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ATE ONDE O QUE

VOCÊ SABE SOBRE


O BEHAVIORISMO
É VERDADEIRO?
R K S P O N l H u N l M ) AS P R I N C I P A I S
C R Í T I C A S D I R K C l Oi NADAS
AO H K I I A V ' l O R l S M O OK SK1. NNKR

Nazaré Costa
o i^ a n im d o ra

Alia nu Uiheiro l*oi <o


A m lr c /a M ach ado
I n c i d i r e m i r a Soa ri s da Silva
K ercya lie rn a r d e s l*inlo B andeira
L í\ia IVriianda l-erreira 1'erra/
l.uciane da ('o sla Harros
L u d im a r San tos Vieira
Nádia P r a / e r c s Pinheiro
Simotic dos Sanlos ( ' o n v a
S u an e M aria M a rin h o Sá
lav iia n M a rq u e s liandeira
Viviane Pereira dos Sanlos

ESETec
Até Onde O Que Você Sabe Sobre O
Behaviorismo É Verdadeiro? Respondendo As
Principais Críticas Direcionadas
Ao Behaviorismo De Skinner
Até Onde O Que Você Sabe Sobre
O Behaviorismo É Verdadeiro? Respondendo As
Principais Críticas Direcionadas
Ao Behaviorismo De Skinner

Nazaré Costa
O rganizadora

A liana Ribeiro Porto


A n dreia M achado
Ingrid Ferreira Soares da Silva
Kercya Bernardes Pinto Bandeira
Lívia Fernanda F erreira F erraz
Luciane da Costa Barros
Ludimar Santos Vieira
Nádia P razeres Pinheiro
Simone dos Santos Corrêa
Suane M aria M arinho Sá
Taynan M arques B andeira
Viviane P ereira dos Santos

ESETec
Editores A ssociados
2004
Copyright desta edição:
ESETec Editores Associados. Santo André. 2004.
Todos os direitos reserv ados

Costa, Nazaré.

Até Onde O Que Você Sabe Sobre O Behaviorismo É Verdadeiro?


Respondendo As Principais Criticas Direcionadas Ao Behaviorismo De Skinner
- Org Nazaré Costa. 1*ed. Santo André. SP: ESETec Editores Associados, 2004.

80 p. 21cm

1 Behaviorismo Radical
2. Skinner
3. Comportamento Humano

ISBN - 85- 88303- 47-7

ESETec Editores Associados

Solicitação de exemplares: comercial:a esetec.com.br


Td.< 11)4990-5683
Telfex: (11)4438-6866
www.esetec.com.br
“Com todas as minhas fraquezas criei um
mundo no qual todas as coisas
que fa ço são positivamente reforçadoras. Eu
reconstruí um mundo
no qual posso me conduzir bem "

B.F.Skjnner, 1990
Para meus sobrinhos Xfaick e Maytta que representam
os filhos que ainda não me disponibilizei ter.
Vocês são muito importantes para mim!
Agradecimentos

Aos alunos-autores que aceitaram o desafio e se dedicaram


ao livro, em especial àqueles que estiveram comigo até o fim.
Aos alunos em geral para os quais escrevo,
Ao Hugo Leonardo, que tem tomado
minha vida mais reforçadora.
Ao Olavo Galvào pela disponibilidade de ler o material e
tecer comentários sobre o mesmo,
À Teca, que mais uma vez confiou em meu trabalho!
Apresentação
Mais um livro. Agora como idealizadora. orientadora e organizadora. Mais um
sonho realizado!
Este livro possui uma história longa, considerando sua idealização, mas curta
partindo do momento que os autores se engajaram no projeto - junho de 2003.
A história deve ter tido seu inicio por volta de 1997 quando fazia parte de um
grupo de estudos em Belém e propus aos componentes do mesmo responder as vinte
críticas apresentadas por Skinner no livro Sobre o Behaviorismo. A idéia era responder as
críticas de forma clara, simples e direta para que mais pessoas tivessem acesso ao pensa­
mento skinneriano. uma vez que a leitura de Skinner, embora imprescindível para os
analistas do comportamento, nem sempre se mostra compreensível e prazerosa, sobretu­
do. para iniciantes.
Como naquela época o grupo não levou o projeto à frente e continuei consideran­
do relevante executá-lo. apresentei a proposta ao Grupo de Estudos em Análise do Com­
portamento (GEAO. criado por mim em janeiro de 2003 na Universidade Federal do
Maranhão, e este. de pronto, aceitou. O grupo é totalmente formado por alunos e ex-alunos,
sendo este um dos aspectos inovadores do livro - um livro escrito quase completamente
por alunos de graduação, na sua maioria do 6 ° semestre de Psicologia, quando iniciaram a
escrita de seus capítulos.
Como no projeto original, o objetivo do livro consiste em responder criticas
freqüentes dirigidas ao B e h a v iorismo de Skinner. Por isso, a orientação dada aos autores
foi a de que redigissem seus argumentos usando ao máximo o próprio Skinner. A idéia
então é mostrar que de fato Skinner deu. no mínimo, alguma atenção a tópicos que os
críticos alegam que ele negligenciou e que os mesmos sustentam afirmações equivocadas
a respeito das proposições skinnerianas.
O livro, em última instância, busca divulgar as idéias de Skinner tais quais ele as
apresentou, como uma forma de valorização do seu trabalho tão erroneamente criticado,
embora pontos da proposta de Skinner atualmente sejam alvo de criticas pelos próprios
analistas do comportamento que se propõem a ir além do legado deixado pelo autor.
Sabe-se que o livro de Skinner Sobre o Behaviorismo teve como objetivo
exatamente responder as 2 0 criticas mais freqüentes que são feitas ao Behaviorismo
Radical. Deste modo. cabe a pergunta - O que distingue esta proposta da já existente? A
distinção reside no fato do livro ser escrito para o público leigo e/ou iniciante em Psico­
logia. Assim, nada mais adequado para a realização desta tarefa do que contar com a
participação dos próprios alunos que tiveram e que ainda possuem dificuldades em
compreender certos textos e colocações de Skinner.
No que se refere à estrutura, o livro seguirá a seqüência das críticas que Skinner
enumera em Sobre o Behaviorismo (com exceção da critica que afirma que o Behaviorismo
desumaniza o homem, que constituirá o último capitulo), sendo que algumas foram
agrupadas em função da possibilidade de relacioná-las. Então, ao invés do livro ser
constituído de 2 0 capítulos, como era de se esperar, ele foi dividido em 16, como mostra
o sumário. As criticas foram transformadas em questionamentos, tendo, por este motivo,
11
sido mantidas as mesmas palavras e expressões do material de Skinner. Cada uma das
criticas tomou-se o titulo dos capítulos.
Cabe ainda ressaltar que houve escolha e sorteio, quando havia coincidência de
interesse, quanto à critica a ser trabalhada pelos autores. As criticas que restaram foram
distribuídas entre os dois estagiários de clinica analitico-comportamental e eu, sendo que
ao longo do processo algumas desistências ocorreram e novas divisões de capítulos foram
feitas, considerando, sobretudo a disponibilidade para escrever um outro capítulo em um
tempo mais curto.
Como deve ser o propósito de qualquer autor ou organizador, espero que a
meta do livro seja alcançada e que ele seja mais uma contribuição no sentido de divulgar as
proposições de Skinner, do modo como ele as defendeu, e não de maneira equivocada e
distorcida como muitos ainda apresentam em livros e em sala de aula. Considero ser uma
postura ética de um professor-formador falar de forma limitada de autores com os quais
não se identifica e não possui familiaridade, apontando isto, e não deturpando e ou
afirmando inverdades.
Estou imensamente feliz por estar tendo a oportunidade de dividir este sonho
com alunos com os quais tive o prazer de trabalhar na universidade e futuros analistas do
comportamento (espero!), além de estar iniciando os mesmos, em grande estilo, no
mundo científico - produzindo e divulgando conhecimento.
As sementes que plantei já estão produzindo frutos e muitos deles já se encon­
tram bem amadurecidos. Este é o reforço positivo mais potente para a manutenção de
meus comportamentos enquanto professora. Estou tranqüila por saber que a Análise do
Comportamento mudou a “cara" da Psicologia em São Luís e que a tendência é que seus
seguidores afetem positiv amente ainda mais este ambiente.

Sazaré
Agosto de 2003
Sumário
I O B e h a v io r is m o ig n o r a a c o n s c i ê n c i a , o s s e n t im e n t o s e o s e s t a d o s

MENTAIS, NÃO ATRIBUINDO QUALQUER PAPEL AO EU OU A CONSCIÊNCIA DO


E li? Luciane da Costa B arros.............. ......... .............................. ............. 15
D O B e h a v j o r is m o n e g l ig e n c ia d o n s in a t o s e a r g u m e n t a q l e t o d o c o m ­

p o r t a m e n t o é a d q u ir id o d u r a n t e a v id a d o i n d i v í d u o ?

L h ia Fernanda Ferreira F erraz......... ....................................................... 19


III O B e h a v io r is m o a p r e s e n t a o c o m p o r t a m e n t o s im p l e s m e n t e c o m o u m

c o n ju n t o d e r e s p o s t a s a e s t ím u l o s , d e s c r e v e n d o a pe s s o a c o m o u m

a u t ô m a t o , u m r o b ô , u m f a n t o c h e o u u m a m á q u in a ?

Sadia Prazeres Pinheiro.................................... ...................................... 23


IV O B e h a v io r is m o NÃO t e n t a e x p l ic a r o s p r o c e s s o c o g n it t v o s ?

Ih ia n e Pereira dos Sa nlos.......................................................................... 27


V O B e h a v io r is m o n ã o c o n s i d e r a a s in t e n ç õ e s o u o s p r o p ó s it o s ?

Nádia Prazeres P inheiro............................................................................. 29


\1 O B e h a v io r j s m o n ã o c o n s e g u e e x p l ic a r a s r e a l i z a ç õ e s c r ia t iv a s - na

ARTE, POR EXEMPLO, OU NA MÚSICA, NA DE LITERATURA, NA CIÊNCIA OU NA


MATEMÁTICA?
Taynan M arques B andeira........................................................................... 33

VII O B ehav i o r is m o é n e c e s s a r i a m e n t e s u p e r f ic ia l e n ã o c o n s e g u e l id a r

c o m a s p r o f u n d e z a s d a m e n t e o u d a p e r s o n a l id a d e ?

Suane M aria M arinho S á ............................................................................ jj

VTII O B e h a v io r is m o l im tta - s e â p r e v is ã o e a o c o n t r o l e d o c o m p o r t a m e n t o

E NÃO APREENDE O SER, OU A NATUREZA ESSENCIAL DO HOMEM?


Andrezza M achado....................................................................................... 41
IX O B ehav i o r is m o t r a b a l h a c o m a n i m a i s , p a r t ic u l a r m e n t e c o m r a t o s

BRANCOS, MAS NÃO COM PESSOAS, E SUA VISÃO DO COMPORTAMENTO HUMANO


ATEM-SE, POR ISSO, ÀQUELES TRAÇOS QUE OS SERES HUMANOS E OS ANIMAIS
TÊM EM COMUM?
Ludim ar Santos Vieira.................................................................................. 45
X O B e h a v io r is m o t r a s r e s u l t a d o s o b t id o s n a s c o n d iç õ e s c o n t r o l a d a s

DE UM LABORATÓRIO, NÃO PODENDO SER REPRODUZIDOS NA \ IDA DLÁRLA, E


AQUILO QUE ELE TEM A DLZER ACERCA DO COMPORTAMENTO HUMANO NO
MUNDO MAIS AMPLO TORN A-SE. POR ISSO UMA METACIÈNCIA NÃO COMPROVA­
DA. APEN AS CULTUANDO OS MÉTODOS DA CIÊNCI A. MAS NÃO É CIENTIFICO?
A liana Ribeiro P orto .................................................................................... 49
13
XI O B e h a v io r is m o é s u p e r s i m p u s t a e in g ê n u o e s e u s f a t o s s ã o o u TRIVIAIS
OU JÁ BEM CONHECIDOS, SENDO QUE SU AS REALIZAÇÕES TECNOLÓGIC AS PO­
DERIAM TER SIDO OBTIDAS PELO SENSO COMUM?
Nazaré Costa, Taynan Marques Bandeira e Viviane Pereira dos Santos 51
XII O B e RWTORISMO CONSIDERA q u e SUAS ALEGAÇÕES SE APLICAM AO PRÓPRIO
CIENTISTA BEHAVKHUSTA? A SSIM SENDO. O BEHAVIORISTA DIZ APENAS AQUI­
LO QUE FOI CONDICIONADO A DIZER E QUE NÃO PODE SER VERDADEIRO?
Nazaré Costa............................... ............................................................ 55

XIII O B e h a v io r is m o s ó s e in t e r e s s a p e l o s p r i n c í p i o s g e r a is e p o r is s o

NEGLIGENCIA A UN1CTDADE DO INDIVIDUAL?


Ingrid Ferreira Soares da Silva............................................................. 57

XIV O B e h a v io r is m o é n e c e s s a r i a m e n t e a n t i d e m o c r á t i c o p o r q u e a r e l a ­

ç ã o e n t r e e x p e r im e n t a d o r e o s u j e i t o ê d e m a n ip u l a ç ã o e s e u s r e s u l ­

t a d o s p o d e m , p o r e s s a r a z ã o , s e r u s a d o s p e l o s d it a d o r e s e n ã o p e l o s

hom ens de boa vontade?

Simone Corrêa......................................................................................... 61
XV O B e h a v io r is m o e n c a r a a s i d é ia s a b s t r a t a s , t a is c o m o m o r a l i d a d e e

j u s t iç a c o m o f ic ç õ e s ?

Kercya Bemardes Pinto Bandeira.......................................................... 57

XVI O B e h a v io r is m o d e s u m a m z a o h o m e m , r e d u z in d o e d e s t r u in d o o h o ­

m e m e n q u a n t o h o m e m , s e n d o i n d if e r e n t e a o c a l o r e à r i q u e z a d a

v id a h u m a n a , e in c o m p a t ív e l c o m o g o z o d a a r t e , d a m ú s ic a , d a l i t e ­

r a t u r a e c o m o a m o r a o p r ó x im o ?

Ingridi Ferreira Soares da Silva. Kercy a Bemardes Pinto Bandeira


e Suane Maria Marinho Sá...................................................................... 7]

R e f e r ê n c ia s
oi d

A p ê n d i c e ......
C aUTUjO [

O Behaviorismo ignora a consciência,


os sentimentos e os estados mentais, não
atribuindo qualquer papel ao eu ou a
consciência do eu?
Luciane da Costa Barros

O Behaviorismo é comumcnte mal interpretado devido à sua preocupação com


o rigor científico. Um dos maiores equívocos está na falsa concepção de que o Behaviorismo
ignora os sentimentos, a consciência e os estados mentais (Skinner, 2003).
Inicialmente, entre os anos de 1930 e 1944, os estudos de Skinner estavam
voltados para os comportamentos publicamente observáveis. Foi em 1945, ano que é
considerado o marco de inicio do Behaviorismo Radical, que Skinner incluiu a análise da
subjetividade em seus trabalhos (Costa. 2002).
Para explicar a subjetividade. Skinner ( 1990) recorre às contingências ambientais
que. segundo ele, atuam nos níveis filogenético. ontogenético e cultural - níveis de deter­
minação do comportamento que serão abordados nos capítulos 2 e 3.
A subjetividade é denominada, por Skinner, de eventos privados que, além de
cnghbar os comportamentos encobertos (acessíveis diretamente apenas ao próprio indiví­
duo), inclui os estímulos internos (condição corporal e resposta emocional) (Skinner, 1998).
Skinner trata a subjetividade ou ev entos privados do mesmo modo que os
comportamentos públicos, pois, para os behavioristas. cognição, estados mentais e
emoção são comportamentos e, como tais, são funções do ambiente - sendo ambiente
entendido como tudo que ocorre no universo que é capaz de afetar o organismo
(Skinner, 1998).
A condição corporal (dor, frio, fome) e a resposta emocional (raiva, tristeza,
alegria) são partes do universo que afetam o indivíduo. Entretanto, os estímulos internos
não são autônomos, pois estão sempre atrelados a um evento extemo antecedente. O
Behaviorismo Radical recorre sempre ao ambiente extemo para explicar o comportamen­
to. rejeitando as concepções intemafistas que recorrem ao próprio indivíduo como tenta­
tiva de explicar o comportamento (Tourinho, 1997).

15
Em Ciência e Comportamento Humano (1998), Skinner fala da vida privada
como aquela que é construída na relação do individuo com a comunidade verbal perten­
cente ao seu meio cultural. Por isso. para compreender e analisar a subjetividade é preciso
investigar o contexto ao qual está relacionada.
No processo de instalação dos eventos privados no repertório comportamontai
do indivíduo, é preciso que ele se comporte publicamente e que a comunidade verbal o
ensine a discriminar e nomear o evento privado. Por exemplo, uma criança que está
com dor de barriga provavelmente colocará a mão na barriga com expressões faciais de
dor (rosto franzido). Isso permitirá que outra pessoa responda discriminativamente e
diga para ela que o que está sentindo é dor de barriga. Nesse sentido. Skinner <1998)
argumenta que todo comportamento antes de ser privado deve ser apresentado publi­
camente.
Contudo, com palavras que designam sentimentos, o aprendizado não ocorre
de maneira tão fácil, pois os comportamentos que são expressos publicamente quase
nunca coincidem com o que se passa no mundo privado. As palavras que uma pessoa
utiliza para responder o que está sentindo foram adquiridas através da comunidade
verbal, e esta não sabia exatamente o que ela estav a sentindo (Skinner. 2002).
Skinner (2002) mostrou que as p a la v ra s aprendidas para expressar sentimen­
tos começaram com metáforas, como uma forma de mostrar o que se passava internamen­
te através de algo público que fosse semelhante; por exemplo, uma pessoa que se sente
trai da compara tal sentimento com um punhal enfiado no peito. Houve uma transferência
do público para o privado.
Numa análise do comportamento, segundo Skinner (2002), não precisamos
utilizar os nomes que designam sentimentos se pudermos acessar diretamente os ev entos
públicos que causaram tais eventos privados. Ao invés de dizer que alguém está deprimi­
do, podemos dizer que não existe nada de reforçador no ambiente desse indivíduo.
Isso não significa que o Behaviorismo não leva em consideração os sentimentos.
O que o Behaviorismo não aceita são os eventos priv ados como determinantes do compor­
tamento; eles não são aceitos como causa pois, como foi afirmado anteriormente, existe
sempre um evento extemo antecedente (Skinner, 2003). Para ilustrar, costumamos dizer
que a raiva é o que nos motiva a “brigar” com alguém, mas ninguém fica com raiva sem que
algo extemo ao sujeito tenha ocorrido antes de tal evento privado, como uma batida de carro,
uma ofensa proferida ou um dia com temperatura excessivamente elevada.
É fácil atribuir a causa do comportamento aos sentimentos porque estes ocor­
rem ao mesmo tempo em que estamos nos comportando ou mesmo antes de nos compor­
tarmos. formando um elo na cadeia comportamental (Skinner, 2 0 0 2 ).
Skinner (2002) esclarece outro ponto que facilita esse engano - o fato de. na
maioria das vezes, as pessoas não estarem conscientes das contingências ambientais que
estão controlando seus comportamentos.
Considerando que a crítica inclui a não-atribuição de papel à consciência, faz-se
necessário elucidar de um modo mais especifico como a consciência é vista pelo
Behaviorismo Radical.

