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Universidade de São Paulo

Instituto de Física
2º Semestre de 2015

Física Moderna II
Aula 15
Profa. Márcia de Almeida Rizzutto
Oscar Sala – sala 220
rizzutto@if.usp.br
Monitor: Gabriel M. de Souza Santos
Sala 309 – Ala Central
Plantão de Dúvidas: Sala 202, Ala Central – Segunda-feira, 18h às 19h.
gabriel.marinello.santos@usp.br

Página do curso:
http://disciplinas.stoa.usp.br/course/view.php?id=6671
Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation
Existem vários tipos de laser, mas todos têm algumas características comuns:
1) Uma fonte de energia (pulsada ou contínua) capaz de produzir inversão de
população entre níveis atômicos. No caso do laser de He-Ne essa fonte é
uma descarga elétrica, que transfere energia aos átomos por meio de
colisões atômicas. No caso de lasers que usam cristais, é usada iluminação
intensa e de espectro largo, processo conhecido como bombeamento ótico.
2) Um material cujos átomos tenham pelo menos 3 níveis de energia: o estado
fundamental; um estado intermediário com meia-vida, ts, relativamente
longa (metaestável); e um terceiro estado, de energia mais alta, para
bombeamento.
• Sistema de 2 níveis não é sujeito a inversão de população, pois, com
bombeamento ótico intenso, poder-se-ia, no máximo, atingir uma situação
em que as populações dos 2 níveis fossem iguais.
• Bombeamento mais intenso apenas aumentaria a taxa de transições tanto
de 1 → 2 quanto de 2 → 1, pois as probabilidades de transição são iguais,
como vimos.
• Para que possa haver inversão de população, a absorção de energia
deve ser feita por uma transição diferente daquela que sofrerá a emissão
2
estimulada. Daí a necessidade de 3 níveis, pelo menos.
Laser de rubi (Al2O3 + Cr)
~10-8seg
Transição rápida sem emissão de ≈
~10-3seg

Esquema
de níveis
Diferença de energia E3-E1 de energia
do Cr

Em equilíbrio térmico a população dos estados é: n3<n2<n1


Bombeamento ótico (iluminação intensa) com 5500A estimula-se a absorção dos
fótons pelo átomo no estado fundamental, aumenta a população do nível de
energia E3 e despopula o nível E1.
Emissão espontânea, traz os átomos de E3 para E2, reforça a população deste
estado com tempo de vida longo
Resulta: n2 > n1 inversão de população
A emissão do fóton, n2 n1 de 6943A estimula novas transições, emissão
estimulada >> absorção estimulada, 6943A será reforçado, feixe coerente
intenso Física Moderna 2 3
Aula 15
3) Um método que contenha os fótons emitidos inicialmente no meio, de forma que
eles possam estimular transições em outros átomos. Isso, em geral, é feito por
meio de espelhos nas extremidades do sistema, de forma que os fótons
atravessem o meio muitas vezes. Dessa forma, o laser pode ser entendido como
um ressoador ótico. A oscilação consiste de uma onda plana refletida entre os
espelhos das extremidades. Essas ondas que caminham em direções opostas
formam uma onda estacionária com nós nos espelhos. Para que luz de alta
intensidade seja extraída, um dos espelhos é semi-transparente.
Na prática o laser é um bastão cilíndrico com extremidades oticamente planas paralelas e
refletoras (uma delas parcialmente refletora)
Os fótons emitidos que não se deslocam ao longo do eixo, escapam pelos lados antes
de estimular emissões.
Os fótons que se movem exatamente ao longo do eixo são refletidos várias vezes e são
capazes de estimular emissões repetidamente. O no de fótons cresce rapidamente.

Produção de um feixe
unidirecional de grande
intensidade e de
comprimento de onda
4
altamente definido
Lasers de 4 níveis
E4

E3
Nesse caso, como E2 – E1 >> kT, o
nível E2 é praticamente despopulado,
ou seja, n2 ~ 0  que a inversão de E2
população é muito fácil de ser atingida.
Assim: nc ~ n3 E2-E1
O nível n2 não é o estado metaestável que emite a
radiação laser. E também o estado E2 não é
E1
facilmente populado por agitação térmica 5

no laser de 4 níveis é mais fazer a inversão de população , o decaimento se


faz entre o nível 3 e o nível 2 ( que não é o estado fundamental) e é pouco
populado e cuja população em equilíbrio térmico é relativamente pequena.

Assim, os lasers de 4 níveis são mais eficientes que os de 3 níveis.


Física Moderna 2
Aula 15
Laser de He-Ne

Por causa da forma como é


produzida, a luz do laser
apresenta algumas
propriedades muito
importantes: coerência,
monocromaticidade, baixa
divergência e alta densidade
de energia (energia por
unidade de área do feixe).

