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literatura professor
Abaurre • Pontara • Cesila
ROMANTISMO: ORIGENS
E CHEGADA A PORTUGAL
Ossian na margem do Lora invocando os deuses ao som de sua harpa, 1801, de François Gérard. Óleo sobre tela, 184,5 x 194,5 cm. Os poemas
épicos fecundaram a imaginação dos românticos, que buscavam reconstruir, em verso e prosa, indivíduos heroicos movidos pela paixão.
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CAPÍTULOs
1 • 2 • 3 • 4 • 5 • 6 • 7 • 8 • 9 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 1
Ventos de mudança
sopram na Europa
2
Objetivos
Ao final deste módulo,
você deverá ser capaz de:
■ saber o que foi o
Romantismo;
■ identificar as principais
características de um
texto romântico;
■ reconhecer os autores
portugueses que
se destacaram na
produção literária do
período;
■ diferenciar as
tendências definidoras
das três gerações
românticas em Portugal.
Vista como um todo, esta literatura valorizava
as emoções sentidas e a atmosfera pressentida
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Capítulo
1 O nascimento da
estética romântica
Figura 1 • A destruição de
um navio de transporte,
1810, de William Turner.
Óleo sobre tela, 173 ×
245 cm. A violência da Leitura da imagem
tempestade retratada
pelo artista é característi-
ca das obras românticas, 1 Descreva a cena retratada na tela de William Turner.
em que as emoções são
sempre apresentadas em O quadro registra o naufrágio de um navio. Enquanto a embarcação virada afunda,
primeiro plano.
alguns passageiros tentam salvar-se em uma espécie de “jangada” feita de destroços.
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2 Como o artista caracteriza a natureza? E os seres humanos, como são retratados?
A natureza, representada pelo mar agitado, mostra-se tempestuosa. As ondas altas
destruição pode ser observado no navio que afunda em meio às ondas. As pessoas
sugerida pelo branco da espuma das ondas violentas; o céu foi pintado em tons
Leitura do texto
Agora leia uma cena do romance O morro dos ventos uivantes, da escritora e poe-
tisa britânica Emily Brontë (1818-1848). Ela mostra o reencontro de dois amantes
separados na juventude, Catherine e Heathcliff. A cena ocorre momentos antes da
morte da moça.
Catherine e Heathcliff
(...) Catherine fitava a porta do quarto com uma intensidade ávida. E
como Heathcliff não atinava logo com a entrada do aposento onde estáva-
mos, ela me fez um gesto para o introduzir. Quando, porém, me aproximei
da porta, já ele a alcançara; num ou dois passos chegou ao lado da moça e
a tomou nos braços.
Durante uns cinco minutos Heathcliff não falou nem soltou sua pre-
sa; e naquele momento gastou decerto mais beijos do que todos que
já dera antes, na vida inteira. Fora, porém, Catherine que o beijara
primeiro; vi claramente que ele mal podia suportar olhá-la no rosto,
consumido de dor. No instante em que a abraçou, convenceu-se, igual
a mim, “de que não havia ali esperança de cura”, de que ela já estava
irremediavelmente fadada à morte.
– Oh, Cathy! Oh, minha vida! Como hei de suportar isto? – foi a pri-
meira frase que ele disse, sem cuidar em esconder o seu desespero. Depois
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olhou-a com tal intensidade que, pensei, tanta força de olhar lhe haveria
de encher os olhos de lágrimas; seus olhos, porém, queimavam de angústia
e não se umedeceram.
(...) Heathcliff dobrara um joelho a fim de abraçá-la. Procurou erguer-se;
ela, entretanto, o segurou pelos cabelos, mantendo-o preso.
– Queria mantê-lo assim – continuou amargamente – até que nós dois
morrêssemos! Não me importava que você sofresse. Pouco me importo com
os seus sofrimentos. Por que não há de você sofrer? Eu sofro! Quer me es-
quecer? Há de ser feliz depois que eu estiver debaixo da terra? (...)
– Não me torture, até me pôr tão louco quanto você! – bradou ele, li-
bertando a cabeça e rilhando os dentes. Para um espectador indiferente,
compunham os dois um quadro estranho e assustador. (...) As faces bran-
cas, os lábios exangues, o olhar faiscante, exprimiam uma selvagem sede
de vingança; nos dedos crispados ainda tinha um pouco dos cabelos que
agarrara. Quanto a Heathcliff, erguera-se apoiado a uma das mãos, mas
com a outra lhe segurava o braço; ao soltá-lo, deixou quatro marcas bem
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5 Identifique, no diálogo entre Catherine e Heathcliff, as diferentes emoções e
sentimentos experimentados pelas personagens.
Catherine é tomada pelo desejo de vingança: quer que Heathcliff sofra tanto
quanto a fez sofrer. No fim, manifesta certo desconsolo por saber que não pode
(“Queria apenas que não nos separássemos nunca”). Ele mostra-se desesperado,
incontroláveis da natureza.
Sala de cinema
1 A Revolução Francesa
O dia 14 de julho de 1789 amanheceu nublado em Paris. Sinal da tempestade
que viria quando a multidão, reunida na frente do Hôtel de Ville, sede da prefeitu-
ra e local de reunião dos revoltosos, marchasse em direção à Bastilha.
Símbolo do despotismo, a prisão do Estado representava o poder da nobreza,
que, graças às cartas assinadas em branco pelo rei, para lá enviava seus desafetos.
Muitos deles nem chegavam a ser informados de seus “delitos”. A massa humana
que marchou rumo à Bastilha era composta de guardas, marceneiros, sapateiros,
diaristas, escultores, operários, negociantes de vinhos, chapeleiros, alfaiates e ou-
tros artesãos. Era o povo parisiense que pegava em armas e, à força, transformava
em realidade os ideais defendidos pelos filósofos iluministas.
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A Revolução Francesa havia começado. Suas consequências mudariam o perfil
político, social e cultural da Europa. O Século das Luzes chegara ao fim.
