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“Todas as doenças começam no aparelho digestivo”

Hipócrates (460 - 377 a.C.)


Sobre a autora
Dra. Denise de Carvalho

Formada em Medicina pela PUC


de Campinas, fellow no Hospital
Clinic, em Barcelona, e especialista
em endoscopia digestiva pelo
Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de
São Paulo. É coautora do Tratado
de Endoscopia Digestiva da USP,
membro do Instituto de Medicina
Funcional Americano, palestrante
nas áreas de sistema digestivo,
microbiota e medicina funcional.

Na Jolivi, conduz a série mensal Corpo Saudável e os programas


Nova Mulher e Você Mais Jovem.
Índice

Parte 1 - Senhoras e senhores, eu lhes apresento as bactérias...4

Doenças autoimunes x microbiota intestinal..................................5

Parte 2 - Como restaurar seu intestino .......................................10

Estratégias de mudanças de hábitos...........................................10

Estratégias suplementares...........................................................13

Parte 3 - O estilo de vida moderno “mata” o intestino..................23


Parte 1 - Senhoras e senhores, eu lhes
apresento as bactérias

Há mais de dois mil anos, Hipócrates (460 - 377 a.C.), considerado o pai da
medicina, afirmou que todas as doenças começam no aparelho digestivo. Muitos
anos foram necessários para que a ciência e a prática médica entenderem o
quão certo estava esse filósofo e médico grego, que me inspira diariamente.

O fato é que muitos estudiosos, atualmente, acreditam que o maior desafio


da medicina do século XXI será manter e restaurar a integridade do aparelho
digestivo.

Não foi à toa que eu, Drª Denise de Carvalho, me especializei no trato digestivo,
mas, hoje, cuido das pessoas com um olhar mais carinhoso, mais integrativo.

Nós não somos apenas órgãos e sistemas. A medicina — principalmente ela


— não pode nos reduzir a isso. Portanto, sigo em minha busca incessante por
uma prática mais humana, seguindo os ensinamentos de Hipócrates.

Tudo aquilo que venho estudando e praticando me faz concordar com o pai
da medicina e prestar uma atenção especial nos intestinos, sem perder a
ênfase integrativa e carinhosa. Dessa forma, considero que sou uma profunda
conhecedora da microbiota intestinal.

É possível dizer que existem mais bactérias do que seres humanos neste
planeta chamado Terra. O intestino humano contém 10 vezes mais bactérias do
que todas as células do corpo, com mais de 400 espécies conhecidas. Imagine
quantas bactérias, então, convivem dentro da sua casa, do seu condomínio,
da sua cidade… no mundo todo!

O conhecimento sobre o papel da microbiota é bastante recente. Entre suas


principais ações, eu destaco:

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• Promoção da função gastrointestinal normal;

• Proteção contra infecções; e

• Regulação do metabolismo.

Além disso, é no sistema gastrointestinal que estão 75% do nosso sistema


imunológico.

Para algumas pessoas, essas informações bastam para que o cuidado com
a microbiota seja maior e priorizado. Porém, se você ainda precisa de mais
informações para se convencer, vem comigo.

Microbiota desregulada, a doença bate na porta


A desregulação da microbiota é associada a diversas doenças, como a
depressão, e também às patologias autoimunes.

Doenças autoimunes x microbiota


intestinal

O mundo ocidental tem visto um aumento significativo na incidência de doenças


autoimunes e alergias neste último século.

Essas doenças caracterizam-se por uma resposta anormal da imunidade que


deveria nos defender de ataques externos (como as bactérias) e internos (como
o câncer) e, inadvertidamente, começa a atacar ao indivíduo.

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Muitas teorias surgem para justificar esse aumento, e alguns culpam o excesso
de exposição aos agentes tóxicos (como agrotóxicos e produtos químicos na
nossa alimentação) ou o aumento significativo da carga de estresse a que somos
expostos diariamente em comparação ao que nos expúnhamos décadas atrás.

