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Língua Portuguesa 5

Modernismo

Capítulo 1
01. Cesgranrio-RJ ( ) Foi um movimento com ideário estético rígido,
Ao longo da literatura brasileira, percebe-se, de forma com linguagem altamente formal e cuja temática
recorrente, a tematização da paisagem/realidade local. dominante era a defesa do regime republicano
Tendo em vista a produção literária do século XX, as- recém-instalado (1889).
sinale a opção em que a tendência indicada para cada ( ) Surgiu num período em que, em termos gerais,
período apresentado a seguir esteja incorreta. predominava a estética parnasiana na poesia,
a) Na fase pré-modernista, no ínicio do século, uma com sua valorização do mundo greco-latino e a
literatura frívola, com atmosfera Belle Époque, con- concepção de literatura como elaboração formal.
vive com outra, voltada para problemas regionais. ( ) Nesta época, início do século XX, foi contempo-
b) Na primeira fase do Modernismo, há o registro da râneo de alguns simbolistas remanescentes, que
vida das grandes cidades, com destaque para São sonhavam com sensações inefáveis, distantes da
Paulo, por influência do grupo paulista. realidade.
c) No período do Neo-Simbolismo de 1930, acen- ( ) Contrastando com os simbolistas e parnasianos,
tua-se a observação da realidade externa, em Euclides da Cunha escreveu Os sertões, docu-
detrimento da interna. mento amargurado e realista, sobre a guerra de
d) Nos anos 1940, o amadurecimento da renovação Canudos, da qual participou como enviado do
temática e a busca de naturalidade da linguagem jornal O Estado de S. Paulo. Descreveu, numa
ficcional dão nova feição ao regionalismo. mescla de romance e ensaio científico, uma
epopéia às avessas, que foi publicada em 1902.
e) Na década de 1970, nota-se uma pluralidade de
tendências, indo desde a alegoria e o fantástico ( ) Lima Barreto, outro autor da época, tem como prin-
ao ultra-realismo e à literatura-verdade (romance- cipal obra: Triste fim de Policarpo Quaresma. Em
reportagem, por exemplo). seu livro, abandonou o mundo helênico, perfeito e
imaginário, descrevendo a tristeza dos subúrbios
0 2. UEL-PR e revelando preocupação com fatos históricos e
Assinale a alternativa incorreta sobre o Pré-Moder- costumes sociais. Seu estilo era semelhante ao
nismo. de Machado de Assis, pelo refinamento lingüístico,
pela forma trabalhada, limpa e perfeita.
a) Não se caracterizou como uma escola literária
com princípios estéticos bem delimitados, mas 0 4. UFAL
como um período de prefiguração das inovações
Assinale como verdadeiras ou falsas as afirmações
temáticas e lingüísticas do Modernismo. sobre nossa literatura no Pré-Modernismo.
b) Algumas correntes de vanguarda do início do ( ) Com Os sertões, Euclides da Cunha retomou
século XX, como o Futurismo e o Cubismo, exer- a tradição do romance regionalista romântico,
ceram grande influência sobre nossos escritores reabrindo este caminho para Graciliano Ramos e
pré-modernistas, sobretudo na poesia. Guimarães Rosa.
c) Tanto Lima Barreto quanto Monteiro Lobato são nomes ( ) Antes de se realizar como um extraordinário poeta
significativos da literatura pré-modernista produzida moderno, Manuel Bandeira escreveu versos de
nos primeiros anos do século XX, pois problematizam gosto parnasiano e simbolista, dentro do gosto
a realidade cultural e social do Brasil. estético que predominava nas duas primeiras
décadas do nosso século.
d) Euclides da Cunha, com a obra Os sertões, ultra-
( ) A poesia do período pré-modernista não tem nada
passa o relato meramente documental da batalha
de propriamente revolucionário, mas há que se
de Canudos para fixar-se em problemas humanos destacar a originalíssima concepção de poesia
e revelar a face trágica da nação brasileira. que está no livro Eu, de Augusto dos Anjos.
e) Nos romances de Lima Barreto observa-se, além ( ) A prosa de Lima Barreto destaca-se, nesse perí-
da crítica social, a crítica ao academicismo e à odo, por satirizar o nacionalismo, o oficialismo da
linguagem empolada e vazia dos parnasianos, literatura e a concepção de arte pela arte, além
traço que revela a postura moderna do escritor. de aproximar o leitor de situações típicas dos
subúrbios do Rio de Janeiro.
0 3. UFPE ( ) Monteiro Lobato deve ser reconhecido como au-
Nas duas primeiras décadas do século XX, surgiu, no têntico modernista, sobretudo no que se referia
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Brasil, o Pré-Modernismo. Sobre esse tema, analise às suas concepções no campo das artes plásticas,
as proposições a seguir. mais do que como pré-modernista.

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05. UFRJ povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a
Fragmento de Triste fim de Policarpo Quaresma combater, em guerra mais demorada e digna. Toda
aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro,
Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte se não se aproveitassem os caminhos abertos à
anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro. Não fora artilharia para uma propaganda tenaz, contínua e
o amor comum, palrador e vazio; fora um sentimento persistente, visando trazer para o nosso tempo e
sério, grave e absorvente. (...) o que o patriotismo o incorporar à nossa existência aqueles rudes compa-
fez pensar, foi num conhecimento inteiro de Brasil. triotas retardatários.
(...) Não se sabia bem onde nascera, mas não fora
É possível perceber que o relato de Euclides da Cunha
decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul, revela influências científicas da época e, ao mesmo
nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele tempo, o desejo de chegar à verdade dos fatos.
qualquer regionalismo: Quaresma era antes de tudo
a) Destaque do texto II um trecho que comprove as
brasileiro.
influências de teorias raciais existentes no início
Barreto, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.
São Paulo: Scipione, 1997.
do século XX.
b) É possível afirmar que a divisão da obra em três
Este fragmento de Triste fim de Policarpo Quaresma partes prende-se às teorias naturalistas de análise
ilustra uma das características mais marcantes do comportamental? Explique.
Pré-Modernismo, que é o: c) O autor não aceita a versão do Exército brasileiro
a) desejo de compreender a complexa realidade de que Canudos era um foco monarquista. Desse
nacional. modo, na visão do autor, quais são as causas
b) nacionalismo ufanista e exagerado, herdado do desse fenômeno social?
Romantismo.
c) resgate de padrões estéticos e metafísicos do 07. PUC-RS
Simbolismo. Numerar a segunda coluna de acordo com a primeira,
d) nacionalismo utópico e exagerado, herdado do relacionando as idéias, as expressões, os autores e
Parnasianismo. as obras ao que se convencionou denominar de Pré-
e) subjetivismo poético, tão bem representado pelo Modernismo e Geração de 22.
protagonista. 1. Pré-Modernismo
2. Geração de 22
06. ( ) Oswald de Andrade
Os textos a seguir são fragmentos da obra Os sertões, ( ) Lima Barreto
de Euclides da Cunha. Leia-os e responda à questão ( ) Mário de Andrade
abaixo. ( ) Os Sertões
CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Três, 1984.
( ) fragmentação da narrativa
( ) ruptura com a tradição
Texto I ( ) ecletismo
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais ( ) irreverência
exaustiva que a de uma estepe nua. A seqüência correta, de cima para baixo, é a da
Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de alternativa
um horizonte largo e a perspectiva das planuras a) 2 – 2 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1 – 2
francas.
b) 2 – 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2
c) 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2 – 2 – 2
Texto II d) 1 – 1 – 1 – 1 – 2 – 2 – 1 – 2
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem e) 1 – 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 1
o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos
do litoral. 08. Mackenzie-SP
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de Caso raro: fazendo uma poesia formalmente trabalha-
vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, da, elaborada em linguagem cientificista-naturalista,
o desempeno, a estrutura corretíssima das organiza- atingiu uma popularidade acima das expectativas, em
ções atléticas. função de seu pessimismo, sua angústia em face de
(...)Este contraste impõe-se ao mais leve exame. problemas pessoais e das incertezas do novo século
Revela-se a todo o momento, em todos os pormenores que despontava.
da vida sertaneja — caracterizado sempre pela inter- O autor a que se refere o trecho acima é conside-
cadência impressionadora entre extremos impulsos e rado um:
apatias longas. a) romântico.
b) pré-modernista.
Texto III
Decididamente era indispensável que a cam- c) modernista.
panha de Canudos tivesse um objetivo superior à d) barroco.
função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um e) parnasiano.

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09. UFC-CE Uma notícia tá chegando lá do interior
Sobre a produção literária de Lima Barreto, tem fun- não deu no rádio, no jornal ou na televisão
damento afirmar: ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil
01. Recordações do escrivão Isaías Caminha, Vida e não vai fazer desse lugar um bom país
Milton Nascimento & Fernando Brant
morte de M. J. Gonzaga de Sá e Clara dos Anjos
são romances do autor. Leia a letra da canção acima e a seguir responda ao
02. O cotidiano da então capital brasileira constitui um que se pede.
dos núcleos de sua produção literária. a) Qual é o tema da canção?
04. Seus escritos abordam a politicagem, a irraciona- b) Relacione-o com a temática do Pré-Modernismo.
lidade administrativa, o preconceito, a marginali-
dade e a análise das aparências sociais. 13. UFC-CE
08. Seu processo ficcional interpreta os costumes da Relacione as obras listadas com os autores pré-mo-
alta burguesia carioca, esfera social a que o autor dernistas, a seguir.
se limitou e que tomou como sua. Obras: Urupês, Canaã, O quinze, Clara dos anjos, Eu
16. Uma perspectiva aberta pelo escritor foi a de trazer, e outras poesias, À margem da história
para a literatura brasileira, a vida suburbana, com a) Graça Aranha
seus vícios, pequenos funcionários, militares e b) Lima Barreto
moleques. c) Monteiro Lobato
Some os números dos itens corretos. d) Euclides da Cunha
10. Ufla-MG Textos para as questões de 14 a 16.
Uma atitude comum caracteriza a postura literária de Texto 1
autores pré-modernistas, a exemplo de Lima Barreto,
Padre Anselmo olhou com tristeza as mulheres
Graça Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha.
ajoelhadas à sua frente. Ia começar a missa e sentia-se
Pode ser ela definida como:
extremamente cansado. Onde aquela piedade com que
a) a necessidade de superar, em termos de um pro-
celebrava nos seus tempos de jovem sacerdote, preo-
grama definido, as estéticas romântica e realista.
cupado com a salvação das almas? As coisas haviam
b) a pretensão de dar um caráter definitivamente
mudado. Discutiam-se os novos ritos, as novas fórmulas.
brasileiro à nossa literatura, que julgavam por
(...) Sentia-se tímido, vencido, olhando para os fiéis,
demais europeizada.
pronunciando palavras na língua que falava em casa, na
c) a necessidade de fazer crítica social, já que o
rua. A mesma língua dos bêbados, dos vagabundos, das
Realismo havia sido ineficaz nessa matéria.
meretrizes. De todos. Benzeu-se instintivamente:
d) aproveitamento estético do que havia de melhor na
– Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo.
herança literária brasileira, desde suas primeiras
Amém.
manifestações. BEZERRA, João Clímaco. A vinha dos esquecidos.
e) a preocupação com o estudo e com a observação Fortaleza: UFC, 2005. pp.32-33.
da realidade brasileira. Texto 2
Dissertar sobre uma literatura estrangeira supõe,
11.
entre muitas, o conhecimento de duas coisas primor-
Assinale a alternativa incorreta em relação ao Pré- diais: idéias gerais sobre literatura e compreensão
Modernismo. fácil do idioma desse povo estrangeiro. Eu cheguei a
a) Ruptura com o academicismo literário, sendo entender perfeitamente a língua da Bruzundanga, isto
exemplo a linguagem de Augusto dos Anjos, re- é, a língua falada pela gente instruída e a escrita por
pleta de palavras não-poéticas. muitos escritores que julguei excelentes; mas aquela
b) Na prosa, negação do Brasil literário herdado do em que escreviam os literatos importantes, solenes,
Romantismo e do Parnasianismo, com a denúncia respeitados, nunca consegui entender, porque redigem
da realidade brasileira. eles as suas obras, ou antes, os seus livros, em outra
c) As obras de Euclides da Cunha e Lima Barreto muito diferente da usual, outra essa que consideram
tematizavam os problemas vividos pelo sertanejo como sendo a verdadeira, a lídima, justificando isso por
nordestino. ter feição antiga de dois séculos ou três. Quanto mais
d) Apresentação de tipos humanos marginalizados, incompreensível é ela, mais admirado é o escritor que a
como o sertanejo nordestino, o caipira, os funcio- escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito.
nários públicos, os mulatos.
BARRETO, Lima. Os bruzundangas. Fortaleza: UFC, 2004. p.7.
e) Ligação explícita com os fatos políticos, econômi-
cos e sociais da época, como se observa em Lima 14. UFC-CE
Barreto, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha. Em ambos os textos há restrições:
12. a) à lingua literária.
b) aos usos da língua.
A novidade é que o Brasil não é só litoral
c) à renovação da língua.
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é muito mais, é muito mais que qualquer zona sul


tem gente boa espalhada por esse Brasil d) aos idiomas estrangeiros.
que vai fazer desse lugar um bom país e) à falta de comunicação.
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15. UFC-CE a) jagunços e as dos fanáticos.
Tanto o protagonista do texto 1, quanto o cronista do b) cangaceiros e as do governo.
texto 2: c) sertanejos revoltosos e as do poder da República.
a) formulam opiniões. d) soldados amotinados e as dos oficiais do Exército.
b) seguem o consenso. e) retirantes e as dos proprietários.
c) aceitam os costumes.
d) contestam a oratória. 19.
e) dissertam sobre normas. Com relação à linguagem, o que caracteriza a obra
de Lima Barreto?
16. UFC-CE
De acordo com o cronista, no texto 2, o bom escritor 20. UFSC
deve: Texto I
a) publicar livros em grande quantidade. Do alto tinham aguardado o socorro, o do exército
b) conhecer obras sobre assuntos variados. encantado, e no alto voava o instrumento da morte.
c) gozar de notoriedade nacional. Entre o vôo espantado dos urubus, inclinavam-se as
d) escrever de forma inteligível. asas do aparelho que Setembrino de Carvalho tinha
e) usar linguagem antiga. mandado para localizar redutos.O avião ia e vinha,
subia, baixava, girava. Ria-se das pedradas, dos tiros,
Texto para as questões 17 e 18. dos insultos. Navegava acima das espadas eriçadas e
Os representantes do atraso e do progresso do fogo dos fuzis, um poder que tinha saído das mãos
aparecem como faces da mesma moeda em Os dos homens para aniquilar os homens.
sertões e em outro livro da época, O bota-abaixo, de SCHÜLER, Donaldo. Império caboclo. 2. ed. Florianópolis: EdUFSC;
José Vieira. Euclides traça o perfil do Conselheiro no Porto Alegre: Movimento, 2004, pp. 210-211.

parágrafo “Como se faz um monstro”: “E surgia na


Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até Texto II
aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada; Não lhes bastavam seis mil mannlichers e seis
olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito mil sabres; e o golpear de doze mil braços, e o acal-
azul de brim americano”; Vieira parece retomá-lo na canhar de doze mil coturnos; e seis mil revólveres; e
caracterização do prefeito Pereira Passos: “Ali estava vinte canhões, e milhares de granadas, e milhares de
ele – o monstro. Trajava um simples paletó azul, calça schrapnells, e os degolamentos, e os incêndios, e a
de listras, chapéu de feltro. Alto, a barba branca es- fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias
pontada, as sobrancelhas espessas sombreando-lhe de canhoneio contínuo; e o esmagamento das ruínas;
os olhos pequenos.” e o quadro indefinível dos templos derrocados; e, por
Sem se ocupar da população despejada, a reforma fim, na ciscalhagem das imagens rotas, dos altares
de Pereira Passos tornou sistemático um processo que abatidos, dos santos em pedaços – sob a impassi-
deve o nome à campanha de Canudos: a favelização. bilidade dos céus tranqüilos e claros – a queda de
Os veteranos da guerra, ao se reinstalar no Rio de um ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença
Janeiro, deram ao morro da Providência o nome do
consoladora e forte...
seu local de acampamento nos sertões: o morro da
Impunham-se outras medidas. Ao adversário irre-
Favela, também mencionado por Euclides como o
signável as forças máximas da natureza, engenhadas
lugar de onde um capuchinho amaldiçoou Conselheiro,
à destruição e aos estragos. Tinha-as, previdentes.
abrindo caminho para a invasão.
Havia-se prefigurado aquele epílogo assombroso do
Ricardo Oiticica, Nossa História. “Euclides incrível.”
drama. Um tenente, ajudante-de-ordens do coman-
dante geral, fez conduzir do acampamento dezenas
17. PUCCamp-SP
de bombas de dinamite. Era justo; era absolutamente
Se de fato, como supõe o texto, José Vieira valeu-se
imprescindível. Os sertanejos invertiam toda a psicolo-
de uma descrição do Conselheiro, feita por Euclides
gia da guerra: enrijavam-nos os reveses, robustecia-os
da Cunha, para, a partir dela, criar a de Pereira Pas-
a fome, empedernia-os a derrota.
sos, pode-se afirmar que Vieira explorou o recurso
estilístico da: CUNHA, Euclides da. Os sertões.
São Paulo: Martin Claret, 2003, pp. 520-521.
a) antítese.
b) metáfora. Com base no texto e na obra de Euclides da Cunha,
c) ambigüidade. assinale a(s) proposição(ões) correta(s).
d) paródia. 01. O texto é exemplo de como o sertanejo é descrito
e) sinonímia. também em outras passagens do livro Os sertões e
confirma a consagrada frase de Euclides da Cunha:
18. PUCCamp-SP O sertanejo é antes de tudo um forte.
A frase “Os representantes do atraso e do progresso 02. A narrativa de Euclides da Cunha propõe uma
aparecem como faces da mesma moeda” indica que, antítese entre a força física ou material do exército
para Euclides da Cunha, são antagônicas e comple- e a força do sertanejo, adaptado às condições de
mentares as ações dos: seu lugar e amparado pela crença religiosa.

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04. Quando afirma que “Impunham-se outras medidas” c) Os obstáculos que se apresentam prenunciam os
(Texto II), pois todo aquele arsenal não lhes bastava, trágicos eventos que ocorrerão.
o narrador quer dizer que os soldados apelaram para d) Pelo assunto do trecho, é possível inferir que se
os “céus tranqüilos e claros” (Texto II). trata de um episódio constante na segunda parte
08. Há dois planos opostos que descrevem os dois da obra.
lados desiguais da luta em Canudos. De um e) A estrada referida perturba a avaliação inicial do
lado, o exército de São Sebastião e, de outro, os viajante dada a riqueza natural da área.
sertanejos com suas ruínas, na ciscalhagem das
imagens rotas e em pedaços. 23. UEL-PR
16. A construção do texto por meio de paradoxos como Inspirado no determinismo mais rígido, em moda
“enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome, no seu tempo, o autor procura mostrar que aqueles
empedernia-os a derrota” (Texto II) confirma uma das sertanejos não eram culpados como criminosos, mas
características da obra: a presença de elementos con- que foram produto inevitável de um conjunto de fatores
trastantes como resultado de idéias antagônicas. geográficos, raciais e históricos. Nada mais natural que
32. A correta “psicologia da guerra” (Texto II), aplicada se unissem em torno de seu profeta e por ele morres-
pelo exército, não foi suficiente para a tomada de sem, defendendo casa a casa o estranho arraial.
Canudos, já que os sertanejos a invertiam. O trecho anterior está se referindo à obra que con-
Some os números dos itens corretos. sagrou:
a) Olavo Bilac. d) Augusto dos Anjos.
21. Mackenzie-SP b) Euclides da Cunha. e) Raul Pompéia.
Sobre Os sertões, é incorreto afirmar que: c) Lima Barreto.
a) o autor, militar em sua origem, desaprova a causa
dos sertanejos. 24. PUC-RS
b) apresenta certa dificuldade em termos de enqua- ... E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos
dramento em um único gênero literário. crescidos até aos ombros, barba inculta e longa; face
c) sua linguagem tende ao solene, com vocabulário escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro
erudito e tom grandiloqüente. de um hábito azul de brim americano; abordoado ao
d) origina-se de reportagens para O Estado de S. clássico bastão em que se apóia o passo tardo dos
Paulo, nas quais o autor expõe fatos relacionados peregrinos.
à Guerra de Canudos. É desconhecida a sua existência durante tão longo
e) Euclides da Cunha segue um esquema determi- período. Um velho caboclo, preso em Canudos nos
nista na estrutura das três partes da obra. últimos dias da campanha, disse-me algo a respeito,
mas vagamente, sem precisar datas, sem pormenores
22. PUC-RS característicos. Conhecera-o nos sertões de Pernam-
Em marcha para Canudos buco, um ou dous anos depois da partida do Crato.
Foi nestas condições desfavoráveis que partiram A viagem de Euclides da Cunha à região de Canudos,
a 12 de janeiro de 1897. onde ocorre a revolta dos seguidores de Antônio
Tomaram pela Estrada de Cambaio. Conselheiro:
É a mais curta e a mais acidentada. Ilude a prin- a) ratifica sua posição em relação aos fanáticos rebel-
cípio, perlongando o vale de Cariacá, numa cinta de
des, expressa em seu artigo A nossa vendéia.
terrenos férteis sombreados de cerradões que prefi-
guram verdadeiras matas. b) impulsiona-o a produzir Os sertões, baseando-se
Transcorridos alguns quilômetros, porém, aciden- somente no que realmente pôde presenciar.
ta-se; perturba-se em trilhas pedregosas e torna-se c) demove-o da concepção determinista vigente na
menos praticável à medida que se avizinha do sopé época, que concebe o homem como um cruza-
da serra do Acaru. mento de condicionamentos.
(...) d) retifica a opinião vigente, passando a considerar
Tinha meio caminho andado. As estradas pioravam a revolta como resultante do atraso da nação.
crivadas de veredas, serpeando em morros, alçando-
se em rampas caindo em grotões, desabrigadas, sem e) influencia a prosa do autor, antes impregnada de
sombras... cientificismo e reacionarismo.
(...) 25. UFRGS-RS
Entretando era imprescindível a máxima celeri-
dade. Considere as seguintes afirmações sobre Os sertões,
Tornava-se suspeita a paragem: restos de fogueira de Euclides da Cunha.
à margem do caminho e vivendas incendiadas, davam I. Nas duas primeiras partes do livro, o autor descre-
sinais do inimigo. ve, respectivamente, o homem e o meio ambiente
Todas as afirmativas que seguem estão associadas ao que constituíam o sertão baiano, valendo-se, para
trecho selecionado de Os sertões, em que os homens tanto, das teorias científicas desenvolvidas na
se dirigem para o local do embate, exceto: época.
a) Atenção e rapidez são necessárias numa trajetória II. Ao descrever os sertanejos, o autor idealiza suas
que leva os viajantes a uma experiência belicosa.
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qualidades morais e físicas e conclui que seu


b) A presença do inimigo é percebida pelos rastros heroísmo era resultado da fé nos ensinamentos
de sua passagem ainda recente. religiosos do líder Antônio Conselheiro.
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III. O autor descreve, na terceira parte do livro, as característicos. Conhecera-o nos sertões de Pernam-
várias etapas da Guerra de Canudos e denuncia o buco, um ou dous anos depois da partida do Crato.
massacre dos sertanejos pelas tropas do exército Com relação à obra de que se extraiu o fragmento
brasileiro, revelando a miséria e o subdesenvolvi- acima, é incorreto afirmar que:
mento da região. a) apresenta cenário e paisagem idealizados, por se
Quais estão corretas? tratar de um texto de cunho romântico.
a) Apenas I b) trata da campanha de Canudos e dos contrastes
b) Apenas II entre o Brasil à beira do Atlântico e um outro, do
c) Apenas III sertão nordestino.
d) Apenas I e III c) denuncia o extermínio de milhares de pessoas no
e) I, II e III interior baiano pelo exército nacional.
d) contém uma visão de mundo determinista, influen-
26. Mackenzie-SP ciada pelas idéias de Hypolite Taine.
“Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três e) constrói um grande painel do sertão nordestino,
pernas – para os hóspedes. Três pernas permitem o dividindo-se em três partes – A terra, O homem,
equilíbrio, inútil, portanto, meter a quarta, que ainda A luta.
o obrigaria a nivelar o chão. Para que assentos, se a
29. UFRGS-RS
natureza os dotou de sólidos, rachados calcanhares
sobre os quais se sentam?” Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirma-
O trecho acima é claramente representativo da obra de: ções abaixo sobre a obra Os sertões, de Euclides
da Cunha.
a) Lima Barreto.
( ) No texto de Euclides da Cunha, misturam-se o
b) Augusto dos Anjos.
requinte da linguagem, a intenção científica e o
c) Euclides da Cunha. propósito jornalístico.
d) Aluísio Azevedo. ( ) A obra euclideana insere-se numa tradição da
e) Monteiro Lobato. literatura brasileira que tematiza o povoamento
do sertão, iniciada ainda no Romantismo com
27. UFRGS-RS Bernardo Guimarães.
Livro posto entre _____________________, Os ser- ( ) Euclides da Cunha escreveu Os sertões com base
tões assinalam um fim e um começo: o fim do impe- nas reportagens que realizou como corresponden-
rialismo literário, o começo ____________________ te do jornal O Estado de S. Paulo.
aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade
( ) Antônio Conselheiro é uma personagem fictícia
brasieleira (no caso, as contradições contidas na dife-
criada pelo imaginário do autor.
rença de cultura entre _____________________).
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade.
( ) O episódio de Canudos, retratado no texto de
São Paulo: Companhia Editora Nacional, s.d. p. 133. Euclides da Cunha, faz parte dos movimentos de
protesto surgidos logo após a proclamação da
Assinale a alternativa que preenche corretamente as
Independência do Brasil.
lacunas do texto acima.
a) V – F – V – F – F
a) a literatura e a sociologia naturalista – da associa-
ção onírica e simbolista – as regiões litorâneas e b) V – V – V – F – F
o interior c) F – F – V – V – F
b) a literatura e o panfleto pró-monárquico – da d) F – V – F – F – V
análise científica – a região nordeste e o sul in- e) V – V – F – F – F
dustrializado
c) a literatura e a sociologia naturalista – da análise 30. UFRGS-RS
científica – as regiões litorâneas e o interior. Leia o trecho abaixo de Os sertões, de Euclides da
d) a literatura e o panfleto pró-monárquico – da as- Cunha.
sociação onírica e simbolista – a região nordeste Daquela data ao termo da campanha a tropa iria
e o sul industrializado viver em permante alarma.
e) a literatura e a sociologia naturalista – da associa- (...)
ção onírica e simbolista – a região nordeste e o sul A tática invariável do jagunço expunha-se temerosa
industrializado naquele resistir às recuadas, restribando-se* em todos
os acidentes da terra protetora. Era a luta da sucuri
28. Mackenzie-SP flexuosa* com o touro pujante. Laçada a presa, dis-
tendia os anéis; permitia-lhe a exaustão do movimento
... E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos cresci-
dos até aos ombros, barba inculta e longa; face escavei- livre e a fadiga da carreira solta; depois se constringia
rada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito repuxando-o, maneando-o nas roscas contráteis, para
azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão relaxá-las de novo, deixando-o mais uma vez se esgotar
em que se apóia o passo tardo dos peregrinos. no escarvar*, amarradas, o chão; e novamente o atrair,
É desconhecida a sua existência durante tão longo retrátil, arrastando-o - até ao exaurir completo...
período. Um velho caboclo, preso em Canudos nos *restribar – estar firme, estar escorado.
últimos dias da campanha, disse-me algo a respeito, *flexuoso – sinuoso, torcido, tortuoso.
mas vagamente, sem precisar datas, sem pormenores *escarvar – cavar superficialmente.
182
Assinale a alternativa incorreta em relação ao trecho. gardas cujas baionetas fulguravam – como se vissem
a) O jagunço, ao aproveitar-se dos “acidentes da terra um exército brilhante.
protetora”, conseguia superar-se e confrontar-se Ensarilhadas as armas, a força acantonou.
com o inimigo, trazendo-lhe novas dificuldades. Fez-se em torno um círculo de vigilância: pos-
b) O “touro pujante”, apesar de sua força, na ilusão taram- se sentinelas à saída dos quatro caminhos e
do movimento livre, acaba se exaurindo. nomeou-se o pessoal das rondas.
Feito praça de guerra, o vilarejo obscuro era,
c) No confronto, a “sucuri flexuosa” vence, pois usa
entretanto, uma escala transitória.
os recursos de que dispõe.
I. A referência ao registro cartográfico do lugar suge-
d) No trecho, a imagem da luta entre a “sucuri flexu-
re contradição em relação à verdadeira dimensão
osa” e o “touro pujante” é uma metáfora da luta
da área.
entre jagunços e expedicionários.
II. O povo recebe a tropa com reverência e admiração.
e) A “sucuri flexuosa” e o “touro pujante” estão em
constante confronto sem que haja um vencedor. III. Os soldados reagem com indiferença à manifes-
tação popular.
31. UFSM-RS IV. Os soldados retornam ao lar após ferrenha batalha.
(...) esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente
surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. estão corretas
Naquela organização combalida operam-se, em segun- a) I e II
dos, transmutações completas. Basta o aparecimento b) I e III
de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das
c) II e III
energias adormecidas. O homem transfigura-se.
Assinale a frase que, retirada de Os sertões, sintetiza d) II e IV
o trecho citado.
34.
a) “é o homem permanentemente fatigado”
b) “o sertanejo é, antes de tudo, um forte” Fechemos este livro.
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a
c) “a raça forte não destrói a fraca pelas armas,
História, resistiu até o esgotamento completo. Expug-
esmaga-a pela civilização”
nado palmo a palmo, na precisão integral do termo,
d) “Reflete a preguiça invencível (...) em tudo”
caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus
e) “a sua religião é como ele – mestiça” últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro
32. apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança,
na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil
A seguir você lerá um fragmento de Os sertões de
soldados.
Euclides da Cunha.
Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais
exaustiva que a de uma estepe nua. momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página,
Nesta, ao menos, o viajante tem um desafogo imaginamo-la sempre profundamente emocionante e
de um horizonte largo e a perspectiva das planuras trágica, mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.
francas. Vimos como quem vinga uma montanha altís-
Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o sima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a
olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espi- vertigem...
nescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urti- Ademais não desafiaria a incredulidade do futuro
cantes, com o espinho, com os gravetos estalados em a narrativa de pormenores em que se amostrassem
lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios
imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de lares, abraçadas aos filhos pequeninos?...
galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, Este trecho pertence à parte final da obra Os sertões.
apontando rijamente no espaço ou estirando-se fle- a) Qual o nome dessa parte?
xuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de b) Transcreva a frase que comprova a admiração do
tortura, da flora agonizante... autor por Canudos.
Com base no texto anterior, como se caracteriza a c) Transcreva o trecho que aponta para o descontrole
natureza onde vive o sertanejo? emocional dos soldados diante de tanta resistên-
33. PUC-RS cia.
A tropa chegou exausta a Uauá no dia 19, depois d) Por que o autor crê que o futuro não acreditaria
de uma travessia penosíssima. em sua obra?
Este arraial – duas ruas desembocando numa
praça irregular – é o ponto mais animado daquele 35.
trecho do sertão. Como a maior parte dos vilarejos Leia atentamente o seguinte trecho de Os sertões.
pomposamente gravados nos nossos mapas, é uma O calor úmido das paragens amazonenses, por exem-
espécie de transição entre maloca e aldeia. (...) plo, deprime e exaure. Modela organizações tolhiças em
Entrou pela rua em continuação à estrada e fez que toda a atividade cede ao permanente desequilíbrio
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alto no largo. Foi um sucesso. Entre curiosos e tímidos, entre as energias impulsivas das funções periféricas
os habitantes atentavam para os soldados – poentos, fortemente excitadas e a apatia das funções centrais:
mal firmes na formatura, tendo aos ombros as espin- inteligências marasmáticas, adormidas sob o explodir das
183
paixões; enervações periclitantes, em que pese à acuidade ( ) Torturavam-nos alucinações cruéis. A deiscência
dos sentidos, e mal reparadas ou refeitas pelo sangue das vagens das catingueiras, abrindo-se com es-
empobrecido nas hematoses incompletas... talidos secos e fortes, soava-lhes feito percussão
Daí todas as idiossincrasias de uma fisiologia de gatilhos ou estalos de espoleta, dando a ilusão
excepcional: o pulmão que se reduz, pela deficiência de súbitas descargas(...).
da função, e é substituído, na eliminação obrigatória
do carbono, pelo fígado, sobre o qual desce pesada- Texto para as questões 38 e 39.
mente a sobrecarga da vida: organizações combalidas De fato, ele estava escrevendo ou mais particu-
pela alternativa persistente de exaltações impulsivas e larmente: traduzia para o clássico um grande artigo
apatias enervadoras, sem a vibratilidade, sem o tônus sobre “Ferimentos por armas de fogo”. O seu último
muscular enérgico dos temperamentos robustos e truque intelectual era este clássico. Buscava nisto
sangüíneos. A seleção natural, em tal meio, opera-se uma distinção, uma separação intelectual desses
à custa de compromissos graves com as funções cen- meninos por aí que escrevem contos e romances
trais, do cérebro, numa progressão inversa prejudicia- nos jornais. Ele, um sábio, e sobretudo um doutor:
líssima entre o desenvolvimento intelectual e o físico, não podia escrever da mesma forma que eles. A sua
firmando inexoravelmente as vitórias das expansões sabedoria superior e o seu título ‘acadêmico’ não po-
instintivas e visando ao ideal de uma adaptação que diam usar da mesma língua, dos mesmos modismos,
tem, como conseqüências únicas, a máxima energia da mesma sintaxe que esses poetastros e literatos.
orgânica, a mínima fortaleza moral. A aclimação traduz Veio-lhe então a idéia do clássico. O processo era
uma evolução regressiva. O tipo deperece num esvae- simples: escrevia do modo comum, com as palavras e
cimento contínuo, que se lhe transmite à descendência o jeito de hoje, em seguida invertia as orações, picava
até a extinção total. o período com vírgulas e substituía incomodar por
Os sertões, parte II, cap. I molestar, ao redor por derredor, isto por esto, quão
a) Qual o princípio científico que serve de fundamento grande ou tão grande por quamanho, sarapintava
para este trecho de Os sertões? tudo de ao invés, empós, e assim obtinha o seu estilo
b) Como a influência desse princípio aparece no clássico que começava a causar admiração aos seus
texto? pares e ao público em geral.
c) Essa influência nos permite tomar como ponto BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.
de partida das concepções estéticas do livro um 1. ed. São Paulo: Klick, 1997, p. 185.
determinado estilo literário. Qual?
38.
36. Identifique a alternativa que apresenta um ideal es-
Descrevendo aspectos da natureza do sertão da Bahia, tético presente na obra de Lima Barreto e que está
diz Euclides da Cunha: presente no texto anterior.
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais a) Influência e corrente literária realista, refletida nas
exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, preocupações artísticas.
o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a
b) Uso de linguagem espontânea e natural e crítica a
perspectiva das planuras francas.
autores que procuram escrever de maneira muito
Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o
rebuscada.
olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espi-
nescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urti- c) Crítica à posição negativa do brasileiro médio em
cantes, com o espinho, com os gravetos estalados em relação ao colonizador europeu.
lanças; e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, d) Denúncia irônica contra o preconceito social, que
imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de levava representantes e autores burgueses a
galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, sofisticarem a linguagem para se distinguirem do
apontando rijamente no espaço ou estirando-se fle- povo.
xuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de e) Crítica contra a burocracia, formada por pessoas
tortura, da flora agonizante... sem consistência moral ou profissional, que usa-
Os sertões, Parte I, cap. IV. vam linguagem artificial.
A partir da leitura do texto, responda: qual o papel
desempenhado pela natureza em Os sertões? 39.
Ao caracterizar, no fragmento anterior, o personagem
37. UFC-CE
Armando Borges, médico ambicioso e desonesto, que,
As passagens abaixo foram extraídas de Os sertões. por se sentir superior às pessoas, por causa do seu
Escreva nos parênteses J (jagunço) ou M (militar), diploma e do seu anel de doutor, usava uma lingua-
para identificar a personagem referida em cada uma
gem difícil e rebuscada em seus artigos, Lima Barreto
delas.
critica autores do:
( ) Tinha o fetichismo das determinações escritas.
a) Romantismo.
Não as interpretava, não as criticava: cumpria-
as. b) Barroco.
( ) Pelos caminhos fora passavam pequenos grupos c) Parnasianismo.
ruidosos, carregando armas ou ferramentas de d) Modernismo.
trabalho, cantando. e) Classicismo.
184
40. b) uma ilha, pois era contornada pelo rio.
Assinale a única declaração que fundamenta a repre- c) um vilarejo humilde, que não oferecia resistência
sentação do jagunço na passagem em destaque. à entrada dos invasores.
O jagunço começou a aparecer como um ente à parte, d) um local onde ocorriam muitos roubos e assaltos.
teratológico e monstruoso, meio homem e meio trasgo; e) um refúgio de soldados assaltados.
violando as leis biológicas (...)
( ) O porte físico do jagunço contraria o aprimoramen- 45. FGV-SP
to evolutivo da espécie. Ainda de acordo com o texto da questão anterior:
( ) O jagunço herdou os traços psicológicos comuns a) a ausência de resistência, característica marcante
aos nordestinos. do conjunto de habitações, era coerente com a
( ) As deformidades do jagunço se devem às influên- tática do sertanejo.
cias do meio ambiente. b) o fato de um tijolo ser rijo não se opunha, em
Canudos, ao arrebentamento das granadas.
41. UFC-CE
c) os assaltantes, sabedores de riquezas escondidas,
Avalie as declarações e transcreva, nas linhas abaixo, eram atraídos pela vila.
as duas corretas sobre Os sertões.
d) as explosões de granadas furavam de uma só vez
I. Nascem da reportagem “A terra”, à qual se anexou
dezenas de tetos.
“A luta”.
e) o sertanejo é perigoso e traiçoeiro.
II. Adotam estilo de oratória religiosa, quando des-
crevem as crenças dos jagunços.
46. Mackenzie-SP
III. Focalizam episódios heróicos de viagem e guerra,
a exemplo das construções épicas. Sobre Lima Barreto, é incorreto afirmar que:
IV. Desenvolvem considerações de ordem científica, a) sua linguagem afasta-se dos modelos “bem-com-
dando à narrativa um perfil de tese. portados” da literatura do final do século XIX.
Quais são as declarações corretas? b) Seus personagens são, muitas vezes, repre-
sentantes das camadas menos favorecidas da
42. UFC-CE sociedade.
Ainda com relação à questão anterior, justifique a sua c) é estudado como pré-modernista, pois se posiciona
escolha. de forma crítica diante de um Brasil considerado
43. Fuvest-SP velho em suas instituições.
No decênio de 1930, houve uma renovação do roman- d) apresenta, em sua obra, aspectos característicos
ce brasileiro de tema regional, que passou de descritivo dos subúrbios do Rio de Janeiro
e sentimental a crítico e realista. e) crítica a sociedade burguesa de uma forma ríspida,
a) Lembre um romance que pode exemplificar essa agressiva, sem qualquer manifestação de humor,
renovação. Justifique sua escolha com elementos sátira ou ironia.
desse romance.
b) A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, está na Textos para as questões de 47 a 49.
gênese dessa transformação. Por quê? Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E
que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda
44. FGV-SP ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la
Completando a tática perigosa do sertanejo, era e querê-la muito bem, no intuito de contribuir para a
temeroso porque não resitia. Não opunha a rijeza de sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade
um tijolo à percussão e arrebentamento das grana-
nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava
das, que se amorteciam sem explodirem, furando-
lhe uma vez só dezenas de teto. Não fazia titubear na velhice, como ela o recompensava, como ela o
a mais reduzida secção assaltante, que poderia premiava, como ela o condecorava? Matando-o. E o
investi-lo, por qualquer lado, depois de transposto que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida?
o rio. Atraía os assaltos; e atraía irreprimivelmente Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo
o ímpeto das cargas violentas, porque a arremetida esse lado da existência que parece fugir um pouco à
dos invasores, embriagados por vislumbres de vitória sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara,
e disseminando-se, divididos pelas suas vielas em
ele não experimentara.
torcicolos, lhe era o recurso tremendo de uma defe-
sa supreendedora. Na história sombria das cidades Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe
batidas, o humílimo vilarejo ia surgir como um traço absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutili-
de trágica originalidade. Intacto – era fragílimo; jeito dade. Que lhe importavam os rios? Eram grandes?
de escombros – formidável. Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a
Euclides da Cunha, Os sertões. felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em
O fragmento acima aponta algumas das caracteríticas nada... O importante é que ele tivesse sido feliz.
de Canudos. A leitura atenta desse texto nos permite Foi? Não. Lembrou-se das suas causas de tupi, do
concluir que ele trata de: folklore, das suas tentativas agrícolas... Restava
PV2D-07-54

a) uma vila fortificada, planejada para não permitir o disso tudo em sua alma uma sofisticação? Nenhu-
acesso e as investidas dos agressores. ma! Nenhuma!
Lima Barreto
185
47. PUC-SP Justifique com elementos do texto a afirmação de
A obra de Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Qua- que o Major Quaresma tinha um forte sentimento
resma: nacionalista.
a) é romântica e exemplifica as palavras de Antonio
51.
Candido, já que seu protagonista se comporta
como um romântico. O que determina a vida do protagonista Policarpo
Quaresma, da obra de Lima Barreto é:
b) não é romântica e contraria as palavras de Antonio
Candido, à medida que as atitudes do protagonista a) o excessivo valor do material.
vão se revestindo de heroísmo romântico. b) o gosto pelo trabalho.
c) não é romântica e contradiz as palavras de Antonio c) a aversão à vilania.
Candido, tendo em vista que o protagonista acaba d) o apego à religião.
por se submeter a uma visão antinacionalista e, e) a postura ufanista.
portanto, anti-romântica.
d) é romântica e ratifica as palavras de Antonio Candido, 52.
porque o orgulho patriótico-romântico do protagonista Só não compõe a personalidade de Policarpo Qua-
encontra lugar de ação no decorrer da narrativa. resma:
e) opõe-se ao Romantismo e não retrata as palavras a) desvairismo. d) disciplina.
de Antonio Candido, pois ironiza as posturas na- b) falsidade. e) ufanismo.
cionalistas românticas através do protagonista. c) generosidade.

