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Anatomia Arterial e Venosa Aplicada Luiz Carlos Gusmão

Anatomia Arterial e Venosa Aplicada

Luiz Carlos Buarque de Gusmão

“Aqueles que dissecaram ou inspecionaram, muito aprenderam,


pelo menos a duvidar, enquanto os outros, que são ignorantes
em ANATOMIA, e não se dão ao trabalho de observá-la, não
apresentam absolutamente qualquer dúvida”
Giovanni Morgani (1682 - 1771)

Devido à finalidade didática do livro, a esôfago torácico, determinando neste, uma


Anatomia Descritiva e Topográfica, será constrição que poderá ser importante no
resumida e se limitará aos grandes troncos “stop” dos corpos estranhos deglutidos,
arteriais e venosos. podendo favorecer a formação de fístulas
esôfago-aórticas, por vezes, fatais. A parte
final do arco da aorta é visível numa
ANATOMIA ARTERIAL
radiografia de tórax, sendo denominado de
Artéria aorta “botão aórtico”. Mais para a esquerda, o nervo
Principal tronco sistêmico, esta artéria tem recorrente laríngeo esquerdo contorna seu
origem no ventrículo esquerdo, em seguida cajado, o que constitui um fato relevante, pois
dirige-se para a direita e para cima dentro do quando o arco se encontra dilatado por
mediastino médio, constituindo a artéria aorta processos aneurismáticos, o nervo pode ser
ascendente, da qual têm origem as artérias comprimido levando a uma disfonia
coronárias. Daí, ela curva-se para a esquerda e persistente.
para trás, adentrando no mediastino superior e A aorta descendente, formada a partir de T4,
formando o arco aórtico, ao nível da segunda
constitui a continuação do arco aórtico e
articulação esternocostal do lado direito, do possui uma parte torácica e outra abdominal. A
qual são emitidos o tronco arterial
parte torácica da aorta desce no mediastino
braquiocefálico, a artéria carótida comum posterior, inicialmente à esquerda da coluna
esquerda e a artéria subclávia esquerda. No
vertebral, aproximando-se da linha mediana à
seu trajeto, o arco aórtico mantém intíma
medida que desce, sendo sua terminação
relação com o brônquio principal esquerdo, anterior à coluna vertebral. A veia ázigos e o
situado inferiormente e à direita com o
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Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL:http://www. lava.med.br/livro
Anatomia Arterial e Venosa Aplicada Luiz Carlos Gusmão