Um desequilíbrio na convivência entre nós e a microbiota pode refletir-se no


corpo todo. Células de defesa que reconhecem os micro-organismos virulentos
podem viajar pelo corpo inteiro, justamente com o objetivo de avisar o resto
do corpo para “ficar vigilante caso o meliante tente entrar por outra localidade”,
como os pulmões ou a pele. Por problemas de origem genética ou no caso de
seu corpo já estar sendo excessivamente demandando por outras condições
(excesso de toxinas, outras doenças, estresse excessivo) essa reação pode
perder o controle e se tornar caótica, causando como efeito colateral a lesão
de tecidos saudáveis, como articulações, cérebro e até pele ou tireoide,
caracterizando uma doença autoimune.

Exemplos de doenças autoimunes: diabetes tipo 1, esclerose múltipla, tireoidite


de Hashimoto, psoríase, doença de Crohn, doença celíaca, artrite reumatoide,
vitiligo, lúpus e outras.

Sabe o que mais cria condições de desequilíbrio na microbiota intestinal? O


estilo de vida contemporâneo. Veja só:

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• Antibióticos e outros remédios como pílulas anticoncepcionais e
anti-inflamatórios não esteroides. Quantas vezes, no último mês,
você tomou um deles?

• Uso de drogas que inibem a produção de ácido clorídrico no


estômago, como os prazóis. Será que você não tem o costume
de tomá-los a cada desconforto digestivo?

• Dietas ricas em carboidratos refinados, açúcar e alimentos proces-


sados. Quando foi a última vez que você consumiu açúcar?

• Dietas pobres em fibras fermentáveis. Tem certeza de que as


você as consome?

• Toxinas da dieta, como trigo, óleos de sementes industrializados,


corantes, conservantes, agrotóxicos, xenobióticos, que causam
intestino inflamado. Você consome glúten ou alimentos industri-
alizados todos os dias?

• O sedentarismo que reduz a motilidade do sistema digestivo.


Quando foi o último dia que você praticou uma atividade física?;

• Estresse crônico que causa a inibição do processo digestivo.


Quem, em pleno século XXI, consegue viver longe dele?; e

• Infecções crônicas. Quando foi a última vez que você ficou


doente?

O uso de antibióticos causa perda rápida e profunda da diversidade de bactérias

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intestinais. Vários estudos constataram mudança de composição por conta da
medicação. E o que agrava a situação é que, sem intervenção, não é possível
recuperar a população microbiana.

Quem determina o que entra e o que sai


Pense, agora, no caminho que tudo aquilo que você ingere percorre. O que
entra pela boca e não é digerido vai sair exatamente igual na outra ponta,
pelo ânus. Isso é, na verdade, uma das funções mais importantes do aparelho
digestivo: impedir que substâncias entrem no corpo.

Como isso aconteceria, ou melhor, acontece?

Pense que as paredes que revestem o seu intestino são um revestimento que
funcionam como peneiras atentas. Quando esse revestimento está danificado,
inflamado, a peneira está com seus furos alargados. Sendo assim, grandes
moléculas, como as de proteína, acabam passando e escapando para a
corrente sanguínea.

Seu corpo, esperto que é, não reconhece essa molécula. Então, ele cria uma
resposta imunológica em forma de ataque.

Esses ataques, de acordo com estudos recentes, desempenham papéis cruciais


no desenvolvimento de doenças autoimunes, como vimos no quadro do tópico
anterior. Alguns especialistas já falam que essa maior permeabilidade intestinal
seria uma pré-condição para esses problemas.

Então, de acordo com os novos estudos, a saúde da nossa barreira intestinal


determina se vamos tolerar ou reagir às substâncias tóxicas que ingerimos.
Portanto, as toxinas alimentares, como o glúten e açúcar, e toxinas químicas,
como o bisfenol-A, aumentam as brechas da barreira intestinal, desencadeando
uma resposta imune que afeta não só o intestino, mas, também, o sistema
ósseo, pâncreas, rins, fígado e o todo poderoso cérebro.

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Como saber se seu intestino apresenta ou não permeabilidade aumentada?

Sinto em dizer que os sintomas não necessariamente aparecem. Quando


eles surgem, podem ser como problemas de pele (eczema ou psoríase),
insuficiência cardíaca, condições autoimunes que afetam a tireoide (tireoidite
de Hashimoto) ou as juntas (artrite reumatoide), doenças mentais, transtorno
do espectro autista, depressão, entre outros.