6
Exercício
No Hg, a diferença de energia entre o primeiro estado excitado e o fundamental é 4,86 eV. Se uma
amostra de Hg vaporizado em uma chama contém 1020 átomos em equilíbrio térmico a 1600 K, calcule:
a) o número de átomos nos estados n = 1 (fundamental) e n = 2 (primeiro excitado), usando o fator de
Boltzmann e assumindo o mesmo peso estatístico para ambos;
b) a potência emitida pelos fótons emitidos na transição 2  1, se a meia-vida, T1/2, do estado n = 2 é
100 ns. Lembre-se: Ptransição = 1/T1/2 e o número de fótons emitidos por unidade de tempo é
nPtransição. g(e) é a densidade de estados

ne 2  g e 2  
a e 2 e1
mesmo peso estatístico para ambos g e 2   g e1   e kT

kT  8,62x105.1600  13,8 x102 eV ne1  g e1 

ne 2   0,14
4 ,86
35 16 De 1020 átomos temos ~104 estão no
e  e  6,3x10
ne1  estado excitado
b E hN 1 1
Potência: P   hnPtrans  hn  En
t t T1/ 2 T1/ 2
1 19
P  4,86.104 9
~ 5 x1011
. 1.6 x10 J /s
100x10
Física Moderna 2
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P  107 Watts 7
Propriedades das distribuições

Distribuição Características Exemplo

Partículas idênticas, mas


Boltzmann distinguíveis Gás ideal

Partículas idênticas,
indistinguíveis, que não
Bose-Einstein obedecem ao Princípio de Gás de fótons, 4He
Exclusão (spin inteiro ou nulo)

Partículas idênticas,
indistinguíveis, que obedecem ao
Fermi-Dirac Princípio de Exclusão (spin semi- Gás de elétrons
inteiro)

Física Moderna 2 8
Aula 15
Limites de validade da distribuição de Maxwell-Boltzmann:


e 
2 πmkT 3/ 2
V
e 

h3 N e- << 1 pode utilizar Boltzmann.
3
hN 2πmkT 3/ 2V e- >> 1 Boltzmann.
J
kT  1,38 10 23 .300K  4,14.10 21 J  0,025eV hc  1,24keVnm
K
mH  1,008u
1) Verifique se no caso de 1 mol de gás H2 em CNTP pode-se usar a
distribuição de Maxwell-Boltzmann u  931,5MeV / c 2  1,66x10 27 kg
mH  938,78MeV  1GeV
e 

1,24 keV.nm 3 6.1023
 105
 1 Boltzmann
2π  2 GeV  0,025 eV3/ 2
2,24.102 m3

2) Verifique se no caso de elétrons de condução em um fio de prata se


podemos utilizar a distribuição de Maxwell-Boltzmann mec 2  510,99keV  0,5MeV

e 

1,24 keV.nm 3 10,5 g / cm 3
6.1023
e  / mol  5,1  103
 1
2π  0,5 MeV  0,025 eV m 107,9 g / mol
3/ 2 3

Boltzmann
Física Moderna 2
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Aula 15
Propriedades de um gás de Férmions
O fato dos metais conduzirem eletricidade levou a conclusão
que há elétrons livres que se movimentam em uma rede de
íons praticamente fixos.
Classicamente se o sólido for um metal, as interações entre os elétrons e
os íons da rede deve transferir uma energia cinética média de translação
=3/2kT, a temperatura T os íons da rede cristalina possuem energia
média igual a 3kT (3/2kT +3/2kT) (cinética+potencial) .
Então a energia interna total dos metais U=3kT + 3/2kT=9/2kT.
E nesse caso o calor específico molar dos metais =4,5R, mas isto não é o que
as medidas revelam. Veremos que para sólidos (outros) o Cv = 3R (lei de
Dulong Petit)
O problema da teoria clássica dos elétrons livres é que os elétrons são
férmions e suas energias obedecem a distribuição de Fermi-Dirac.

1 1
f FD (E )  f FD ( E ) 
E EF = – kT E -E F
e kT
1
e e kT
1
Física Moderna 2 10
Energia de Fermi Aula 14
Este assunto esta no
Modelo de elétrons livres em um metal capitulo 10.3 Tipler
Vimos que quando consideramos um poço 3D )(limites da rede cristalina) a
densidade de estados (número de estados)pode ser escrito como:
2 π2m  V 1/ 2
No caso de 2 elétrons g ( E )  4 π 2m  V E 1 / 2
3/ 2 3/ 2
g (E)  3
E
h h3
Ocupação dos estados (distribuição de Fermi):
1 1
f (E)  
 ( E  E F ) / kT
, com EF  kT
e e E / kT
1 e 1
Normalização: se T = 0 K  estados
populados só até EF
f(E) = 1, se E < EF e
f(E) = 0, se E > EF.