ducto torácico estão situados à sua direita. esquerda, cruza posteriormente a artéria
Além de ramos viscerais, esta parte da aorta aorta ascendente e a veia cava superior,
descendente constitui uma importante fonte situando-se anteriormente ao brônquio
da irrigação da parede do tórax, e seus ramos principal direito, enquanto se dirige para o hilo
intercostais posteriores, formam com os pulmonar direito. A artéria pulmonar esquerda
ramos da to rácica interna, uma via de cruza anteriormente o brônquio principal
circulação colateral em caso de obstrução esquerdo, e projeta-se para o hilo pulmonar
progressiva da aorta. A aorta torácica é mais esquerdo. A artéria pulmonar esquerda se
bem abordada, cirurgicamente, pelo hemitórax encontra conectada ao arco aórtico através de
esquerdo. Abaixo do pedículo pulmonar ela é uma prega fibrosa – o ligamento arterial
encontrada entre a coluna torácica, situada (BOTAL) - que outrora, constituirá o ducto
posteriormente, e o esôfago, situado arterial.
anteriormente. Finalmente, a aorta torácica Artéria subclávia
passa através do hiato aórtico, passando a
A artéria subclávia supre o membro superior e
chamar-se aorta abdominal.
o segmento cefálico do corpo. A artéria é
A parte abdominal da aorta descendente dividida em três partes: a primeira vai desde a
começa entre T12 e L1, e termina ao nível de origem do vaso até a margem medial do
L4, ao dividir-se em artérias ilíacas comuns. A músculo escaleno anterior; a segunda parte se
artéria relaciona-se, anteriormente, com o encontra posteriormente ao referido músculo,
tronco celíaco, o pâncreas, a bolsa omental, a e a terceira parte vai da margem lateral do
veia renal esquerda, a parte ascendente do músculo até a margem lateral da primeira
duodeno e a raiz do mesentério. À direita, costela, quando passa a ser denominada de
relaciona-se com a cisterna do quilo, o ducto artéria axilar. A veia subclávia acompanha a
torácico e a veia cava inferior. A abordagem artéria, situando-se anteriormente a esta, com
da aorta abdominal deve ser, de preferência, exceção da segunda parte da artéria, que se
pelo lado esquerdo do abdome, com abertura encontra separada da veia pelo músculo
da goteira parietocólica esquerda e escaleno anterior. Cada artéria subclávia tem
deslocamento do colo descendente (Manobra uma origem diferente. Enquanto a artéria
de CATTEL) ou entre a raiz do mesentério e o subclávia esquerda tem origem diretamente do
colo descendente. O clampeamento da artéria arco aórtico, entre a origem da subclávia
aorta acima das artérias renais, pode resultar direita e o arco aórtico, existe um tronco
em necrose tubular e irrigação deficiente da intermediário, denominado tronco arterial
medula, levando a uma paralisia dos membros braquiocefálico. As partes iniciais das artérias
inferiores, já que as artérias lombares são a subclávias situam-se inicialmente atrás da
principal irrigação medular a este nível. A juntura esternoclavicular, sendo, às vezes,
aorta abdominal fornece praticamente toda a necessária a realização de esternotomia para a
irrigação parietal e visceral do abdome, além sua abordagem cirúrgica, fato que, não se faz
de dá origem às artérias ilíacas que suprem a necessário nas lesões da 2ª e 3ª partes, onde
pelve e os membros inferiores. uma simples remoção parcial da clavícula,
Artéria pulmonar fornece um campo operatório satisfatório. A
O tronco pulmonar tem origem como projeção primeira parte da subclávia mantém relações
do ventrículo direito. Recoberto pelo importantes com o ducto torácico (subclávia
pericárdio fibroso projeta -se para cima, numa esquerda), a veia jugular interna, os nervos
extensão de 5 cm, situando-se à esquerda da vagos e frênicos e com o ápice pulmonar. Os
aorta ascendente, onde se divide em artéria ramos mais importantes da artéria subclávia,
pulmonar direita e artéria pulmonar esquerda. têm origem na sua primeira parte, destacando-
O tronco forma a margem inferior esquerda do se a artéria vertebral e a artéria torácica
botão aórtico visto em radiografias. A artéria interna.
pulmonar direita, mais longa e calibrosa que a

