Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Confins
Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia
43 | 2019 :
Número 43
Dossiê Amazonas
Os transportes e as dinâmicas
territoriais no Amazonas
Transport and territorial dynamics in the Amazon
Transport et dynamique territoriale en Amazonie
T O N R J B N
https://doi.org/10.4000/confins.25365
Résumés
Português Français English
O fluxo de cargas, pessoas e informações está cada dia mais intenso e presente nos mais diversos
lugares do mundo e com os mais variados conteúdos técnicos dispostos nos territórios,
permitindo o estabelecimento de interações espaciais que envolvem circuitos econômicos
multiescalares entre cidades, distritos e vilas. Tal dinâmica se estrutura em diversas regiões, de
modos distintos. Nesse sentido, este artigo busca apresentar um panorama dos transportes no
estado do Amazonas, destacando os principais modais, a organização espacial e a atuação do
Estado e das empresas no estabelecimento de infraestruturas e do controle ou não da circulação.
The flow of cargo, people and information is increasingly intense and present in the most diverse
places in the world and with the most varied technical contents available in the territories,
allowing the establishment of spatial interactions involving multi-scale economic circuits
between cities, districts and towns. Such dynamics are structured in different regions, in different
ways. In this sense, this article seeks to present an overview of transportation in the state of
Amazonas, highlighting the main modalities, the spatial organization and the performance of the
State and companies in the establishment of infrastructures and the control or not of the
circulation.
Entrées d’index
https://journals.openedition.org/confins/25365 1/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
Texte intégral
Afficher l’image
1 Os sistemas de engenharia, expressão utilizada por Santos (1988) para denominar o
conjunto de infraestruturas criadas para viabilizar a fluidez são fundamentais para o
estabelecimento da circulação tanto quanto para a consolidação desta entre os lugares,
permitindo o deslocamento de cargas, pessoas e valores culturais e simbólicos. Essa
circulação também se estrutura sem o aparato dos sistemas de engenharia do Estado ou
das grandes corporações, tendo apenas as embarcações e uma margem de rio que
permite uma dinâmica de circulação interna, como é o caso da Amazônia, em especial
no Amazonas, onde um dos principais sistemas de engenharia desse circuito de
transporte é o barco regional, que se faz presente e permite uma mobilidade interna na
região.
2 Cada estado da federação possui organização e arranjos espaciais dos transportes,
com predominância de fluxos nos modais rodoviário, ferroviário e fluvial, sendo este
último predominante em todo o estado do Amazonas. Ora tal condição oriunda da
própria formação geomorfológica, com uma rede de drenagem com diversos rios e
bastante capilarizada; ora pela dispersão do povoamento em cidades e vilas ao longo
dos rios, durante o processo de formação territorial. Além disso, não existe uma malha
rodoviária expressiva, nem ferrovias, mas possui vários aeródromos e, principalmente,
portos e vias fluviais, as quais continuam a propiciar os deslocamentos dentro do
estado.
3 Para apresentar um breve panorama sobre os modos de transporte no Amazonas e o
desdobramento de alguns processos territoriais, estruturou-se este texto em quatro
partes, da seguinte forma: o transporte fluvial, os novos portos fluviais; a construção
das rodovias e a organização dos transportes no modal rodoviário no estado e algumas
transformações espaciais; e, por fim, o transporte aéreo.
https://journals.openedition.org/confins/25365 2/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
maior parte das localidades é a única alternativa, pois ainda habitadas por populações
caboclas que tem no rio uma de suas fontes principais de vida” (NOGUEIRA, 1999. p 2).
7 A navegação sempre esteve intimamente ligada às formas adaptativas e determinadas
pelas condições socioambientais, com o uso dos recursos naturais para a construção das
embarcações de madeira, que passaram a perder espaço no mercado para as
embarcações construídas em estaleiros, que passaram a utilizar outros conteúdos
técnicos, como alumínio, aço, solda, fios e plásticos, na composição das novas
embarcações regionais, seja uma voadeira1, uma lancha, um iate, um barco, um lancha
expresso ou uma balsa. Essas denominações, não tão familiares, demonstram que nos
rios amazônicos encontram-se uma pluralidade de embarcações distintas e com usos e
funcionalidades também diversas, recebendo, inclusive, outras denominações de cunho
regional.