48. PUC-SP 53. PUC-MG


O título da obra de Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Sobre a obra Triste fim de Policarpo Quaresma, é
Quaresma, antecipa ao leitor sobre o protagonista: incorreto afirmar que:
a) a indiferença com que passou a lidar com a pátria. a) mantém em seqüência o plano ideológico român-
b) o fim de vida em um hospício no qual o enclausu- tico, tratado humoristicamente.
laram. b) reflete a tendência da época pré-modernista de
c) a sua morte terrivel motivada pela loucura. inconformismo e renovação.
d) o seu final dramático determinado pela sua traje- c) expõe um cenário urbano, com tipos peculiares do
tória de vida. cotidiano.
e) a sua trajetória de vida reveladora de um destino d) indica ruptura no plano estético, pois apresenta
trágico. linguagem inovadora.
e) retrata a postura do autor de observador da reali-
49. PUC-SP dade.
O trecho anterior pertence ao romance Triste fim de
Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. Da personagem 54. PUC-MG
que dá título ao romance, podemos afirmar que: Assinale o aspecto que se refere à obra Triste fim de
a) foi um nacionalista extremado, mas nunca estudou Policarpo Quaresma.
com afinco as coisas brasileiras. a) Linguagem rebuscada
b) perpetrou seu suicídio, porque se sentia decepcio- b) Criticidade
nado com a realidade brasileira. c) Distanciamento da realidade
c) defendeu os valores nacionais, brigou por eles a d) Determinismo
vida toda e foi condenado à morte justamente pelos e) Visão idealizada do mundo
valores que defendia.
d) foi considerado traidor da pátria, porque participou 55. UERJ
da conspiração contra Floriano Peixoto. Recordações do escrivão Isaías Caminha
A minha situação no Rio estava garantida. Obteria
e) era um louco, e, por isso, não foi levado a sério
um emprego. Um dia pelos outros iria às aulas, e todo
pelas pessoas que o cercavam.
o fim de ano, durante seis, faria os exames, ao fim dos
50. quais seria doutor!
Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia meu nascimento humilde, amaciaria o suplício premen-
e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe te, cruciante e onímodo1 de minha cor ... Nas dobras
importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem do pergaminho da carta, traria presa a consideração
... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o de toda a gente. Seguro do respeito à minha majestade
nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante de homem, andaria com ela mais firme pela vida em
é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das fora. Não titubearia, não hesitaria, livremente poderia
suas coisas de tupi, do folklore, das suas tentativas falar, dizer bem alto os pensamentos que se estorciam2
agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma no meu cérebro.
satisfação? Nenhuma! Nenhuma! O flanco, que a minha pessoa, na batalha da vida,
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. 11 ed. oferecia logo aos ataques dos bons e dos maus, ficaria
São Paulo, Àtica, 1993. p. 175. mascarado, disfarçado.
186
Ah! Doutor! Doutor!... Era mágico o título, tinha 59. UFPR
poderes e alcances múltiplos, vários polifórmicos... Era E era agora que ele [Policarpo Quaresma] chegava
um pallium3, era alguma cousa como clâmide4 sagra- a essa conclusão, depois de ter sofrido a miséria da
da, tecida com um fio tênue e quase imponderável, mas cidade e o emasculamento da repartição pública, du-
a cujo encontro os elementos, os maus olhares, os rante tanto tempo! Chegara tarde, mas não a ponto de
exorcismos se quebravam. De posse dela, as gotas da que não pudesse antes da morte, travar conhecimento
chuva afastar-se-iam transidas5 do meu corpo, não se com a doce vida campestre e a feracidade das terras
animariam a tocar-me nas roupas, no calçado sequer. brasileiras. (...)
E ele viu então diante dos seus olhos as laranjeiras,
O invisível distribuidor de raios solares escolheria os
em flor, olentes, muito brancas, a se enfileirar pelas
mais meigos para me aquecer, e gastaria os fortes, os encostas das colinas, como teorias de noivas; os aba-
inexoráveis6, com o comum dos homens que não é cateiros, de tronco rugosos a sopesar com esforço os
doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca grandes pomos verdes; as jabuticabas negras a estalar
e cartola, inflado7 e grosso, como um sapo-entanha dos caules rijos; os abacaxis coroados que nem reis,
antes de ferir a martelada à beira do brejo; andar assim recebendo a unção quente do sol; as abobreiras a se
pelas ruas, pelas praças, pelas estradas, pelas salas, arrastarem com flores carnudas, cheias de pólen; as
recebendo cumprimentos: Doutor, como passou? melancias de um verde tão fixo que parecia pintado;
Como está, doutor? Era sobre-humano!... os pêssegos veludosos, as jacas monstruosas, os
BARRETO, Lima. in: VASCONCELOS, Eliane (org). jambos, as mangas capitosas;...
Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001 A respeito do romance Triste fim Policarpo Quaresma,
1 de todos os modos, irrestrito
de Lima Barreto, do qual foi transcrito o trecho anterior,
2 agitavam
é correto afirmar:
3 manto, capa
( ) narrador e protagonista, elementos que se fundem
4 manto
ao longo do romance, concluem que as melhores
5 assustadas
alternativas para a construção de um projeto na-
6 inflexíveis
cional estariam no ambiente interiorano e numa
7 vaidoso
economia de base agrícola.
O entusiasmo do personagem com o sonho de obter
( ) o mesmo patriotismo exaltado que conduzira
título de doutor é construído por um discurso em pri-
Quaresma às suas experiências no campo é res-
meira pessoa marcadamente emotivo.
ponsável, mais adiante, pelo abandono abrupto de
Essa emotividade do discurso do personagem é real-
seus projetos rurais.
çada pelo uso de recursos, tais como:
( ) esse trecho integra a segunda parte do romance,
a) estilo indireto e formas de negação.
que corresponde à empreitada do protagonista
b) registro informal e perguntas retóricas. no campo, antecedida pelo malogro reformista
c) discurso repetitivo e inversões sintáticas. experimentado na seção inicial e seguida por seu
d) pontuação exclamativa e expressões interjeiti- “triste fim” nos desdobramentos de seu retorno ao
vas. Rio de Janeiro.
( ) o preciosismo vocabular e a acumulação descritiva
56. Fuvest-SP que marcam o parágrafo final do trecho citado são
De acordo com certa tradição literária, Lima Barreto é reveladores das influências paranasianas que
considerado autor “pré-modernista”. marcam o estilo de Lima Barreto.
a) Por que o classificam assim? ( ) a técnica do romance confessional, em que a
b) Citar pelo menos uma obra desse autor. narrativa é construída através da rememoração
de experiências do próprio protagonista, pode ser
57. Fuvest-SP assinalada como uma das inovações desta obra
O seu último truque intelectual era este do clássico. de Lima Barreto, procedimento que só voltaria a
(...) O processo era simples: escrevia de modo comum, ser exercitado em nossa literatura pelos autores
com as palavras e o jeito de hoje, em seguida invertia modernistas.
as orações, picava o período com vírgulas e substituía
incomodar por molestar, ao redor por derredor, isto 60. UFSC
por esto, quão grande ou tão grande por quamanho, Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcioná-
sarapintava tudo de ao invés, empós, e assim obtinha rio público, certo de que a língua portuguesa é em-
o seu estilo clássico que começava a causar geral. prestada ao Brasil; certo também de que, por esse
a) O fato de Armando Borges escrever em “estilo fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo nos
clássico” reforça a caracterização da personagem. 5 campos das letras, se vêem na humilhante con-
Por quê? Justifique sua resposta. tingência de sofrer continuamente censura áspera
b) De que maneira esse “estilo clássico” se contrapõe dos proprietários da língua; sabendo, além, que,
à linguagem do romance Triste fim de Policarpo dentro do nosso país, os autores e os escritores,
Quaresma? com especialidade os gramáticos, não se enten-
10 dem no tocante à correção gramatical, vendo-se,
58. UFV-MG diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais
Por qual razão o narrador de Triste fim de Policarpo profundos estudiosos do nosso idioma - usando do
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Quaresma chega à conclusão de que “a pátria que [ o direito que lhe confere a Constituição, vem pedir
protagonista ] quisera ter era um mito”? que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani,

187
15 como língua oficial e nacional do povo brasileiro. Justificam as palavras do crítico as circunstâncias da
(... ) obra de Lima Barreto citadas a seguir.
Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, a) Sua condição de moço rico e sua vivência das ma-
língua originalíssima, aglutinante, é verdade, mas a zelas da sociedade, através da observação atenta
que o polissintetismo dámúltiplas feições de rique- dos acontecimentos cotidianos que marcaram a
20 za, é a única capaz de traduzir as nossas belezas, vida paulistana no início do século XX.
de pôr-nos em relação com a nossa natureza b) A denúncia do preconceito racial e dos privilégios
e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos concedidos aos que aparentavam alguma cultura, sem
vocais e cerebrais, por ser criação de povos que possuí-la profundamente, fatos intimamente ligados à
aqui viveram e ainda vivem, portanto possuidores vida do próprio escritor, que era mulato e pobre.
25 de organização fisiológica e psicológica para que c) O retrato fiel da realidade aristocrática do Rio
tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis de Janeiro do início do século XX e os hábitos
controvérsias gramaticais, oriundas de uma difícil mundanos da alta burguesia, ambiente bastante
adaptação de uma língua de outra região à nossa freqüentado pelo escritor, que foi um conhecido
organização cerebral e ao nosso aparelho vocal cronista social da época.
30 – controvérsias que tanto empecem o progresso d) A tendência do escritor ao se referir a fatos direta-
de nossa cultura literária, científica e filosófica. mente relacionados à sua infância, passada junto
Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá aos escravos da fazenda do avô, e o registro coti-
encontrar meios para realizar semelhante medida diano dos acontecimentos históricos de seu tempo,
e cônscio de que a Câmara e o Senado pesarão como as referências à Segunda Guerra Mundial.
35 o seu alcance e utilidade.
e) O hábito de fazer anotações em um diário e a pres-
P. e E. deferimento são junto aos editores para que o colocassem à
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. venda, tornando públicas informações importantes
23. ed. São Paulo: Ática, 2001, p. 52-53.
para a compreensão do funcionamento da política
Sobre o texto e a obra à qual ele pertence, é verda- de urbanização carioca do final do século XIX.
deiro afirmar que:
01. a preocupação de Quaresma com a linguagem 62. Unicamp-SP
oral do povo brasileiro, em destaque a do caboclo, O trecho a seguir, escolhido por Lima Barreto como
será retomada – a partir do Modernismo – pelos epígrafe para introduzir sua obra, Triste fim de Policarpo
estudiosos da língua e da literatura do Brasil. Quaresma, comenta o confronto entre o ideal e o real:
02. um dos principais argumentos do requerente em O grande inconveniente da vida real e o que a torna
favor do tupi-guarani se fundamenta no fato de a insuportável ao homem superior é que, se transpor-
língua portuguesa ser emprestada ao Brasil. tamos para ela os princípios do ideal, as qualidades
04. Quaresma pensava nos seus Brasis: naquele que passam a ser defeitos, de tal modo que, na maioria
sonhara e naquele das injustiças sociais; o álcool das vezes, o homem íntegro não consegue se sair tão
foi a grande válvula de escape para ele. bem quanto aquele que tem por estímulo o egoísmo
08. em usando do direito que lhe confere a Consti- ou a rotina vulgar.
tuição (linhas 12 e 13), o pronome destacado faz Renanm Marc-Aurele
referência a povo brasileiro, substituindo, assim, a) Cite dois espisódios do livro em que o comporta-
um nome mencionado posteriormente no texto. mento idealista de Policarpo é ridicularizado por
16. as palavras correção (linha 10), criação (linha 23), outras personagens.
organização (linha 25) e adaptação (linha 28) são b) Considerando-se a epígrafe citada, como pode ser
nomes abstratos derivados de verbos. analisada a trajetória de Policarpo Quaresma?
32. em a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance
e utilidade (linhas 34 e 35), o pronome possessivo 63.
refere-se ao termo medida. Ao lado uma árvore única,
uma quixabeira alta,
61. sobranceando a vegetação franzina,
Abordando alguns aspectos da obra de Lima Barreto, o sol
o professor Antonio Candido afirmou: poente desatava, longe,
Para Lima Barreto, a literatura devia ter alguns a sua sombra pelo chão,
requisitos indispensáveis. Antes de mais nada, ser e protegido por ele
sincera, isto é, transmitir diretamente o sentimento e — braços largamente abertos,
as idéias do escritor, da maneira mais clara e simples face volvida para os céus, —
possível. Devia também dar destaque aos problemas um soldado descansava.
humanos em geral e aos sociais em particular, focali- Descansava... havia três meses.
zando os que são fermento de drama, desajustamen- Morrera no assalto de 18 de julho.
to, incompreensão. Isso, porque, no seu modo de A coronha da Mannlicher estrondada,
entender, ela tem a missão de contribuir para libertar o cinturão e o boné jogados a uma banda,
o homem e melhorar a sua convivência. e a farda em tiras, diziam que sucumbira
Antonio Candido. A educação pela noite e outros ensaios em luta corpo a corpo com adversário possante.

188
Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada 66. Unicamp-SP
que lhe sulcara a fronte, – O Quaresma está doido.
manchada de uma escara preta. – Mas... o quê? Quem foi que te disse?
– Aquele homem do violão. Já está na casa de
O destino que o removera do lar, desprotegido saúde...
deixara-o ali há três meses – Eu logo vi, disse Albernaz, aquele requerimento
— braços largamente abertos, era de doido.
rosto voltado para os céus — – Mas não é só, general, acrescentou Genelício.
para os sóis ardentes, Fez um ofício em tupi e mandou ao ministro.
para os luares claros, O diálogo acima, travado entre Genelício e Albernaz,
para as estrelas fulgurantes... menciona personagens e episódios importantes do
Erthos A. de Souza e Luciano Diniz, romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima
“Poema desentranhado de Os Sertões” Barreto. Em função dele, responda às questões
O texto acima é um exercício poético em que um trecho abaixo.
da obra Os sertões foi transformado em poesia, com a) Quem é o homem do violão?
o simples rearranjo de suas palavras na página. Que b) Por que Genelício o chama assim?
elementos contidos na obra de Euclides da Cunha
c) Com relação ao mesmo texto, responda: a que
permitiram essa mudança?
requerimento se refere Albernaz para justificar sua
64. UEL-PR opinião sobre a saúde mental de Policarpo?
Sobre o romance Recordações do Escrivão Isaías 67. UFSC
Caminha, de Lima Barreto, é correto afirmar:
Texto 1
a) É uma obra memorialista, cujo narrador-persona- Tendo surpreendido na casa de Rosalina, em plena
gem, Isaías Caminha, já idoso e desacreditado, orgia, o terrível diretor, vexei-o.
decide relatar, de modo saudosista, os momentos
(...)
de glória de sua carreira jornalística no jornal O
Globo, durante sua juventude. Percebi que o espantava muito o dizer-lhe que
tivera mãe, que nascera num ambiente familiar e que
b) Constitui, juntamente com o romance Triste Fim de
me educara. Isso, para ele, era extraordinário. O que
Policarpo Quaresma, do mesmo autor, uma obra
de análise social, cujo tema principal é a crítica ao me parecia extraordinário nas minhas aventuras, ele
sistema político do início do século XX, pautado achava natural; mas ter eu mãe que me ensinasse a
na corrupção e no empreguismo. comer com o garfo, isso era excepcional. Só atinei
c) É, ao lado de Macunaíma, de Mário de Andrade, com esse seu íntimo pensamento mais tarde. Para
e de Serafim Ponte Grande, de Oswald de An- ele, como para toda a gente mais ou menos letrada do
drade, uma das principais obras do Modernismo Brasil, os homens e as mulheres do meu nascimento
brasileiro da década de 1920, adotando muitas das são todos iguais, mais iguais ainda que os cães de suas
inovações estéticas propostas pelos modernistas, chácaras. Os homens são uns malandros, planistas,
como a desestruturação do enredo, a linguagem parlapatões quando aprendem alguma coisa, fósforos
coloquial e a aproximação entre prosa e poesia. dos politicões; as mulheres (a noção aí é mais simples)
d) Pode ser considerado uma obra neonaturalista, são naturalmente fêmeas.
pois a conduta do protagonista Isaías Caminha Lima Barreto. Recordações do escrivão Isaías Caminha.
transforma-se radicalmente a partir do momento 10ª ed. São Paulo: Ática, 2001. pp.157-158.
em que ele passa a viver dentro do mundo jorna- Texto 2
lístico, já que, de rapaz tímido e sério, vindo do O que a senhora deseja, minha amiga, é chegar
interior, transforma-se em um homem interesseiro já ao capítulo do amor, ou dos amores, que é o seu
e sem escrúpulos, cujo objetivo maior é obter interesse particular nos livros. Daí a habilidade da
espaço dentro da imprensa carioca. pergunta, como se dissesse: ‘Olhe que o senhor ainda
e) É uma obra que, através do relato memorialista do nos não mostrou a dama ou damas que têm de ser
narrador-personagem, expõe, de forma realista e amadas ou pleiteadas por estes dois jovens inimigos.
crítica, a existência, no Rio de Janeiro do início do Já estou cansada de saber que os rapazes não se
século XX, de uma sociedade classista e precon- dão ou se dão mal; é a segunda ou a terceira vez
ceituosa, alimentada por uma imprensa bajuladora que assisto às blandícias da mãe ou aos seus ralhos
e de conveniência, igualmente medíocre. amigos. Vamos depressa ao amor, às duas, se não é
uma só a pessoa...
65. UFOP-MG Francamente, eu não gosto de gente que venha
adivinhando e compondo um livro que está sendo es-
Triste fim de Policarpo Quaresma é, freqüentemente,
crito com método. A insistência da leitora em falar de
considerado um romance pré-modernista no sentido
uma só mulher chega a ser impertinente. Suponha que
em que revela um esforço para penetrar a fundo na eles deveras gostem de uma só pessoa; não parecerá
realidade brasileira, esforço esse que será um dos que eu conto o que a leitora me lembrou, quando a
pilares da revolução modernista de 1922. verdade é que eu apenas escrevo o que sucedeu e
Você concorda com essa afirmação? Se concordar, pode ser confirmado por dezenas de testemunhas?
discuta os aspectos do romance em que esse esforço Não, senhora minha, não pus a pena na mão, à es-
PV2D-07-54

pode ser percebido. Se não concordar, justifique sua preita do que me viessem sugerindo. Se quer compor
resposta. o livro, aqui tem a pena, aqui tem papel, aqui tem um

189
admirador; mas, se quer ler somente, deixe-se estar 70. PUC-RS
quieta, vá de linha em linha; dou-lhe que boceje entre Autores como ________, ________ e ________,
dois capítulos, mas espere o resto, tenha confiança no contemporâneos de Euclides da Cunha, apresentaram
relator destas aventuras.
novas facetas da realidade brasileira, produzindo,
Machado de Assis, J.M. Esaú e Jacó. 12ª ed.
São Paulo: Ática, 2001. pp.58-59.
respectivamente, romances que discutem temas tais
Considerando os textos, as obras das quais foram como: a imigração alemã, os costumes urbanos e o
extraídos, e seus autores, assinale V (verdadeiro) ou universo rural.
F (falso) nas proposições adiante. a) Simões Lopes Neto, Raul Pompéia e Lima Barre-
( ) Recordações do escrivão Isaías Caminha, obra da to
qual foi extraído o texto 1, critica a imprensa brasi- b) Graça Aranha, Lima Barreto e Monteiro Lobato
leira dos primeiros anos da República e denuncia a c) Monteiro Lobato, Lima Barreto e Graça Aranha
hipocrisia da sociedade de então. O romance Esaú d) Raul Pompéia, Guimarães Rosa e Monteiro Loba-
e Jacó, ao qual pertence o texto 2, aborda, irônica to
e criticamente, os acontecimentos históricos da
e) Graça Aranha, Raul Pompéia e Guimarães Rosa
transição do Império para a República.
( ) São comuns a Lima Barreto e Machado de Assis: a 71. UFV-MG
citação de episódios da história geral e nacional, de Leia o texto.
personagens conhecidos da literatura universal e Este novo período, que incluímos cronologica-
a menção de autores brasileiros e estrangeiros.
mente entre 1900 e 1920, é o que chamamos de [...]
( ) No texto I, percebe-se que Lima Barreto ironiza a eclético […] porque tudo o que vai entre o Simbolismo
discriminação social e racial que sofriam os que, e o Modernismo se caracteriza, acima de tudo, por
como ele, eram mulatos. Já no texto 2, Machado não poder ser resumido numa escola dominante e, ao
de Assis ironiza a leitora formada dentro da con- contrário, compreender a coexistência dos simbolistas,
cepção romântica. realistas e parnasianos, até mesmo os da geração
( ) O texto 2 marca o estilo realista de Machado de As- que, em 1920, iriam desencadear o Modernismo. Foi
sis, com sua provocação constante ao leitor, para o Pré-Modernismo.
que este participe do que está sendo escrito. Alceu Amoroso Lima
( ) O romance Esaú e Jacó possui uma série de De acordo com o texto de Alceu Amoroso Lima, o
referências bíblicas, seja através dos nomes dos período eclético se caracteriza:
personagens, seja por citações diretas de passa- a) pela existência antagônica de diferentes e diversas
gens da Bíblia.
orientações estilísticas.
( ) Recordações do escrivão Isaías Caminha, de Lima
b) por certas experiências literárias preparatórias da
Barreto, caracteriza-se como uma obra de ambi-
revolução pré-modernista.
ência urbana do Romantismo, movimento literário
de transição, em que se iniciaram as tendências e c) pelo predomínio de traços simbolistas, realistas e
os temas que se firmariam no Modernismo. parnasianos sobre os pré-modernos.
d) por ser uma fase de transição, muito confusa, cujo
68. PUC-SP apogeu é o Simbolismo.
A literatura do Pré-Modernismo brasileiro, nas obras de e) pela combinação de elementos heterogêneos e
Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato, experiências literárias que desaguariam no Mo-
caracteriza-se pela: dernismo.
a) descrição e romantização da sociedade rural.
Texto para as questões de 72 a 76.
b) interpretação e polêmica voltadas para a proble-
mática social. Quando Pedro I lança aos ecos o seu grito
histórico e o país desperta esturvinhado à crise de
c) análise e idealização da sociedade urbana.
uma mudança de dono, o cabloco ergue-se, espia e
d) restauração e mitificação da temática histórica. acocora-se, de novo.
e) reconstrução e fabulação da sociedade indígena. Pelo 13 de maio, mal esvoaça o florido decreto da
Princesa e o negro exausto larga num uf! o cabo da en-
69. xada, o caboclo olha, coça a cabeça, imagina e deixa que
Contrariando os seus contemporâneos, procurou nas do velho mundo venha quem nele pegue de novo.
classes populares e no desmascaramento da vida A 15 de novembro troca-se um trono vitalício
cotidiana da pequena burguesia a matéria dos seus pela cadeira quadrienal. O país bestifica-se ante
o inopinado da mudança. O caboclo não dá pela
romances e contos. Isso, aliado ao sarcasmo com o qual
coisa.
ironizava os políticos e literatos da época, fez com que
Vem Floriano: estouram as granadas de
fosse pouco apreciado no seu tempo. Seu desprezo ao
Custódio;Gumercindo bate às portas de Roma; Incita-
artificialismo e à retórica parnasiana levou-o a escrever tus derranca o país. O caboclo continua de cócoras,
numa linguagem simples, algumas vezes até desleixa- a madorrar...
da, o que lhe valeu muitas críticas. Porém, deixou-nos Nada o desperta. Nenhuma ferretoada o põe de
um valioso registro do Rio de Janeiro da sua época. pé. Social, como individualmente, em todos os atos da
A que autor do Pré-Modernismo se refere o texto vida, Jeca antes de agir, acocora-se.
anterior? Cite uma obra desse autor. Monteiro Lobato

190
72. FAAP-SP 77. UFOP-MG
É nesta crônica que Monteiro Lobato fotografa a Leia com atenção o seguinte texto:
imagem do caipira, apresentado como uma “raça in- Como uma cascavel que se enroscava,
termediária”, que perdeu o primitivismo do índio sem, A cidade dos lázaros dormia...
no entanto, adquirir a força do colonizador. A crônica Somente, na metrópole vazia,
foi extraída do livro: Minha cabeça autônoma pensava!
a) Negrinha Mordia-me a obsessão má de que havia,
Sob os meus pés, na terra onde eu pisava,
b) O Macaco que se fez Homem
Um fígado doente que sangrava
c) Urupês E uma garganta de órfã que gemia!
d) O Presidente Negro Tentava compreender com as conceptivas
e) O escândalo do Petróleo Funções do encéfalo as substâncias vivas
Que nem Spencer, nem Haechel compreenderam...
73. FAAP-SP E via em mim, coberto de desgraças,
O texto fala de fatos históricos, respectivamente: O resultado de bilhões de raças
a) Monarquia – Lei do Ventre Livre – Eleição de Que há muitos anos desapareceram!
ANJOS, Augusto dos. Eu: poesias.
Floriano Porto Alegre: Mercado Aberto, 1998, p.61.
b) Regência – Tráfego Negro – Posse de Floriano Assinale a alternativa incorreta.
c) Maioridade – Libertação dos Escravos – Posse de a) É possível observar, na construção desse texto,
Floriano uma tal concentração no conteúdo que faz com
d) Parlamentarismo – Libertação dos Escravos – Pre- que a forma fique bastante negligenciada.
sidencialismo b) Observa-se uma tendência bastante forte para a
e) Independência – Libertação dos Escravos – Re- exploração de temas mórbidos e patológicos, como
pública nos demais poemas de Augusto dos Anjos.
c) Apresenta o poema um pendor para a represen-
74. FAAP-SP tação de um cientificismo, mesmo que o impulso
Jeca Tatu de Monteiro inspirou um cantor brasileiro lírico seja uma constante presença.
a compor: d) Faz-se notar um pessimismo que, na sua exacer-
Jeca Total: Jeca total deve ser Jeca Tatu presente, bação, acaba caminhando para um quase total
passado, representante da gente do Senado. Estamos aniquilamento.
falando de: e) Justificando a obra a que pertence, há, no poema,
a) Chico Buarque d) Roberto Carlos um individualismo bem nítido.
b) Caetano Veloso e) Milton Nascimento
78. UFRGS-RS
c) Gilberto Gil
É correto afirmar que Augusto dos Anjos foi o poeta
75. FAAP-SP do:
a) pessimismo aliado à ciência que acusava a degra-
A crítica é unânime em classificar o escritor Monteiro
dação humana mediante associações e compara-
Lobato ligado ao movimento:
ções com processos químicos e biológicos.
a) pré-modernista d) dadaísta
b) cientificismo triunfante que, aliado à idéia de pro-
b) surrealista e) cubista gresso, marcou boa parte da lírica contemporânea
c) futurista aos primeiros anos da República.
c) pessimismo acusatório que denunciou o latifúndio
76. FAAP-SP
e a política oligárquica, reproduzindo nas poesias
Sobre Monteiro Lobato não procede a seguinte afir- as preocupações e temas de Lima Barreto.
mação:
d) esteticismo que depurava a forma de seus sonetos
a) Nasceu em Taubaté e morreu em São Paulo. Advo- à perfeição, sem jamais fazer concessões a temas
gado, promotor Público. Fundou a Companhia de considerados prosaicos ou de mau gosto.
Petróleos do Brasil
e) cientificismo militante disposto a abranger temas
b) Inovador quando defende a arte de Anita Malfatti como o cálculo algébrico, a crítica literária e
em famoso artigo publicado pelo Estado: Paranóia arquitetura para retirar o caráter subjetivo da
ou Mistificação poesia.
c) Avançado quando satiriza o purismo da linguagem
no conto também famoso: O Colocador de Prono- 79. PUC-RS
mes Associar a “Consciência Humana” à imagem de um
d) Promoveu campanhas nacionais em favor do ferro “morcego”, assim como fazer poesia sobre o “verme”,
e petróleo: Preso pelo governo Vargas em 1941, ou afirmar que o homem, por viver “entre as feras”,
exila-se na Argentina. também sente a necessidade “de ser fera” são algu-
PV2D-07-54

e) Crítico veemente do sistema agrícola brasileiro na mas das imagens poéticas de _________. Apesar das
figura de Jeca Tatu, símbolo da miséria e do atraso críticas contundentes de que foi alvo, o poeta, muito
a que foram relegados nossos caipiras distante da obsessão _________ pela forma, ou da
191
sugestão das imagens _________, já revelava, a seu c) Contos como A colcha de retalhos ou O comprador
tempo, elementos de modernidade. de fazendas ilustram a temática da decadência no
a) Cruz e Souza - simbolista - parnasianas meio rural, viés crítico da obra de Lobato.
b) Augusto dos Anjos - parnasiana - simbolistas d) Bucólica e Bocatorta destoam do restante dos textos
c) Alphonsus Guimaraens - parnasiana - realistas da obra por serem contos de ambientação urbana.
d) Cruz e Souza - romântica - parnasianas 83. UFSM-RS
e) Augusto dos Anjos - simbolista - parnasianas Analise as afirmações a seguir.
80. UFOP-MG I. Sua poesia explora o cientificismo e a preocupação
filosófica, apresentando imagens repulsivas, ins-
A respeito de Eu, de Augusto dos Anjos, é correto
piradas na morte e na decomposição da matéria.
dizer que:
II. Possui obra que focaliza casos e costumes da
a) sendo uma obra eminentemente barroca, repre-
vida baiana, contemplando tópicos, como os ri-
senta com perfeição as dualidades céu/terra,
tuais afros de Salvador e os dramas próprios das
pecado/graça, treva/luz.
plantações de cacau do sertão.
b) sendo uma obra eminentemente romântica, apre- Assinale a alternativa que identifica, pela ordem, os autores
senta um subjetivismo exacerbado, que extrapola que se relacionam com as afirmações apresentadas.
todos os limites.
a) I. Aluísio Azevedo; II. Guimarães Rosa
c) sendo uma obra eminentemente parnasiana, prima
b) I. Ferreira Gullar; II. Josué Guimarães
pela perfeição formal, desprezando quaisquer
outras preocupações. c) Raul Pompéia; II. Euclides da Cunha
d) sendo uma obra eminentemente simbolista, usa e d) I. Álvares de Azevedo; II. Graciliano Ramos
abusa dos meios tons que tanto caracterizam essa e) I. Augusto dos Anjos; II. Jorge Amado
poesia nefelibata.
84. UFV-MG
e) sendo uma obra de difícil classificação, reserva,
mesmo assim, um lugar de destaque na poesia No prefácio da primeira edição de Urupês, diz Monteiro
brasileira como um caso à parte. Lobato:
E aqui aproveito o lance para implorar perdão ao
81. UFOP-MG pobre Jeca. Eu ignorava que eras assim, meu Tatu,
por motivo de doença. Hoje é com piedade infinita
Psicolgia de um vencido que te encara quem, naquele tempo, só via em ti um
Eu, filho do carbono e do amoníaco, mamparreiro de marca. Perdoas?
Monstro de escuridão e rutilância, A partir deste fragmento, considerando o contexto
Sofro, desde a epigênese da infância, do artigo Urupês e a trajetória intelectual de Lobato,
A influência má dos signos do zodíaco. responda:
a) O que significa mamparreiro, termo corrente no
Profundissimamente hipocondríaco, norte do Brasil?
Este ambiente me causa repugnância...
b) O que Lobato descobre em relação à natureza
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
física e mental do cabloco brasileiro, assim como
Que se escapa da boca de um cardíaco.
à sua condição histórica e política, que lhe permite
Já o verme – este operário das ruínas fazer esta auto-crítica ainda em 1918?
Que o sangue podre das carnificinas
Texto para as questões 85 e 86.
Come e à vida em geral declara guerra,
Noite em João Pessoa
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos, 1 A noite de ontem, ostentando uma cenografia muito
Na frialdade inorgânica da terra! lúgubre, nos deu a Justiça, na Paraíba do Norte,
Augusto dos Anjos
havia aberto falência.
A angústia diante da vida, a imagem da decomposição 2 Afigurou-se-nos, então, que nosso aerópago
da carne e a linguagem exótica – alguns dos elemen- forense, tornar-se-ia d’ora em diante um núcleo
tos caracterizadores da poesia de Augusto dos Anjos tristíssimo de bacharéis escaveirados com a facul-
– estão presentes no poema. Exemplifique cada um dade prosódica obstruída por uma alalia incurável,
deles com elementos do poema. arrastando desconsoladamente pela sala das
audiências as fósseis togas hipotecadas.
82. PUC-MG 3 O largo da Catedral de N. S. das Neves, oferecia
Todas as afirmativas sobre a obra Urupês estão cor- sem nenhum exagero, uma perspectiva inteira-
retas, exceto: mente desalentadora.
a) Em Velha praga, impera a perspectiva do proprie- 4 A iluminação elétrica, de um efeito intensivo péssi-
tário rural que denuncia a causa das queimadas mo, iluminava com reflexos mortiços toda aquela
que trazem problemas às suas terras. decadência sintomática que bem equivalia à justiça
b) Velha praga e Urupês podem ser considerados mundial agonizante, festejando com alguns círios
artigos jornalísticos que estabelecem entre si uma e com o Cinema Halley a véspera de sua desinte-
relação temática. gração absoluta.
192
5 Pouquíssimos circunstantes. d) O cientificismo é o doador da sensação de conti-
6 Alguns, exibindo hiatos de desilusão mal contida, re- nuidade, que salta de uma estrofe para o título e
gressavam aos lares, com o atabalhoamento nervoso vice-versa.
e a diminuição concomitante da verticalidade dorsal e) “Fique batendo” expressa, pela continuidade tem-
de quem está sendo vaiado publicamente (...) poral, uma ação incessante e ininterrupta, que se
7 Ah! certamente, a noite da Justiça, com sua treva opõe à idéia de fim.
e os “films” magríssimos de seu cinema plebeu, 88. UFRGS-RS
foi apenas o prelúdio incoerente e mal definido Versos íntimos
dos deslumbramentos futuros que as outras noi- Vês! Ninguém assistiu ao formidável
tes hão de trazer, como uma compensação muito Enterro de tua última quimera.
carinhosa, ao nosso espírito decepcionado. Somente a Ingratidão - esta pantera -
Trecho da crônica inédita de Augusto dos Anjos. Foi tua companheira inseparável!
Jornal O Globo, 04/09/04.
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
85. Cesgranrio-RJ
Mora, entre feras, sente inevitável
Em relação ao texto, só não foi intenção do autor Necessidade de também ser fera.
mostrar: Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
a) a decadência da justiça no panorama mundial. O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
b) a inoperância da iluminação elétrica. A mão que afaga é a mesma que apedreja.
c) a esperança no futuro, apesar das decepções. Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
d) o desinteresse pelas sessões de justiça, através Apedreja essa mão vil que te afaga,
do número reduzido de assistentes. Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos
e) a identificação entre o aspecto soturno da noite e
a prostração dos bacharéis. Considere as seguintes afirmações em relação ao
poema de Augusto dos Anjos
86. Cesgranrio-RJ I. O poema comenta sarcasticamente o fim da vida
No 6o parágrafo do texto, percebe-se a degradação e contradiz os ideais de solidariedade humana.
física e moral dos bacharéis, que é motivada por: II. Os versos demonstram que os animais são os prin-
a) problemas físicos que atacam os nervos. cipais responsáveis pela violência sobre a terra.
b) desilusão amorosa contida. III. O poeta serviu-se da imagem do fósforo para
c) decepção profissional sofrida. transmitir ao eleito uma mensagem de luz e de
esperança.
d) sacrifício da volta ao lar.
Quais estão corretas?
e) arqueamento da coluna pelo excesso de traba-
a) Apenas I d) Apenas I e III
lho.
b) Apenas II e) I, II e III
87. Mackenzie-SP c) Apenas I e II
Budismo moderno 89. ENEM
Tome, Dr., esta tesoura, e... corte Narizinho correu os olhos pela assistência. Não
Minha singularíssima pessoa. podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque
Que importa a mim que a bicharia roa e flores na lapela conversavam com baratinhas de
Todo o meu coração, depois da morte?! mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas,
Ah! Um urubu pousou em minha sorte! verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina -
Também, das diatomáceas da lagoa achando que era exagero usarem coletes tão apertados.
A criptógama cápsula se esbroa Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos
Ao contato de bronca destra forte! que as borboletas de toucados de gaze tinham com o
Dissolva-se, portanto, minha vida, pó das suas asas. Mamangavas de ferrões amarrados
Igualmente a uma célula caída para não morderem. E canários cantando, e beija-flores
Na aberração de um óvulo infecundo; beijando flores, e camarões camaronando, e carangue-
Mas o agregado abstrato das saudades jos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde,
Fique batendo nas perpétuas grades pequeninando e não mordendo.
Do último verso que eu fizer no mundo! LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho.
Augusto dos Anjos São Paulo: Brasiliense, 1947.
Assinale a alternativa que não se aplica ao soneto No último período do trecho, há uma série de verbos no
anterior. gerúndio que contribuem para caracterizar o ambiente
a) As três primeiras estrofes expressam uma idéia de fantástico descrito. Expressões como “camaronando”,
fim, enquanto veiculam o desânimo e o ceticismo. “caranguejando” e “pequeninando e não mordendo”
b) A última estrofe concretiza uma idéia de continui- criam, principalmente, efeitos de
dade, enquanto veicula o sonho, ou a criação, que a) esvaziamento de sentido.
perpetua o criador. b) monotonia do ambiente.
PV2D-07-54

c) A oração coordenada sindética adversativa, que c) estaticidade dos animais.


constitui o verso 12, aponta para uma contrarie- d) interrupção dos movimentos.
dade de idéias, ou seja, matéria vs. espírito. e) dinamicidade do cenário.
193
90. UFU-MG Monteiro Lobato foi um escritor que, quanto ao uso da
Nos primeiros parágrafos de Urupês, Monteiro Lobato língua, sempre questionou a obediência aos padrões
posiciona-se em relação às principais tendências da rígidos da gramática e às normas herdadas de Portugal.
literatura brasileira. No texto, há momentos em que ele não segue as regras
Assinale a alternativa em que a posição de Lobato é de uso da vírgula previstas pela Gramática Normativa.
apresentada incorretamente. Assim, observe os fragmentos a seguir:
a) Assim como os modernistas, Lobato critica a visão I. As fibras do México saem por carroças e se um
idealizada que os românticos tinham do índio; para
general revolucionário não as pilha em caminho,
ele, o romantismo brasileiro havia sido mera imi-
tação da escola francesa, tendo apenas adaptado chegam a salvo com presteza.
ao cenário dos tópicos as idéias de Rousseau. II. Às vezes, pensa o patrão que o veículo já está de
b) Para Lobato, o realismo naturalista irá acertar o tom volta, quando vê chegar o carreiro.
da literatura brasileira, fugindo à caricatura para III. O primeiro destes países voa; o segundo corre a
revelar outras deficiências do cabloco nacional, 50 km por hora; o terceiro apesar das revoluções
cuja índole ele investiga com apoio da ciência evo- tira 10 léguas por dia.
lucionista; por isto, o naturalismo projeta-se como
a literatura do futuro, por associar ao cientificismo Quanto ao uso da vírgula, em relação às regras da
alta dosagem de qualidade poética. Gramática Normativa, nesses fragmentos:
c) A fraqueza moral e muscular do selvagem brasi- a) I e II estão corretos.
leiro – que Lobato julgava capaz de “moquear a b) II e III estão corretos.
linda menina” Ceci “num bom brasileiro”, em vez de
amá-la perdidamente, como fez Peri – corresponde c) I e III estão corretos.
à mesma visão que Mário de Andrade adota na d) apenas II está correto.
construção do herói Macunaíma. e) apenas I está correto.
d) Para Lobato, a substituição do selvagem pelo
cabloco como tipo brasileiro, no período pré-mo- 92.
dernista, dando a este atributos de integridade
A contradição moderno-antimodernista leva-o a uma
moral, repete o mesmo equívoco de idealização
que marcou o indianismo romântico. crítica injusta e violenta à pintura de Anita Malfatti,
fato cultural mais importante antes da Semana de
91. PUC-SP Arte Moderna.
Estradas de rodagem Assinale a alternativa que apresenta o autor pré-mo-
Comparados os países com veículos, veremos dernista a que se refere o texto anterior.
que os Estados Unidos são uma locomotiva elétrica; a) Augusto dos Anjos d) Euclides da Cunha
a Argentina um automóvel; o México uma carroça; e
b) Lima Barreto e) Machado de Assis
o Brasil um carro de boi.
O primeiro desses países voa; o segundo corre a c) Monteiro Lobato
50 km por hora; o terceiro apesar das revoluções tira
10 léguas por dia; nós... 93.
Nós vivemos atolados seis meses do ano, enquan- Que atitude comum caracteriza a postura literária de
to dura a estação das águas, e nos outros 6 meses autores pré-modernistas como Lima Barreto, Graça
caminhamos à razão de 2 léguas por dia. A colossal Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha?
produção agrícola e industrial dos americanos voa
para os mercados com a velocidade média de 100 km 94. UEM-PR
por hora. Os trigos e carnes argentinas afluem para Leia o poema a seguir e assinale a(s) alternativa(s)
os portos em autos e locomotivas que uns 50 km por correta(s).
hora, na certa, desenvolvem.
As fibras do México saem por carroças e se um ge- Ricordanza della mia gioventù (*)
neral revolucionário não as pilha em caminho, chegam
A minha ama-de-leite Guilhermina
a salvo com relativa presteza. O nosso café, porém, o
nosso milho, o nosso feijão e a farinha entram no carro Furtava as moedas que o Doutor me dava.
de boi, o carreiro despede-se da família, o fazendeiro Sinhá-Mocinha, minha mãe, ralhava...
coça a cabeça e, até um dia! Ninguém sabe se chegará, Via naquilo a minha própria ruína!
ou como chegará. Às vezes pensa o patrão que o veícu- Minha ama, então, hipócrita, afetava
lo já está de volta, quando vê chegar o carreiro.
– Então? Foi bem de viagem? Susceptibilidades de menina:
O carreiro dá uma risadinha. “– Não, não fora ela!” – E maldizia a sina,
– Não vê que o carro atolou ali no Iriguaçu e.. Que ela absolutamente não furtava.
– E o quê? Vejo, entretanto, agora, em minha cama,
– ... e está atolado! Vim buscar mais dez juntas de
Que a mim somente cabe o furto feito...
bois para tirar ele.
E lá seguem bois, homens, o diabo para desatolar Tu só furtaste a moeda, o ouro que brilha...
o carro. Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama,
Enquanto isso, chove, a farinha embolora, a ra- Eu furtei mais, porque furtei o peito
padura derrete, o feijão caruncha, o milho grela; só o Que dava leite para a tua filha!
café resiste e ainda aumenta o peso.
Augusto dos Anjos
LOBATO, M. Obras Completas, 14ª ed.
São Paulo, Brasiliense, 1972, v. 8, p.74 (*) Lembrança da minha juventude
194
( ) O narrador desse texto se lembra da juventude ma social, a exploração da ama, que deixa de
com saudades, fazendo uma brincadeira com a alimentar a própria filha para dar o leite a outra
ama-de-leite. Essa saudade é típica do gênero criança.
lírico, assim como o são os temas amorosos e ( ) O soneto pode ter relações com a vida de Au-
a contemplação da natureza. gusto dos Anjos, filho de uma família de antigos
( ) Esse soneto é bastante característico de Au- senhores de engenho na Paraíba. Mas isso
gusto dos Anjos, com seu contraste entre os não “explica” seu sentido, que é mais o de uma
valores efêmeros (“o ouro que brilha”) e os
grande ironia: a ama, que furtava e mentia, é
eternos (o leite materno, simbolizando o amor
e os cuidados de mãe), sua amarga decepção posta sob outra luz, através da memória, quando
com as falhas humanas e sua linguagem cheia o menino fala de uma culpa que não pode ser
de preciosismos. encarada como individual (o menino “furtar”
( ) O soneto tem fortes relações com a vida de o leite), mas coletiva (a situação social que
Augusto dos Anjos: mulato, pobre, talentoso, obrigava a mulher a ganhar a vida vendendo
não pôde avançar em sua carreira no funciona- o próprio leite).
lismo público por não possuir amigos influentes ( ) O narrador faz uso de alguns elementos de épo-
e por recusar-se a dedicar seus sonetos aos ca que estão fora de uso hoje: a) a ama-de-leite,
poderosos; tais eram os motivos do seu tom geralmente descendente de escravos, amamen-
crítico, amargo, retratando a realidade corrupta tava os filhos de pais ricos; b) a crença de que o
e medíocre do Brasil, especialmente do Rio de
leite ajudava a formar o caráter da criança, por
Janeiro. Em razão disso, no poema, faz men-
ções irônicas ao Doutor, à Sinha-Mocinha, ao isso a mãe do garoto via no furto a “ruína” do
ouro corruptor e à hipocrisia. filho; c) a menção à sina, que significa “destino”,
( ) O eu lírico desse texto é bastante típico de Au- remete a “tirar a sina”, crença de que alguns
gusto dos Anjos, com sua atitude de desgosto e indivíduos com poderes divinatórios poderiam
de desilusão perante os fatos da vida. Contudo, prever com exatidão o destino das crianças; d) a
esse soneto não é dos mais típicos de sua obra, figura da escrava petulante, espertalhona, capaz
uma vez que sua temática sugere um proble- de furtos e de pequenas malandragens.