Ou seja, tomar conta daquilo que entra dentro de você, por meio da sua
alimentação, é o primeiro passo para ativar a chave que desliga as doenças.

A proteína culpada
Existe uma proteína, chamada zonulina, que aumenta a permeabilidade intestinal
em humanos e, também, em animais.

Vamos falar mais sobre ela.

A zonulina é uma descoberta científica recente. Foi o Dr. Alessio Fasano que,
em meados dos anos 2000, em meio aos estudos conjuntos com a Maryland
School of Medicine, identificou que essa proteína exerce um papel fisiológico
importante nos intestinos: ela modula a permeabilidade das junções das células
intestinais.

O Dr. Fasano — um grande médico e cientista que contribuiu muito para o


entendimento das doenças autoimunes, em particular, a celíaca — ainda
descobriu que a zonulina é secretada pelo próprio tecido epitelial do intestino,
executando diferentes ações como a regulação dos fluidos e de grandes
moléculas presentes na mucosa intestinal.

Foi essa descoberta que estimulou inúmeros pesquisadores a buscar, na literatura


médica, doenças que são caracterizadas pelo aumento da permeabilidade.
Quais doenças, então, foram identificadas com altos níveis de zonulina e

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intestino permeável?

Sim, elas: as doenças autoimunes.

Uma pesquisa surpreendente mostrou que é possível induzir o diabetes tipo


1 em animais expondo-os à zonulina.

Compreende a relação?

Os estudos demonstram que, após a exposição da proteína, o organismo


desses animais começaram a produzir anticorpos das células do pâncreas
que, por sua vez, fabricam a insulina.

No caso do glúten, por exemplo, ele possui uma proteína chamada gliadina que
aumenta a produção de zonulina e, consequentemente, favorece um intestino
cada vez mais permeável.

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Parte 2 - Como restaurar seu intestino

Antes de te mostrar o que fazer para a recuperação da seu intestino, quero


esclarecer que esse conjunto de estratégias não é uma dieta específica. Vale
dizer também que dietas devem ser prescritas por nutricionistas, o que eu
considero um grande investimento em saúde.

O que listo aqui serve, de modo geral, a todas as pessoas que lutam para
melhorar as condições de seus intestinos e, consequentemente, sistemas
digestivos.

Vamos lá?!

Estratégias de mudanças de hábitos

Passo #1 - Reduza os açúcares


Em menor ou maior grau, todo mundo apresenta desequilíbrio na microbiota
que, preferencialmente, fermenta açúcar (e adoçantes também).

Além de estar presente em grande parte dos produtos alimentícios, o açúcar


é altamente viciante, assim como uma outra droga branca chamada cocaína.
Pois é, não se assuste.

Portanto, minha recomendação é que você o retire da sua rotina de forma


paulatina. Reduza o uso a cada semana, dando a oportunidade para que seus
receptores voltem a sentir o verdadeiro sabor dos alimentos.

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Passo #2 - Reduza o consumo de carboidratos simples e o
trigo
Lembre-se que, na Parte 1 desta publicação, eu te expliquei como o consumo
da proteína glúten, contida no trigo, contribui para a produção de uma outra
proteína chamada zonulina, que aumenta a permeabilidade intestinal, abrindo
caminho para substâncias que não deveriam entrar em sua corrente sanguínea
e, também, para as doenças autoimunes.

Reduza, de forma considerável, o consumo de farinhas e grãos (principalmente


trigo e soja). E isso vale também para quem não apresenta sensibilidade
individuais. A microbiota fermenta, principalmente, esse tipo de alimento, e o
trigo pode aumentar a permeabilidade intestinal até mesmo nas pessoas que
não são sensíveis. A inflamação iniciada a partir desse processo agrava as
condições já existentes.

Aqui, é importante ressaltar que é bastante válido observar a embalagem dos


alimentos e ler atentamente aos ingredientes usados. Você não pode imaginar
a quantidade de alimentos que contêm glúten e soja em suas composições.

Passo #3 - Pare de consumir bebidas alcóolicas

Além de alimentar diretamente algumas bactérias patogênicas, o álcool é


inflamatório e contribui para o aumento da permeabilidade intestinal e pode
ser deletério para a camada da mucosa dos intestinos, mesmo em volumes

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considerados “socialmente aceitos”.