1 Afirma-se qoe um orgamsmo dvscrômTs» ctstç áots ou -na» «trm uk» quando eic se ceroçiorta difercTWTnerr.e na
presença de cada um detaes cHnuuk» <Whotfey e Malkx. 1980*}.
: O cooccito <fc estim ule nrfançador será apresentado no capitulo III.

16
C aU t ia o I

Skinner (1998) aborda a consciência como a capacidade que o ser humano tem
de descrever seu comportamento, identificando a sua relação com as variáveis que o
determinam.Ter consciência ou estar consciente refere-se então ao mestno fenômeno - a
capacidade que uma pessoa tem de falar sobre o seu comportamento. Quando isso é
possível, podemos dizer que tais atos ou comportamentos são conscientes (Baum. 1999).
O comportamento de falar também pode ser consciente ou não. Será consciente
quando a pessoa que se comportou for capaz de repetir o que foi dito (Baum. 1999).
Entretanto. Skinner (1998) revela que. na maioria das vezes, o homem é inca­
paz de reconhecer tais variáveis, pois estas podem ser sutis a ponto de não despertarem
a atenção do indivíduo. Da mesma forma, pode não haver uma razão específica para que
este indivíduo se comporte discriminativamente a ponto de tomar consciência daquela
relação. Além disso, as variáveis que nos afetam são muitas e discriminar sob controle de
qual delas estamos nos comportando não é uma tarefa fácil.
Em síntese, quando nos comportamos ou quando estamos aprendendo um com­
portamento. não nos damos conta do processo como um todo. o que tem como conseqüên­
cia a atribuição da função de originador do comportamento a um agente interno - o EU -
referindo-se ao próprio homem como responsável pelo comportamento (Skinner, 1998).
Quando as concepções intemalistas’ referem-se a um EU como o causador de
uma ação. esse EU não coincide com o organismo físico. E como se o corpo apenas se
comportasse, mas quem o dirige é o EU, e não importa se esse EU é inconsistente (que
muda de um momento pra outro), pois um único EU é capaz de comportar diferentes
ações (Skinner, 1998).
Para Skinner (1998), o conceito de EU não é essencial em uma análise do
comportamento porque ele se baseia nas variáveis ambientais. Considera o EU um mero
artifício para simplificar a relação funcional “causa e efeito’', já que trabalhar com os
dados ambientais exige uma explicação de como se dá as relações entre eles.
A concepção behaviorista de EU, que nada se assemelha às concepções
intemalistas. revela que o EU está relacionado com a cultura na qual os repertórios
comportamentais vão ser instalados em cada indivíduo a partir da sua interação com o
ambiente. De acordo com as variáveis ambientais, o indivíduo aprenderá a se comportar
de diferentes maneiras em diferentes situações (Skinner, 1998).
O que se tomará próprio de cada indivíduo será a forma como se comportará
diante de uma dada situação, visto que a história de reforçamento se diferencia de pessoa
para pessoa. Em suma. o EU não é um agente interno ao homem e causador de uma ação,
mas sim comportamentos instalados a partir da história de reforçamento do indivíduo em
interação com o meio cultural.
Podemos perceber claramente, ao longo de todo o capitulo, a ênfase que o
Behaviorismo dá ao ambiente, mas isso não torna as criticas dirigidas a ele pertinentes. O
Behaviorismo Radical atribui ao EU e a subjetividade (ev entos privados) o lugar de ser
efeito do ambiente e dos comportamentos que ele produz, e não o de ser causa. Os
eventos privados podem fazer parte de uma cadeia de comportamento, mas não o deter­
minam. O estimulo que produz o comportamento é sempre ambiental externo. Logo, não
há gravidade alguma em deixar de atribuir ao EU, ou aos eventos privados, o papel de
causador do comportamento já que somos a todo o momento afetados pelo ambiente.
3 Aquelas que explicam o fenômeno comportamentai através do que ocorre no interior do indivíduo.

17
C apitulo II

O Behaviorismo negligencia dons


inatos e argumenta que todo
comportamento é adquirido durante a
vida do indivíduo?
Lívia Fernanda Ferreira Ferraz

A critica parece estar enfocando duas questões: 1) todo comportamento, para


um behaviorista radical, é um fenômeno aprendido durante a ontogênese e 2 ) o behaviorísta,
então, não acredita na possibilidade de alguns indivíduos nascerem com aptidões, por
exemplo, para dança, música. literatura etc.
Em relação à primeira questão, pode-se argumentar que não é verdadeira na
medida em que Skinner explica os comportamentos a partir do modelo de seleção por
conseqüências, que é constituído por três niveis de determinação (Andery, 1993).
No primeiro nível, influenciado pela teoria danvinista. Skinner postula que
existem respostas que são selecionadas pelas contingências de seleção natural, ou melhor,
selecionadas filogenicamente. Deste processo surgiram os comportamentos ou dons ina­
tos. eventos que foram selecionados a partir da evolução das espécies (Andery. 1993).
“A corte, o acasalamento, a construção de ninhos e os cuidados com as crias são coisas
que os organismos fazem e. mais uma vez. presume-se que fazem por causa da maneira
porque evoluíram’’ (Skinner, 2003, p. 34).
E importante ressaltar que os comportamentos selecionados por contingências
de seleção filogenética permitem a interação da espécie humana com o mundo, garantindo
sua sobrevivência (Andery, 1993). Sobre isto afirma Skinner (1998),

Eslas vantagens biológicas explicam certos reflexos em um sentido evolutivo:


os indivíduos que provavelmente mais se comportarem de maneira seme­
lhante. presumivelmente tiveram maiores probabilidades de sobreviver e
transmitir a característica adaptativa ã prole (p.60).

Mas a explicação skinneriana para a aquisição dos comportamentos não se


restringe ao primeiro nível de seleção. O segundo nível opera sobre o conjunto de respos­
19
tas no decorrer do período de vida de um indivíduo e o terceiro ocorre à medida que o
comportamento é transmitido entre in d iv íd u o s (Andery, 1993).
A explicação de comportamentos adquiridos durante a história particular do
índivíduo vem do segundo nível de seleção por conseqüência, postulado por Skinner - a
ontogénese. Neste processo, a seleção opera sobre o comportamento (ação) do indivíduo;
0 organismo se comporta gerando conseqüências, que por sua vez. controlarão a emissão
do comportamento no futuro. Skinner (1998) em seu livro Ciência e Comportamento
Humano afirma: “As conseqüências do comportamento podem retroagir sobre o organis­
mo. Quando isso acontece, podem alterar a probabilidade de o comportamento ocorrer
novamente” (p. 65).
Segundo Skinner (1998). o aumento na probabilidade de ocorrência do compor­
tamento está relacionado cora a atuação de reforçadores1, que por sua vez. funcionam
como instrumento de seleção. **Quando temos de considerar o comportamento do orga­
nismo em toda sua complexidade da vida diária, necessitamos estar constantemente
alertas para os reforços que prev alecem e que mantém o comportamento” (Skinner, 1998,
p. 109). Isto quer dizer que» durante a vida do indivíduo, existem comportamentos que
são fortalecidos por suas conseqüências, ou seja. são instalados e mantidos no repertório
comportamental do indivíduo mediante a ação de reforços (Skinner, 2003).
Além dos comportamentos inatos e dos comportamentos adquiridos pela ação
do reforço sobre o comportamento do indivíduo, existem também repertórios
comportamentais instalados e mantidos pelas práticas culturais (Andery, 1993; Skinner.
1998). Trata-se do terceiro nível de seleção por conseqüência, a cultura, que segundo
Skinner (1998) vem a ser “um conjunto particular de condições no qual um grande
número de pessoas se desenvolve e vive” (p. 468).
Este grupo ou este conjunto de contingências sociais dispõe de costumes e
relações que nunca foram experimentadas ou vistas pelo indivíduo, porém são eventos
que o afetam, permitindo a aquisição de comportamentos, seja em nível privado (pen­
samentos e sentimentos) como também públicos, como, por exemplo, o manuseio de
objetos e aprendizagem de habilidades sociais (Andery, 1993; Skinner, 1998).
Vimos, portanto, que Skinner, respaldado pelo modelo de seleção por conseqü­
ências. não explica a aquisição dos comportamentos partindo somente da história de vida
particular do indivíduo, incluindo em sua análise tanto conseqüências filogenéticas quan­
to culturais.
E no que se refere à negligência aos dons inatos? Skinner, na verdade, não
negligencia aspectos inatos. Ele nega a existência de “dons”, eqüivalendo a comportamen­
tos que independem da relação que cada pessoa estabelece com seu ambiente.
Para Skinner, como visto no primeiro nível de seleção, existem comportamen­
tos os quais a espécie já traz em função de sua história filogenética. Deste modo, dons
inatos são os que dizem respeito a aspectos genéticos, se referindo apenas a característi­
cas anatômicas e atividades fisiológicas (respiração e digestão) presentes na espécie
humana, como também comportamentos reflexos5 (Skinner, 2003).
1 Estímulos que aumentam a probabilidade futura de um comportamento, como será mais detalhado no prmjmo
capitulo.
2 Comportamento* reflexos serão dBcandos no próximo capitulo

20
C a fít u l o II

Isio significa que. embora Skinner não desconsidere comportamentos inatos,


ele não aceita a existência de dons inatos no sentido de aptidões que explicariam compor­
tamentos como os de cantar, escrever, jogar futebol - a noção de que “a pessoa nasceu
para isto”. É correto, então, afirmar que, para Skinner, não existem dons inatos que
determinam comportamentos operantes6, supondo que tais dons explicariam completa­
mente o surgimento de alguns comportamentos.
Concluindo, talvez em função de Skinner dar mais ênfase à história pessoal, e
principalmente ao papel da cultura na instalação e manutenção dos comportamentos, é
que se pense que Skinner negligencia o que é inato. No entanto, espera-se que os argumen­
tos apresentados sejam suficientes para que a critica possa ser revista.

Este upo de comportamento lambém sera abordado no cap«tuk> sefnmic.

21
Capítulo III

O Behaviorismo apresenta o
comportamento simplesmente como
um conjunto de respostas a estímulos,
descrevendo a pessoa como um
autômato, um robô, um fantoche
ou uma máquina?
Nádia Prazeres Pinheiro

É comum nós, analistas do comportamento, escutarmos que a nossa teoria


“reduz o homem a uma máquina'’, que afirmamos que todo e qualquer comportamento
obedece à lógica estimulo-resposta - o que seria uma afronta aos seres humanos, animais
superiores e racionais, dotados de vontade própria e de livre arbítrio. “Descartes deu um
passo importante ao sugerir que parte da espontaneidade das criaturas vivas era apenas
aparente e. que. às vezes, o comportamento podia ser iniciado por uma ação externa”
(Skinner, 1998, p.51). E Skinner vai além...
Para responder a esta critica, devemos primeiramente ter claro o que são com­
portamento reflexo e comportamento operante.
No caso do reflexo, os estímulos seriam algum tipo de mudança externa que
causaria estimulação orgânica que. por sua vez. provocaria uma resposta orgânica. Suas
características são: ser inconsciente, ou seja. ocorre mesmo quando o sujeito não está
percebendo; involuntário, ocorre independente da vontade do organismo, não há como
controlá-lo ou evitar sua ocorrência por vontade própria e; pode ser previsto com
grande precisão, considerando que, na presença do estímulo, a resposta sempre ocorre­
rá (Skinner, 1998). São exemplos de comportamento reflexo, os casos da contração
pupilar frente a um estimulo luminoso, da salivação frente a um prato de comida
aparentemente apetitoso e do piscar quando algum objeto é passado na frente de nosso
rosto ou olhos.
"Os reflexos são produtos da seleção natural. Invariavelmente parecem estar
envolvidos na manutenção da saúde e na promoção da sobrevivência e da reprodução”
(Baum. 1999. p. 72). Os padrões de comportamentos reflexos são comuns a todos os
membros dc uma espécie e. por isso. podemos dizer que estão relacionados com a
füogênese. Tais padrões começaram a se modificar e a evoluir na medida em que o
organismo precisada se adaptar às mudanças do meio. já que. “só o processo evolutivo
pode fornecer um mecanismo, pelo qual o indivíduo possa adquirir respostas a configu­
rações particulares de um dado ambiente’' (Skinner, 1998. p. 60). Ora, se o ambiente no
qual os organismos estavam inseridos sofreram modificações, eles. os organismos, tam­
bém precisariam ev oluir para permitir a sua sobrevivência e a manutenção de sua espécie.
Os camaleões, por exemplo, quando em contato com um estimulo de perigo, mudam sua
cor para se esconderem e serem confundidos com o seu esconderijo. Se isso não ocorres­
se, se esse reflexo nâo estiv esse presente nesse animal, ele seria presa fácil e sua espécie
poderia estar extinta. Da mesma maneira nós, os seres humanos, quando lacrimejamos
para expulsar uma partícula de poeira é uma questão de sobrevivência para manutenção
da espécie (Skinner, 1998).
Se todos os nossos comportamentos se restringissem aos reflexos, poderíamos
ser comparados às máquinas, pois nossos comportamentos sempre corresponderiam à
relação causa e efeito. Entretanto, como afirma Skinner (1998). “A maior parte do com­
portamento do organismo intacto não está sob esse tipo de controle primário” (p. 54); a
maioria dos nossos comportamentos são operantes.
O comportamento denominado operante é aquele que opera sobre o meio,
produzindo modificações no ambiente físico (natural) e no ambiente social (homens)
(Skinner, 1998). Este comportamento é explicado pelo paradigma da triplíce contingência
S*- R - Sr. Onde Sdéo estimulo discriminativo, R é a resposta e Sr é o estímulo reforçador.
Explicando cada um: Sd é um estimulo que sinaliza a possibilidade de
reforçamento. Distinguindo-se do estimulo antecedente do reflexo, ele “não elicia a res­
posta, simplesmente altera sua probabilidade de ocorrência” (Skinner, 1998. p. 122).
Com isso. pode-se concluir o porquê de não falarmos de certezas, e sim de probabilidades
em comportamentos operantes, e que, portanto, não somos seres autômatos pois as
respostas automáticas não são maiona em nosso repertório comportamental. Assim,
podemos alterar a probabilidade de emissão de uma resposta modificando o estimulo
discriminativo com o qual o organismo entrará em contato (Skinner, 1998). R é a respos­
ta, a ação em si mesma. E S' é um estimulo conseqüente à resposta que determina a futura
freqüência de emissão da mesma (Skinner, 1998). Quando a conseqüência é um Sr. a
resposta tem uma maior probabilidade de voltar a acontecer, se não for reforyadora. ela (a
resposta) terá sua probabilidade de ocorrência diminuída. Deste modo. o reforço cumpre
a função de fortalecer uma determinada resposta e aumentar a eficiência da mesma: e é por
isso que dizemos que o comportamento é selecionado pelas suas conseqüências, elas
"podem retroagir sobre o organismo” (Skinner. 1998, p. 65).
Ilustrando o paradigma operante. podemos recorrer ao comportamento de la­
var as mãos quando estas estão sujas. Neste caso o Sc é "as mãos sujas”, R é “lavar as
mãos” e Sré “ter as mãos limpas”. Assim, toda vez que estiver frente ao estímulo mãos
sujas, a probabilidade de lav ar as mãos é maior do que a de qualquer outra resposta, visto
que tal resposta foi anteriormente reforçada. “A história de reforçamento é que determina
os efeitos de um evento atual, as conseqüências recebidas no passado alteraram o organis­
mo de forma a ele aeir de uma dada maneira frente a um ev ento” (Micbeletto, 1997, p.
127).

A esta história que é construída ao longo da vida dos indivíduos e que


consiste, na verdade, na aquisição de repertórios comportameniais por
meio [principalmente] do condicionamento operante chamamos ontogénese.

24
C a p itu lo III

Desta forma, a ontogema diz respeito à história particular de cada indiví­


duo. na medida em que todo homem interage com o ambiente de maneira
singular. Sendo o comportamento operanie uma parte da ontogênese, tal­
vez a maior parte dela (Costa, 1996, p. 7-8).

Desde esse nível de determinação podemos perceber o quão único é o ser


humano (tema que será abordado no capitulo XIV), ninguém vai ter os mesmos compor­
tamentos (mesmo que sejam topograficamente semelhantes, não o serão funcionalmente)
de outra pessoa. Haverá sempre algo de novo. o que dará a dimensão de que não podemos
ser máquinas - estas são pré-programadas: nós não. estamos em constantes mudanças
(cf. Micheletto. 1997).
Partindo da própria definição de operante como o comportamento que é
selecionado por suas conseqüências, já é possível refutar a critica de que a concepção de
comportamento adotada por Skinner obedece a uma lógica mecanicista. Afinal, não se
trata de uma análise causai, na qual se busca uma causa para um efeito.
Nas palavras de Skinner (1998),

Os "íermos 'causa' e 'efeito': já não são usados em larga esrala na ciência. Lma
“causa" vem a ser “uma mudança em uma variável independente" e um “dcrto"
uma “mudança em uma variável dependente'1'. A antiga “relação de causa c
efeito" transforma-se em uma "relação funcional". Os novos termos não suge­
rem como uma causa produz o seu efeito, meramente afirmam que eventos
diferentes tendem a ocorrer ao mesmo tempo, em uma certa ordem (p. 24).

L ma análise funcional avalia contingências e estas são definidas como “relações


de dependência entre eventos. Elas prescrevem a probabilidade de ocorrência de um dado
evento em função da ocorrência de um outro evento” (Barros, 19%. p. 8 ).
Retomando o modelo de seleção por conseqüência, como foi visto no capitulo
anterior, o comportamento humano também é controlado pela cultura, como enfatiza
Skinner (2002),

Podemos atnbuir uma pequena parte do comportamento humano (...) ã


seleção natural e à evolução das espécies, uma parte do comportamento
humano deve ser atribuida a contingências de reforçamento. especialmente
às contingências sociais verdadeiramente complexas a que chamamos cultu­
ra (p. 41).

E complementa: o homem “se encontra controlado por seu ambiente, porém


não devemos esquecer que é um ambiente, construi do em grande parte pelo próprio
homem” (Skinner, 1983a. p. 160).
Isso quer dizer que o homem é controlado pelo próprio homem: é a sociedade,
a nossa própria comunidade, que seleciona os comportamentos que devem ser emitidos.
E mais. como disse Micheletto (1997). tenho meu comportamento reforçado pelo suces­
so do meu próprio comportamento, somos “agentes controlados pelo efeito de nossa
própria ação” (p. 118). Logo. sou fantoche de mim mesmo?
Com certeza não! Nem fantoche do ambiente, nem fantoche de si mesmo, pois
a noção de comportamento implica relação. Todos os comportamentos tém uma história.
25
a história de reforçamento de cada uzn de nós. as nossas historias de vida, inseridos em
uma determinada sociedade. E é dependendo de como e quando os individuos desta
sociedade nos oferecem reforçadores ou punidores que poderemos nos comportar em um
determinado contexto. Dizer que o comportamento humano é controlado por eventos
externos não significa dizer que o homem é um autômato, um robô. um fantoche ou uma
máquina.

26
C apítvlo IV

O Behaviorismo não tenta explicar os


processos cognitivos?