8 As evoluções e revoluções logísticas2 ocasionaram transformações substanciais no
deslocamento interno da Amazônia, reduzindo o tempo de viagem, aumentando o
número de passageiros e de cargas. Essas evoluções e revoluções estiveram
acompanhadas da reestruturação produtiva e das novas estratégias de acumulação,
presentes na atividade de transporte.
9 Olhando para a Amazônia e para o estado do Amazonas, chama atenção a
representação dos rios que entrecortam todo o estado, os quais foram fundamentais
para a conquista do território em tempos pretéritos e permitem a navegação de
embarcações. E, apesar da limitação dos rios para a navegação, durante o período de
vazante – seca -, essas embarcações ainda permitem uma mobilidade espacial
formidável, numa fração territorial onde os projetos de integração, com a construção de
grandes sistemas de engenharia, não foram executados em sua totalidade, ficando
aquém das necessidades de circulação interna.
10 Os padrões de circulação estão assim centrados: circulação rio-várzea (NOGUEIRA,
1999, p. 70); rodovia-terra firme/várzea, que possui uma participação reduzida no
estado; e aéreo-fluvial e aéreo-terrestre, que atende minimamente as demandas
regionais e locais. O transporte fluvial possui algumas particularidades essencialmente
regionais, como: dispersão da população ao longo de uma rota fluvial, “[...] larga
planície inundável pelo menos durante cinco meses do ano e floresta tropical
praticamente densa – fizeram com que os rios amazônicos se constituíssem em
caminhos de acesso a vilas, missões, fortes e pequenos aglomerados de caboclos,
instalados às suas margens”; e a rede hidrográfica existente, que condicionou, ao longo
dos séculos, “todas as práticas sociais na região” (NOGUEIRA, 1999, p.74).
11 Dentro dessa excepcionalidade do transporte fluvial, surgiu a figura do regatão, uma
espécie de “mascate fluvial que negociava a crédito inúmeras mercadorias com as
populações estabelecidas nos rios, lagos e igarapés da região” (NOGUEIRA, 1999, p.
74). Sobre esse é possível identificar três tipos de regatões: um da canoa e remo; barco
motorizado; barco e com armazéns.
12 A motivação econômica com o comércio da borracha silvestre foi responsável pela
instalação de linhas internacionais entre a cidade de Manaus, com rotas para Gênova,
Liverpool e Nova Iorque; e linhas nacionais, com rotas para o Rio de Janeiro e uma
diversidade de rotas regionais. Ou seja, a razão de “toda essa dinâmica espacial foi,
evidentemente, a exploração da borracha, mercadoria que era” amplamente
comercializada, enquanto o monopólio estava centrado na produção amazônica
(NOGUEIRA, 1999, p. 77). Nas décadas de 60 e 70, novas dinâmicas econômicas
alteraram substancialmente a organização dos transportes.
13 As políticas territoriais das décadas de 60 e 70 alteram também a organização
espacial dos transportes fluviais, principalmente com “a expansão da oferta de cargas
geradas em Manaus, com o incremento da produção industrial [que] trouxe outras
empresas de transporte para a região” (NOGUEIRA, 2011, p. 395).
14 A evolução logística que ocorreu no transporte fluvial permitiu a coexistência de
modalidades distintas de transporte. Assim, mesmo com a inserção de novas técnicas,
os antigos sistemas continuaram a existir, pois os novos ocupam nichos de um mercado
cativo, antes não ocupado, e como algumas rotas já são dominadas por grupos
econômicos locais ou por cooperativas, ambos inserem as evoluções nas suas próprias
rotas fluviais.
https://journals.openedition.org/confins/25365 3/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
Tempo de
Distância Cotação em
Origem x Destino Viagem Preço*
em km Dólar
em horas (h)**
Rio Amazonas
250,00 66,31
Manaus-Almeirim**** 50h 990
283,00 75,06
Manaus-Alenquer 26h - - -
https://journals.openedition.org/confins/25365 4/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
Manaus-Uricurituba - 248 - -
Manaus-Faro 22h - - -
Rio Solimões
Manaus-São Paulo de
144h 1345 330,00 87,53
Olivença
Manaus-Manacapuru 6h 115 - -
Rio Negro
150,00
Manaus-Barcelos 29h 36h**** 454 39,78
****
Manaus-São Gabriel da
84h 1001 - -
Cachoeira
Rio Purus
400,00 106,10
Manaus-Lábrea 144h 1531
450,00 119,36
Manaus-Manaquiri*** 1h 40min 79 - -
Rio Madeira
Rio Juruá
Manaus-Eirupené - 2417 - -
Obs. Optou-se por incluir apenas as linhas que têm como ponto de início ou fim a cidade de Manaus e outra
cidade, pois existe uma densidade de linhas de transporte fluvial entre as cidades situadas nas margens dos
rios. Além disso, como ocorrem diversas paradas ao longo de uma viagem, foram incluídas apenas as linhas
com ponto inicial e final. Os valores das passagens correspondem à data da pesquisa realizada nos sites e
no porto no dia 22/10/18. O valor da passagem é apenas para viagens em que a pessoa dorme em rede.