Professor: No filme há
cenas fortes e violentas Sala de cinema
Reprodução
que podem causar des-
conforto por sua bruta- Filme apontado pela crítica especializada como a mais didáti-
lidade. ca produção sobre os primeiros anos da Revolução Francesa.
Danton, um dos artífices da Revolução, era chefe do grupo
denominado Indulgentes, que pedia o fim das perseguições
políticas. Ao criticar as ações de Robespierre e os rumos do
movimento, ele transformou-se em mais uma vítima do pe-
ríodo do “terror”.
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A liberdade guiando o povo
A tela de Eugène Delacroix ilustra a importância do povo para os artistas românticos.
Empilhados sob os pés de uma mulher sensual que simboliza a liberdade, os corpos lem-
bram que o movimento transformador do cenário social europeu custou a vida de muitos
cidadãos parisienses. O olhar decidido das pessoas registra a escolha de viver e morrer
pelo direito à liberdade, à igualdade e à fraternidade.
Figura 4 • A liberdade
guiando o povo, 1830,
de Eugène Delacroix.
Óleo sobre tela, 260 ×
325 cm.
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2 Romantismo: a força dos sentimentos
Até o século XVIII, a arte sempre esteve voltada para os nobres e seus valores.
Quando o burguês conquista poder político, precisa criar suas referências artísti-
cas, definir padrões estéticos nos quais se reconheça e que o diferenciem da nobre-
za deposta. É nesse contexto que o movimento romântico surge, provocando uma
verdadeira revolução na produção artística.
Para romper com a postura racional da estética árcade, o Romantismo interpre-
ta a realidade pelo filtro da emoção. Combinada à originalidade e ao subjetivismo,
a expressão das emoções definirá os princípios da nova produção artística.
O romântico considera a imaginação superior à razão e à beleza, porque ela
não conhece limites. Por esse motivo, a originalidade toma o lugar da imitação,
que desde a Antiguidade clássica orientava o olhar do artista para o mundo, no
processo de criação. Livres da influência passada, os novos artistas encontram na
própria individualidade, traduzida pelas emoções que sentem, as referências para
a interpretação da realidade.
Isto é essencial!
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3.1 Os agentes do discurso
O contexto de produção modifica-se muito durante o movimento romântico.
O desaparecimento da figura do mecenas contribui para a profissionalização dos
artistas. Os escritores românticos, pela primeira vez na história, escrevem para so-
breviver. Por esse motivo, procuram conciliar dois objetivos distintos: divulgar os
valores da burguesia e ao mesmo tempo divertir os leitores.
Esse é também um novo contexto de circulação para a literatura. Como vimos,
nos séculos XVII e XVIII, o número de leitores era bem limitado, e muitas vezes
os textos eram lidos somente pelos nobres e por outros escritores. Com a possibi-
lidade de publicação em veículos de grande circulação, como os jornais e revistas,
o alcance da literatura se amplia bastante.
Do rodapé ao romance
Album/AKG-Images/Latinstock
Para aumentar as vendas dos jornais franceses,
que enfrentavam uma crise por volta de 1830,
surgiu uma nova forma de narrativa: o folhetim.
Publicadas no rodapé (feuilleton, em francês) dos
jornais, as narrativas apresentavam muitas peripé-
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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As narrativas do século XIX cativam ainda um público específico: as leitoras,
mulheres burguesas que se beneficiam do acesso à escola, facilitado pelo proces-
so de urbanização crescente. Ao lado das aulas de música, costura e bordado, a
leitura passa a ser mais uma atividade constante nos ambientes familiares.
Esse público também é considerado por quem escreve romances. As his-
tórias das heroínas e dos amores idealizados alimentam a imaginação das
jovens sonhadoras em relação ao casamento e à criação de suas próprias
famílias. Nesse sentido, os romances românticos realizam a educação senti-
mental das mulheres e ajudam a divulgar a imagem da família como base da
sociedade burguesa.
The Bridgeman/Keystone
Figura 6 • Leitura em voz alta, 1883, de Julius Leblanc Stewart. Óleo sobre tela, 96,5 × 130,8 cm. Os romances alimentam a
imaginação das jovens.
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coletivas. É essa mentalidade que ele deseja mudar e contra a qual se manifesta.
De certa forma, seu sentimento de desajustamento social é verdadeiro e nasce do
confronto entre os valores que defende, centrados no subjetivismo e na emoção, e
os que organizam a sociedade em que vive. O embate entre esses dois sistemas de
valores ganha forma em um dos temas mais explorados pela literatura romântica:
a fuga da realidade.
Nesse contexto, a morte passa a ser vista como possibilidade de escapar do
real e, por isso, é idealizada. Ela se manifesta como opção de alívio para os
males do mundo ou para o encontro definitivo dos amantes, separados pelos
obstáculos da realidade.
Além da morte, o mundo dos sonhos torna-se um espaço de fuga para o
romântico. Nele, o escritor projeta suas utopias (pessoais e sociais). O passa-
do, apresentado de modo completamente idealizado, também desempenha a
mesma função: acolhe o olhar subjetivo desse autor que se sente deslocado em
seu ambiente social.
Os temas medievais ressurgem com força total. A Idade Média representa para
os românticos uma época em que a sociedade estava repleta de feitos heroicos,
sentimentos nobres e harmonia.
Recuperar o passado histórico significava, de certa forma, reconstruir os pas-
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Isto é essencial!
(...)
Esta é a cidade e eu sou um dos cidadãos. O que interessa aos outros a
mim interessa, políticas, guerras, mercados, jornais, escolas.
O presidente da câmara e os conselhos, bancos, tarifas, navios, fábricas,
mercadorias, armazéns, bens públicos e privados.
WHITMAN, Walt. Canto de mim mesmo. Trad. José Agostinho Baptista.
Lisboa: Assírio & Alvim, 1992. p. 117. (Fragmento.)