Viviane Pereira dos Santos

Como discutido anteriormente, o Behaviorismo ignora a consciência, os senti­


mentos c os estados mentais como iniciadores do comportamento, excluindo qualquer
explicação interna como causa do mesmo. O Behaviorismo. em especial o skinneriano,
recebeu severas críticas por ter adotado o recorte externai ista para explicar os comporta­
mentos. abolindo da Psicologia o termo mente e seus correlatos.
Posteriormente ocorreram movimentos para trazer a mente de volta, dentre
eles o Cognitivismo: “A mente que a revolução cognitiva colocou em evidência é igual­
mente a executora das coisas. É a executora dos processos cognitivos. Ela percebe o
mundo, organiza os dados sensoriais em todos significantes e processa a informação”
(Skinner, 2002. p. 39).
Vale ressaltar que o termo mente utilizado pelos psicólogos cognitivos difere
daquele utilizado pelos filósofos antigos e pelos psicólogos estruturalistas e
funcionalistas. por não ter como ser estudada pela introspecção, uma vez que não pode
ser observ ada, apenas inferida. “Não vemos a nós próprios, por exemplo, processando
a informação. Vemos os materiais que processamos e o produto, mas não a produção”
(Skinner, 2002. p. 40).
Atualmente, tem-se usado a palavra cogniçào ou a expressãoprocesso cognitivo
em lugar de menie. Conforme Stemberg (2002) o termo cogniçào refere-se ao modo como
as pessoas pensam. Neste sentido, a Psicologia Cognitiva estuda a forma das pessoas
perceberem, aprenderem, recordarem e pensarem sobre as informações, isto é, busca-se
compreender como se dá o processo do conhecimento no indivíduo.
Para os behavioristas radicais, pensar é comportamento privado determinado
por algum ev ento externo, logo a mente não executa nenhum papel no processo de pensar.
Na verdade, o pensamento não está contido na mente nem em lugar nenhum, ele simples­

27
mente ocorre. O fato de o pensar ser um comportamento encoberto dificulta a identifica­
ção das reais causas do comportamento como exteriores ao indivíduo
Na teoria cognitiva, o desenvolvimento do mundo no qual o indivíduo está
exposto é pouco valorizado. Tal aspecto pode ser observ ado na área educacional na qual
professores lançam mão dos mais variados métodos e instrumentos para promover o
desenv olvimento cognitivo das crianças. Eles são instruidos para trabalharem o intelecto
dos alunos, tomando-o mais receptivo e ágil ao processar as novas informações. Já na
teoria skinneriana. é o ambiente externo que assume papel central e não as cognições.
A cognição é um processo mental e por isso é rejeitado por Skinner como
agente que determina o comportamento. “Os processos cognitivos são processos
componamentais; são coisas que as pessoas fazem” (Skinner, 2002. p. 39) e como tais
são estudados pelo Behaviorismo.
Os cognitivistas aproximaram o conceito de mente ao de cérebro e buscam
compreender fenômenos cognitivos que nele ocorrem utilizando, como analogia, progra­
mas de computador. No entanto, nem o mais avançado dos computadores poderá explicar
o comportamento humano, porque o homem não é uma máquina que pode ser programa­
da para realizar ações. A própria estrutura cerebral também foi selecionada e cabe a outras
ciências e não à Psicologia saber como e porque foi selecionada (Skinner, 1990).
Não restam dúvidas que a Psicologia Cognitiva é uma abordagem que vem
conquistando cada vez mais adeptos em virtude de sua linguagem ser de fãcil entendimen­
to para o público em geral, enquanto a linguagem skinneriana. por apresentar caráter
cientifico, é freqüentemente rejeitada.

O extraordinário atrativo das causas internas e a conseqüente negligência


das histórias ambientais c do ccnáno atual se devem a algo mais do que a una
prática lingüística. Sugiro que tem o encanto do arcano. do oculto, do her­
mético, do mágico - esses mistérios que mantiveram posição tâo importan­
te na história do pensamento humano. É o atrativo de um poder aparente­
mente inexplicável, num mundo que parece situar-se alem dos sentidos e do
alcance da razão (Skinner. 2003. p. 140).

O que se deve deixar claro é que Skinner procurou explicar os processos


cognitivos a partir de um recorte extemalista. Eis o ponto de divergência com as ciências
cognitivas que sustentam a idéia de que tais processos podem determinar o comporta­
mento. Desse modo. a distinção entre a Análise do Comportamento e o Cognitivismo
toma-se importante para que se compreenda que se traiam de enfoques distintos cujas
diferenças aparecem desde o plano filosófico, passam pelo teórico e se evidenciam na
prática clínica- Por isso. a integração entre os modelos cognitivista e behaviorista vem
sendo cada vez mais discutida e questionada, visto que tal união resultaria em uma
incoerência teórica (Costa, 2002).

28
C a u t u jo V

O Behaviorismo não considera as


intenções ou os propósitos?

S à d ia Prazeres P inheiro

Ao nos indagarmos sobre “O que é intenção?” ou “O que é propósito?”, a


probabilidade de ratificarmos a hipótese de que todos darão explicações pautadas numa
crença íntemalísta é alta.
Intenção, propósito, expectativa, vontade, desejo, intuito, objetivo... Dificil­
mente alguém não entende estas palavras. No conhecimento do senso comum, são elas
que desencadeiam nossos comportamentos - é por causa delas que agimos. Assim, se
“vamos à praia” é porque desejamos ir até lá; se temos a intenção de sermos bons
profissionais, buscaremos estudar para isso e o comportamento de estudar estaria sendo
causado pela nossa vontade. Porém, como este capitulo é fundamentado na filosofia
behaviorista radical, trataremos de enfocar a intenção a partir de um recorte externai ista.
Antes de tudo. precisamos retomar o paradigma da tríplice contingência. ( - R -
S"). pois a ela estaremos sempre recorrendo. Neste modelo, são as conseqüências reforçadoras
que alteram a probabilidade do comportamento ser emitido no futuro. O alcance de tal
conseqüência dá-se no comportamento futuro e não no que já ocorreu. A alteração não é
imediata no sentido de que ocorre sobre o comportamento presente, ela é na verdade, futura,
sendo percebida na emissão ou não de comportamentos futuros (Skinner. 1998).
Esta última afirmação necessita de um pouco mais de atenção, pois voltará a ser
trabalhada adiante. Segundo Baum (1999). "É claro que um evento futuro não pode
causar um comportamento. (...) As variáveis das quais meu comportamento depende
devem estar no passado ou no presente” (Baum. 1999. p. 98).
De acordo com Baum (1999), existem três significados para a palavra intenção;
função, causa e sentimentos.
O uso de intenção como função não é incompatível com o discurso científico.
Ao afirmarmos que a intenção da borracha é apagar erros de grafia, estamos falando de sua
29
função, o que ela faz. para que ela serve, o que ela é. Em suma. estamos nos referindo à sua
definição, à sua classe funcional, ou seja. algo que a caracteriza como borracha, algo que a
diferencia de todos os outros objetos, e que independente de sua topografia (forma. cor.
tamanho) não a faz perder ou ser excluída de sua unidade funcional. A noção de unidade
funcional é semelhante à de classe de estímulos, na qual um conjunto de estímulos
apresenta alguma propriedade comum (AVhaley e Mallot, 1980a). Mas isso se aplica
quando estamos falando de objetos. E quando falamos de comportamento, como pode­
mos interpretar intenção vista como função? O uso de intenção, neste caso. designa
efeitos ou objetivos. .Assim, quando apresento o comportamento de usar uma borracha,
a intenção do comportamento, isto é. o objetivo do comportamento é o próprio reforçador,
qual seja, o de ter algo apagado.
Logo, a intenção está presente no próprio comportamento operante. seja na
funcionalidade do objeto (trabalho que desempenha), seja no reforçador (estimulo conse­
qüente a um comportamento) de um determinado comportamento.
A segunda maneira de definirmos intenção é substituí-la como causa de um
comportamento. Deste modo, o comportamento de usar uma borracha é causado por um
desejo interno de ter algo apagado. Se agimos de alguma forma, já temos em mente um
determinado objetivo, já sabemos o que almejamos, e por isso nos comportamos. Mas.
esta assertiva vai de encontro à nossa filosofia que é anti-mentalista. não sendo possível
aceitar tal hipótese. Nossa explicação deve, portanto, residir no próprio comportamento
operante. Uma vez que ao agirmos temos nosso comportamento reforçado, o fato de
termos conseguido o reforço faz com que emitamos comportamento semelhante ao ou-
trora reforçado, ou. por outro lado, se formos punidos, teremos menor probabilidade de
emitir comportamento semelhante. Tudo depende da história de reforçamento de um
dado comportamento. “Nós nos lembramos do que fizemos antes e isso nos inclina a nos
comportarmos de modo similar ou diferente, dependendo do que é reforçado*’ (Baum.
1999, p. 103).
Ora. se. em uma determinada situação, utilizamos uma bonacha para apagar erros
e tivemos o nosso comportamento reforçado pelo fato do erro ter sido apagado, o compor­
tamento de apagar teve sua probabilidade de ocorrência aumentada Logo. quando estiver­
mos frente a um erro (S4), nos comportaremos de maneira semelhante (R). e obteremos
(provavelmente) o reforço (SO- Assim, a causa do comportamento não é interna, ele (o
comportamento) é de fato fruto de contingências ambientais: é determinado por elas.
Fica. ainda, uma questão: a de por que é comum concebermos intenção como
causa. Porque ao dizermos que o comportamento é causado, acreditamos que a causa tem
que ser anterior à emissão da resposta como no reflexo (Skinner. 2003). Então, a possi­
bilidade mais imediata é que tenha em mente o objetivo, e que essa representação mental
seria a causa. Bom. e já que a causa tem que ser sempre anterior ao comportamento, como
o Srpoderia causar qualquer comportamento? Esse esclarecimento, quem nos dá é Skinner.
ao dizer que o efeito do Sr faz-se sentir em outras respostas* e não na resposta que o
acompanha:

Não é correto dizer que o reforçamento operante ‘reforça a resposta que o


precede'. A resposta já ocorreu e não pode ser mudada. (...) No lugar de dizer

1 O termo resposta s<sxio asado como smónizno de cooiportajncine.

30
C A P ín x o V

que ura homem se comporta por causa das conseqüências que seguem o seu
comportamento, diremos simplesmente que ele se comporta por causa das
conseqüências que seguiram um comportamento semelhante no passado
(Skinner. 1998. p. 97).

Destarte, o estímulo reforçador pode sim, controlar a emissão de respostas.


Um outro motivo que justifica a confusão é que ao nos comportarmos seguindo
a nossa intenção, esta cessa (Baum. 1999). Por exemplo, se desejamos ter um erro
apagado (intenção), o apagamos e, por conseguir êxito em nosso propósito, paramos de
apagar. A intenção seria v ista como a causa do comportamento, uma vez que a intenção
não existe mais. ou seja. o comportamento cessou porque a causa não está mais operando.
Faz-se uma relação entre o fim do comportamento com a obtenção do objetivo, conse­
guindo este. aquele é dado como não mais necessário. Deste modo. o parar de apagar é
devido a já ter apagado o erro, portanto "rendo o propósito já realizado, não apagamos
mais o erro'’; e tal fato é concebido como se a vontade interna é que estivesse determinan­
do o nosso comportamento. Novamente podemos esclarecer essa situação, agora recor­
rendo ao encadeamento de respostas. Se uma resposta deixa de ser emitida, é devido à
aparição do reforço, e este. por sua vez. produz uma mudança no meio e serve como
estimulo discriminativo para outra resposta (Whaley e Mallot, 1980b). Da seguinte
maneira:
Erro -> Apagar o erro -> Erro apagado -> Escrev er outra palavra
S* R S e S* R
A terceira forma de entendermos a intenção é como sentimento. Ao expressar,
por exemplo, que estamos com vontade de comprar uma nova peça de roupa e. então,
concluirmos que temos a intenção de comprá-la estamos relatando uma vontade, um
sentimento. "Se eu sei o que eu quero, isso significa que algum sentimento interno está se
comunicando comigo" (Baum. 1999. p. 103). Porém, uma vez mais. estamos nos referin­
do a mentalismos.
Baum (1999) descreve “dicas” que iriam nortear nossos auto-relatos (fala para
si mesmo). Isso quer dizer que sempre que emitimos um auto-relato. este comportamen­
to está baseado tanto em eventos privados quanto em eventos públicos, além de situa­
ções passadas, na nossa história de vida. e não fundamentado no futuro.
Auto-relatos. incluindo palavras como pretender, supor, acreditar, pensar,
parecem estar ditando algo futuro, falando do futuro, esclarecendo o que o sujeito irá
fazer, mas na verdade estão se referindo a conseqüências passadas que dizem da proba­
bilidade de uma resposta ser emitida e, por conseguinte, ser reforçada (Skinner, 1984).
Por exemplo, ao afirmarmos que “pretendemos comer uma isca de peixe”, estamos nos
referindo não ao futuro, como pode parecer, mas sim ao passado, pois. em algum momen­
to passado, em circunstâncias parecidas com as atuais, comemos a isca de peixe e foi
reforçador. Logo. já que os contextos são semelhantes, agora, a isca aluaria como reforçador
para o comportamento de comê-la. nossas chances de obter reforço ao emitirmos tal
comportamento é maior do que com qualquer outro. Essa explicação é pertinente e
cientifica. pois envolve apenas eventos naturais. Assim como escreve Baum. “A explica­
ção cientifica para a ação aparentemente intencional e para os auto-relatos sobre inten­
31
ções sentidas baseia-se nas circunstâncias presentes associadas ao reforço passado em
circunstâncias similares, ambas naturais e passíveis de descobertas" (Baum. 1999, p.
104>.
Um sentimento pode agir como “dica" de um auto-relalo, como foi dito anteri­
ormente - sentimento entendido como ato de sentir. Portanto, se sentimos fome. dizemos
que temos a intenção de comer, se sentimos frio, temos o desejo de termos conosco um
agasalho. E. se dizemos sentir vontade de fazer alguma coisa, se há realmente algum
sentimento envolvido na nossa intenção, seja um sentimento de persistência, euforia,
raiva, medo etc., ele não é o agente do nosso comportamento, estando apenas presente
como subproduto de contingências. Em outras palavras, os sentimentos resultam de
condicionamento clássico, por emparelhamento de uma resposta pública com um evento
privado (Baum. 1999).
Então, ao sentirmos vontade de fazer algo, não estaremos nos referindo a uma
intenção interna, mas sim a nossa própria história de reforçamento. “Uma pessoa dis­
posta a agir porque foi reforçada para tanto pode sentir a condição de seu corpo nesse
momento e chamar-lhe “propósito sentido*, mas o que o Behaviorismo rejeita é a eficácia
causai desse sentimento” (Skinner. 2003, p. 190-191).
Podemos achar suficiente como explicação para uma jovem querer freqüentar
uma academia de ginástica o fato de ela poder encontrar lá rapazes bonitos . Pode ser,
entretanto, que ela faça isso inconscientemente, ou seja. não percebendo que seu compor­
tamento está sendo controlado por tal contingência de reforço. Assim, dizemos que sua
intenção é essa. qual seja, o reforçador de estar observ ando rapazes bonitos. Portanto,
"Uma pessoa pode afirmar seu propósito ou intenção... Ela não pode fazer isso. eviden­
temente. se ela não estivesse ‘consciente’ das ligações causais.,. Ainda assim as contin­
gências são efetivas mesmo quando uma pessoa não consegue descrevê-las" (Skinner,
1984, p. 267).
A facilidade em dar justificativas internas ao invés de fazer uma análise fúnci'
onal (pois nem sempre sabemos das relações entre as contingências que controlam nosso
comportamento) é um dos motivos pelos quais dizemos que nosso comportamento é
movido por uma intenção interna. E este, por ser um comportamento reforçado e difun­
dido na nossa sociedade, ganha cada vez mais importância e força.
Após esta exposição fica claro que o Behaviorismo Radical não desconsidera a
intenção; apenas a explica de maneira diferente, de acordo com o enfoque extemalista. A
intenção pode, desta forma, ser a função de um objeto, o reforçador de um determinado
comportamento, explicada por reforçadores passados e ou história de vida; não sendo
necessário recorrer-se a explicações internas, subjetivas, metafísicas ou fantasiosas.

32
C aíttllo V I

O Behaviorismo não consegue explicar


as realizações criativas -
na arte, por exemplo, ou na música,
na literatura,
na ciência ou na matemática?
Taynan Marques Bandeira

É comum a criatividade ser reconhecida pelo senso comum e conceituada por


diversos autores como produto de algo intemo. como se fosse intrínseca ao indivíduo.
Entretanto, o recorte extemalista de Skinner rejeita a causalidade interna e enfatiza que
todos os comportamentos são determinados a partir das variáveis ambientais externas,
como já foi argumentado em capítulos anteriores. Devido a este posicionamento, muitos
autores o criticam dizendo que sua teoria não explica as realizações criativas. Mas é
utilizando esse recorte que Skinner, não só considera a existência de comportamentos
criativos, como os explica em algumas obras: A Tecnologia do Ensino, Ciência e Compor­
tamento Humano e Sobre o Behaviorismo.
De acordo com Skinner (2003), a criatividade sempre foi considerada como
algo difícil de ser explicado até o surgimento do conceito de comportamento operante,
porque as justificativas para explicá-la. até então, eram mentalístas. Para mostrar que a
criatividade consiste em um comportamento, e que. dessa forma, é selecionado por
suas conseqüências, Skinner contrapõe o processo de condicionamento operante e o
processo de evolução descrito por Darwin. Skinner (2003) afirma que, na história das
espécies (proposta por Darwin), os traços acidentais originados de mutações foram
selecionados em virtude de uma maior sobrevivência da espécie; então, do mesmo
modo. acontece com as variações comportamentais que são selecionadas em v irtude de
suas conseqüências reforçadoras.

O conceito de seleção é mais uma vez a chave. As mutações na teoria


genética e evolutiva, são casuais e as topografias das respostas selecionadas
pelo reforço são. se não aleatórias, pelo menos não necessariamente relaci­
onadas com as contingências em que serão selecionadas. E o pensamento
criador preocupa-se grandemente com a produção de 'mutações'. Escrito­

33
res. artistas, compositores, matemáticos, cientistas e inventores estão fa­
miliarizados com as formas explícitas de tomar mais provável a ocorrência
de comportamento original (Skinner. 2003, p. 101).

Assim, toma-se claro que a originalidade não está ligada a processos internos,
como enfatizam os mentalistas. Os comportamentos criativos são, como qualquer outro
comportamento, selecionados pelas suas conseqüências.

A seleção por conseqüências invariavelmente implica história. Ao longo do


tempo, resultados bem-sucedidos (reforço) tomam algumas ações mais pro­
váveis, C resultados malsucedidos (não reforço ou punição) tornam outras
ações menos prováveis (Baum. 1999, p. 101).