*Site do Porto de Manaus; **Guia Manaus; ***Instituto Navegando e Lendo; ****Rome2rio; TCU
<https://contas.tcu.gov.br/etcu/ObterDocumentoSisdoc?
seAbrirDocNoBrowser=true&codArqCatalogado=5501920&codPapelTramitavel=49419279> Cotação em
dólar feita em 24/01/19 com base no valor de 1 dólar equivalente à 3.77 reais.
Valor
Tempo da Cotação em
Trecho Distância em
viagem Dólar
Reais
170,00 45,09
Manaus-Parintins 9h 475
230,00 61,00
Manaus-Manaquiri 7h 79 - -
110,00 29,17
Manaus-Nova Olinda do Norte 4h
150,00 39,78
https://journals.openedition.org/confins/25365 6/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
Manaus-Manicoré 12h – 14h 616 220,00 58,35
290,00 76,92
Manaus-Lábrea - - - -
600,00 159,15
Manaus-Carauari 18h 1411
550,00 145,88
390,00 103,44
Manaus-Amatura 34h 1251
600,00 159,15
500,00 132,62
Manaus-Benjamim Constant 34h-36h 1616
700,00 185,67
390,00 103,44
Manaus-Santo Antônio do Içá 34h 1128
600,00 159,15
** Guia Manaus; Navegando e Lendo; Robert David. Cotação com base no valor de 1 dólar equivalente à
3.77 reais.
22 O transporte em embarcações como “lanchas”, “a Jato” ou “expresso” não ocorre
somente entre a capital do estado com outras cidades, pode-se apontar que existem
outras linhas desse segmento que possuem centralidades em outras cidades, como em
Parintins, onde as viagens ocorrem entre a cidade e um distrito, vila ou assentamento
agrícola6. A busca pelo uso dessas embarcações para o deslocamento pelo interior
ocorre tanto pela redução do tempo como pelo conforto, apesar da existência de
horários estabelecidos pelas empresas e que possuem intervalos longos (ROSAS, 2017).
23 A inserção dessa nova modalidade como uma evolução logística regional passou a
coexistir com o transporte fluvial de passageiros em barco de recreio ou tradicional, o
qual, por sua vez, constitui importância significativa, por ser um transporte muito
utilizado pelas pessoas de baixa renda e permite o deslocamento de cargas, como
alimentos e mercadorias, além disso, os barcos fazem várias paradas ao longo de uma
viagem (DAVID, 2010).
24 Além do segmento de transporte de passageiros, existe o segmento de transportes de
cargas para as indústrias e o comércio e a distribuição dos derivados de petróleo na
Amazônia. Ao contrário do segmento de passageiros onde predomina pequenos
empresariais, majoritariamente com uma única embarcação, o transporte de carga é
composto por empresas cuja frota abriga dezenas de embarcações –comboios fluviais,
rebocadores- realizando basicamente viagens entre as maiores cidades da região:
Manaus-Belém e Manaus-Porto Velho, utilizando basicamente os rios Amazonas e
Madeira. Uma terceira rota, via Manaus-Santarém-Itaituba, está em processo de
implantação e consolidação7, e, nessas rotas, o deslocamento das cargas ocorre em
balsas, principalmente com o sistema Ro-Ro Caboclo8.
https://journals.openedition.org/confins/25365 7/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
a) cidade com rota fluvial regional e local; b) cidade com rota fluvial local, regional e transporte de carga em
balsas; c) vários tipos de rotas fluviais que envolvem diversas escalas tendo ou não conexão com as cidades
e vilas.