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3.6 Linguagem: a liberdade formal
A linguagem dos textos românticos é marcada pela liberdade formal. As fórmu-
las literárias, com rigorosos esquemas métricos e rimas, são abandonadas.
Para expressar o arrebatamento que caracteriza o olhar romântico para a reali-
dade, os escritores recorrem à adjetivação abundante. Outro recurso importante
para traduzir os sentimentos é a pontuação. Nos poemas e romances românticos, o
uso de exclamações, interrogações e reticências procura fazer com que o leitor re-
conheça as emoções, angústias e aflições que tomam conta de quem as expressa.
Todas essas características apontam para a preocupação em traduzir a subjetivi
dade, de maneira que caracterize o olhar específico de um autor para o mundo e as-
segure que ele se manifeste de modo único, diferente de todos os outros escritores.
Mignon
Conheces o país onde os limões florescem
E laranjas de ouro acendem a folhagem?
Sopra do céu azul uma doce viragem
Junto ao loureiro altivo os mitos adormecem.
Conheces o país?
É onde, para onde
Eu quisera ir contigo, amado! Longe! Longe!
Glossário (...)
Viragem. V e n t o Conheces a montanha e a vereda de bruma,
fresco e suave que A alimária que busca a enevoada senda?
sopra do mar; brisa
marinha.
Nas grutas ainda vive o dragão da legenda,
Bruma. Nevoeiro, A rocha cai em ponta e à roda a onda espuma,
névoa, neblina. Conheces a montanha?
Alimária. Qual É onde, para onde
quer animal, espe-
cialmente quadrú- Nosso caminho, pai nos chama. Vamos. Longe.
pede. GOETHE, W. Mignon. Em: CAMPOS, Haroldo de.
Senda. Caminho O arco-íris branco: ensaios de literatura e cultura. Rio de Janeiro: Imago, 1997. (Fragmento.)
estreito usado pelo
gado de tamanho
pequeno. Goethe desenha o retrato da pátria idealizada por meio de seus elementos carac-
Legenda. Lenda. terísticos: a vegetação define o espaço que dá identidade ao eu lírico e ao qual deseja
retornar. Lá, em meio a limoeiros e laranjeiras, a promessa de felicidade é maior.
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A temática de valorização da pátria e de busca no passado histórico dos símbo-
los de identidade de um povo se espalhou da Alemanha para o resto da Europa.
Na Inglaterra, Sir Walter Scott (1771-1832) deu forma ao romance histórico,
narrativa em que a recriação do passado funciona como pretexto para associar os
valores burgueses aos símbolos da nacionalidade.
Em Portugal, a onda nacionalista coincidiu com as mudanças decorrentes da
vinda da família real para o Brasil e as sanções sofridas após a decretação do Blo-
queio Continental por Napoleão. No Brasil, o sentimento nacionalista foi impul-
sionado pela proclamação da Independência, contexto mais do que favorável para
a afirmação da noção de pátria e a criação de uma identidade nacional.
Reprodução
exploraram temas sobrenaturais. As mais célebres histórias de terror ti-
veram origem nessa tendência romântica: O médico e o monstro, do es-
cocês Robert Louis Stevenson (1850-1894), e Frankenstein, da inglesa
Mary Shelley (1797-1851). A eles se juntaram os contos do alemão E. T.
Hoffman (1776-1822) e do norte-americano Edgar Allan Poe (1809-
1849), que se filiaram à tradição inglesa do romance gótico.
Sala de cinema
Essa adaptação para o cinema do livro de Mary Shelley conta com um elenco de
celebridades, no qual se destaca Robert de Niro como a criatura monstruosa trazi-
da à vida pelos experimentos do doutor Victor Frankenstein. Em uma época em que
os limites éticos da ciência voltam a ser objeto de discussão com as extraordinárias
descobertas no campo da genética e da reprodução humana, a história do cientis-
ta que procura meios para vencer a morte ganha nova vitalidade.
Figura 7 • Cartaz do filme Frankenstein de Mary
Shelley, direção de Kenneth Branagh. EUA, 1994.
15
um esforço extraordinário para sobreviver e resga-
Reprodução
tar sua dignidade após passar dezenove anos preso
pelo roubo de um pão. A história mostra a trajetó-
ria desse anti-herói que vive como um mártir da lei
e morre como um mártir da própria consciência.
Sala de cinema
Adaptação de Hollywood para o romance de Victor
Hugo. O Bem enfrenta o Mal numa típica relação ro-
mântica. O cenário instigante do filme é o das ativida-
des revolucionárias de 1832. O drama estabelecido no
enredo responsabiliza a Justiça e outras instituições
pelas desigualdades sociais.
Sala de cinema
Entertainment Pictures/
Zuma Press/Keystone
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Exercícios dos conceitos
Sala de cinema
MGM/Zuma Press/Keystone
O filme narra a história de um sentimento tão forte que
enfrenta as barreiras sociais e morais de sua época. A pai-
xão entre Marguerite Gautier, bela cortesã dos salões pa-
risienses, e Armand Duval, rapaz dividido entre o amor
e o preconceito, é o tema desse romance de Alexandre
Dumas Filho, narrado em primeira pessoa por um narra-
dor-testemunha. Apaixonados, os jovens lutam contra a
hipocrisia da sociedade burguesa da época. Por Armand,
Marguerite abandona sua vida pregressa. Mas a felicida-
de dos dois não dura muito: os obstáculos levam à se-
paração dos amantes, e Marguerite, enfraquecida pela
tuberculose, morre longe de seu amado.
Cena do filme A Dama das Camélias, direção de George Cukor. EUA, 1937.
Greta Garbo imortalizou a personagem de Alexandre Dumas Filho ao
interpretá-la no cinema.
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Compreende, meu amigo? Vou morrer e do meu quarto ouço caminhar
no salão o guarda que meus credores lá colocaram para que nada seja levado
e para que nada me reste, caso eu não morra. Espero que eles aguardem pelo
meu fim para iniciar a venda.
Oh, os homens são impiedosos! Ou, talvez me engano, é Deus que é justo
e inflexível.