Skinner (1998) faz a distinção entre o que se pode chamar de idéias originais e
não-originais. As respostas não-originais são aquelas provenientes da imitação ou gover­
nadas poc regras1. Já as respostas originais são aquelas que resultam da manipulação das
variáveis, ou seja, modeladas pelas contingências. “Artistas, compositores e poetas às
vezes seguem regras (imitar o trabalho dos outros, por exemplo, é uma forma de seguir
regras), mas atribui-se mérito maior ao comportamento devido a exposição pessoal a um
ambiente- (Skinner, 2003, p. 110-U1).
Baum (1999), um behaviorista radical contemporâneo, argumenta que o objeti­
vo da atividade de qualquer artista seja ele pintor, escritor, compositor, ou cientista, é
buscar a novidade, algo que nunca tenha sido visto ou criado antes. Nesse sentido, cada
trabalho criado se constitui como único e novo, não só para a comunidade, mas também
para seu próprio aoervo. Entretanto, ninguém cria um trabalho a partir do nada. pois
mesmo cada trabalho tendo seu aspecto singular, está relacionado com realizações ante­
riores e origina-se de uma história de vida particular. É perfeitamente passível de verifica­
ção que. embora a compositora Marisa Monte não faça duas músicas exatamente iguais,
suas composições parecem umas cora as outras, mais do que se fosse realizada uma
comparação entre uma música dela com as de Gal Costa, por exemplo.
Então, cada trabalho novo é feito com base nos anteriores e depende das conse­
qüências. pois mesmo não sendo possível sustentar empiricamente. pode-se levantar a
hipótese de que se Marisa Monte não tivesse tido conseqüências reforçadoras para suas
composições, provavelmente nâo teria continuado a compor. “Os trabalhos anteriores
estabelecem um contexto no qual o trabalho novo pode se parecer com eles. mas não tanto
que pareça ‘aquela coisa velha"’ (Baum. 1999, p. 102).
E quanto mais o in d iv íd u o tem a oportunidade de comportar-se. nesse caso.
compor cada v e z mais. maior será a probabilidade de reforçamento e conseqüentemente
serão instalados comportamentos criativos, pois '‘as grandes sinfonias de Mozart são
uma seleção de um número maior, os grandes Picassos são só uma parte do produto dc
uma vida de pintura” (Skinner, 1972. p. 172). Assim. Skinner (1972) afirma que o
importante é evocar comportamentos porque só assim serão emitidas respostas, que se
fossem de outro modo, nâo apareceriam.
Para Skinner, a cultura desempenha um pape’ fundamental na instalação de
comportamentos criativos. Isto fica evidente quando sustenta que “em igualdade de
' Regras são estímulos veifcats que especificam ooonngêncMS (Jonas. 199TV

34
C apitulo V I

condições, a cultura terá maior probabilidade de descobrir um artista original, se induz


muita gente a pintar quadros ou de produzir um grande compositor, se induz muita gente
a compor "(Skinner, 1 972. p. 171 -172).
Diante disso, torna-se claro que Skinner consegue explicar as realizações criati­
vas sem recorrer a argumentos mentalistas. E ainda enfatiza que as pessoas podem ser
instruídas para aprenderem a ser criativas, ou seja, podem ter um ambiente favorável para
o aprendizado de comportamentos criam os. “Por definição, não se pode ensinar com­
portamento original, pois não seria original ser ensinado, mas podemos ensinar ao estu­
dante a arranjar ambientes que maximizem a probabilidade de que ocorram respostas
originais" (Skinner, 1972, p. 169). Isso por sua vez desestmtura a concepção mentalista.
que é determinista ao afirmar que a criatividade é um dom e. conseqüentemente, quem faz
trabalhos originais e apresenta respostas criativas os faz porque nasceu com esse traço
iniemo.
De acordo com Skinner, quando se atribui a “criatividade” a um dom interno,
retira-se a responsabilidade de realmente criar contingências ambientais favoráveis ao
desenvolvimento de tais comportamentos criativos.

O professor que acredita que o estudante cria uma obra de arte através do
exercício de alguma faculdade interior e caprichosa não investigará as con­
dições sob as quais o estudante de fato faz um trabalho criativo. Será também
menos capaz de explicar este trabalho quando ocorrer e não tenderá a
induzir os estudantes a se comportarem criativamente (Skinner, 1972. p.
160-161).

Nesse sentido, os comportamentos inovadores são aprendidos pelo indivíduo,


como qualquer outro comportamento. De acordo com Skinner (2002), mesmo algumas
variações comportamentais ocorrendo de maneira acidental, os indivíduos podem apren­
der a ser criativos porque o seu comportamento (criativo) é selecionado pelas conseqüên­
cias reforçadoras que o sucedem. Isso significa que a “criatividade" é determinada pelas
contingências ambientais, de modo que o comportamento criativo está relacionado à
história de reforçamento de cada indivíduo. Assim, quanto mais alguém é exposto a
situações problemas que lhe suscitem variações comportamentais. as quais são
selecionadas a partir das conseqüências reforçadoras. provavelmente maiores serão os
comportamentos criativos.

35
C aH t u j O VÍF

O Behaviorismo é necessariamente
superficial e não consegue lidar com as
profundezas da mente ou da
personalidade?
Suane Maria Marinho Sá

Sabemos da repercussão que o anti-mentalismo nas obras de Skinner provoca


nas pessoas. No entanto, essa já foi uma critica abordada anteriormente, e. portanto, me
deterei. apenas, nas questões que envolvem a personalidade.
Todos já ouvimos falar, provavelmente em muitas situações, em “personalidade”.
Poucas palavras são tão fascinantes para as pessoas em geral quanto este termo. Como a
maioria dos temas em Psicologia, o senso comum "usa e abusa" do termo personalidade, que
exerce grande encanto sobre os leigos. Frase como “Maria Eduarda não tem personalidade",
“meu filho tem uma personalidade forte", ”é da minha personalidade ser assim", “ele agiu
assim devido à sua personalidade psicopata" são freqüentemente proferidas no cotidiano.
A palavra personalidade é. portanto, usada de diferentes maneiras, seja para
atribuir habilidades sociais a alguém (“perspicaz*’, “veloz"), seja para se referir á caracte­
rística considerada central de uma pessoa ("inteligente", “tímido”, “nervoso"), ou ainda
empregada para anunciar a presença de alguém importante ou ilustre (“vamos receber
uma personalidade vinda do exterior)~ (Fíall. 1984).
Mas o que é personalidade? A palavra personalidade se origina do latim
“persona" (“soar através"), o mesmo que pessoal, e é definida por “aqueles traços
relativamente duradouros de um indivíduo que explicam por suas maneiras características
de se comportar" (Stratton e Hayes. 2001. p. 175). Desse modo, personalidade refere-se
à maneira relativ amente constante de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo, envol­
vendo. assim, todos esses aspectos de forma a se integrarem e organizarem, conferindo
peculiaridade e singularidade ao sujeito. De modo geral, os teóricos da personalidade
atribuem um papel decisivo aos processos motivacionais. vendo nestes a chave para a
compreensão da conduta humana. Sendo assim, muitas vezes o emprego da palavra
personalidade refere-se a uma propriedade comum, algo que está dentro da pessoa, que é
estável e que determina o que ela irá fazer em uma situação especifica (HalL 1984).
37
No entanto, esta caracterização da personalidade nos leva com umente a uma
série de questionamentos e dúvidas - se tenho uma personalidade, como ela se constitui?
Como posso mudar meu jeito de agir se minha personalidade já faz parte da minha
“estrutura”? Por que ajo assim, por que penso assim, por que sinto desse modo e não de
outro? Se a personalidade é, por assim dizer, imutável, então seria, ao meu ver, inútil a
função e o trabalho do psicólogo.
E os comportamental ístas, o que entendem por personalidade?
Skinner (2003), em Sobre o Behaviorismo, define a personalidade como "um
repertório de comportamento partilhado por um conjunto organizado de contingências"’
(p. 130). Em outras palavras. Skinner nos fala que a personalidade é um conjunto de
comportamentos de um indivíduo, adquirido a partir de sua história de reforçamento
diferencial. Mas o que percebemos comumente é que pessoas são substituídas por “suas”
personalidades. Assim, muitos padrões de comportamentos são substituídos por “tra­
ços de personal idades”.
Na medida em que as variáveis externas não são referidas ou ignoradas desco­
nhecidas. sua função é atribuída a um agente originador dentro do organismo. As vari­
áveis ambientais e históricas que controlam as respostas são frequentemente desconhe­
cidas dos indivíduos. Conseqüentemente, as pessoas voltam-se para o seu interior
(personalidade, eu. selj) em busca de explicações para a origem de suas ações, como
visto no capitulo I. A personalidade é freqüentemente utilizada como uma causa hipo­
tética de ação, “se não podemos mostrar o que é responsável pelo comportamento do
homem, dizemos que ele mesmo é o responsável pelo comportamento” (Skinner, 2003,
p. 130).
Para Skinner, o uso do termo “personalidade” refere-se aos padrões
comportamentais e não as suas causas ou. especificamente, aos papéis que a pessoa
adota.
O que. então, dizer das brilhantes análises já feitas a respeito da causalidade da
personalidade? O que fazer com o fato de que. por toda a nossa história, sábios como
Platão. Aristóteles. Nietzsche. Maquiavel e os mais contemporâneos, como Fneud. Jung
e Mc Dougall. tentaram construir justamente um conhecimento sobre a personalidade em
que esta é tida como a grande motívadora dos nossos comportamentos? Teriam sido
buscas e estudos em vão? Skinner (1990) nos fala que. infelizmente, sim. mas que nem
tudo está perdido. Muito mais útil seria a análise do comportamento, seja através da
clarific aç ã o das contingências de reforçamento. seja atrav és do planejamento de ambien­
tes melhores.
A Análise do Comportamento entende a personalidade como um repertório
comportamental. adquirido a partir das contingências de reforço, ao qual o indivíduo foi
submetido ao longo de sua história. Assim, nos constituímos diferentes devido a diferen­
ças nas situações às quais fomos e somos expostos. As pessoas são intituladas como
“tímidas”, “extrovertidas”, “inteligentes”, “autoritárias”, “zangadas”, “desorganizadas”,
“agressivas” por causa de contingências que as envohem (Skinner. 1998), Tímido, inte­
ligente. desorganizado e agressivo são apenas rótulos para uma categoria de comporta­
mentos apresentados em um dado contexto e não a causa destes. “As diferenças na
experiência entre o ‘ignorante' e o ‘estudado’, o 'ingênuo’ e o ‘sofisticado’, ou o 'inocen­
te' e o ‘vivo’ se referem principalmente a diferenças em histórias de reforço” (Skinner.
1998. p. 213).
38
C aUTUjO VII

Mas o que é sustentado por nossa sociedade é que um único organismo é


controlado por vários agentes psiquicos e que seu comportamento é resultante de suas
múltiplas tendências. E é dessa maneira que a grande “descoberta inv enção” de Freud é
usada e se faz presente: id. ego e superego. Tais conceitos são freqüentemente usados
como criaturas que vivem eternamente em conflitos violentos, cujas derrotas e vitórias
produzem comportamentos ajustados ou não no indivíduo no qual residem e no qual o
mesmo tem que se haver, uma vez que se tratam de forças sobre as quais não se tem
controle algum (Skinner. 2003).
Não seria o id - ''velho Adão da teologia judaico-cristão” - caracterizado por
Freud como egoísta, agressivo, preocupado com as privações básicas e que constante­
mente se encontra em conflito com os interesses de outrem - resultante da filogènese
responsável por nossos comportamentos de procura de alimento, água. contato sexual e
outros reforçadores primários1 ? Nào seria o superego - a “consciência judaico-cristà” -
definido por Freud como o agente punitivo que é. em grande parte, inconsciente e que está
geralmente representando os interesses de outras pessoas e que se opõe inevitavelmente
ao id - produto das práticas culturais punitivas de uma sociedade que tenta eliminar o
comportamento egoísta gerado pelos reforçado res primários? Nào seria boa parte do
superego inconsciente simplesmente porque a comunidade verbal não instruí as pessoas
observá-lo ou descrevê-lo? E o ego - visto por Freud como o agente que. além de tentar
alcançar um acordo entre o id e o superego. também lida com as exigências do ambiente -
nào sena o produto da ontogênese. do reforço e das contingências punitivas da vida diária
organizadas por outras pessoas? Portanto, não é muito mais fácil e óbvio observar que o
ator de todo esse impasse é o organismo, que se tomou uma pessoa com repertórios
diferentes e possivelmente divergentes, como resultado de contingências diversas e tal­
vez conflitantes? (Skinner, 1998: Skinner, 2003).
Skinner (1998) aponta ainda que. sob diferentes situações, diferentes “perso­
nalidades" podem se manifestar, chamando, mais uma vez. a atenção para a recusa de
explicações em termos da personalidade como agente causador e a importância da busca
pelas verdadeiras causas do comportamento. Assim, em um mesmo organismo podemos
encontrar um homem de negócio, agressivo e irritado e um pai. amoroso e calmo. A
personalidade de alguém pode ser muito diferente antes e depois do almoço. "O herói
pode lutar para esconder o covarde que habita a mesma pele” (Skinner. 1998. p. 312).
Existe ainda o fato de que a personalidade pode se restringir a uma ocasião
especifica estimulo discriminafivo - em que os comportamentos que são eficientes ao
conseguir reforço em uma dada situação não os são em outra (Skinner, 1998). Desse
modo. a personalidade de um garoto no seio de sua familia pode ser muito diferente da
personalidade na presença de sua namorada. Padrões variados de respostas podem ocor­
rer junto dos amigos ou de pessoas desconhecidas, diante de reforçadores ou não, estando
na condição de aluno ou de professor, sob o efeito do álcool ou não. estando na universi­
dade ou na igreja, numa roda de amigos ou numa reunião importante de trabalho (Marçal.
2001). Aqui. o que ocorre é que os organismos possuem sistemas de respostas que são
adequadas para diferentes conjuntos de circunstâncias, de acordo com a sua história de
vida. No entanto, podem ocorrer situações conflitantes nas quais a pessoa se depara com
Traia-se daqueles rdbrçadores “que não dependem de coodicioraaiemo prévio para ter poder reforçador'’ (HalL
19~5. p 6» \ssnn. os reforçadores primários estão rvtacionados com aqueias conseqüências <p<c satisfazem as
neces>KÍ*k-s bioiògKas de toda» as formas de vtda aaunal. Ex: comida, bebida, esumdaçao sexual.

39
dois desses conjuntos ao mesmo tempo como, por exemplo, quando um rapaz recebe a
visita da namorada no trabalho, ou quando se encontra simultaneamente na presença do
chefe e do subordinado (Marçai, 2 0 0 1 ).
É hora de começarmos a olhar para fora. Há anos as pessoas, incluindo os
cientistas, têm se preocupado com a vida mental, mas está mais do que na hora de
começarmos a rev elar algum interesse por uma análise mais precisa do papel do meio
sobre os nossos comportamentos. “À medida que a pertinência da história ambiental se
tomou mais clara, questões práticas começaram a ser propostas, não sobre sentimentos
e estados mentais, mas acerca do meio ambiente, e as repostas se vêm revelando cada vez
mais úteis” (Skinner, 2003, p. 148).
Vimos que, de um modo geral, a Psicologia e outras áreas do saber concebem
comumente a personalidade como o conjunto total das características próprias do indiví­
duo que, integradas, estabelecem a forma pela qual ele reage costumeiramente ao meio.
Não seria justamente o contrário? A Análise Comportamental concebe o ser humano a
partir das diversas relações existentes entre o indivíduo e o seu ambiente, levando em
consideração a história da espécie, a história do indivíduo e a cultura na qual ele se insere.
Assim, aquilo que costumeiramente chamamos de personalidade refere-se aos padrões de
comportamentos adquiridos e mantidos por contingências. Não admitir essa idéia é. ao
meu ver, recusar a própria natureza humana.
A pergunta que ficou é a seguinte, seremos superficiais, então, somente por não
atribuirmos causa aos eventos privados? Skinner nos fala que “se excluirmos o significa­
do pejorativo de ‘superficial' como carente de penetração e o sentido honorífico de
profundo’ como perspicaz e entranhado, então há uma ponta de verdade na alegarão de
que a análise behaviorista é superficial e nâo atinge as profundezas da mente ou da
personalidade” (Skinner, 2003, p. 191). Aqueles que dizem ser a ciência do comporta­
mento simplista, limitada e superficial por não lidar com as profundezas da mente ou da
personalidade, usualmente revelam-se ultra-simplistas, uma vez que as explicações
imemalistas são atraentes justamente porque parecem ser muito mais simples do que os
fatos que se dizem explicarem. Assim, os behavioristas (e nós futuros) somos facilmente
acusados de superficiais porque é muito difícil acreditar que um principio tão simples
possa ter amplas conseqüências em nossas vidas (Skinner, 2003).
Portanto, os behavioristas não varrem o problema dos eventos mentais e da
personalidade, especificamente falando, para debaixo do tapete, abandonando o papel
causai da mente sem nada colocar-lhe no lugar. Se isso acontecesse, poderiam sim. ser
superficiais no sentido criticável do termo. Skinner (2003) nos fala que ninguém é capaz de
dar uma explicação completamente adequada do que é a personalidade, por ser um dos mais
complexos assuntos do campo psicológico. No entanto, por mais deficiente que possa ser
a explicação dos comportamentalistas. devemos lembrar-nos de que. sob um enfoque
comportamental. “as explicações mentalistas nada explicam” (Skinner. 2003, p. 190).

40
C A m i x o YTII

O Behaviorismo limita-se à previsão e


ao controle do comportamento e não
apreende o ser, ou a natureza essencial
do homem?
Andreza de Souza Machado

Antes de argumentar se o Behaviorismo apreende ou não a essência humana,


faz-se necessário esclarecer o que seria essa essência. Na verdade, a essência humana
adquire diferentes concepções para variados filósofos. Então, devido a sua complexidade,
resolvemos tratá-la sob a visão de um único filósofo, o alemão Husserl (o pai da
Fenomenologia. ciência que estuda o fenômeno), que costuma emprestar sua teoria,
inchisiv e o conceito de essência, para muitas correntes filosóficas e psicológicas.
E possível encontrar em qualquer dicionário de filosofia a definição de essência
como a natureza de uma coisa e a definição de natureza como um conjunto de caracterís­
ticas ou propriedades inatas que definem um ser. Nesse caso, qual seria a natureza ou a
essência humana? “A natureza humana designa o que estaria presente em todo homem,
comum a todos os homens" (Russ. 1994. p. 196). Resta saber agora, à luz da teoria de
Husserl. que característica é esta que o Behaviorismo negligenciaria.
Em toda sua teoria. Husserl prioriza o sujeito consciente, ou seja. aquele que
possui uma consciência que rem como função primordiaJ. dar significado à realidade. A
consciência funciona como sujeito do conhecimento, o que significa o mundo a que o
homem é exposto (idealmente, materialmente ou culturalmente). E o que são essas signi­
ficações alcançadas pela consciência? Nada mais do que essências. Assim, a essência é o
sentido, o significado de algo que está sempre para uma dada consciência (Chauí, 1999).
Nota-se que a consciência ê o ato de dar sentido, de constituir essências. E esse
ato de dar sentido é a sua própria essência - toda consciência é consciência de alguma
coisa, isto é. está sempre voltada intencionalmente para algo. A intencionalidade é a
essência da consciência (Chauí. 1999). Em simples palavras, o homem tem uma consciên­
cia que doa sentido e significado aos estímulos aos quais está exposto. Nada lhe escapa,
já que tudo são fenômenos. Dessa forma, tudo que aparece à consciência recebe dela um
significado, uma essência.
41
Então, chegando ao ponto central da critica, o que seria a essência humana?
Qual o significado e sentido maior do homem? Poder-se-ia concluir que é a própria
consciência. A essência do homem seria o ato de doar sentido ao mundo, o estar voltado
para as coisas, apreendendo-as. significando-as.
Considerando que a essência da natureza humana seria a consciência, fica claro
que o Behaviorism o Radical apreende esta essência, como já foi visto no capítulo I deste
livro. Porém, também fica claro que o conceito de consciência para Skinner e Husserl é
diferente, cabendo então responder, sob um ponto de vista comportamental. se esta
orientação nega que o homem signifique o mundo.
Partindo de um dos pressupostos fundamentais da proposta compor-
tamentalista. sabe-se que o comportamento humano é explicado a partir da relação que o
mesmo estabelece com o mundo. Nesse caso. como poderia negligenciar a possibilidade
do homem significar o mundo? A divergência está em outorgar esse papel à consciência,
a qual comandaria o homem dentro do qual faz moradia.
Pois bem. se não é a consciência aquela que dá significado ao mundo, como este
significado é concebido? Para responder tal questão, faz-se necessário introduzir o tema
do comportamento verbal1, termo utilizado por Skinner para se referir à linguagem.
Desde que nascemos estamos inseridos num contexto social (família, escola,
trabalho etc.) que utiliza uma linguagem para se referir a coisas, situações e até sentimen­
tos. Não é díficil concluir que. se existe uma palavra para o fenômeno “x", é porque tenho
um significado para este fenômeno. Por exemplo, eu conheço o significado de "papel'', o
que me possibilita reconhecer e nomear qualquer papel, independente òe sua textura, cor,
tempo, ou lugar em que se encontra. Isso acontece porque o papel tem uma essência,
enquanto significado único que o diferencia de qualquer outra coisa que não ele, indepen­
dente de diferenças ou detalhes outros (Camon. 1993).
Pergunta-se ~ Essa essência eu mesma criei? A minha consciência, que é voltada
para o mundo, concebeu, sozinha, esse significado? O Behaviorismo Radical nega essa
suposição, pois como disse antes estamos inseridos num ambiente social, no qual as
pessoas se comportam verbalmente, passando esses significados de geração para geração.
E, esse significado está nas conseqüências da verbalização, no caso, nas contingências
(Skinner, 2003).
Baum (1999) explica a noção de significado argumentando que "Perguntar qual
o significado de um termo é perguntar qual o contexto e quais as conseqüências de sua
ocorrência*’ (p. 144). Em outras palavras, qualquer essência (sentido, significado) de algo
prov em da história de reforçamento do indivíduo, que aprendeu a significar as coisas com
uma comunidade verbal que reforçav a ou punia, a partir de acertos e erros. Visto isso. a
essência enquanto sentido dos fenômenos (o que aparece ao homem segundo Husserl) é
algo aprendido pelo indivíduo, sendo assim explicado por sua história de reforçamento
(Baum. 1999).
Vê-se que para a Fenomenologia. o significado está inteiramente dependente de
uma consciência que se volta para o mundo e constitui essa essência. Uma essência que