25 A diversidade de atividades estabelecidas e que apoiam o sistema de transporte pode
ser observada pela presença de variantes, como: táxi fluvial, barco escolar,
ambulanchas9, posto de combustível flutuante (Fig. 1f), mercearias funcionando como
ponto de comércio, posto de fiscalização do estado, lanchonetes e bares (Fig. 2), os
quais constituem atividades direta ou indiretamente vinculadas ao transporte fluvial, ao
fluxo propriamente dito. Observam-se, ainda, outras atividades relacionadas, como a
produção de embarcações de forma artesanal, os serviços de calafetagem e os estaleiros,
que produzem uma gama variada de embarcações, concentrando a produção na orla da
cidade de Manaus.
26 Algumas atividades realizadas pelo Estado ou pelas empresas, por meio de
estabelecimentos fixos, também tiveram uma versão pensada para atender a população
amazônica, situada nos rios, marcadas, inicialmente, pela presença militar, com os
navios da Marinha, que oferecem serviços hospitalares e de ambulatório. Nas atividades
econômicas, podem-se mencionar: o Barco da Nestlé10, que representa a própria
expansão e atuação em um mercado cativo; o barco agência da Caixa Econômica
Federal, que oferece serviços de atendimento referentes à Bolsa Família, Cartão do
Cidadão, saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e cadastramento do
Programa de Integração Social (PIS).
No mosaico: a) orla da cidade de Manaus em; barco regional; c) porto privado do Chibatão; d) barco
expresso; e) lancha; f) posto de combustível flutuante; g) barco regional e barco expresso; lancha e balsa
Ro-Ro; IP4 do Careiro da Várzea na BR-319.
https://journals.openedition.org/confins/25365 8/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
https://journals.openedition.org/confins/25365 9/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
33 Esses portos construídos ao longo dos rios12 e nas orlas das cidades amazonenses
estão distantes, do ponto de vista de sua inserção em circuitos produtivos, das
commodities, como é o caso dos portos de Porto Velho, Humaitá, Itacoatiara –Hermasa
- e, recentemente, no estado do Pará, em Itaituba13. Esses outros portos atendem muito
mais as demandas capitalistas internacionais, com a possibilidade de redução de custos
logísticos, e seus empreendimentos são controlados, sendo uma boa parte construídos
pelas corporações nacionais e internacionais. Aliás, muitas das vezes, têm uma única
finalidade, que é permitir o embarque ou desembarque dos grãos de soja e milho. Por
outro lado, os portos do interior do Amazonas estão situados numa logística também
capitalista, mas permitindo o deslocamento de cargas e pessoas dentro de circuitos
espaciais regionais e locais, e o atracamento das embarcações, antes realizado numa
margem de rio, passou a ter uma dada centralidade com os portos construídos. Isso,
contudo, não quer dizer que a atracação antes existente deixou de ser realizada; ela
continua, mas as embarcações de linhas regionais passaram a fazer o atracamento
nesses novos portos.
https://journals.openedition.org/confins/25365 10/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
35 O estado do Amazonas não ficou distante das políticas territoriais que foram sendo
colocadas em prática desde a década de 60, em paralelo com a integração iniciada por
Juscelino Kubistchek. Com a construção das rodovias BR-029, atual BR-364, e BR-010,
o governo estadual empenhou a execução de planos rodoviários que visassem a
integração do estado, seja para propiciar a ocupação nas terras firmes, seja para romper
com a primazia do transporte fluvial. Nesse período, diversos projetos foram sendo
executados, como a construção da rodovia AM-010, entre Manaus e Itacoatiara (Fig. 7).
Nos anos de 1968 até 1977 o governo federal destinou somas de recursos para a
construção (Fig 8a) das rodovias BR-319, BR-230, BR-174, BR-307, BR-317 e outras;
além do governo estadual que deu início à construção de rodovias regionais (Quadro 3).
https://journals.openedition.org/confins/25365 11/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
Rodovias Estaduais
Rodovia do Estanho
150
Sem Código BR-230-Jazida Implantado
29
Estanho-Div. Mato Grosso
Implantado
Sem Código Anori-Codajás** 68
Tráfego sazonal
Implantado
AM-174 Novo Aripuanã-Apuí 278
Tráfego sazonal
AM-245 - - Planejado
Autazes-BR-319 93 Trafegável
AM-254
Autazes-Maués 160 Planejado
AM-329/AC- 134 –
Eirunepé-Envira-Feijó Planejado
329 200
https://journals.openedition.org/confins/25365 12/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
AM-374 Santo Antônio do Içá-BR-307 93 Planejado
AM-466*** - - Implantado
Rodovias Federais
S. Gabriel da Cachoeira-Manaus-
BR-080 1270 Planejado
Jacareacanga
BR-174B
Implantado
Antiga AM- Democracia-Hevelândia 84
Tráfego Sazonal
364
Implantados 36 km
BR-210 Div. AM-RR-Fronteira com a Colômbia 840
Projetado
Planejado
Lábrea-Boca do Acre 416
BR-317 Implatado/Trafego sem
Boca do Acre-Div AM/AC 100
interrupção
859 Implantado
BR-319 Manaus-Div AM-RO
400 Asfaltados
**“[…] estrada Codajás-Anori foi inaugurada em 1994, e, por falta de manutenção da pista de barro batido,
ficou intrafegável” (SAN’TANA, 2006, p. 104).