Capítulo 2
95. UFU-MG d) o conceito de felicidade na vida em contato com a
Faça a correspondência das expressões estilísticas natureza, e a fé na razão e na ciência.
com as gerações modernistas e assinale a alternativa e) o gosto pelo psicologismo na ficção e a superva-
que contém a correspondência correta. lorização da natureza.
I. Abominação do passado
97. Unibero-SP
II. Tentativa de demolição
Analise a tela de Hans Arp aqui reproduzida. Trata-
III. Valorização do inconsciente
se de uma colagem, e sua técnica de composição,
IV. Uso intenso de estrangeirismo segundo o pintor, foi a de “picar papéis e deixá-los
V. Aliança de signos verbais e econômicos cair espontaneamente sobre um fundo colorido”. Essa
( ) Concretismo técnica pode ser interpretada como:
( ) Surrealismo
( ) Dadaísmo
( ) Antropofagia
( ) Futurismo
a) V, III, II, I, IV
b) V, II, III, I, IV
c) V, III, II, IV, I
d) IV, I, II, III, V
e) V, III, IV, II, I

96. UFPA
As idéias de Marinetti influenciaram muito os nossos Samira Yousseff Campedelli, Literatura, História & Texto 3, p. 65.
autores. Dele, os escritores brasileiros seguiram:
a) a exacerbação do nacional e a sintaxe tradicional. a) própria do cubismo.
b) a paixão pela metáfora intelectualista e rebuscada, b) típica do surrealismo.
PV2D-07-54

e pelas frases de efeito. c) futurista.


c) a negação do passado e o uso de palavras em d) expressionista.
liberdade. e) um procedimento dadaísta.
195
98. PUC-SP Assinale a alternativa verdadeira.
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela a) Por liberar imagens do inconsciente, livres da razão
minha aldeia, consciente, “Botafogo” pode ser classificado como
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que poema surrealista.
corre pela minha aldeia b) É um poema irreverente, provocador, inspirado no
Porque o Tejo não é o rio que corre pela Dadaísmo.
minha aldeia. c) O estilo metafórico de nomeação fugidia e imediata
da realidade torna o poema representativo da
O Tejo tem grandes navios proposta Pau-Brasil.
E navega nele ainda, d) Trata-se de um poema futurista, pois celebra as
Para aqueles que vêem em tudo o delícias da velocidade e da energia mecânica.
que lá não está,
e) É um poema cubista, porque explora as formas
A memória das naus.
geométricas e os diversos ângulos dos objetos
descritos.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal. 100.
Toda a gente sabe isso.
Eia! eia! eia!
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
E donde ele vem. Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do
E por isso, porque pertence a menos gente, Inconsciente!
É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Pelo Tejo vai-se para o mundo. Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Para além do Tejo há a América Eia! eia! eia!
E a fortuna daqueles que a encontram.
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia. Eia! eia! eia! eia!-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio,
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. engenho-me.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele. Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
O poema acima, do heterônimo de Fernando Pessoa,
Alberto Caeiro, integra o livro O guardador de reba- Giro dentro das hélices de todos os navios.
nhos. Indique a alternativa que nega a adequada Eia! eia-hô eia!
leitura do poema em questão. Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!
a) O elemento fundamental do poema é a busca da Álvaro de Campos – heterônimo de Fernando Pessoa –
objetividade, sintetizada no verso: “Quem está ao fragmento de Ode Triunfal

pé dele está só ao pé dele”. Relacione o excerto anterior com uma das vanguardas
b) O poema propõe um contraste a partir do mesmo artísticas européias.
motivo e opõe um sentido geral a um sentido
particular. 101.
c) O texto sugere um conceito de beleza que implica Leia o Poema tirado de uma notícia de jornal, de Manuel
proximidade e posse e, por isso, valoriza o que é Bandeira.
humilde, ignorado e despretensioso. João Gostoso era carregador de feira livre e morava no
d) O rio que provoca a real sensação de se estar à morro da Babilônia num barracão sem número.
beira de um rio é o Tejo, que guarda a “memória Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
das naus”, marca do passado grandioso do país. Bebeu
e) O poema se fundamenta numa argumentação Cantou
dialética em que o conjunto das justificativas deixa Dançou
clara a posição do poeta. Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
afogado.
99. UFV-MG Podemos filiar esse poema a qual tendência van-
Considere o poema. guardista?
Botafogo a) cubismo d) dadaísmo
Desfilam algas, sereias, peixes e galeras b) futurismo e) impressionismo
E legiões de homens desde a pré-história c) surrealismo
Diante do Pão de Açúcar impassível.
Um aeroplano bica a pedra amorosamente 102. UFSCar-SP
A filha do português debruçou-se à janela Uma outra frase famosa de Fernando Pessoa (Tudo
Os anúncios luminosos lêem seu busto vale a pena se a alma não é pequena) encontra-se
A enseada encerrou-se num arranha-céu. no trecho a seguir, retirado do poema Mar Português,
Murilo Mendes pertencente ao livro Mensagem:
196
Valeu a pena? Tudo vale a pena A que movimento artístico de vanguarda europeu,
Se a alma não é pequena. que influenciou o Modernismo brasileiro, refere-se a
Quem quer passar além do Bojador afirmação anterior?
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 106. Mackenzie-SP
Mas nele é que espelhou o céu. No início do século XX, várias tendências estéticas surgi-
Fernando Pessoa. Obra poética, p. 82. ram na Europa e influenciaram o Modernismo brasileiro.
a) De que trata essa obra de Fernando Pessoa? Não faz parte delas o:
b) Explique o sentido de pequena, no segundo verso. a) dadaísmo. d) cubismo.
b) expressionismo. e) determinismo.
103.
c) futurismo.
Receita para fazer um poema dadaísta
Pegue um jornal. 107. UEL-PR
Pegue a tesoura. Compare o poema narrativo de Jorge de Lima, O gran-
Escolha no jornal um artigo do tamanho de desastre aéreo de ontem, com o quadro Guernica,
que você deseja dar a seu poema. de Pablo Picasso.
Recorte o artigo. Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma
Recorte em seguida com atenção
flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista,
algumas palavras que formam esse artigo
e meta-as num saco. em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com
Agite suavemente. sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e
Tire em seguida cada pedaço um após pernas de dançarinas arremessadas na explosão.
o outro. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Re-
Copie conscienciosamente na ordem em conhecedor. Vejo a nadadora belíssima, no seu último
que elas são tiradas do saco. salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida.
O poema se parecerá com você.
Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como
E ei-lo um escritor infinitamente
original e de uma sensibilidade graciosa, se dançassem ainda. (...) Ó amigos, o paralítico vem
ainda que incompreendido do público. com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente,
Tristan Tzara vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as
nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que
a) O poeta dadaísta seguia algum tipo de regra?
Deus é o arrebol.
b) Contraste essa proposta com os procedimentos LIMA, Jorge de. Poesia. Nossos Clássicos 26.
das estéticas clássicas. Rio de Janeiro: Agir, 1963. p. 64-65.
arrebol: vermelhidão do pôr-do-sol.
104.
Dessa forma, a Semana, em vez de um início, foi um
coroamento. A árvore vinha florescendo para dar o
fruto. Já a idéia estava sazonada. De modo que a con-
cretização só dependia de circunstâncias favoráveis
para desabrochar. Isso ocorreu em 1922.
Afrânio Coutinho
Marque a única opção que não pode ser inferida a
partir da leitura do trecho acima, considerando a Se-
mana da Arte Moderna.
a) A Semana marcou o início oficial do Modernismo, Assinale a alternativa correta:
mas ela também é conseqüência de fatos literários a) Tanto o poeta quanto o pintor acalentam esperan-
ou não. ças ingênuas quanto à superação das tragédias
b) A Semana aconteceu no momento certo, nem do cotidiano no mundo moderno.
antes nem depois. b) Ambos os artistas revelam conformismo diante
c) Alguns fatos sociais, históricos e artísticos fizeram dos acontecimentos trágicos, representados pelo
com que a realização da Semana viesse a ser algo desastre aéreo e pela guerra.
natural e necessário. c) A quebra das figuras no quadro e a enumeração
d) Sem a realização da Semana, jamais eclodiria o rápida das figuras no poema evidenciam uma op-
movimento modernista. ção estética que se pauta pela harmonia figurativa
e) A semana simbolizou, também, a comemoração na pintura e pela linearidade discursiva no texto
do centenário da Independência brasileira. literário.
105. ITA-SP d) Em ambas as obras os artistas abdicam de uma
Leia o texto a seguir. ótica subjetiva, apresentando de maneira racional
Propunha a destruição do passado e a incorpora- e neutra as tragédias do mundo moderno.
PV2D-07-54

ção dos aspectos dinâmicos da realidade (exaltação e) Cada uma das duas obras retrata, com linguagem
da velocidade e da máquina). O líder desse movimento distinta, o assombro dos artistas diante de realida-
foi o italiano Marinetti. des trágicas do mundo moderno.
197
108. UFU-MG Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
Leia os excertos seguintes e indique a alternativa De vos ouvir demasiadamente de perto,
incorreta. E arde-me a cabeça de vos querer cantar com
[um excesso
Algazarra
De expressão de todas as minhas sensações,
A fala dos bichos
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
é comprida e fácil
Em febre e olhando os motores como a uma
miados soltos
[Natureza tropical —
na campina;
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e
águias
[força —
hidráulicas Canto, e canto o presente, e também o passado
nas pontes; [e o futuro.
na cozinha Porque o presente é todo o passado e todo o
a hidra espia [futuro
medrosas as cabeças; E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das
enguias engolem [luzes elétricas
sete redes Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio
saturam de lombrigas [e Platão,
o pomar; E pedaços do Alexandre Magno do século talvez
(...) [cinqüenta,
Ana Cristina Cesar, 26 poetas de hoje Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do
Bucólica [Ésquilo do século cem,
Agora vamos correr o pomar antigo Andam por estas correias de transmissão e por
Bicos aéreos de patos selvagens [estes êmbolos e por estes volantes,
Tetas verdes entre folhas Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
E uma passarinhada nos vaia; Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo
(...) [numa só carícia à alma.
Oswald de Andrade, Pau-Brasil Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, Obra Poética

a) Os textos possuem características vanguardistas, uma Em Ode Triunfal, escrita no momento aflitivo de 1914,
vez que criam situações e espaços surreais, compondo parece que o transe dos tempos modernos, represen-
um pomar em que os encanamentos se transformam tado pelas máquinas em fúria, mistura-se com o transe
em lombrigas e as frutas em tetas verdes. febril do eu-poemático. Cria-se um ambiente em que,
b) Embora modernos, esses poemas são represen- talvez na dimensão do sonho (ou do pesadelo), o tempo
tantes do Arcadismo, porque ambos trabalham e o espaço parecem dissolvidos, ou situados numa re-
com elementos da natureza, colocando o homem gião mítica. Nessa dimensão surrealista, Platão e Virgílio
em contato direto com ela. Tal procedimento é residem dentro das máquinas; há, nelas, pedaços de
verificável em toda a literatura ocidental. Alexandre Magno, “do século talvez cinqüenta”, além de
Ésquilo, do “século cem”. Tal embaralhamento temporal
c) No poema de Ana Cristina Cesar, a Algazarra do
de figuras históricas já se enunciara nos versos
título, que está ligada a uma grande fantasia, es-
tabelece-se a partir dos versos águias/hidráulicas a) “À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da
e se estende até o último verso. fábrica / Tenho febre e escrevo.”
d) A Algazarra também pode ser verificada nos jogos b) “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! / Forte
sonoros das palavras, que geram ambigüidade de espasmo retido dos maquinismos em fúria!”
sentido, como na palavra águias, que pode ser c) “De expressão de todas as minhas sensações, / Com
águas, e no verso enguias engolem, em que en- um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”
golem repercute nas primeiras letras de enguias. d) “Canto, e canto o presente, e também o passado
e o futuro, / Porque o presente é todo o passado
109. Unifesp (modificado) e todo o futuro.”
Ode Triunfal e) “De vos ouvir demasiadamente de perto, / E arde-me
a cabeça de vos querer cantar com um excesso.”
À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas
110. ENEM
[da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza
[disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos
[antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu
[sinto! Tarsila do Amaral, Operários.

198
Desiguais na fisionomia, na cor e na raça, o que 112. Fuvest-SP
lhes assegura identidade peculiar, são iguais enquanto Do programa estético da Geração Orpheu constava a:
frente de trabalho. Num dos cantos, as chaminés das a) restauração dos temas clássicos.
indústrias se alçam verticalmente. No mais, em todo b) vinculação da obra de arte ao quadro social.
o quadro, rostos colados um ao lado do outro, em
c) instalação das vanguardas futuristas.
pirâmide que tende a se prolongar infinitamente, como
mercadoria que se acumula, pelo quadro afora. d) originalidade em Arte.
Nádia Gotlib. Tarsila do Amaral, a modernista. e) implantação do movimento surrealista.

O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema 113.


que também se encontra nos versos transcritos em: O primeiro órgão de divulgação das idéias moder-
a) “Pensem nas meninas / Cegas inexatas / Pensem nas nistas em Portugal e um dos mais importantes foi a
mulheres / Rotas alteradas.” (Vinícius de Moraes) revista _________________, lançada em 1915, tendo
b) “Somos muitos severinos / iguais em tudo e na Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro como seus
sina: / a de abrandar estas pedras / suando-se colaboradores mais atuantes.
muito em cima.” (João Cabral de Melo Neto) Fundada em 1927, a revista _________________
c) “O funcionário público / não cabe no poema / com propunha uma revitalização da arte, dentro do espírito
seu salário de fome / sua vida fechada em arqui- da geração modernista anterior, incentivando a origi-
vos.” (Ferreira Gullar) nalidade e a criatividade. Alguns de seus participantes
d) “Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso foram José Régio, João Gaspar Simões e Branquinho
da Fonseca.
querer ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos
Reivindicando uma atitude mais objetiva e crítica
os / sonhos do mundo.” (Fernando Pessoa)
na análise de problemas sociais, o movimento cha-
e) “Os inocentes do Leblon / Não viram o navio entrar mado _________________, nas décadas de 30 e
(...) / Os inocentes, definitivamente inocentes tudo 40, propunha uma literatura de compromisso com a
ignoravam, / mas a areia é quente, e há um óleo problemática social.
suave / que eles passam pelas costas, e aquecem.” Preencha as lacunas com os nomes das gerações mo-
(Carlos Drummond de Andrade) dernistas em Portugal e marque a seqüência correta.
a) Orpheu – Presença – Neo-Realismo.
111.
b) Presença – Surrealista – Orpheu.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente c) Orpheu – Neo-realista – Presença.
Que chega a fingir que é dor d) Surrealista – Orpheu – Presença.
A dor que deveras sente. e) Orpheu – Neo-realista – Surrealista.

E os que lêem o que escreve, 114. Mackenzie-SP


Na dor lida sentem bem, D. Sebastião, rei de Portugal
Não as duas que ele teve, Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Mas só a que eles não têm. Qual a sorte não dá.
Não soube em mim minha certeza:
E assim nas calhas de roda Por isso onde o areal está
Gira, a entreter a razão, Ficou meu ser que houve, não o que há.
Esse comboio de corda Minha loucura, outros que me a tomem
Que se chama coração. Com o que nela ia.
Fernando Pessoa
Sem a loucura que é o homem
Relativamente a esse poema de Fernando Pessoa, Mais que a besta sadia,
indique a observação que não condiz com o conteúdo Cadáver adiado que procria?
Os versos acima encaixam-se na obra de:
do texto.
a) Alberto Caeiro. d) Camões.
a) O tema predominante é o jogo que se estabelece
entre autor e leitor, tendo a obra de arte como b) Ricardo Reis. e) Bocage.
campo de atuação. c) Fernando Pessoa.
b) O autor indica a matéria de que se faz sua obra,
115.
além de demonstrar conhecimento sobre reações
do leitor. Leia o poema a seguir:
Mar portuguez
c) O sofrimento inerente à condição humana é ma-
Ó mar salgado, quanto do teu sal
téria-prima importante para a produção poética,
São lágrimas de Portugal!
mas ele nunca é revelado de forma integralmente Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
verdadeira. Quantos filhos em vão rezaram!
d) O prazer do leitor está na identificação de alguma Quantas noivas ficaram por casar
dor no poeta que ele, leitor, não sente. Para que fosses nosso, ó mar!
PV2D-07-54

e) A sensibilidade do poeta faz dele um ser confuso, Valeu a pena? Tudo vale a pena
pois seu coração gira para ignorar a razão (“Gira, Se a alma não é pequena.
a entreter a razão”). Quem quer passar além do Bojador
199
Tem que passar além da dor. Ó mar salgado, quanto do teu sal
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, São lágrimas de Portugal!
Mas nele é que espelhou o céu. Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
PESSOA, Fernando. Obra poética. Quantos filhos em vão rezaram!
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 82. Quantas noivas ficaram por casar
O poema acima transcrito faz parte da obra de Fer- Para que fosses nosso, ó mar!
nando Pessoa. Valeu a pena? Tudo vale a pena
Assinale a alternativa que o define, interpreta ou ana- Se a alma não é pequena.
lisa incorretamente. Quem quer passar além do Bojador
a) O texto inicia-se com uma apóstrofe. Tem que passar além da dor.
b) As marcas estilísticas permitiriam atribuí-lo tam- Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
bém ao heterônimo Alberto Caeiro.
Mar português, Fernando Pessoa
c) A ortografia arcaica é um elemento vinculador
do poema à temática saudosista relacionada ao a) Através do tema tratado nas estrofes citadas, pode-
passado imperial português. mos dizer que pertencem a dois grandes poemas
d) Nos versos “Por te cruzarmos, quantas mães épicos da literatura portuguesa: Os Lusíadas e
choraram,” e “Para que fosses nosso, ó mar!”, os Mensagem.
vocábulos destacados não estabelecem a mesma b) Nessas estrofes, os dois poemas relacionam-se ao
relação semântica. mencionarem aspectos negativos das expedições
e) É possível estabelecer uma relação entre o poema portuguesas.
acima e o episódio do “Velho do Restelo”, de Os c) No poema de Camões, todas as estrofes apresen-
lusíadas. tam oito versos em decassílabos heróicos; no po-
ema de Pessoa não há a mesma regularidade.
116. Fuvest-SP d) Uma das estrofes d’Os lusíadas revela a fala do
I. O poeta é um fingidor. Velho do Restelo criticando os sentimentos de
Finge tão completamente glória e cobiça na empresa portuguesa.
Que chega a fingir que é dor e) Os dois poemas não podem ser relacionados porque,
além de um ser épico e o outro lírico, um pertence
A dor que deveras sente. ao Renascimento e o outro ao Modernismo.
II. Sonho que sou um cavaleiro andante
Por desertos, por sóis, por noite escura, 118. Mackenzie-SP
Paladino do amor, busco anelante O poeta ligado ao sentimento nacionalista que tomou
conta de Portugal em meio às crises do primeiro perío-
O palácio encantado da Ventura!
do republicano, responsável por Mensagem, obra que
As estrofes acima são, respectivamente, dos poetas: retomou a formação de sua pátria, a identificação com
a) Fernando Pessoa e Barbosa du Bocage. o mar, o sonho de um império grande e forte foi:
b) Cesário Verde e Luís de Camões. a) Alberto Caeiro.
b) Ricardo Reis.
c) Guerra Junqueiro e Antero de Quental.
c) Mário de Sá-Carneiro.
d) Sá-Carneiro e Luís de Camões.
d) Fernando Pessoa ele-mesmo.
e) Fernando Pessoa e Antero de Quental.
e) Álvaro de Campos.
117. Vunesp 119. Mackenzie-SP
Leia as estrofes seguintes e assinale a alternativa Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
incorreta. Deus quis que a terra fosse toda uma,
Mas um velho, de aspeito venerando, Que o mar unisse, já não separasse.
Que ficava nas praias, entre a gente, Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
Postos em nós os olhos, meneando E a orla branca foi de ilha em continente,
Três vezes a cabeça, descontente, Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
A voz pesada um pouco alevantando, E viu-se a terra inteira, de repente,
Que nós no mar ouvimos claramente, Surgir, redonda, do azul profundo.
C’um saber só de experiência feito Quem te sagrou creou-te portuguez.
Tais palavras tirou do experto peito: Do mar e nós em ti nos deu signal.
Ó glória de mandar, ó vã cobiça Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Ó fraudulento gosto, que se atiça O texto faz parte:
Com a aura popular, que honra se chama! a) de um poema de Bocage, pois evidencia os
Que castigo tamanho e que justiça aspectos pré-românticos, que são a principal
Fazes no peito vão que muito te ama! característica de sua obra poética.
Que mortes, que perigos, que tormentas, b) de Mensagem, de Fernando Pessoa, que, com tom
Que crueldades neles experimentas! visionário e nacionalista, refere-se às grandes na-
Os lusíadas, Camões vegações e à recuperação do passado português.
200
c) do Cancioneiro geral, de Garcia de Rezende, em – tanta beleza que a gente sonhou, depois de posta
que se encontra boa parte da produção poética no papel como ficou inexpressiva, barata e normal! Já
medieval portuguesa. dizia tão bem o velho Bilac: “a palavra pesada abafa a
d) de Os lusíadas, de Luís de Camões, obra que idéia leve!” – e não é mesmo?
enaltece o povo português e seus extraordinários Rachel de Queiroz
feitos marítimos. Vocabulário:
gaucherie: falta de jeito. Do francês gauche: esquerdo,
e) de um auto vicentino, o qual critica a sociedade
canhoto.
portuguesa de sua época, em tom pessimista e
desiludido. 121.
120. Vunesp Qual o assunto comum aos dois textos?
Leia o fragmento textual de Fernando Pessoa e assi-
nale a alternativa correta. 122.
A obra de arte, fundamentalmente, consiste numa Que sensação predomina no texto 2?
interpretação objetivada duma impressão subjetiva.
Difere, assim, da ciência, que é uma interpretação Texto para as questões de 123 a 125.
subjetiva de uma impressão objetiva, e da filosofia, O poema a seguir pertence ao Cancioneiro de Fer-
que é, ou procura ser, uma interpretação objetivada nando Pessoa.
de uma impressão objetiva. A ciência procura as leis 1 Ah, quanta vez, na hora suave
particulares das cousas – isto é, aquelas leis que regem 2 Em que me esqueço,
os assuntos ou objetivos que pertencem àquele tipo 3 Vejo passar um vôo de ave
de cousas que se estão observando. A ciência é uma 4 E me entristeço!
subjetivação, porque é uma conclusão que se tira de 5 Por que é ligeiro, leve, certo
determinado número de fenômenos. A ciência é uma 6 No ar de amavio*?
cousa real e, dentro dos seus limites, certa, porque 7 Por que vai sob o céu aberto
é uma subjetivação de uma impressão objetiva, e é, 8 Sem um desvio?
assim, um equilíbrio. 9 Por que ter asas simboliza
PESSOA, F. Trecho de “A obra de arte. 10 A liberdade
Critérios a que obedece”. In: Obras em prosa.
11 Que a vida nega e a alma precisa?
a) A subjetividade impressiva do artista é resultante 12 Sei que me invade
de uma interpretação objetiva que conduz à obra 13 Um horror de me ter que cobre
de arte. 14 Como uma cheia
b) Muitas vezes, a ciência busca leis particulares das 15 Meu coração, e entorna sobre
coisas e, por isso, as torna subjetivas, valendo 16 Minh’alma alheia
como verdadeiras. 17 Um desejo, não de ser ave,
c) Ao caráter ilusório da arte contrapõe-se a realida- 18 Mas de poder
de da ciência e nisso, segundo o texto, reside o 19 Ter não sei quê do vôo suave
equilíbrio das coisas. 20 Dentro em meu ser.
d) A arte obedece a três critérios fundamentais: * Amavio: feitiço, encanto
Fernando Pessoa, Obra poética.
impressão, interpretação e busca de objetivida-
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 138.
de; enquanto a ciência obedece aos seguintes:
seleção, observação e análise dos fenômenos.
123. Unicamp-SP
e) Os limites do método científico não interferem no
Identifique o recurso lingüístico que representa a ave
caráter real da ciência que é sempre certa, equili-
tanto no plano sonoro quanto no imagético.
brada e reveladora da subjetividade das coisas e
dos seres. 124. Unicamp-SP
Que relação o eu lírico estabelece entre a tristeza e
Texto para as questões 121 e 122.
a liberdade?
Texto 1
Isto 125. Unicamp-SP
Dizem que finjo ou minto Interprete o fato de que as três interrogações (do verso
tudo que escrevo. Não. 5 ao 11) são respondidas, a partir do verso 12, em uma
Eu simplesmente sinto única e longa frase.
Com a imaginação.
Não uso o coração. 126. Mackenzie-SP
Fernando Pessoa Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Texto 2 Cumpras por própria. Manda no que fazes,
E o trabalho, este nosso trabalho de escrever? Nem de ti mesmo servo.
Meu Deus, como às vezes chega a ser sórdido! Aquele Ninguém te dá quem és. Nada te mude.
riscar, aquela grosseria do texto primitivo, aquele tatear Teu íntimo destino involuntário
PV2D-07-54

atrás da palavra desejada e, ainda pior, da combinação Cumpre alto. Sê teu filho.
de palavras desejadas. A gaucherie do que sai escrito Fernando Pessoa

201
Assinale a alternativa correta. Com que ânsia tão raiva
a) A métrica desses versos tem o papel de ajudar a Quero aquele outrora!
construir o significado de desestabilização emo- E eu era feliz? Não sei:
cional subjacente a todo o poema. Fui-o outrora agora.
b) “A alheia vontade”, sujeito sintático de “nunca PESSOA, Fernando. Cancioneiro.
cumpras”, aponta para o que deve ser evitado na Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976, pp. 140-141.

busca da própria soberania. Assinale a alternativa incorreta a respeito do poema


transcrito.
c) A relação “eu/tu” estabelece-se num tom de orien-
tação construído pela predominância dos verbos a) Depreende-se da leitura do poema um conflito
no imperativo. intenso do autor, que não consegue entender se é
d) A organização do poema em versos decassílabos e feliz ou não mediante as lágrimas que lhe brotam
hexassílabos constrói um ritmo irregular, impróprio aos olhos.
para veicular verdades acabadas. b) No texto, a presença da “música” atua como inter-
e) Os dois últimos versos questionam a fatalidade e sub- locutor do eu lírico para a construção do poema,
vertem o individualismo proposto desde o início. em que o tempo cronológico cede lugar ao tempo
interior.
127. UFJF-MG c) Pobre velha música! de Fernando Pessoa, do
Uma estrofe famosa do poema Autopsicografia, de Modernismo português, faz parte da expressão
Fernando Pessoa, é: poética que se consolidou no início do segundo
O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que decênio do século XX.
chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente. d) Ainda sobre o poema, é possível dizer que a cons-
A partir dela e pensando na obra do poeta como um ciência do tempo e da própria vivência permite ao
todo, é correto afirmar que: eu lírico resgatar seu passado distante.
a) Fernando Pessoa, com a proposta do fingimento e) O jogo temporal, marcado sobretudo por advérbios
poético, rompe com o confessionalismo romântico. e tempos verbais, encontra sua síntese no para-
b) somente Álvaro de Campos pode ser representante doxo do último verso do poema.
do fingimento poético, pois é um poeta futurista.
c) o fingimento poético não está presente na obra de Al- 130.
berto Caeiro, pois ele é um pastor simples e sincero.
Psicografia
d) a única parte da obra pessoana que escapa do Também eu saio à revelia
fingimento são os poemas de Fernando Pessoa e procuro uma síntese nas demoras
ele-mesmo. cato obsessões com fria têmpera e digo
e) Ricardo Reis, como poeta clássico, não pode ser do coração: não soube e digo
estudado pelo fingimento modernista. da palavra: não digo (não posso ainda acreditar
128. UFRGS-RS na vida) e demito o verso como quem acena
e vivo como quem despede a raiva de ter visto
Assinale a alternativa incorreta em relação ao proces-
Ana Cristina Cesar
so heteronímico de Fernando Pessoa.
a) Alberto Caeiro, poeta de pouca cultura literária e Autopsicografia
científica, dá muito valor às coisas concretas e
recusa a metafísica. O poeta é um fingidor.
b) Ricardo Reis é poeta da temática e linguagem Finge tão completamente
clássicas, sendo sua obra repleta de temas como Que chega a fingir que é dor
o paganismo, destino e a morte. A dor que deveras sente.
c) Álvaro de Campos é o poeta da temática futu- E os que lêem o que escreve,
rista, vive a euforia, mas também a melancolia da Na dor lida sentem bem,
modernidade. Não as duas que ele teve,
d) Fernando Pessoa traz em sua poesia a temática da dor, Mas só as que eles não têm.
do ceticismo, do idealismo, da melancolia e do tédio. E assim nas calhas de roda
e) Bernardo Soares, o semi-heterônimo, é, a exemplo Gira, a entreter a razão,
de Ricardo Reis, um poeta neoclássico preocupa- Esse comboio de corda
do com a brevidade da vida. Que se chama o coração.
Fernando Pessoa
129. Vunesp
Vocabulário:
Pobre velha música! comboio: trem de ferro.
Não sei por que agrado, calhas de roda: trilhos sobre os quais corre o trem de ferro.
Enche-se de lágrimas Na segunda estrofe do poema de Fernando Pessoa,
Meu olhar parado. há um jogo de sentido estabelecido entre os pronomes
Recordo outro ouvir-te. ele e eles.
Não sei se te ouvi a) A quem se refere cada um desses pronomes?
Nessa minha infância b) Como se pode entender a dor, referida nesta
Que me lembra em ti. estrofe, em relação a ele e eles?
202
131. Unifap Uma aprendizagem de desaprender
Assinale somente a alternativa incorreta. E uma seqüestração na liberdade daquele
Na obra de Fernando Pessoa: convento
a) o jogo heteronímico resulta de o homem ver-se De que os poetas dizem que as estrelas são as
dentro da sua diversidade. freiras eternas
E as flores, as penitentes convictas de um só dia,
b) o universo heteronímico é formado preferentemen-
te por três figuras (Ricardo Reis, Álvaro de Campos Mas onde afinal as estrelas não são senão
e Alberto Caeiro), autores de obras individuais estrelas
Nem as flores senão flores,
c) há muitos versos tristes e contidos, expressando
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e
dor fina e sutil, lamento, quase gemido.
flores.
d) heteronímia e pseudonímia têm o mesmo valor. O poema anterior, de Alberto Caeiro, propõe:
e) os três mais importantes heterônimos têm vida, a) desvalorizar o ver e o ouvir.
história e poética individuais.
b) minimizar o valor do ver e do ouvir.
132. c) conciliar o pensar e o ver.
d) abolir o pensar para apenas ver e ouvir.
Leia os versos a seguir:
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... e) fugir da linguagem real / denotativa dos poetas.
Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é.
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 136. FVG-SP
Porque quem ama nunca sabe o que ama Este poema integra a obra poética de Fernando Pes-
Nem porque ama, nem o que é amar... soa. Seu autor é um homem simples, que viveu em
A qual heterônimo de Fernando Pessoa refere-se contato com a natureza; é o poeta do real sensível.
esses versos? Justifique sua resposta. Para ele, as coisas são como são, pois pensa com os
sentidos. Pode-se dizer que, assim, manifesta uma
133. Fuvest-SP forma de pensar apenas diferente e não uma ausência
de reflexão. É autor os versos:
O Poeta é um fingidor. (...)
Fernando Pessoa
Que pensará isto de aquilo?
Qual a relação entre o verso anterior e Poesias, de Nada pensa nada.
Álvaro de Campos, Poemas, de Alberto Caeiro, e Odes, Terá a terra consciência das pedras e plantas
de Ricardo Reis? que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
134. Faenquil-SP Que me importa isso a mim?
Uma das características marcantes de Alberto Caeiro é: Se eu pensasse nessas coisas,
a) o cuidado do poeta na representação crítica da reali- Deixaria de ver as árvores e as plantas
dade concreta, sem simbolismos ou idealizações. E deixava de ver a Terra,
b) o uso constante da tópica clássica do carpe diem, Para ver só os meus pensamentos ...
ou seja, aproveitar cada dia com serenidade e Entristecia e ficava às escuras.
sabedoria. E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.
c) a ênfase na subjetividade do sujeito lírico e o inte- Trata-se de:
resse de expressar suas emoções mais íntimas. a) Alberto Caeiro.
d) a visão de mundo instintiva, espontânea, construída no b) Ricardo Reis.
contato direto com a natureza e com as sensações. c) Bernardo Soares.
e) o uso de uma linguagem altamente sofisticada mar- d) Fernando Pessoa, ele mesmo.
cada pelas sinestesias e pela expressão subjetiva e) Álvaro de Campos.
do amor.
137. UFSCar-SP
135. PUC-SP O luar através dos altos ramos,
O que nós vemos das coisas são as coisas. Dizem os poetas todos que ele é mais
Por que veríamos nós uma coisa se houvesse Que o luar através dos altos ramos.
outra? Mas para mim, que não sei o que penso,
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos O que o luar através dos altos ramos
Se ver e ouvir são ver e ouvir? É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
O essencial é saber ver, É não ser mais
Saber ver sem estar a pensar, Que o luar através dos altos ramos.
Saber ver quando se vê Fernado Pessoa, Obra Poética.

E nem pensar quando se vê, As bolas de sabão que esta criança


Nem ver quando se pensa. Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
PV2D-07-54

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
vestida!), Amigas dos olhos como as cousas,
Isso exige um estudo profundo, São aquilo que são
203
Com uma precisão redondinha e aérea, b) ânsia de integração em uma sociedade que o rejeita
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa, por causa de sua excentricidade e estranheza.
Pretende que elas são mais do que parecem ser. c) uma ocasião de criticar a persistência de costu-
(…) mes tradicionais, remanescentes no Portugal do
Fernando Pessoa, Obra Poética.
Modernismo.
Ambos os poemas são atribuídos a Alberto Caeiro, um d) frustração, uma vez que não experimenta as emo-
dos heterônimos de Fernando Pessoa. ções profundas nem as reflexões filosóficas que
a) O que caracteriza esse heterônimo? tanto aprecia.
b) O que há de comum nesses dois poemas em e) reconhecimento de que só tem realidade efetiva
termos de estilo? Justifique sua resposta. o que corresponde à experiência dos próprios
sentidos.
138. Fuvest-SP
Noite de S. João para além do muro do meu quintal. 139. Fuvest-SP
Do lado de cá, eu sem noite de S. João. Leia o seguinte poema de Alberto Caeiro:
Porque há S. João onde o festejam. Ponham na minha sepultura
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na Aqui jaz, sem cruz,
noite, Alberto Caeiro
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos. Que foi buscar os deuses...
E um grito casual de quem não sabe que eu existo. Se os deuses vivem ou não isso é convosco.
Alberto Caeiro, Poesia. A mim deixei que me recebessem.
Considerando-se esse poema no contexto das tendên- a) Identifique, no poema, a modalidade religiosa
cias dominantes da poesia de Caeiro, pode-se afirmar que o poeta rejeita e aquela com que tem maior
que, o afastamento da festa de São João é vivido pelo afinidade. Explique sucintamente.
eu lírico como: b) Relacione a referência a “deuses” (plural), no
a) oportunidade de manifestar seu desapreço pelas poema, com o seguinte verso, extraído de outro
festividades que mesclam indevidamente o sagra- poema de Alberto Caeiro:
do e o profano. A natureza é partes sem um todo.

140. ENEM

Folha de S. Paulo

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no


Universo...
Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Alberto Caeiro
A tira “Hagar” e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com
linguagens diferentes, uma mesma idéia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada,
essencialmente:
a) pelo alcance de cada cultura. d) pela idade do observador.
b) pela capacidade visual do observador. e) pela altura do ponto de observação.
c) pelo senso de humor de cada um.
141. PUC-SP
Sou um guardador de rebanhos. E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
O rebanho é os meus pensamentos Por isso quando num dia de calor
E os meus pensamentos são todos sensações. Me sinto triste de gozá-lo tanto,
Penso com os olhos e com os ouvidos E me deito ao comprido na erva,
E com as mãos e os pés E fecho os olhos quentes,
E com o nariz e a boca. Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la Sei a verdade e sou feliz.
Alberto Caeiro
204
No poema, de Alberto Caeiro: naval na Escócia. Sua linguagem poética é rica, solta
a) a visão de mundo não se confunde com a sensação e coloquial. Expressa-se com desenvoltura, em frases
de mundo. curtas, tensas, rápidas e irônicas, pontilhadas por
b) a atividade mental é muito lúcida e extremamente praguejamento e termos de baixo calão.”
racional. Trata-se de:
c) o conhecimento da natureza e do mundo é obtido a) Alberto Caeiro.
por meio dos sentidos. b) Antônio Nobre.
d) o entendimento da realidade resulta do exagerado c) Ricardo Reis.
racionalismo do eu-lírico.
d) Álvaro de Campos.
e) os termos “rebanho” e “pensamentos” se distan-
e) Pessoa ortônimo.
ciam por força da metáfora.
145. Unicamp-SP
142. PUC-SP Cruz na porta da tabacaria!
Aquela senhora tem um piano Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Que é agradável mas não é o correr dos rios Ao diabo o bem estar que trazia.
Nem o murmúrio que as árvores fazem... Desde ontem a cidade mudou.

Para que é preciso ter um piano? Quem era? Ora, era quem eu via.
O melhor é ter ouvidos Todos os dias o via. Estou
E amar a Natureza. Agora sem essa monotonia.
Alberto Caeiro Desde ontem a cidade mudou.
Sobre o poema anterior, de Alberto Caeiro, é incorreto
dizer que: Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou.
a) compara constrastivamente um símbolo de cultura
Eu passava ali de noite e de dia.
e a própria natureza.
Desde ontem a cidade mudou.
b) revela a opção do poeta pelo mundo natural, pois
os sons da natureza são superiormente mais Meu coração tem pouca alegria,
agradáveis. E isto diz que é morte aquilo onde estou.
c) deixa clara a concepção de que a natureza é o Horror fechado da tabacaria!
maior dado do objetivismo absoluto. Desde ontem a cidade mudou.
d) reforça a idéia de que a natureza e as produções
humanas estão sempre impregnadas de história Mas ao menos a ele alguém o via.
e sugestões metafísicas. Ele era fixo, eu, o que vou.
e) nega que o som do piano seja desagradável mas Se morrer, não falto, ninguém diria:
considera-o inferior aos sons dos rios e das árvo- Desde ontem a cidade mudou.
res. Álvaro de Campos, Poesias

a) Identifique duas marcas formais que, no poema,


143. PUC-SP
contribuem para criar a idéia de monotonia.
Considerando os poemas de O Guardador de Reba-
b) Do ponto de vista do eu lírico, que fato quebra essa
nhos, que integram a obra poética de Alberto Caeiro,
monotonia?
é correto afirmar que nela:
c) Qual a conseqüência, para o eu lírico, da quebra
a) o entendimento do mundo e a interpretação da
dessa monotonia? Justifique sua resposta.
realidade resultam do extremo racionalismo do
eu-lírico.
146. Vunesp
b) a sensação do mundo e a radical opção pela
Leia com atenção:
natureza se fazem presentes aí mais claramente,
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
ao mesmo tempo que se dá a negação radical das
Ser completo como uma máquina!
metafísicas e das transcendências.
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
c) o conhecimento direto das coisas e do mundo Poder ao menos penetrar-se fisicamente de tudo isto,
advém fundamentalmente da razão e mostra-se Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me
desvinculado da sensação. [passento
d) o conceito de paganismo define-se por uma pos- A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
tura anticristã e pela negação do conhecimento do Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
mundo sensível. Fraternidade com todas as dinâmicas!
e) o contato com a natureza e o conceito direto das Promíscua fúria de ser parte-agente
coisas impedem a existência de uma lógica igual Do rodar férreo e cosmopolita
à da ordem natural. Dos comboios estrênuos.
Da faina transportadora-de-cargas dos navios.
144. Unifap Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
PV2D-07-54

“Nasceu em Tavira, em 15 de outubro de 1890, e, Do tumulto disciplinado das fábricas,


segundo seu próprio criador, ‘é alto, magro e um E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias
pouco tendente a curvar-se’. Estudou engenharia [de transmissão!
205
O texto anteriormente transcrito pertence ao poema de – Depende inteiramente do estômago! – atalhou Ega.
Álvaro de Campos Ode triunfal. Álvaro de Campos é, Riram ambos. Depois Carlos, outra vez sério, deu a
como se sabe, um heterônimo de Fernando Pessoa, sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele dedu-
e a Ode triunfal constitui-se como um dos poucos zira da experiência e que agora o governava. Era o
textos do efêmero futurismo na literatura portuguesa. fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear…
No entanto, a Ode triunfal torna-se muito importante, Não se abandonar a uma esperança – nem a um de-
na medida em que nela se reflete o Manifesto do Fu- sapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge,
turismo, de Marinetti. Assim sendo, responda: quais com a tranqüilidade com que se acolhem as naturais
os segmentos do trecho transcrito da Ode triunfal que mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta
justificam chamarmos-lhe um poema futurista? placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada
que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo
Texto para as questões de 147 a 149. até reentrar e se perder no infinito Universo… So-
A questão baseia-se em fragmentos de três autores bretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter
portugueses. contrariedades.
Auto da Lusitânia Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente
se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da
Estão em cena os personagens Todo o Mundo (um inutilidade de todo o esforço. Não valia a pena dar um
rico mercador) e Ninguém (um homem vestido como passo para alcançar coisa alguma na Terra – porque
pobre). Além deles, participam da cena dois diabos, tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Eclesias-
Berzebu e Dinato, que escutam os diálogos dos pri- tes, em desilusão e poeira.
meiros, comentando-os, e anotando-os. Eça de Queirós, Os Maias.
Ninguém para Todo o Mundo: E agora que buscas lá? Ode triunfal
Todo o Mundo: Busco honra muito grande.
Álvaro de Campos
Ninguém: E eu em virtude, que Deus mande que tope (heterônimo de Fernando Pessoa – 1888-1935)
co ela já. À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Berzebu para Dinato: Outra adição nos acude: Escreve Tenho febre e escrevo.
aí, a fundo, que busca honra Todo o Mundo, e Ninguém Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
busca virtude. Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ninguém para Todo o Mundo: Buscas outro mor bem Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
qu’esse? Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo Em fúria fora e dentro de mim.
quanto eu fizesse. Por todos os meus nervos dissecados fora,
Ninguém: E eu quem me repreendesse em cada cousa Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
que errasse. Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
Berzebu para Dinato: Escreve mais. De vos ouvir demasiadamente de perto,
Dinato: Que tens sabido? E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
Berzebu: Que quer em extremo grado Todo o Mundo De expressão de todas as minhas sensações,
ser louvado, e Ninguém ser repreendido. Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Ninguém para Todo o Mundo: Buscas mais, amigo Em febre e olhando os motores como a uma Natureza
meu? [tropical –
Todo o Mundo: Busco a vida e quem ma dê. Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força –
Ninguém: A vida não sei que é, a morte conheço eu. Canto, e canto o presente, e também o passado e o
Berzebu para Dinato: Escreve lá outra sorte. [futuro,
Dinato: Que sorte? Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
Berzebu: Muito garrida: E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes
Todo o Mundo busca a vida, [elétricas
E Ninguém conhece a morte. Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio
Antologia do Teatro de Gil Vicente [e Platão,
Os Maias E pedaços do Alexandre Magno do século talvez
Eça de Queirós – 1845-1900 [cinqüenta,
– E que somos nós? – exclamou Ega. – Que temos nós Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do
sido desde o colégio, desde o exame de latim? Român- [Ésquilo doséculo cem,
ticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na Andam por estas correias de transmissão e por estes
vida pelo sentimento, e não pela razão… [êmbolos e por estes volantes,
Mas Carlos queria realmente saber se, no fundo, eram Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
mais felizes esses que se dirigiam só pela razão, não Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só
se desviando nunca dela, torturando-se para se man- [carícia à alma.
ter na sua linha inflexível, secos, hirtos, lógicos, sem Fernando Pessoa, Obra poética.
emoção até o fim…
– Creio que não – disse o Ega. – Por fora, à vista, são 147. Unifesp
desconsoladores. E por dentro, para eles mesmos, são Os textos apresentados, pertencentes a períodos dife-
talvez desconsolados. O que prova que neste lindo rentes da história social e literária portuguesa, têm, em
mundo ou tem de ser insensato ou sem sabor… comum, o enfoque das relações do ser humano diante
– Resumo: não vale a pena viver… da realidade. Respectivamente, representam:
206
a) visão satírica da existência e do comportamento huma- 150.
no; visão desencantada e pessimista do indivíduo na O meu olhar é nítido como um girassol.
sociedade; visão perplexa, eufórica, ao mesmo tempo Tenho o costume de andar pelas estradas
agônica, do indivíduo diante dos tempos modernos. Olhando para a direita e para a esquerda,
b) visão eufórica do comportamento humano; visão E de vez em quando olhando para trás...
derrotista do passado; visão agônica do futuro, E o que vejo a cada momento
pelo poeta. É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
c) visão complacente do diabo sobre a sociedade E eu sei dar por isso muito bem...
portuguesa; visão derrotista do passado; visão Sei ter o pasmo essencial
alegórica da inutilidade do poeta diante das con- Que tem uma criança se, ao nascer,
quistas tecnológicas. Reparasse que nascera deveras...
d) visão sarcástica que os homens fazem de si, na Sinto-me nascido a cada momento
época do trovadorismo português; visão fantasiosa Para a eterna novidade do Mundo...
da existência; visão perplexa, mas eufórica, do Fernando Pessoa
poeta diante da eletricidade e das máquinas. Com base na leitura do texto de Fernando Pessoa,
e) visão positiva da existência e do relacionamento assinale a afirmação correta.
humano; visão objetiva da sociedade romântica; a) O fragmento de Fernando Pessoa demonstra o
visão hesitante do mundo moderno. fingimento dele, que consiste num processo de
despersonalização do poeta, tão acentuado a
148. Unifesp ponto de a crítica, comumente, não ser capaz de
A ironia, ou uma expressão irônica, consiste em, in- definir com precisão a autoria de poesias suas.
tencionalmente, dizer o contrário do que as palavras b) Nesse fragmento, há um nítido exemplo de
significam, no sentido literal, denotativo. Lendo-se sensacionismo, atitude artística que consiste na
o fragmento de Gil Vicente, percebe-se que o autor percepção intensa da realidade, o autor ao se
ironiza a sociedade: perceber como indivíduo. Esse caráter é típico do
a) no nome dado a Berzebu que, no Novo Testamen- heterônimo pessoano Alberto Caeiro.
to, significa o “príncipe dos demônios”. c) O eu lírico, ao dizer que sabe “ter o pasmo es-
b) no comportamento humilde do personagem Todo sencial”, faz clara referência a sua capacidade
o Mundo. dissimuladora.
c) na dissimulação contida nos nomes dos persona- d) Com alusões a “pasmo essencial” e a nascer “a
gens e suas caracterizações: Todo o Mundo (um
cada momento”, o poeta refere-se a todo amanhe-
rico mercador) e Ninguém (um homem vestido
cer, quando ele se reencontra com a vida.
como pobre).
d) no pedido que Berzebu faz a Dinato: “Escreve lá e) Afirmando reparar “que nascera deveras”, o eu
outra sorte.” lírico sente-se o único capaz de admirar verdadei-
e) no comportamento obstinado do personagem ramente o que é a vida e o único a ter constante
Ninguém. envolvimento com o mundo físico.