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A artéria subclávia pode ser detectada com a artéria lingual como o tronco da carótida
uma compressão digital profunda acima do externa, podem ser ligados em casos de
terço médio da clavícula, podendo ser sangramento incontroláveis da língua ou da
comprimida contra a primeira costela no ângulo face. A carótida externa, situada na origem,
formado pela clavícula com o músculo medialmente à carótida interna, fornece parte
esternoclidomastóideo. O trajeto da artéria, da vascularização do pescoço e toda a
entre os músculos escalenos anterior e médio, vascularização da face. A carótida interna não
pode favorecer, em casos de hipertrofia do dá nenhum ramo no pescoço e penetra no
músculo ou variações, a angústia da segunda crânio através do canal carótico do osso
parte da artéria, constituindo as síndromes de temporal, terminando no interior do crânio, na
compressão neurovasculares, já que, o plexo fossa craniana média.
braquial acompanha o vaso neste desfiladeiro e Artéria axilar
também pode ser comprimido. A presença
Este vaso resulta da continuação da artéria
anômala de uma costela cervical pode
subclávia após esta última cruzar a margem
determinar compressão da artéria subclávia
lateral da primeira costela, e termina mudando
em vários níveis.
seu nome para artéria braquial, à partir da
Artérias carótidas comuns margem inferior do músculo redondo maior. A
São as principais artérias do pescoço e da artéria axilar se encontra envolvida,
cabeça. Cada uma divide-se ao nível da 4ª juntamente com a veia do mesmo nome e os
vértebra cervical em carótida externa e fascículos do plexo braquial, pela bainha axilar.
carótida interna. A artéria carótida comum No seu trajeto dentro da axilar, ela é cruzada
direita tem origem na divisão do tronco pelo músculo peitoral menor que a divide em
arterial braquicefálico, enquanto a esquerda é três partes: a parte suprapeitoral (1ª parte),
ramo do arco aórtico. No pescoço têm trajeto que emite a artéria torácica superior, a qual
idêntico e dificilmente emitem ramos. A veia supre os dois primeiros espaços intercostais. a
jugular interna situa-se anterolateral à artéria parte retropeitoral (2ª parte) irriga a parede
carótida comum e está separada parcialmente torácica, a mama e os músculos peitorais,
dela, pela traquéia, e em seguida, pela glândula através das artérias torácica lateral e
tireóide, laringe e faringe. O nervo vago se toracoacromial. à parte infrapeitoral (3ª
encontra entre os dois vasos e um pouco parte) é a mais importante sob o ponto de
posterior, sendo estes três elementos vista funcional, pois dela sai a artéria
envolvidos pela bainha carótida, que deve ser subescapular, responsável pela manutenção da
aberta na abordagem cirúrgica dos vasos. As irrigação do membro distal, através de
feridas cervicais tendem a lesar mais a veia circulação colateral, mantida com ramos da
jugular interna que a artéria carótida comum, artéria subclávia, em casos de interrupção do
já que a carótida se encontra coberta pela veia fluxo da artéria axilar. A artéria toracodorsal,
e mais protegida. Normalmente, a lesão da ramo da subescapular, é um vaso longo e
carótida comum causa apenas repercussão para praticamente responsável por toda a irrigação
a vascularização encefálica, levando o paciente do músculo grande dorsal, permitindo uma
a uma hemiplegia contralateral. Este vaso é grande mobilidade do referido músculo na
palpado facilmente na margem medial do confecção de retalhos miocutâneos. Os
músculo esternoclidomastóideo, sendo o pulso fascículos do plexo braquial situam-se
de eleição que deve ser inicialmente tomado no lateralmente à primeira parte da artéria
paciente injuriado. A artéria carótida comum axilar,2 dispondo-se em torno da artéria na
se bifurca a cerca de 2,0 cm do ângulo da segunda parte. Na sua terceira parte, quando o
mandíbula1 em carótida interna e carótida braço é elevado, a artéria poderá ser
externa. Esta medida é importante na comprimida contra o úmero em casos de
localização da carótida externa e de um dos hemorragias distais não controláveis por
seus principais ramos - a artéria lingual. Tanto tamponamento.

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Artéria braquial Artéria ilíaca comum


