Você está na página 1de 2

Resenha de “Memoria 

del Saqueo” (Dir. Pino Solanas) 
“Memoria del Saqueo” (2004) é um documentário sobre a história argentina
recente que demonstra como um país rico ruiu, abrindo um enorme fosse entre ricos e
pobres, elevando as taxas de desemprego, miséria e indigência, propiciando um
verdadeiro genocídio social. O longa passa pelos governos de Raul Alfonsín (1983-
1989), Carlos Saul Menem (1989-1999), e termina com Fernando De la Rúa (1999-
2001).
O contexto econômico era de desequilíbrio, pois, na década de 80, com a
apreciação do valor do dólar, as exportações de matérias primas acabaram entrando em
colapso, resultando numa contração dos mercados exportadores. O antigo motor da
economia já não funcionava tão bem (MARTÍNEZ RANGEL & SOTO REYES,2012).
Surge nesse momento o “reformismo” do Consenso de Washington, pregando a abertura
dos mercados, austeridade fiscal, privatizações e encolhimento do estado, tópicos bem
marcados pelo documentário (BORÓN, 2004).
Apesar de muitas promessas, as conquistas foram poucas e nem são apresentadas
no filme, até porque as consequências da adoção das medidas neoliberais invalidam
qualquer avanço possível. O povo argentino foi afogado numa onda de pobreza,
indigência e exclusão social, se tornando cava vez mais vulnerável e dependente
(BORÓN, 2004). Mesmo com a reação dos argentinos, saindo as ruas, a violência, em
diferentes formas, tomou conta do país. Fosse ela direta, praticada pelos militares
responsáveis por dispersar as manifestações, fosse pelas mentiras proferidas pela classe
política viciada, aliada das grandes corporações; fosse ainda a violência silenciosa dos
ajustes que matava de fome 35 mil crianças, adultos e idosos por ano.
Assim se fundou uma “mafiocracia” na qual o poder econômico, a justiça e os
narcotraficantes aplaudiam a espetacularização da política, assistindo a republica ser
degradada em ritmo acelerado. A dita “destruição criadora” só cumpriu a primeira
promessa, vendendo estatais e sucateando as estruturas já existentes; e os governantes já
não se preocupavam mais em combater a pobreza, a ideia era combater os pobres, com
mais e mais ajustes, confiscos e corrupção (BORÓN, 2004). A esse tempo, o Consenso
de Washington já havia se convertido numa ideologia para além de propostas
econômicas, se tornando uma ferramenta de controle do estado financiada por
megacorporações da qual os países latinos necessitavam para conquistar a aprovação
dos organismos internacionais (MARTÍNEZ RANGEL & SOTO REYES,2012).
O filme encerra com a saída de Fernando De la Rúa do poder. Apesar da vitória
temporária da população argentina, em 2001, até hoje (2020) é latente a necessidade de
projetos de esquerda inovadores que presem pela democracia – e, por consequência, por
menos capitalismo – e pela integração regional, garantindo aos latinos melhores
condições de vida, fortalecendo as empresas locais para uma competição em igualdade
de circunstancias com as outras partes do globo (BORÓN, 2004; MARTÍNEZ
RANGEL & SOTO REYES,2012).

Referências bibliográficas
MARTÍNEZ RANGEL, Rubí; SOTO REYES, Garmendia Ernesto. El Consenso de
Washington: la instauración de las políticas neoliberales en América Latina. Revista
Política y Cultura, primavera 2012, núm. 37, pp. 35-64.
BORÓN, Atílio. Introdución: Después del saqueo: El capitalismo latino-americano
a comienzos del neuvo siglo. In: Estado, capitalismo y democracia em América
Latina. CLACSO, Junio de 2004.

Você também pode gostar