Pois bem, meu amado, você virá ao meu leilão, e comprará alguma coisa,
pois, se eu separar para você a menor coisa que seja, e se alguém souber dis-
so, serão capazes de acusá-lo por desvio de objetos confiscados.
Triste a vida que eu deixo!
Deus seria bom, se permitisse que eu o visse novamente antes de morrer!
Segundo todas as probabilidades, adeus, meu amigo. Perdoe-me se não es-
crevo mais longamente, mas aqueles que dizem que me curarão me esgotam
com sangrias e minha mão se recusa a escrever mais.
Marguerite Gautier
DUMAS FILHO, Alexandre. A Dama das Camélias. Trad. Caroline Chang.
Porto Alegre: L&PM, 2004. p. 32-34. (Fragmento.)
Armand (“meu amigo”, “querido”, “pobre amigo”), além das declarações sobre a
alegria que sente por ter recebido uma carta de seu amado e o desejo de revê-lo
ainda uma vez antes da morte, são evidências do amor que ela sente por ele.
pelos credores que confiscaram seus bens em nome das dívidas contraídas por ela.
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3 Depois de abandonado por Marguerite, sem saber os motivos que a levaram a
tomar tal atitude, Armand fica cego de ódio e tenta vingar-se, humilhando-a em
virtude de sua condição de cortesã. Depois, escreve à jovem pedindo perdão.
Releia a resposta dela ao pedido dele.
o jovem nutre por ela. Por isso, perdoa-o e parece, inclusive, alegrar-se com o “mal”
que ele lhe quis impingir. O perdão sincero da moça ao rapaz prova, mais uma vez,
entregues ao rapaz por uma amiga dela para que ele pudesse compreender
enorme, já que garante a ela o “retorno cotidiano aos únicos momentos felizes”
contínuo alívio”.
5 A Dama das Camélias abandona a vida de cortesã em nome de seu amor por
Armand, mas é obrigada a separar-se do rapaz. No final, morre distante dele
sem poder desfrutar da felicidade dessa paixão. De que maneira tal desfecho
revela a concepção moralista do romance, determinada pelo contexto em que
o autor viveu?
No romance, o amor é apresentado como o sentimento capaz de regenerar o
ser humano. Marguerite encontra sua redenção no amor de Armand, mas não a
final feliz para uma cortesã, ainda que ela tivesse sido purificada pelo amor.
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Retomada dos conceitos Professor: Consulte o Banco de Questões e incentive
os alunos a usar o Simulador de Testes.
2 (UFPA)
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Devagarinho, com cuidado, atrás daquela bonança
Do meu tempo encantado de criança...
Os versos acima foram escritos pelo poeta paraense Gastão Vieira e musicados
pelo compositor Waldemar Henrique, em 1932. Esse poema apresenta sobrevi-
vências do Romantismo. Leia-o com atenção e explique, pelo menos, duas dessas
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
criança” ou “Ah! Se eu fosse ainda criança”. A repetição de um refrão, por sua vez,
e angústia do eu lírico.
3 (Uesb-BA) É correto afirmar que a natureza, na estética romântica, é vista Para o poeta românti-
co, a natureza é uma
como: espécie de confiden-
a) uma confidente, que se modifica de acordo com o estado emocional do poe- te, que se modifica de
acordo com seu esta-
ta, dividindo com ele seus pesares e suas alegrias. do emocional, ima-
gem que contrasta
b) um pano de fundo, livre das agitações mundanas, que não interfere propria- com a natureza cons-
mente nos estados de alma dos poetas. truída pelos árcades,
para os quais o cená-
c) o elemento mais importante do quadro desenhado, pela precisão e pelo rigor rio natural era apenas
com que ela é descrita, de acordo com a realidade brasileira. decorativo, sem refle-
tir o momento vivido
d) um santuário onde se deposita a religiosidade do poeta, mostrada de forma pelo poeta.
subjetiva por meio de símbolos sacros.
e) um cenário estável e equilibrado, geralmente diurno e campestre, em que os
pastores cumprem suas funções e também descansam.
21
Esta crônica antecede de cerca de três anos o desfecho de Canudos, que seria
assunto de Os sertões, de Euclides da Cunha. Utilize-a para responder às ques-
tões 4, 5 e 6.
22 de julho de 1894
Canção de piratas
Telegrama da Bahia refere que o Conselheiro está em Canudos com 2000
homens (dous mil homens) perfeitamente armados. Que Conselheiro? O
Conselheiro. Não lhe ponhas nome algum, que é sair da poesia e do mis-
tério. É o Conselheiro, um homem, dizem que fanático, levando consigo a
toda a parte aqueles dous mil legionários. (...) Jornais e telegramas dizem
dos clavinoteiros e dos sequazes do Conselheiro que são criminosos; nem
outra palavra pode sair de cérebros alinhados, registrados, qualificados cé-
rebros eleitores e contribuintes. Para nós, artistas, é a renascença, é um raio
de sol que através da chuva miúda e aborrecida, vem dourar-nos a janela e
a alma. É a poesia que nos levanta do meio da prosa chilra e dura deste fim
22
4 (Ibmec-SP) Ao comparar o Conselheiro e seus seguidores aos piratas das can- Machado de Assis,
ções românticas, Machado de Assis: ao idealizar Antônio
Conselheiro e seus
a) desconsidera a importância da guerra dos Canudos. seguidores, revela
uma visão positiva
b) mostra-se mais compreensivo com os sertanejos, ao conferir-lhes uma feição desses homens e de
idealizada. suas ações.
5 (Ibmec-SP)
Das características do Romantismo apontadas abaixo, assinale a que melhor A definição de Ma
explica a definição de Machado em sua crônica. chado associa ao
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banditismo e à pi-
a) Busca de uma nova ordem social, moral, religiosa e econômica. rataria o interesse
pelo exótico e pela
b) Busca das razões do coração em lugar do racionalismo. aventura que tanto
caracterizou as obras
c) Ênfase à vida sentimental, valorização do indivíduo. românticas.