*** TCU (2013)
Fonte: DNIT. *http://www.transportes.gov.br/images/2014/10/Amazonas.pdf
Tempo
Distância Valor da Passagem
Trecho de Empresas
km passagem em dólar
viagem
3h 50
min Aruanã
Manaus-Itacoatiara 266 53,60 14,21
5h 06 Eucatur
min
1h 50 Expresso-
Manaus-Rio Preto da Eva 75 15,50 4,11
min Transamazônica
4 horas
Manaus-Novo Remanso 213 6h 50 47,30 12,54 Aruanã
min
Expresso-
Manaus-Abonari km 200 da 5h 45
220 60,20 15,96 Transamazônica
BR-174 min
Aruanã
Manaus-Presidente 1h 50
121 30,50 8,09 Aruanã
Figueiredo min
Expresso
3h 30
Manaus-Balbina 200 44,00 11,67 Transamazônica
min
Aruanã
Eucatur
Asatur
10h 10 Rivaltur
min 170,00 45,09
Manaus-Boa Vista RR 775 Caburaí
11h 55 230,00 61,00
min TransBrasil
Amatur
Dantas*
1h
Master
Manaus-Manacapuru 87 3h 20 22,75 6,03
Emtram
min
5h 45 Master
Manaus-Novo Airão 195 54,30 14,40
min Emtram
Manaus- Aruanã
441 10h 150,00 39,78
(Democracia) Manicoré ** TransCoop
(Democracia) Manicoré –
620 12h 210,00 55,70 -
Porto Velho **
Eucatur
TransBrasil
Manaus-Humaitá ** 703 21h 231,00 61,27 Aruanã
Siqueira Tur
Amatur*
https://journals.openedition.org/confins/25365 14/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
40 h TransBrasil
24h - 28
Manaus-Apuí ** 1100 300,00 79,57 Amatur
h
3h
Eucatur
Humaitá-Porto Velho 206 3h 35 46,80 12,20
Serra Azul
min
Amatur
15h 30
Apuí – Porto Velho ** 604 170,00 45,09 TransBrasil
min
Viação Apuí
*Empresa iniciou operação rodoviária em outubro de 2018; **Linha que pode ter as viagens suspensas entre
os meses de janeiro até junho, pois perpassa trecho rodoviário sem pavimento; *** informação obtida via
telefone.
Fonte: Guichê Virtual; CNT (2016).
https://journals.openedition.org/confins/25365 15/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
a) Ônibus da rota Manaus-Itacoatiara, na rodovia AM-010; b) rodovia BR-319; c) caminhão romeu-julieta em
Humaitá; d) rodovia BR-174; e) veículo na BR-319; f) rodoviária da vila de Realidade.
https://journals.openedition.org/confins/25365 16/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
47 O transporte aéreo dentro do estado do Amazonas está centrado em apenas sete rotas
aéreas (Quadro 5), e, em outra escala regional, a cidade de Manaus19 possui voos
constantes para as cidades de Belém, Boa Vista, Porto Velho e Rio Branco, e na escala
nacional e internacional com voos constantes, partindo de Manaus com direção para
Brasília, São Paulo, Fortaleza, Rio de Janeiro, Miami e Portugal.
700,00 185,67
Manaus-Eirunepé 1162 2h 27 min MAP
941,00 249,60
661,00 175,33
Manaus-Carauari 788 2h 03 min MAP
960,00 254,64
521,00 138,19
Manaus-Lábrea 703 1h 50 min MAP
971,00 257,55
331,00 87,79
Manaus-Coari 364 57 min MAP
507,00 134,48
281,17 74,58
Manaus-Parintins 365 57 min MAP
501,17 132,93
GOL
346,00 91,77
Manaus-Porto Velho 760 1h 25 min AZUL
1000,00 265,25
LATAM
313,00 83,02
Manaus-Tabatinga 1107 1h 50 min AZUL
1013,00 268,70
*Os valores foram obtidos nos sites no dia 25 de outubro de 2018: Map, Azul e Decolar, foi realizada a
pesquisa de voo de ida entre os meses de out até fev. ** Distância obtida no Google Earth. Únicas cidades
que possuem diários dentro do estado e para Tabatinga.