Continuação da artéria axilar, a artéria As artérias ilíacas comuns são os ramos
braquial inicia-se na margem inferior do terminais da artéria aorta abdominal. Depois
músculo redondo maior e divide-se na fossa da origem apresentam divergência e após curto
ulnar, cerca de 1 cm acima da prega do trajeto, dividem-se em artérias ilíacas
cotovelo, em suas artérias terminais a ulnar e externas e artérias ilíacas internas. A artéria
a radial. Durante o seu trajeto na face interna ilíaca externa se projeta medialmente ao
do braço, ela se mantém no sulco entre os músculo psoas maior e adentra na coxa sob o
músculos flexores e os extensores, tendo o ligamento inguinal, para chamar-se artéria
úmero no seu assoalho. No meio do braço, o femoral. A artéria ilíaca externa é cruzada
nervo mediano cruza anteriormente a artéria, pelo ureter ao passar da cavidade abdominal
de lateral para medial. A artéria é superficial para a cavidade pélvica. A artéria ilíaca
e palpável em todo o seu trajeto. Esta posição externa emite apenas dois ramos parietais, que
privilegiada, permite a sua compressão contra são: a artéria epigástrica inferior e a artéria
o úmero, o que facilita o controle de circunflexa profunda do íleo. Um ramo arterial
hemorragias por compressão ou por da epigástrica ou direto da ilíaca externa,
garroteamento. É neste trajeto, que colocamos cruza posteriormente o canal inguinal,
o manguito do tensiômetro para a tomada da constituindo uma anastomose com a artéria
tensão arterial. Antes de dividir-se em seus obturatória, denominada de “ZONA MORTAL”,
ramos terminais, a artéria emite ramos para a e que pode ser a própria origem da
musculatura do braço e a artéria braquial obturatória.
profunda que supre a musculatura extensora. As artérias ilíacas internas suprem a maior
Artérias ulnar e radial parte da pelve e a região glútea. Originam-se
Ramos terminais da artéria braquial, as entre L5 e S1, estando o ureter anterior a ela.
artérias radial e ulnar, têm origem na fossa Desce na cavidade pélvica emitindo ramos
ulnar. A artéria radial é a própria continuação parietais e viscerais, terminando na margem
da artéria braquial e segue em direção a face superior do forame isquiático maior, onde
anterolateral do punho. A parte proximal da apresenta divisão anterior e posterior, que
artéria se encontra encoberta pelo músculo constituem os troncos glúteos.
braquiorradial. A artéria pode ser acessada em Artéria femoral
todo o seu trajeto para a confecção de Este vaso fornece o principal suprimento
fistulas arteriovenosas. No punho, situa-se arterial para o membro inferior. Coberta pela
lateralmente ao tendão do músculo flexor fáscia lata, a artéria femoral se encontra no
radial do carpo, sendo este o local mais assoalho do trígono femoral. Apresenta a veia
utilizado para medir a freqüência de pulso. A femoral na sua face medial e se encontra
seguir, a artéria radial deixa o antebraço, separada do nervo femoral pelo septo
curvando-se sobre o radio e adentrando na ileopectíneo. No trígono femoral, supre,
tabaqueira anatômica, onde pode ser lesada através das artérias circunflexas femorais, a
durante procedimentos cirúrgicos desta musculatura anteromedial da coxa. Finalmente,
região. emite a artéria femoral profunda, que, através
A artéria ulnar é o ramo mais calibroso da das artérias perfurantes, vãos suprir a
artéria braquial. Após sua origem, passa musculatura do jarrete. No trígono femoral ela
profundamente ao músculo pronador redondo e pode ser facilmente acessada por palpação
entre os ventres do flexor superficial dos digital ou através de punção. A continuação da
dedos. No terço superior do antebraço dirige- artéria femoral, às vezes denominada de
se medialmente passando sobre o músculo artéria femoral superficial, desce na face
flexor profundo dos dedos. No terço médio do medial da coxa dentro do canal subsartorial
antebraço, encontra o nervo ulnar que se situa (canal de Hunter), em companhia da veia do
medialmente a ela. mesmo nome, que a cruza posteriormente, e do

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nervo safeno. Este canal deve ser aberto