O álcool reduz a velocidade de cicatrização do epitélio intestinal. Fique atento,


não há quantidade considerada segura para portadores de doenças autoimunes
e inflamatórias intestinais.

Passo #4 - Evite consumir água tratada com cloro


A água clorada pode ter efeito direto em sua microbiota. O cloro é um agente
desinfetante e foi importante no controle de várias doenças. Entretanto, seu
efeito na microbiota não é o desejável.

Minha recomendação não é retirar da água o cloro de forma indiscriminada. O


interessante seria retirá-lo daquela que vai ser bebida, uma vez que ela pode
reduzir a diversidade microbiana e aumentar as chances de infecção. Prefira,
então, água mineral natural.

Passo #5 - Evite o leite de vaca

Compreendo que muitas pessoas possam torcer o nariz para essa minha
recomendação, porém, o leite de vaca pode ser muito inflamatório para mucosa
intestinal.

Isso acontece porque, ao expor a proteína caseína A1, contida no leite de vaca,
às enzimas digestivas humanas, há a formação de uma substância chamada

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de “beta casemorfina 7”.

Os estudos demonstram que esse composto aumenta a inflamação intestinal, a


sensação de desconforto gastrointestinal com formação de gases e distensão,
causando a diminuição da velocidade do trânsito intestinal e, inclusive, da
velocidade de pensamento e acurácia do raciocínio.

Nestes casos, sugiro o consumo de leites com a beta caseína A2 ou os leites


vegetais.

Passo #6 - Elimine refrigerantes, café e alimentos que


contenham matodextrina

O café pode ser muito desafiador para quem padece de sintomas


intestinais, pois a cafeína nele contido pode relaxar o esfíncter inferior do
esôfago e piorar ou precipitar o refluxo. Além disso, o ácido clorogênico
presente nesta bebida pode causar diarreia em pessoas sensíveis até duas
horas após seu consumo.

A cafeína também é estimulante do sistema nervoso simpático, podendo causar


redução da eficiência da digestão.

Já os refrigerantes, além de alguns conterem cafeína, são riquíssimos em


aromatizantes, adoçantes e conservantes. Todos eles alteram a composição
da microbiota.

A Maltodextrina, especificamente, altera o processo de fermentação intestinal


e pode aumentar a aderência da bactérias E. coli na parede intestinal, sendo
forte promotora de disbiose.

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Estratégias suplementares

Antes de tudo, quero debater com você o conceito de suplementar. Veja só as


definições que encontrei no dicionário.

Su.ple.men.tar

Adjetivo
1. relativo a suplemento. 2. que serve de suplemento para suprir o
que falta. 3. que amplia ou completa; complementar.

Verbo
1. que se acrescenta como suplemento; adicional. 2. acrescentar
alguma coisa a; fornecer suplemento para. 3. servir de suplemento
ou aditamento. 4. suprir ou compensar a deficiência.

Apesar de estarmos sempre à procura de uma bala de prata para a resolução de


nossos problemas, os suplementos não fazem milagres. Nenhuma substância
sozinha consegue harmonizar a situação, como a de uma microbiota desregulada
e paredes intestinais desestabilizadas.

Cito, agora, os suplementos mais usados quando queremos otimizar essa


situação. Procure um profissional para identificar o mais adequado para o
seu caso.

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Gengibre

Sua excelente atividade estimulante da digestão melhora a secreção de saliva,


bile e suco gástrico. As pesquisas mais recentes que li indicam que ele melhora
o trânsito intestinal e pode ser usado por mulheres grávidas que precisam
amenizar os sintomas de enjoos.

Pode ser consumido fresco, na forma de extrato seco ou líquido, como óleo
essencial (para uso direto na pele da região abdominal) ou mesmo como um
chá. Use 30 minutos antes das refeições.

Alcachofra
Estimulante do apetite, essa planta reduz náuseas, flatulências, sensação de
empachamento e dores no estômago.

Um estudo clínico mais recente, realizado com 244 pacientes, o consumo de


alcachofra reduziu os sintomas após seis semanas de uso.

Dente-de-leão
Há tempos, as raízes e folhas de dente-de-leão têm sido usadas para melhorar

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o fluxo da bile, a perda de apetites e a dispepsia (dores na região superior do
abdômen).

