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<Teste de Avaliação referente ao módulo 9

Turma : ADS3 março’21

Grupo I
Bodo do Século (Capítulo III)

[…] Ricardo Reis alcançou o meio da rua, está defronte da entrada do grande prédio do jornal O
Século,
o de maior expansão e circulação, a multidão alarga-se, mais folgada, pela meia-laranja que com ele
entesta, respira-se melhor, só agora Ricardo Reis deu por que vinha a reter a respiração para não
sentir o mau cheiro […]. À entrada estão dois polícias, aqui perto outros dois que disciplinam o
acesso, a um deles vai Ricardo Reis perguntar, Que ajuntamento é este, senhor guarda, e o agente de
autoridade responde com deferência, vê-se logo que o perguntador está aqui por um acaso, É o bodo
do Século, Mas é uma multidão, Saiba vossa senhoria que se calculam em mais de mil os
contemplados, Tudo gente pobre, Sim senhor, tudo gente pobre, dos pátios e barracas, Tantos, E não
estão aqui todos, Claro, mas assim todos juntos, ao bodo, faz impressão, A mim não, já estou
habituado, E o que é que recebem, A cada pobre calha dez escudos, Dez escudos, É verdade, dez
escudos, e os garotos levam agasalhos, e brinquedos, e livros de leitura, Por causa da instrução, Sim
senhor, por causa da instrução, Dez escudos não dá para muito, Sempre é melhor que nada, Lá isso é
verdade, Há quem esteja o ano inteiro à espera do bodo, deste e dos outros, olhe que não falta quem
passe o tempo a correr de bodo para bodo, à colheita, o pior é quando aparecem em sítios onde não
são conhecidos, outros bairros, outras paróquias, outras beneficências, os pobres de lá nem os
deixam chegar-se, cada pobre é fiscal doutro pobre, Caso triste, Triste será, mas é bem feito, para
aprenderem a não ser aproveitadores, Muito obrigado pelas suas informações, senhor guarda, Às
ordens de vossa senhoria, passe vossa senhoria por aqui, e, tendo dito, o polícia avançou três passos,
de braços abertos, como quem enxota galinhas para a capoeira, Vamos lá, quietos, não queiram que
trabalhe o sabre, com estas persuasivas palavras a multidão acomodou-se, as mulheres murmurando
como é costume seu, os homens fazendo de contas que não tinham ouvido, os garotos a pensar no
brinquedo, será carrinho, será ciclista, será boneco de celuloide, por estes dariam camisola e livro de
leitura.

SARAMAGO, José (2016). O Ano da Morte de Ricardo Reis.

1
Porto: Porto Editora, pp. 75-76 [com supressões].

1. Relê as frases onde aparecem as seguintes palavras, associando a cada uma o


respetivo significado.

Coluna A Coluna B
a. “meia-laranja” (l. 2) 1. distribuição de alimentos, dinheiro e vestuário aos pobres, em
b. “disciplinam” (l. 4) dias festivos.
c. “deferência” (l. 6) 2. instituições de caridade.
d. “agasalhos” (l. 10) 3. espada curta.
e. “bodo” (l. 6) 4. material plástico.
f. “escudos” (l. 10) 5. moeda portuguesa em circulação entre 1910 e 2002.
g. “instrução” (l. 11) 6. atenção respeitosa; acatamento.
h. “beneficências” (l. 15) 7. roupas; vestuário quente.
i. “sabre” (l. 20) 8. espaço em forma de semicírculo.
j. “celuloide” (l. 23) 9. ensino; formação.
10. fazem cumprir as regras.

a. b. 10. c. d. 7. e. f. 4. g. h. i. . j. .

2. Transcreve do texto um exemplo que permita fazer a seguinte afirmação.


a. Mais uma vez, Ricardo Reis deambula pela cidade, tornando-se um espectador do
espetáculo do mundo.
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b. O diálogo entre Ricardo Reis e o polícia é marcado pelo tom oralizante, o que
confere vivacidade ao texto.
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c. O polícia mostra uma atitude de cortesia relativamente a Ricardo Reis, que é visível,
sobretudo, nas formas de tratamento e no modo de agir.

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d. Através do diálogo entre as duas personagens, representa-se a pobreza existente na


cidade de Lisboa em 1936.
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e. Este excerto tem uma intencionalidade crítica muito vincada, evidenciando o


controlo dos mais pobres por parte das instituições com poder, aliadas ao governo da
ditadura.
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f. A manipulação ideológica dos pobres é visível, por exemplo, no facto de se oferecer


livros de leitura às crianças.
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3. Seleciona a opção correta.


3.1. Identifica recurso expressivo presente em “o polícia avançou três passos, de
braços abertos, como quem enxota galinhas para a capoeira” (ll. 18-20).
(A) metáfora. (B) aliteração + (C) comparação. (D)
personificação.