6 (Ibmec-SP) Assinale o excerto de Os sertões que apresenta características seme- Na alternativa assi-
nalada, a resistência
lhantes às do herói romântico. dos que permane-
ceram em Canudos
a) “Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma arma, nem um até o último instante,
peito resfolegante de campeador domado: mulheres, sem-número de mu- sacrificando-se pelo
lheres, velhas espectrais, moças envelhecidas, velhas e moças indistintas na ideal em que acredi-
tavam, assemelha-
mesma fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris des- -se às características
nalgados, filhos encarapitados às costas. Velhos, sem-número de velhos; raros presentes nos heróis
homens, enfermos opilados, faces túmidas e mortas, de cera, bustos dobra- românticos.
dos, andar cambaleante.”
b) “(...) o jagunço é tão inapto para apreender a forma republicana como a mo-
nárquico-constitucional. Ambas lhe são abstrações inacessíveis. É espontanea
mente adversário de ambas. Está na fase evolutiva em que só é conceptível o
império de um chefe sacerdotal ou guerreiro.”
c) “Paranoico indiferente, este dizer, talvez, mesmo não lhe possa ser ajustado
inteiro. A regressão ideativa que patenteou, caracterizando-lhe o tempera-
mento vesânico, é certo, um caso notável de degenerescência (...).”
d) “(...) Espécie de grande homem pelo avesso, Antônio Conselheiro reunia no
misticismo doentio todos os erros e superstições que formam o coeficiente de
nossa nacionalidade (...).”
e) “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao
Glossário
esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do
termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defenso- Vesânico. Pertur
bado mental.
res, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e
uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.”
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7 (UFRJ) O sofrimento amoroso é frequente nas obras dos poetas românticos,
como se pode observar abaixo.
Se se morre de amor!
(...)
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compr’ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!
(...)
DIAS, Gonçalves. Poemas de Gonçalves Dias. São Paulo: Cultrix, [s.d.].
8 (Cesgranrio-RJ)
Pátria minha
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei (...)
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo (...)
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Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Vinicius de Moraes (Trechos)
Assinale a única característica romântica não presente nesse texto: No poema não há
menção a problemas
a) Preocupação com o eu lírico, através da expressão de emoções pessoais. sociais brasileiros.
b) Valoração de elementos da natureza, como forma de exaltação da terra brasi-
leira.
c) Sentimentos de saudade e nostalgia, causados pela dor do exílio.
d) Preocupação social, através da menção a problemas brasileiros.
e) Abandono do ideal purista dos neoclássicos na prevalência do conteúdo so-
bre a forma.
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9 (UFF-RJ) Justifique, em pelo menos uma frase completa, por que esse poema
pertence ao Romantismo.
Gabarito oficial. Trata-se de um poema confessional, em que o eu lírico confessa
o seu amor à sua musa; essa é uma das faces do subjetivismo característico do
Romantismo.
Na minha terra
Amo o vento da noite sussurrante
A tremer nos pinheiros
E a cantiga do pobre caminhante
No rancho dos tropeiros;
E os monótonos sons de uma viola
a menção à palidez da lua e da donzela como ideais de beleza são traços típicos
do Romantismo.
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Capítulo
2 O Romantismo
em Portugal
Coleção Particular
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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2 Compare os espaços ocupados pela natureza e pelas pessoas no quadro. O que
se pode concluir a respeito do cenário natural nessa comparação?
No quadro, é destinado à natureza um espaço bem maior que aos seres humanos.
Isso sugere que ela tem um papel importante na arte romântica. Embora o foco da
na tela.
Leitura do texto
Agora leia este trecho de um romance do autor português Camilo Castelo Branco.
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Chorava, chorava! Assim eu lhe soubesse dizer o doloroso sobressalto que Glossário
me causaram aquelas linhas, de propósito procuradas, e lidas com amargura Acarear enojos.
e respeito e, ao mesmo tempo, ódio. Ódio, sim... A tempo ver-se-ão se é Causar repulsa.
perdoável o ódio, ou se antes me não fora melhor abrir mão desde já de uma
história que me pode acarear enojos dos frios julgadores do coração, e das
sentenças que eu aqui lavrar contra a falsa virtude de homens, feitos bárba-
ros, em nome da sua honra.
BRANCO, Camilo Castelo. Amor de perdição.
São Paulo: Moderna, 1994. p. 21-22.
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amando”. Isso significa que, provavelmente, seu triste destino foi desencadeado
5 O autor busca um diálogo com seus leitores, sobretudo com suas leitoras. Que
características ele atribui a esse público? Justifique.
Segundo Camilo, tanto os leitores quanto as leitoras chorariam ao conhecer a
Ele pressupõe, portanto, que seus leitores são muito emotivos e se solidarizariam
O encontro dos dois parece ser algo feito às escondidas, como se seu amor fosse
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1 O Romantismo português
No início do século XIX, Portugal precisava enfrentar uma séria crise político-
-econômica. Vinha da França a ameaça imediata: o imperador Napoleão decretara
o Bloqueio Continental e exigia que a Coroa portuguesa rompesse relações comer-
ciais com a Inglaterra, sua aliada histórica.
A desobediência portuguesa trouxe a certeza da invasão do país pelas tropas fran-
cesas. Para o rei, Dom João VI, e sua corte, a única saída era o mar: embarcados em
caravelas, os nobres portugueses fugiram para o Brasil. Para abrigar a Coroa portu-
guesa, a colônia foi elevada à condição de Reino Unido a Portugal e Algarve.
A mudança da família real para a
Kunsthistorisches Museum, Gemaeldegalerie, Viena, Áustria
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Por essa razão, embora ambos os autores sejam também influenciados pela forma-
ção clássica, priorizarão seus interesses para a recuperação do passado histórico portu-
guês, eminentemente medieval, que acentuará o caráter nacionalista de suas obras.
Não te amo
Não te amo, quero-te; o amar vem d’alma.