amplamente durante a exploração cirúrgica
deste vaso.
Artéria poplítea
Após atravessar o hiato tendíneo, fenda
musculoaponeurótica, 3 a artéria femoral passa
a denominar-se de artéria poplítea. A artéria
situa-se profundamente em todo o seu trajeto.
Finalmente, esta artéria divide-se em artéria
tibial posterior e artéria tibial anterior. Como
se situa sob a tensa fáscia poplítea, para a
artéria ser palpada é necessário manter o Figura 1 – Fotografia dos vasos retroperitoneais: 1. Veia
joelho em flexão. cava inferior; 2. Artéria aorta abdominal; 3. Ureter; 4.
Tronco celíaco; 5. Artéria ilíaca comum; 6. Artéria ilíaca
Artéria tibial anterior externa; 7. Artéria ilíaca interna; 8. Veia renal; 9. Vasos
lienais.
A artéria tibial anterior perfura de posterior
para anterior a membrana interóssea, e desce,
em companhia do nervo fibular profundo, na
face anterior da coxa, profundamente ao
músculo tibial anterior. A maior parte dos
ramos musculares são emitidos na parte
proximais do vaso, 4 o que permite mobilizar
este músculo para cobrir defeitos no terço
inferior da perna sem prejuízo para sua
nutrição. Sobre a face superior do pé, a
artéria passa a denominar-se de artéria dorsal
do pé.
Artéria tibial posterior Figura 2 – Fotografia da axila e braço direiro: 1. Nervo
mediano; 2. Veia axilar; 3. Artéria braquial; 4. Veia axilar
Esta artéria é a própria continuação da artéria acessória.
poplítea na margem inferior do músculo
poplíteo. Desce posteriormente à tíbia coberta
pela fáscia transversa profunda da perna, a
qual separa-a dos músculos gastrocnêmios e
sóleo, irrigando a musculatura posterior da
perna. Emite a artéria fibular e desce em
companhia do nervo tibial dividindo-se no pé
em artérias plantar lateral e plantar medial.
No terço inferior da perna é superficial, sendo
coberta apenas pela pele e tecido subcutâneo.
A artéria é normalmente palpada atrás do
maléolo medial. Ao nível do maléolo, a artéria
Figura 3 – Fotografia das regiões femoral e ilíaca
pode ser facilmente lesada em ferimentos
esquerdas: 1. Artéria femoral; 2. Veia femoral; 3.
superficiais. Ligamento inguinal; 4. Veia ilíaca externa; 5. Artéria ilíaca
externa.

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medial. A veia axilar acessória, de calibre


próximo da veia axilar, desemboca na parte
suprapeitoral da veia axilar e constitui uma
alternativa de drenagem do membro superior
em casos de lesão ou ligadura inadvertida da
veia axilar. A veia axilar recebe, próxima à sua
terminação, a veia cefálica. Parte da drenagem
venosa da parede torácica, chega à veia axilar,
através das suas afluentes; a veia torácica
lateral e a veia toracoepigástrica, e
constituem uma rede de circulação colateral
em caso de obstrução da veia cava inferior. A
Figura 4 – Fotografia dos grandes vasos torácicos: 1.
Tronco arterial braquiocefálico; 2. Veia ázigos; 3. Veia veia axilar localiza-se anteromedial à artéria
cava superior; 4. Veia cava inferior; 5. Arco da aorta; 6. axilar, fato que facilita sua punção e
Artéria aorta ascendnte; 7. Tronco pulmonar. cateterismo, procedimento que normalmente é
realizado na junção entre o terço médio e o
terço proximal da clavícula.
Veia jugular interna
A veia jugular drena o encéfalo, a face e o
pescoço. Formada pela continuação do seio
sigmóide, tem no início da sua formação uma
dilatação denominada de bulbo superior, sendo
uma outra dilatação, situada próxima à sua
desembocadura na veia subclávia, denominada
de bulbo inferior. A veia desce no pescoço em
companhia da artéria carótida comum. Por ser
Figura 5 – Fotografia do mediastino (lado esquerdo): 1. um vaso bastante dilatado, esta veia é
Esôsago torácico; 2. Aorta torácica; 3. Artéria subclávia facilmente puncionada para hidratação rápida
esquerda; 4. Brônquio principal esquerdo; 5. Arco da aorta;
6. Artéria pulmonar; 7. Coluna vertebral.
do paciente. Em recém-nascidos, com
dificuldades de punção venosa, ela deve ser a
veia de eleição a ser dissecada, pois se pode
ANATOMIA VENOSA colocar nela um cateter mais calibroso, o que
Veia axilar impede sua obstrução, fato corriqueiro quando
A veia axilar inicia-se a partir da margem uma veia do membro é canalizada.
inferior do músculo redondo maior, pela Veia subclávia
continuação da veia basílica,5 e termina ao Continuação da veia axilar, recebe este nome
cruzar a margem lateral da primeira costela. A ao cruzar a margem lateral da primeira
veia axilar, como a artéria do mesmo nome, é costela. A veia subclávia recebe inúmeras
dividida em três partes pelo músculo peitoral tributárias no pescoço que não correspondem à
menor. No caso da veia, como o fluxo é mesma denominação dos ramos da artéria do
centrípeto, a divisão é denominada de parte mesmo nome. Anterior à artéria subclávia,
inferior (infrapeitoral), parte média encontra-se separada dela, na sua parte média
(retropeitoral) e parte superior pelo músculo escaleno anterior e deve ser
(suprapeitoral). Comumente encontramos em afastada na abordagem cirúrgica da artéria.
mais de 50% dos casos, uma outra veia axilar, Sua junção com a veia jugular interna forma
denominada de veia axilar acessória, 6 e que um ângulo de 90° denominado de ângulo venoso
representa a continuação da veia braquial (FARABEUF), no qual desemboca, no lado
lateral, que não afluiu antes para à veia esquerdo, o ducto torácico, e do lado direito, o
basílica ou não se juntou com a veia braquial ducto linfático direito.