Use-a sozinha ou combinada com outras ervas, como líquido e ou extrato


seco. Consuma com cuidado, pois tem efeito laxativo. A contraindicação é
para quem tem obstrução das vias biliares.

Limão

O aroma e o sabor do limão estimulam a fase cefálica da digestão. Não é à


toa que muitas culturas utilizam essa fruta para otimizar esse processo.

A digestão também é estimulada pela ação direta do limão, que aumenta a


produção de suco gástrico.

Guaçatonga (Casearia sylvestris)


Sua atividade anti-inflamatória, cicatrizante e antidor são bastante populares.
De origem brasileira, a guaçatonga tem uma vasta utilização medicinal. O
Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da Universidade de São Paulo (USP),
realizou testes com a planta. Como resultado, os cientistas verificaram que

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seu uso não altera o pH do suco gástrico. E mais, a substância agiu em todos
os níveis de gravidade das ulcerações e reduziu a zero o nível de tais lesões.

Não utilize a guaçatonga por mais de 90 dias ininterruptos e, se você utiliza


algum medicamento que inibe a coagulação sanguínea, tome cuidado.

Espinheira santa (Maytenus Ilicifolia)


Bastante conhecida aqui no Brasil, a espinheira santa suas principais atividades
são a antiulcerosa, pois reduz a formação de ácido gástrico.

Sendo assim, recomendo que você priorize o uso dessa planta, que pode
ser feito em forma de chás ou extrato seco, para lesões aguda das mucosas
gastrointestinais.

As pesquisas recentes demonstram que a espinheira-santa também tem


atividade anti-inflamatória do sistema digestivo e é promissora para casos de
doenças inflamatórias intestinais.

Vitaminas do complexo B
• Ácido pantotênico (B5);

• Riboflavina (B2);

• Tiamina (B1);

• Piridoxima (B6);

• Metilfolato (B9);

• Metilcobalamina (B12).

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Minha recomendação é que todos em tratamento gastrointestinal devem ter
níveis otimizados dessas substâncias, conforme a necessidade.

Essas vitaminas melhoram a digestão e a eliminação, aumentam a sensação


bem-estar e ajudam a função hepática. Algumas delas, inclusive, aumentam a
secreção do ácido gástrico e melhoram os sintomas de fadiga que acompanha
os estados de estresse prolongado.

Magnésio
Esse mineral essencial tem níveis endemicamente baixos nas populações,
principalmente mais idosas. Sua falta pode causar dores abdominais,
constipações, diminuição das enzimas digestivas e até cálculos nas vesículas.

Para a saúde gastrointestinal, indico o magnésio citrato. Atente-se na dose,


pois em alta quantidade pode causar diarreia e cólicas abdominais.

Vitamina D3
A ação da vitamina D3 vai além da questão de imunidade. Sua deficiência
altera a produção das vitaminas do complexo B pela microbiota e altera o
estado inflamatório dos intestinos.

Mantenha seus níveis de D3 entre 60 a 80mg/ml.

Esclarecendo de uma vez por todas o que significa ter um


intestino que funciona bem
Cada organismo é único e, por isso, pode ser que, para você, é “normal” que

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você evacue dia sim, dia não, ou mesmo a cada três dias. Pois bem, sinto dizer
que você pode até considerar normal, mas isso não quer dizer bem.

Seu intestino precisa funcionar todos os dias. Porém, não adianta funcionar e
você ter uma diarreia diariamente. Para isso, o meu conselho é que você se
desprensa e analise as suas fezes por meio da Escala de Bristol.

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O ideal, como eu disse é que você evacue todos os dias, com fezes entre os
tipos três e quatro.

Alguns estudos demonstram que uma das principais causas de constipação


intestinal é a presença de uma microbiota produtora de gás metano.

A constipação crônica é altamente associada ao aumento da incidência de


câncer de cólon.

Portanto, como melhorar a eliminação?

• Usando fitoterápicos: o uso de laxantes, mesmo que naturais,


deve ser feito com cautela e somente após a prescrição médica.
Não use em crianças ou grávidas. O uso abusivo dessas substân-
cias pode aumentar a incidência de câncer de cólon em indivídu-
os suscetíveis.