E eu n’alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai! não te amo, não!
Não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
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Garrett tematiza, nesse poema, a oposição amor × desejo, por meio de um
eu lírico que associa o último à perdição e à má sorte. O jogo de imagens pro-
posto no poema é bem interessante, porque mostra o empenho racional do eu
lírico em repelir um sentimento mais forte que ele próprio. Assim, entende-se
sua insistência em definir o que sente como querer e não amor, pois experi-
menta na alma a mesma ausência de vida que há em um jazigo. Afirma que
amor é vida, é sentimento do coração, e a sensação que o domina provoca nele
apenas medo e terror.
O Romantismo valoriza o amor espiritualizado e vê o desejo como uma mani-
festação dos baixos instintos do ser humano, devendo, portanto, ser condenado.
2.2 O teatro
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Autor de novelas e contos, a maioria publicada em periódicos, Alexandre Her-
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Uma natureza tempestuosa e soturna: assim se define o cenário preferido pe-
los poetas ultrarromânticos para a expressão de seus arroubos sentimentalistas.
Com a segunda geração romântica, a natureza assumirá basicamente duas carac-
terísticas: será paradisíaca, quando vislumbrada pelos amantes em um momento
de sonho (jamais como realidade), ou soturna, ao servir de refúgio final para os
desesperados sofredores.
Isto é essencial!
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Camilo também desenvolveu, em Portugal, um gênero que fazia grande sucesso
na Inglaterra: os romances de mistério, de terror. O macabro, o enredo complexo,
a intriga, a história de separações, reconhecimentos, vinganças, o excessivo e o
inverossímil marcam tais narrativas. Coisas espantosas (1862), O esqueleto (1865)
e O demônio de ouro (1874) são exemplos desse tipo de produção camiliana que
alcançou enorme popularidade junto aos leitores da época.
De modo geral, o ambiente narrativo criado por Camilo é a vila ou a aldeia
da província, onde se destaca o solar de um fidalgo representativo da nobreza
portuguesa anterior à Revolução Liberal do Porto. Em muitas narrativas, as
moças são enclausuradas por suas famílias em um convento. Há ainda a ta-
berna, onde circulam os tipos mais populares e onde são planejados assaltos
e assassinatos.
As personagens das novelas camilianas são sobreviventes de um Portugal an-
tigo: o comerciante com negócios no Brasil, o ferrador que trabalha para o fi-
dalgo e por ele arrisca a própria vida, um proprietário rural que vai para Lisboa
atuar como deputado. Sua caracterização é estereotipada, e isso favorece uma
identificação imediata entre os leitores e as personagens que povoam as muitas
narrativas do autor.
Foi nas novelas passionais que o talento de Camilo Castelo Branco atingiu o
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Exercícios dos conceitos
Leia o texto transcrito para responder às questões de 1 a 5.
Amor de perdição
Simão Botelho amava. Aí está uma palavra única, explicando o que pare-
cia absurda reforma aos dezessete anos.
Amava Simão uma sua vizinha, menina de quinze anos, rica herdeira,
regularmente bonita e bem-nascida. Da janela de seu quarto é que ele a vira
pela primeira vez, para amá-la sempre. Não ficara ela incólume da ferida
que fizera no coração do vizinho: amou-o também, e com mais seriedade
que o usual de seus anos. (...)
O magistrado e sua família eram odiosos ao pai de Teresa [de Albuquerque],
por questões de litígios, em que Domingos Botelho lhes deu sentenças contra.
(...) É , pois, evidente que o amor de Teresa, declinando de si o dever de obtem-
perar e sacrificar-se ao justo azedume de seu pai, era verdadeiro e forte.
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b) O que, no trecho, revela que esse amor é um sentimento arrebatado, caracte-
rístico dos romances românticos? Justifique.
O fato de ambos se apaixonarem à primeira vista de maneira irremediável,
como sugerem os trechos a seguir: “ele a vira pela primeira vez, para amá-la
sempre”; “amou-o também, e com mais seriedade que o usual de seus anos”.
Simão diante da violência com que sua amada é retirada da janela através
c) Há, no trecho, elementos típicos que fizeram esse modelo de narrativa cair no
gosto do público. Quais são eles?
O amor impossível entre um rapaz e uma moça pertencentes a famílias
que a moça e sua família têm prestígio e pertencem à burguesia, grupo social
fúria e impotência, já que nada pode fazer para “resgatá-la”. Nessa noite ele
sofrimento a Teresa.
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b) O narrador descreve a reação do jovem diante desse fato. Como essa des-
crição revela a natureza arrebatada e passional do amor que ele sente por
Teresa?
O narrador descreve com exagero as reações de Simão por meio de adjetivos
sentimentos.
5 A transformação vivida por Simão é exigida por uma concepção de amor que
define os romances românticos. Que concepção é essa? Explique.
No trecho, o amor é apresentado como o meio para a transformação e redenção
mostra incapaz de fazê-lo. No caso de Simão, é o amor por Teresa que o torna uma
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Professor: Consulte o Banco de Questões e incentive
os alunos a usar o Simulador de Testes. Retomada dos conceitos
As questões 1 e 2 tomam por base o fragmento seguinte.
Sim, leitor benévolo, e por esta ocasião te vou explicar como nós hoje em
dia fazemos a nossa literatura. Já me não importa guardar segredo; depois
desta desgraça, não me importa já nada. Saberás, pois, ó leitor, como nós
outros fazemos o que te fazemos ler.
Trata-se de um romance, de um drama. Cuidas que vamos estudar a His-
tória, a natureza, os monumentos, as pinturas, os sepulcros, os edifícios,
as memórias da época? Não seja pateta, senhor leitor, nem cuide que nós o
somos. Desenhar caracteres e situações do vivo da natureza, colori-los das
cores verdadeiras da História… isso é trabalho difícil, longo, delicado; exige
um estudo, um talento, e sobretudo um tato!... Não, senhor; a coisa faz-se
muito mais facilmente. Eu lhe explico.