10 comportuncraal verba] é definido por Sknner {1978a) como um operante que tem «uas coaseqúêncút; mediadas
por um ouvinte O que significa dizer que o comportamento age primeko sofcre o ambiente social. Ao solicixar a
alguém que íectae a janeia. meu comportamento afeta o comportamento de outra pessoa c. ê esta. que por sua t ez
ahera. o ambtente fisteo cfaetasoeniie. no caso. fcchaado a janela* sentfe esse um exemplo de componaunenso vot»L

42
C a TTTUjO v m

independe das contingências ou fatos que giram em torno do tal fenômeno (Chauí. 1999).
Já o Behaviorismo. precisamente Skinner, afirma que o significado está nas contingências.
O indivíduo apreende o sentido do que lhe aparece na sua relação com o mundo, no qual
existe uma comunidade verbal que o condiciona a aprender tais significados (Skinner,
2003). Acho que todos já ouv iram falar da história das crianças-lobo. De fato. se a
essência independesse das contingências, aquelas crianças teriam aprendido, sozinhas,
com suas consciências, a essência (a qual conhecemos, e a qual não muda. pois é idêntica
a ela mesma) das coisas que as cercavam.
Conclui-se. então, que o Behaviorismo Radical dá ao homem o papel de cons­
tituir essências, na medida em que interage com o mundo, dando sentido e sendo afetado
pelo mesmo. Logo. trata-se de uma ação transformadora constante do homem sobre o
meio e do meio sobre o homem (Costa. 1996).
Já sabemos que a essência do homem enquanto a consciência não é negligenci­
ada pelo Behaviorismo Radical, mas somente é vista sob uma outra perspectiva, a de
estar voltado para algo. discriminando ou respondendo diferentemente a um estimulo,
antes despercebido; o contrário de estar inconsciente ou não tratar diferentemente um
estimulo determinado. Por exemplo, no momento estamos conscientes do artigo que
estamos escrevendo, a cada linha tentamos escrever num formato que o leitor possa
entender e gostar. Ao mesmo tempo, não estamos conscientes do que está sendo tratado
no jornal da TV que uma outra pessoa está assistindo no quarto ao lado (não estamos
voltados para esse fenômeno). Assim, quando respondemos a um estímulo X em detri­
mento de outro, estamos consciente de X e inconsciente do outro.
Mas onde entra a previsão e o controle do comportamento nessa interação do
homem com o ambiente? Sabemos que o objetivo de toda ciência é prev er e controlar algo
e, a Análise do Comportamento, como ciência que é, também se propõe à previsão e ao
controle do comportamento (Costa. 1997).
Ora. pesquisando o que controla, por exemplo, o comportamento de uma
mulher no que diz respeito a continuar casada com um homem que a espanca, a Análise
do Comportamento vai buscar no ambiente dessa mulher o que reforça seu comporta­
mento: que estimulo é esse “que é mais forte*’ do que o sofrimento de ser agredida pelo
marido. Fazendo um estudo objetiv o, acabaremos descobrindo as variáveis controladoras
do seu comportamento, o que facilitará o estabelecimento de prev isões de futuros com­
portamentos desta mulher.
Concluindo, se a essência do homem é voltar-se para o mundo, dando-lhe
significado, e o estudo da previsão e do controle do comportamento explica essa relação
homem-meio (sentidos que o homem dá á sua vivência, estímulos que determinam sua
própria maneira de se comportar, inclusive o de dar sentido ao que lhe aparece), não
notamos o que está sendo negligenciado no estudo sobre o homem, de acordo com o
enfoque behaviorista.
Por outro lado. Husserl concede, ainda, ao homem, a qualidade de transcendencia.
Transcender seria ultrapassar o dominio da experiência, chegando ao domínio espiritual
(Russ. 1994). Essa qualidade é bem compatível com a própria fundamentação da
Fenomenologia que se contrapõe ao naturalismo (pensamento que não admite o espírito), o
qual segundo Husserl é a “representação da existência da totalidade do ser (consciência,
idéia, etc) à imagem da natureza (e da coisa material)“ (Russ. 1994, p. 195).

43
Nesse caso. acredita-se que a essência pura somente seria alcançada através de
uma redução que o sujeito transcendente faria. Colocando tudo entre parênteses, o que
significa nos abstermos de toda certeza e de idéias prc-concebidas que o mundo material
nos oferece, passaremos do fenômeno (aquilo que aparece na experiência) à essência
(sentido puro do ser, do fenômeno) (Russ, 1994).
Com um mínimo de conhecimento sobre o Behaviorismo, fica claro que se a
essência humana for a transcendência, com toda certeza o Behaviorismo a negligencia, já
que não admite explicações metafísicas (cf. Michelleto. 1997). No Behaviorismo Radi­
cal, como já foi dito. tudo é explicado na experiência, levando em conta as circunstâncias
e conseqüências do ato humano. É através da interação homem e ambiente que os
behaviorístas encontram toda fundamentação e explicação para qualquer fenômeno hu­
mano.
Então, afinal de contas, o Behaviorismo Radica] negligencia ou não a natureza
ou essência humana? Se esta for tomada como a consciência, a resposta é não. por tudo
que já foi explanado. Mas se admitirmos a transcendência como essência humana, a
resposta é sim. já que o B ehaviorism o jam ais aceitaria uma explicação metafísica para o
comportamento humano, colocando em segundo plano a interação homem-ambiente.

44
CAríTVLO IX

O Behaviorismo trabalha com animais,


particularmente com ratos brancos,
mas não com pessoas, e sua
visão do comportamento
humano atem-se, por isso,
àqueles traços que os seres humanos
e os animais têm em comum?

Ludimar Santos lieira

A Análise Experimental do Comportamento (A.E.C) tem desempenhado uma


importante função, qual seja, a de contribuir com seus dados de pesquisas para o desen­
volvimento de uma ciência que tem como objeto de estudo o comportamento. A este
respeito Gomide e Weber (1998), ressaltam:

Pretcndc-sc na análise experimenuü do comportamento encontrar as rela­


ções funcionais entre variáveis comportamentais e ambientais, através da
experimentação, estabelecendo regras gerais, a fim de permitir a elaboração
dc um modelo de seu objeto de estudo, o comportamento dos organismos (p.
21)

Com os avanços advindos das conquistas em A.E.C, o número de espécies


animais estudadas em laboratório foi ampliado, incluindo-se ai os seres humanos, consi­
derando as diferenças e grau de complexidade em relação às demais espécies. Cabe regis­
trar que os experimentos realizados com espécies mais simples não invalidaram os resul­
tados obtidos mas. sim, serv iram para confirmar aspectos comuns no comportamento de
humanos e nào humanos, bem como outros aspectos exclusivos apenas à nossa espécie.
Neste sentido Skinner (2003 >afirma:

Há excelentes razões para começar com casos simples e só passar adiante


quando o poder da anáiise o permitir Se isto significa, como parece signifi­
car que >e comece com animais, a ênfase é indubitavelmente dada àqueles
traços que pessoas e animais possuem em comum- Todavia, algo se lucra, de
\ ez que só desta maneira, podemos ter certeza daquilo que é unicamente
humano <p. 193).
Ademais, é fato que as pesquisas produzidas em laboratório com sujeitos
humanos ou não. objetivam fornecer maior precisão quanto à fidedignidade nos resulta­
dos quando comparadas com resultados de estudos realizados num ambiente natural, por
este conter complexas contingências (variáveis) que fugiriam ao controle do experinventador
(Skinner, 2003).
Os experimentos env olvendo humanos foram feitos inicialmente com sujeitos
"retardados" e psicóticos, para mais tarde incluírem crianças e adultos considerados
normais. Há que se ponderar as dificuldades encontradas com relação à presença do
experímentador e as diferentes histórias de vida de cada sujeito submetido à experiência.
Deste modo. ainda assim, em um ambiente de fácil controle os resultados com sujeitos
considerados anormais1 foram tidos como satisfatórios (Skinner, 2003).
Considerando a complexidade do comportamento humano, fez-se necessário
utilizar em um primeiro momento espécies mais simples que serviram para delimitar e ao
mesmo tempo dar mostras das semelhanças comportamentais em relação à nossa espécie.
Portanto, as pesquisas com não humanos ainda fornecem algumas vantagens destacadas
assim pelo próprio Skinner (1984).

O pesquisador precisa de um organismo facilmente disponível e de manuten­


ção barata. Ele precisa submetê-lo a regimes diários, freqüentemente por
longos períodos de tempo, confiná-lo em ambientes facilmente controla­
dos. e expô-lo a contingências complexas de reforço. Quase necessariamen­
te tais organismos são mais simples do que os homens. Ainda assim, com
muitas poucas exceções, aqueles que estudara os organismos estão principal­
mente interessados no comportamento humano. Muito poucas pessoas es­
tão interessadas no rato e no pombo em si (p. 250».

As pesquisas com não humanos, tanto no que se refere às conquistas no campo


das ciências biomédicas nas suas div ersas ramificações, bem como em relação a A.E.C são
essenciais ao desenvolvimento de qualquer estudo científico com vistas à descoberta e o
aperfeiçoamento de conhecimentos úteis à humanidade. Sobre isto. Skinner (1984) defen­
de a pesquisa animal considerando que:

Apesar de ás vezes dizerem que a pesquisa cm animais inferiores toma


impossível descobrir o que é caracteristicamente humano, é só estudando o
comportamento dos animais inferiores que podemos dizer o que é caracte-
risticamcnte humano. As dimensões daquilo que parecia ser humano foram
sendo progressivamente reduzidas quando começamos a entender melhor os
organismos inferiores. Aquilo que sobrevive, claro, é da maior importância,
isso precisa ser investigado com seres humanos. Não há evidência de que a
pesquisa com animais inferiores contamine a pesquisa com homens ou que
aqueles que estudam os animais não tém nada de importante a dizer a respei­
to dos homens (p. 250).

1 Lm analtsu do componsunenío aào unkza o tenne patológico p a n comportamento estranho ou dato anorroL
se tal comportamento ocorre é porque o mesmo possui uma fuaaoaaJidade ou um »aJor de sobrevivência (Maios.
1999).

46
C atttvloLX

Levando-se em consideração as pesquisas sobre o comportamento humano.


Gomide e Weber (1998) afirmam que A.E.C é "uma maneira para se estudar o comporta­
mento humano e sua interação com o meio ambiente. Não pretende ser uma simplificação
do que ocorre no nosso cotidiano (chamado ambiente natural), mas um modelo (...)
(p. 141 r . Portanto, a A.E.C vem ser mais um modelo da ciência do comportamento
também chamada .Análise do Comportamento “que se caracteriza por ser uma investiga­
ção acerca da relação entre o organismo e meio que se fundamenta no Behaviorismo
Radical e utiliza vários métodos para estudar tal relação, onde a A.E.C é apenas um deles”
(Costa. 1997, p. 9).
Desta forma, os experimentos avançaram das espécies mais simples até chegar
aos humanos com o intuito de oferecer explicações sobre a complexidade de nosso
comportamento ou parte dele. levando-se em conta que os processos básicos do
comportamento foram lançados e ampliados para as espécies em estudo, conforme seus
limites evolutivos. Deste modo. mais uma vez Skinner (1984) diz:

É um fato que os métodos inicialmente desenvolvidos para o estudo de


organismos inferiores, bem como os conceitos e os princípios nascidos desse
estudo, foram aplicados com êxito ao comportamento humano, tanto numa
análise básica como em muitas aplicações tecnológicas (p. 251).

Enfim, a naves das suas conquistas, a A.E.C vem resistindo às criticas de


céticos que insistem em refutar leis e conceitos reafirmados experimentalmente, assim
sendo, este modelo experimental vem se afirmando e ampliando suas buscas como uma
possibilidade de fundamentar uma psicologia cientifica voltada para uma melhor compre­
ensão do comportamento humano, fruto da interação de complexas contingências
filogenéricas. omogenéricas e culturais.
Toma-se evidente, então, pelo que vem sendo exposto ao longo deste livro e
especialmente neste capitulo que o Behaviorismo Radical não apenas preocupa-se com o
que é especifico do ser humano, como também, ao longo do desenvolvimento da ciência
que se propôs fundamentar, experimentos com humanos foram e ainda são desenvolvi­
dos. enfocando por exemplo o comportamento verbal que só póde ser desenvolvimento
a partir da cultura, o que é considerado por Skinner (1978b) exclusivo do homem. Além
disso, embora Skinner (2003) tenha defendido a utilização de não humanos em experi­
mentos. o autor nunca negou as diferenças entre comportamento humano e não humano
e a maior complexidade do primeiro.

47
C a pttllo X

O Behaviorismo traz resultados obtidos


nas condições controladas
de um laboratório, não podendo ser re­
produzidos na vida diária,
e aquilo que ele tem a dizer acerca do
comportamento humano no mundo mais
amplo torna-se, por isso, uma
metaciência não comprovada? Apenas
cultua os métodos da ciência, mas não é
científico?

Aliana Ribeiro Porto

Há duas criticas voltadas a Skinner e ao Behaviorismo Radical que se referem às


questões da cientificidade do mctodo skinneriano. A primeira afirma ser o Behaviorismo
uma metaciência não comprovada, e a segunda rotula Skinner como não cientifico, limi­
tando-se a competir com as ciências.
Inicialmente é necessário esclarecer que o Behaviorismo Radical não é uma ciên­
cia. e sim a filosofia dc uma ciência do comportamento (Skinner, 2003). Neste sentido,
enquanto filosofia, o Behaviorismo Radical se propõe a dar suporte à ciência do comporta­
mento a partir de suas reflexões, diferenciando-se do Behaviorismo Clássico de Watson.
Apesar de não se propor a fazer do Behaviorismo Radical uma ciência, Skinner
é cientifico e ressalta a importância da ciência reafirmando seu valor para a sobrevivência
da humanidade. Ele reconhece os problemas ligados à ciência acrescentando que o ataque
a ela não se faz injustamente, uma vez que vem se desenvolvendo de forma desigual
(Skinner, 1998).
Contrariando o que os críticos alegam, por que podemos defender a posição de
que Skinner é científico? Em primeiro lugar porque é nítido, em praticamente todas suas
obras, que Skinner constrói seu pensamento a partir de características da ciência, tais
como. definição precisa do fenômeno a ser estudado, ênfase sobre fatos e linguagem
49
rigorosa (cf. Bock. Furtado e Teixeira. 1999; cf. Skinner. 1998). Além disso. Skinner
também foi um analista experimental do comportamento, tendo realizado inúmeros expe­
rimentos em laboratório - todos conduzidos de acordo com os padrões da ciência (obser­
vação, controle do ambiente experimental, manipulação controlada de variáveis).
Para Skinner, a ciência é de suma importância na vida do homem e vem suprir a
necessidade da humanidade, na medida em que acredita que a mesma é capaz de levar as
pessoas "para além de sua experiência pessoal e da deficiente amostragem da natureza,
deficiência inevitável na duração de uma só vida" (Skinner, 2003, p. 109). Segundo ele. a
ciência também seria capaz de colocar os indivíduos sob controle de condições que não
poderiam desempenhar qualquer papel a fim de formar-lhe e manter-lhe o comportamento.
Com seus experimentos, como qualquer cientista. Skinner buscava descobrir as
leis gerais que regem os comportamentos dos organismos, mesmo em situações mais
simples. Deste modo. Skinner tinha a intenção de postular princípios gerais sobre o
comportamento humano que servissem à ciência e. conseqüentemente, à humanidade.
Nas palav ras de Andery e cols. (1999), “A ciência caracteriza-se [exatamente) por ser a
tentativ a do homem entender e explicar racionalmente a natureza, buscando formular leis
que. em última instância, permitam a atuação humana" (p. 13).
Durante o seu trabalho Skinner postulou, então, os princípios comportamentais
O que seriam estes princípios? São leis que regem os comportamentos dos organismos,
formando, dessa maneira, seu repertório comportamental. Segundo Skinner **ao aprender
as leis da Ciência, uma pessoa se toma apta a comportar-se de forma eficaz nas contin­
gências de um mundo extraordinariamente complexo"' (Skinner, 2003, p. 109). Percebe-
se. então, a importância dada por Skinner a uma ciência que contribuísse para o cresci­
mento e bem-estar da humanidade. Lma ciência que não reduzisse o homem a uma tàbula
rasa. mas o compreendesse enquanto um ser multideterminado. não podendo ser reduzi­
do apenas a seu aspecto biológico (Micheletto. 1997).
A critica a Skinner que postula serem seus experimentos de laboratório impos­
síveis de se reproduzir fora dele também não se sustenta, uma vez que percebemos, na
história da Terapia Analitico-Comportamental. que os experimentos controlados em
laboratório foram e são usados, até os dias atuais, para criar técnicas que melhorem os
resultados da terapia. Acrescentando-se a isto. a aplicação da .Análise do Comportamen­
to não se restringe ao contexto clinico, ocorrendo na sociedade em geral como, por
exemplo, na saúde, na educação e no planejamento da cultura.
A partir desta discussão podemos observar e concluir que as criticas voltadas
a Skinner afirmando serem seus experimentos longe da realidade cotidiana não dev em ser
consideradas. Observ amos, em toda a obra de Skinner, a sua preocupação em estar perto
da realidade humana e de suas experiências - como este livro pretende mostrar- o que faz
da Análise do Comportamento e de sua filosofia, o Behav iorismo Radical, uma teorização
sobre o mundo com qual os homens interagem.