• A Cáscara Sagrada, por exemplo, é um dos mais antigos laxativos


usados na cultura popular. Os estudos mais recentes indicam
efeitos tóxicos ao fígado, por isso é necessário cautela.

• Fibras: o consumo de alimentos como forma de adquirir a quanti-


dade diária de fibras necessárias é sempre preferível. Além de
melhorar a nossa microbiota saudável, criando nutrientes benéfi-
cos e bactericidas naturais que regulam a popular bacteriana
patogênica, os alimentos entregam fitonutrientes importantes
para a prevenção de outras condições.

• Exercícios físicos: trinta minutos de uma atividade física já são

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capazes de aumentar a movimentação (motilidade) do seu intesti-
no, principalmente em mulheres.

• Suplementação de 5HTP (5 - Hidroxitrptofano): esse aminoácido


precursor da serotonina, neurotransmissor presente no sistema
gastrointestinal, fez com que o intestino fosse chamado de
“segundo cérebro”.

No intestino, a serotonina é responsável por regular a motilidade, por meio da


estimulação dos nervos mioentéricos.

Estratégias de melhora da microbiota


Em 2001, o artigo Ome Sweet Omics — a Genealogical Treasury of Words,
de Joseph Lederberg, apresentou ao mundo o conceito de microbiota. Desde
então, os estudos estão sendo aprofundados e, hoje, sabemos que somos
dependentes de uma série de ações exercidas por ela.

É tentador pensar que a suplementação de probióticos seja suficiente para


mudar e equilibrar a microbiota. Porém, não podemos esquecer de outros
fatores, como:

• Correção de hábitos sociais, alimentares e de cuidados;

• Melhora do sono;

• Qualidade da água;

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• Uso de medicamentos; e

• Outros fatores discutidos na parte 1 desta publicação.

Probióticos

Os benefícios do uso de probióticos são apenas transitórios, pois, quando


descontinuados, cessam seus efeitos. E mais, quando a sua suplementação
não vem acompanhada de mudanças de hábito, as respostas do organismo
também são minimizadas.

Qual seria, então, a cepa mais indicada para a restauração da microbiota?


Ora, não existe uma resposta única, pois elas são únicas e a maioria é muito
similar quando levamos em conta a diversidade da microbiota intestinal e que
a maioria das cepas não foi comparada isoladamente quando consideramos
a saúde humana.

Portanto, quanto maior a diversidade suplementada melhor.

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Fermentados

Exemplos: kefir, chucrute, kombucha, kimchi, nattô, missô.

Antigamente, a fermentação de alimentos era realizada para que eles durassem


mais, afinal, nossos antepassados não tinham geladeiras. Entretanto, durante
a fermentação, são produzidas substâncias de atividade microbiana, como o
etanol, os ácidos orgânicos e as bacteriocinas.

Atualmente, sabemos que esses alimentos fornecem benefícios à saúde por


conta da presença de micro-organismos em equilíbrio. Além disso, alguns
ativos indesejáveis nos alimentos podem ser inativados durante o processo
de fermentação, melhorando a digestibilidade do alimento.

Mais estudos precisam ser realizados para determinar todos os benefícios


dos fermentados, embora a experiência popular já esteja demonstrando seus
benefícios com o consumo regular.

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Parte 3 - O estilo de vida moderno “mata” o
intestino

Anteriormente, citei as principais condições que permitem o desequilíbrio da


população microbiana do seu intestino. Acontece que a natureza é sábia e esses
mesmos fatores também afetam a permeabilidade das paredes intestinais.

Portanto, para que você não se esqueça, vou repetir:

• Antibióticos e outros remédios como pílulas anticoncepcionais e


anti-inflamatórios não esteroides;

• Uso de drogas que inibem a produção de ácido clorídrico no


estômago, como os prazóis;

• Dietas ricas em carboidratos refinados, açúcar e alimentos


processados;

• Dietas pobres em fibras fermentáveis;

• Toxinas da dieta, como trigo, óleos de sementes industrializados,


corantes, conservantes, agrotóxicos, xenobióticos, que causam
intestino inflamado;

• O sedentarismo que reduz a motilidade do sistema digestivo;

• Estresse crônico que causa a inibição do processo digestivo; e

• Infecções crônicas.