Todo o drama e todo o romance precisa de:
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b) quais os principais defeitos, segundo Garrett, dos escritores que elaboravam
obras de tais gêneros?
Garrett apresenta, ironicamente, os seguintes defeitos encontrados nas obras
Eugénio Sue, de Vítor Hugo”); sujeição ao modismo (“gruda-as sobre uma folha
2 (Vunesp) No texto apresentado, Garrett se dirige mais uma vez ao leitor, de ma-
neira informal e descontraída, como se estivesse dialogando com ele. Baseado
nesta observação, demonstre de que modo o tom de informalidade se revela
da linguagem oral. O autor começa por tratar o leitor em segunda pessoa (“te vou
Texto I
O Vale de Santarém é um destes lugares privilegiados pela natureza, sítios
amenos e deleitosos em que as plantas, o ar, a situação, tudo está numa har-
monia suavíssima e perfeita; não há ali nada grandioso nem sublime, mas há
uma como simetria de cores, de sons, de disposição em tudo quanto se vê e
se sente, que não parece senão que a paz, a saúde, o sossego do espírito e o
repouso do coração devem viver ali, reinar ali um reinado de amor e bene-
volência. (...) Imagina-se por aqui o Éden que o primeiro homem habitou
com a sua inocência e com a virgindade do seu coração.
À esquerda do vale, e abrigado do norte pela montanha que ali se
corta quase a pique, está um maciço de verdura do mais belo viço e va-
riedade. (...)
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Para mais realçar a beleza do quadro, vê-se por entre um claro das árvores
a janela meio aberta de uma habitação antiga, mas não dilapidada – (...) A
janela é larga e baixa; parece mais ornada e também mais antiga que o resto
do edifício, que todavia mal se vê...
Almeida Garrett, Viagens na minha terra.
Texto II
Depois, fatigado do esforço supremo, [o rio] se estende sobre a terra, e
adormece numa linda bacia que a natureza formou, e onde o recebe como
um leito de noiva, sob as cortinas de trepadeiras e flores agrestes.
A vegetação nessas paragens ostentava outrora todo o seu luxo e vigor;
florestas virgens se estendiam ao longo das margens do rio, que corria no
meio das arcarias de verdura e dos capitéis formados pelos leques das pal-
meiras.
Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista,
tinha decorado para os dramas majestosos dos elementos, em que o homem
é apenas um simples comparsa. (...)
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3 (Unifesp) Lendo-se atentamente os textos I (de Almeida Garrett) e II (de José de Em sua descrição
Alencar), percebe-se que ambos os narradores se identificam quanto à atitude da natureza, Garrett
valoriza a quietude,
de admiração e louvor à natureza contemplada. Entretanto, verifica-se também, a serenidade, uma
entre os dois, uma diferença profunda e marcante no seu ato contemplativo, harmonia entre os
quanto aos valores atribuídos a essa natureza. Essa diferença é marcada: elementos, que é
tomada como está-
a) pela existência da vegetação. tica. Já Alencar põe
ênfase na potência,
b) pela avaliação da magnitude e da beleza do cenário. na grandiosidade,
no vigor dinâmico da
c) pela inclusão, na paisagem natural, da habitação humana. natureza. Assim, a di-
ferença atribuída aos
d) pelo predomínio das referências ao mundo vegetal sobre as referências ao cenários correspon-
mundo mineral (terra, rocha, montanha etc.). de à diversidade de
valores com base nos
e) pela explicitação da perda do paraíso terrestre. quais são julgados.
4 (Unicamp-SP, adaptada)
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campesina de Júlio Dinis aparece no fragmento transcrito, considerando o mo-
mento em que foi escrita.
O fato de esse romance estar inscrito na terceira geração romântica portuguesa,
momento em que já há indícios do Realismo, resulta na “atenuação” dos traços
mais exagerados da segunda geração. Nele, nota-se a fusão entre a subjetividade
ultrarromântica, o idealismo romântico e a capacidade de observação realista que
inspirou o autor a escrever. Há nessa novela um idealismo atenuado, esvaziado dos
destemperos sentimentais presentes, por exemplo, em Amor de perdição, de Camilo
Castelo Branco.
Eu não cessarei de dizer mal desta novela que tem a boçal inocência
de não devassar alcovas, a fim de que as senhoras a possam ler nas salas,
Como você pode notar, o autor faz referência a duas escolas literárias, o
Romantismo e o Realismo, para explicar como Amor de perdição produziria no
público leitor, por ocasião de sua reimpressão, uma reação completamente di-
ferente daquela produzida ao ser publicado pela primeira vez.
a) Identifique qual a reação do público leitor de cada uma das escolas, segundo
Camilo Castelo Branco.
O público do Romantismo comovia-se com a obra (“aljofarava com lágrimas
românticas”); o público realista considerava a obra cômica (“barrufando
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Leia os textos abaixo para responder às questões 6 e 7.
Eurico, o presbítero
Os raios derradeiros do sol desapareceram: o clarão avermelhado da tar-
de vai quase vencido pelo grande vulto da noite, que se alevanta do lado de
Septum. Nesse chão tenebroso do oriente a tua imagem serena e luminosa
surge a meus olhos, ó Hermengarda, semelhante à aparição do anjo da espe-
rança nas trevas do condenado.
E essa imagem é pura e sorri; orna-lhe a fronte a coroa das virgens; sobe-
-lhe ao rosto a vermelhidão do pudor; o amículo alvíssimo da inocência,
flutuando-lhe em volta dos membros, esconde-lhe as formas divinas, fazen-
do-as, porventura, suspeitar menos belas que a realidade.
É assim que eu te vejo em meus sonhos de noites de atroz saudade: mas,
em sonhos ou desenhada no vapor do crepúsculo, tu não és para mim mais
do que uma imagem celestial; uma recordação indecifrável; um consolo e ao
mesmo tempo um martírio.