50
CaiítixoXI

O Behaviorismo é supersimplista e
ingênuo e seus fatos são
ou triviais ou já bem conhecidos, sendo
que suas realizações tecnológicas
poderiam ter sido obtidas pelo senso
comum?
Nazaré Costa
Taynan Marques Bandeira
ll\iane Pereira dos Santos

Em alguns capítulos deste livrojá foi afirmado que um dos objetivos da ciência
consiste em estabelecer leis que possam explicar seu objeto de estudo. E estes “Princípi­
os ou leis cientificas devem ser formuladas em termos simples, claros e econômicos para
que seja possível prever e controlar seqüências de eventos singulares" (Marx e Hillix.
1973, p. 20). Deste modo. como um filósofo e um dentista do comportamento. Skinner
não poderia ferir este princípio básico.
Por outro lado. não se deve confundir supersimplificaçâo com parcimônia
que é considerada uma virtude em ciência, como argumenta Carrara (1998). Enquanto a
primeira diz respeito a uma visão limitada que negligencia partes importantes à compre­
ensão do fenômeno a ser estudado, a segunda refere-se a escolha da explicação mais
simples, entre diferentes explicações disponíveis (Carrara. 1998).
Simplificar uma explicação, para um behaviorisía radical nào significa, deste
modo. ser reducionista. nem tampouco negligenciar o estudo de fenômenos complexos
(cf. Carrara. 1998: cf. Skinner. 2003). Afinal, já foi visto aqui que o comportamento
humano é abordado por Skinner como a relação entre organismo e ambiente, sendo
ambiente e comportamento abordados de forma molar. Ambiente se referindo a aconteci­
mentos que envolvem a história da espécie, do indivíduo e do grupo social e comporta­
mento incluindo ~a ação humana em toda sua complexidade: os eventos privados, a
moral, o pensamento, a consciência, a alienação e a própria ciência" (Micheletto, 1997, p.
119).
Comparando a explicação comportamental com as explicações fornecidas por
outros referenciais teóricos em Psicologia, também é notório que as primeiras são mais
simples do que as demais, o que provavelmente produz nas pessoas a impressão de que.
na verdade, tais explicações são superficiais e limitadas, no sentido de não aprofundarem

51
e não alcançarem as reais causas do comportamento humano, tratando-se apenas de um
conhecimento do senso comum. Afinal» o que se espera de alguém que estude e ou
trabalhe com Psicologia é que use uma linguagem carregada de termos subjetivos e pouco
compreensíveis para a comunidade em geral. Kerbauy (1999) foi explicita ao abordar esta
questão citando um exemplo encontrado em um livro de Psicologia que buscava explicar
um padrão de comportamento observado no contexto da saúde: "baixo grau de ansiedade
denota também ausência de introversão e traz como resultado igual resistência em com­
preender e reafirmar-se diante da situação” (p. 19). E conclui o artigo afirmando, “O
psícologo nâo fala mistério... Analisa as características funcionais do comportamento"
<p.2 1 ).
Espera-se que até aqui tenha ficado claro, então, qual o significado da palavra
simples para a ciência, que foi o significado com o qual Skinner desenvolveu seus trabalhos.
Retomando a uma afirmação anterior de que as pessoas tendem a ver as
explicações comportamentais como limitadas, toma-se importante ressaltar que hoje o
paradigma da tríplice contingência, de fato, já é visto pelos analistas do comportamento
como limitado - ainda extremamente útil, como continuam mostrando, por exemplo,
intervenções comportamentais nas áreas clinicas e da saúde, mas que atualmente foi
ampliado: trata-se dos paradigmas constituídos de 4 e 5 contingências.
Barras (19%) expõe que na contingência de 4 termos. S® *1 - Sc R - S \ existe
um estimulo condicional que sinaliza quando uma contingência tríplice está vigorando.
“O funcionamento da contingência tríplice, portanto, depende (é contingente) à presença
de um quarto estímulo (o condicional)*' (Barros. 1996, p. 10). Exemplificando: quando
Maria está em São Luís e passa em frente a uma sorveteria. se ela pedir um sorv ete de
juçara, então receberá o sorv ete sem problemas. Mas quando Maria está em Belém e
passa em frente a uma sorv eteria. ela deverá pedir sorv ete de açaí1 para então receber seu
sorvete (Costa, N„ 2000, comunicação pessoal). Pode-se perceber que existe uma tríplice
contingência funcionado (S*1 = sorv eteria R = pedir sorv ete de juçara açai S =
sorvete) sob controle de estímulos condicionais, no caso. São Luís e Belém.
Na contingência óe 5 termos. S5"* - S0” 1 - S* - R Sr. existe um estimulo
contextual que sinalizará o funcionamento de uma contingência de 4 termos, podendo ou
não alterar a função do S”** (Barros. 1996). Utilizando o exemplo anterior, suponha que
na sorveteria que Maria freqüenta em São Luís tenha uma atendente que é paraense.
Neste caso, se a atendente é paraense, se Maria está em São Luís e passa na frente de uma
sorv eteria. se ela pedir um sorv ete de açaí. então receberá seu sorvete de açai (N. Costa,
comunicação pessoal 2000). Há uma contingência de 4 termos funcionado ( S ^ = São
Luís S* = sorveteria -> R = pedir sorvete de açaí -> ST= sorv ete) sob controle de um
estimulo contextual; a naturalidade da atendente está sen indo como estímulo contextual
que define o pedido de Maria por sorvete de juçara ou açaí.
Os paradigmas de 4 e 5 contingências ampliaram, então, a análise de comporta­
mentos e. embora tenham sido formulados após a morte de Skinner, só foram possíveis
utilizando-se da contingência tríplice elaborada por ele. o que toma visível que a comuni­
dade cientifica continua sistematizando conhecimentos a partir do que Skirmer produziu.
Como diz Carrara (1998), Skinner tem uma obra ampla e abrangente, mas
deixou espaço para que os analistas comportamentais fizessem novos estudos experi-

1 Açai c conhecido no Nordeste como juçara.

52
C atituio XI

mentais e teóricos. Até porque em ciência não se têm resultados definitivos, eles estão
sempre se modificando conforme as novas situações que surgem.
Sabe-se que a Psicologia foi fundada por Wundt no século XIX. portanto é uma
área de conhecimento recente que buscou autonomia e ainda procura fazer reconhecer seu
estatuto de cientificidade diante da diversidade de saberes nela existentes. E no cenário
histórico da Psicologia, o Behaviorismo Radical de Skinner surge apenas em 1945, possu­
indo quarenta e nove anos de existência, o que é pouco tempo tratando-se de uma filosofia
da ciência. Mas apesar de novo. o Behaviorismo Radical tem evoluido de maneira consi­
derável. contribuindo de forma significativa para o estudo do comportamento humano.
Fazer ciência, inclusive desenvolvendo uma tecnologia própria, é evidente que
leva tempo. E Skinner trabalhou muito neste sentido, aperfeiçoou o modelo de Watson e
abriu caminho, com a formulação do paradigma operante. para que os analistas do com­
portamento passassem a estudar processos comportamentais de forma mais ampla.
Concluindo, só resta concordar que de fato o

Behaviorismo Radical faz realmente uma tentativa de explicação do com­


portamento que seja mais parcimomosa. isto c. que se ampare nas concep­
ções mais simples e naturais que se possa dar ao fenômeno. Todavia, entre
simples c o simplista há um enorme vácuo teórico. Não c absolutamente
simples entender a proposição slunncnana (Carrara. 1998. p. 128).

Talvez seja exatamente cm função da linguagem, da complexidade e sobretudo


porque se propôs a fazer uma leitura de mundo c de homem que contrariam o modo de
pensar de uma cultura, é que a extensa obra de Skinner seja tão pouco lida e, quando lida.
pouco compreendida, incorrendo em erros e deturpações sobre suas proposições, até
mesmo no próprio espaço acadêmico da universidade.
No\ amente. o que fica claro é a falta dc conhecimentos, neste caso. especifica­
mente sobre os avanços, tanto em pesquisas de laboratório quanto em aplicação - o que
uma visão tão simplista e ingênua sobre o comportamento jamais possibilitaria.
Capitulo XII

O Behaviorismo considera que suas ale­


gações se aplicam ao próprio cientista
behaviorista? Assim sendo, o
behaviorista diz apenas aquilo que foi
condicionado a dizer e que não pode ser
verdadeiro?

Nazaré Costa

Qual o objeto de estudo da ciência do comportamento? A resposta parece


óbvia o comportamento. O comportamento dos organismos humanos e não humanos
(Costa. 1997). Deste modo. é evidente que os estudos realizados em Análise do Compor­
tamento explicam os comportamentos dos behaviorístas. Como poderia ser diferente?!
Como um organismo que se comporta, como qualquer outro, o behaviorista
responde a regras e contingências especificas de sua história ontogenética e cultural. Se
existe alguma diferença entre o comportamento do behaviorista e o comportamento dos
demais indivíduos, isto se deve a contingências que foram únicas em sua vida. O que nào
significa afirmar que o comportamento do behaviorista seja explicado por princípios
diferentes daqueles que são usados para explicar o comportamento dos outros indivídu­
os; afinal, a ciência do comportamento "busca leis que se apliquem a toda conduta"
(Sidman. 2001, p. 49).
O próprio Skinner (1983b) foi enfático ao responder que compreende seu
comportamento como o dos demais.

Às vezes eu sou perguntado: “Você pensa sobre você mesmo como você
pensa acerca dos organismos que estuda?” A resposta é sim. Até onde lenho
conhecimento, meu comportamento é em qualquer momento nada mais do
que o produto de minha dotação genética, minha história pessoal, e o con­
texto social (p. 25).

Se qualquer ciência visa identificar leis gerais que possibilitem explicar os fenô­
menos da natureza, por que com a ciência do comportamento seria diferente? Colocando
de oumo modo. o que dificulta a aceitação de que o comportamento do behaviorista segue
as mesmas leis dos comportamentos dos indivíduos em geral?

55
Na verdade, embora a questão esteja voltada para o comportamento do
behaviorista. talvez ela possa ser formulada de uma forma mais ampla - por que é difícil
aceitar que o comportamento humano está submetido a leis gerais?
Admitir que o comportamento humano é regido por leis significa que nossos
comportamentos são controlados, logo, não somos livres para agir. o que é extremamente
aversivo para nossa cultura que acredita no livre-arbitrio (cf. Costa, 2000), Além disso,
afirmar que os homens possuem seus comportamentos condicionados “desumaniza o
homem.., e destrói o homem enquanto homem” (Skinner, 2003, p. 8 ) - critica que será
discutida no último capitulo.
Em contrapartida, para um behaviorista. acreditar no condicionamento dos
comportamentos humanos significa apenas que o comportamento, como qualquer fenô­
meno da natureza, responde a regularidades que são determinadas pelo ambiente. Como
argumenta Sidman (2001). “O controle da conduta pelo ambiente físico e social é uma
característica do mundo, exatamente como o controle de objetos físicos, reações químicas
ou processos fisiológicos’' (p.46).
Quanto à declaração de que o behaviorista fala aquilo que foi condicionado,
novamente a resposta é afirmativa. Ele diz o que foi condicionado a dizer no sentido em
que teve seus comportamentos selecionados, assim como os não-behaviorista? também
os tiveram. Como tiveram seu comportamento de falar sobre o comportamento selecio­
nado por uma comunidade cientifica que é responsável pela manutenção do mesmo, são
os behavioristas então pessoas que não dizem a verdade, como sugere a critica?
Responder de forma aprofundada a este questionamento exigiria uma discussão
do que se entende por verdade. Como esta discussão é essencialmente filosófica e não se
restringe a Análise do Comportamento, não se entrará neste mérito. Julga-se ser suficien­
te assumir que se os behavioristas não são verdadeiros porque possuem seus comporta­
mentos condicionados, todos os indivíduos, behavioristas ou não, são falsos pois todos
têm seus comportamentos condicionados, sendo esta. até o presente momento, uma
verdade inquestionável, como mostram os estudos experimentais com humanos e nào-
humanos ao longo de décadas.
Diante dos argumentos expostos resta apenas aceitar a proposição de que “As
leis do comportamento são uma característica do mundo em que vivemos: não podemos
repeli-las" (Sidman. 2001, p.46). Do contrário, corre-se o risco, como vem acontecendo,
de perder-se a oportunidade de mudar a direção da nossa história, tomando a vida no
mundo mais reforçadoro (Skinner, 1987).

56
C a fít u l o X H I

O Behaviorismo só se interessa pelos


princípios gerais e por isso negligencia a
unicidade do individual?

Ingrid Ferreira Soares da Silva

Mas o Behaviorismo Radical aborda a indiv idualidade? Essa é uma pergunta


ainda bastante freqüente no meio acadêmico de Psicologia. E nós. nesta obra. não pode­
ríamos oferecer melhor resposta do que: Sim. o Behaviorismo Radical trata da individu­
alidade do sujeito. Ao ouvir tal indagação, podemos nos perguntar o que leva as pessoas
a pensarem que o Behav iorismo Radical não lida com aquilo que temos de mais particular.
Possivelmente, isso se deve ao fato de o Behav iorismo se propor a fundamen­
tar uma ciência do comportamento e. como tal. preocupar-se com a formulação de leis
gerais para explicar o comportamento. Porém, é sabido que. em se tratando de ciência,
casos particulares podem ser deduzidos de princípios gerais (Skinner. 1998). Para Baum
(1999). Skinner argumentou que só poderia existir uma ciência do comportamento a
partir do desenvolvimento de termos e conceitos capazes de tomar possíveis explicações
verdadeiramente cientificas.
Para Skinner (1998). a ciência busca identificar ordem nos eventos da natureza.
O início de uma investigação cientifica se daria a partir da observação de fenômenos
singulares, avançando para o estabelecimento de regras gerais (leis) e, posteriormente,
ultrapassaria a etapa das leis para chegar até arranjos sistemáticos mais amplos. Ele
afirma, ainda, que a ciência define um objeto que “ajuda a gerar novas regras, da mesma
maneira que as próprias regras geram novas práticas no trato dos casos singulares” (p.
14). Ao afirmar isso. talv ez esteja indicando uma pista do que poderia vir a responder à
crítica que o Behaviorismo não dá conta daquilo que diz respeito ao individual.
Mas o que nós chamamos de indiv idualidade? Talvez a concepção que as
pessoas possuem de individualidade esteja relacionada com a idéia romântica de liberda­
de. Assim, ao afirmar que o comportamento humano é resultado de condições específicas
c que pode ser determinado, a Análise do Comportamento está se opondo às concepções
tradicionais de que o homem é livre para fazer suas escolhas de acordo com a sua vontade
(Skinner. 1998).

57
Partindo desse raciocínio, os indivíduos passam a se sentir não mais como
sujeitos livres, mas como objetos de um experimento. É como se a sua individualidade
lhes fosse retirada e eles passassem a ser iguais a todos. Contudo, o Behaviorismo Radical
já explicou de maneira suficientemente clara que isso não acontece. Nas palavras de
Skinner (2003).

L'ma pessoa não é um agente que origine; é um lugar, um ponto em que


múltiplas condições genéticas e ambientais se reúnem num efeito conjunto.
Como tal, ela permanece indiscutivelmente única. Ninguém mais (a menos
que tenha um gêmeo idêntico) possui sua dotação genética e. sem exceção,
ninguém mais tem sua história pessoal. Dai se segue que ninguém mais se
comportará precisamente da mesma maneira (p. 145-146).

A melhor maneira de compreender como o Behav iorismo Radical explica a


individualidade de cada um de nós é entendendo um pouco mais sobre o que Skinner
chamou de história pessoal ou repertório comportamental. Como já foi exposto em outro
capitulo deste livro, o repertório comportamental é construído a partir da história de
reforçamento de cada indivíduo. Ou seja. se tomar chocolate quente em dias frios for
reforçador para mim. seja pelo sabor ou pelas lembranças da minha infância a que ele me
remete, funcionalmente isso pertence apenas à minha história de reforçamento. Ninguém
reage às contingências ambientais da mesma maneira que eu ou você.
Skinner (1983a) diz que;

Cada célula em seu corpo [homem] é um produto genético único, tão singu­
lar quanto a clássica marca da individualidade, a impressão digital. E mesmo
dentro da cultura mais organizada, cada história individual é única. Nenhuma
cultura intencional é capaz de destruir essa singularidade... (p. 156).

Como já foi visto neste livro, segundo Skinner (1990), o comportamento é


produto dos niveis filogenético. ontogenético e ambiente social ou cultura. Sendo assim,
a história de reforçamento do indivíduo está em permanente construção, pois os niveis de
determinações interagem entre si, transformando-se constantemente (Micheleno. 1997;
Skinner, 2003). Nas palavras de Micheletto (1997) “O homem, produto da conjugação de
três dimensões de determinações históricas passadas, [é] absolutamente único” (Micheletto.
p. 1 2 0 ).
Ainda de acordo com Micheletto (1997). a individualidade é produto da diver­
sidade. Em outras palavras, é necessário que existam formas diferentes de vida e de
organização social, oferecendo um meio no qual existam várias possibilidades para que
ocorra uma seleção que permita a existência de “alternativas inovadoras de ação frente a
mudanças de uma realidade em constante transformação. Em lugar de homogeneizar, é
preciso produzir variações, segundo os princípios da seleção por conseqüências” (p.
128).
Portanto, para Micheleno (1997), ao mesmo tempo em que nós. enquanto
indivíduos, somos seres únicos, só podemos construir esta individualidade na convivên­
cia com o outro. Ela ainda afirma que a ação humana "deve ser não só produtora de
variabilidade, mas precisa dessa variabilidade para continuar a existir*" (p. 129).

58
C apítulo X IU

Com base nos argumentos apresentados, podemos perceber que. se de um lado.


enquanto analistas do comportamento, buscamos leis gerais que regem os comportamen­
tos, por outro, em função da natureza de seu objeto (o homem), não poderíamos
desconsiderar a individualidade do sujeito. Apesar de a estrutura orgânica existente em
todos os seres humanos estar pautada na filogênese. é na ontogênese que podemos
constatar a singularidade do comportamento de cada indivíduo. É ainda, a partir da
ontogênese. caracterizada pelas experiências e contingências de reforçamento vividas de
maneira idiossincrática, que o sujeito “cria*' sua própria história.

59
CAPmxo XIV

O Behaviorismo é necessariamente
antidemocrático porque a relação entre
experimentador e o sujeito é de manipu­
lação e seus resultados podem, por essa
razão, ser usados pelos ditadores
e não pelos homens de boa vontade?

Simone dos Santos Corrêa

M a m p i lação e C on tro le do C om portam ento


A manipulação e o controle são práticas comumente abominadas pela socieda­
de. Mas por que as pessoas se opõem tanto ao uso do controle?
Ao pensarmos um pouco na história da humanidade podemos dizer primeiro
que a manipulação e o controle são vistos como algo que fere a liberdade das pessoas em
todos os sentidos (Lipp. 1995). o que não é verdade se considerarmos que a noção de
liberdade para o Behaviorismo é outra. Embora o Behaviorismo não compartilhe da idéia
de que o homem é sempre livre para fazer o que quiser sem qualquer influência, não anula
a idéia de que o homem pode. sim. agir e escolher os rumos de sua vida. já que este atua
sobre o ambiente controlando e sendo controlado. O segundo motivo reside no fato de
que o controle tem sido usado para. de acordo com Lipp (1995), o exercicio do poder, o
que possibilitou a manutenção do poder dos grupos mais fortes, resultando em domina­
ção, abuso do poder, exploração e coerção. Isto fez com que as pessoas passassem a
considerar o controle como algo maléfico.
Freqüentemente o controle exercido pelos grupos governamentais é extrema­
mente aversivo. baseado em coerção e exploração, fazendo com que as pessoas não se
sintam livres e nem felizes, como sugerem Martim e Pear (1978 citado por Lipp, 1995),
ao comentarem:

que talvez esta tradição histórica, aliada à história pessoal de cada um que
muitas vezes envolve abuso de poder por parte de oulros para beneficio
própnc e contra pessoas de algum modo menos favorecidas, leve as pessoas
a reagirem [ao controle] (p. 1! 1).