48 Sendo de relevância substancial, o transporte aéreo entre as cidades e vilas continua
atendendo, de forma reduzida, a população, já que algumas particularidades, como
dispersão, ausência de infraestruturas nos aeródromos e a baixa renda, tornam-se
entraves para o deslocamento aéreo ou até mesmo a criação de rotas aéreas20. Além
disso, as passagens custam três vezes mais que o valor de um deslocamento fluvial ou
rodoviário.
49 A continuidade da integração da Amazônia ainda vigora por meio de políticas
territoriais que têm como proposta a materialização de sistemas de engenharia nessa
região. Obviamente, que essa atuação estatal se alterou ao longo desses 80 anos de
pensamento geopolítico, não desenhando mais grandes sistemas de engenharia
atrelados a projetos de povoamento, mas almeja-se reforçar a integração regional já
existente a partir dos rios, das rodovias já construídas e dos aeródromos já existentes. O
que aparece como novo nessa integração é a inserção de novas técnicas e redes, como a
fibra óptica, redes de energia elétrica e infovias, permitindo fluidez de informações e
https://journals.openedition.org/confins/25365 17/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
Considerações finais
50 O estado do Amazonas possui uma excepcionalidade referente ao transporte de
cargas e de pessoas, pois dispõe de uma rede urbana conectada pelos rios, mas, ao
mesmo tempo, pouco articulada pela ausência de viagens diárias dos barcos regionais e
dos voos, além de dispor uma rede rodoviária, que conecta apenas uma parcela das
cidades do estado.
51 Nos quadros apresentados, pode-se constatar além da variante tempo, a distância e o
valor. Pode-se notar, ainda, que as operações das rotas ocorrem com a predominância
de uma ou duas empresas, caracterizando um regime de monopólio e duopólio, este é
instituído pelo Estado durante a regulamentação da atividade de transporte de
passageiro, principalmente pelos modais terrestre e aéreo, enquanto que, no fluvial, as
rotas são operadas por vários barcos regionais e expressos, não se diferindo, porém,
pelo arranjo espacial formado com rotas pré-estabelecidas, dia e horário de saída, locais
de parada, pontos de apoio e de comercialização de passagens.
52 A organização espacial dos transportes representa uma projeção social, que tem
como motor as dinâmicas da própria sociedade, constituindo-se em um fluxo oriundo
de diversos anseios, sejam eles econômicos, políticos, sociais e culturais. Contudo,
outro catalizador dessa organização é instituído nos territórios, pelas corporações e pelo
Estado, inicialmente pelo uso das infraestruturas construídas pelo Estado, sendo este
um dos produtores do espaço, que materializou uma rede pretérita de circulação. O uso
dessas infraestruturas pelas corporações pode criar diversos arranjos espaciais distintos
nos eixos de circulação, tendo como princípio fundamental o movimento das
mercadorias, para fins de rotação e de obtenção de lucros.
53 A circulação e os transportes, seja no modal rodoviário, fluvial ou até aéreo, possui
uma articulação direta entre os objetos presentes no território e que foram frutos de
uma acumulação desigual ao longo do tempo. Essas localizações pretéritas, como as
infraestruturas fixas, acabam por condicionar os novos processos, que passam a ser
instituídos, tanto pelas demandas regionais, quanto nacionais ou internacionais.
Observa-se essa conjuntura multiescalar presente na Amazônia e no estado do
Amazonas, seja pelos rios, com a navegação diversificada de embarcações que atendem
os circuitos da economia, seja com o transporte rodoviário, que também está inserido
nessa dinâmica, principalmente no transporte de carga.
54 Seja no transporte aéreo, fluvial ou rodoviários, pode-se observar que todos esses
meios possibilitam o deslocamento de pessoas, contribuindo, positivamente, para o
estabelecimento das interações sociais e espaciais. E, mais ainda, em ambos os casos, os
veículos, as embarcações e as aeronaves também transportam cargas, em volumes
fracionados, favorecendo, de um lado, o atendimento as demandas de consumo; e de
outro, possibilitando uma rentabilidade para as empresas proprietária dos
equipamentos rodantes.