Então a ocupação dos estados de energia do gás de e–, fica:


4πV (2m)3 / 2 E1/ 2 dE
n( E )  f ( E ) g ( E )dE 
h3 e ( E  EF ) / kT  1
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1,0

1/2
0,8 E
X 0,6
=

g(E)
0,4

0,2

0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
E

4πV (2m)3 / 2 E1/ 2 dE


n( E )dE  f ( E ) g ( E )dE 
h3 e ( E  EF ) / kT  1
n( E )dE  
g ( E ), E  EF
0, E  EF
EF EF
4 πV (2m) 3 / 2 2 4 πV (2m) 3 / 2 3 / 2
N   n( E )dE  3 0 E dE  3 h3
1/ 2
EF 
0
h
2/3
h  3N 
2
Expressão define a
 E F ( 0)    energia de Fermi (EF)
2m  8πV 
Física Moderna 2em T = 0 K 12
Aula 15
h  3 
2/3 2/3
h  3N 
2 2
E F (0)      
2m  8πV  2m  8π 
com  = N/V .
EF aumenta lentamente com  já que os
estados estão ocupados . Aumentar N/V
equivale aumentar o no de estados de
energia a serem ocupados
1
f FD ( E )  E -E F
e kT
1
E-E F 1
E  EF e f FD (E ) 
1kT 2
Vemos então que, à medida que mais partículas são adicionadas ao sistema,
EF cresce. Se a temperatura estiver ligeiramente acima de 0 K, EF deixa de
ser a energia do último estado ocupado e é definida como a energia em que
n(E) = ½; à medida que T aumenta, EF diminui. Para temperaturas
suficientemente altas, EF ~ 0, implicando que todos os estados, a
probabilidade de ocupação inicia em ~1/2 e cai como Boltzmann. Mas nesse
caso extremo, somem os efeitos quânticos.
Física Moderna 2 13
Aula 15
Em resumo:

Em T=0 os férmions ocupam o nível de energia mais baixo disponível para eles,
mas eles não podem estar todos neste nível (princípio de Pauli). Os férmions
ocuparão os níveis de energia disponíveis até uma energia particular (Energia de
Fermi). Com o aumento da temperatura a partir de T=0, mais e mais férmions
poderão ocupar níveis mais altos. Para valores de T>0 tem-se uma pequena
probabilidade da agitação térmica mandar o férmion para uma energia maior que
EF.

T=0 T>0

T=TF=EF/k T>TF

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A energia total do sistema, em T = 0 K, é: n( E )  4πV (23m)
3/ 2
E 1/ 2 dE
h
EF 3 / 2 EF
4πV (2m) 2 4 πV ( 2 m ) 3/ 2
E   n( E ) EdE  3  E 3/ 2
dE  3
E 5/ 2
F (0)
0
h 0
5 h
2 4πV (2m)3 / 2 3 / 2 3 3
Mas N  3
EF  E  NE F E  EF
3 h 5 5
Notem que, mesmo em T = 0 K, o último férmion adicionado, aquele com
energia EF, tem velocidade dada por:

1 2 EF
mv F2  EF  v F 
2 m

No caso de 1 e- de condução em um metal A temperatura de Fermi é


típico (EF ~ 5 eV) a velocidade de Fermi é definida como: TF = EF /k.
da ordem de 106 m/s (a 0 K!). k  1,38.1023 J / K  1,38.1023 x6,2.1018 ev / K
Física Moderna 2
Aula 15 k  8.6.105 ev / K
a) Calcule a energia de Fermi para o Au a 0K
Exercício b) Calcule a velocidade de Fermi para o Au a 0K
c) Calcule a temperatura de Fermi para o Au a 0K

A densidade do Au é 19.32 g/cm3 e o peso molar é 197 g/mol. Assumindo


que cada átomo contribuiu com 1 e- livre para o gás de Fermi
N N A 19.32  6.023x1023  g eletrons g 
n    3 
V M 197  cm mol mol 
2/3 2/3
 3N  h2  3 
N 2
n  5.9 x10 elétrons / m
28 3 h
V E F ( 0)      n
2m  8πV  2m  8π 
2/3
(6.625x10 )  3  5.9 x1028 
34 2
EF (0)  
31 
  5.53eV
1/ 2 1/ 2
2  9.11x10  8  3.14 
 2 EF   2 x5.85x10 J 
19
vF      -31

  1.39 x 10 6
m/ s
 me   9.11x10 kg  Assim um gás de partículas
clássica tem que ser aquecido
EF 5.53eV
TF   5
 64000K a ~64000 K para ter uma
energia média por partícula
k 8.62x10 eV / K
igual a energia de Fermi a 0 K.
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