149. Unifesp
Em Ode triunfal, escrita no momento aflitivo de 1914, 151.
parece que o transe dos tempos modernos, repre- Identifique nos textos seguintes os principais heterô-
sentado pelas máquinas em fúria, mistura-se com o nimos de Fernando Pessoa.
transe febril do eu poemático. Cria-se um ambiente em a) Amo-vos a todos, como uma fera
que, talvez na dimensão do sonho (ou do pesadelo), Amo-vos carnivoramente,
o tempo e o espaço parecem dissolvidos, ou situados Pervertidamente e enroscado a minha vista
numa região mítica. Nessa dimensão surrealista, Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Platão e Virgílio residem dentro das máquinas; há, Ó coisas todas modernas,
nelas, pedaços de Alexandre Magno, do século tal- Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
vez cinqüenta, além de Ésquilo, do século cem. Tal Do sistema imediato do Universo!
embaralhamento temporal de figuras históricas já se Nova revelação metálica e dinâmica de Deus!
enunciara nos versos:
a) “À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da b) O meu olhar azul como o céu
fábrica / Tenho febre e escrevo.” É calmo como a água ao sol.
b) “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! / Forte É assim, azul e calmo,
espasmo retido dos maquinismos em fúria!” Porque não interroga nem se espanta...
c) “De expressão de todas as minhas sensações, / c) Vem sentar-se comigo, Lídia, à beira do rio.
Com um excesso contemporâneo de vós, ó má- Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
quinas!”
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas
d) “Canto, e canto o presente, e também o passado
e o futuro, / Porque o presente é todo o passado 152. Mackenzie-SP
PV2D-07-54

e todo o futuro.” Tão cedo passa tudo quanto passa!


e) “De vos ouvir demasiadamente de perto, / E arde-me Morre tão jovem ante os deuses quanto
a cabeça de vos querer cantar com um excesso.” Morre! Tudo é tão pouco!
207
Nada se sabe, tudo se imagina. b) sua personalidade oprimida pelos avanços tecno-
Circunda-te de rosas, ama, bebe lógicos.
E cala. O mais é nada. c) negar a existência da fatalidade, valorizando o livre
Ricardo Reis arbítrio.
I. Os verbos no presente do indicativo dos quatro d) ser o mais passional, valorizando as sensações
primeiros versos expressam uma avaliação ampla ao extremo
de grandes verdades de todos os tempos. e) pregar que a ignorância é o caminho mais curto
II. Os sujeitos sintáticos das orações dos quatro pri- para a felicidade.
meiros versos, tudo e nada, reforçam a amplitude 155. Unifesp
dos significados das idéias. Considere as seguintes informações sobre o hete-
III. A efemeridade da vida junta-se à ilusão do conhe- rônimo Alberto Caeiro, do poeta Fernando Pessoa,
cimento e da erudição no quarto verso. extraídas de Literatura Portuguesa – da Idade Média
IV. Os dois últimos versos contradizem a idéia inicial a Fernando Pessoa, de José de Nicola.
de desapego e de desencanto, já que propõem a Para [ele], as coisas são como são. (...) Por isso mesmo,
ligação com a beleza das rosas, com o calor do seu mundo é o mundo do real-sensível (ou real-objetivo),
afeto, com a alegria da bebida e com o silêncio da é tudo aquilo que existe e que percebemos através dos
satisfação. sentidos. (...) ele ‘pensa’ com os sentidos.
Das afirmações sobre o poema, dizemos que: Os versos que ilustram o heterônimo apresentado são:
a) todas estão corretas. a) Sou um guardador de rebanhos. / O rebanho é os meus
b) nenhuma está correta. pensamentos / E os meus pensamentos são todos
c) apenas a I e a II estão corretas. sensações. / Penso com os olhos e com os ouvidos /
d) apenas a III está incorreta. E com as mãos e os pés / E com o nariz e a boca.
e) apenas a IV está incorreta. b) Amemo-nos tranqüilamente, pensando que podí-
amos, / Se quiséssemos, trocar beijos e braços e
153. carícias, / Mas que mais vale estarmos sentados ao
Não queiras, Lídia, edificar no espaço pé um do outro / Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Que figuras futuro, ou prometer-te c) Não matou outros deuses / O triste deus cristão. /
Amanhã. Cumpre-se hoje, não esperando. Cristo é um deus a mais, / Talvez um que faltava.
Tu mesma és tua vida. d) Dizem que finjo ou minto. / Tudo que escrevo. Não.
Não te destines, que não és futura. / Eu simplesmente sinto / Com a imaginação. / Não
Quem sabe se, entre a taça que esvazias, uso o coração.
E ela de novo enchida, não te a sorte e) Já disse: sou lúcido. / Nada de estéticas com
Interpõe o abismo? coração: sou lúcido. / Merda! Sou lúcido...
Nesta ode, de Ricardo Reis, podemos perceber
156. Efoa-MG
influências de um estilo da literatura portuguesa.
Trata-se do: Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
a) Romantismo, que está presente na referência E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
sentimental à figura da mulher amada (“Lídia”), a Assim é a ação humana pelo mundo fora.
quem o poeta se dirige diretamente, em um sinal Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
de subjetividade e intimidade. E o sol é sempre pontual todos os dias.
b) Arcadismo, que se evidencia na temática da O trecho acima é de um poema de Alberto Caeiro.
passagem do tempo, aliada à idéia de um apro- Sobre este nome da literatura portuguesa, é correto
veitamento do momento presente, em uma clara dizer que:
alusão à tópica do carpe diem.
a) é um pseudônimo de Eugênio de Castro, poeta
c) Barroco, que aparece principalmente no plano da simbolista.
linguagem, repleta de figuras de linguagem e de
sinuosidade, mas que também se manifesta no b) é um heterônimo de Fernando Pessoa, poeta
plano temático, através da idéia da morte (“abis- modernista.
mo”). c) é um pseudônimo de Cesário Verde, poeta realis-
d) Neoclassicismo, em função da forma como se ta.
manifesta a crença do poeta no futuro, expressa d) é um poeta parnasiano, autor de Horas mortas.
de maneira racional e objetiva, em uma franca e) é um poeta realista, autor de Sinal dos tempos.
adesão ao otimismo típico dessa escola.
e) Arcadismo, o que se pode perceber pela tentativa 157. Fuvest-SP
de recuperação de um passado feliz, assumido Aquela senhora tem um piano
como a “idade de ouro” perdida para a agitação Que é agradável mas não é o correr dos rios
da vida moderna.
Nem o murmúrio que as árvores fazem...
154. Faenquil-SP Por que é preciso ter um piano?
Ricardo Reis difere dos demais heterônimos de Fer- O melhor é ter ouvidos
nando Pessoa, principalmente por: E amar a Natureza.
a) buscar o equilíbrio através da razão e do despren- a) Qual a opinião do poeta em relação ao piano?
dimento. b) Que simboliza o piano no poema?
208
158. Unicamp-SP Ao terramoto
O poema Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro, de Seu único aliado
José Paulo Paes, remete-nos ao Poema X do Guar- Os futuristas dedicam
dador de rebanhos, de Alberto Caeiro (heterônimo de Estas ruínas de Roma e de Atenas
Fernando Pessoa). Leia atentamente os dois poemas,
transcritos a seguir, e identifique no poema de Alberto Naquele dia as velhas muralhas sábias foram sacudi-
Caeiro as falas que, segundo o poema de José Paulo das pelo nosso grito inesperado:
Paes, poderiam ser atribuídas a Pessoa e Caeiro,
respectivamente. Justifique sua resposta. Ai de quem se deixar agarrar pelo demônio da
admiração! Ai de quem admira e imita o passado!
Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro
Ai de quem vende o seu gênio!

Pessoa – a chuva me deixa triste... Texto II


Caeiro – a mim me deixa molhado. Marinetti, acadêmico
José Paulo Paes Lá chegam todos, lá chegam todos...
Poema X Qualquer diz, salvo venda, chego eu também...
Olá, guardador de rebanhos, Se nascem, afinal, todos para isso...
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa? Não tenho remédio senão morrer antes,
Não tenho remédio senão escalar o Grande Muro...
Que é vento, e que passa, Se fico cá, prendem-me para ser social...
E que já passou antes,
E que passará depois, Lá chegam todos, porque nasceram para isso,
E a ti, que te diz? E só se chega ao Isso para que se nasceu...

Muita cousa mais do que isso, Lá chegam todos...


Falam-me de muitas outras cousas. Marinetti, acadêmico...
De memórias e de saudades As Musas vingaram-se com focos elétricos, meu velho,
E de cousas que nunca foram. Puseram-te por fim na ribalta da cave velha,
E a tua dinâmica, sempre um bocado italiana, f-f-f-f-
Nunca ouviste passar o vento. f-f-f-f-...
O vento só fala do vento. O texto I foi escrito por Filipo Marinetti, fundador do
O que lhe ouviste foi mentira, futurismo, na década de 1910. Em 1929, Álvaro de
E a mentira está em ti. Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) dedicou-
lhe o poema transcrito no texto II.
159. a) Qual atitude de Marinetti que inspirou o poema de
Texto I Álvaro de Campos?
Não dormimos essa noite e, de madrugada, trepamos b) Qual a posição de Álvaro de Campos diante dessa
às portas das Academias, dos Museus, das Bibliote- atitude de Marinetti?
cas e das Universidades para escrever com o carvão c) Como o texto I auxilia a compreensão dessa po-
heróico das fábricas esta dedicatória (...): sição de Álvaro de Campos?

Capítulo 3
160. Unisa-SP 161. UEL-PR
Pode-se dizer que: As reações negativas do público à Semana de Arte
a) a Semana de Arte Moderna foi o ponto de encon- Moderna refletem:
tro de modernistas que vinham se manifestando a) a fixação do espírito brasileiro no propósito de
isoladamente, antes de 1922. menosprezo das criações nacionalistas.
b) as primeiras manifestações modernistas no Brasil b) a possibilidade do futuro fracasso do Modernismo
começaram a aparecer a partir da Semana de Arte como movimento estético literário.
Moderna.
c) a aversão dos autores em se comunicar com
c) o Modernismo no Brasil continua as experiências
o público presente no Teatro Municipal de São
e renovações propostas pelo Simbolismo.
Paulo.
d) o Modernismo no Brasil reage às manifestações
literárias do Simbolismo. d) a preferência pelas manifestações artísticas já
e) os participantes da Semana de Arte Moderna for- cristalizadas nas linhas do academicismo.
e) o pouco amadurecimento dos autores para pro-
PV2D-07-54

maram um grupo coeso e único até 1928, quando


aparece o grupo regionalista do Nordeste. postas de vanguarda.

209
162. PUC-RS b) Rejeição dos padrões portugueses, buscando
Todas as afirmativas a seguir relacionam-se ao Mo- uma expressão mais coloquial, próxima do falar
dernismo na sua primeira fase, exceto: brasileiro.
a) Os movimentos de vanguarda europeus, a bruta- c) Combate a tudo que indicasse o status quo, o
lidade da Primeira Guerra Mundial, dentre outros conhecido.
fatores, favoreceram a busca por uma estética d) Manutenção da temática simbolista e parnasiana.
desvinculada de quaisquer dogmatismos. e) Valorização do prosaico e do humor, que, em to-
b) No Brasil, os movimentos primitivistas foram uma das as suas gamas, lavou e purificou a atmosfera
resposta à busca da expressão nacional. sobrecarregada pelos acadêmicos.
c) A conjunção entre primitivismo do folclore e uni-
verso urbano foi uma possibilidade modernista. 166. UEL-PR
d) As inovações de ordem temática e formal per- Assinale a alternativa em que melhor se caracteriza a
mitiram a delimitação clara entre prosa e poesia Semana de Arte Moderna.
modernistas. a) Constituiu marco histórico-literário, ponto de partida
e) A paródia aos textos e estilos consagrados da literatu- para profundas modificações na arte brasileira.
ra brasileira é uma das possibilidades modernistas. b) Foi um movimento artístico ocorrido no Rio de
Janeiro, como conseqüência direta do conflito
163. mundial de 1914-1918.
Tome o texto de Manuel Bandeira como referência c) Foi um movimento literário que contou com vinte
para a questão a seguir. e dois artistas, daí o nome “Semana de 22”.
Andorinha d) Foi um marco histórico-literário, porque se consti-
Andorinha lá fora está dizendo: tuiu num movimento isento de influências estran-
– “Passei o dia à toa, à toa!” geiras.
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! e) Introduziu um movimento literário brasileiro,
Passei a vida à toa, à toa... embora sempre baseado em modelos estéticos
portugueses.
A comparação sugerida pelo autor com a andorinha
reflete: 167.
a) o desespero e a angústia diante da morte. A Semana de Arte Moderna representou, no panorama
b) o flagelo e a dor diante da catástrofe da vida de cultural da época:
ambos. a) a ruptura total com o passado artístico mais recen-
c) a angústia diante do sentimento de inutilidade do te, no qual nada permitia prevê-lo, daí a comoção
autor. que causou.
d) a alegria de poder estar vivo e saber que a vida b) o resultado da condensação de aspirações vagas,
teve algum sentido. ainda informes até então, mas perceptíveis nas
e) o desespero diante de uma vida de sofrimento e preferências do público em geral.
fadiga do autor. c) a congregação de tendências que, sob formas
várias e nas várias artes, vinham se delineando
164. FCC-SP desde a década anterior.
Participou da Semana de Arte Moderna, em São d) a reação aos ataques que os últimos parnasianos
Paulo, unindo-se aos representantes das letras e das dirigiam contra a obra incipiente dos primeiros
artes plásticas para fazer a renovação da música no modernistas.
Brasil. Musicou diversos poemas brasileiros modernos, e) a decorrência da reelaboração de recursos estilís-
inclusive de Manuel Bandeira. A base de sua música ticos presentes tanto na poesia parnasiana como
é o folclore nacional e em sua vasta obra prevalecem na simbolista.
obras-primas universalmente reconhecidas, como a
suíte O descobrimento do Brasil. 168. UFPE
O texto acima refere-se a: Enfunando os papos,
a) Francisco Mignone. Saem da penumbra,
b) Ary Barroso. Aos pulos, os sapos.
c) Villa-Lobos. A luz os deslumbra.
d) Camargo Guarnieri.
e) Alberto Nepomuceno. Em ronco que aterra
Berra o sapo-boi:
165. FEI-SP – Meu pai foi à guerra!
Assinalar a alternativa incorreta, quanto aos princípios – Não foi! – Foi! – Não foi!
básicos divulgados pelos participantes da Semana de
Arte Moderna. O sapo-tanoeiro,
a) Desejo de expressão livre e a tendência para Parnasiano aguado,
transmitir, sem os embelezamentos tradicionais do Diz – Meu cancioneiro
academismo, a emoção e a realidade do país. É bem martelado.

210
Vede como primo 171. ESPM-SP
Em comer os hiatos! “Antes fanhoso que sem nariz” – essa frase utilizada
Que arte! E nunca rimo por Macunaíma para consolar Jiguê, após o banho
Os termos cognatos. encantado, corresponde:
(...) a) a um ditado popular, significando para os parna-
Manuel Bandeira. Os sapos sianos grande contribuição à linguagem literária.
Leia o poema acima e analise as proposições inferidas b) a uma expressão recorrente ao longo da literatura,
do mesmo. sendo normal sua utilização em qualquer escola
1. Faz parte da fase parnasiana do poeta e exalta o literária.
movimento no qual se iniciou. c) a uma expressão idiomática, refletindo uma antiga
linguagem culta ou padrão, justificando assim sua
2. A preocupação dos parnasianos com detalhes
utilização e aplicação na literatura.
formais sem valor estético está afirmada na quarta
estrofe. d) a um dito popular, revelando a intenção do autor
em aproximar da literatura a linguagem prosaica.
3. A segunda estrofe procura repetir, com linguagem
onomatopaica, o coaxar dos sapos, comparando-o e) a uma gíria de época, estabelecendo um código
secreto para um grupo social restrito (no caso, os
à poesia parnasiana.
índios da tribo Tapanhumas).
4. Os versos transformam os sapos em símbolo da
natureza brasileira. 172. Mackenzie-SP
5. O poema marca o início da Semana de Arte
De leve
Moderna e por isso faz a apologia do Movimento
Feminista sábado domingo segunda terça quarta
Modernista.
quinta e na sexta lobiswoman
Ledusha
169. UFTM-MG
Considere os seguintes traços estilísticos.
A literatura das duas primeiras décadas do século XX
I. Forma sintética associada a uma sintaxe que
pode ser chamada “eclética” porque:
privilegia a frase nominal.
a) convivem, na época, diversas correntes estéti-
II. Aproveitamento de linguagem popular e de trocadilho.
cas.
III. Temática social tratada de forma irreverente.
b) estavam vivos os melhores poetas parnasianos.
Assinale:
c) há o domínio da prosa sobre a poesia.
a) se apenas I estiver presente no texto.
d) amadurecem as idéias que preparam o Modernis-
b) se apenas II estiver presente no texto.
mo.
c) se apenas III estiver presente no texto.
e) a prosa se volta para a problemática das regiões
d) se apenas II e III estiverem presentes no texto.
brasileiras.
e) se I, II e III estiverem presentes no texto.
170. Unifran-SP
173. UFRGS-RS
O Modernismo no Brasil revolucionou as normas
(...)
literárias, perdurando por várias décadas. Assinale a
O sapo-tanoeiro
alternativa que apresenta declarações concernentes
Parnasiano aguado,
a esse movimento.
Diz: – ‘Meu cancioneiro
a) Na primeira fase do movimento, surgiram grandes
É bem martelado…’
poetas, mas destaca-se especialmente o chamado
(...)
“Romance Revolucionário” ou “Romance Moder-
nista”. O poema Os sapos, de Manuel Bandeira, pertence ao
primeiro momento do Modernismo brasileiro, em que
b) Oswald de Andrade, escritor e poeta paulista, foi ocorreu uma tomada de posição contra:
um dos autores mais marcantes da segunda fase.
a) a expressão de sentimentos, o culto de temas clás-
Seu texto foi dos mais inovadores e corrosivos da sicos, a atitude impessoal e erudita do poeta.
estética regionalista.
b) a interferência emocional do poeta, a linguagem
c) A primeira fase do movimento foi marcada pela classicizante, as rimas ricas.
desintegração da linguagem tradicional devido c) o culto de rimas ricas, o metro perfeito, a expressão
à busca da expressão regional e à adoção das classicizante.
conquistas de vanguarda. d) a ênfase oratória, as atitudes sentimentais, a
d) Apesar das inovações, esse movimento prendeu- poesia pessoal.
se à concepção tradicional de literatura, esquecen- e) a poesia de expressão pessoal, a linguagem me-
do a história da atualidade e fixando-se em valores nos rigorosa, a ausência de rimas.
do passado. Texto para as questões 174 e 175.
e) Esse movimento foi iniciado com a Semana de Arte A propósito da exposição de Malfatti.
Moderna em 1922, englobando várias artes: litera- Há duas espécies de artistas. Uma composta
PV2D-07-54

tura, música, pintura e escultura. O pólo principal dos que vêem normalmente as coisas e em conse-
foi o Rio de Janeiro, na época, já um florescente qüência disso fazem arte pura, guardando os eternos
parque industrial. ritmos da vida (...). A outra espécie é formada pelos
211
que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na c) No segundo parágrafo, a crítica de arte feita na
à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de época é avaliada com mágoa e ressentimento.
escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da d) No segundo parágrafo, confirma-se o talento de
cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sa- Malfatti, então relacionado à arte pura.
dismo de todos os períodos de decadência: são frutos e) A expressão adjetivos “bombons” (linha 14) afasta
de fins de estação, bichados ao nascedouro. qualquer crítica negativa em relação à Malfatti.
(...) Se víssemos na Sra. Malfatti apenas uma “moça
que pinta”, como há centenas por aí, sem denunciar cen- 175.
telha de talento, calar-nos-íamos, ou talvez lhe déssemos Assinale a alternativa incorreta.
meia dúzia desses adjetivos “bombons”, que a crítica a) O verbo haver (linha 1) empregado impessoalmen-
açucarada tem sempre à mão em se tratando de moças. te reforça o caráter universal das afirmações.
b) Na linha 6, estrábica, adjunto adnominal de su-
174. gestão, enfatiza a avaliação pejorativa.
Assinale a alternativa correta. c) Na linha 7, escolas rebeldes ilustra a visão de
a) O advérbio cá (linha 7) aponta para um espaço próximo decadência da arte.
de quem está falando – espaço onde também surgem d) Com crítica açucarada (linhas 14 e 15) o autor
furúnculos da cultura excessiva (linhas 7 e 8). caracteriza seu próprio texto.
b) A oposição pureza / impureza está implícita ape- e) O normal é apresentado como desejável; o anor-
nas no primeiro período do primeiro parágrafo. mal, repudiável.

176. UFF-RJ
Texto I

212
Texto II

O Globo, 30/05/2003

Algumas temáticas e estéticas de escolas literárias (a presença da natureza, o “eu lírico”, a idealização, o
humor, a desconstrução lingüística, o cultivo da forma) podem ser retomadas sob um novo modo de dizer – de
forma crítica, irônica, caricatural...
Justifique, exemplificando com material dos textos, um possível entendimento de uma releitura do Romantismo e/ou
do Parnasianismo em Hagar, o Horrível (texto I) e de uma releitura do Modernismo em Radical chic (texto II).

177. UEL-PR
Assistimos então a um afastamento de Tarsila da estrutura cubista. A direção que a seduz agora é o surrealismo,
mas não necessariamente a escola. [...] Ocorre na obra de Tarsila uma libertação quase anarquista do incons-
ciente. É a fase em que a artista alcança uma expressão solta e livre, onde o político fica menos explícito.
JUSTINO, Maria José. O banquete canibal. Curitiba: Editora da UFPR, 2002, p. 84.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que pertencem à fase descrita no
texto apenas as imagens:
a) I e III.
b) I e IV.
c) II e III.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.
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213
178. UFPE ( ) O engajamento político está entre as linhas básicas
“Liberdade, ainda que à tardinha” é parte de uma peça do projeto modernista de 22, assim como a desin-
publicitária que utiliza a paródia de uma frase históri- tegração das linguagens tradicionais, a adoção das
ca. Esse recurso, além de outros que valorizavam a conquistas de vanguarda e a busca da identidade
liberdade de expressão, tiveram ampla divulgação com nacional.
o Modernismo. Identifique alguns desses recursos, ( ) Oswald de Andrade escreveu os textos mais cor-
relacionado-os aos textos numerados a seguir. rosivos da estética modernista, como Memórias
1. Beba coca cola sentimentais de João Miramar, Serafim Ponte
Babe cola Grande e Macunaíma.
Beba coca ( ) Mário de Andrade, um talento plural, publicou,
Beba cola caco em 1922, Paulicéia Desvairada (“São Paulo,
Caco cola comoção da minha vida!”), obra que marcou seu
Cloaca amadurecimento como poeta/escritor, seguida dos
livros de poesia Losango Cáqui e Clã do Jabuti e
2. Para dizerem milho dizem mio de obras de ficção, entre as quais, Amar, verbo
Para melhor dizem mió intransitivo.
Para pior dizem pió
Para telhado dizem teiado 180.
E vão fazendo telhados. Leia o poema abaixo e, a seguir, responda às questões.
Vício na fala
3. (...) Minha terra tem palmares Para dizerem milho dizem mio
Onde gorjeia o mar Para melhor dizem mió
Os passarinhos daqui Para pior pió
Não cantam como os de lá Para telha dizem teia
(...) Para telhado dizem teiado
4. Dentaduras duplas E vão fazendo telhados
Oswald de Andrade
Inda não sou bem velho
Para merecer-vos... a) Pode-se dizer que há metalinguagem no poema
acima?
Há que contentar-me
b) Indique duas características que comprovem que
Com uma ponte móvel
o texto é do Modernismo.
e esparsas coroas. (...)
5. o mercado negro o racionamento, as montanhas de 181. UCP-PR
metal velho o italiano assassinado na praça João Baseando-se no trecho a seguir, responda às questões
Lisboa o cheiro de pólvora dos canhões alemães... obedecendo ao código.
( ) paródia
Trem de ferro
( ) valorização da linguagem coloquial e popular.
Café com pão
( ) incorporação de elementos prosaicos e vulgares Café com pão
como temas poéticos. Café com pão
( ) enumeração caótica de palavras em períodos sem Virge Maria que foi isto maquinista?
nexo aparente. Manuel Bandeira
( ) ordenação não-linear do poema, com valorização I. A significação do texto provém da sugestão sonora.
dos efeitos visuais e sonoros.
II. O poeta utiliza expressões da fala popular brasi-
A seqüência correta é:
leira.
a) 3, 2, 4, 5, 1 d) 3, 1, 2, 5, 4
III. A temática e a estrutura do poema contrariam o
b) 2, 4, 5, 1, 3 e) 1, 2, 3, 4, 5 programa poético do Modernismo.
c) 3, 4, 1, 5, 2
a) Se I, II e III forem corretas.
179. UFPE b) Se I e II forem corretas e III incorreta.
A Semana de Arte Moderna de 22 teve como ideali- c) Se I, II e III forem incorretas.
zadores e realizadores dois paulistas com igual so- d) Se I for incorreta e II e III corretas.
brenome e sem nenhum parentesco. Oswald e Mário e) Se I e II forem incorretas e apenas III correta.
de Andrade. Sobre a Semana de Arte Moderna de 22,
podemos afirmar: 182. UFPE (modificado)
( ) A Semana de Arte Moderna foi realizada sob o Escreva nos parênteses a letra (V) se a afirmativa for
domínio das doutrinas européias mal assimiladas verdadeira e (F) se for falsa.
e significou, apesar disso, o atestado de óbito da A 29 de Janeiro de 1922, O Estado de S. Paulo
arte dominante. noticiava:
( ) Faltou aos modernistas de 22 maior empenho social Por iniciativa do festejado escritor, Sr. Graça Aranha,
e, maior compromisso com a angústia do tempo, haverá em São Paulo uma Semana de Arte Moderna,
pois eles colocaram a renovação estética acima em que tomarão parte os artistas que, em nosso meio,
da renovação do espírito. representam as mais modernas correntes artísticas.
214
( ) O Primitivismo nacionalista da Antropologia e do 16. Valorização do cotidiano; uso da descrição deta-
Verde-Amarelismo foi a primeira diversificação, em lhada. (Texto B)
correntes, do Modernismo. 32. Ironia; valorização do eu lírico. (Texto C)
( ) Logo após a Semana de que fala o texto, nas Some os números dos itens corretos
revistas do movimento (Klaxon e Estética) come-
çaram-se a vislumbrar as primeiras tendências dos 184. Cesgranrio-RJ
autores de então.
Cobra Norato
( ) Oswald de Andrade e Raul Bopp pretenderam um
retorno às raízes primitivas, autênticas e selvagens Um dia
de nossa nacionalidade. Seu lema era Tupy or not eu hei de morar nas terras do Sem-fim
Tupy, that is the question.
( ) Menotti del Pichia e Plínio Salgado focalizaram as Vou andando caminhando caminhando
fontes nacionalistas, na valorização da raça, do Me misturo no ventre do mato mordendo raízes
sangue e dos heróis nacionais.
Depois
( ) A Semana reuniu jovens modernistas numa expo-
faço puçanga de flor de tajá de lagoa
sição de arte literária, plástica, musical e de dança,
e mando chamar a Cobra Norato
mas não pode ser considerada como início oficial
do Modernismo brasileiro.
– Quero contar-te uma história
Vamos passear naquelas ilhas decotadas?
183. UFBA
Faz de conta que há luar
O Modernismo apresenta três momentos diversos,
exemplificados nos textos A, B e C. A noite chega mansinho
Texto A Estrelas conversam em voz baixa
“Um gatinho faz pipi. Brinco então de amarrar uma fita no pescoço
Com gestos de garçon de restaurant-Palace e estrangulo a Cobra.
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Agora sim
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
me enfio nessa pele elástica
– É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.”
e saio a correr o mundo
Texto B Vou visitar a rainha Luzia
“O inventor das máquinas que mudam a vida da terra
trabalha na bruta sala de cimento armado. Quero me casar com sua filha
Tantos dínamos, êmbolos, cilindros mexem na- - Então tem que apagar os olhos primeiro
quela cabeça O sono escorregou nas pálpebras pesadas
que ele não escuta o barulho macio Um chão de lama rouba a força dos meus pés
das almas penadas Raul Bopp, Cobra Norato e outros poemas.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1973, pp. 5-6
esbarrando no móveis.”
Texto C Na minha terra, no bulir do mato,
“Na paisagem do rio A juriti suspira:
difícil é saber E como o arrulo dos gentis amores,
onde começa o rio; São os meus cantos de secretas dores
No chorar da lira.
onde a lama
começa do rio;
De tarde a pomba vem me gemer sentida
onde a terra À beira do caminho;
começa da lama; – Talvez perdida na floresta ingente
onde o homem, A triste geme nessa voz plangente
onde a pele Saudades do seu ninho.
começa da lama; Trecho de Juriti, de Casimiro de Abreu.
onde começa o homem
naquele homem.” O Modernismo incorporou várias conquistas da poética
romântica. Confrontando o poema de Raul Bopp ao de
Há correspondência entre as características apresen- Casimiro de Abreu, assinale a opção em que o traço
tadas e o texto indicado em: apontado não revela tal influência:
01. Cosmovisão e universalismo; linguagem conotativa a) Busca de fontes populares da cultura brasileira.
sensorial. (Texto A) b) Visão ingênua, próxima da ótica da infância.
02. Atitude crítica frente ao capitalismo; atenção para c) Realce dado à fantasia e às emoções.
os paradoxos do mundo. (Texto B) d) Individualismo exacerbado, com ênfase na primeira
04. Preocupação com o destino do homem; apuro pessoa gramatical.
PV2D-07-54

formal. (Texto C) e) Maior liberdade formal frente às normas da poética


08. Antiacademicismo; irreverência. (Texto A) clássica.

215
185. Unirio-RJ c) No período do Neo-Simbolismo de 1930, acen-
2ª- Ladainha tua-se a observação da realidade externa, em
(Fragmento) detrimento da interna.
Por que o raciocínio, d) Nos anos 1940, o amadurecimento da renovação
Os músculos, os ossos? temática e a busca de naturalidade da linguagem
A automação, ócio dourado, ficcional dão nova feição ao regionalismo.
O cérebro eletrônico, o músculo e) Na década de 1970, nota-se uma pluralidade de
Mecânico tendências, indo desde a alegoria e o fantástico
mais fáceis que um sorriso. ao ultra-realismo e à literatura-verdade (romance-
reportagem, por exemplo).
Por que o coração?
O de metal não tornará o homem 188. UFV-MG
Mais cordial, Fazendo um paralelo entre Romantismo e Modernis-
Dando-lhe um ritmo extracorporal? mo, assinale a alternativa falsa.
Cassiano Ricardo a) Autores românticos e modernistas expressam a
realidade por meio dos sentimentos, enfatizando
O texto, quanto ao sentido, só não:
a idealização da natureza brasileira.
a) valoriza o sentimento em detrimento da mecani-
b) Autores românticos como José de Alencar e alguns
zação.
modernistas denominados verde-amarelistas,
b) enfatiza a supremacia da máquina. como Cassiano Ricardo, preocupados com a iden-
c) questiona os valores no mundo moderno. tidade cultural brasileira, procuram criar a imagem
d) critica a importância dada à máquina. de uma raça brasileira heróica.
e) ironiza a condição humana. c) Escritores românticos e modernistas demonstram
consciência da necessidade de se criar uma lite-
186. UFF-RJ ratura que traduzia a realidade brasileira.
Assinale o fragmento que representa uma avaliação d) Escritores românticos e modernistas utilizam o
modernista de personagem literário romântico. indianismo como elemento definidor da nacionali-
a) O sangue português, em poderoso rio, deverá dade brasileira.
absorver os pequenos confluentes das raças índia e) Românticos e modernistas reaproveitam lendas e
e etiópica. (Carlos Frederico Ph. de Martius) mitos da cultura popular brasileiro.
b) Seria injusto, entretanto, considerar os índios como
depravados; eles não têm nenhuma idéia moral 189. PUC-MG
dos direitos e dos deveres. (Rugendas) “Meu coração estrala...
c) A piedade, a minguarem outros argumentos de maior Que imagem sem verdade,
valia, deverá ao menos inclinar a imaginação dos ... Porém não tive idéia de mentir...
poetas para os povos que primeiro beberam os ares Foram os nervos, a alma?
destas regiões, consorciando na literatura os que a Que quer dizer estralo!
fatalidade da história divorciou. (Machado de Assis) Nem ao menos sou padre Vieira...
d) Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval. O Ôh dicionário pequitito!...“
índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. O texto anterior vincula-se ao estilo de época Moder-
Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons nismo porque:
sentimentos portugueses. (Oswald de Andrade) a) apresenta um eu-lírico sentimental.
e) O protagonista, o mulato Raimundo, ignora a b) mostra despreocupação com a linguagem formal.
própria cor e a condição de filho de escrava: não
c) discute aspectos revolucionários.
consegue entender as reservas que lhe faz a alta
d) convida o leitor a questionar-se.
sociedade de São Luís, a ele que voltara doutor
da Europa. (Alfredo Bosi) e) brinca com os sentimentos do leitor.

187. Cesgranrio-RJ 190. UEL-PR


Ao longo da literatura brasileira, percebe-se, de forma Na primeira fase do Modernismo no Brasil:
recorrente, a tematização da paisagem/realidade a) impuseram-se os nomes pioneiros de Monteiro
local. Lobato, Euclides da Cunha e Coelho Neto.
Tendo em vista a produção literária do século XX, as- b) Firmou-se uma nova tendência do romance regiona-
sinale a opção em que a tendência indicada para cada lista, com Graciliano Ramos e José Lins do Rego.
período apresentado a seguir não esteja correta. c) propuseram-se idéias e obras revolucionárias,
a) Na fase pré-modernista, no ínicio do século, uma como Macunaíma e Memórias sentimentais de
literatura frívola, com atmosfera Belle Époque, João Miramar.
convive com outra, voltada para problemas regio- d) promoveu-se o surgimento de ficcionistas renova-
nais. dores, mas em nada foi afetada a linguagem dos
b) Na primeira fase do Modernismo, há o registro da poetas.
vida das grandes cidades, com destaque para São e) propicionou-se a renovação da literatura, não
Paulo, por influência do grupo paulista. ocorrendo o mesmo com a música e a pintura.
216
191. UFSM-RS a) Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Mário de
Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivin- Andrade.
dicações obreiras, idealismo, motores, chaminé de b) Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e Cas-
fábricas, sangue, velocidade, sonho, na nossa Arte! siano Ricardo.
O trecho reflete características vanguardistas que c) Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel
foram reproduzidas por um período da literatura bra- Bandeira.
sileira. Assinale a alternativa que associa corretamente d) Raul Bopp, Alcântara Machado e Manuel Bandei-
o período e a vanguarda em questão. ra.
a) Parnasianismo – Expressionismo e) Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo e Mário de
b) Simbolismo – Decadentismo Andrade.
c) Modernismo – Dadaísmo
196. Mackenzie-SP
d) Modernismo – Futurismo
I. Seja qual for o lugar em que se ache o poeta, ou
e) Simbolismo – Surrealismo
apunhalado pelas dores, ou ao lado de sua bela,
192. Unirio-RJ embalado pelos prazeres; no cárcere, como no
palácio; na paz, como sobre o campo da batalha,
Em relação ao Modernismo, podemos afirmar que, em
se ele é verdadeiro poeta, jamais deve esquecer-
sua primeira fase, há:
se de sua missão, e acha sempre o segredo de
a) maior aproximação entre a língua falada e a escrita, encantar os sentidos, vibrar as cordas do coração,
valorizando-se literariamente o nível coloquial. e elevar o pensamento nasasas da harmonia até
b) pouca atenção ao valor estético da linguagem, as idéias arquétipas.
privilegiando o desenvolvimento da pesquisa II. Por isso, corre, por servir-me,
formal.
Sobre o papel
c) grande liberdade de criação, mas expressão pobre.
A pena, como em prata firme
d) reconquista do verso livre.
Corre o cinzel.
e) ausência de inspiração nacionalista.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
193. Unitau-SP A idéia veste:
O Romantismo está para o Modernismo, assim Cinge-lhe o corpo a ampla roupagem
como: Azul-Celeste
a) Senhora está para A Carne. Torce, aprimora, alteia, lima
b) Inocência está para A escrava Isaura. A frase; e, enfim,
c) Inocência está para Macunaíma. No verso de ouro engasta a rima,
d) A Moreninha está para O Cortiço. Como um rubim.
e) Quincas Borba está para Macunaíma. III. Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
194. ITA-SP Do lirismo funcionário público com livro de ponto
Não há temas poéticos. Não há épocas poéticas. O que expediente protocolo e manifestações de apreço
realmente existe é o subconsciente enviando à inteli- ao Sr. diretor.
gência telegramas e mais telegramas (...) A inspiração Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no
parece um telegrama cifrado, que a atividade incons- dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
ciente envia à atividade consciente, que o traduz.
Os trechos anteriores expõem idéias defendidas por
Esse trecho, de importante ensaio de _______, revela diferentes movimentos literários. Aponte a alternativa
nítida semelhança com as propostas de um dos movi- em que aparecem, respectivamente, os nomes dos
mentos de vanguarda europeu, ________. mesmos.
a) Oswald de Andrade – o futurismo a) Arcadismo – Parnasianismo – Romantismo
b) Graça Aranha – o cubismo b) Romantismo – Parnasianismo – Modernismo
c) Haroldo de Campos – o concretismo c) Barroco - Romantismo – Parnasianismo
d) Mário de Andrade – o surrealismo d) Romantismo – Arcadismo – Modernismo
e) Décio Pignatari – a poesia Práxis e) Parnasianismo – Barroco – Romantismo

195. Mackenzie-SP 197. Mackenzie-SP


I. “Está fundado o desvairismo.“ No início do século XX, várias tendências estéticas
II. “Tupi or not Tupi, that is the question.“ surgiram na Europa e influenciaram o Modernismo
III. “Não quero mais saber do lirismo que não é liber- brasileiro.
tação.“ Não faz parte delas o:
Os períodos acima expressam idéias próprias da a) dadaísmo. d) cubismo.
primeira geração modernista. b) expressionismo. e) determinismo.
PV2D-07-54

Seus autores são, respectivamente: c) futurismo.

217
198. Mackenzie-SP c) seria um acontecimento de cunho eminentemente
I. Minha terra tem palmares, nacionalista, sem nenhuma ligação com tendên-
Onde gorjeia o mar cias ou movimentos que não fossem integralmente
gerados no Brasil.
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá. d) a Semana ratificaria as premissas do direito à pes-
quisa estética, disseminada em tantas expressões
(literatura, música, pintura, escultura) quantas
II. Quando o português chegou
fossem as dos participantes do movimento.
Debaixo duma bruta chuva
e) teria como figuras de proa os nomes de Victor
Vestiu o índio
Brecheret, Anita Malfatti, Oswald de Andrade e
Que pena! Rui Barbosa.
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido 201. UFRGS-RS
O português Assinale a alternativa incorreta.
a) Oswald de Andrade, autor do Manifesto Antropó-
III. Não bebo pinga fago, de 1928, compôs também o Manifesto da
Não bebo nada Poesia Pau-Brasil, que discute concepções sobre a
Bebo sereno da noite linguagem poética, a modernização e a cor local.
Orvaio da madrugada! b) Mário de Andrade dedicou-se à renovação da fic-
ção e da poesia, escrevendo também manifestos,
Sobre os três trechos, afirma-se que pertencem a um prefácios e livros sobre o Brasil, a respeito dos
mesmo poeta brasileiro:
mais variados assuntos.
a) da primeira geração modernista, que denuncia
satiricamente mazelas brasileiras. c) As propostas do Modernismo, receptivas às dife-
rentes linguagens artísticas, pretenderam discutir
b) que brinca com experimentos lingüísticos e é
os padrões estéticos e culturais brasileiros.
receptivo às vanguardas européias.
c) que utiliza uma língua coloquial solta, com objeti- d) O Modernismo, embora aberto à linguagem
vos satíricos. coloquial, não se opôs aos padrões poéticos e
d) que subverte a ideologia da seriedade, como está narrativos já consagrados desde o Romantismo.
demonstrado desde a paródia do texto I. e) Os poetas das diferentes tendências do Moder-
e) autor do Manifesto Antropófago, cuja frase – Contra nismo contribuíram para a inovação formal e
as elites vegetais. Em comunicação com o solo temática da poesia brasileira, que posteriormente
– contradiz os valores veiculados por esses mes- se aproximou da canção popular.
mos textos.
202. Vunesp
199. UEL-PR Quais destes fragmentos resumem propostas do Mo-
dernismo brasileiro?
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei
do Antropófago. I. “A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e
neológica. A contribuição milionária de todos os
O fragmento acima é um dos muitos que compõem um
erros. Como somos.”
importante manifesto modernista, no qual:
II. “Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria,
a) Oswald de Andrade proclama a supremacia criativa
afilhado de Catarina de Médicis e genro de D.
do nosso primitivismo sobre a cultura européia.
Antônio de Mariz.”
b) Monteiro Lobato reage violentamente contra uma
III. “A pena é um pincel.”
exposição de quadros de Anita Malfatti.
“Eu limo sonetos engenhosos e frios”.
c) Mário de Andrade busca definir aspectos técnicos
IV. “Nomear um objeto significa suprimir as três quartas
da nova estética.
partes do gozo de uma poesia, que consiste no prazer
d) Cassiano Ricardo assinala sua adesão ao nacio-
de adivinhar pouco a pouco. Sugerir, eis o sonho.”
nalismo de características ufanistas.
V. “A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão
e) Manuel Bandeira abandona o estilo neo-simbolista
e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabra-
e proclama seu lirismo coloquial.
lino, são fatos estéticos.”
200. UFV-MG a) I, III e IV. d) I, II e V.
O Modernismo brasileiro eclodiu com a Semana de b) II, III e IV. e) II, IV e V.
Arte Moderna, em 1922. Sobre o movimento, somente c) I, II e III.
podemos afirmar que:
a) os artistas brasileiros queriam formalizar uma 203. Vunesp
grande manifestação para consagrar os ideais Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economica-
clássicos, expressos através do Parnasianis- mente. Filosoficamente.
mo. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos
b) a intelectualidade brasileira, de fato, já estava os individualismos, de todos os coletivismos. De todas
tomando rumos diversos daqueles presentes no as religiões. De todos os tratados de paz.
século XIX, porém a tendência da poesia era a de Tupi, or not tupi, that is the question.
permanecer melancólica e saudosista. Fragmento do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade

218
Analisando as idéias contidas nesses fragmentos, ( ) No Simbolismo, o lirismo é altamente objetivo,
assinale a única alternativa que julgar incorreta. apresentando cunho político-social.
a) O Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade ( ) Os textos do Modernismo apresentam, além de lin-
articula-se ao movimento antropófago do Moder- guagem cotidiana e dinâmica, frases despojadas.
nismo brasileiro, cuja expressão máxima se deu A alternativa que apresenta a seqüência correta, de cima
em Macunaíma, de Mário de Andrade. para baixo, é:
b) Em Tupi or not tupi, that is the question, está implí- a) V, F, F, V d) F, F, V, V
cita a crítica ao espírito de nacionalidade, falseado
b) V, V, F, F e) V, F, V, V
pelo estrangeirismo exacerbado entre nós, até os
adventos do Modernismo. c) V, V, F, V
c) Ainda nos fragmentos citados, deve-se entender 206. Vunesp
não a aversão à cultura européia, mas a dialética
Relâmpago
de conjunção das raízes nacionais à cultura euro-
péia. O onça pintada saltou tronco acima que nem um
d) A leitura dos três fragmentos acaba por desvendar relâmpago de rabo comprido e cabeça amarela:
a crítica à cultura brasileira, que não estaria muito Zás!
distante do primitivismo antropofágico. Mas sua flecha ainda mais rápida que o relâmpago
e) O Manifesto Antropófago propõe a mobilidade fez rolar ali mesmo
cultural advinda da mobilidade do pensamento e aquele matinal gatão elétrico e bigodudo
dos valores do homem em sociedade. que ficou estendido no chão feito um fruto de cor
que tivesse caído de uma árvore!
204. UFG-GO in RICARDO, Cassiano. Martim Cererê, 6ª ed.
São Paulo: Comp. Ed. Nacional, 1938.
Nos contos “Vestida de preto”, “O peru de natal”;
O livro Martim Cererê (1928) é um dos mais repre-
“Frederico Paciência” e “Tempo da camisolinha”, do
sentativos da fase nacionalista, verdeamarelista,
livro Contos novos, de Mário de Andrade, o aspecto
de Cassiano Ricardo. Em cada poema dessa obra
nuclear que os aproxima é:
encontramos, explícita ou implicitamente, a presença
a) o recurso à introspecção. de temas e formas populares, bem como alusões a
b) a temática da religiosidade. fatos da nacionalidade.
c) o tempo da vida escolar. Com base na leitura de Relâmpago, aponte:
d) a ação de ritmo linear. a) a presença implícita de um elemento básico na
e) o apelo à evasão. formação étnica brasileira;
b) dois vocábulos ou expressões que retratem o falar
205. Udesc cotidiano brasileiro.
Leia atentamente os textos a seguir.
I. Quando será que tantas almas duras 207. Vunesp
Em tudo, já libertas, já lavadas Com base no poema Relâmpago, da questão anterior,
Nas águas imortais, iluminadas aponte duas características da literatura modernista
Do sol do amor, hão de ficar bem puras? brasileira.
Quando será que as límpidas frescuras
208. Unicamp-SP
Dos claros rios de ondas estreladas
Doze anos
Dos céus do bem, hão de deixar clareadas
Chico Buarque
Almas vis, almas vãs, almas escuras?
Ai, que saudade que eu tenho
Cruz e Souza. Poesias Completas. São Paulo: Ediouro, s/d, p. 93.
Dos meus doze anos
II. Não acredito em bicho maligno mas besouro, Que saudade ingrata
não sei não. Olhe o que sucedeu com a Rosa... Dar banda por aí
Dezoito anos. E não sabia que os tinha. Ninguém Fazendo grandes planos
reparara nisso. Nem dona Carlotinha, nem dona E chutando lata
Ana, entretanto já velhuscas e solteironas, ambas Trocando figurinha
quarenta e muito. Rosa viera pra companhia delas Matando passarinho
aos sete anos quando lhe morreu a mãe. Morreu Colecionando minhoca
ou deu a filha que é a mesma coisa que morrer. Jogando muito botão
Os melhores contos de Mário de Andrade. São Paulo: Global, 1988 Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Em relação aos fragmentos apresentados, assinale
com V as proposições verdadeiras e com F as falsas. Ai, que saudades que eu tenho
( ) Por suas características estilísticas, os versos de Duma travessura
Cruz e Sousa pertencem ao Simbolismo e o texto O futebol de rua
de Mário de Andrade, ao Modernismo. Sair pulando muro
( ) O Simbolismo brasileiro apresenta conteúdo Olhando fechadura
PV2D-07-54

carregado de mistério, misticismo, sonoridade e E vendo mulher nua


espiritualidade. Comendo fruta do pé

219
Chupando picolé b) confirma uma alternância entre o espaço individual
Pé-de-moleque, paçoca e o coletivo.
E disputando troféu c) sugere atitudes banais reproduzidas em diversos
Guerra de pipa no céu espaços públicos.
Concurso de piroca d) expressa uma perspectiva de mudança ligada ao
a) Doze anos, de Chico Buarque de Hollanda, dialoga movimento social.
com outra poesia, muito conhecida, que desde há
muito faz parte da memória nacional. Que poesia 210. UERJ
é essa e quem é seu autor?
O poema é divisível em dois segmentos cujos temas
b) Pelos recursos formais utilizados e pelas situações são a sala e a rua.
evocadas, Doze anos pode ser enquadrado na Considerando o sentido geral do texto, o contraste
estética inaugurada pelo Modernismo. Aponte,
entre esses ambientes é definido por:
no texto, pelo menos duas dessas características
formais e duas dessas situações. a) elite x povo
c) Transcreva e explique um par de versos que sin- b) ordem x caos
tetize as contradições da adolescência. c) passado x futuro
d) passividade x participação
Texto para as questões 209 e 210.
Sala de espera 211. UFAM
(Ah, os rostos sentados Um dos principais nomes do Modernismo brasileiro,
numa sala de espera. Mário de Andrade estreou em poesia em 1917, com um
Um Diário Oficial sobre a mesa. livro de feição tradicional intitulado _____________.
Uma jarra com flores. Porém, em 1922, no ano mesmo da Semana de Arte
A xícara de café, que o contínuo Moderna, deu um grande salto qualitativo com os
vem, amável, servir aos que esperam a audiência versos de _____________, livro que causou grande
marcada. impacto sobre seus contemporâneos.
a) Lira paulistana – Paulicéia desvairada
Os retratos em cor, na parede,
b) Remate de males – Lira paulistana
dos homens ilustres
que exerceram, já em remotas épocas, c) Há uma gota de sangue em cada poema – Paulicéia
o manso ofício desvairada
de fazer esperar com esperança. d) Remate de males – Paulicéia desvairada
E uma resposta, que será sempre a mesma: só e) Há uma gota de sangue em cada poema – Lira
amanhã. paulistana
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre
adiados 212. UFS-SE
e sentados De Mário de Andrade pode-se dizer que:
numa sala de espera.)
a) escreveu, além de poesia, ficção e ensaio, várias
Mas eu prefiro é a rua. peças de teatro.
A rua em seu sentido usual de “lá fora”. b) é autor de Memórias sentimentais de João Mi-
Em seu oceano que é ter bocas e pés ramar, eloqüente realização de seu talento de
para exigir e para caminhar. prosador.
A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo. c) se interessou pela poesia concretista, da qual foi
Rua do homem como deve ser: um dos principais representantes.
transeunte, republicano, universal.
d) soube conjugar uma vida de intensa criação lite-
Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros rária com o estudo apaixonado da música.
do que de si mesmo. e) usou na sua obra em geral a simbologia da men-
Rua da procissão, do comício, sagem bíblica.
do desastre, do enterro.
Rua da reivindicação social, onde mora 213. Fatec-SP
o Acontecimento. A respeito de Mário de Andrade, é correto afirmar-se que:
a) foi um dos principais representantes da primeira fase
A rua! uma aula de esperança ao ar livre. do Modernismo, conhecida como fase heróica, nos
RICARDO, Cassiano. Antologia poética.
Rio de Janeiro: Editora do Autor,1964 anos 1940, mas sua produção supera essas primei-
ras tendências que atacam o academicismo.
209. UERJ b) uma de suas mais marcantes preocupações estilís-
Sentados ticas consiste em transpor, para o literário, o ritmo,
Numa sala de espera. o léxico e a síntese coloquiais, o que é possível
O emprego repetido dessa cena no início e no término observar em obras como Os contos de Belazarte
da caracterização da sala de espera contribui para a e Macunaíma, por exemplo.
construção do sentido do texto porque: c) sua obra, marcadamente poética, apresenta também
a) reforça a idéia de confinamento oposta à liberdade crônicas, como se observa em Flor nacional, mas res-
da rua. sente-se da ausência de uma produção contística.
220
d) Macunaíma – O herói sem nenhum caráter é a 216. Mackenzie-SP
sua obra mais conhecida e nela se evidencia uma Assinale a afirmativa correta.
temática que não reaparece no conjunto de sua a) Ao revelar seus sentimentos nos dois primeiros
produção: a busca da identidade nacional. versos, o eu lírico identifica-se com os trovadores
e) de Paulicéia desvairada a Amar, verbo intransitivo, medievais.
suas obras poéticas consideradas maduras, é b) Na segunda estrofe, o eu lírico manifesta seu modo
possível localizar uma preocupação temática que
de ser sarcástico.
se mantém: o poeta que afirma despedaçamento,
como se verifica em seu verso: Eu sou trezentos. c) O eu lírico critica o temperamento do homem
brasileiro, caracterizando-o como primitivo.
214. Mackenzie-SP d) Identificando-se com um tupi, o eu lírico condena
Assinale a afirmação correta sobre Mário de Andrade. a miscigenação que caracterizou a formação do
a) Inovou a poesia brasileira, buscando uma expressão povo brasileiro.
objetiva para a idealização do passado nacional. e) A imagem do último verso comprova o modo de
b) Influenciado pelos futuristas, fragmentou o verso ser contraditório do eu lírico.
com o uso de frases nominais, evitando o uso de
217. Mackenzie-SP
qualquer recurso poético tradicional.
c) Em consonância com ideais modernistas, seu Assinale a afirmativa correta.
repertório temático contemplou, em especial, a a) A linguagem inovadora dos versos, utilizada para
questão da identidade nacional. a expressão de temática bucólica, produz efeito
d) Apesar de assumidamente modernista, não conse- irônico.
guiu superar a tendência à subjetividade, de forte b) Trata-se de um texto lírico, composto de acordo
tradição parnasiana. com os padrões estéticos regulares que sempre
e) Avesso ao uso de neologismos e construções inusita- caracterizaram a poesia brasileira.
das, rejeitou as inovações da vanguarda européia. c) Com seu tom confessional e emotivo, o texto exem-
plifica o lirismo romântico de temática indianista.
215. UEL-PR d) Sua linguagem prosaica e coloquial recupera a elo-
Diz Mário de Andrade: Geralmente os poetas moder- qüência típica dos poemas de temática ufanista.
nistas escrevem poemas curtos. e) O poema, composto de versos livres e brancos,
Isso se deve ao fato de que o poema curto, para os explora recursos de efeito musical, como aliteração
modernistas, é: e assonância.
a) decorrente da depressão que domina o poeta Texto para as questões 218 e 219.
moderno, por força das realidades hostis que vive Duas horas da manhã. Vejo esta cena.
e que lhe roubam a faculdade de expressão.
No leito grande, entre bordados, dormem marido
b) conseqüência de uma época caótica, fragmentária, e mulher. As brisas nobres de Higienópolis entram
sobre cujo estado de coisas nada há para ser feito. pelas venezianas, servilmente aplacando os calores
c) originária da confessada falta de inspiração e mes- de verão.
mo da má vontade dos modernistas da primeira Dona Laura, livre o colo das colchas, ressona boca
geração em face da poesia. aberta, apoiando a cabeça no braço erguido. Braço
d) uma forma deliberada de ironizar os longos textos largo, achatado, nu. A trança negra flui pelas barrancas
poéticos, que se tornaram moda literária a partir moles do travesseiro, cascateia no álveo dos lençóis.
do Romantismo. Concavamente recurvada, a esposa toda se apoia
e) resultado inevitável da época: decorrente da pró- no esposo dos pés ao braço erguido. Sousa Costa
pria velocidade da vida moderna. completamente oculto pelas cobertas, enrodilhado, se
aninha na concavidade feita pelo corpo da mulher, e
Texto para as questões 216 e 217.
ronca. O ronco inda acentuar a paz compacta.
O trovador Estes dois seres tão unidos, tão apoiados um no outro,
Sentimentos em mim do asperamente tão Báucis e Filamão, creio que são felizes. Perfeita-
dos homens das primeiras eras... mente. Não tem raciocínio que invalide a minha firme
As primaveras de sarcasmo crença na felicidade destes dois cidadãos da república.
intermitentemente no meu coração Aristóteles ... me parece que na Política afirma serem
[arlequinal ... felizes os homens pela quantidade de razão e virtude
Intermitentemente ...
possuídas e na medida em que, por estas, regram a
Outras vezes é um doente, um frio
norma do viver ... Estes cônjugues são virtuosos e
na minha alma doente como um longo som
justos. Perfeitamente. Sousa Costa se mexe. Tira um
[redondo ...
pouco, pra fora das cobertas, algumas ramagens do
Cantabona! Cantabona!
bigode. Apoia melhor a cara no sovaco gorducho da
Dlorom ...
esposa. Dona Laura suspira. Se agita um pouco. E se
Sou um tupi tangendo um alaúde!
apoia inda mais no honrado esposo e senhor. Pouco a
PV2D-07-54

Mário de Andrade
pouco Sousa Costa recomeça a roncar. O ronco inda
Obs. – alaúde: instrumento de cordas, com larga acentua a paz compacta. Perfeitamente.
difusão na Europa, da Idade Média ao Barroco. Mário de Andrade. Amar, verbo intransitivo. São Paulo, Ática, p. 83.
221
218. UnB-DF a) Macunaína é uma colagem de mitos amazônicos
Na questão a seguir assinale os números dos itens e narrativas urbanas, e estilos narrativos diversifi-
corretos. cados.
A partir da leitura compreensiva do texto ou contextos, b) Amar verbo intransitivo é o mais completo exem-
julgue os itens seguintes . plo da prosa sentimental modernista, exaltada e
idealizadora.
1. Na circunstância descrita nesse fragmento de
Amar, verbo intransitivo, as eventuais divergências c) Paulicéia desvairada é obra patriótica, de forte
comportamentais, políticas e ideológicas individu- cunho nacionalista e uma concepção irracionalista
ais são anuladas. da existência.
2. Uma das características desse texto é o erotis- d) Contos Novos é uma coletânea de narrativas que
mo. combinam a narrativa enraizadamente colonial e
a vanguarda européia e experimental.
3. Evidencia-se, ao longo do texto, o tratamento
igualitário atribuido por Mário de Andrade tanto e) Sua obra de crítica literária, representada por
ao homem quanto à mulher: os dois são vistos de O empalhador de passarinho, tem forte origem
forma simultaneamente lírica e jocosa. teórica européia, sobretudo a italiana.
4. Considerando o seguinte fragmento de Mulheres 221. ENEM
de Atenas, de Chico Buarque, é correto afirmar que
Mário de Andrade e Chico Buarque compartiham Precisa-se nacionais sem nacionalismo, (...)
da mesma ideologia, no que se refere às relações movidos pelo presente, mas estalando naquele cio
conjugais. racial que só as tradições maduram! (...). Precisa-se
gentes com bastante meiguice no sentimento, bastante
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de
Atenas: força na peitaria, bastante paciência no entusiasmo e
sobretudo, oh! sobretudo bastante vergonha na cara!
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim está escri-
Atenas
to no anúncio vistoso de cores desesperadas pintado
Elas não têm gosto ou vontade sobre o corpo do nosso Brasil, camaradas.”
Nem defeito nem qualidade Têm medo apenas Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES,
Não têm sonhos, só têm presságios Telê Porto Ancona. Mário de Andrade: ramais e caminhos.
São Paulo: Duas Cidades, 1972
O seu homem, mares, naufrágios
No trecho anterior, Mário de Andrade dá forma a um
Lindas sirenas dos itens do ideário modernista, que é o de firmar a
Morenas feição de uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao
(...) expressar-se numa variante de linguagem popular
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de identificada pela (o):
Atenas a) escolha de palavras como cio, peitaria, vergonha.
Secam por seus maridos, orgulho e raça de b) emprego da pontuação.
Atenas c) repetição do adjetivo bastante.
d) concordância empregada em assim está escrito.
219. UnB-DF e) escolha de construção do tipo precisa-se gentes.
Acerca da periodização literária, e a partir da estrutura
discursiva do texto, julgue os itens a seguir. 222. FEI-SP
1. Mário de Andrade, assim como Guimarães Rosa, Assinalar a alternativa que preenche corretamente as
pertence à primeira fase do Modernismo brasilei- lacunas do seguinte fragmento:
ro. “Com _____, romance publicado em _____, _____,
2. Em nenhuma passagem do texto, há a presença aprofunda suas intenções reformadoras, e apresenta
de comentários pessoais do narrador. para a literatura um romance absoluto e frio. O intuito
é analisar o sistema familiar burguês, enraizado em
3. Os pontos de vista usado no texto é do narrador
preconceitos morais e conveções sociais.”
onisciente.
a) Amar, Verbo Intransitivo – 1927 – Mário de Andrade
4. Em “Aristóteles ... me parece que na Política afirma
serem felizes os homens pela quantidade de razão b) Serafim Ponte Grande – 1933 – Oswald de Andrade
e virtude possuídas e na medida em que, por estas, c) Menino de Engenho – 1930 – José Lins do Rego
regras a norma do viver ...”, tem-se um exemplo d) Clarissa – 1930 – Érico Veríssimo
de discurso indireto e) Caetés – 1933 – Graciliano Ramos

220. PUC-PR 223. Fuvest-SP


Mário de Andrade é considerado o mestre dos es- I. A manobra psicológica do narrador protagonista
critores modernistas por sua atuação crítica e pela mostra que as lembranças obsessivas perdem a
variedade de gêneros textuais que escreveu e que se força, quando o seu culto as eleva a uma respei-
transformaram em exemplos da escrita literária desse tosa distância.
período estético. II. A paisagem paulistana é percorrida pelo olhar
Assinale a alternativa que contém a afirmação correta ingênuo de quem busca reconhecimento e esbarra
sobre sua obra: no oficialismo autoritário.

222
As afirmações I e II referem-se, respectivamente, 227. PUCCamp-SP
aos seguintes contos de Mário de Andrade (Contos As afirmações a seguir são do escritor Mário de An-
novos): drade, e referem-se a obras suas:
a) Vestida de Preto e Primeiro de maio I. Evidentemente não tenho a pretensão de que meu
b) Peru de natal e Frederico Paciência livro sirva para estudos científicos e folclore. Fantasiei
c) O ladrão e Frederico Paciência quando queria e sobretudo quando carecia para que
d) Peru de natal e Primeiro de maio a invenção permanecesse arte e não documentação
e) Vestida de preto e O ladrão seca de estudo. Basta ver a macumba carioca des-
geograficada com cuidado, com elementos dos can-
224. Fuvest-SP domblés baianos e das pangelanças paraenses.
Se em ambos os contos a dominação social é tema de II. Carlos carece de espelho e tem vergonha de se
primeiro plano, cabe, no entanto, fazer uma distinção: olhar nele, falo eu no meu jogo de imagens, depois
em um deles, ela é direta, e aparece sob a forma do qualquer ação desonesta. Por isso se conversa
capricho e do arbítrio patronais; já em outro, ela é mais honesto para poder olhar no espelho. A honesti-
moderna - torna-se indireta e anônima. dade dele é uma secreção biológica. Pentear sem
A distinção realizada nesta afirmação refere-se, espelho na frente faz o repartido sair torto e isso
respectivamente, aos seguintes contos de Mário de deixa os cabelos doendo. Na própria página em que
Andrade (Contos novos): “inventei” o crescimento de Carlos, inculco visivel-
a) Nelson e O poço. mente que ele vai ser honesto na vida por causa
b) O ladrão e O poço. das reações fisiológicas. Porém não me conservei
c) O ladrão e Nelson. apenas nesse naturalismo que repudio, não.
d) O poço e Primeiro de maio. III. Estou na segunda parte, já escrevi 50 páginas e
e) Primeiro de maio e O ladrão. ainda não escrevi a primeira cena na parte que
é Chico Antônio na fazenda acalmando os bois
225. Mackenzie-SP irritados com a morte dum novilho. A não ser al-
Moça linda bem tratada, gumas análises psicológicas mais fundas, o resto
Três séculos de família, é descrição da realidade tal como é, só pra que a
Burra como uma porta: realidade atual fique descrita e se grave.
Um amor Mário de Andrade fala de Amar, verbo intransitivo:
a) em I, II e III.
Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo, b) apenas em II e III.
Burro como uma porta: c) apenas em I e II.
Um coió d) apenas em II.
e) apenas em I.
Mulher gordaça, filó
De ouro por todos os poros 228. UFRJ
Burra como uma porta:
Paciência De manhã
O hábito de estar aqui agora
Plutocrata sem consiência, aos poucos substitui a compulsão
Nada porta, terremoto de ser o tempo todo alguém ou algo.
Que a porta do pobre arromba:
Uma bomba! Um belo dia – por algum motivo
O texto acima é claramente representativo: é sempre dia claro nesses casos –
a) das tendências contemporâneas modernistas. você abre a janela, ou abre um pote
b) da primeira geração modernista.
de pêssegos em calda, ou mesmo um livro
c) da segunda geração modernista. que nunca há de ser lido até o fim
d) do parnasianismo. e então a idéia irrompe, clara e nítida:
e) do dadaísmo.
É necessário? Não. Será possível?
226. Mackenzie-SP De modo algum. Ao menos dá prazer?
E vivemos uns oito anos, até perto de 1930, na maior or- Será prazer essa exigência cega
gia intelectual que a história artística do país registra.
Mário de Andrade a latejar na mente o tempo todo?
Assinale a alternativa na qual aparece um fato cultural Então por quê?
que não se encaixa no período mencionado acima. E neste exato instante
você por fim entende, e refestela-se
a) A exposição de trabalhos de Anita Malfatti, criticada
a valer nessa poltrona, a mais cômoda
por Monteiro Lobato.
da casa, e pensa sem rancor:
b) O Manifesto Pau-Brasil. Perdi o dia, mas ganhei o mundo.
c) As duas “dentições” da Revista de antropofagia. (Mesmo que seja por trinta segundos.)
PV2D-07-54

d) O Verde-Amarelismo. BRITO, Paulo Henriques. As três epifanias – III. In: BRITO, P.


e) A revista klaxon. H.Macau. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 72-73

223
As conquistas do Modernismo repercutem na literatura 04. Um traço comum entre os textos de Contos Novos
até os dias atuais. Identifique dois recursos formais é a revelação de aspectos mais delicados da vida,
valorizados pela linguagem modernista e associe-os sentimentos normalmente solapados pela rotina
à experiência representada no texto anterior. ou por certa hostilidade ou formalidade presentes
nas relações sociais
229. UEL-PR 08. Em alguns dos contos do livro, como O Poço e
Considere as seguintes afirmações sobre a produção Primeiro de Maio, as relações de trabalho são
literária de Mário de Andrade: representadas de forma a colocar em evidência as
I. Na década de 1920, marco de sua ficção está desigualdades e injustiças impostas pelo poder.
nessa “rapsódia” em que busca demostrar não 16. A linguagem convencional na qual são escritos
o “caráter do homem brasileiro”, mas o aspecto estes contos da maturidade de Mário de Andrade
pluralista de nossa cultura, representada pelo mais indica que ele se afastara bastante das propostas
estranho dos “heróis”. do Modernismo e assumira a preferência por uma
II. Sua poesia chegou a servir, de certo modo, como literatura clássica, a mesma que anos antes ele
exemplificação de seus ideais estéticos: veja-se a havia combatido com tanto entusiasmo.
íntima relação entre o Prefácio interessantíssimo 32. Em Tempo da Camisolinha, o narrador adulto lembra-
e os poemas de Paulicéia desvairada. se de si mesmo quando criança, criando uma convi-
III. É enorme o interesse pela cultura popular, e não vência das vozes do menino e do adulto que amplifica
apenas pelas manifestações artísticas desta: é na a compreensão das diferenças sociais e individuais
linguagem das ruas que vai buscar as bases de e mostra que a sensibilidade infantil também pode
uma verdadeira “gramática brasileira”. perceber “o infinito dos sofrimentos humanos”.
Some os números dos itens corretos.
Está correto o que vem afirmado em
a) I, apenas. d) II e III apenas. Texto para as questões de 232 a 238.
b) I e II apenas. e) I, II e III. Texto I
c) I e III apenas. O poeta come amendoim
Noites pesadas de cheiros e calores amontados...
230. UEL-PR Foi o sol que por todo o sítio imenso do Brasil
A frase a seguir assume especial significado no conto Andou marcando de moreno os brasileiros.
O peru de Natal, de Mário de Andrade: Morreu meu
pai, sentimos muito, etc. Sobre essa frase, é correto Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...
afirmar:
A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas
a) É carregada do sentimentalismo típico de Mário
[dos mulatos...
de Andrade, que destoa da obra de outros autores
Silêncio! O Imperador medita os seus versinhos.
modernistas. Os Caramurus conspiram à sombra das mangueiras ovais.
b) É representativa do estado de espírito e do estilo Só o murmurejo dos cr’em-deus-padre irmanava os
predominantes no conto e na dicção do narrador, [homens de meu país...
caracterizado pela consternação e pela economia Duma feita os canhamboras perceberam que não
de palavras. tinha mais escravos, por causa disso muita virgem-
c) É um recurso que prepara a substituição da nar- do-rosário se perdeu...
ração do luto pela narração da alegria e do prazer Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta
na ceia de Natal. [República temporã.
A gente inda não sabia governar...
d) É uma ironia, porque a esposa e os filhos eram Progredir, progredimos um tiquinho
muito infelizes e não gostavam do homem que Que o progresso também é uma fatalidade...
morreu, nem sequer lamentando sua morte. Será o que Nosso Senhor quiser!...
e) É uma ironia porque o filho, narrador-personagem,
detestava o pai, chegando mesmo a difamá-lo Estou com desejos de desastres...
perante os familiares na ceia de Natal. Com desejos de Amazonas e dos ventos muriçocas
Se encostando na canjera dos batentes...
231. UFPR Tenho desejos de violas e solidões sem sentido...
Tenho desejo de gemer e de morrer...
Sobre Contos Novos, de Mário de Andrade, é correto
afirmar: Brasil...
01. O personagem Juca, narrando em mais de um mastigado na gostosura quente do amendoim...
conto diferentes acontecimentos e fases de sua falado numa língua curumim
vida, permite que o leitor testemunhe a construção De palavras incertas num remeleixo melado melancólico...
de uma personalidade, dos desvaneios infantis às Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
amizades e amores. Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois semitoam em malícia as rezas bem nascidas...
02. A presença de um mesmo personagem em mais Brasil amado não porque seja minha pátria,
de um conto do livro de Mário de Andadre tem a Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde
mesma função que tem a recorrência de persona- Deus der...
gens nos contos de Em busca de Curitiba Perdida, Brasil que eu amo porque é o ritmo no meu braço
de Dalton Trevisan. [aventuroso,
224
O gosto dos meus descansos, 235. Cesgranrio-RJ
O balanço das minhas cantigas, amores e danças. O poema de Mário de Andrade apresenta semelhan-
Brasil que eu sou porque é minha expressão muito ças notáveis com o romance de Manuel Antônio de
[engraçada, Almeida, Memórias de um sargento de milícias, uma
Porque é o meu sentimento pachorrento, das obras mais originais de nosso romantismo literário.
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer Essas semelhanças correspondem a:
[e de dormir.
a) abordagem satírica de nosso sistema monárquico /
Mário de Andrade. Poesias completas.
São Paulo : Martins, 1996. pp.109-110 forte conteúdo religioso.
b) desprezo pelo folclore nacional / presença de
Texto II heróis excepcionais.
A política é a arte de gerir o Estado, segundo c) sentimentalismo exacerbado / ênfase nas descri-
princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou ções da paisagem brasileira.
tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de d) abrasileiramento da expressão literária / visão
explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui desmistificadora da realidade do país.
a política uma função, ou conjunto das funções do e) crítica ao indianismo romântico / idealização do
organismo nacional: é o exercício normal das forças comportamento amoroso.
de uma nação consciente e senhora de si mesma. A
politicalha, pelo contrário, é o envenamento crônico 236. Cesgranrio-RJ
dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de Apesar de suas diferenças de natureza histórico-literá-
parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países ria, é possível constatar um traço de identidade entre o
moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos texto de Mário de Andrade e o de Rui Barbosa. Esse
de moralidade estragada. elemento corresponde à:
Rui Barbosa. Texto reproduzido em ROSSIGNOLI, Walter.
Português: teoria e prática. 2a ed. São Paulo: Ática, 1992. p. 19
a) constatação da riqueza de nossa cultura.
b) negação do fervor patriótico.
232. Cesgranrio-RJ c) visão sátirica da corrupção política
Neste poema de Mário de Andrade, que pertence ao d) riqueza de expressão de valor antiético.
seu livro Clã do Jabuti (1927), o autor exprime um ponto e) ênfase na função crítico-social da literatura.
de vista sentimental bastante particular sobre o Brasil.
Esse ponto de vista deve ser definido como: 237. Cesgranrio-RJ
a) uma fé inabalável no futuro do país. A opção que não apresenta nenhuma correspondência
b) uma visão realista das grandezas nacionais. com o conteúdo do texto I é:
c) um nacionalismo desprovido de efusões patrióti- a) A politicalha é denunciada como uma patologia da
cas. vida nacional.
d) um patriotismo de fundo saudosista. b) entende-se politicalha como sinônimo de política
partidária.
e) uma nova espécie de ufanismo.
c) destacam-se definições que sublinham a natureza
233. Cesgranrio-RJ ética e social da política.
A maneira como o poeta se refere ao passado político- d) atribui-se uma conotação particular ao substantivo
parasita.
social da nação (Texto I, v. 5-12) nos leva a concluir
que: e) o autor estabelece oposição entre o verdadeiro
sentido da política e o seu falso sentido.
a) o Brasil de outrora e o do presente são muito
constrastantes. 238. Cesgranrio-RJ
b) a nação brasileira foi tratada com muita reverência Do ponto de vista do uso da língua, o texto II de Rui
pelo autor. Barbosa diverge do texto I por apresentar:
c) o poeta atribui grande importância ao período a) preferência marcada por brasileirismos na seleção
imperial. vocabular.
d) existe um desencanto geral pelo fracasso político b) quebras na organização sintática dos períodos.
de nossos governos. c) falta de uma pontuação rigorosa e clara.
e) não há nostalgia na evocação desse passado. d) menor aproximação com a fala corrente do homem
brasileiro.
234. Cesgranrio-RJ e) presença de desvios em relação à norma culta.
A característica do estilo modernista ausente no
Textos para as questões de 239 a 241.
texto I é:
a) a ruptura com as convenções literárias. São Paulo 10 de Novembro, 1924
Meu caro Carlos Drummond
b) expressão do dinamismo da realidade urbana
(...) Eu sempre gostei muito de viver, de maneira
moderna.
que nenhuma manifestação da vida me é indiferente.
c) valorização da fala brasileira.
PV2D-07-54

Eu tanto aprecio uma boa caminhada a pé até o alto


d) presença da visão irônica. da Lapa como uma tocata de Bach e ponho tanto entu-
e) emprego do verso livre. siasmo e carinho no escrever um dístico que vai figurar
225
nas paredes dum bailarico e morrer no lixo depois como 240. PUC-RJ
um romance a que darei a impassível eternidade da a) Percebe-se na carta, uma crítica direta a uma certa
impressão. Eu acho, Drummond, pensando bem, que postura elitista em relação à arte e à vida de grande
o que falta pra certos moços de tendência modernista parte da intelectualidade brasileira da época. Retire do
brasileiros é isso: gostarem de verdade da vida. Como texto duas passagens que comprovam tal afirmação.
não atinaram com o verdadeiro jeito de gostar da vida,
b) Comente, com suas próprias palavras, a visão
cansam-se, ficam tristes ou então fingem alegria o que
que Mário de Andrade possui das manifestações
ainda é mais idiota do que ser sinceramente triste. Eu estéticas oriundas do povo.
não posso compreender um homem de gabinete e
vocês todos, do Rio, de Minas, do Norte me parecem 241. PUC-RJ
um pouco de gabinete demais. Meu Deus! se eu esti- Retirado do contexto, o trecho não há mesmo caminho
vesse nessas terras admiráveis em que vocês vivem, pros amantes da Terra pode ser interpretado de duas
com que gosto, com que religião eu caminharia sempre maneiras distintas, considerando-se diferentes acep-
pelo mesmo caminho (não há mesmo caminho pros ções atribuídas à palavra mesmo.
amantes da Terra) em longas caminhadas! Que diabo!
a) Quais são as interpretações possíveis?
estudar é bom e eu também estudo. Mas depois do
estudo do livro e do gozo do livro, ou antes vem o b) Qual é interpretação mais adequada à carta de
estudo e gozo da ação corporal. (...) E então parar e Mário de Andrade? Justifique a sua resposta.
puxar conversa com gente chamada baixa e ignoran-
242. Fuvest-SP
te! Como é gostoso! Fique sabendo duma coisa, se
não sabe ainda: é com essa gente que se aprende a Em “O poço”, de Contos novos, as personagens
sentir e não com a inteligência e a erudição livresca. principais são de carne e osso, mas o silencioso
Eles é que conservam o espírito religioso da vida e protagonista do conto é mesmo aquele poder que
fazem tudo sublimemente num ritual esclarecido de vem de muito longe, do nosso passado colonial e das
religião. Eu conto no meu “Carnaval carioca” um fato relações escravistas, aqui encarnado no autoritarismo
caprichoso e arbitrário que se arroga todos os direitos,
a que assisti em plena Avenida Rio Branco. Uns ne-
que se impõe ao absolutamente fraco e submisso — e
gros dançando o samba. Mas havia uma negra moça que chega a se desnortear diante da dignidade custosa
que dançava melhor que os outros. Os jeitos eram os de um gesto de rebeldia.
mesmos, mesma habilidade, mesma sensualidade,
a) Destaque do texto, estritamente, uma expressão
mas ela era melhor. Só porque os outros faziam aquilo que se refira a cada uma das personagens:
um pouco decorado, maquinizado, olhando o povo
Albino (irmão mais novo),
em volta deles, um automóvel que passava. Ela, não.
José (irmão mais velho),
Dançava com religião. Não olhava pra lado nenhum.
Joaquim Prestes.
Vivia a dança. E era sublime. Este é um caso em que
tenho pensado muitas vezes. Aquela negra me ensinou b) Além de sua forte presença material, o poço que
está no centro deste conto pode ser tomado como
o que milhões, milhões é exagero, muitos livros não
um símbolo expressivo.
me ensinaram. Ela me ensinou a felicidade.
Procede a afirmação acima? Justifique sua res-
ANDRADE, Mário de. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a
Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982 posta.
Inúmeros são os casos de troca de correspon- 243. Unicamp-SP
dência entre artistas, escritores, músicos, cineastas,
Foi lá no fundo do jardim campear banco escondido. Já
teatrólogos e homens comuns em nossa tradição lite-
passavam negras disponíveis por ali. E o 35 teve uma
rária. Mário de Andrade, por exemplo, foi talvez o maior
idéia muito não pensada, recusada, de que ele também
de nossos missivistas. Escreveu e recebeu cartas
estava uma espécie de negra disponível, assim.
de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade,
Tarsila do Amaral, Câmara Cascudo, Pedro Nava, a) No conto Primeiro de Maio, de Mário de Andrade,
o personagem central quer comemorar o feriado,
Fernando Sabino, só para citar alguns. O conjunto de
mas seus passos o levam para a Estação da Luz.
sua correspondência não só nos ajuda a conhecer o
Explique por quê.
seu pensamento, seus valores e sua própria vida, como
também entender boa parte da história e da cultura b) Como se explica sua identificação com “uma negra
brasileira do século XX. disponível”?
DINIZ, Júlio. Cartas: narrativas do eu e do mundo
In Leituras compartilhadas - cartas. Fascículo especial 2, ano 4. 244. UFSM-RS
Rio de Janeiro: Leia Brasil / Petrobrás, 2004, p.10. A respeito da obra de Mário de Andrade, assinale ver-
dadeira (V) ou falsa (F) em cada afirmação a seguir.
239. PUC-RJ ( ) Paulicéia desvairada, livro de poemas, abre-se
A partir da leitura do trecho da carta de Mário a Drum- com um prefácio interessantíssimo em que o poeta
mond e do comentário acima, responda ao seguinte declara ter fundado o desvairismo.
item: ( ) Macunaíma, através da figura loura e esbelta do
Mário de Andrade, ao comentar um trecho de seu herói, propõe a louvação da colonização européia,
poema Carnaval Carioca, demonstra encanto por graças à qual se afirmou a nação brasileira.
uma moça que, segundo ele, dançava com religião. ( ) Amar, verbo intransitivo, apresenta um enredo que
Explique, com suas palavras, o que seria, na visão do se caracteriza por desmascarar a hipocrisia e o
autor, dançar com religião. convencionalismo da burguesia paulistana.
226
A sequência correta é d) o herói sem nenhum caráter é um tratamento uti-
a) V - V - F lizado para alertar o leitor de que Macunaíma não
b) V - F - V. é um modelo e, portanto, pouco tem a transmitir
c) F - F - V para sua geração.
d) F - V - F e) Ci se vinga de Macunaíma, pois ele brincara com
e) V - F - F uma portuguesa e não cumprira seu compromisso
com as filhas da Sol.
245.
248. PUC-SP
Sobre a obra Macunaíma, de Mário de Andrade, é
incorreto afirmar que: O título da obra Macunaíma é especificado com Herói
a) segue os padrões estabelecidos pelo romance sem nenhum caráter. A alternativa que não é verda-
brasileiro inaugurado pela geração realista-natu- deira em relação à especificação é:
ralista, obedecendo rigorosamente aos conceitos a) o caráter do herói é ele não ter caráter definido.
da verossimilhança. b) o protagonista assume várias esferas de ação, daí
b) é uma rapsódia, em que o autor mistura mitos e ser simultaneamente herói e anti-herói.
lendas do folclore brasileiro. c) a fragilidade de caráter do protagonista faz com
c) o índio brasileiro é mostrado de forma totalmente que este perca, no decorrer da obra, sua caracte-
oposta àquela do Romantismo. rística de herói.
d) o personagem principal vem a São Paulo à procura d) o herói se configura com suas qualidades parado-
de determinado objeto que ele havia perdido. xais, ele é ao mesmo tempo preguiçoso e esperto,
e) em relação aos modelos tradicionais, é um anti- irreverente e simpático, valente e covarde.
herói, pois não assume as características próprias
e) o caráter do herói é contraditório, pois ele se ca-
dos mesmos.
racteriza como um “sonso-sabido.”
246. UFV-MG
249. UFV-MG
Leia as seguintes afirmações a respeito da estrutura
Dentre as alternativas que se seguem, assinale aquela
narrativa de Macunaíma, de Mário de Andrade:
que transmite informações incorretas a respeito de
I. O autor modernista reúne, ludicamente, nessa Macunaíma, o personagem central da obra modernista
obra de ficção, um farto material representativo homônima.
da cultura nacional, como o folclore, os mitos,
a) Macunaíma é o “herói sem nenhum caráter” por
a religiosidade, a linguagem, unindo a realidade
não possuir uma identidade única: nasce índio-
à fantasia e trazendo à tona questões sobre a
negro e, após banhar-se em águas encantadas,
identidade cultural brasileira.
fica branco, louro, de olhos azuis.
II. O narrador, em Macunaíma, apresenta ironicamente
b) Macunaíma configura-se como um ser múltiplo,
o perfil do “herói da nossa gente”, utilizando-se de
condensando diferentes características como a
uma colagem de lendas indígenas, contadas de for-
bondade, a maldade, a vaidade e, sobretudo, a
mas variadas, unindo diferentes estilos narrativos.
ingenuidade infantil.
III. Mário de Andrade faz dessa obra uma epopéia
c) O personagem marioandradino é aventureiro,
dos feitos do herói Macunaíma, em estilo ufanista
individualista e, não tendo aptidão para o trabalho,
e idealizador do personagem, dando ênfase ao
prefere sempre a vida fácil, como a descoberta de
caráter nacionalista proposto na primeira fase do
dinheiro enterrado.
Modernismo brasileiro.
d) Macunaíma é o expoente máximo do sincretismo
Assinale a alternativa correta. religioso brasileiro, professando simultaneamente
a) Apenas a afirmativa I é verdadeira. o catolicismo, o espiritismo e a macumba, mistu-
b) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras. rados ainda aos rituais e crenças indígenas.
c) Apenas a afirmativa II é verdadeira. e) Em busca da muiraquitã, Macunaíma percorre
d) Apenas a afirmativa III é verdadeira. todo o território brasileiro e os diferentes países
e) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras. da Europa, tornando-se, assim, um herói sem
fronteiras e sem pátria.
247.
250. Uniube-MG
Com relação à obra Macunaíma, podemos afirmar que:
Em relação à obra Macunaíma, de Mário de Andrade,
a) o tom crítico e amargo da obra a distancia das assinale a alternativa incorreta.
vanguardas artísticas européias.
a) A obra de Mário de Andrade revela a situação de
b) o beletrismo parnasiano da época é satirizado no desterro do brasileiro em sua própria terra. É neste
capítulo “Carta pras Icamiabas”. sentido que o herói não tem caráter: Macunaíma
c) quando Macunaíma vem a São Paulo, há uma não encontra sua identidade como parte de um
espécie de inversão dos relatos quinhentistas da projeto coletivo. Seu fracasso, radicalmente
Literatura Informativa, já que agora é o índio que pessimista, mostra que a literatura modernista
vai apresentar sua civilização para a cidade. apresentava uma visão crítica da nossa história.
PV2D-07-54