61
Com isto não se pode condenar a aversão que as pessoas têm por qualquer
menção ao controle e à manipulação, pois a maioria acredita que são sinônimos de prisão
e dominação. O que as pessoas desconhecem é que não existe só este tipo de controle e
que o mesmo pode trazer conseqüências positivas para o indivíduo desde que baseado em
outros princípios como a liberdade e a felicidade.

A M v m p i lação par ,a o B lhaviorism o


Ao contrário da noção de manipulação vista como sinônimo de coerção e explo­
ração. a visão do Behaviorismo é que a manipulação seria uma maneira de introduzir
variações, a fim de que estas possam ocasionar modificações nos comportamentos das
pessoas e com isto elas ficariam sob controle das próprias conseqüências dos seus
comportamentos. Planejar ou manipular pode ser compreendido como "produzir varia­
ções e esperar que elas sejam selecionadas pelo ambiente" (Andery, 1997, p. 498). De
uma maneira ou de outra, o ambiente e os indivtduos são mutuamente controlados, c a
diferença seria que com a manipulação essas relações poderiam ser mais reconhecidas
(discriminadas) e esclarecidas para o indivíduo, que deixaria de acreditar que as conseqü­
ências de seus atos são obra de algo mágico e enigmático.
Planejando ou não. manipulando ou nào. o controle existe e Baum (1999)
confirma quando coloca que "na perspectiva comportamental não existe nada semelhante
a escolher livremente no sentido de exercer livre-arbítrio. ou escolher sem explicação...
todas as ações são controladas" (p. 197). E mesmo não havendo planejamento, pode
resultar em “conseqüências desagradáveis também" (Skinner, 2003. p. 206). Enfim, para
o Behaviorismo. a manipulação è a introdução, ou a modificação das "variáveis das quais
o comportamento de outro indivíduo é função” (Skinner, 1998. p. 488), a fim de produzir
conseqüências que irão fortalecer o comportamento e. com isto. permitir que o indiv íduo
controlado possa discriminar os controles e agir sobre eles. Controle é assim uma questão
não de invasão, mas de influência e de investigação das relações entre os comportamentos
e os eventos ambientais.

A importância do C o n tro le P ro posto pklo BfcmvioRiSMO


Não se pode negar que um certo tipo de controle pode trazer muitas vantagens
para a sociedade como um todo. Skinner (2003) coloca que '‘pode-se ajudar uma pessoa
organizando um ambiente que exerça controle" (p. 160), desde que esse controle não seja
excessivo e aversívo.
O planejamento e o controle são importantes porque com eles as pessoas
podem reconhecer as contingências sob as quais estão expostas e visualizar as possibili­
dades que elas têm de agir sobre as mesmas e com isto buscar o que é melhor, de
preferência ficando sob controle de conseqüências à longo prazo, livrando-se da coerção
e da exploração. Apesar de termos consciência que. segundo Skinner (2003). “não pode­
mos escolher um gênero de vida oo qual não haja controle" (p. 163), não devemos
esquecer que podemos modificar esses controles.
a) Controles mais Comuns na Sociedade
A proposta defendida pelo Behaviorismo é que devemos, ao invés de errar­
mos sob controle de contingências coercitivas e exploratórias, estar sob controle dz

62
C A n r tu o X I V

conseqüências positivas, o que Baum (1999) confirma quando diz que “os analistas
comportamentais defendem o uso de reforço positivo em vez de métodos aversivos”
(p. 198). Mas como se apresenta o controle aversivo? Podemos destacar dois tipos de
controle aversivo freqüentemente utilizados na sociedade, a coerção e a exploração.
A coerção é uma forma de controle aversivo em que "o comportamento das
pessoas é controlado pela ameaça de conseqüências aversivas” (Baum. 1999, p. 179). O
indivíduo sob contingências coercitivas se comporta, ou para evitar que o estimulo aversivo
se coloque, ou para fugir de um estimulo aversivo ao qual está submetido. Quando o
indivíduo atende as ordens do controlador, ele reforça o comportamento do mesmo
positivamente e o controlador reforça negativamente o comportamento do controlado,
Quando isto ocorre. Baum (1999) acredita que o controlado não se sente livre pois a
escolha contrária à orientação do controlado resulta em punição. E continua dizendo que,
à longo prazo, “a coerção é ruim porque torna as pessoas rancorosas, agressivas e ressen­
tidas ... tomando-as infelizes” (p. 181).
A exploração também é muito comum quando se busca o controle. Ela consiste,
de acordo com Baum ( 1999), na apresentação de reforço positivo à curto prazo para o
controlado, porém com prejuízo à longo prazo. Apesar de nessas relações tanto o explo­
rador quanto o explorado obterem reforço positivo, este. dado ao explorado, mascara os
prejuízos futuros, por isso a exploração é um tipo de controle que é mais difícil de ser
reconhecido na medida em que só se percebe quando o indivíduo fica sob controle de
conseqüências postergadas, nas quais a punição à longo prazo pesa mais do que o reforço
a curto prazo (Baum. 1999).
Na sociedade, podemos destacar vários exemplos deste tipo de relação como
no caso de patrões que podem fornecer pagamento para os funcionários trabalharem em
condições perigosas, o que acaba mascarando os possíveis prejuízos.
Enfim, punição, ameaças e exploração tendem a produzir aprisionamento e
infelicidade (Baum. 1999).
b) Proposta de Controle Defendida peio Behaviorismo
O Beha\ iorismo propõe um tipo de controle que valorize e respeite a liberdade
e a felicidade, que segundo ele é o controle por reforçamento positivo. Nas palavras de
Baum (1999)

quando o comportamento está sob controie de um reforço positivo adequa­


do. as pessoas dizem que se sentem livres, felizes e respeitadas. Sentem-se
livres porque não são punidas por suas escolhas, felizes porque suas escolhas
resultam em coisas boas. e respeitadas porque os reformadores contam a
favor de seu mérito (p. 198-199).

Ao invés de dispensar estímulos aversivos. reforça-se positivamente compor­


tamentos adequados das pessoas. Porém, assim como os controles coercitivo e exploratório
são prejudiciais, o controle por reforçamento positivo pode ser mal empregado se for
dispensado em excesso ou se forem pequenos e imediatos, se sobrepondo às conseqüên­
cias à longo prazo e fazendo com que as pessoas sacrifiquem o seu bem-estar. Essas
coptirgências são denominadas por Baum (1999) de eontmgências-armadilhas.

63
M aneiras de se D efender do C on tro le A \ ersi \ o e E vploratório
A ciência do comportamento defende algumas maneiras do indivíduo se opor
a esses tipos de controle, dentre elas o autocontrole e o contracontrole.
Para se defender das contingências-armadilhas e das relações de exploração o
Behaviorismo coloca que o indivíduo deve aprender a exercer o autocontrole, ou seja.
deve ficar sob controle das conseqüências à longo prazo abrindo mão do reforço imediato.
Isto pode. à curto prazo, até levá-lo a sofrer punições, porém, à longo prazo vai trazei
benefícios. Por exemplo, o indivíduo que vende carv ão vegetal pode ficar sob controle da>
conseqüências à longo prazo (os prejuízos à natureza e a ele mesmo), abrindo mão do
dinheiro que ganha com a venda (reforço imediato). Isto pode a princípio deíxá-lo em uma
situação difícil (punições)»pcrém se ele não fizer, no futuro vai sofrer pondo em risco sua
própria sobrevivência.
Para se defender das relações coercitivas, a proposta é o contracontrole. Este
acontece quando o indivíduo muda a relação com o controlador, modificando a contingên­
cia, fazendo com que esse controle vohe sobre o controlador; neste caso, ao invés do
indivíduo se submeter ao controle, ele reage, ou através do corte da relação, ou de ameaças
e promessas, fazendo com que as ações do controlador sejam mais cuidadosas, ou até
diferentes. De acordo com Skinner (2003), “a democracia é uma versão de cootracontroUT
(p. 206), na medida em que assegura ao indiv íduo o direito de se opor às ações de controle
do governo, passando a se sentir menos coagido.
Pode-se com isto perceber que os controles defendidos pelo Behaviorismo são
incompatíveis com o controle exercido pelos ditadores que buscam o controle baseado cm
coerção e exploração em que os benefícios são unilaterais já que dispõem de todas as
contingências reforçadoras e punitivas, de forma que o indivíduo não consegue se sentir
à vontade para escolher, não exercendo sua liberdade e não se sentindo feliz. Como
Skinner (1998) afirma: “o governo que fizer menos uso de seu poder de punir será o que
mais provavelmente reforça nosso comportamento de mantê-lo” ip. 380), ou seja, um
governo ditatorial não é um tipo de governo que se manteria para a ciência do comporta­
mento, pois deixaria de lado a liberdade e a felicidade.
Quanto ao conhecimento produzido pela ciência do comportamento ser instru­
mento para os ditadores e nâo para “homens de boa-vontade’*, podemos dizer que o mau
uso do conhecimento de qualquer ciência é um fardo muito pesado que não pode ser
despejado nas costas das mesmas, pois como o próprio Skinner (1998! coloca, não se
pode garantir que o que é gerado pela ciência seja usado para os interesses da humanidade
e completa afirmando que “uma ciência do comportamento não contém em si mesma
quaisquer meios de controlar o uso para o qual suas contribuições serão dirigidas" (p.
475). A possibilidade de ocorrer o mau uso não pode ser uma desculpa para se descartar
a importância da ciência em geral, e da ciência do comportamento para o avanço da
humanidade, pois. como Lipp (1995) frisa, "não é o método comportamental que dev e
ser temido e sim o modo como ele é usado, para quê. com quem e em que circunstâncias"
(p. 114). O mau uso vai depender da conduta ética do homem em lutar pelo bem-estar e
pela sobrevivência o maior tempo possível de sua espécie, com justiça, bom senso e
responsabilidade.

64
C mttlio XIV

C onsiderações F inais
Muitos acreditam simplesmente que. “aceitando" ser controladas explicita­
mente. vão se tomar "animais de laboratório e que. ao contrário, são seres humanos
capazes de decidir e escolher o que querem fazer independente de qualquer coisa - são
“donas de seus próprios narizes". O que não percebem é que. primeiro, o controle existe
independente de nossa vontade <Lipp, 1995; Sidman. 2001). Não é uma escolha estar sob
controle, escolhe-se porém sobre qual controle estar, sendo possivel modificar os con­
troles aos quais respondemos. Para isto, devemos primeiro aceitar que somos controla­
dos. depois identificar a quais controles estamos submetidos e. a seguir, fazer uso do
autocontrole e ou do contracontrole. Ao exercermos o autocontrole e contracontrole
podemos assim nos sentirmos mais livres e felizes. Além disto, as pessoas devem perce­
ber que o controle nào se limita a métodos aversivos, sendo o Behaviorismo um grande
crítico destes, propondo um controle por reforçamento positivo natural e à longo prazo.
Tendo possibilidade de visualizar o que sena a manipulação para o Behaviorismo.
e conhecendo os tipos de controle propostos pelo mesmo, não se pode continuar acredi­
tando que o Beha\iorismo é antidemocrático e nem que seja arma para os ditadores já que
vimos grandes diferenças entre os tipos de controle exercidos.
E o mau uso do conhecimento produzido pela ciência do comportamento não
pode ser contabilizado como descrédito para a mesma, pois envolve muito mais questões
de ética pessoal e profissional, que nada tem a ver com a teoria behaviorista, já que o mau
uso pode acontecer em qualquer ciência. Em função dos resultados alcançados pela
ciência do comportamento, talvez a dominação tenha sido associada a esta, de forma
errônea, equivocada e. sem um minimo de critica por parte dos responsáveis, ou propo-
sítalmente. ou por falta de conhecimento especifico sobre a ciência do comportamento.

65
C ajttlix ) XV

O Behaviorismo encara as idéias


abstratas, tais como
moralidade e justiça como flcções?

Kercya Bem ardes Pinto Bandeira

Escrev er sobre valores, como moralidade ou justiça, em termos científicos, num


primeiro momento, pode parecer uma tarefa complicada. Se pararmos para pensar sobre
o que sào valores, ou como estes se estabelecem em uma sociedade, a que conclusão
chegaremos? Alguns podem pensar que são aspectos que já trazemos (ou não) desde o
nascimento, que fazem pane da natureza de cada ser humano, que são atribuições advindas
do bom senso ou da lógica interna de cada um. ou ainda, são heranças passadas de geração
em geração, que foram estabelecidas em certo momento, por determinado povo, no
contexto de uma cultura.
Skinner nega qualquer destas - ou outras respostas de caráter mentalista. Se
tais idéias abstratas (valores) existem, então são comportamentos e, portanto, passiveis
de estudo por pane da análise comportamental. Assim, para fundamentar a sua visão
sobre a formação e manutenção dos vaiores nos indivíduos. Skinner acredita no papel
desempenhado pelas contingências ambientais de reforçamento e punição sobre a forma­
ção do nosso repertório comportamental. incluindo-se aqui. em especial, as noções do
que é “certo'’ ou “errado".
Mas. como saber o que vem a ser certo ou errado? Segundo Baum (1999), por
vivermos em meio a grandes diversidades culturais e pelas notáveis diferenças existentes
entre as pessoas, alguns pensadores julgam não haver um padrào universal que justifique
os conceitos de certo e errado. Pregariam uma ética situacional. originada por situações
particulares e não universais, ou seja. cada um formularia suas próprias definições sobre
o que seria bom ou mal. Neste caso. de acordo com os relariv istas morais, dependendo da
situação particular de cada ser humano, estes conceitos seriam empregados de uma ou de
outra forma. Imaginemos então, como seriam feitos os acordos, ou solucionados os
problemas se seguirmos essa teoria? Se alguém achasse que é certo roubar, como um outro
alguém, considerando isso errado, poderia conv encer o primeiro a aceitar a sua concep­

67
ção. se para ele isso produz benefício? Ou mesmo, como dizer para uma criança que
beliscar a outra é mau. se isso pode dar prazer a ela? Poder-se-ia tentar solucionar tais
questões, com base nas convenções sociais, mas ainda assim, isto daria m argem a debates
sobre como estabelecer, aceitar ou obedecer tais convenções.
Baum (1999) expõe que “a alternativa ao estrito relativismo moral é a idéia de
que há padrões éticos universais, de que é possível descobrir princípios que expliquem as
asserções que as pessoas fazem sobre o bom e o mau como resultado de algo mais do que
suas situações particulares*’ (p. 226). Skinner defende a existência de padrões universais
e define o comportamento social “como o comportamento de duas ou mais pessoas em
relação a uma outra ou em conjunto em relação a um ambiente comum*’ (Skinner. 199S.
p.3 25). E acrescenta: “o comportamento social surge porque um organismo é importante
para outro como parte de seu ambiente" (p. 326). É neste ambiente social que as relações
são estabelecidas e com elas a formulação de modelos de condutas. No entanto, tais
padrões não necessariamente retratam aquilo que fazemos, mas. pelo menos. aquilo que
deveríamos fazer. Surge outra pergunta: como assegurar que cada pessoa aprenda a se
comportar de acordo com estes modelos?
Órgãos e instituições organizadas, como os sistemas governamentais, econômi­
cos. educacionais e religiosos e. em menor grau. os psicoterapeutas. exercem forte contro­
le sobre as ações dos indivíduos. O autocontrole é. em maior medida, determinado cultu­
ralmente por estas agências. Os procedimentos controladores ganham sua unidade por
meio das forças coesivas que permitem ao homem tornar-se parte integrante da ação
grupai. Para Skinner,

A principal técnica empregada do controíc do indivíduo por qualquer grupo


de pessoas que viveram juntas por um período de tempo suficiente ê a
seguinte: O comportamento do indivíduo é classificado como “bom" ou
“mau”, ou. com o mesmo efeito, “certo” ou “errado", e reforçado ou punido
de acordo com isso. (...) Geralmente se denomina o comportamento de um
indivíduo bom ou ceno na medida cm que reforça outros membros do grupo,
e mau ou errado na medida era que é aversivo (Skinner. 1998. p. 353).

Assim, o homem adquire do seu grupo um repertório representatn o de usos e


costumes. Os comportamentos passam a ser modelados pelos padrões da sociedade quan­
do certas respostas são reforçadas, enquanto outras são deixadas sem reforço, ou até
mesmo, punidas.
As pessoas começam a classificar os comportamentos com base nos julgamen­
tos feitos pela sociedade, se algo é correto ou não. e. eventualmente, formulam regras que
irão facilitar a aceitação, cumprimento e transmissão de tais práticas. Quanto ao saber
qual seria a forma mais adequada para agir, Skinner esclarece que:

Dizemos, às vezes, que agimos de determinada maneira porque sabíamos que


era certo ou sentíamos que era certo, mas o que sentimos quando agimos
moralmente ou eticamente depende das contingências responsáveis por
nosso comportamento. O que sentimos acerca do comportamento dos ou­
tros depende de seu efeito sobre nós; o que sentimos acerca de nosso próprio
comportamento para com os outros depende da ação por eles empreendida
(Skinner, 2003. p .166).

68
C A fÍT U O X V

O reforço social é uma questão de mediação pessoal, já que estes reforços


sempre requerem a presença de outras pessoas - por isso chamados de soeia], Skinner
observ a que o indivíduo acaba se tornando sujeito a controles poderosos quando duas ou
mais pessoas manipulam variáveis que vão afetar diretamente o comportamento dele.
Ressalta ainda como os procedimentos controladores são facilmente utilizados pelo
grupo.

O grupo como um todo raramente redige uma classificação formal do com­


portamento como bom ou mau. Inferimos a classificação de nossa observação
dos procedimentos controladores. Uma espécie de classificação informal ocorre,
entretanto, quando os próprios termos vêm a ser usados no reforço. Talvez os
reforçadores generalizados1 mais comuns sejam os estímulos verbais “Bom”.
“Certo". "Mau" e “Errado*’. São usados, juntamente com reforçadores condi­
cionados e incoodicjonados como elogios, agradecimentos, carinhos, gratifi­
cações. favores, ameaças, repreensões, censuras e criticas, para modelar o
comportamento do tadhiduo (Skinner, 1998. p. 354>

De acordo com Baum (1999), mérito e culpa são elementos adicionais da apro­
vação ou desaprovação. Todos nós buscamos o mérito e evitamos a cuipa. Por conseqü­
ência tentamos agir de forma responsável. Alguém se comporta responsavelmente quan­
do o faz da forma que a sociedade julga útil e adequada. Se è verdade que nos comporta­
mos do modo exposto acima, a partir de nossa história de reforçamemo. o mesmo acon­
tece com os julgamentos e imposições morais.
Muitas pessoas div ergem sobre o que é justo. “Se ontem eu lhe dei um pedaço
do meu lanche, hoje você me dá um pouco do seu", pode ser o pensamento de uns. Ou “eu
nào estou lhe perturbando, entào me deixe em paz!". Voltamos à discussão inicial. É como
se os dois lados apelassem a um tipo de lei ou padrão de comportamento decente ou
moral. Isto diz respeito, em especial, à justiça. Baum (1999) afirma que “evolucionistas
e behavioristas vêem as regularidades do comportamento humano apenas como reflexo de
várias formas de egoísmo” (p. 228). Com isto ele quer dizer que, como no exemplo acima,
eu só darei um pouco do meu lanche se for prov ável que haja uma retribuição, mesmo que
à longo prazo. A justiça estaria, então. ligada á idéia de reciprocidade. Seria uma espécie
de relação dc concordância, um contrato, mesmo que informal, daquilo que julgamos
merecer por termos feito algo ou que devemos retribuir em função de algo recebido - “Eu
reforço o seu comportamento e você reforça o meu”. Fica implícito nessa relação o
comportamento moral ou ético. Ao falar sobre ética. Skinner expõe que:

a maneira por que uma pessoa trata outra é determinada pela açào reciproca.
Nada lucramos com voltar-nos para os sentimentos. Diz-se amiúde que as
pessoas confortam os aflitos, tratara dos doentes e alimentam os famintos
porque simpatizam com eles ou porque lhes partilham os sentimentos; toda­
via. è o comportamento associado com esses sentimentos que deveria ter
tido valor de sobrevivência e que e modificado pelo contracontrole. Abstemo-
nos de ferir os outros, não porque "sabemos o que seja ser fendo” mas (1)
porque causar danos a outros membros da espécie reduz as probabilidades de

1
‘'Cjs.nóe Skiancr 12^00 . gu*r«io uni rsftjrçwor cood>c;onjàf» cs.;ver emparelhado com mais de um reforçado*
nrm ano scra chamado dc n:torvo generaiu jdo.