3.2. Analisa a expressividade do recurso expressivo.


+ (A) Realce da forma como os pobres são tratados pelos agentes da polícia (como
animais); sugestão da repressão e do abuso das autoridades policiais.
(B) Realce da forma como os pobres se comportam perante as autoridades policiais
(como animais); falta de civismo e saber-estar dos pobres.
(C) Realce da forma como os polícias têm de agir perante a confusão causada pelos
pobres; sugestão do carácter animalesco dos pobres.

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GRUPO II
Lê com atenção e de seguida, seleciona a alínea correta.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
O dia de hoje celebra um itinerário coletivo de dor e redenção. Um itinerário
que escreve a história da Justiça, no seu arco imenso que vai das regras e princípios
do Direito as relações concretas da existência quotidiana, que atravessa o espaço
público e a constelação das relações particulares. Os direitos da mulher sempre
estiveram imbrincados na questão da justiça. A afirmação da mulher e dos seus
direitos e a marca da completude indispensável a uma relação de harmonia entre os
seres humanos e dos seres humanos com o mundo. A marca da liberdade, da
universalidade e do equilíbrio, a marca do que a intuição e a razão nos ditam que é
justo.
Foi por isso que a luta pelos direitos das mulheres não as teve como únicas
protagonistas. O seu estatuto de seres humanos com direito a igual consideração e
respeito entrou no programa das ideologias, dos movimentos e de todas as formas de
pensamento e ação humanamente redentoras. Entrou, em particular, na dor, suor e
sangue das mulheres mais desfavorecidas e excluídas. Nas mulheres que agravaram a
sua condição oprimida com a sua condição de mulheres: as operarias, as emigrantes,
as refugiadas, as filhas do subdesenvolvimento, as vítimas de segregação familiar ou
religiosa, da exploração. O absurdo e a barbárie subsistem no horizonte de tantos
milhares de mulheres. Como um grito! Como na crise que devasta a Europa e se
espalha pelo mundo. As diferenças salariais que persistem, o despedimento em
primeiro lugar quando há que escolher, a ancoragem nelas do sistema da família em
desemprego. Esta síntese entre o sujeito e a sua circunstancia, tao evidenciada na
condição das mulheres.
A trajetória da luta das mulheres poe em relevo a necessidade de uma abordagem dos
valores que atende as pessoas concretas e aos seus contextos reais, em toda a sua
diversidade. O que é um desafio para a lei e a sua “tradição” das categorias abstratas.
Os direitos ganham, agora, em sentido e alcance. Radicados na forca normativa que a
própria natureza impõe aos sistemas de pensamento e aos métodos de ação. Como se
a justiça só assim se aconchegue em inteira narrativa, liberta da marca do seu passado
patriarcal. Recordo a ideia essencial de Engels na “origem da família, da propriedade
4
privada e do Estado”, a ideia de que os indivíduos não são abstrações nas formações
sociais, de que estatuto e função se influenciam reciprocamente. Existe aqui uma
indissociabilidade incontornável que não pode ser indiferente ao programa de uma
sociedade livre e democrática. A mulher e condição para a moralidade consequente da
lei. Para um dinamismo humano que é essencial as mutações da sociedade planetária
e a sua cultura de aceitação e reconhecimento da diferença. Desafio que e feito para
um novo sistema jurídico-político em que a primazia do poder e disputada pela forca
consistente do amor.
Discurso da presidente da AR, Assunção Esteves, na Conferencia sobre “Portugal nos 30 anos da Convenção sobre a eliminação de
todas as formas de discriminação contra as mulheres”,
Lisboa, Palacio de S. Bento, 8 de marco de 2012 (com supressoes).

1. A defesa dos direitos da mulher justifica-se


[A] pelo facto de ser continuamente escravizada pelo homem.
[B] dada a maioria dos refugiados serem mulheres.
[C] pois estes contribuem para uma relação harmoniosa dos indivíduos entre si.
[D] dada a sua fragilidade física enquanto ser humano.

2. A oradora destaca a necessidade de a legislação


[A] atender a seres humanos concretos e à sua inserção na sociedade.
[B] ser abrangente e, portanto, permite tomar decisões em termos abstratos.
[C] prescrever um conjunto de direitos que devem ser específicos das mulheres.
[D] sobre as mulheres ser elaborada também por homens.

3. À mulher é atribuído o importante papel de


[A] tomar as decisões no seio familiar.
[B] substituir o homem no comando das sociedades.
[C] dirigir os órgãos máximos de decisão no país.
[D] contribuir para a mutação das sociedades, em conjunto com outros agentes.

4. Para referir as mulheres que são alvo de dupla exploração, no quarto parágrafo,
o sujeito de enunciação utiliza uma
[A] metáfora.
[B] enumeração.
[C] sinestesia.
[D] hipérbole.

5.O segmento sublinhado em “a primazia do poder é disputada pela força


consistente

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do amor” (ll. 40-41) desempenha a função sintática de
[A] sujeito.
[B] complemento indireto.
[C] complemento oblíquo.
-[D] complemento agente da passiva.

Bom Trabalho!

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