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Veias braquiocefálicas que rompidas, acidentalmente, podem levar o


As veias braquiocefálicas são formadas indivíduo ao óbito por hemorragia aguda.
posteriormente à articulação esternoclavicular Veias ilíacas comuns
pela união das veias subclávias com as veias Estas veias, comumente avalvuladas, são
jugulares internas e terminam confluindo no formadas pela união das veias ilíacas internas e
mediastino superior para formar a veia cava ilíacas externas, anteriormente à articulação
superior. A veia braquiocefálica direita desce sacroilíaca, terminam ao nível da 5ª vértebra
verticalmente em direção à cava superior, lombar, onde se une com a do lado oposto para
enquanto a veia braquiocefálica esquerda, mais formar a veia cava inferior. Como a veia cava
longa, desce obliquamente, cruzando inferior está à direita da aorta, a veia ilíaca
anteriormente os ramos do arco da aorta. esquerda é mais longa e oblíqua que a direita.
Veias cavas Veia ilíaca interna
A veia cava superior é constituída no Também denominada de hipogástrica inicia-se
mediastino superior pela confluência das veias acima do forame isquiático maior, dirige-se
braquiocefálicas direita e esquerda. Encontra - para cima, e ao nível do estreito superior,
se situada à direita da artéria aorta junta-se à veia ilíaca externa para formar a
ascendente, e recebe o cajado da veia ázigos. veia ilíaca comum. Devido às inúmeras
Ao exame radiográfico, esta veia juntamente tributárias, esta veia se assemelha a uma
com a veia braquiocefálica direita, formam a formação plexiforme. As lesões da veia ou de
margem direita da imagem cardiovascular. A suas grandes afluentes causa hemorragias, por
obstrução da veia cava antes da vezes, incontroláveis.
desembocadura da ázigos, permite o
Veia ilíaca externa
desenvolvimento de uma circulação colateral
compatível com a vida, o que não acontece se a É a continuação superior da veia femoral
quando esta última passa sob o ligamento
obstrução ocorre após esta confluência.
inguinal. No lado direito, encontra-se medial e
A veia cava inferior é um tronco avalvular, que
posteriormente à artéria do mesmo nome. No
tem origem inferiormente e à direita da
lado esquerdo, situa-se sempre do lado medial
artéria aorta abdominal, pela união das veias
da artéria. Suas principais tributárias são a
ilíacas comuns. Sobe anterior à coluna lombar,
artéria epigástrica inferior e a artéria
recebendo as veias lombares e as veias renais,
circunflexa profunda do íleo.
atravessa o forame da veia cava inferior no
Veias femorais
diafragma, recebendo posterior ao fígado, as
veias supra -hepáticas e adentra ao átrio Acompanha a artéria femoral na coxa,
direito. situando-se inicialmente lateralmente à
artéria, cruza posteriormente a artéria no
Veia porta
meio da coxa, vindo a situar-se no restante do
A veia porta é formada posteriormente ao colo
trajeto medial em relação à artéria. Tem uma
do pâncreas pela junção da veia mesentérica
distribuição semelhante à artéria femoral,
superior com a veia lienal. A veia passa
recebe a veia femoral profunda e várias
posterior ao estômago, e ao omento menor,
tributárias, entre as quais se destaca a veia
sobe por trás do ducto colédoco, onde recebe
safena magna que perfura a fáscia lata no
veias provenientes do estômago e divide-se no
terço superior da coxa. A veia femoral forma o
hilo do fígado em ramos direito e esquerdo. A
limite lateral do anel femoral o que constitui
obstrução da veia porta leva à hipertensão
um fato importante, pois na herniorrafia
portal, síndrome que determina a formação de
femoral, ela poderá ser lesada ou comprimida
anastomoses porto-sistêmicas, cujo exemplo
ao se tentar fechar exageradamente o anel
mais importante estão entre a veia gástrica
femoral.
esquerda e as veias esofágicas, levando à
formação de varizes esofágicas e gástricas, Veia poplitea

