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EBRAHIM BHIKHÁ – E-mail: ebhikha@gmail.

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O IMPOSTO SIMPLIFICADO EM MOÇAMBIQUE

Fundamentos do Imposto Simplificado

O Imposto simplificado para pequenos contribuintes foi introduzido no STM pela Lei n.°
5/20091, de 12 de Janeiro e posteriormente regulamentado pelo Decreto n.° 14/20092, de 14 de
Abril.

Este constitui o mecanismo encontrado pelo Governo, mesmo que tardiamente, para a
prossecução dos objectivos plasmados no Segundo Plano de Acção para a Redução da Pobreza
Absoluta (PARPA II), no que tange à política fiscal, nomeadamente, de “aumentar gradualmente
as receitas fiscais em proporção do PIB até 2009, atingindo um ponto percentual acima do nível
registado em 2003. Este objectivo deverá ser alcançado sem agravamento da carga fiscal ao
sector formal, alargando a base tributária, e reduzindo os níveis de evasão e isenções fiscais”.3

O imposto simplificado assenta num regime de tributação logicamente simplificado que visa
essencialmente atrair o sector informal para o sistema tributário, aumentando assim, a base
tributária e, em paralelo, diminuindo a taxa de imposto aplicável ao contribuinte, facto que é
rentável para a Administração Tributária, uma vez que em princípio originará um aumento da
receita fiscal (por passar a abarcar o mercado informal)4. Por outro lado, a introdução deste
imposto poderá implicar uma diminuição de custos com a fiscalização e controle por parte da
Administração Tributária.

Os problemas inerentes à administração de um elevado número de contribuintes de pequena


dimensão e o exercício de actividades à margem do sector formal da economia conduzem a que
vários países recorram à aplicação de um imposto mínimo, à margem do sistema de tributação-
regra5.

A adopção deste tipo de imposto justifica-se não só por razões práticas ligadas à arrecadação de
receitas, mas também por objectivos de equidade, neutralidade e eficiência económica, obstando
a concorrência desleal e diminuindo os custos de administração e cumprimento das obrigações
fiscais6.

1
Adiante designada por CISPC.
2
Adiante designado por RISPC.
3
In País Económico - de 25 de Setembro de 2009, Edição n° 2, Imposto Simplificado (?) dos Pequenos
Contribuintes : Algumas das minhas inquietações.
4
FUMO, Graça, op. cit., pág. 66B.
5
FUMO, Graça, op. cit., pág. 66B.
6
Idem.
EBRAHIM BHIKHÁ – E-mail: ebhikha@gmail.com

Conceito de Imposto Simplificado

O Imposto Simplificado, é definido nos termos do n° 1 do Art. 2 do CISPC, como sendo um


imposto directo que se aplica às pessoas singulares ou colectivas que exerçam, no território
nacional, actividades agrícolas, industriais ou comerciais, de pequena dimensão, incluindo a
prestação de serviços.

Segundo o disposto no n° 2, do CISPC, consideram-se actividades de pequena dimensão, as que


tenham um volume de negócios igual ou inferior a 2.500.000,00 MZN.

Deve-se referir que este imposto é de carácter optativo7, o que por si só retira a coercibilidade de
os pequenos contribuintes sujeitarem-se a este imposto, diferentemente do que acontece em sede
de outros impostos sobre o rendimento.

Embora seja um imposto optativo, o mesmo contém todas as características gerais de um


imposto, pois os caracteres fundamentais deste imposto encontram-se na incidência, nas taxas,
nas obrigações mais simplificadas, entre outras.

Âmbito de Aplicação e Actividades Abrangidas

Nos termos do n° 1 do Art. 3 do CISPC conjugado com o Art. 1 do RISPC, o ISPC é um imposto
sobre os rendimentos e de âmbito nacional, tendo sido criado com o objectivo de abarcar os
pequenos contribuintes que exerçam a actividade comercial e que pelo volume do seu negócio
não necessitam de ter uma organização de documentos fiscais comparativamente aos grandes
contribuintes.

O ISPC aplica-se às seguintes actividades:

 Comércio agrícola;
 Comércio ambulante;
 Comércio geral por grosso;
 Comércio a retalho e misto;
 Comércio em bancas, barracas, quiosques, cantinas, lojas e tendas; e
 A prestação de serviços.

Critérios de Determinação de Actividades de Pequena Dimensão

Para efeitos do ISPC8, são consideradas actividades de pequena dimensão, aquelas cujo volume
de negócios anual é inferior ou igual a 2.500.000,00 MZN.