227
b) Macunaíma traz em si atributos de herói, por cons- d) Macunaíma simboliza também uma fusão de
tituir-se como um ser fantástico, entre humano e diferentes raças e sua mistura étnica, a exemplo
mítico. O personagem reúne traços diferenciados, da heroína romântica, priva-o da convivência
sofre mudanças extraordinárias, apresenta dupla feminina.
configuração, não se assemelhando a nenhum e) O poema Marabá focaliza a solidão e a marginali-
indivíduo empírico, como os que conhecemos na dade da personagem romântica e eleva a questão
vida real. racial brasileira ao mais puro simbolismo afetivo.
c) Macunaíma é um herói, porque vai em busca
de um bem essencial, enfrenta perigos, vence Texto para as questões de 252 a 256.
obstáculos, ainda que, no fim, saia derrotado. O Uma feita janeiro chegado Macunaíma acordou
triste exílio cósmico, que encerra a narrativa, faz tarde com o pio agourento do tincuã. No entanto era
de Macunaíma um herói trágico. E, se não fosse dia feito e a cerração já entrara pro buraco... O herói
a dimensão cômica, que igualmente compõe a tremeu e apalpou o feitiço que trazia no pescoço,
narrativa, a leitura da obra seria extremamente um ossinho de piá morto pagão. Procurou o aruaí,
sofrida. desaparecera. Só o galo com a galinha brigando por
d) Nesta obra, Mário de Andrade retoma o mito do causa duma aranha derradeira. Fazia um calorão
bom selvagem. Macunaíma é um herói romântico, parado tão imenso que se escutava o sininho de vidro
cuja mente selvagem, pura e inocente não abriga dos gafanhotos. Vei, a Sol, escorregava pelo corpo de
segundas intenções. No ambiente paradisíaco Macunaíma, fazendo cosquinhas, virada em mão de
da Amazônia, seu comportamento não conhece moça. Era malvadeza da vingarenta só por causa do
interdições: livre da obrigação do trabalho, pode herói não ter se amulherado com uma das filhas da
usufruir a “divina preguiça” que rege a vida na tribo luz. A mão da moça vinha e escorregava tão de manso
tapanhumas. no corpo... Que vontade nos músculos pela primeira
vez espetados depois de tanto tempo! Macunaíma se
251. UFV-MG lembrou que fazia muito não brincava. Água fria diz
Leia com atenção o fragmento abaixo, extraído do que é bom pra espantar as vontades... O herói escor-
poema Marabá, de Gonçalves Dias. regou da rede, tirou a penugem de teia vestindo todo
Eu vivo sozinha; ninguém me procura! o corpo dele e descendo até o vale de Lágrimas foi
Acaso feitura tomar banho num sacado perto que os repiquetes do
Não sou de Tupá? tempo-das-águas tinham virado num lagoão.
Algum dentre os homens de mim não se esconde, Macunaíma depôs com delicadeza os legornes
– “Tu és,”, me responde, na praia e se chegou pra água. A lagoa estava toda
“Tu és Marabá!” coberta de ouro e prata e descobriu o rosto deixando
Meus olhos são garços, são cor de safiras, ver o que tinha no fundo. E Macunaíma enxergou lá
Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar; no fundo uma cunhã lindíssima, alvinha e padeceu de
Imitam as nuvens de um céu anilado, mais vontade. E a cunhã lindíssima era a Uiara.
As cores imitam das vagas do mar! ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.
Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos.
Se algum dos guerreiros não foge a meus passos: São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978. p. 142.
– “Teus olhos são garços”,
Responde anojado; “mas és Marabá”: 252.
“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes”, Em Macunaíma, o personagem deixa seu espaço de
“Uns olhos fulgentes”, origem e vai a São Paulo, onde se modifica, tomando
“Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!” gosto pelos valores europeus. Assim, em lugar de se
[...] casar com uma das filhas de Vei, a Sol, opta por ficar
DIAS, Gonçalves. Poemas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. pp. 86-87. com uma portuguesa. Vei, a Sol, na obra, atua como
Vocabulário personagem que representa:
marabá – filho de índio com branco a) os valores de uma terra tropical.
garços – esverdeados
anajá – fruto verde-amarelo, também conhecido como coco-
b) a figura da sogra sempre maledicente e cruel.
indaiá. c) a mulher protetora dos seres melancólicos.
Dentre as alternativas abaixo, assinale aquela que não d) a sensualidade da mulher européia.
contém informações verdadeiras a respeito do poema e) a astúcia da jovem que deseja seduzir.
indianista Marabá, assim como de sua intertextualidade
com a obra modernista Macunaíma. 253.
a) A heroína romântica e Macunaíma ilustram, ambos, Para se vingar, Vei, a Sol, usa de artimanhas:
a falta de identidade do povo brasileiro, enquanto a) Desperta os desejos sexuais do herói, passando-
produto da miscigenação de raças. lhe pelo corpo suas mãos de moça, e leva-o para
b) Ao dar voz a uma personagem feminina, Gonçal- junto da Uiara, que, na verdade, é uma de suas
ves Dias atualiza um recurso comum às cantigas filhas transfigurada.
de amigo do Trovadorismo português. b) Rouba o feitiço que Macunaíma trazia ao pescoço
c) A musa mestiça do poema gonçalvino vive a dolo- de maneira a deixá-lo desprovido de proteção e o
rosa experiência do desprezo e da rejeição pelos conduz à Uiara, que é uma portuguesa que com
próprios índios, também seus irmãos de sangue. ele quer se casar.
228
c) Transforma as águas quentes do lagoão em águas sa, que falam numa língua e escrevem noutra. Assim
frias como as européias; dá à Uiara aspecto de chegado a estas plagas hospitalares, nos demos ao
mulher européia. trabalho de bem nos inteiramos da etnologia da terra,
d) Rouba o feitiço que Macunaíma trazia ao pescoço e dentre muita surpresa e assombro que se nos de-
e mata o aruaí, animal que acompanhava o per- parou, por certo não foi das menores tal originalidade
lingüística. Nas conversas utilizam-se os paulistanos
sonagem em seu retorno ao Uraricoera, deixando
dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e
Macunaíma perturbado. impuro na vernaculidade, mas que não deixa de ter
e) Desperta, por meio de carícias, as lembranças o seu sabor e força nas apóstrofes, e também nas
sensuais de Macunaíma e leva-o para a Uiara, ente vozes do brincar. Destes e daquelas nos inteiramos,
fantástico que habita os rios da região amazônica. solícito; e nos será grata empresa vo-las ensinarmos
aí chegado. Mas si de tal desprezível língua se utili-
254. zam na conversação os naturais desta terra, logo que
“O pio agourento do tincuã” prenuncia: tomam da pena, se despojam de tanta asperidade, e
surge o Homem Latino, de Lineu, exprimindo-se numa
a) a morte de Caiuanogue, irmão de Macunaíma.
outra linguagem, mui próximo da vergiliana, no dizer
b) o reaparecimento de Venceslau Pietro Pietra. dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível
c) a perda definitiva da muiraquitã, presente de Ci, galhardia, se intitula: língua de Camões!
Mãe do Mato. De tal originalidade e riqueza vos há-de ser grato
d) o desaparecimento de Ci, a Mãe do Mato. ter ciência, e mais ainda vos espantareis com saber-
des, que à grande e quase total maioria, nem essas
e) a inundação e o fim do Uraricoera.
duas línguas bastam, senão que se enriquecem do
255. mais lídimo italiano, por mais musical e gracioso, e que
por todos os recantos da urbs é versado.
Macunaíma: o herói sem nenhum caráter é obra
Mário de Andrade, Macunaíma: o herói sem nenhum caráter
representativa:
A “Carta pras Icamiabas” contrasta, pelo estilo, com
a) do pré-modernismo brasileiro, visto que registra os demais capítulos de Macunaíma. Afirma-se que a
preocupação com as dificuldades dos emigrantes carta escrita pelo herói a suas súditas, no contexto
na cidade de São Paulo. do romance:
b) da primeira geração modernista, porque procura I. parodia o estilo parnasiano, o que se constata pela
resgatar manifestações culturais brasileiras. escolha de vocabulário preciosista, pelo tratamento
c) da segunda geração modernista, uma vez que em 2a pessoa do plural e pelo emprego da ordem
os problemas políticos brasileiros aí se fazem indireta na frase.
presentes. II. ironiza o artificialismo parnasiano, cuja poesia des-
prezava soluções coloquiais, próximas da língua
d) do movimento futurista brasileiro, posto romper, de
falada.
maneira excessivamente agressiva, com a tradição
literária brasileira. III. expressa, pela ironia, a tese modernista da incor-
poração de contribuições do linguajar do imigrante,
e) do Movimento Pau-Brasil, uma vez que o primitivis- integrado à população nacional.
mo é apontado como solução para os problemas IV. representa o antimodernismo, pois traz soluções
da cultura brasileira. de linguagem e de estilo que o Modernismo negou,
em nome da nacionalização da língua literária.
256. São corretas as afirmações:
Analise a frase: “Água fria diz que é bom pra espantar a) I, II, III e IV. d) II e IV apenas.
as vontades...”. Nela encontramos: b) I e IV apenas. e) II, III e IV apenas.
a) uma personificação da água, que está em acordo c) I, II e III apenas.
com as características fantasiosas do romance.
b) uma referência ao índio sábio Água Fria, que apa- 258. Fuvest-SP
rece algumas vezes como conselheiro do herói. Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Le-
c) uma inversão da posição de termos, que realça onardo algibebe1 em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se
o espírito preciosista dos escritores modernistas porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando,
quanto ao uso da linguagem. não se sabe por proteção de quem, alcançou o empre-
d) um verbo “dizer” usado no singular para concordar go de que o vemos empossado, e que exercia, como
dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele
com a expressão anterior e desfazer ambigüidades.
no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria
e) um traço coloquial, típico dos textos modernistas, da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia 2
que se sobrepõe a normas gramaticais. rechonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe
justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal
257. Fatec-SP apessoado, e sobretudo era maganão3. Ao sair do Tejo,
De outras e muitas grandezas vos poderíamos estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonar-
ilustrar, senhoras Amazonas, não fora persignar de- do fingiu que passava distraído por junto dela, e com o
masiado esta epístola; todavia, com afirma-vos que ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no
esta é, por sem dúvida, a mais bela cidade terráquea, pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo,
muito hemos feito em favor destes homens de prol. sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe
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Mas cair-nos-iam as faces, si ocultáramos no silêncio, também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas
uma curiosidade original deste povo. Ora sabereis qua costas da mão esquerda. Era isto uma declaração
a sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigio- em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto
229
do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a 260. Unifesp
mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença Os vocábulos “muiraquitã” e “tracajá” têm os seus signi-
de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia ficados desvendados pelo contexto lingüístico interno,
seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e porque são substituídos, no próprio texto, por vocábu-
familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. los ou expressões equivalentes. Os equivalentes para
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias
“muiraquitã” e “tracajá” são, respectivamente:
Vocabulário a) “passarinho” e “tartaruga”.
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
b) “talismã” e “tartaruga”.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido. c) “pedra verde” e “mariscador”.
d) “joelho” e “barriga”.
No excerto, as personagens manifestam uma carac-
e) “talismã” e “pedra verde”.
terística que também estará presente na personagem
Macunaíma. Essa característica é a: 261. Unifesp
a) disposição permanentemente alegre e bem-humo- Pelas características da linguagem, que incorpora expres-
rada. sões da fala popular e mobiliza o léxico de origem indíge-
b) discrepância entre a condição social humilde e a na, pelo ambiente sugerido e também pela presença do
complexidade psicológica. uirapuru, o texto dá mostras de pertencer ao estilo:
c) busca da satisfação imediata dos desejos. a) romântico, de linha indianista.
d) mistura das raças formadoras de identidade na- b) simbolista, de linha esotérica.
cional brasileira. c) modernista, de linha Pau-Brasil e antropofágica.
e) oposição entre o físico harmonioso e o comporta- d) naturalista, de linha nacionalista.
mento agressivo. e) pós-modernista, de linha neo-parnasiana.
Texto para as questões de 259 a 262. 262. Unifesp
Uma feita em que deitara numa sombra enquanto O sujeito da oração Mandou o passarinho uirapuru
esperava os manos pescando, o Negrinho do Pastoreio pode ser identificado por meio da análise do contexto
pra quem Macunaíma rezava diariamente, se apiedou lingüístico interno. Trata-se de:
do panema e resolveu ajudá-lo. Mandou o passarinho a) sujeito indeterminado.
uirapuru. Quando sinão quando o herói escutou um b) uirapuru = sujeito expresso.
tatalar inquieto e o passarinho uirapuru pousou no c) passarinho = sujeito expresso.
joelho dele. Macunaíma fez um gesto de caceteação d) Ele (o herói) = sujeito oculto.
e enxotou o passarinho uirapuru. Nem bem minuto e) Ele (o Negrinho do Pastoreio) = sujeito oculto.
passado escutou de novo a bulha e o passarinho
pousou na barriga dele. Macunaíma nem se amolou 263. UFPE
mais. Então o passarinho uirapuru agarrou cantando Na(s) questão(ões) a seguir, escreva nos parênteses
com doçura e o herói entendeu tudo o que ele cantava. a letra (V) se a afirmativa for verdadeira ou (F) se for
E era que Macunaíma estava desinfeliz porque perdera falsa.
a muiraquitã na praia do rio quando subia no bacupari. Observe:
Porém agora, cantava o lamento do uirapuru, nunca “No fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói
de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da
mais que Macunaíma havia de ser marupiara não,
noite”.
porque uma tracajá engolira a muiraquitã e o maris-
Macunaíma / Mário de Andrade
cador que apanhara a tartaruga tinha vendido a pedra
( ) O autor de Macunaíma foi um dos idealizadores da
verde pra um regatão peruano se chamando Venceslau
Semana de Arte Moderna, que iniciou o movimento
Pietro Pietra. O dono do talismã enriquecera e parava
modernista no Brasil.
fazendeiro e baludo lá em São Paulo, a cidade macota
( ) O movimento modernista, entre outras metas,
lambida pelo igarapé Tietê.
propunha-se à busca de identidade nacional, o
Mário de Andrade, Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.
que se acha na obra citada.
259. Unifesp ( ) A liberdade de expressão, o cotidiano, o coloquia-
lismo, resultantes da desintegração da linguagem
Os “manos” mencionados no texto são:
literária tradicional, foram preconizadas por Mário de
a) os índios que formam toda a tribo de Macunaíma.
Andrade como arauto e teórico do Modernismo.
b) os amigos anônimos que Macunaíma encontrara ( ) Macunaíma representou a identificação de Mário
em São Paulo e que passam alguns dias de des- com o nacionalismo primitivista.
canso na Amazônia.
( ) Há uma gota de sangue em cada poema, obra
c) Maanape e Jiguê, irmãos de Macunaíma. escrita em 1917, sob a influência da I Guerra, não
d) Piaimã, Oibê e os macumbeiros do Rio de Janeiro. tem valor estético, apesar de constituir-se o título
e) Piaimã, Oibê, Maanape e Jiguê. em uma experiência política.

230
Tome o poema abaixo para interpretar as questões 267. Fuvest-SP
264 e 265. A presença da temática indígena em Macunaíma, de
Mário de Andrade, tanto participa _________ quanto
Mulheres representa uma retomada, com novos sentidos,
Como as mulheres são lindas! __________.
Inútil pensar que é do vestido... Mantida a seqüência, os trechos pontilhados serão
E depois não há só as bonitas: preenchidos corretamente por:
Há também as simpáticas. a) do movimento modernista da Antropofagia / do
E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto:
regionalismo da década de 30.
Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai
da cozinha. b) do interesse modernista pela arte primitiva / do
indianismo romântico.
Como deve ser bom gostar de uma feia! c) do movimento modernista da Antropofagia / do
O meu amor porém não tem bondade alguma. condoreirismo romântico.
É fraco! Fraco! d) da vanguarda estética do Naturalismo / do india-
Meu Deus, eu amo como as criancinhas... nismo romântico.
És linda como uma história da carochinha... e) do interesse modernista pela arte primitiva / do
E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai regionalismo da década de 30.
(No tempo em que pensava que os ladrões mora-
268. ITA-SP
vam no morro [atrás de casa e tinham cara de pau)
Manuel Bandeira, Libertinagem
Sobre Macunaíma, de Mário de Andrade, não se pode
afirmar que:
264. a) a obra apresenta uma mistura de lendas indígenas,
Assinale a alternativa que não corresponda ao sentido crendices, anedotas e observações pessoais da
expresso no texto. vida cotidiana brasileira.
a) O poeta afirma o seu entusiasmo e adoração às b) assim como a personagem Macunaíma passa por
mulheres todas. uma série de metamorfoses, a linguagem também
b) O poeta dedica a sua amada uma forma de amor se transforma ao longo da obra.
inocente.
c) a personagem Macunaíma sintetiza o caráter
c) O poeta afirma gostar de uma mulher feia.
nacional brasileiro do início do século.
d) O poeta aponta a fraqueza do seu amor.
d) a história se passa inteiramente na floresta Ama-
e) O poeta ressalta que a beleza da mulher transcen-
zônica, onde Macunaíma passa toda a sua vida
de às roupas.
ao lado dos irmãos Maanape e Jiguê.
265. e) a obra traz para o campo da arte inovações de
Os quatro últimos versos do poema podem ser resu- linguagem, como o ritmo, o léxico e a sintaxe
midos na expressão: coloquial para a escrita.
a) Amor ingênuo d) Amor erótico
269. UFAL
b) Amor tresloucado e) Amor urbano
c) Amor fraterno Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro
passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam
266. Fuvest-SP a falar exclamava:
Comparando-se Brás Cubas e Macunaíma, é correto – Ai! que preguiça!...
afirmar que, apesar de diferentes, ambos: e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca,
a) possuem muitos defeitos, mas conservam uma trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos
ingenuidade infantil, isenta de traços de malícia e outros e principalmente os dois manos que tinha, Ma-
de egoísmo. anape já velhinho e Jiguê na força de homem.
b) tiveram seu principal relacionamento amoroso com O trecho acima:
mulheres tipicamente submissas, desprovidas de
a) introduz um romance indianista que consagrou
iniciativa.
José de Alencar.
c) não trabalham, caracterizando-se pela ausência
de qualquer demanda ou busca que lhes mobilize b) refere-se ao protagonista da obra-prima ficcional
o interesse. de Mário de Andrade.
d) berram suas histórias diretamente ao leitor, em primei- c) exemplifica a linguagem revolucionária de um
ra pessoa, depois de mortos: Brás Cubas, como de- romance de Oswald de Andrade.
funto autor; Macunaíma, utilizando-se do papagaio. d) contém elementos típicos da prosa naturalista
e) têm a vida avaliada, na parte final dos relatos, brasileira.
em um pequeno balanço, ou breve avaliação de e) constitui a abertura de uma das principais novelas
PV2D-07-54

conjunto, com resultado negativo. de Guimarães Rosa.

231
270. UFG-GO teses deterministas, numa evidente condenação
Leia, a seguir, o fragmento retirado do livro Macunaíma, da mestiçagem.
de Mário de Andrade, e responda à questão proposta. ( ) A perspectiva regionalista prevalece na obra,
– Meu avô, dá caça para mim comer? visto que o registro bruto da linguagem do
– Sim, Currupira fez. homem rústico, a descrição detalhada de usos
Cortou carne de perna moqueou e deu pro menino, e costumes do brasileiro típico e o deslumbra-
perguntando: mento diante da paisagem natural demonstram
– O que você está fazendo na capoeira, rapaiz! um sentimento nacionalista entorpecido pelas
– Passeando. belezas nacionais.
– Não diga!
272. UFJF-MG
– Pois é, passeando...
Então contou o castigo da mãe por causa dele ter sido A respeito da obra Macunaíma, de Mário de Andrade,
malévolo pros manos. E contando o transporte da casa pode-se afirmar que é:
de novo pra deixa onde não tinha caça deu uma grande a) um romance linear, que narra a educação de um
gargalhada. O currupira olhou pra ele e resmungou: herói.
– Tu não é mais curumi, rapaiz, tu não é mais b) uma narrativa com tempo e espaço muito bem
curumi não... definidos.
Gente grande que faz isso... c) uma colagem de motivos e narrativas de origem
Uma característica importante das línguas é o fato de diversa.
que elas não são uniformes nem estáticas. Fatores d) um texto de linguagem extremamente erudita e
como região, classe social, idade, entre outros, expli- formal.
cam suas variações. e) um conto baseado na história de uma pessoa
Tendo em vista o comentário que você acabou de ler verdadeira.
e as particularidades lingüísticas do trecho de Macu-
naíma, julgue os itens. 273. UFMG
( ) A construção “dá caça pra mim comer” é típica As histórias de Macunaíma foram contadas pelo pa-
da linguagem oral, representando, portanto, uma pagaio ao narrador, que vai continuar contando-as:
variação de “dê-me caça para eu comer”, própria “...ponteei na violinha e em toque rasgado botei a
da norma-padrão. boca no mundo cantando na fala impura as frases de
( ) O emprego de palavras como “rapaiz” e “faiz” reve- Macunaíma, herói de nossa gente”.
la variação no nível dos sons, indicando pronúncia Sabe-se que o livro Macunaíma foi considerado, por
de um falante, no caso o Currupira, que utiliza a seu autor, uma rapsódia.
variedade-padrão da língua. Com relação a esse fato, é correto afirmar que:
( ) Em “por causa dele ter sido malévolo”, ocorre a) a palavra rapsódia significa narrativa acompanha-
uma variação no nível sintático, uma vez que esse da de viola.
enunciado, na norma-padrão, corresponde a “por b) as histórias populares, tradicionalmente chamadas
causa de ele ter sido malévolo”. de rapsódia, são moralizadoras.
( ) O enunciado “Tu não é mais curumi”, apesar de c) o narrador “alinhava”, na rapsódia, histórias da
ser um exemplo de falar informal, está de acordo tradição oral.
com a língua-padrão, como se pode verificar pela d) rapsódia é o nome que se dá às narrativas orais
concordância verbal. recuperadas por escritores.
271. UFG-GO 274.
O projeto estético-ideológico do Modernismo tem no
livro Macunaíma, de Mário de Andrade, uma de suas Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escami-
nha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho.
maiores realizações. Com base nessa afirmação,
Porém, no rio era impossível, por causa das piranhas tão
julgue as proposições.
vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um
( ) O denominador comum da obra é o interesse naco de irmã despedaçada, pulavam aos cachos pra fora
pela variedade cultural do povo brasileiro, soma- d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa
do a uma desconstrução da linguagem literária lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova
acadêmica, mediante sobretudo a valorização da era que nem a marca dum pé gigante. O herói depois de
diversidade da língua nacional. muitos gritos por causa do frio e da água entrou na cova
( ) A construção da rapsódia combina procedimen- e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque
tos formais de vanguarda, como a justaposição aquele buraco na lapa era a maracá do pezão do Sumé,
(colagem) de lendas e mitos populares de ori- do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus
pra indianada brasileira. Quando o herói saiu do banho
gem variada, com um esforço de interpretação
estava branco e louro e de olhos azuizinhos, água lavara
do país, sobressaindo a questão da identidade
o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar
nacional. nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
( ) A interpretação de vestígios primitivistas, presen- Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na
tes na cultura brasileira, obedece a esquemas marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava
naturalistas, ora com o tratamento cientificista muito suja de negrume do herói e por mais que Jiguê
das lendas folclóricas, ora com a reafirmação de esfregasse feito maluco atirando água pra todos os

232
lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Ma- b) Bananeiras
cunaíma teve dó e consolou: Sol
— Olhe, mano Jiguê, branco você não ficou não, O cansaço da ilusão
porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz. Igrejas
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esbor- O ouro na serra de pedra
rifara toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só
A decadência
um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só
“São José del Rei”
a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem
da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos c) Coqueiros
e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na Aos dois
água santa. Macunaíma teve dó e consolou: Aos três
— Não se avexe, mano Maanape, não se avexe Aos grupos
não, mais sofreu nosso tio Judas! Altos
Mário de Andrade, Macunaíma. Baixos
a) O que cada um dos irmãos representa nesta “Longo da linha”
cena? d) Lá fora o luar continua
b) Como o episódio trata a nacionalidade brasileira? E o trem divide o Brasil
Como um meridiano.
275. Fuvest-SP
“Noturno”
Leia atentamente as seguintes afirmações.
e) O transatlântico mesclado
A vida íntima do brasileiro nem é bastante coesa, nem
Dlendlena e esguicha luz
bastante disciplinada, para envolver e dominar toda
a sua personalidade e, assim, integrá-la, como peça Postretutas e famias sacolejam
consciente, no conjunto social. Ele é livre, pois, para “Bonde”
se abandonar a todo repertório de idéias, gestos e
formas que encontre em seu caminho, assimilando-os 279.
freqüentemente sem maiores dificuldades. Pneumotórax
Adaptado de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
a) Essas afirmações aplicam-se à personagem Brás A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Cubas? Justifique sucintamente sua resposta. Tosse, tosse, tosse.
b) E à personagem Macunaíma, essas afirmações se
aplicam? Justifique resumidamente sua resposta. Mandou chamar o médico:
– Diga trinta e três.
276. UFRJ
– Trinta e três...trinta e três...trinta e três...
A obra Macunaíma tem como subtítulo: o herói sem
– Respire.
nenhum caráter. Com base em sua leitura desse livro,
– O senhor tem uma escavação no pulmão
comente o subtítulo, relacionando-o ao personagem
principal e aos eventos ocorridos na história. [esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
– Então, doutor, não é possível tentar o
277. Fuvest-SP [pneumotórax?
– Paciência, manos! não! não vou na Europa não. Sou – Não. A única coisa a fazer é tocar um tango
americano e meu lugar é na América. A civilização argentino.
européia decerto esculhamba a inteireza do nosso Manuel Bandeira
caráter.
Mário de Andrade, Macunaíma. A ironia costuma ser um recurso comum na poesia,
a) A opção pela América, afirmada nesta fala de Macu- usada, geralmente, para criar subjetividades pretendi-
naíma, é coerente com a escolha por ele realizada das por poetas em seus poemas. Considerando o tema
na ocasião em que não se casou com uma das e o conteúdo do texto, marque a única alternativa em
filhas de Vei, a Sol? Justifique resumidamente sua que o trecho presente, de maneira mais clara, enfatiza
resposta. o lado irônico de Manuel Bandeira.
b) Pelo fato de ser dita por Macunaíma, a frase “A civi- a) “... suores noturnos”
lização européia decerto esculhamba a inteireza do b) “Tosse, tosse, tosse.”
nosso caráter” adquire sentido irônico. Por quê? c) “Diga trinta e três.”
d) “O senhor tem uma escavação no pulmão esquer-
278. UFMG do...”
Todos os seguintes poemas, extraídos de Pau-Brasil,
e) “A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”
de Oswald de Andrade, são marcados pela visualidade
e pela síntese verbal, exceto: 280. UFV-MG
a) Aprendi com meu filho de dez anos Leia o seguinte fragmento do Manifesto da poesia
Que a poesia é a descoberta Pau-Brasil:
PV2D-07-54

Das coisas que eu nunca vi. Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus


“3 de maio” e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia

233
íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, Esse poema, de Oswald de Andrade, exemplifica o
amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação movimento nativista... . O poeta, por meio de uma
militar. Pau-Brasil. poesia reduzida ao ..., buscou uma interpretação de
O trabalho da geração futurista foi ciclópico. seu país.
Acertar o relógio império da literatura nacional. a) Antropófago, visual
Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser b) Verde-Amarelo, simbólico
regional e puro em sua época.
c) Terra Roxa e Outras Terras, discursivo
O estado de inocência substituindo o estado de
graça que pode ser uma atitude do espírito. d) Anta, concreta
ANDRADE, Oswald de. Poesia Pau-Brasil. In: SCHWARTZ, Jorge. e) Pau-Brasil, essencial.
Vanguardas latino-americanas: polêmicas, manifestos e textos críticos.
São Paulo: Edusp, Iluminuras, Fapesp, 1995. p. 138. 283. FCMSC-SP
Assinale a alternativa que não interpreta os ideais Movimentos
estéticos modernistas propostos no trecho citado. I. Pau-Brasil
a) A poesia Pau-Brasil pressupõe o retorno ao primi- II. Verde-Amarelo
tivismo, às origens nacionais. III. Antropofagia
b) O manifesto propõe o “estado de inocência”, o Objetivos
resgate cultural, com sua “energia íntima” – um 1. Resposta ao conservadorismo manifestado pelo
redescobrimento do Brasil das origens – sob a movimento da anta.
ótica da moderna sociedade. 2. Revalorização do primitivo, por meio de uma arte
c) O Manifesto da poesia Pau-Brasil defende que a que redescobrisse o Brasil.
literatura deveria tratar unicamente da cor local e 3. Proposição de uma estrutura nacionalista.
da cultura contemporânea e repudia o resgate das A associação correta é:
raízes culturais brasileiras.
a) I – 2; II – 3; III – 1 c) I – 1; II – 2; III – 3
d) Sem rejeitar a influência futurista, a poesia Pau-
b) I – 3; II – 2; III – 1 d) I – 3; II – 1; III – 2
Brasil valoriza a herança do passado, utilizando
metáforas como “reza”, “Carnaval”, “sabiá”, e
284. UEL-PR
propõe “acertar o relógio” da literatura nacional.
e) A poesia Pau-Brasil propõe “Ser regional e puro O recruta
em sua época”: resgatar os valores da cultura O noivo da moça
regional do povo brasileiro, mas sem perder de Foi para a guerra
vista as transformações do mundo moderno. E prometeu se morresse
Vir escutar ela tocar piano
281. UEL-PR Mas ficou para sempre no Paraguai
ANDRADE, Oswald de. Obras completas.
A peça O rei da vela, escrita por Oswald de Andrade,
em 1933, foi montada em 1967 pelo Teatro Oficina, São Paulo: Ed. Globo/Secretaria de Estado da Cultura, 1990

com direção de José Celso Martinez Corrêa. Sobre a Sobre o poema de Oswald de Andrade, é correto afirmar:
peça, considere as afirmativas a seguir. a) A ironia presente no poema reforça o caráter de
I. Apropriou-se da produção dramatúrgica brasileira, irreverência num texto com tendência prosaica.
já consagrada àquela época, e que se reportava à b) A prática do poema curto revela o desprezo do eu
tragédia grega. lírico pelo tema da Guerra do Paraguai.
II. Foi além da esfera teatral, unindo, num mesmo c) A expressão “se morresse”, do terceiro verso, indica
espetáculo, a música, a literatura e as artes plás- a certeza da moça de que seu noivo não voltaria.
ticas. d) A expressão “Vir escutar ela” revela um desconhe-
III. Graças a esta peça o Brasil pôde entrar na era das cimento do autor sobre a norma gramatical.
superproduções teatrais.
e) O termo “Mas”, do último verso, confirma a única
IV. Caracterizou-se por realizar uma crítica sarcástica interpretação possível do texto, já anunciada nos
e perturbadora da vida nacional. versos três e quatro.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II d) I e IV 285. FCMSC-SP
b) I e III e) II, III e IV 3 de maio
c) II e IV Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
282. PUC-RS Das coisas que eu nunca vi.
Oswald de Andrade
O fazendeiro criara filhos
Escravos escravas As cinco alternativas apresentam afirmações extraí-
Nos terreiros de pitangas e jabuticabas das do Manifesto da poesia Pau-brasil, de autoria de
Mas um dia trocou Oswald de Andrade. Assinale a que está relacionada
O ouro da carne preta e musculosa com o poema 3 de maio.
As gabirobas e os coqueiros a) “Só não se inventou uma máquina de fazer versos
Os monjolos e os bois – já havia o poeta parnasiano.”
Por terras imaginárias b) “... contra a morbidez romântica – pelo equilíbrio
Onde nasceria a lavoura verde do café. geômetro e pelo acabamento técnico.”

234
c) “Nenhuma fórmula para a contemporânea expres- d) Temos de construir essa grande nação, integrando
são do mundo. Ver com os olhos livres.” na Pátria comum todas as nossas expressões
d) “A poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar do- históricas, étnicas, sociais, religiosas e políticas.
mingueira, com passarinhos cantando na mata Pela força centrípeta do elemento tupi.
resumida das gaiolas...” e) Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos,
e) “Temos a base dupla e presente – a floresta e a nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas
escola.” questões cambiais, sem perder de vista o Museu
Nacional.
286. UFU-MG
289. Fatec-SP
amor
I. Há águias de sertão, que criam nos montes altos,
humor
e emas tão grandes como as de África, umas
Em relação ao poema acima transcrito, de Oswald de brancas e outras malhadas de negro que, sem
Andrade, assinale a alternativa correta. voarem do chão, com uma asa levantada ao alto
a) A prosa poética é uma conquista do movimento ao modo de vela latina, correm com o vento como
modernista, que abala a distinção entre os gêne- caravelas, e contudo as tomam os índios a cosso
ros literários. Com o advento deste procedimento nas campinas.
poético, as narrativas ganham densidade lírica em Frei Vicente do Salvador
detrimento da situação dramática. Cabe ao leitor II. Há águias de sertão
preencher as lacunas do enredo poetizado. E emas tão grandes como as de África
b) O emprego do verso livre revela a valorização da Umas brancas e outras malhadas de negro
unidade rítmica e semântica dessa forma poética,
Que com uma asa levantada ao alto
que se caracteriza por conter um pensamento
inteligível, lógico e completo e se apóia numa orga- Ao modo de vela latina
nização sintática linear, sem rupturas ou elisões. Correm com o vento
c) O poeta modernista tem outra noção de poeticida- Oswald de Andrade
de: aplica-se aos torneios verbais, em busca da Assinale a alternativa incorreta.
assonância, da musicalidade e da grandiloqüência, a) O texto I pertence à crônica histórica sobre o
no intuito de chocar assim o leitor burguês pela Brasil-Colônia e tem, mais que valor literário pro-
exuberância da forma poética obtida. priamente dito, grande interesse como reflexo das
d) A síntese radical constitui uma tendência da poesia condições primitivas da cultura brasileira.
modernista: trata-se de uma linha de experimenta- b) O texto II utiliza o texto I como matriz, a partir da
ção da linguagem que retoma a teoria futurista das qual busca restabelecer as fontes da nacionalidade
palavras em liberdade, aproximando o discurso na literatura brasileira.
poético de outros mais adequados à civilização c) O texto II identifica-se com a poesia Pau-Brasil,
da técnica e da velocidade. estilo inaugurado por Oswald de Andrade no mo-
vimento modernista.
287. UFMG
d) O texto II constitui uma paródia do texto I, na me-
Todas as alternativas apresentam informações corretas
dida em que praticamente o reproduz, satirizando
sobre Pau-Brasil, exceto:
a visão ingênua da natureza brasileira primitiva.
a) Atualiza a poesia parnasiana e recupera sua
aura. e) A operação de “reescritura” feita pelo texto II,
apesar de consistir de simples recorte e remon-
b) Corrobora a idéia de que a modernidade deve ser
tagem, tem a capacidade de destacar imagens e
radical.
traços de inventividade da linguagem descritiva
c) Opta por se aproximar da fala brasileira.
do texto I.
d) Transgride os limites entre prosa e poesia.
e) Utiliza a paródia e a linguagem neológica. 290. FMU-SP
O tema da pátria distante foi retomado por muitos poe-
288. UFMG tas. Um deles, Oswald de Andrade, do Modernismo.
Todos os seguintes fragmentos, retirados de manifes- São características do Modernismo:
tos do Modernismo brasileiro, apresentam princípios
a) linguagem coloquial, valorização do nacional, tom
também contidos na obra Pau-Brasil, exceto:
irônico, liberação absoluta da forma.
a) A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e
b) nacionalismo, tom irônico, linguagem retórica,
neológica. A contribuição milionária de todos os
erros. Como falamos. Como somos. liberdade de composição.
b) A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e c) saudosismo, crítica social, verde-amarelismo,
de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino, regras rígidas de composição.
são fatos estéticos. d) linguagem retórica, saudosismo, nacionalismo,
c) Contra os importadores de consciência enlatada. regras rígidas de composição.
PV2D-07-54

A existência palpável da vida. E a mentalidade e) linguagem retórica, liberdade de composição,


pré-lógica (...) cientificismo, tom irônico.

235
291. UFSE a) a reafirmação da base literária brasileira, decalque
Oferta dos valores europeus.
Quem sabe O elevador b) a negação do valor da literatura portuguesa, apre-
Se algum dia Até aqui sentando a brasileira como insuperável.
Traria O teu amor c) a sátira ao referencial artístico português e, por
Os versos acima permitem afirmar corretamente que extensão, critica à importação dos valores literários
a poesia de Oswald de Andrade: europeus.
a) revela o esforço, por parte do escritor, de acer- d) o confronto entre a arte literária brasileira e a por-
car-se impessoalmente dos objetos e pessoas, tuguesa, elucidando a inevitável influência desta
para a formação daquela.
respondendo aos métodos científicos das últimas
décadas do século XIX. e) a pouca influência recebida da arte literária por-
tuguesa, o que confere autenticidade à literatura
b) apresenta desarticulação total do verso, produzindo
brasileira.
um modo novo de dispor o texto no espaço do papel,
sendo, por isso, precursora da poesia concreta. 295. Unifesp
c) deixa transparecer, pela temática e pelo tratamento No contexto, a expressão “com história”, significa:
dispensado à forma, a raiz neo-romântica que a a) um colóquio de intelectuais.
caracteriza, responsável pelo caráter saudosista
b) uma conversa fiada.
de grande parte da obra do autor.
c) um comunicado urgente.
d) revela um poeta dilacerado entre matéria e espírito,
d) uma prosa de amigos.
valendo-se de todos os recursos lingüísticos para su-
gerir o seu desejo do transcendente: aliterações, rimas, e) um diálogo sério.
ressonâncias internas, uso de letras maiúsculas.
296. Unifesp
e) denota a aversão radical do poeta a integrar-se
O título do poema de Oswald remete o leitor à Idade
no ritmo da vida em sociedade, abandonando-se
Média. Nele, assim como nas cantigas de amor, a idéia
ao lirismo bucólico e buscando uma forma de
de poder retoma o conceito de:
expressão adequada ao seu ritmo interior.
a) fé religiosa.
Texto para as questões de 292 a 297. b) relação de vassalagem.
Leia o texto de Oswald de Andrade. c) idealização do amor.
d) saudade de um ente distante.
Senhor feudal
e) igualdade entre as pessoas.
Se Pedro Segundo
Vier aqui 297. Unifesp
Com história A correlação entre os tempos verbais está correta em:
Eu boto ele na cadeia. a) Se Pedro Segundo viesse aqui com história, eu
292. Unifesp botaria ele na cadeia.
De acordo com a norma-padrão, o último verso assu- b) Se Pedro Segundo vem aqui com história, eu
miria a seguinte forma: botava ele na cadeia.
a) Eu boto-lhe na cadeia. c) Se Pedro Segundo viesse aqui com história, eu
b) Boto-no na cadeia. boto ele na cadeia.
c) Eu o boto na cadeia. d) Se Pedro Segundo vinha aqui com história, eu
botara ele na cadeia.
d) Eu lhe boto na cadeia.
e) Se Pedro Segundo vier aqui com história, eu terei
e) Lhe boto na cadeia.
botado ele na cadeia.
293. Unifesp
Considere as seguintes características do Modernismo 298. UFF-RJ
brasileiro: Pero Vaz de Caminha
I. busca de uma língua brasileira; a descoberta
II. versos livres;
III. ironia e humor. Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Nos versos de Oswald de Andrade: Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
a) apenas I está presente.
E houvemos vista de terra
b) apenas III está presente.
c) apenas I e II estão presentes. os selvagens
d) apenas I e III estão presentes.
e) I, II e III estão presentes. Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
294. Unifesp E não queriam pôr a mão
Considerando os pressupostos do Modernismo e da E depois a tomaram como espantados
poética oswaldiana, é correto afirmar que a alusão a
D. Pedro II, figura da corte portuguesa, sugere: primeiro chá

236
Depois de dançarem II. O texto utiliza a chamada “linguagem cinemato-
Diogo Dias gráfica” dos modernistas a serviço da recriação
Fez o salto real de cena cotidiana.
III. O uso de neologismo e a regularidade métrica do
as meninas da gare texto exemplificam a tendência estética do início
do século XX.
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis IV. O experimentalismo preconizado pelos poetas da
Com cabelos mui pretos pelas espáduas Semana de 22 revela-se, por exemplo, no uso das
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas palavras “postretutas” e “famias”, que concretizam,
Que de nós as muito olharmos foneticamente, a idéia do sacolejo.
Não tínhamos nenhuma vergonha Assinale:
ANDRADE, Oswald. Poesias Reunidas.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p.80.
a) se todas estiverem corretas.
O procedimento poético empregado por Oswald de b) se todas estiverem incorretas.
Andrade no texto é: c) se apenas I e II estiverem corretas.
a) reconhecer e adotar a métrica parnasiana, criando d) se apenas I, II e III estiverem corretas.
estrofes simétricas e com títulos. e) se apenas I, II e IV estiverem corretas.
b) recortar e recriar em versos trechos da carta de
Caminha, dando-lhes novos títulos. 301.
c) imitar e refazer em prosa a carta de Caminha, Profundamente
criando títulos para as várias seções. Quando ontem adormeci
d) reconhecer e retomar a prática romântica, dando Na noite de São João
títulos nacionalistas às estrofes. Havia alegria e rumor
e) identificar e recusar os processos de colagem Estrondos de bombas luzes de Bengala
modernistas, dando-lhes títulos novos. Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
299. UFPE
Na questão a seguir escreva nos parênteses a letra No meio da noite despertei
(V) se a afirmativa for verdadeira ou (F) se for falsa. Não ouvi mais vozes e risos
Observe: Apenas balões
O céu jogava tina de água sobre o noturno que me Passavam errantes
devolvia a São Paulo.
O comboio brecou lento para as ruas molhadas, furou Silenciosamente
a gare suntuosa e me jogou nos óculos mineiros de um gru- Apenas de vez em quando
po negro. Sentaram-me num automóvel de pêsames. O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Oswald Andrade
Como um túnel.
( ) Seu autor é modernista da ultima fase, não tendo Onde estavam os que há pouco
participado da Semana de Arte Moderna.
Dançavam
( ) O nacionalismo de Oswald de Andrade foi uma Cantavam
volta ao ufanismo parnasiano, sem perspectiva E riam
crítica.
Ao pé das fogueiras acesas?
( ) Principal divulgador da orientação nacionalista
primitiva, participou do movimento Pau-Brasil e – Estavam todos dormindo
do movimento Antropofágico. Estavam todos deitados
( ) Oswaldo de Andrade escreveu os textos mais Dormindo
corrosivos da estética modernista, destruindo os Profundamente
padrões tradicionais de narrativa.
( ) Como se pode observar no texto, Oswald de Andra- Quando eu tinha seis anos
de destacou-se pela inovação no uso dos termos Não pude ver o fim da festa de São João
com derivações e formações estrangeiras, além Porque adormeci
de metáforas inusitadas. Sua narrativa estabelece
uma mistura entre o descritivo e o narrativo. Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
300. Mackenzie-SP
Meu avô
Bonde Totônio Rodrigues
O transatlântico mesclado Tomásia
Dlendlena e esguicha luz Rosa
Onde estão todos eles?
Postretutas e famias sacolejam
Oswald de Andrade
– Estão todos dormindo
Considere as seguintes afirmações.
PV2D-07-54

Estão todos deitados


I. O texto apresenta linguagem concisa e aproveita, Dormindo
poeticamente, variantes lingüísticas populares. Profundamente.
237
No poema de Manuel Bandeira encontram-se todos os b) Metáfora – “A viúva envelhecida era um peito de
caracteres do poeta, alinhados abaixo, exceto: tábuas.”
a) sentimento de solidão. c) Comparação – “A costa brasileira depois de um
b) sentimento de perda. pulo de farol sumiu como um peixe.”
c) temática da cultura brasileira. d) Personificação – “Eu pendia mais para bilhares
d) temática da morte. centrais que para pesquisas científicas.”
e) temática pessoal, familiar. 305. PUC-MG
O crítico Antonio Candido faz a seguinte observação a
302. UFRJ respeito de algumas obras de Oswald de Andrade:
Civilização pernambucana Estilo baseado no choque (das imagens, das
As mulheres andam tão louçãs* surpresas, das sonoridades), formando blocos curtos
E tão custosas e às vezes simples frases que se vão justapondo de
maneira descontínua, numa quebra total das seqüên-
Que não se contentam com os tafetás
cias corridas e compactas da tradição realista.
São tantas as jóias com que se adornam
Que parecem chovidas em suas cabeças e gargantas Identifique a passagem retirada de Memórias senti-
As pérolas rubis diamantes mentais de João Miramar em que a observação feita
Tudo são delícias pelo crítico não pode ser constatada.
Não parece esta terra senão um retrato a) Um cão ladrou à porta barbuda em mangas de ca-
Do terreal paraíso misa e uma lanterna bicor mostrou os iluminados na
ANDRADE, Oswald de. Poesias completas. Rio de Janeiro: entrada da parede. O cachorro deitado tinha duas
Civilização Brasileira, 1971. 5. ed., p. 144. In. MAIA, J. D. caras com uma de esfinge e cabelos bebês.
Literatura: textos & técnicas. São Paulo. Ática, 1995, p. 27.
b) Além do orador ilustre escritor Machado Penumbra
louçãs: elegantes, graciosas. que foi muitíssimo cumprimentado, conheci nessa
O texto cria uma aproximação com a carta de Pero Vaz noite o fino poeta Sr. Fíleas de muita cultura e
de Caminha, inspirado principalmente na linguagem, convidei-os para casa porque tinham talento.
como se verifica nos dois primeiros versos. c) Chapelões e revolvers de último modelo saíam
A característica da obra de Oswald de Andrade, com- mecanicamente das telas bulhentas e passea-
provada através dessa aproximação, é: vam calmos nas ruas irrigadas do pó vermelho.
a) a ruptura com os padrões da língua literária culta. Tabeliães transmissões de papel tostado e selo do
b) o resgate crítico do passado brasileiro por meio da império com grilos milionários a saibam quantos.
paródia. d) Barcos. E o passado voltava na brisa de baforadas
c) a introdução das correntes de vanguarda nos textos gostosas. Rolah ia vinha derrapava entrava em
modernistas. túneis. Copacabana era um veludo arrepiado na
d) a visão ingênua de um Brasil moderno-primitivo. luminosa noite varada pelas frestas da cidade.
e) o deboche irônico do mundo dos acadêmicos e dos
burgueses. 306. Fatec-SP
Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori
303. PUC-MG Villegaignon print terre. Montaigne. O homem natural.
A questão a seguir está relacionada à obra Memórias Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo,à
sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade. Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao
bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos.
Todos os termos, destacados nas passagens extraí-
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de
das de Memórias Sentimentais de João Miramar, são
um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia.
neologismos, exceto:
Ou em Belém do Pará.
a) “O furo do ambiente calmo da cabina cosmora-
A partir da leitura do trecho do Manifesto antropófago,
mava pedaços de distância do litoral”
explique o sentido de “Antropofagia” como meio de
b) “Beiramarávamos em auto pelo espelho de alu- nacionalização da arte.
guel arborizado das avenidas marinhas sem sol.”
c) “O banqueiro cervejeiro interpelara-me na sala 307. Mackenzie-SP
rubra metralhada de dáctilos e gráficos.” Houve um fenômeno de democratização estética
d) “Pantico não tivera educação desde criança e por nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o na-
isso amava vagamundear.” turalismo. Copiar. Quadro de carneiros que não fosse
de lã mesmo, não prestava. (...) Veio a pirogravura. As
304. PUC-MG
meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a
A questão abaixo está relacionada à obra Memórias sen- máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do
timentais de João Miramar, de Oswald de Andrade. cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade
Em todas as alternativas, o recurso de linguagem cor- de olho virado – o artista fotógrafo.
responde à frase retirada de Memórias sentimentais Só não se inventou uma máquina de fazer versos
de João Miramar, exceto em: – já havia o poeta parnasiano.
a) Metonímia – “No quarto de dormir ralhos queridos Manifesto da poesia Pau-Brasil – Oswald de Andrade.
não queriam que eu andasse com meu primo.” No texto, o autor:

238
a) critica a estética naturalista, já que esta subordina 310. PUC-MG
os dados da observação da realidade aos do ima- Leia atentamente o texto a seguir. Ele é um capítulo de
ginário artístico. Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald
b) apóia a democratização estética, especialmente de Andrade.
pelo fato de possibilitar que todos façam arte. Gare do infinito
c) vê no artista fotógrafo a grande renovação da arte Papai estava doente na cama e vinha um carro e
do século XX. um homem e o carro ficava esperando no jardim.
d) considera os parnasianos como artífices do verso Levaram-me para uma casa velha que fazia doces
e, portanto, como autênticos criadores de poe- e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma
sia. figueira na janela.
e) critica algumas manifestações estéticas devido à No desabafar do jantar noturno a voz toda preta
falta de criatividade artística que revelam. de mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que
carregou meu pai.
308. Mackenzie-SP
Todas as alternativas a seguir contêm afirmações
erro de português possíveis para esse capítulo, exceto:
Quando o português chegou a) A linguagem surrealista e metonímica provoca
Debaixo de uma bruta chuva impacto no leitor e singulariza a percepção de
Vestiu o índio
mundo.
Que pena!
Fosse uma manhã de sol b) O texto apresenta uma sintaxe, um vocabulário e
O índio tinha despido uma visão de morte próprios de uma criança.
O português. c) O capítulo, relatando a morte do pai, pode ser
Oswald de Andrade sintetizado no título Gare do infinito.
Assinale a alternativa correta. d) A escrita oswaldiana é densa e bem elaborada:
a) Considerando que a oposição vestir vs. despir carrega um máximo de imagens num mínimo
representa a oposição colonizador vs. coloniza- espaço verbal.
do, vemos, no primeiro pólo, a impotência diante e) A ausência de pontuação empresta lentidão e
do poder. afastamento das imagens enumeradas.
b) O título apresenta clara e exclusivamente a denún-
cia da decadência da língua portuguesa, devido a Texto para as questões 311 e 312.
um crescente descuido dos falantes. [...] Nos consola é ver o povo inculto criando aqui
c) A ambigüidade do título ajuda a construir o signi- uma música nativa que está entre as mais belas e
ficado de desestabilização de tudo o que é sério, mais ricas.
respeitável e cristalizado. Pois colhendo elementos alheios, triturando-os na
d) As ações do colonizador e do colonizado relacio- subconsciência nacional, dirigindo-os, amoldando-os,
nam-se às idéias de cerceamento da liberdade; se fecundando, a música popular brasileira viveu todo
naquelas, a alegria do sol; nestas, a tristeza da o século XIX, bem pouco étnica ainda. Mas no último
chuva. quarto do século principiam aparecendo com mais
e) O tom predominante de lamento triste propõe a frequência produções dotadas de fatalidade radical. E,
recuperação positiva da figura do colonizador no trabalho da expressão original e representativa, não
português, mal assimilada pelos índios.
careceu nem cinqüenta anos: adquiriu caráter, criou
309. formas e processos típicos. Manifestações duma raça
muito variada ainda como psicologia, a nossa música
Lenda brasileira popular é variadíssima.
A moita buliu. Bentinho Jararaca levou a arma Tão variada que às vezes desconcerta quem a
à cara: o que saiu do mato foi o Veado Branco! Ben- estuda. [...]
tinho ficou pregado no chão. Quis puxar o gatilho e ANDRADE, Mário de. Pequena história da música. 6 ed.
não pôde. São Paulo: Martins/Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.
– Deus me perdoe!
Mas o Cussaruim veio vindo, veio vindo, parou
311. UFRJ
junto do caçador e começou a comer devagarinho o
cano da espingarda. O escritor modernista Oswald de Andrade, no Manifes-
to antropófago (1928), afirma a propósito das relações
O texto anterior pertence ao livro Libertinagem, de entre a cultura brasileira e a de nossos colonizadores:
Manuel Bandeira. Mas não foram cruzados que vieram.
a) Por que podemos considerá-lo um poema em Foram fugitivos de uma civilização que estamos
prosa ou uma prosa poética? comendo, porque somos fortes[...}
b) Pelo título do poema em prosa, podemos rela- Do 1o período do 2o parágrafo do texto (Mário de
PV2D-07-54

cioná-lo a que outra obra da literatura brasileira? Andrade), retire dois vocábulos que melhor traduzam
Explique. a idéia do trecho destacado.