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Anatomia Arterial e Venosa Aplicada Luiz Carlos Gusmão

É formada ao nível do músculo poplíteo pela drenagem venosa profunda da perna, uma vez
confluência irregular das veias tibiais que possuem uma série de comunicações entre
posteriores com as veias tibiais anteriores e si e com outras veias profundas da perna.
veias fibulares.7 Na fossa poplítea, tende a
situar-se posteriormente à artéria poplítea.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Veias tibiais
A anatomia arterial e venosa é parte
Originárias inferiormente ao maléolo medial, fundamental no dia-a-dia do angiologista e,
pela afluência irregular das veias plantares principalmente, do cirurgião vascular. Quanto
mediais e laterais, estas veias apresentam maior o conhecimento da anatomia maior será a
quase sempre um tronco duplo no terço distal segurança na realização dos procedimentos.
da perna e plexiforme no terço médio.7 A Devendo estes conhecimentos ser exaltado em
ligadura de uma das veias tibiais posteriores, qualquer publicação da especialidade.
teoricamente não traria prejuízo para a

REFERÊNCIAS
1. Santos MTM, Mesquita ADM, Gusmão LCB. Sintopia pé visando a revascularização do miocárdio. Braz J
da bifurcação da artéria carótida comum. Braz Morphol Sci 2000;17:127.
Morphol Sci 2000;17:177. 5. Santos CAS, Gusmão LCB. Estudo anatômico sobre a
2. Gusmão LCB. Bases anatômicas para o bloqueio veia basílica no braço de cadáveres humanos. Rev HU
anestésico do plexo braquial por via infraclavicular. UFAL, 1997;4:32-40.
São Paulo, 1992. (Tese – Doutorado - Escola Paulista 6. Gusmão LCB, Prates JC. Anatomical study of the
de Medicina). accessory axillary vein. Surg Radiol Anat
3. Chaves DP, Gusmão LCB. Análise morfológica do 1992;14(2):131-6.
hiato tendíneo. Braz J Morphol Sci 2000;17:58. 7. Tavares Filho JDL, Gusmão LCB. Contribuição para o
4. Lima ADS, Filho JLA, Gusmão LCB. Análise estudo anatômico das veias tibiais posteriores. Braz
morfométrica das artéria tibial anterior e dorsal do J Morphol Sci 2000;17:161.
Versão prévia publicada:
Nenhuma
Conflito de interesse:
Nenhum declarado.
Fontes de fomento:
Nenhuma declarada.
Data da última modificação:
13 de outubro de 2000.
Como citar este capítulo:
Gusmão LCB. Anatomia arterial e venosa aplicada. In: Pitta GBB,
Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular:
guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.
Disponível em: URL: http://www.lava.med.br/livro
Sobre o autor:

Luiz Carlos Buarque de Gusmão


Professor Adjunto IV de Anatomia Humana da
Universidade Federal de Alagoas,
Maceió, Brasil.
Endereço para correspondência:

16/05/2003 Página 8 de 9
Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado.
Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL:http://www. lava.med.br/livro
Versão preliminar Anatomia Arterial e Venosa Aplicada Luiz Carlos Gusmão

Rua Industrial José Otavio Moreira, 21/ 802


57.036-600 Maceió, AL.

16/05/2003 Página 9 de 9
Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado.
Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL:http://www. lava.med.br/livro

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