Bibliographie
ANTAQ. Primeiro termo aditivo do termo de autorização nº 1.087-ANTAQ, de 19 de novembro de
2014.
BRASIL. Lei N° 12.815, de 5 de junho de 2013.
BRASIL. Plano Hidroviário Estratégico. Brasília: Ministério dos Transportes, 2012.
BECKER, Bertha. Geopolítica da Amazônia. Estudos Avançados, v. 19, n° 53, 2005, pp. 71-86.
https://journals.openedition.org/confins/25365 18/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
CGEE. Um projeto para a Amazônia no século 21: desafios e contribuições - Brasília, DF: Centro
de Gestão e Estudos Estratégicos, 2009.
DAVID, Robert Carvalho de Azevedo. A dinâmica do transporte fluvial de passageiros no estado
do Amazonas. Dissertação de Mestrado em Geografia, UFAM, 2010, 121 f.
DNIT. Instalações Portuárias Públicas de Pequeno Porte. 27/07/2016. Disponível em:
<http://www.dnit.gov.br/modais-2/aquaviario/ip4>Acesso em: 22 de jun. de 2018.
FERREIRA, Márcio Antônio Couto. Transporte fluvial por embarcações mistas no Amazonas:
uma análise do trecho Manaus-Coari e Manaus- Parintins. Tese de doutorado. Programa de Pós-
Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, UFAM. 2016, 164 f.
IIRSA. Eixo do Amazonas. Disponível em:
<http://www.iirsa.org/admin_iirsa_web/uploads/documents/lb09_seccion3_eje_amazonas_por.pdf>
Acesso em: 09 de out. de 2018.
PEREIRA, Marcelo Souza. Navegar é Preciso: a lógica e a simbólica dos usos socioambientais do
rio. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade
na Amazônia, UFAM, 2015, 564 f.
SANT’ANA, Karla Christine Tavares de. Mercado justo e solidário como contribuição ao
desenvolvimento sustentável: um estudo das representações econômico-sociais do comércio do
açaí pelo município de Codajás. Mestrado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na
Amazônia, 2006, 157 f.
NOGUEIRA, Ricardo Jose Batista. Amazonas: um estado ribeiro: estudo do transporte de carga e
passageiros. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana, USP, 1994.
NOGUEIRA, Ricardo Jose Batista. Caminhos que marcham: O transporte fluvial na Amazônia.
Revista Terra das Águas, v. 1, n° 2, 1999.
NOGUEIRA, Ricardo José Batista. Transporte fluvial na Amazônia. In: SILVEIRA, Marcio
Rogerio. Circulação, transportes e logística. São Paulo: Outras Expressões, 2011, pp. 385-401.
RODRIGUES, Jondison Cardoso; RODRIGUES, Jovenildo Cardoso; CASTRO, Edna Maria
Ramos de. Transporte hidroviário, portos e terminais interiores na Amazônia brasileira: uma
análise sobre seus papéis na política pública territorial. Geo UERJ, Ano 16, n° 25, v. 1, 2014, pp.
115-137
ROSAS, Domingos Marcelo. O transporte de lanchas rápidas: uma alternativa de redução de
tempo e de espaço para a agrovila do Caburi no município de Parintins/AM. Monografia do curso
de Licenciatura em Geografia, Universidade do Estado do Amazonas, Parintins-AM, 2017.
SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988.
SILVEIRA, Márcio Rogerio. As cinco revoluções e evoluções logísticas e seus impactos sobre o
território brasileiro. In: SILVEIRA, Márcio Rogerio; LAMOSO, Lisandra Pereira; MOURÃO,
Paulo Fernando Cirino. Questões nacionais e regionais do território brasileiro. São Paulo:
Expressão Popular, 2009, pp. 13-42.
TAMBUCCI, Yuri Bassichetto. Rio a fora, cidade a dentro - transporte fluvial e modos de viver no
Amazonas. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, FFLCH, USP, 2014, 147 f.
TCU. Relatório de auditoria operacional na SPNT/MT. Diagnóstico da logística de transporte no
estado do amazonas. Ciência. Arquivamento. 16/09/2013.
THÉRY, Hervé; MELLO, Neli Aparecida de. Atlas do Brasil: Disparidades e Dinâmicas do
Território. 3ª edição. São Paulo: EDUSP, 2018.