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Isso significa que, se você apresenta um intestino permeável, provavelmente
tem uma microbiota em desequilíbrio. Quando sua microbiota intestinal está
com problemas, você apresenta inflamação.

Essa inflamação nada mais é do uma resposta do seu organismo.

Em alguns indivíduos, esse retorno pode ser observado como problemas


digestivos. Já em outras pessoas, com o desenvolvimento da autoimunidade.

Outros problemas também podem ser reflexo dessa resposta sistêmica, como
insuficiência cardíaca, depressão, cérebro nebuloso, eczema/psoríase e outros
problemas de pele, problemas metabólicos, como obesidade, diabetes e
alergias, asma.

Para tratar o mal pela raiz, é preciso reconstruir e requilibrar a microbiota,


recuperando a integridade das paredes intestinais. Portanto, se você já apresenta
algum processo autoimune, problemas digestivos e ou metabólicos, considere
ter como ponto de partida o cuidado aprofundado do seu intestino, da sua
microbiota intestinal.

O mal do século te afeta todos os segundos

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Estresse é uma palavra bastante ampla e se refere às ameaças reais — ou
percebidas — ao equilíbrio do organismo, provocando respostas adaptativas
do corpo manter a estabilidade interna e garantir, assim, a sobrevivência.

Além de uma alimentação desequilibrada, pobre de nutrientes e de qualidade


duvidável, muitos fatores podem aumentar seus níveis de estresse ainda mais.
Nesse combo, eu coloco também a má qualidade do sono e a quantidade
reduzida de horas em que passamos dormindo.

Você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com a sua digestão
ou com o seu intestino, não é mesmo?!

Acontece que tudo isso te estressa, e o estresse causa desregulação de um


hormônio chamado cortisol. Consequentemente, você engorda, dorme ainda
menos e sua expectativa de vida é reduzida.

O estresse pode ser agudo ou crônico. O intestino é especialmente sensível ao


crônico (e mesmo ao agudo), apresentando mudanças na secreção gástrica,
nos movimentos intestinais, na permeabilidade da mucosa e na função de
barreira, sensibilidade visceral e fluxo de sangue nas mucosas. Também há
evidências de que a microbiota do intestino pode reagir diretamente a sinais
de estresse.

Como parte essencial do sistema nervoso, o intestino é facilmente afetado


pelo estresse. E essa reação vai muito além da famigerada “dor de barriga
de nervoso”.

As mudanças bioquímicas que ocorrem em tempos de estresse têm um impacto


imediato e significativo nas funções intestinais. Uma família de peptídeos
chamada hormônio liberador de corticotrofina (CRF) é responsável pela
coordenação da resposta do corpo ao estresse. Os CRFs têm um efeito
potente no intestino por meio da modulação da inflamação, do aumento da
permeabilidade, da contribuição da hipersensibilidade visceral, da percepção
aumentada de dor e da modulação da mobilidade intestinal.

Esse hormônio afeta o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal e acaba por estimular

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a secreção de cortisol nas glândulas adrenais. Além de o estresse afetar a
função fisiológica do intestino, também causa mudanças na composição da
microbiota, possivelmente devido a mudanças nos níveis de neurotransmissores
e de citocinas inflamatórias.

Pesquisas em ratos constataram que a exposição ao estresse leva ao crescimento


de certos tipos de bactérias ao mesmo tempo que reduz a diversidade de
microbiota no intestino grosso. Além disso, essa disrupção da microbiota
aumentou a suscetibilidade a doenças intestinais.

Exposição crônica a estresse pode causar o desenvolvimento de uma variedade


de doenças gastrointestinais, como refluxo gastroesofágico (GERD), úlcera
gástrica, síndrome do intestino irritável e até alergias.

Estudos experimentais mostraram que estresse psicológico diminui o tempo


do trânsito intestinal, incentiva o crescimento exagerado de bactérias e até
compromete o revestimento das paredes intestinais.

Por isso, o estresse crônico pode desempenhar um papel importante no


desenvolvimento e crescimento exagerado de bactérias no intestino delgado,
criando um ambiente ainda mais propício para o desenvolvimento de doenças.

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