239
312. UFRJ pofágico de Oswald de Andrade, leia com atenção os
Explicite essa idéia, considerando o projeto modernista. fragmentos extraídos da obra em questão e desenvolva
os itens que se seguem.
313. Texto 1
Leia o capítulo a seguir, extraído de Memórias sen- Era assim. Saudaram todos os santos da pajelança,
timentais de João Miramar, romance de Oswald de o Boto Branco que dá amores Xangô, Omulu, Iroco
Andrade. Ochosse, a Boiúna Mãe feroz, Obatalá que dá força pra
brincar muito, todos esses santos e o çairê se acabou.
Botafogo etc.
Tia Ciata sentou na tripeça num canto e toda aquela
Beiramarávamos em auto pelo espelho de aluguel
gente suando, médicos padeiros engenheiros rábulas
arborizado das avenidas marinhas sem sol.
polícias criadas focas assassinos, Macunaíma, todos
Losangos tênues de ouro bandeiranacionalizavam
vieram botar as velas no chão rodeando a tripeça. As
o verde dos montes interiores.
velas jogaram no teto a sombra da mãe-de-santo imóvel.
No outro lado azul da baía a Serra dos Órgãos
Já quase todos tinham tirado algumas roupas e o respiro
serrava.
ficara chiado por causa do cheiro de mistura budum coty
Barcos. E o passado voltava na brisa de baforadas
pitium e o suor de todos. Então veio a vez de beber. E
gostosas. Rolah ia vinha derrapava entrava em túneis.
foi lá que Macunaíma provou pela primeira vez o cachiri
Copacabana era um veludo arrepiado na luminosa
temível cujo nome é cachaça. Provou estalando com a
noite varada pelas frestas da cidade.
língua feliz e deu uma grande gargalhada.
A partir da leitura do texto, caracterize a prosa de “Macumba” em: ANDRADE, M. de. Macunaíma.
Oswald de Andrade. São Paulo: Livraria Martins, 1976.
Texto 2
314. Unicamp-SP Estávamos ainda abatido por termos perdido a
Texto I nossa muiraquitã, em forma de sáurio, quando talvez
erro de português por algum influxo metapsíquico, ou, qui lo sá, provo-
cado por algum libido saudoso, como explica o sábio
Quando o português chegou
tudesco, doutor Sigmundo Freud (lede Fróide), se nos
Debaixo duma bruta chuva
deparou em sonho um arcanjo maravilhoso. Por ele
Vestiu o índio
soubemos que o talismã perdido estava nas diletas
Que pena!
mãos do doutor Venceslau Pietro Pietra, súbdito do
Fosse uma manhã de sol Vice-Reinado de Peru, e de origem francamente flo-
O índio tinha despido rentina, como os Cavalcantis de Pernambuco. E como
O português o doutor demorasse na ilustre cidade anchietana, sem
Oswald de Andrade, in: Poesias reunidas demora nos partimos para cá, em busca do velocino
Texto II roubado. As nossas relações actuais com o doutor Ven-
(...) ceslau são as mais lisonjeiras possíveis; e sem dúvida
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval. mui para breve recebereis a grata nova de que hemos
O índio vestido de Senador do império (...). Ou reavido o talismã: e por ela vos pediremos alvíçaras.
figurando nas óperas de Alencar cheio de bons “Carta pras Icamiabas” em: ANDRADE, M. de. Macunaíma.
São Paulo: Livraria Martins, 1976.)
sentimentos.
(...) a) O processo antropofágico manifesta-se, no pri-
Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria. meiro texto, tanto no plano de conteúdo como no
(...): plano de expressão. Explique como esse processo
(...) se manifesta temática e lingüisticamente.
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do b) Relacione os dois fragmentos tendo como fio con-
céu (...) dutor o efeito de sentido verdadeiro versus falso.
Oswald de Andrade, Manifesto Antropófago
316. UFRJ
Escapulário
Levando em conta a leitura do poema erro de portu-
No Pão de Açúcar
guês (texto I) e dos fragmentos do Manifesto Antropó-
De Cada Dia
fago (texto II), responda às questões a seguir.
Dai-nos Senhor
a) O que exprime o quarto verso do poema? A Poesia
b) Que relação os três últimos versos estabelecem De Cada Dia
com os três primeiros? in: ANDRADE, Oswald de. Poesia reunidas. 5a ed.
c) Que relação o poema, como um todo, estabelece com Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1917, p. 75
as idéias presentes nos fragmentos do Manifesto? Nota: escapulário: objeto de devoção formado por
dois quadrados de pano bento, com orações ou uma
315. FGV-SP relíquia, que os devotos trazem ao pescoço.
Tendo como base o fato de a obra Macunaíma, de A crítica literária considera que a poesia de Oswald de
Mário de Andrade, ser uma das maiores representa- Andrade apresenta duas vertentes: uma ‘destrutiva’ e
ções literárias das renovações formais e temáticas do uma ‘construtiva’. Explique de que modo esses dois
Modernismo brasileiro, sobretudo no que se refere traços aparecem na intertextualidade realizada por
ao pensamento crítico exposto no Manifesto Antro- Oswald no poema.
240
317. 319. PUC-SP
Todas as afirmações abaixo, a respeito de Macunaíma, 01 Vou-me embora pra Pasárgada
de Mário de Andrade, são corretas, exceto: Lá sou amigo do rei
a) Trata-se de uma antologia do folclore brasileiro, Lá tenho a mulher que eu quero
coletânea das lendas e dos mitos indígenas e Na cama que escolherei
folclóricos, uma verdadeira rapsódia. 05 Vou-me embora pra Pasárgada
b) Macunaíma é um herói repleto de contradições,
Vou-me embora pra Pasárgada
individualmente, alheio a problemas sociais e po-
Aqui eu não sou feliz
líticos, sem preocupações morais, um verdadeiro
Lá a existência é uma aventura
anti-herói, que se contrapõe a uma sociedade
De tal modo inconseqüente
tecnológica, moderna.
10 Que Joana a Louca de Espanha
c) Depois de derrotar o Gigante Piaimã e reconquistar Rainha e falsa demente
o amuleto, a pedra muiraquitã, Macunaíma, doente e Vem a ser contraparente
cansado de viver, não achando mais graça no mundo, Da nora que nunca tive.
resolve ir para o céu e, sem voltar para o Uraricoera, As estrofes apresentadas são do poema de Manuel
transforma-se na constelação Ursa Maior. Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada. Do poema
d) “Carta pras Icamiabas” é uma paródia e uma sá- como um todo é incorreto afirmar que:
tira violenta ao caráter afetado e formal do estilo a) a palavra Pasárgada refere-se ao nome de uma
parnasiano da época. famosa cidade fundada pelo rei Ciro, na Pérsia.
e) O espaço e o tempo da narrativa não são delimi- b) a metáfora dominante no poema é a busca da
tados: indeterminados, misturam-se livremente felicidade, materializada em Pasárgada, espécie
dentro do chamado universo mítico da obra. de terra prometida.
c) o texto é elaborado em redondilha maior e isso lhe
318.
dá a marca de poesia popular.
Vou-me embora pra Pasárgada
d) dialoga com a Canção do exílio, de Gonçalves
Vou-me embora pra Pasárgada Dias, por força do advérbio de lugar que designa
Lá sou amigo do rei dois espaços diferentes.
Lá tenho a mulher que eu quero e) constitui-se de versos brancos e de métrica irre-
Na cama que escolherei gular, caracterizadores da poética modernista.
Vou-me embora pra Pasárgada
Texto para as questões de 320 a 323.
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Sacha e o poeta
Lá a existência é uma aventura
Quando o poeta aparece,
(...)
Sacha levanta os olhos claros,
Onde a surpresa é o sol que vai nascer.
Em Pasárgada tem tudo
O poeta a seguir diz coisas incríveis,
É outra civilização
Desce ao fogo central da Terra,
Tem um processo seguro
Sobe na ponta mais alta das nuvens,
De impedir a concepção
Faz gurugutu pif paf,
Tem telefone automático
Dança de velho,
Tem alcalóide à vontade
Vira Exu,
Tem prostitutas bonitas
Sacha sorri como o primeiro arco-íris.
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste O poeta estende os braços, Sacha vem com ele.
Mas triste de não ter jeito A serenidade voltou de muito longe
Quando de noite me der Que se passou do outro lado?
Vontade de me matar Sacha mediunizada
– Lá sou amigo do rei – – Ah-pa-papapá-papá–
Terei a mulher que eu quero Transmite em Morse ao poeta
Na cama que escolherei A última mensagem dos Anjos.
Vou-me embora pra Pasárgada. Manuel Bandeira

320. Faenquil-SP
O caráter ____________ do poema revela-se pela
O poema de Bandeira, como se pode notar desde o
referência à possibilidade de viver plenamente a vida,
título, fala da relação entre Sacha e o poeta. De acordo
sem quaisquer impedimentos.
com o poema, pode-se perceber que Sacha é:
a) Confessional
a) um bebê, pois ainda não sabe falar (“gurugutu pif paf”
b) Satírico e “pa-papapá-papá”) e está descobrindo o mundo.
c) Caótico b) uma adolescente, pois reflete sobre a vida e
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d) Sincrético acompanha o poeta em suas andanças (“O poeta


e) Hermético estende os braços, Sacha vem com ele”).

241
c) uma mulher por quem o poeta tem grande amor e Madrigal tão engraçadinho
carinho e para quem dedica seu poema (“Quando o Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje
poeta aparece, Sacha levanta os olhos claros”). na minha
d) uma pessoa idosa, cuja experiência é aproveitada [vida, inclusive o porquinho-da-índia que
pelo poeta como inspiração (“Sacha mediunizada” [me deram quando eu tinha seis anos.
e “Transmite em Morse ao poeta”). a) O título do poema contém ironia, tipicamente
e) um espírito que é apresentado como a fonte de modernista, que mantém a forma tradicional do
madrigal romântico no que concerne ao número de
inspiração do poeta e que lhe transmite a “última
estrofes. Além disso, conserva intacta a temática
mensagem dos anjos”.
relacionada com o idílio pastoril parnasiano.
321. Faenquil-SP b) O primeiro verso do poema é branco, pois não rima,
Sacha sorri como o primeiro arco-íris. e bárbaro, pois excede as 12 sílabas poéticas; de
Assinale a alternativa que melhor explica o significado outro modo, as rimas externas e misturadas dos ou-
deste verso no contexto do poema. tros versos do poema constroem o versolibrismo.
a) O sorriso de Sacha faz o eu lírico recordar bons c) Este poema dialoga com outro, pertencente ao livro
Libertinagem. Em ambos, o eu poético reprisa seu
momentos de seu tempo de infância.
amor por um porquinho-da-índia antropomorfizado,
b) O sorriso de Sacha permite ao poeta expressar o construindo, assim, uma maneira bem humorada
carinho que ele sente por ela. de questionar o lirismo amoroso passadista.
c) O eu lírico vê, no sorriso de Sacha, uma pontinha de d) Neste poema, desde o seu título, é possível reco-
tristeza que se esconde por trás de sua beleza. nhecer dados da poética modernista em sua fase
d) A espontaneidade do sorriso de Sacha é, para o combativa: uso de palavras de cunho coloquial,
eu lírico, uma revelação de beleza, ingenuidade e inserção de prosa no poema e resgate de cânones
vida. poéticos do Barroco.
e) Para o eu lírico, o sorriso de Sacha é uma recompen-
sa pelos sofrimentos e pelas dificuldades da vida. 325. Fatec-SP
Texto I
322. Faenquil-SP Mulher, irmã, escuta-me: não ames,
Segundo o poema, a criação poética é: Quando a teus pés um homem terno e curvo
a) resultado da técnica, do domínio da linguagem e Jurar amor, chorar pranto de sangue,
do estudo da literatura. Não creias, não, mulher: ele te engana!
b) um trabalho árduo e cuidadoso, por meio do qual As lágrimas são galas da mentira
E o juramento manto da perfídia.
o poeta exprime seus pensamentos.
Joaquim Manuel de Macedo
c) fruto da inspiração que brota da vontade do poeta
de exprimir seus sentimentos. Texto II
d) uma brincadeira, por meio da qual se descobre e Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em
se significa o mundo. cima de você
e) resultado do engajamento político do poeta, do E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
seu desejo de criticar a sociedade e suas hipo- Se ele chorar
crisias. Se ele se ajoelhar
Se ele se rasgar todo
323. Faenquil-SP Não acredita não Teresa
O poema de Bandeira revela traços típicos da poesia É lágrima de cinema
moderna, tais como: É tapeação
Mentira
a) o gosto do popular, a incorporação do folclore
CAI FORA
brasileiro e o interesse em descrever a realidade
Manuel Bandeira
concreta.
Assinale a alternativa incorreta.
b) o rigor de construção, a obediência aos princípios
a) A “tradução” feita por Manuel Bandeira do poema
ditados pela tradição poética e o verso livre.
de Joaquim Manuel de Macedo consiste no recurso
c) o uso de uma linguagem despojada e a liberdade chamado paródia.
de criação dos temas e das formas de expressão. b) A transformação do texto original no texto de
d) a incorporação de elementos típicos da realidade Bandeira tem como conseqüência a perda do
brasileira e o equilíbrio clássico da composição. sentido poético, principalmente porque se perde
e) a objetividade, a racionalidade e a harmonia a originalidade.
construídas de acordo com as regras da arte c) No texto I, o amor e o amante aparecem ideali-
clássica. zados pela linguagem. A idealização é revelada
e desfeita na relação entre “um homem terno e
324. UFU-MG curvo” X “um sujeito”, “jurar amor” X “jurar uma
A propósito do poema, de autoria de Manuel Bandeira, paixão do tamanho de um bonde” e “chorar pranto
transcrito a seguir, assinale a alternativa correta. de sangue” X “se ele se rasgar todo”.

242
d) A comparação dos dois textos revela o tratamento Texto para as questões de 328 a 330.
dado ao tema e à linguagem nas estéticas român- O martelo
tica e modernista. As rodas rangem na curva dos trilhos
e) A “tradução” de “as lágrimas são galas da mentira / Inexoravelmente.
E o juramento manto da perfídia” por “É lágrima de Mas eu salvei do meu naufrágio
cinema / É tapeação / Mentira” expõe a oposição Os elementos mais cotidianos.
entre o uso da linguagem formal e o da linguagem O meu quarto resume o passado em todas
coloquial no texto poético. [as casas que habitei.

326. Fuvest-SP Dentro da noite


No cerne duro da cidade
Oração a Teresinha do Menino Jesus Me sinto protegido
Perdi o jeito de sofrer. Do jardim do convento
Ora essa. Vem o pio da coruja
Não sinto mais aquele gosto cabotino da tristeza. Doce como um arrulho de pomba.
Quero alegria! Me dá alegria, Sei que amanhã quando acordar
Santa Teresa! Ouvirei o martelo do ferreiro
Santa Teresa não, Teresinha... Bater corajoso o seu cântico de certezas.
Manuel Bandeira
Teresinha... Teresinha...
Teresinha do Menino Jesus. 328. Mackenzie-SP
(...) “Pio de coruja”, na tradição popular, significa “mau
Manuel Bandeira, Libertinagem. agouro”. “Som de martelo”, por sua vez, é considerado
Sobre este trecho do poema, só não é correto afirmar um som desagradável e irritante. Levando isso em
o que está em: conta, pode-se dizer que, nesse poema, o eu lírico:
a) Ao preferir Teresinha a Santa Teresa, o eu lírico a) confirma as expectativas do leitor quanto aos senti-
manifesta um desejo de maior intimidade com o mentos e sensações que esses sons provocam.
sagrado, traduzida, por exemplo, no diminutivo e b) quebra a expectativa do leitor quanto ao som do
na omissão da palavra “Santa”. martelo, mas não quanto ao pio da coruja.
b) O feitio de oração que caracteriza estes versos c) quebra a expectativa do leitor quanto ao pio da
não é o caso único em Libertinagem nem é raro coruja, mas não quanto ao som do martelo.
na poesia de Bandeira. d) cria um efeito irônico, ao associar esses sons a
c) Embora com feitio de oração, estes versos utilizam um sentimento de proteção.
principalmente a variedade coloquial da lingua- e) produz efeito humorístico, ao associar esses sons
gem. a um sentimento de tédio.
d) Em “do Menino Jesus”, qualificativo de Teresinha, 329. Mackenzie-SP
pode-se reconhecer um eco da predileção de
Assinale o fragmento que, no poema, sugere a passa-
Bandeira pelo tema da infância, recorrente em
gem do tempo, a transitoriedade da vida.
Libertinagem e no conjunto de sua poesia.
a) “Doce como um arrulho de pomba.”
e) Apesar de seu feitio de oração, estes versos
b) “Do jardim do convento / Vem o pio da coruja.”
manifestam a intenção desrespeitosa e mesmo
sacrílega em relação à religião estabelecida. c) “As rodas rangem na curva dos trilhos / Inexora-
velmente.”
327. F. M. ABC-SP d) “Os elementos mais cotidianos.”
De Manuel Bandeira, é válido dizer que: e) “Bater corajoso.”
a) foi um poeta típico do período crepuscular anterior
ao Modernismo. 330. Mackenzie-SP
b) voltou-se sobretudo para o mundo interior, procu- Assinale a afirmação correta.
rando captar, com sua sensibilidade delicada, as a) Em “Ouvirei o martelo do ferreiro/Bater” tem-se
nuanças da sombra, do indefinido, da morte. uma metonímia.
c) foi um dos grandes agitadores da literatura brasi- b) A primeira estrofe particulariza a idéia geral da
leira e, em sua obra, salientam-se experiências segunda estrofe.
semânticas que fazem dele um precursor da c) “Ouvirei o martelo do ferreiro” denota circunstância
poesia concreta. de causa para o fato de acordar.
d) soube conciliar a notação intimista com o registro d) A conjunção “Mas”, que aparece na primeira es-
do mundo exterior, e sua obra poética abrange trofe, estabelece oposição entre “monotonia” e
desde poemas de tom parnasiano até experiências “intranqüilidade”.
concretistas. e) O verso “Os elementos mais cotidianos” remete
PV2D-07-54

e) exaltou a cidade natal, fez a apologia da preguiça às experiências mais simples, menos valorizadas
criadora, valorizou os mitos amazônicos. pelo eu lírico.

243
331. UFPE d) Em I, o uso de verbo na primeira pessoa e de
Manuel Bandeira reuniu grande parte da sua poesia em interjeição é índice da emotividade do eu.
um único volume, o que nos permite observar que: e) A interjeição “puxa!” (texto II) é, ao mesmo tempo, ex-
( ) em Estrela da vida inteira estão reunidas várias pressão de êxtase amoroso e índice de irreverência.
antologias de Bandeira; entre outras, as primeiras,
333. Mackenzie-SP
A cinza das horas e Carnaval, em que revela ainda
tendências parnasianas e simbolistas, e outras, Assinale a alternativa correta.
como Ritmo dissoluto, Estrela da manhã, Estrela a) Em I e II, amor e morte compõem uma antítese
da tarde e, por último, Mafuá do Malungo. em que os termos se excluem mutuamente.
( ) as referências biográficas tornam-se necessárias, b) Em I e II, a caracterização de rio colabora para a
pois sua poesia tem caráter confidencial. A tuber- criação de um efeito de espiritualidade amorosa.
culose, a decadência familiar, a saudade difusa da c) Em II, a distribuição gráfica dos versos sugere o
terra natal explicam a arte contida em “toda uma movimento do rio.
vida que poderia ter sido e que não foi.” d) Em II, a palavra verduras tem sentido oposto ao
de verdores (texto I).
( ) na evolução de sua obra, o poeta, em adesão ao
e) Em I e II, a estrutura narrativa, apoiando-se no pre-
Modernismo, abandonou o lirismo em favor de
sente do subjuntivo, caracteriza ação hipotética.
críticas mordazes ao Parnasianismo, adotando, a
partir de então, somente formas estéticas radicais
de vanguarda. 334. Mackenzie-SP
( ) a tristeza do autor de Estrela da vida inteira to- No texto II, Bandeira recupera, dos versos de Bocage:
mou uma direção lamentosa e doentia. O poeta a) a idealização do mundo natural.
não conseguiu, assim, realizar o que disse em b) o sofrimento amoroso típico do egocentrismo
versos: “Não quero saber do lirismo que não é exacerbado.
libertação”. c) a concepção platônica de amor, característica da
( ) seus poemas trazem como marca a simplicidade da poesia clássica.
linguagem clara, acessível e direta, marcada pela d) os versos brancos de tradição modernista.
consciência da fragilidade da vida, e revelam um e) o tom irreverente dos poemas românticos.
olhar que capta o que está por trás das coisas.
335. Mackenzie-SP
Texto para as questões de 332 a 335.
O texto II é prova de que o Modernismo brasileiro, em
I sua fase heróica:
Se é doce no recente, ameno estio a) apoiou-se no princípio da imitação artística, típico
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores, da arte quinhentista.
E, lambendo as areias e os verdores, b) repetiu clichês poéticos, confirmando um ideal de
Mole e queixoso deslizar-se o rio; estética romântica.
Mais doce é ver-te de meus ais vencida, c) produziu poesia inovadora, apoiada no princípio
da “arte pela arte”.
Dar-me em teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, melhor que a vida. d) consagrou uma linguagem poética de tom solene
e grandiloqüente.
Bocage
e) recuperou a tradição literária de forma crítica e
II
criativa.
Doçura de, no estio recente,
Ver a manhã toucar-se de flores,
336.
E o rio
No início do século XX, surgiram algumas tendências,
mole
verdadeiras expressões artísticas revolucionárias e
queixoso
fundadoras da modernidade. Elas enfocavam tanto
Deslizar, lambendo areias e verduras;
a euforia das grandes invenções (a Belle Époque)
Doçura muito maior quanto o pessimismo do período entreguerras, am-
De te ver bos frutos da Era da Máquina. A literatura incorpora
Vencida pelos meus ais essas transformações por meio de maior dinamismo
Me dar nos teus brandos olhos desmaiados da linguagem e da ruptura com os padrões estéticos
Morte, morte de amor, muito melhor do que a vida, puxa! estabelecidos até então. Assinale a seguir o texto que
Manuel Bandeira não pode ser relacionado com tal período.
a) O capoeira
332. Mackenzie-SP – Qué apanhá sordado?
Assinale a alternativa correta. – O quê?
a) Em I e II, o eu lírico dirige-se explicitamente à – Qué apanhá?
amada morta. Pernas e cabeças na calçada.
b) As semelhanças formais entre os textos I e II
asseguram a identidade de sentido entre eles. b) pronominais
c) A linguagem informal, em I, reveste-se de expres- Dê-me um cigarro
sões coloquiais. Diz a gramática
244
Do professor e do aluno Mandou chamar o médico:
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco – Diga trinta e três.
Da Nação Brasileira – Trinta e três ...trinta e três... trinta e três...
Dizem todos os dias – Respire.
....................................................................................
Deixa disso camarada
– O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo
Me dá um cigarro
e o pulmão direito infiltrado.
c) Cota zero – Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
Stop. – Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
A vida parou Assinale a alternativa correta com relação a esse texto.
ou foi o automóvel? a) O léxico presente no texto comprova sua filiação
à estética modernista; entretanto, a metrificação
d) Língua Portuguesa
utilizada desautoriza tal afirmação.
Última flor do Lácio, inculta e bela,
b) É um exemplo de prosa poética: não adota es-
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
truturas métricas anticonvencionais e comprova
Ouro nativo, que na ganga impura a ironia e o sentimento tragicômico do autor com
A bruta mina entre os cascalhos vela... relação à morte, como comprova a expressão
“tango argentino”.
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
c) Comprova que a divisão didática entre os gêneros
Tuba de alto clangor, lira singela,
literários (lírico, épico/narrativo, dramático), que
Que tens o trom e o silvo da procela
afirma serem estes excludentes entre si, nem sem-
E o arrolo da saudade e da ternura! pre corresponde à realidade, já que eles podem
e) Paisagem se entrecruzar.
Na atmosfera violeta d) Este texto é um poema, mas nele não há poesia,
A madrugada desbota já que a proposta modernista é romper com a
experiência literária do passado.
Uma pirâmide quebra o horizonte
e) É um texto no qual a subjetividade não encontra
Torres espirram do chão ainda escuro
espaço para sua manifestação plena, posto que o
Pontes trazem nos pulsos rios bramindo coloquialismo e o prosaico, tão presentes na obra
Entre fogos do autor, não favorecem a qualidade poética.
Tudo novo se desencapotando.
339. UFF-RJ
337. Fuvest-SP Observe as estrofes abaixo.
Leia atentamente o texto. 1. Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida.
Poema só para Jaime Ovalle
Da minha infância querida
Quando hoje acordei, ainda fazia escuro Que os anos não trazem mais.
(Embora a manhã já estivesse avançada.) Casimiro de Abreu
Chovia
Chovia uma triste chuva de resignação 2. – Voei ao Recife, no cais
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da Pousei, na rua da Aurora
noite. – Aurora da minha vida,
Então me levantei, Que os anos não trazem mais!
Bebi o café que eu mesmo preparei. – Que os anos, não, nem os dias
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e Que isso cabe às cotovias.
fiquei Manuel Bandeira
[pensando... Em qual das alternativas encontram-se características
– Humildemente pensando na vida e nas mulheres dos movimentos literários aos quais pertenceram,
que amei. respectivamente, os dois poetas anteriores?
Manuel Bandeira, a) 1. Culto à forma
2. Descrição da realidade
Transcreva o verso que sugere a solidão do poeta.
b) 1. Volta aos modelos greco-latinos
2. Idealização da mulher
338.
c) 1. Objetivismo
Leia a seguir o poema Pneumotórax, de Manuel
2. Retorno ao passado
Bandeira.
d) 1. Forma poética tradicional
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. 2. Apego à rima e à métrica
PV2D-07-54

A vida inteira que podia ter sido e que não foi. e) 1. Subjetivismo
Tosse, tosse, tosse. 2. Paródia e fuga ao rigor formal

245
340. Terei a mulher que eu quero
Evocação do Recife Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
(...)
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos
A respeito do poema Vou-me embora pra Pasárgada,
livros é correto afirmar que:
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
a) assume a atitude vanguardista do movimento
Língua certa do povo antropofágico.
Porque ele é que fala gostoso o português do
b) nega o irracionalismo modernista, imaginando
Brasil
Pasárgada como reflexo do mundo real.
Ao passo que nós
c) recupera valores românticos na linguagem, ao
O que fazemos
empregar versos livres.
É macaquear
d) resgata o tema romântico da evasão, opondo um
A sintaxe lusíada
espaço “lá” ao espaço “aqui”.
A vida com uma porção de coisas que eu não
e) supera o ideal modernista de valorização do futuro,
entendia bem
ao mencionar produtos da tecnologia.
Terras que eu não sabia onde ficavam
(...) 342. USF-SP
Aplica-se à arte de Manuel Bandeira a seguinte afir-
Qual característica modernista de conteúdo está pre- mação:
sente nesse excerto?
a) Foi uma das mais vivas e panfletárias poesias da
341. Fatec-SP nossa literatura, com seu humor ferino e poder de
corrosão.
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada b) A simplicidade é a marca própria da sua inspira-
Lá sou amigo do rei ção, traduzida em linguagem atenta aos fatos e
sentimentos do cotidiano.
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei c) Sua melhor fase foi marcada pelo nacionalismo e
Vou-me embora pra Pasárgada pelo pitoresco, sempre utilizando o folclore como
matéria de poesia.
Vou-me embora pra Pasárgada d) Um sentimento fervorosamente católico aliou-se,
Aqui eu não sou feliz nesta poesia, a um sentido de combate aos hor-
Lá a existência é uma aventura rores da História moderna.
De tal modo inconseqüente e) É sem dúvida graciosa e superficial, pelo que foi
Que Joana a Louca de Espanha combatida pelos poetas modernistas.
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente 343. Fuvest-SP
Da nora que nunca tive
Indique a alternativa em que a aproximação estabe-
E como farei ginástica lecida está correta.
Andarei de bicicleta a) A terra paradisíaca, em Gonçalves Dias, é projeção
Montarei em burro bravo nacionalista; a Pasárgada, de Manuel Bandeira, é
Subirei no pau-de-sebo anseio intimista de evasão.
Tomarei banhos de mar!
b) O lirismo de Gregório de Matos é conflitivo e con-
E quando estiver cansado
fessional; o de Cláudio Manuel da Costa é sereno
Deito na beira do rio
e impessoal.
Mando chamar a mãe d’água
Pra me contar as histórias c) A ficção regionalista e imatura do século XIX ga-
Que no tempo de eu menino nhou força ao abraçar as teses do determinismo
Rosa vinha me contar científico, no século XX.
Vou-me embora pra Pasárgada d) José de Alencar buscou expressar nossa diversi-
dade cultural – projeto que só a obra de Machado
Em Pasárgada tem tudo
de Assis viria a realizar.
É outra civilização
Tem um processo seguro e) A figura do malandro, positiva em Manuel Antônio
De impedir a concepção de Almeida, é o alvo de Mário de Andrade em sua
Tem telefone automático sátira Macunaíma.
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas Texto para as questões 344 e 345.
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste Satélite
Mas triste de não ter jeito Fim de tarde,
Quando de noite me der No céu plúmbeo
Vontade de me matar A Lua baça
– Lá sou amigo do rei – Paira.

246
Muito cosmograficamente tila o primeiro raio do sol, em suas faces incendiadas
Satélite. rutilava o primeiro sorriso da esposa, aurora de fruído
amor.
Desmetaforizada,
ALENCAR, José de. Iracema, 1865.
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia, Texto II
Não é agora o golfão de cismas, A primeira vez que vi Teresa
O astro dos loucos e enamorados, Achei que ela tinha pernas estúpidas
Mas tão-somente Achei também que a cara parecia uma perna
Satélite. Quando vi Teresa de novo
Ah Lua deste fim de tarde, Achei que os olhos eram muito mais velhos que
Demissionária de atribuições românticas; [o resto do corpo
Sem show para as disponibilidades sentimentais! (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando
[que o resto do corpo nascesse)
Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti, assim: Da terceira vez não vi mais nada
Coisa em si, Os céus se misturaram com a terra
– Satélite. E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a
Manuel Bandeira [face das águas.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem, 1960.
344. Mackenzie-SP
346. UFRJ
Assinale a alternativa correta.
A que estilos literários pertencem os textos I e II e
a) Os versos, todos em redondilha menor, confirmam, como se caracteriza a relação amorosa em cada um
no ritmo, o tom de tédio. deles?
b) O céu avermelhado do fim de tarde contrasta com
a Lua emergente e sem brilho. 347. UFRJ
c) A Lua, vista apenas como um satélite, é sentida Qual a mudança que se constata na forma como é vista
e expressa de maneira grandiloqüente e com um a mulher, na terceira estrofe do texto II, em relação às
sentimentalismo exacerbado. duas primeiras?
d) As duas negações a respeito da Lua, que estão
348. Vunesp
nos versos 7 e 8, ratificam-se no verso 9, em que
O bicho
a Lua aparece despida de um “velho segredo”.
Vi ontem um bicho
e) Os decassílabos da primeira estrofe confirmam Na imundície do pátio
o desejo de despojamento de sentimento e de Catando comida entre os detritos.
palavras. Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
345. Mackenzie-SP Engolia com voracidade.
Assinale a alternativa incorreta. Pressupõe-se que:
a) em outro tempo, atribuiu-se à lua um segredo de O bicho não era um cão,
melancolia. Não era um gato,
Não era um rato.
b) a Lua dos loucos e enamorados é atribuição ro-
mântica. O bicho, meu Deus, era um homem.
c) a Lua, espetáculo para sentimentalismos e emoções Observando o poema de Manuel Bandeira, podemos
fáceis, não é a lua essencial, que o poeta quer. encontrar uma única expressão que indica o senti-
d) o poeta está cansado da exploração que foi feita mento do poeta.
da lua. a) Qual é essa expressão, que sentimento ela indica
e) o poeta nega os sentimentos. e como deve ser gramaticalmente classificada?
b) Esse sentimento está enfatizado através de um
processo estilístico que engloba os predicativos
Texto para as questões 346 e 347.
do sujeito. Dê o nome desse processo.
Texto I
Abriram-se os braços do guerreiro adormecido e 349. UFSCar-SP
seus lábios; o nome da virgem ressoou docemente. Não permita Deus que eu morra
A juruti, que divaga pela floresta, ouve o terno Sem que ainda vote em você;
arrulho do companheiro; bate as asas, e voa ao acon- Sem que, Rosa amigo, toda
chegar-se ao tépido ninho. Assim a virgem do sertão
Quinta-feira que Deus dê,
aninhou-se nos braços do guerreiro.
Quando veio a manhã, ainda achou Iracema Tome chá na Academia
ali debruçada, qual borboleta que dormiu no seio do Ao lado de vosmecê,
PV2D-07-54

formoso cacto. Em seu lindo semblante acendia o pejo Rosa dos seus e dos outros,
vivos rubores; e como entre os arrebóis da manhã cin- Rosa da gente e do mundo,

247
Rosa de intensa poesia Texto para as questões 353 e 354.
De fino olor sem segundo; Um dos maiores benefícios que o movimento mo-
Rosa do Rio e da Rua, derno nos trouxe foi justamente esse: tornar alegre a
Rosa do sertão profundo literatura brasileira. Alegre quer dizer saudável, viva,
Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. consciente de sua força, satisfeita com seu destino.
Até então no Brasil a preocupação de todo escritor
Nesse poema, Manuel Bandeira cita, direta ou indire-
era parecer grave e severo. O riso era proibido. A pena
tamente, obras de outros autores.
molhava-se no tinteiro da tristeza e do pessimismo.
a) Identifique o nome de uma dessas obras e o de O papel servia de lenço. De tal forma que os livros
seu autor. espremidos só derramavam lágrimas. Se alguma idéia
b) O poema de Bandeira está escrito em versos livres? caía vinha num pingo delas. A literatura nacional não
Por quê? passava de uma queixa gemebunda.
Por isso mesmo o segundo tranco da reação foi
350. Fuvest-SP mais difícil: integração no ambiente. Fazer literatura bra-
Porquinho-da-Índia sileira mas sem choro. Disfarçando sempre a tristeza do
Quando eu tinha seis anos motivo quando inevitável. Rindo como um moleque.
Ganhei um porquinho-da-índia. Antônio de Alcântara Machado, Cavaquinho e saxofone.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! 353. Unifesp
Levava ele pra sala Entre os textos de Manuel Bandeira (de O ritmo dis-
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos soluto), transcritos nas cinco alternativas, aquele que
Ele não gostava: comprova a opinião de Alcântara Machado é:
Queria era estar debaixo do fogão. a) E enquanto a mansa tarde agoniza,
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas ... Por entre a névoa fria do mar
– O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira na- Toda a minhalma foge na brisa;
morada. Tenho vontade de me matar.
Manuel Bandeira b) A beleza é um conceito.
a) Aponte, no poema, dois aspectos de estilo que E a beleza é triste.
Não é triste em si,
estejam relacionados ao tema da infância. Explique
sucintamente. Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
b) Qual é o elemento comum entre a experiência c) Sorri mansamente... em um sorriso pálido... pálido
Como o beijo religioso que puseste
infantil e a experiência adulta presentes no poema?
Na fronte morta de tua mãe... sobre a sua fronte
Explique sucintamente.
morta...
351. Mackenzie-SP d) Noite morta.
Assinale a alternativa correta sobre Antônio de Alcân- Junto ao poste de iluminação
tara Machado. Os sapos engolem mosquitos.
a) Em seus contos nota-se o aproveitamento de e) A meiga e triste rapariga
temas ligados ao cotidiano da cidade de São Punha talvez nessa cantiga
Paulo. A sua dor e mais a dor de sua raça...
b) Dá especial destaque à alta sociedade paulistana, Pobre mulher, sombria filha da desgraça!
ressaltando a complexidade psicológica das perso-
nagens. 354. Unifesp
Assinale a alternativa que indica apenas as obras
c) Seu estilo informal valoriza o linguajar do migrante
de ficção que, por serem anteriores ao “movimento
nordestino.
moderno”, contrariam as observações apresentadas
d) Embora contemporâneo de Mário e de Oswald de no texto de Antônio de Alcântara Machado.
Andrade, evitou adotar os princípios estéticos do
a) A moreninha, Lucíola, Dom Casmurro.
Modernismo de 22.
b) O sertanejo, O cortiço, O ateneu.
e) Os contos reunidos em Brás, Bexiga e Barra Funda
c) Memórias de um sargento de milícias, Memórias
representam o ponto alto da ficção intimista do
póstumas de Brás Cubas, O noviço.
século XX.
d) Memorial de Aires, Iracema, O missionário.
352. UFAM e) A normalista, Os sertões, Canaã.
São livros de Antônio de Alcântara Machado e Jorge
de Lima, respectivamente: 355. UEL-PR
a) Brás, Bexiga e Barra Funda e Sentimento do Com relação à obra Novelas paulistanas, de Alcântara
Machado, é correto afirmar:
mundo.
a) Apresenta um quadro pitoresco da sociedade pau-
b) Martim-Cererê e A túnica inconsútil.
listana da década de 1920. Seu poder descritivo ex-
c) Brás, Bexiga e Barra Funda e Libertinagem. plora as relações humanas, incorporando ao quadro
d) Juca Mulato e XIV Alexandrinos. nacional a figura do imigrante e fornecendo, assim,
e) Laranja da China e Invenção de Orfeu. uma visão mais ampla da sociedade brasileira.
248
b) Voltada para a realidade circundante, nega a incor- 358.
poração do negro como parte formativa da cultura Leia atentamente os fragmentos abaixo e responda
brasileira, revelando, com isso, um olhar preconcei- à questão.
tuoso diante da diversidade étnica do Brasil.
Texto I
c) Assim como grande parte da prosa modernista, Ora sabereis que a sua riqueza de expressão intelectu-
é marcada pelo rigor formal e pela escassez de al é tão prodigiosa que falam numa língua e escrevem
inovações estéticas, o que confere ao discurso de noutra. Assim chegado a estas plagas hospitalares,
Alcântara Machado um tom tradicional e erudito. nos demos ao trabalho de bem nos inteirarmos da
d) A utilização do tom coloquial projeta Alcântara etnologia da terra, e dentre muita surpresa e assombro
Machado rumo a um paralelo com a idealização que se nos deparou por certo não foi das menores tal
romântica, pois os imigrantes são idealizados e originalidade lingüística. Nas conversas, utilizam-se os
aproximados à figura do índio romântico, ou seja, paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso
o imigrante é visto como um prolongamento da de feição e impuro na vernaculidade (...). Mas si de
figura do herói nacional. tal desprezível língua se utilizam na conversação os
e) O humor é conseguido pela adoção do sentimen- naturais desta terra, logo que tomam da pena, se des-
talismo romântico, sobretudo no que se refere à pojam de tanta asperidade, (...), exprimindo-se numa
figura do imigrante. outra linguagem, (...) que com imperecível galhardia,
se intitula: língua de Camões!
356. Fasm-SP Texto II
Brás, Bexiga e Barra Funda, obra escrita por Alcântara (...) A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Machado em 1927, compõe-se de onze narrativas Vinha da boca do povo na língua errada do povo
curtas e traz como subtítulo “Notícias de São Paulo”. Língua certa do povo.
Deste livro como um todo, pode-se afirmar que: Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
a) apresenta estilo seco e uma linguagem sintatica- Ao passo que nós
mente complexa com predominância de períodos O que fazemos
longos e de orações subordinadas, que dificultam É macaquear
a leitura do texto. A sintaxe lusíada (...)
b) caracteriza o modo de vida do brasileiro e oferece o
recorte paulistano da família tradicional bandeirante. O texto I pertence ao capítulo “Carta pras Icamiabas”, da
c) está impregnado de uma atmosfera de reportagem obra Macunaíma, de Mário de Andrade. O texto II é trecho
que o aproxima do jornal por captar o fato, o ins- do poema Evocação do Recife, de Manuel Bandeira.
tantâneo da vida cotidiana. Assinale a afirmação incorreta com relação às obras.
d) revela aversão ao estilo afetado e ao convencio- a) O poeta Bandeira defende o prosaico e faz uma
nalismo literário, mas não sofreu influência nem exaltação da língua popular brasileira, uma das
do cinema nem do jornal. marcas da estética modernista.
e) caricaturiza o brasileiro classe média, homem da b) Ao utilizar termos como galhardia para a linguagem
cidade, vivendo situações de revolta e indignação, escrita e desprezível língua para o discurso oral, Mário
arroubos de brasilidade e comicidade cotidiana. de Andrade se opõe à idéia apresentada pelo eu lírico
do poema, que defende a fala gostosa brasileira.
357. c) Ambos os textos propõem uma reflexão lingüística:
Alcântara Machado escreveu Brás, Bexiga e Barra Funda, a diferença entre os registros no uso da língua, a
em 1927. A respeito dessa obra, é incorreto afirmar que: qual pode ser exemplificada no contraste entre o
a) se encontram nela exemplos de uma ágil literatura cita- português oral e o escrito.
dina, muito de divertimento e um olhar sobre os novos d) O texto I representa algo bem diferente do restante do
bairros operários e de classe média de São Paulo. corpo da rapsódia. A carta rompe com a disposição
b) se caracteriza por uma linguagem em que se coloquial que até então se encarregava da narração
notam nitidamente procedimentos renovadores e instaura uma linguagem formal e empolada.
de construção, cuja marca maior são a concisão e) Os dois autores, modernistas da 1ª geração, usam
e a brevidade. o humor para apontar o mesmo ponto do programa
c) apresenta narrativas montadas à semelhança da estético que os une: a defesa da vertente brasileira
linguagem cinematográfica, com planos, seqüên- da língua portuguesa, em contraste com a tendên-
cias cortes espaço-temporais, elipses, fragmentos, cia academicista, parnasiana, comum na época.
superposição de planos.
d) é habitada por personagens tiradas da realidade da 359. Fatec-SP
vida: o carcamano extrovertido, as costureirinhas Identifique os procedimentos lingüísticos e o estilo de
das fábricas e do comércio em geral, as crianças época que caracterizam o trecho a seguir de Alcântara
pobres e humildes, os “intalianinhos”. Machado.
e) é uma grande sátira ao imigrante italiano que, Trem misterioso. Noite fora noite dentro. O chefe
morando no Brás, desejava alcançar a Avenida vinha recolher os bilhetes de cigarro na boca. Chegava
PV2D-07-54

Paulista e, por isso, a obra mostra-se como crítica a passagem bem perto da ponta acesa e dava uma
aos ítalo-brasileiros por serem uma ameaça à chupada para fazer mais luz. Via mal e mal a data e
família tradicional paulistana. ia guardando no bolso.
249
a) Períodos longos. Coordenação e subordinação. 363. PUC-MG
Pré-Modernismo. - Na avenida Água Branca os bondes formando cordão
b) Períodos curtos. Subordinação. Frases nominais. esperavam campainhando o zé-pereira.
Barroco. - Aqui, Miquelina.
c) Períodos curtos. Coordenação. Frases nominais. Os três espremeram-se no banco onde já havia três.
Modernismo. E gente no estribo. E gente na coberta. E gente nas
d) Períodos longos. Coordenação. Flashes. plataformas. E gente do lado da entrevia.
A alegria dos vitoriosos demandou a cidade. Berran-
360. Mackenzie-SP do, assobiando e cantando. O mulato com a mão no
“Assim, essas cenas cotidianas transformam em heróis guindaste é quem puxava a ladainha:
não aqueles que se destacaram dos demais por feitos - O Palestra levou na testa!
grandiosos, mas justamente o contrário: homens e E o pessoal entoava:
mulheres perdidos no anonimato da cidade grande, Ora pro nobis!
vivendo a mesma vidinha feita de pequenas tragédias
O trecho anterior, de Brás, Bexiga e Barra Funda – No-
e muitas comédias. Os robespierres, washingtons,
tícias de São Paulo, faz juz ao título da obra, porque:
cíceros e ulisses mostram que o verdadeiro grande
personagem não é este ou aquele indivíduo, mas a) apresenta frases nominais, vinculadas ao caráter
sim a multidão dos pequenos heróis de todos os dias jornalístico proposto no título.
que, juntos, compõem o retrato de São Paulo dos b) usa metonímias que garantem personagens italia-
anos 20”. nos, segundo propõe o título.
O trecho acima dá claras informações a respeito de: c) retrata uma cena pertencente ao espaço sugerido
a) Brás, Bexiga e Barra Funda. pelo título.
b) Pathé-Baby. d) conta um fato extraordinário, de caráter noticioso,
c) Laranja da China. de acordo com a afirmação do título.
d) Mana Maria. e) faz ironia à cultura italiana, conforme o título evi-
e) Serafim Ponte Grande. dencia.