WRIGHT, Charles L. A regulamentação econômica dos transportes. Revista Brasileira de
Economia, V. 36, n. 2, 1982, pp. 129-160.
Notes
1 Embarcação com o formato de canoa e feita de alumínio ou madeira com 3 até 8 metros de
comprimento e um motor de popa de 5 até 40 hp.
2 Ver em Silveira (2009).
3 Denominação regional que consiste em colocar caminhões e carretas sobre um comboio de
balsas, que são transportadas por um barco potente, denominado empurrador –rebocador.
4 O transporte de carga também teve alterações no formato das balsas e nos rebocadores,
permitindo aumento de velocidade e volume de carga.
5 David (2010, p. 96) destaca que “o transporte fluvial na Amazônia tem sofrido grandes
alterações, principalmente no que diz respeito à duração das viagens, que anteriormente eram
feitas em dias, e hoje, devido à implantação dos barcos expressos, podem ser feitas em poucas
horas”. Ainda pode-se apontar que uma das questões centrais no transporte para o capital é a
redução do tempo no deslocamento.
6 “[...] viagens de Parintins à Comunidade do Caburi” (ROSAS, 2017, S/P).
https://journals.openedition.org/confins/25365 19/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
7 Com o processo de pavimentação da rodovia BR-163 e a construção de portos privados, em
breve, uma parte dos deslocamentos rodoviários com destino a cidade de Manaus será realizado
nas cidades de Itaituba e Santarém.
8 Além dessas rotas, ainda tem a rota de transporte de carga em navios entre o litoral brasileiro
até os portos privados da cidade de Manaus, tendo uma boa parte da carga transportada em
contêineres.
9 Pequenas embarcações que realizam o transporte de estudantes para as escolas ao longo dos
rios.
10 Com o slogan “Nestlé Até Você a Bordo” "Nestlé até você”.
11 Pela Lei N° 12.815, de 5 de junho de 2013, no art. 2° no parágrafo VI, destaca-se que as
instalações portuárias de pequeno porte são “instalação portuária explorada mediante
autorização, localizada fora do porto organizado e utilizada em movimentação de passageiros ou
mercadorias em embarcações de navegação interior” (BRASIL, 2013).
12 Além da construção desses portos, ocorre a construção de câmaras frias para armazenamento
do pescado ou fabricação de gelo.
13 Esses portos fazem parte do Arco Norte, que envolve portos amazônicos e do litoral, para o
escoamento de commodities agrícolas.
14 Ver quadro 3.
15 Essa blindagem foi realizada, por exemplo, ao longo do eixo da Perimetral Norte, entre o
Amapá, Pará e Amazonas.
16 Outras linhas de ônibus de cooperativas atuam no transporte de passageiros, estabelecendo
linhas regulares entre: Careiro da Várzea –Vila do Marco Zero- até a cidade de Autazes e
Castanho, até a vila de Tupana, no km 177 da BR-319; Manaus-Presidente Figueiredo; Manaus-
Rio Preto da Eva-Itacoatiara; Manaus-Iranduba-Manacapuru; Manaus-Manicoré.
17 Agência Reguladora dos Serviços Públicos Concedidos do Estado do Amazonas e Agência
Nacional de Transportes Terrestres.
18 Esse conflito no transporte rodoviário de passageiros já é apontado por Wright (1982).
19 O Aeroporto Internacional Eduardo Gomes é um dos 4 que mais movimenta cargas aéreas do
Brasil.
20 “As companhias aéreas (...) abrem linhas aéreas para destinos em que o fluxo de passageiros é
suficientemente rentável e fecham rapidamente aquelas com baixo fluxo e rentabilidade”
(THÉRY; MELLO-THÉRY, 2018, p. 31).
21 Bertha Becker, Wanderley M. da Costa e Francisco de A. Costa.
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/25365/img-
4.jpg
https://journals.openedition.org/confins/25365 20/22
10/11/2020 Os transportes e as dinâmicas territoriais no Amazonas
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/25365/img-
9.jpg
Fichier image/jpeg, 176k
Auteurs
Thiago Oliveira Neto
Doutorando na USP (PPGH), thiagoton91@live.com
Droits d’auteur
Confins – Revue franco-brésilienne de géographie est mis à disposition selon les termes de la
licence Creative Commons Attribution - Pas d’Utilisation Commerciale - Partage dans les Mêmes
Conditions 4.0 International.
https://journals.openedition.org/confins/25365 22/22