69
a espécie sobreviver e. (2) quando ferimos outros, nós próprios já fomos
feridos (Skinner. 2003, p. 165).

O sujeito, de forma particular, e a cultura, num âmbito mais geral, caracterizam-


se pelos comportamentos aprendidos e compartilhados no grupo. Não podemos tratar,
então, estas idéias, como moralidade e justiça, como ficções. uma vez que sào comporta­
mentos estabelecidos como os demais, passíveis de análise. Skinner muito contribuiu
para que avaliemos como os nossos atos são classificados em bom ou mau de acordo com
os princípios de moralidade e julgamentos que vêm intimamente relacionados com nossa
história de reforçamento. sendo esta. capaz de selecionar nossos comportamentos ade­
quados ou não.
Será que depois dessa breve e simples exposição, se voltarmos à pergunta
inicial e pedirmos para você pensar sobre o que são valores e como eles se estabelecem na
sociedade, mas agora, com base nos fundamentos behav ioristas. você seria capaz de
explicar? Espero que sim. lsio seria altamente reforçador!

70
C m t t u -o X Y I

O Behaviorismo desumaniza o homem,


reduzindo e destruindo o homem
enquanto homem, sendo indiferente
ao calor e à riqueza da vida
humana, e incompatível com o gozo
da arte, da música,
da literatura e com o amor ao próximo?

Ingrid Ferreira Soares da Silva


Kercya Bemardes Pinto Bandeira
Suane Maria Marinho Sá

O homem é uma máquina! Está totalmente controlado por estímulos ambientais


que determinam respostas pré-programadas e mecânicas. É um ser vazio, fonte abundan­
te óe nada! É um mero produto do meio. Não possui nada dentro de si que seja só seu
Não pensa, não sente, não cria. não é livre, não tem vontade, enfim, não é humano. Mais
parece um ratinho preso na “caixa de Skinner". Ou seria uma marionete manipulada por
mãos controladoras? Na verdade, melhor seria dizer que o homem se reduz a uma máqui­
na fria e sem sentimentos!
Quantas pessoas acreditam que é dessa forma que o Behaviorismo Radical vê o
homem? Com certeza muitas! Porém, se considerarmos o homem da forma como foi
exposto acima, o Behaviorismo não trataria do humano, uma vez que este ser descrito
anteriormente seria qualquer coisa menos homem. Assim, o homem pensa, sente, cria.
tem vontade, enfim, é humano. Mas o que é ser humano?
Boa pergunta! Você já parou para pensar no que é “ser um ser humano”? Vámos
fazer um exercício: feche os olhos e se permita ter alguns eventos privados que lhe
possibilitem construir a imagem de ser humano que você aprendeu a ter. Provavelmente,
o que primeiro lhe veio à cabeça foi algo semelhante a você próprio. Perfeito! E exatamen­
te isso! Ser humano é como nós e você. Pessoas cheias de emoções e sentimentos,
racionais, que se comunicam, se expressam, aprendem, se comportam, têm propositos e
capacidades de escolhas, enfim, sujeitas ao calor e à riqueza da vida humana, compatíveis
com a criação e o gozo da arte. da música, da literatura e do amor ao próximo.
Quando os critícos levantam questões sobre o Behaviorismo. sugerem que este
desumaniza o homem, negligenciando capacidades essenciais, próprias óo ser humano.
71
comparando-o. então, a uma máquina ou a um animal. É certo que as primeiras versões do
Behaviorismo desconsideraram algumas destas questões, a exemplo do Behaviorismo de
Watson que excluiu da ciência do comportamento “toda a rica experiência subjetiva dos
indivíduos” 1 (Figueiredo e Santx, 1999, p. 69), que até hoje é tomado por muitos como
modelo, o que faz com que considerem o Behaviorismo como superficial, incompleto e
reducionista (Skinner. 2003).
Skinner, ao propor o Behaviorismo Radical, inclui o estudo dos eventos priva­
dos e os toma passíveis de uma análise cientifica. Isto sempre provocou uma indignação
em pessoas que acreditam que os sentimentos são inexplicáveis, são impossíveis de
serem descritos, são de uma ordem tão intima, tão interna que não podem ser medidos de
maneira alguma! Como pode o amor, um sentimento tão sublime e intenso, ser medido,
“cientificado" ou racionalizado de forma tão concreta e prática como propõem os estudos
de Skinner? E quanto ao pensar, raciocinar? E a vontade? De onde ela nasce? E sobre a
criatividade? Será que apenas alguns têm o privilégio de nascer com este '‘dom"? E o que
falar acerca da consciência e da mente? E mais. como uma ciência de viés extemalista.
pode dar conta de eventos tidos como subjetivos, internos ou inatos?
Vamos por parte. Primeiramente, é importante deixar bem claro que. para
Skinner,

Em tudo isso, e em muito mais. [os seres humanos] estáo simplesmente


comportando-se c isso é verdade mesmo quando estão comportando-se de
forma encoberta. Não apenas uma análise comportamental não rejeita qual­
quer um desses “processos mentais superiores" como assume a dianteira na
investigação das contingências ero que ocorrem. O que ela rejeita é a supo­
sição de que atividades comparáveis ocorrem no mundo misterioso da men­
te. Tal suposição, argumenta ela, é uma metáfora injustificável e perigosa
(Skinner. 2003. p. 190).

Como vimos. Skinner afirma que independentemente do que o homem faça ou


sinta, ele está simplesmente se comportando. Talvez o que cause espanto seja este
“simplesmente”. Não seria muito desumanizadOT reduzir o homem a um mero repertório
de comportamentos? Muitas pessoas se recusam a aceitar que não existe nenhuma força
motivadora dentro de si capaz de determinar suas ações. um algo a mais que venha
explicar o que aparentemente não tem explicação. Na verdade, o inicio de todo este
impasse está nas definições errôneas que aprendemos ao longo de nossa vida. Reconhe­
cemos que. de imediato, é difícil deixar de acreditar em conceitos que são reforçados por
toda uma comunidade, para acreditar em uma visão totalmente oposta àquela aprendida,
ou seja. em uma concepção extemalista. Entretanto, “nem sempre o que é mais fácií é o
correto”. Dessa forma, a partir do momento em que nos permitimos um aprofundamento
na teoria de Skinner, constatamos a veracidade de seus escritos, já que podemos comprová-
los no nosso cotidiano.
Em segundo lugar, é necessário ressaltar que Skinner propõe um enfoque con­
trário ao da concepção mentalista. que vê o homem ‘'como um agente livre, cujo compor­
1 É importante ressaltar que Waison c freqõewememe mal sn en w ad o . embora muno imha coreribuido pe.ra o
a\anço do Comporum en^rsmo tm reum o. como delimitou como objeto de esmdo o conçorum em e TKer» av el
2
e usava o poradiisna reflexo para explicar os comportamentos, nãe deu êntass ao esnkV' de ilpuns c«npc** X.c:isú'
considerados mais cooipíe«.os (Figueitedo £ Sanfi. 1999;.

72
C apítulo X V I

tamento é o produto, não de condições antecedentes específicas, mas de mudanças inte­


riores espontâneas" (Skinner. 1998. p. 7). A visão skinneriana nos diz que

Uma pessoa c. em primeiro lugar, um organismo, um membro de uma espé­


cie e de uma subcspécie: possui uma dotação genética de características
anatômicas e fisiológicas que são o produto das contingências de sobrevi­
vência às quais a espécie esteve exposta durante o processo de evolução O
organismo se toma uma pessoa quando adquire um repertório de comporta­
mento nas contingências de reforço a que foi exposto ao longo dc sua vida.
O comportamento que apresenta cm qualquer momento está sob controle de
um cenáno atual (Skinner. 2003. p. 177).

O homem então se constrói a partir das interações com o ambiente em que vive
que podem ser reforçadas ou punidas pela comunidade, sendo, pois, selecionadas pelas
suas conseqüências. Em nenhum momento da sua obra Skinner põe de lado as caracterís­
ticas próprias do ser humano, aquelas que nos diferenciam dos demais animais, que nos
tomam humanos. O que ele vem trazer é uma nova maneira de conceber conceitos tão
familiares a nós, mas tão pouco estudados cientificamente. .Argumentar que os sentimen­
tos vêm dc dentro, que nascem no nosso interior, não basta para uma análise do compor­
tamento (Skinner. 2003).
Sentir é, portanto, um comportamento e. como tal. não pode ser tido como
causa de um outro comportamento, uma vez que as causas sempre estão fora do indiví­
duo. Dessa forma, amamos, agimos agressivamente, choramos ou sorrimos porque algo
(externo) aconteceu. Ou seja. emitimos tais comportamentos devido a contingências
ambientais que os determinam somado a história individual de reforçamento.
Para entendermos melhor, vamos falar de um destes comportamentos que
talvez cause mais controvérsias ao ser explicado em termos comportamentais: o amor.
Deixando o romantismo de lado. o amor. por ser um comportamento, é determinado por
conseqüências de seleção natural, de reforçamento individual e social. Amar seria, de
acordo com N. Costa (comunicação pessoal. 2000), “Sentir prazer por estar com o outro,
emitir comportamentos que terão maior probabilidade de ser reforçados pelo outro e
liberar reforços para o comportamento do outro”. Portanto, quando dizemos que estamos
amando alguém é porque este alguém, de alguma forma, reforça o nosso comportamento,
seja dando-nos amor. carinho, atenção, dedicação, cuidado, companhia, ou mesmo pre­
sentes (Skinner. 2002). No entanto, estes reforçamentos podem não ser apenas nesta
esfera, mas podem referir-se a estabilidade econômica, aceitação social, garantia de um lar,
um futuro promissor, dentre outros.
Mesmo não negligenciando as verdadeiras características humanas, como as
referidas anteriormente, muitas pessoas insistem em afirmar que o Behaviorismo Radical
desumaniza. reduz e destrói o homem enquanto tal.

É freqüente ouvir dizer que o homem se distingue das outras espécies preci­
samente porque ele tem consciência de si próprio e participa da determina­
ção do seu futuro. O que distingue a espécie humana, contudo, é o desenvol­
vimento de uma cultura, de um ambiente social que contém as contingências
geradoras de autoconhecímento e autocontrole (Skinner. 1972 citado por
Fadimarc e Frager, 1986. p. 215).
Na verdade, o homem não é dono do seu destino, uma vez que ele não é
autônomo, nem está livre das pressões ambientais. Esta posição skinneriana é contrária à
visão humanista adotada pela cultura ocidental, na qual o homem é concebido como um
ser responsável pela sua própria vida. pelas suas escolhas, sendo, portanto capaz dc
tomar suas decisões de forma livre (Cosia, 2000). Por possuir uma visão determinista do
comportamento, o Behaviorismo Radical não o aceita como um ato livre ou intencional,
e sim como um ato determinado pelas contingências ambientais de reforçamento (Costa,
2000).
No Humanismo, a liberdade eqüivale a ter escolha. Para o analista do compor­
tamento. “o homem não é condenado a ser livre"; escolher é possuir diversas opções de
comportamento. Ao fazermos uma escolha, buscamos ser mais reforçados positivamen­
te. mais felizes. “Sentimo-nos tanto livres quanto felizes, quando nos comportamos de
uma maneira e não de outra (...) não porque a ação que não escolhemos seria punida, mas
porque a que escolhemos foi mais positivamente reforçada" (Baum. 1999, p. 181).
A felicidade é um sentimento que está intrinsecamente ligado ao reforço operante.
Aquilo que reforça nossos comportamentos nos toma felizes (Skinner, 2003). É por este
motivo que tentamos evitar eventos aversivos e buscamos reforçadores. aquilo que nos
traga felicidade. Assim, como podem dizer que Skinner afirma que o homem está alheio ao
calor da vida humana, se propõe a busca da felicidade? Decididamente, não podemos
concordar com tais críticas. Até porque, em nossas histórias de reforçamento, estamos
sendo enormemente recompensadas a cada comportamento de aprofundarmo-nos nas
teorias de Skinner. E, já que aquilo que reforça nossos comportamentos nos toma felizes..

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A pêndice
Q ie s t ò e s R eferentes A os C a p ít il o s

C amtvlo I
1. Qual a expressão usada por Skinner para se referir à subjetividade?
2. O que você entendeu por estímulo e comportamento privado? Exemplifique.
3. Sustentado em que Skinner trata a subjetividade do mesmo modo que os com­
portamentos públicos?
4. Qual a relação entre subjetividade e comunidade verbal?
5. Elabore exemplos de uma situação que demonstre uma Telaçào entre comporta­
mento público e privado, partindo das concepções intemalista e extemalista.
6. Cite os dois fatores que explicam a tendência de atribuir ao mundo privado o
papel de causador de comportamentos.
7. Explique os conceitos de consciência e eu. segundo Skinner.

C \ r m lo II
1. Explique o modelo de seleção por conseqüências.
2. So modelo de seleção por conseqüências, onde poderíamos situar características e
comportamentos inatos?
3. O que seriam dons inatos segundo o referencial skinneriano?
4. O que pode explicar a crença de que Skinner negligencia o que é inato?

C atitiijo III
1. Explique e exemplifique comportamento reflexo e operante. incluindo suas caracte­
rísticas definidoras. Em seus exemplos você deve especificar os termos da contin­
gência.
2. De que modo o conceito de operante se mostra contrário a uma concepção mecanicista
de comportamento?
3. Explique a afirmação de Micheletto (1997) somos “agentes controlados pelo efeito
de nossa própria ação” (p. 118).

C a iít iio IV
1. O que se entende por cogniçào e como behavioristas radicais concebem tal fenômeno?
2. Na educação, como cognitívistas e beha\ ioristas radicais trabalhariam para que a
aprendizagem ocorresse?
3. Por que behavioristas radicais se contrapõem ao Cognitivismo?
4. Explique por que Skinner discorda do uso de analogias de programas dc computador
para entender o comportamento.

C a pítu .o V
1. Explique os três significados para a palavra intenção.

78
2. Qual( is)o<s)motivo<s) que poòetm) justificar a concepção de intenção como causa
de comportamento?
3. Como relatos sobre eventos futuros são analisados em uma perspectiva
comportamental?

C.\MTVLO M
1. Especifique a relação entre a teoria da evolução e o comportamento
criativo.
2. Como Skinner distingue idéias originais de idéias não-originais?
3. Explique como se dá o processo de criação de algo novo.
4. Qual o papel da cultura na instalação do comportamento criativo?

CAfriiu>MI
1. Contraponha a concepção de personalidade do mentalismo e do Behaviorismo.
2. Para Freud a personalidade constitui-se de três “componentes” - id. ego e superego.
Explique tais conceitos a partir do referencial skinneriano.
3. Como épossKel que um mesmo indivíduo apresente mais de um tipo de personalidade?

C a t it il o M I I
1. Segundo Husserl a consciência dá significado aos fenômenos. E para Skinner, a
noção de significado tem relação com a consciência? Explique.
2. Explique se é possível falar de transcendência, partindo de um enfoque
comportamental.

C VPII1LO I \
1. Cite as vantagens dos estudos com não humanos.
2. Explique a afirmação de que a A.E.C “Não pretende ser uma simplificação do que
ocorre no nosso cotidiano- (Gomide e Weber. 1998. p. 141).
3. Por que é possivel afirmar que Skinner também se preocupa com o que é
especificamente humano?

CvPITl LO X
1. O que faz do Behaviorismo Radical uma filosofia da ciência do comportamento?
2. Por que se pode afirmar que Skinner desenvolveu seus estudos pautado no método
cientifico?
3. Em que contextos verifica-se que os princípios derivados do laboratório tiveram sua
eficácia comprovada?

C apíti i .o XI
1. Supcrsimplificação e parcimônia são sinônimos? Explique.
2. Por que se diz que Skinner concebe ambiente e comportamento como fenomenos
molares?

79
3. Defina e formule exemplos de contingências de 4 e 5 termos.

C afítvlo x n
1. O que significa dizer que os comportamentos humanos são passíveis de condicio­
namento?
2. Existe alguma relação entre condicionamento e verdade? Justifique.

CArmix» XIII
1. De acordo com o capitulo, o que faria as pessoas acreditarem que o Behaviorismo
nào faz referência à individualidade?
2. Para o senso comum, qual a relação entre liberdade c individualidade?
3. Segundo a proposta behaviorista, como pode ser compreendida a indiv idualidade?
4. Explique a seguinte afirmação: “A individualidade é produto da diversidade'*
(Micheletto. 1997).

C A rnxtjoX rv
1. Qual o sentido da palavra manipulação para Skinner'?
2. Explique a importância dada ao controle na perspectiva skínneriana.
3. Cite as principais formas de controle e em seguida especifique a forma de controle
defendida pelo Behaviorismo.
4. Explique as maneiras pelas quais o indivíduo pode se defender de contíngéncias-
armadilhas e das relações de exploração.
5. Comente a afirmação - “Não é uma escolha estar sob controle, escolhe-se. porém,
sobre qual controle estar”.

C apítu -o XV
1. Como se define e se constrói, para Skinner, as noções de certo e errado?
2. De acordo com o Behaviorismo. o que seria justiça?

C \r m u ) X \l
1. Para os críticos do Behaviorismo. por que o mesmo desumanizana o homem?
2. Qual o contra-argumento para a critica de que o Behaviorismo desumaniza o ser
humano?
3. De que forma o Behaviorismo explica as “características e capacidades” própria> do
homem?
4. Como poderiam ser explicados os sentimentos de amor. felicidade e liberdade de
acordo com Skinner0

80
Temos o prazer de lançar mais uma obra
soh a batuta de Nazaré Costa. Preocupada
com a publicação de textos voltados para
estudantes, nesse livro a organizadora
propoe a um grupo de alunos que integram
o Grupo de Estudos em Análise do
Comportamento que discutam as críticas
mais freqüentes dirigidas ao
Behaviorismo de Skinner.
Por se tratar de um livro destinado ao
público leigo e/ou iniciante em Psicologia,
nada mais adequado para a realização
desta tarefa do que contar com a
participação dos próprios alunos que
tiveram e que ainda possuem dificuldades
em compreender certos textos e colocações
de Skinner.

Segundo palavras da própria organizadora.


^o livro, em última instância, busca
divulgar as idéias de Skinner tais quais ele
as apresentou, como uma forma de
valorização do seu trabalho (...)"

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