sentido de poder
realizar-se em Mombaça uma conferência que consagrasse o entendimento entre os três movimentos de
libertação e que permitisse igualmente a assinatura de um tratado de paz entre o MPLA e a FNLA, para
que o País não entrasse nos seus primeiros dias da vida com o espectro da guerra civil a sua frente. É,
pois, da História, que foi a UNITA quem instigou e promoveu de facto a conferência de Mombaça, da
qual saiu a plataforma que permitiu as negociações do Alvor, entre a parte angolana e a partwe
portuguesa.

DECLARAÇÃO COMUM DE PRINCÍPIOS DOS TRÊS MOVIMENTOS

A Frente Nacional de Libertação de Angola, FNLA, o Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA
e a União Nacional para a Independência Total de Angola, UNITA, reunidos na cidade de Mombaça, na
República do Quénia, no dia 3 de Janeiro de 1975, depois de analisarem a situação política que decorre
em Angola, nesta fase de descolonização, tendo em vista que no próximo dia 10 se realiza em Portugal a
"Cimeira" com o Governo Português, para a formação do Governo de Transição, que conduzirá à
Independência nacional acordam na seguinte declaração comum:

11. Reafirmam a sua determinação de salvaguardar a integridade territoriald e Angola, nas


fronteiras actuais. Neste contexto, Cabinda é parte inalienável e integrante do território
angolano.

12. Os três movimentos de libertação comprometem-se em edificar a nação angolana, sob bases
justas e democraticas, eliminada, por isso, todas as formas de discriminação etnica, racial,
religiosa e de qualquer outro tipo.

13. Igualmente as três organizações políticas angolanas, manifestam veemente a sua preocupação ,
perante a deteriorização da economia do país e exigem do governo português adopção de
medidas urgentes e eficazes, de acordo com os Movimentos de Libertação que salvaguardem os
interesses sociais das massas trabalhadoras, que estimulem o desenvolvimento económico do
território e o processo de reconstrução nacional.

Feito em Mombaça, 4 de Janeiro de 1975

Assinado por Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi.

ACORDO ENTRE O MPLA E A FNLA

Você também pode gostar