Não eras tu emanação e reflexo do céu? Por que não ousaste, pois, volver
os olhos para o fundo abismo do meu amor? Verias que esse amor do poeta
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é maior que o de nenhum homem; porque é imenso, como o ideal, que ele
compreende; eterno, como o seu nome, que nunca perece.
Hermengarda, Hermengarda, eu amava-te muito! Adorava-te só no san-
tuário do meu coração, enquanto precisava de ajoelhar ante os altares para
orar ao Senhor. Qual era o melhor dos dois templos?
Foi depois que o teu desabou, que eu me acolhi ao outro para sempre.
Por que vens, pois, pedir-me adorações quando entre mim e ti está a Cruz
ensanguentada do Calvário; quando a mão inexorável do sacerdócio soldou
a cadeia da minha vida às lájeas frias da igreja; quando o primeiro passo
além do limiar desta será a perdição eterna?
Mas, ai de mim! essa imagem que parece sorrir-me nas solidões do espa-
ço está estampada unicamente na minha alma e reflete-se no céu do oriente
através destes olhos perturbados pela febre da loucura, que lhes queimou as
lágrimas.
HERCULANO, Alexandre. Eurico, o presbítero. Edição crítica, dirigida e prefaciada
por Vitorino Nemésio. 41. ed. Lisboa: Livraria Bertrand, [s.d.].
O missionário
Entregara-se, corpo e alma, à sedução da linda rapariga que lhe ocupara
o coração. A sua natureza ardente e apaixonada, extremamente sensual,
mal contida até então pela disciplina do Seminário e pelo ascetismo que
lhe dera a crença na sua predestinação, quisera saciar-se do gozo por muito
tempo desejado, e sempre impedido. Não seria filho de Pedro Ribeiro de
Morais, o devasso fazendeiro do Igarapé-mirim, se o seu cérebro não fosse
dominado por instintos egoísticos, que a privação de prazeres açulava e
que uma educação superficial não soubera subjugar. E como os senhores
padres do Seminário haviam pretendido destruir ou, ao menos, regular e
conter a ação determinante da hereditariedade psicofisiológica sobre o cé-
rebro do seminarista? Dando-lhe uma grande cultura de espírito, mas sob
um ponto de vista acanhado e restrito, que lhe excitara o instinto da pró-
pria conservação, o interesse individual, pondo-lhe diante dos olhos, como
supremo bem, a salvação da alma, e como meio único, o cuidado dessa
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mesma salvação. Que acontecera? No momento dado, impotente o freio
moral para conter a rebelião dos apetites, o instinto mais forte, o menos
nobre, assenhoreara-se daquele temperamento de matuto, disfarçado em
padre de S. Sulpício. Em outras circunstâncias, colocado em meio diverso,
talvez que padre Antônio de Morais viesse a ser um santo, no sentido pu-
ramente católico da palavra, talvez que viesse a realizar a aspiração da sua
mocidade, deslumbrando o mundo com o fulgor das suas virtudes ascéti-
cas e dos seus sacrifícios inauditos. Mas nos sertões do Amazonas, numa
sociedade quase rudimentar, sem moral, sem educação... vivendo no meio
da mais completa liberdade de costumes, sem a coação da opinião pública,
sem a disciplina duma autoridade espiritual fortemente constituída... sem
estímulos e sem apoio... devia cair na regra geral dos seus colegas de sacer-
dócio, sob a influência enervante e corruptora do isolamento, e entregara-
-se ao vício e à depravação, perdendo o senso moral e rebaixando-se ao
nível dos indivíduos que fora chamado a dirigir.
Esquecera o seu caráter sacerdotal, a sua missão e a reputação do seu
nome, para mergulhar-se nas ardentes sensualidades dum amor físico, por-
que a formosa Clarinha não podia oferecer-lhe outros atrativos além dos seus
6 (Vunesp, adaptada) A visão que o amante tem de sua amada constitui um dos
temas eternos da literatura. Uma leitura comparativa dos dois fragmentos apre-
sentados, que exploram tal tema, nos revela dois perfis bastante distintos de
mulher. Considerando esta informação:
a) aponte a diferença que há entre Hermengarda e Clarinha, no que diz respeito
ao predomínio dos traços físicos sobre os espirituais, ou vice-versa, segundo
as visões de seus respectivos amantes.
Na caracterização de Hermengarda predominam os traços espirituais; na
outros atrativos”.
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7 (Vunesp) Em cada fragmento apresentado encontramos o protagonista envolvido
por fortes sentimentos de amor e de fé religiosa. Com base nesta observação:
a) descreva o que há de comum nas reações dos dois religiosos ao viverem tais
sentimentos.
Os dois religiosos encontram-se em crise, entre as censuras do espírito (fé
o primeiro desabou.
Texto I
Uns lindos olhos, vivos, bem rasgados,
Um garbo senhoril, nevada alvura,
Metal de voz que enleva de doçura,
Dentes de aljôfar, em rubi cravados.
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Texto II
Este inferno de amar
Este inferno de amar – como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de ela apagar?
Almeida Garrett
No Romantismo, são 10 (Unifesp) Tema bastante recorrente nas literaturas românticas portuguesa e
características funda- brasileira, o amor impossível aparece em personagens que encarnam o modelo
mentais o sentimen-
talismo e a idealiza- romântico, cujas características são:
ção do amor.
a) o sentimentalismo e a idealização do amor.
b) os jogos de interesses e a racionalidade.
c) o subjetivismo e o nacionalismo.
d) o egocentrismo e o amor subordinado a interesses sociais.
e) a introspecção psicológica e a idealização da mulher.
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Exercício de integração
O trecho a seguir analisa a origem do termo Romantismo e a relação entre as nar-
rativas românticas e as manifestações literárias produzidas durante a Idade Média.
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Navegando no módulo
romantismo
Valores
Idealização
burgueses
LITERATURA
(nacionalismo) (sentimentalismo) feminina
Demoníaca,
Fuga do real
Comportamento
para um
heroico
mundo onírico
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