7
N° 3 do Art. 2 da Lei n.° 5/2009. De 12 de Janeiro.
8
Nº 2 do Art. 2 do CISPC.
EBRAHIM BHIKHÁ – E-mail: ebhikha@gmail.com

Requisitos de Enquadramento no ISPC

Para os sujeitos passivos que iniciem as suas actividades pela primeira vez ou aqueles que já
vinham exercendo, podem optar pelo ISPC9, desde que, para além de possuírem um volume de
negócios anual inferior ou igual a 2.500.000,00 MZN, não sejam, face às normas dos Códigos do
IRPS e IRPC ou de outra legislação relevante, obrigados a possuir contabilidade organizada.

Exclusão de Aplicação do IVA, IRPS e IRPC

Os Sujeitos Passivos que optem pelo ISPC ficam fora do âmbito de sujeição do IRPS, IRPC e
IVA, estando apenas sujeitos ao pagamento do ISPC e ao cumprimento de outras obrigações
acessórias a ela inerentes.

No caso de pessoas singulares que, em sede do IRPS, obtenham para além de rendimentos da
segunda categoria10, outros rendimentos que se enquadrem nas restantes categorias deste
imposto, só podem optar pela tributação em ISPC relativamente aos rendimentos da segunda
categoria, devendo continuar a cumprir com as obrigações inerentes aos restantes rendimentos
em sede do IRPS11.

Taxas e Carga Tributária do ISPC

A taxa de ISPC é de 75.000,00 MZN12, repartida em quatro prestações trimestrais de 18.750,00


MZN cada. Pode, alternativamente ser aplicada a taxa de 3% sobre o volume de negócios anual,
para os sujeitos passivos que não pretendam aderir à taxa específica.

Apesar do ISPC ser anual, o pagamento do mesmo tem periodicidade trimestral, onde o valor de
75.000,00 MZN é repartido em quatro prestações, equivalendo a 18.750,00 MZN por trimestre.

Nos termos do art. 6 do RISPC, caberá aos sujeitos passivos indicar na declaração de início de
actividade ou de alterações a taxa que pretendem aplicar.

É permitido aos contribuintes alterar a taxa aplicável escolhida, até ao último dia útil do mês de
Dezembro de cada ano, devendo para o efeito preencher o respectivo modelo de declaração para
o efeito.

O apuramento do ISPC é feito pelo próprio sujeito passivo, com base em documentos e registos
simplificados.

9
De acordo com a alínea a) e b) do n.º 1 do Art. 4 do CISPC.
10
Trata-se de rendimentos profissionais e empresariais, previstos no Art. 8 e 9 do CIRPS.
11
De acordo com o n.º 2 do Art. 5 do CISPC.
12
De acordo com o n.º 1 e 2 do Art. 8 do CISPC.
EBRAHIM BHIKHÁ – E-mail: ebhikha@gmail.com

Para os sujeitos passivos que iniciem a sua actividade e optem pela primeira vez pelo ISPC, é
concedido um benefício de redução da taxa em 50%, no primeiro ano do exercício da
actividade13.

Isenção

Nos termos do Art. 7 do CISPC, ficam isentos do ISPC os sujeitos passivos com um volume de
negócios equivalente a 36 salários mínimos14, do salário mínimo mais elevado em 31 de
Dezembro do ano anterior ao que respeitam os negócios.

Obrigação de Pagamento

O ISPC é pago trimestralmente15, sendo o valor das taxas específicas repartido em quatro
prestações de igual valor.

Existindo a possibilidade ainda de ser pago numa única prestação no mês de Abril, sendo que
nos meses seguintes apenas existe a obrigação de entregar a Guia de Pagamento para efeitos de
controlo16.

Processo de Cobrança do ISPC


Nos termos do nº 1 do Art. 17 do RISPC, o pagamento do ISPC deve ser efectuado nas unidades
orgânicas locais da AT, entendendo-se como tal as Direcções de cada Área Fiscal, os Postos de
Fronteira, os Postos Fiscais e os Postos de Cobrança.

De modo a facilitar mais ainda o pagamento do imposto devido nas zonas mais recônditas e
minimizar os custos de deslocação dos contribuintes para os locais de pagamento, prevendo-se
que possa ser efectuado junto dos postos de cobrança a funcionar junto das Administrações
Locais17.

* Texto adaptado do Trabalho de Licenciatura em Direito do autor, apresentado no Instituto Superior de Ciências de Tecnologia
de Moçambique, com o título “Desafios na Implementação do Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes, em
Moçambique”, onde se encontram citadas as respectivas fontes usadas na pesquisa.

13
Segundo o disposto no n.º 3 do Art. 8 do CISPC.
14
Salário mínimo 2009 (2.250.00 MZN), Aprovado pelo Diploma Ministerial n.° 129/2009, de 11 de Junho, Salário
para os trabalhadores que desenvolvem actividades integradas no Sector 7 – Actividades dos Serviços não
Financeiros.
15
De acordo com o n.º 1 do Art. 15 do RISPC.
16
De acordo com o n.º 3 do Art. 15 do RISPC.
17
De acordo com o n.º 2 do Art. 17 do RISPC.

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