361. Mackenzie-SP 364. PUC-MG


Os primeiros escritos de nossa vida documentam Todas as alternativas a seguir apresentam trechos da
precisamente a instauração do processo: são informa- obra Brás, Bexiga e Barra Funda, que trazem em des-
ções que viajantes e missionários europeus colheram taque espressões que se relacionam a características
sobre a natureza e o homem brasileiro (...) É graças das personagens, exceto:
a essas tomadas diretas da paisagem, do índio e dos a) Fazem parte do dia-a-dia paulistano: “– Diga a ela
grupos sociais nascentes, que captamos as condições que eu a espero amanhã de noite, às oito horas,
primitivas de uma cultura que só mais tarde poderia na rua... atrás da Igreja de Santa Cecília. Mas que
contar com o fenômeno da palavra-arte. ela vá sozinha, hein? Sem você. O barbeirinho
Em mais de um momento, a inteligência brasileira, também pode ficar em casa. – Barbeirinho nada!
reagindo contra certos processos agudos de euro- Entregador da Casa Clark!”
peização, procurou, nas raízes da terra e do nativo,
imagens para se afirmar em face do estrangeiro. b) São nomeados de forma a expressar a relação
ítalo-brasileira: “Depois que os seus olhos cheios
Assinale a alternativa em que aparece o nome de um de estrabismo e despeito vêem a lanterninha tra-
autor que não apresentou tal tendência em qualquer seira do Buick desaparecer, Bianca resolve dar um
parte de usa obra.
giro pelo bairro. Imaginando cousas. Roendo as
a) Oswald de Andrade unhas. Nervosíssima. Logo encontra a Ernestina.
b) José de Alencar Conta tudo à Ernestina.”
c) Gonçalves Dias c) Expressam a influência italiana através de estran-
d) Antônio de Alcântara Machado geirismo: “O capital acendeu um charuto. O con-
e) Mário de Andrade selheiro coçou os joelhos disfarçando a emoção.
A negra de broche serviu o café. – Dopo o doutor
362. PUC-MG me dá a resposta. Io só digo isto: penso bem.”
Todas as afirmativas a seguir se referem aos elementos d) São parte de um contexto urbano: “Dem-dem! O
narrativos dos contos da obra Brás, Bexiga e Barra bonde deu um solavanco, sacudiu os passagei-
Funda, exceto: ros, deslizou, rolou, seguiu. Dem-dem!”
a) muitos enredos se revestem de humor. e) Inserem-se em uma sociedade violenta: “a entra-
b) as personagens traduzem determinada época. da de lisetta em casa marcou época na história
c) o contexto é paulistano, com influências italia- dramática da família Garbone. Logo na porta um
nas. safanão. Depois um tabefe. Outro no corredor.
d) o narrador é distante e frio ante os fatos narra- Intervalo de dois minutos. Foi então a vez das
dos. chineladas. Para remate. Que não acabava mais.
e) cada conto se faz independente, com temáticas O resto da gurizada (...) reunido na sala de jantar
variadas. sapeava de longe.”
250
365. PUC-MG 368. Unicamp-SP
O título da obra Brás, Bexiga e Barra Funda - Notí- O conto “Gaetaninho” começa com a fala “– Xi, Gae-
cias de São Paulo, de Alcântara Machado, só não taninho, como é bom!” e termina com a seguinte afir-
se relaciona: mação: “Quem na boléia de um dos carros do cortejo
a) ao vínculo paulista com a cultura italiana. mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista
b) ao espaço da narrativa. da gente era o Beppino”.
c) à imparcialidade com que as histórias são narra- Antônio Alcântara Machado. “Gaetaninho”, in Brás, Bexiga e Barra
Funda. Belo Horizonte/Rio de Janeiro, Villa Rica Ed. Reunidas, 1994.
das.
d) a acontecimentos cotidianos que a obra relata. A fala inicial é de Beppino, mencionado também no
e) ao estilo jornalístico que perpassa os contos. último parágrafo.
a) A que ele se referia como sendo bom?
366. Mackenzie-SP
b) Ambos os trechos citados têm relação direta com o
Parlo assim para facilitar. Non é para ofender. Primo
núcleo central da narrativa. Que núcleo é esse?
o doutor pense bem. E poi me dê a sua resposta. Do-
mani, dopo domani, na outra semana, quando quiser, c) Que relação há entre os nomes próprios das per-
io resto à sua disposição. Ma pense bem! sonagens e o título do livro?
O trecho acima faz parte de:
369. Fuvest-SP
a) Amar, verbo intransitivo.
(…) No fundo o imponente castelo. No primeiro
b) Serafim Ponte Grande.
plano a íngreme ladeira que conduz ao castelo.
c) Brás, Bexiga e Barra Funda. Descendo a ladeira numa disparada louca o fogoso
d) Laranja da China. ginete. Montado no ginete o apaixonado caçula do
e) Memórias sentimentais de João Miramar. castelão inimigo de capacete prateado com plumas
brancas. E atravessada no ginete a formosa donzela
367. PUC-SP desmaiada entregando ao vento os cabelos cor de
Alcântara Machado escreveu Brás, Bexiga e Barra Funda, carambola.
em 1927. A linguagem de sua obra, ainda que prosaica e A. de Alcântara Machado, Carmela
objetiva, é marcada por procedimentos estilísticos poéti-
cos, denunciados pela presença de figuras de linguagem. (…) Íamos, se não me engano, pela rua das
Assim, indique a alternativa em que, em trechos da obra Mangueiras, quando, voltando-nos, vimos um carro
citada, ocorre a presença de uma metáfora. elegante que levavam a trote largo dois fogosos ca-
a) Aristodemo deu folga no serviço. Também levou valos. Uma encantadora menina, sentada ao lado de
um colosso de cópias. uma senhora idosa, se recostava preguiçosamente
b) O violão e a flauta recolhendo de farra emudece- sobre o macio estofo e deixava pender pela cobertura
ram respeitosamente na calçada. derreada do carro a mão pequena que brincava com
c) O vestido de Carmela coladinho no corpo era de um leque de penas escarlates.
organdi verde. Braços nus, colo nu, joelhos de fora. José de Alencar, Lucíola
Sapatinhos verdes. Bago de uva marengo para os
lábios dos amadores. Nesses excertos, observa-se que a maioria dos subs-
d) Não é assim não. Retumbante tem que estalar, tantivos são modificados por adjetivos ou expressões
criaturas, tem que retumbar! É palavra... onoma- equivalentes. Comparando os dois textos:
topaica. RETUMBANTE. a) aponte em cada um deles o efeito produzido por
e) Resolveu primeiro apertar o homem no vencimento tal recurso lingüístico;
da letra. E acendeu um Castro Alves. b) justifique sua resposta.

Capítulo 4
370. FAAP-SP os filósofos são polacos vendendo a prestações.
Texto I A gente não pode dormir
Minha terra tem palmeiras com os oradores e os pernilongos.
Onde canta o sabiá; Os sururus em família têm por testemunha a
As aves que aqui gorjeiam, Gioconda.
Não gorjeiam como lá. Eu morro sufocado
Gonçalves Dias
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
Texto II
nossas frutas são mais gostosas
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza. mas custam cem mil réis a dúzia.
PV2D-07-54

Os poetas da minha terra Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade


são pretos que vivem em torres de ametista, e ouvir um sabiá com certidão de idade!
os sargentos do exército são monistas, cubistas, Murilo Mendes
251
O texto II pertence ao estilo de época do: a) Já não pareciam condenados a trabalhos forçados:
a) Modernismo. d) Pré-modernismo. assimilavam o interesse da produção. E o senhor
b) Dadaísmo. e) Simbolismo. de engenho premiava-lhes as iniciativas adquirin-
do-lhes os produtos a bom preço.
c) Futurismo.
b) Chape-chape. As alpercatas batiam no chão
371. Fuvest-SP rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as
Só em torno de 30, e depois, o Brasil histórico e con- pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se
creto, isto é, contraditório e já não mais mítico, seria o desengonçados. Parecia um macaco. Entristeceu.
objeto preferencial de um romance neo-realista e de Considerar-se plantado em terra alheia! Engano.
uma literatura abertamente política. Mas ao longo dos c) Toda a gente tinha achado estranha a maneira como
anos propriamente modernistas, o Brasil é uma lenda o Capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de
sempre se fazendo.
Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém
Alfredo Bosi, Céu, Inferno
sabia de onde, com o chapéu barbicado puxado
Aceitando-se o que afirma o texto, poder-se-ia coeren- para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente
temente complementá-lo com o seguinte período: erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava
a) “Lendário é o coronel do cacau de Jorge Amado, e ao mesmo tempo fascinava as pessoas.
tanto ou mais que o senhor de engenho de José d) Explico ao senhor: o diabo vive dentro do homem,
Lins do Rego.” os crespos do homem – ou é o homem arruinado,
b) “É assim que se deve reconhecer o modo pelo qual ou o homem dos avêssos. Solto, por si, cidadão,
se opõem as narrativas de Graciliano Ramos e as é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que
de Clarice Lispector.”
digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco
c) “Em sua obra-prima ficcional, Macunaíma, Mário
– é alta mercê que me faz: e pedir posso, encare-
de Andrade veio a recusar esse país mítico-len-
dário, abrindo aquela vertente neo-realista.” cido. Êste caso – por estúrdio que me vejam – é
d) “Se na fase modernista mais impetuosa a persona- de minha certa importância.
gem Macunaíma deu o tom, na subseqüente deu-o e) Antônio Balduíno fala. Ele não está fazendo discur-
o nordestino de Graciliano Ramos e de José Lins so, gente. Está é contando o que viu na sua vida
do Rego.” de malandro. Narra a vida dos camponeses nas
e) “Veja-se, como ilustração dessa passagem, que a plantações de fumo, o trabalho dos homens sem
saga regionalista de um Érico Veríssimo deu lugar mulheres, o trabalho das mulheres nas fábricas de
ao universalismo da ficção de Clarice Lispector”. charuto. Perguntem ao Gordo se pensarem que é
mentira. Conta o que viu. Conta que não gostava
372. Fuvest-SP de operário, de gente que trabalhava.
Em determinada época, o romance brasileiro “procurou
(...) enraizar fortemente as suas histórias e os seus 375. UEL-PR
personagens em espaços e tempos bem circunscritos, Na década de 30 do século XX:
extraindo de situações culturais típicas a sua visão a) o Modernismo viu esgotados seus ideais, com
do Brasil.” a retomada de uma prosa e de uma poesia de
Alfredo Bosi
caráter conservador.
Essa afirmação aplica-se a:
b) a poesia se renovou significativamente, graças
a) Vidas Secas e Fogo Morto. a poetas como Carlos Drummond de Andrade e
b) Macunaíma e A Hora da Estrela. Murilo Mendes.
c) A Hora da Estrela e Serafim Ponte Grande. c) não houve surgimento de grandes romancistas, o
d) Fogo Morto e Serafim Ponte Grande. que só viria a ocorrer na década seguinte.
e) Vidas Secas e Macunaína. d) predominou, ainda, o ideário modernista dos pri-
meiros momentos, sendo central a figura de Graça
373. Mackenzie-SP Aranha.
Ficou conhecida como Geração de 1930, na prosa e) a poesia abandonou de vez o emprego do verso,
modernista, um grupo de escritores que refletiu a pro- substituindo-o pela composição de palavras soltas
blemática político-social do Brasil da época. no espaço da página.
Não faz parte de tal geração:
a) Graciliano Ramos 376. UEL-PR
b) José Lins do Rego Na década de 30, revelaram-se escritores que souberam
c) Jorge Amado revitalizar as conquistas estéticas e culturais da primeira
d) João Guimarães Rosa fase do Modernismo, tais como os autores de:
e) Rachel de Queiroz a) Sagarana e Laços de família.
b) Memórias sentimentais de João Miramar e Contos
374. Mackenzie-SP novos.
Assinale a alternativa na qual aparece um trecho que c) Triste fim de Policarpo Quaresma e Canaã.
não pode ser creditado a qualquer escritor na prosa d) Menino de engenho e O quinze.
modernista dos anos trinta. e) Paulicéia desvairada e Martim-Cererê.

252
377. UFPE 02. Eu quero os meus brinquedos novamente!/ Sou
Acerca do romance de 1930, analise as proposições um pobre menino... acreditai.../ Que envelheceu,
abaixo. um dia, de repente!... Mário Quintana revela sau-
( ) O ciclo do romance regional de 1930 é um dos princi- dade da infância, tempo feliz, em contraste com o
pais da prosa dessa geração. É o regionalismo nordes- desagrado da velhice digna de piedade.
tino, abordando a decadência da região, tendo como 04. Ah!, se eu pudesse, tardezinha pobre,/ Eu pintava tre-
tema único o êxodo rural provocado pela seca. zentos arco-íris/ Nesse tristonho céu que nos encobre
( ) Graciliano Ramos, alagoano, iniciou-se na literatu- ... O poeta faz uso das figuras de linguagem hipérbole
ra com Caetés. Tem como obras principais Vidas (exagero) e prosopopéia (personificação).
secas, São Bernardo e Angústia, nas quais analisa 08. Quantas coisas perdidas e esquecidas/ no teu baú
a realidade da vida rural do Nordeste, com aspere- de espantos... Bem no fundo,/ uma boneca toda
za, linguagem rigorosa, precisa e despojada, sem estraçalhada!/ É ela, sim! Só pode ser aquela,/ a
nenhuma concessão sentimental. jamais esquecida Bem-Amada./ Em vão tentas
( ) José Lins do Rego, paraibano, aborda, em seus lembrar o nome dela.../ E em vão ela te fita... e
livros, o ciclo da cana-de-açúcar, o esplendor e a sua boca/ tenta sorrir-te mas está quebrada!
a decadência dos engenhos do Nordeste e do Mário Quintana, através de metáforas, sugere
patriarcalismo rural. Em suas obras, mistura bio- uma divagação pelo seu tempo de infância, haja
grafia com ficção. Nelas predomina a linguagem vista a saudade da menina amada, de cujo nome
espontânea e repetitiva. e sorriso não consegue lembrar-se.
( ) Raquel de Queiroz, cearense, escreveu como livro 16. A morte deveria ser assim:/ um céu que pouco a
de estréia O quinze. Sua narrativa sintoniza-se pouco anoitecesse/ e a gente nem soubesse que
com o regionalismo da geração de 1930, em que era o fim. O poeta faz uma reflexão em torno do
se pode notar a pré-consciência do subdesen- mistério que a palavra morte sugere, porque não
volvimento. Nesta fase de sua obra, destaca-se sabe como, nem quando vai ocorrer, mas aspira a
ainda Caminho de pedra. Mais tarde, a escritora que seja simples e suave como o anoitecer.
abandonou os temas de denúncia social. Some os números dos itens corretos.
( ) Jorge Amado, baiano, em um realismo precário, Texto para as questões 380 e 381.
mas pitoresco, descreve, em Jubiabá, as agruras
Além do horizonte, deve ter
da seca do sertão baiano.
Algum lugar bonito pra viver em paz
378. UFRGS-RS Onde eu possa encontrar a natureza
Assinale a afirmação correta sobre o romance de 1930. Alegria e felicidade com certeza.
a) Predominou, entre os autores, uma preocupação Lá nesse lugar o amanhecer é lindo
de renovação estética seguindo os padrões da com flores festejando mais um dia que vem vindo
vanguarda literária européia. Onde a gente possa se deitar no campo
b) Na obra de José Lins do Rego predomina a Se amar na selva, escutando o canto dos pássaros.
narrativa curta de recriação do modo de vida dos
380. UFPE
senhores de engenho.
Roberto e Erasmo Carlos estão falando de um lugar
c) Os autores, em suas obras, tematizaram os proble-
ideal, de um ambiente campestre, calmo.
mas sociais com o intuito de denunciar as agruras
A natureza representou a afirmação do nacionalismo
das populações menos favorecidas.
brasileiro, nos períodos romântico e modernista.
d) O caráter regionalista dos romances deste período Partindo deste pressuposto, assinale a alternativa
deve-se à reprodução fiel do linguajar típico de incorreta.
cada região.
a) “O exotismo e a exuberância da natureza brasileira
e) A obra de Jorge Amado pode ser considerada tanto inspiraram os autores românticos quanto os
uma exceção, no conjunto da época, porque seus
modernistas.”
romances apresentam uma grande inovação na
b) “O ufanismo nacionalista foi explorado no Ro-
estrutura narrativa.
mantismo, enquanto no Modernismo havia, para o
379. UFSC nacionalismo, uma perspectiva crítica.”
Mário Quintana, considerado pela crítica um lírico autên- c) “Para os românticos, a natureza exerceu profundo
tico, possuía rigoroso domínio da forma poética e uma fascínio; nela eles viam a antítese da civilização
agilidade criadora que lhe permitiam passar de uma ins- que os oprimia.”
piração a outra, sem deter-se em lugares-comuns. Seus d) “No Modernismo, os princípios nacionalistas defendi-
poemas têm um direcionamento mais filosófico do que dos por seus representantes incluíam o culto à nature-
social. Assinale as proposições em que o comentário está za, comprometido com a visão européia de mundo.”
correto de acordo com o texto de Mário Quintana. e) “Nas várias tendências do movimento modernista,
01. Que dança que não se dança?/ Que trança não se a natureza não se apresenta transfigurada, mas
destrança?/ O grito que voou mais alto/ Foi um grito real. Os modernistas não se consideravam nacio-
PV2D-07-54

de criança. O autor fez uso, nesse texto, a exemplo nalistas exaltados só pelo simples fato de serem
dos simbolistas, da musicalidade obtida pela repeti- brasileiros. Antes de mais nada, não tinham medo
ção e/ou semelhança de palavras e sons. de falar dos males do Brasil.”
253
381. UFPE ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de
Nos poemas, contos e romances cuja temática é nor- muito bons ares, assim frios e temperados, como
destina, a literatura moderna apresenta a Natureza os de Entre Douro e Minho, poque neste tempo de
quase sempre inóspita, agressiva. Qual dos fragmen- agora os achávamos como os de lá.
tos não justifica esta afirmação? 4 Águas são muitas: infindas. E em tal maneira é
a) Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela
ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar tudo, por bem das águas que tem.
gente para lá. O sertão mandaria para a cidade ho- Carta de Pero Vaz de Caminha. in: PEREIRA, Paulo Roberto (org.) Os
mens fortes, brutos como Fabiano, sinha Vitória e os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil.
Rio de Janeiro: Lacerda, 1999, pp.39-40
dois meninos. Graciliano Ramos, em Vidas secas.
Vocabulário
b) Há uma miséria maior do que morrer de fome no 1. “espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha”:
deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã. associação de imagem, com a tampa de um vasilhame de
José Américo de Almeida, em A bagaceira. couro, para transportar água ou vinho, que recebia o nome
c) Tirei mandioca de chãs que o vento vive a esfolar e de “espelho” por ser feita de madeira polida.
de outras escalavradas pela seca faca solar. João 2. “tintura preta, a modos de azulada”: é uma tintura feita
Cabral de Melo Neto, em Morte e vida severina. com o sumo do fruto jenipapo.
3. “escaques”: quadrados de cores alternadas como os do
d) Debaixo de um juazeiro grande, todo um bando de tabuleiro de xadrez.
retirantes se arranchara (...) Em toda a extensão 4. “parma”: lisa como a palma da mão.
da vista, nem uma outra árvore surgia. Só aquele 5. “chã”: terreno plano, planície.
velho juazeiro, devastado e espinhento, verdejaria Assinale o fragmento que representa uma retomada
a copa hospitaleira na desolação cor de cinza da modernista da carta de Pero Vaz de Caminha.
paisagem. Raquel de Queiroz, em O quinze.
a) O Novo Mundo nos músculos/ Sente a seiva do
e) Este açúcar veio de uma usina de açúcar em
porvir. Castro Alves
Pernambuco(...) Este açúcar era cana e veio dos
canaviais extensos que não nascem por acaso no b) Minha terra tem palmeiras,/ Onde canta o sabiá.
regaço do vale. Ferreira Gullar, em O açúcar. Golçalves Dias
c) A terra é mui graciosa/ Tão fértil eu nunca vi. Murilo
382. UFF-RJ Mendes
Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha d) Irás a divertir-te na floresta,/ sustentada, Marília,
1 Muitos deles ou quase a maior parte dos que anda- no meu braço.Tomás Antônio Gonzaga
vam ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços. e) Todos cantam sua terra / Também vou cantar a
E alguns, que andavam sem eles, tinham os beiços minha. Casimiro de Abreu.
furados e nos buracos uns espelhos de pau, que
pareciam espelhos de borracha; outros traziam três 383. ITA-SP
daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos Certos traços da vertente realista-naturalista da literatu-
cabos. Aí andavam outros, quartejados de cores, a ra brasileira renascem com força nos anos 30 do século
saber, metade deles da sua própria cor, e metade
XX. Um marco desse renascimento é a publicação,
de tintura preta2, a modos de azulada; e outros
em 1938, do livro Vidas secas, de Graciliano Ramos,
quartejados de escaques3. Ali andavam entre eles
romance acerca do qual é possível dizer:
três ou quatro moças, bem moças e bem gentis,
com cabelos muito pretos, compridos pelas espá- I. Ele registra com nitidez as seqüelas da miséria
duas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas sobre uma família pobre de retirantes nordestinos,
e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem miséria essa que acaba levando as personagens
olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha. a um estágio de degradação moral.
2 Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que lI. Diferentemente da narrativa realista do século XIX,
mais contra o sul vimos até a outra ponta que o tema desse livro não é mais o adultério feminino
contra o norte vem, de que nós deste porto hou- e as relações de interesse que marcam a classe
vemos vista, será tamanha que haverá nela bem burguesa, mas sim as condições precárias de
vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao pessoas humildes do sertão brasileiro.
longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, III. Apesar de as personagens viverem em condições
delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima desumanas, elas mantêm a sua dignidade e não
toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De perdem o seu caráter nem a sua humanidade.
ponta a ponta, é toda praia parma4, muito chã5 e Está(ão) correta(s):
muito formosa.
a) I e II.
3 Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito gran-
b) I e III.
de, porque, a estender olhos, não podíamos ver
senão terra com arvoredos, que nos parecia muito c) II e III.
longa. Nela, até agora, não pudemos saber que d) apenas III.
haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal e) todas.

254
384. b) Individualismo auntêntico e generoso, mas carre-
Observe a tela Guernica do pintor espanhol Pablo gado de crítica social.
Picasso e leia o texto a seguir do modernista brasileiro c) Desconfiança diante das convenções sociais
Jorge de Lima estabelecidas.
d) Visão desencantada, irônica e crítica da humanida-
de, materializada pela força da palavra poética.
e) Nostalgia e saudade dos objetos antigos e do
passado.

386. UFSC
Em relação a Mário Quintana, sua obra e o excerto
abaixo, do livro Poemas, é correto afirmar que:
Fere de leve a frase... E esquece... Nada / Convém
Compare o poema narrativo de Jorge de Lima, “O gran- que se repita... / Só em linguagem amorosa agrada /
de desastre aéreo de ontem”, com o quadro Guernica, A mesma coisa cem mil vezes dita.
de Pablo Picasso. 01. O texto poético caracteriza-se por apresentar muitas
Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma inversões que atendem estilisticamente ao ritmo dos
flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista, versos. No excerto, por exemplo, a palavra Só pode
em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com ser deslocada: ‘em linguagem amorosa só agrada’,
sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e sem alteração de significado.
pernas de dançarinas arremessadas na explosão. 02. Percebe-se, no excerto acima, uma preocupação
Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Re-
metalingüística do autor, que extravasa em al-
conhecedor. Vejo a nadadora belíssima, no seu último
guns poemas suas próprias concepções sobre
salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida.
a poesia.
Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como
se dançassem ainda. (...) Ó amigos, o paralítico vem 04. A idéia de o poema ser ‘único’, uma das caracte-
com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, rísticas da obra de Mário Quintana, está presente
vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as no excerto acima.
nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que 08. São características de Mário Quintana, entre
Deus é o arrebol. outras: a natureza pessoal, quase autobiográfica,
LIMA, Jorge de. Poesia. Nossos Clássicos 26. de sua obra; o cultivo da forma; e o humor.
Rio de Janeiro: Agir, 1963. p. 64-65.
Some os números dos itens corretos.
Arrebol: vermelhidão do pôr-do-sol.
Marque a alternativa errada. 387. PUC-RS
a) Na tela, o pintor fez uso de “pedaços” de reali- Leia o texto que se segue.
dades, como se fossem palavras que, somadas, Lá adiante, em plena estrada, o pasto se enramava,
formam um todo de entendimento. e uma pelúcia verde, verde e macia, se estendia no
b) No texto, há flashes de uma mesma realidade, chão até perder de vista.
porém, plenamente configurada. A caatinga despontava toda em grelos verdes [...]
c) Em ambas as obras, a maneira de abordagem de Insetos cor de folha – “esperanças” = saltavam
cada um dos temas deveu-se a escolhas absolu- sobre a grama.
tamente pessoais. [...]
d) A abordagem de uma tragédia nas duas peças Mas a triste realidade duramente ainda recordava
artísticas é irrelevante, já que o processo de “cons- a seca.
trução” eliminou a emocionalidade dos autores. Passo a passo, na babugem macia, carcaças sujas
e) Na pintura, a “montagem” da obra é bem mais maculavam a verdura.
subjetiva do que no texto escrito. Reses famintas, esquálidas, magoavam o focinho
no chão áspero, que o mato ainda tão curto mal cobria,
385. PUC-PR procurando em vão apanhar nos dentes os brotos
Na seguinte narrativa curta de Mário Quintana, podemos pequeninos.
observar algumas características da obra do escritor:
História Trata-se de trecho de ___________, de Rachel de
Era um desrecalcado, pensavam todos. Pois já assas- Queiroz – obra que se caracteriza pela ___________,
sinara uma bem-amada, um crítico e um amigo. evidenciando a consciência crítica da autora acerca
Mas nunca mais encontrou amada, nem crítico, nem do problema da seca. É dessa forma que a obra se
amigo. Ninguém mais que lhe mentisse, ninguém associa ao que se convencionou denominar romance
mais que o incompreendesse, nem nunca mais um _________.
inimigo íntimo... a) Fogo morto – regionalista
E vai daí ele se enforcou.
b) O quinze – denúncia - de vanguarda
Selecione a alternativa que melhor descreve as carac-
PV2D-07-54

terísticas da obra de Mário Quintana: c) São Bernardo – verossimilhança – nacionalista


a) A destruição indiscriminada, cega e desumana do d) O quinze – verossimilhança – de 30
mundo circundante. e) Jubiabá – denúncia - regionalista
255
388. UFV-MG O poeta Murilo Mendes apresenta um fato histórico
Leia atentamente o poema abaixo. construído também por discursos diretos que refle-
Canção do Exílio tem uma visão crítica e irônica da Proclamação da
Minha terra tem macieiras da Califórnia República. Justifique como os diferentes registros de
onde cantam gaturamos de Veneza. língua, na caracterização da fala dos personagens,
Os poetas da minha terra constroem a visão crítica e irônica da Proclamação
são pretos que vivem em torres de ametista, da República.
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações. 391. PUCCamp-SP
A gente não pode dormir Em sua obra, se acentuam os contrastes de requinte
com os oradores e os pernilongos. e fartura das casas-grandes com a promiscuidade e a
Os sururus em família têm por testemunha a Gio- miséria das senzalas, a sensualidade desenfreada e
conda. a subserviência dos homens do eito. Mas há também
Eu morro sufocado o homem e a paisagem. Certamente a observação se
em terra estrangeira. concentra na zona açucareira do Nordeste, rica de
Nossas flores são mais bonitas
tradições que datam do século XVI, no momento em
nossas frutas mais gostosas
que se decompõe essa estrutura tradicional por força
mas custam cem mil réis a dúzia.
de uma nova ordem econômica.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
Antonio Candido & José Aderaldo Castello. Presença da Literatura
e ouvir um sabiá com certidão de idade! Brasileira - Modernismo. 6 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, 1997.
MENDES, Murilo. O menino experimental: antologia. Org. Affonso
Romano de Sant’Anna. São Paulo: Summus, 1979. p. 31. Quando ocorre uma expressão literária comprometida
com a realidade que acima se descreve, os textos
Disserte sobre a visão do nacionalismo segundo Murilo
ficcionais que resultam desse compromisso têm como
Mendes, apresentando tendências da literatura moder-
principal traço o
nista que se evidenciam no poema acima.
a) nacionalismo.
389. Unirio-RJ b) universalismo.
Metade Pássaro c) intimismo.
A mulher do fim do mundo d) regionalismo.
Dá de comer às roseiras, e) cosmopolitismo.
Dá de beber às estátuas,
Dá de sonhar aos poetas. 392. UFF-RJ
A mulher do fim do mundo As pedras disformes
Chama a luz com um assobio. lembram cousas enormes:
Faz a virgem virar pedra, – Os monstros que não couberam na arca de Noé!
Cura a tempestade, E em meio à limpidez de um céu sem manchas
Desvia o curso dos sonhos. Tremeluz,
Escreve cartas ao rio, Infernalmente luminoso,
Me puxa do sono eterno Um sol assassino!
Para os seus braços que cantam. Oh! Paisagem nua!
Murilo Mendes – DOR.
Ascenso Ferreira. Catimbó
a) Cite o movimento de vanguarda a que o texto
Ascenso Ferreira, poeta do modernismo, traduz na sua
acima pode ser associado.
poesia as razões, a tradição, a paisagem e o viver do
b) No texto, o autor desestrutura o senso e instaura povo do nordeste, poesia também expressa a seguir
o contra-senso. pelos traços marcantes do pintor Cícero Dias.
Teça um breve comentário que justifique a afirmativa Identifique a passagem que apresenta um sentimento
acima. do sertão diferente da visão crítica predominante no
poema de Ascenso Ferreira, de estética modernista.
390. UFF-RJ
Quinze de Novembro
Deodoro todo nos trinques
Bate na porta de Dão Pedro Segundo.
“- Seu imperadô, dê o fora
que nós queremos tomar conta desta bugiganga.
Mande vir os músicos.”
O imperador bocejando responde
“Pois não meus filhos não se vexem
me deixem calçar as chinelas
podem entrar à vontade:
só peço que não me bulam nas obras completas de
Victor Hugo.”
Murilo Mendes. Poesia completa e prosa.

256
a) Oh! Que saudades c) Paulo Honório, narrador de São Bernardo, adquire
Do luar da minha terra uma consciência de sua problemática, suficiente
Lá na serra branquejando para promover uma mudança radical em sua per-
sonalidade. Despe-se de sua máscara, tornando-
Folhas secas pelo chão!
se uma personagem sentimental e flexível.
Este luar cá da cidade
d) A narrativa apresenta-se em primeira pessoa e
Tão escuro não tem aquela saudade não perde a objetividade, apesar de tratar da vida
Do luar lá do sertão. do próprio narrador: o fato de a narração ocorrer
Catulo da Paixão Cearense, Luar do Sertão. após o desenrolar dos acontecimentos garante ao
b) Quando olhei a terra ardendo narrador a consciência necessária à objetividade
Qual fogueira de São João, radical do homem.
Eu perguntei a Deus do céu
394. UFU-MG
Porque tamanha judiação.
Com relação às personagens de São Bernardo, de
Que fogueira, que fornalha,
Graciliano Ramos, assinale a alternativa incorreta.
no meu pé de prantação.
a) Paulo Honório é egoísta, ciumento, invejoso, cínico
Por falta d’água perdi meu gado e vil por natureza. Contudo, no decorrer da narra-
morreu de sede meu alazão. tiva, ao relembrar a sua trajetória de vida, assume
Luiz Gonzaga. Asa Branca. uma postura crítica.
c) (Glória a Deus Senhor nas altura b) A presença constante do padre Silvestre na fazen-
E viva eu de amargura da mostra que Paulo Honório conhecia e valorizava
Nas terra do meu senhor) o poder da Igreja no esquema sociopolítico da
Carcará República Velha.
Pega, mata e come, c) Madalena é vista na narrativa como vítima, tanto
Carcará do meio quanto do indivíduo. Aspira à liberdade e,
Num vai morrer de fome. por isso, luta para não se curvar à servidão. Não
Carcará, conseguindo, suicida-se.
Mais coragem do que home, d) Margarida criou Paulo Honório como se fosse sua
Carcará mãe. A presença dela na fazenda justifica-se, ape-
Pega, mata e come. nas, pelo amor e consideração de Paulo Honório.
João do Vale/ José Cândido. Carcará.
395. Ufla-MG
d) E se somos Severinos
Considerando a leitura de São Bernardo, de Graciliano
Iguais em tudo na vida,
Ramos, é incorreto afirmar que nessa obra o prota-
Morremos de morte igual,
gonista, Paulo Honório:
Mesma morte severina:
a) lança-se desesperadamente ao trabalho, após a
Que é a morte de que se morre
morte de Madalena, na tentativa de esquecer o
De velhice antes dos trinte, fracasso que foi sua vida.
De emboscada antes dos vinte,
b) volta-se para si mesmo e escreve seu livro, bus-
De fome um pouco por dia cando o sentido de sua vida.
João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina.
c) preocupa-se demasiadamente com o conflito e a
e) Nordeste, terra de São Sol!
instabilidade econômica provocados pela deca-
Irmã enchente, vamos dar graças a Nosso Senhor, dência da fazenda.
que a minha madrasta Seca torrou seus anjinhos
d) é dominado pelo egoísmo e pelo instinto de posse,
para os comer. provocando, com isso, o abandono de todos.
São Tomé passou por aqui?
e) é astucioso, desonesto, não hesitando em amedron-
Passou, sim senhor! tar ou corromper para conseguir o que deseja.
Pajeú! Pajeú!
396. Fatec-SP
Vamos lavar Pedra Bonita, meus irmãos,
I.
com o sangue de mil meninos, amém!
Jorge de Lima, Poemas. ... encontro-me aqui em São Bernardo, escre-
393. UFU-MG vendo.
Assinale a alternativa que não se refere à obra São As janelas estão fechadas. Meia noite. Nenhum
Bernardo, de Graciliano Ramos. rumor na casa deserta.
a) Na personalidade de Paulo Honório, percebe-se Levanto-me, procuro uma vela, que a luz vai
uma fatalidade que o coloca no limiar do infortúnio: apagar-se. Não tenho sono. Deitar-me, rolar no col-
após o suicício de Madalena e o abandono por chão até a madrugada, é uma tortura. Prefiro ficar
parte daqueles que o cercavam, reconhece sua sentado, concluindo isto. Amanhã não terei com que
brutalidade e egoísmo, porém é incapaz de lutar me entreter.
contra esses sentimentos. Ponho a vela no castiçal, risco um fósforo e acen-
b) A fazenda-título São Bernardo é um empreen- do-a. Sinto um arrepio. A lembrança de Madalena
dimento que a ambição de Paulo Honório, por persegue-me. Diligencio afastá-la e caminho em redor
PV2D-07-54

meio de inovações tecnológicas, transforma em da mesa. Aperto as mãos de tal forma que me firo com
um típico exemplo da penetração de elementos as unhas, e quando caio em mim estou mordendo os
capitalistas modernos no campo brasileiro. beiços a ponto de tirar sangue.
257
De longe em longe sento-me fatigado e escrevo dela. Foi à escola, criticou o método de ensino do Padilha
uma linha. Digo em voz baixa: e entrou a amolar-me reclamando um globo, mapas, ou-
– Estraguei a minha vida, estraguei-a estupida- tros arreios que não menciono porque não quero tomar
mente. o incômodo de examinar ali o arquivo. Um dia, distraida-
A agitação diminui. mente, ordenei a encomenda. Quando a fatura chegou,
– Estraguei a minha vida estupidamente. tremi. Um buraco: seis contos de réis. Calculem. Con-
II. tive-me porque tinha feito tenção de evitar dissidências
com minha mulher e porque imaginei mostrar aquelas
...vou deitar ao papel as reminiscências que me
complicações ao governador quando ele aparecesse
vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi.
aqui. Em todo o caso era despesa supérflua.
O texto II é parte da fala do narrador no 1º capítulo de Graciliano Ramos, São Bernardo
Dom Casmurro, de Machado de Assis. Comparando-o
com a fala de Paulo Honório, no último capítulo de São No fragmento exposto, o narrador:
Bernardo (texto I), é correto afirmar que: a) lembra episódios que o fizeram reconhecer em
a) ambas as personagens tentam recuperar o passado Madalena a eficiência que buscara ao procurar
através do relato da própria vida, valendo-se, para uma mulher para ser mãe de seus herdeiros e
tanto, da narrativa em primeira pessoa. professora humanitária na fazenda.
b) afirma seu desejo de viver bem com a mulher, por
b) a lembrança da mulher amada, presente em ambos
reconhecer a necessidade dos gastos e a sensatez
os relatos, desencadeia as duas narrativas que, com que ela analisava a vida na fazenda.
intencionalmente, são feitas em terceira pessoa.
c) descreve o dia-a-dia na fazenda, valorizando a
c) ambas as personagens, sentindo o peso da velhice, intensa e cuidadosa atividade da mulher junto às
voltam-se para o passado, numa ávida tentativa de re- crianças, mas criticando o seu excesso de gastos
cuperar a alegria e a tranqüilidade da juventude. Para nas compras necessárias.
tanto, valem-se da narrativa em primeira pessoa. d) cita a ocorrência em que a aplicação de Madalena no
d) a insônia, causada pelo remorso de uma vida que controle da escola não impediu a adulteração de docu-
poderia ter sido e que não foi, leva ambas as perso- mentos, geradora dos principais incidentes narrados.
nagens a permanecerem acordadas. E, para passar e) cita fatos que evidenciam a desigualdade entre
o tempo, escrevem. A narrativa é feita em terceira duas maneiras de ver os desprotegidos, cujo
pessoa, já que se trata de um narrador onisciente, desenvolvimento constitui aspecto importante do
isto é, que conhece os fatos na sua totalidade. drama da obra.
e) perseguidos pela sombra do passado e angustia- 399. Mackenzie-SP
dos pela solidão, ambos os narradores recorrem à
Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo
narrativa para afastar seus fantasmas. Utilizam-se,
perfeita saúde.
para isso, da narrativa em primeira pessoa, que
O que estou é velho. (...) cinqüenta anos gastos
lhes permite um distanciamento maior.
sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O
397. Mackenzie-SP resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão
As janelas estão fechadas. Meia-noite. Nenhum rumor que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro
na casa deserta. Levanto-me, procuro uma vela, que a a sensibilidade embotada.
luz vai apagar-se. Não tenho sono. Deitar-me, rolar no Cinqüenta anos! Quantas horas inúteis! (...) Comer
colchão até a madrugada, é uma tortura. Prefiro ficar e dormir como um porco! (...) E depois guardar comida
sentado, concluindo isto. Amanhã não terei com que para os filhos, para os netos, para muitas gerações.
me entreter. Ponho a vela no castiçal, risco um fósforo e Que estupidez! (...)
acendo-a. Sinto um arrepio. A lembrança de Madalena Penso em Madalena com insistência. Se fosse
persegue-me. Diligencio afastá-la e caminho em redor possível recomeçarmos... Para que enganar-me? Se
da mesa. Aperto a mão de tal forma que me firo com fosse possível recomeçarmos, aconteceria exatamente
as unhas, e quando caio em mim estou mordendo os o que aconteceu.
beiços a ponto de tirar sangue.
Graciliano Ramos – São Bernardo.
Assinale a alternativa correta sobre o fragmento. Em São Bernardo, a velhice é o momento em que o
a) Pertence a um romance da terceira geração mo- narrador e protagonista Paulo Honório:
dernista brasileira. a) aproveita, apesar dos problemas cotidianos, toda
b) Faz parte de obra que compõe, ao lado de Fogo a riqueza e o prestígio que conseguiu durante a
morto e Menino de engenho, o ponto máximo da sua vida de sacrifícios.
produção de José Lins do Rego.
b) vê-se falido economicamente e se conscientiza de
c) Detalhes do tempo e do espaço são adequados à
que sua vida foi consumida inutilmente na posse
expressão da tortura que o narrador se impõe.
da fazenda São Bernardo.
d) Faz parte de um romance cujo protagonista defen-
de a reforma agrária. c) reconhece a forma desumana como tratou Mada-
lena e as demais pessoas, mas não é capaz de
e) Apresenta um narrador personagem indiferente às
reconstruir novo projeto de vida.
reminiscências do passado.
d) sente-se contrariado, pois, apesar de saudável físi-
398. Mackenzie-SP ca e emocionalmente, constata que viveu apenas
Pela manhã Madalena trabalhava no escritório, mas à em função dos outros.
tarde saía a passear, percorria as casas dos moradores. e) avalia o passado positivamente, contrastando-o
Garotos empalamados e beiçudos agarravam-se à saia com a solidão do presente e a incerteza do futuro.
258
400. b) O que faz Sinha Vitória diferente de Fabiano é seu
Poema das Sete Faces obsessivo desejo de posse (uma cama de couro,
Carlos Drummond de Andrade igual à do Seu Tomás da bolandeira), além da
Quando nasci, um anjo torto sua capacidade de observação das coisas e dos
desses que vivem na sombra problemas relacionados à família.
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. c) O nome Baleia transcende a ironia e funciona
mais como uma compensação para a secura da
As casas espiam os homens terra e das vidas secas, o que se comprova pela
que correm atrás de mulheres. antropomorfização do animal.
A tarde talvez fosse azul, d) Um dos maiores conflitos vividos por Fabiano é
não houvesse tantos desejos. reconhecer-se um bicho: marginalizado e inferio-
rizado, vive se comparando a animais.
O bonde passa cheio de pernas: e) A morte para a cachorra Baleia conota a pos-
pernas brancas pretas amarelas. sibilidade de encontrar um mundo cheio de
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu
pessoas diferentes daquelas que ela conhecera,
[coração.
num espaço limitado, inferior àquele em que ela
Porém meus olhos
vivera.
não perguntam nada.
402. PUC-SP
O homem atrás do bigode
Otto Maria Carpeaux, analisando o romance de
é sério, simples e forte.
Graciliano Ramos, afirma: “Após ter lido Angústia
Quase não conversa.
até o fim, é preciso rever as primeiras páginas, para
Tem poucos, raros amigos
compreendê-las”. Isso se justifica porque o romance
o homem atrás dos óculos e do bigode,
apresenta:
Meu Deus, por que me abandonaste a) um mundo fechado em si mesmo, mas com linhas
se sabias que eu não era Deus narrativas independentes e soltas.
se sabias que eu era fraco. b) estrutura circular em que início e fim se tocam em
relação de causa e efeito.
Mundo mundo vasto mundo, c) relação temporal em que o passado e o presente
se eu me chamasse Raimundo se interpenetram, dando ao texto uma estrutura
seria uma rima, não seria uma solução. labiríntica.
Mundo mundo vasto mundo, d) narração em terceira pessoa, com linha narrativa
mais vasto é meu coração. ondulatória.
e) desordem na seqüência narrativa como conse-
Eu não devia te dizer
qüência do distúrbio mental que acometera a
mas essa lua
personagem.
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo. 403. UFPE
Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, é um
Após a leitura desse poema de Carlos Drummond, tirado
livro autobiográfico. Sobre essa obra, podemos afir-
do livro Alguma Poesia, indique o entendimento errado. mar que:
a) A cor azul, na 2ª estrofe, tem a conotação de ( ) Foi escrito quando o autor esteve preso, no presí-
“melhor”. dio de Ilha Grande, em 1936, com outros acusados
b) A ausência de pontuação no 2º verso da 3ª estrofe de crime político, esse livro não inclui elementos
metaforiza o sentido de quantidade, proximidade ficcionais.
e mistura. ( ) trata-se de um curto relato sobre o tempo que o
c) As palavras “olhos” (3ª estrofe) e “Deus” (5ª estro- autor passou na prisão, sob a ditadura de Getúlio
fe) estão relacionadas ao sentimento de vazio, de Vargas. Esse relato caracteriza-se, sobretudo, por
falta de expectativa. sua incontestável objetividade.
d) Na penúltima estrofe perpassa o sentimento de ( ) a obra extrapola a narração dos sofrimentos pes-
descrença. soais, alcançando a universalidade ao denunciar
a injustiça e a humilhação imposta pelos governos
e) Na última estrofe, esvaziando a sensação de tristeza,
autoritários.
o poeta cria o clima típico do Romantismo satânico.
( ) só dez anos depois dos acontecimentos, ao filtrar
401. e amadurecer as lembranças, é que o autor relatou
suas impressões, em discurso indireto, fugindo aos
Todas as afirmativas abaixo, a respeito de Vidas secas, diálogos.
de Graciliano Ramos, são corretas, exceto: ( ) Graciliano teve, como companheira de prisão,
a) Os meninos, criaturas ingênuas, alimentam sonhos Olga Benário Prestes (esposa de Prestes). No
PV2D-07-54

simples (como o de ver em Fabiano um modelo livro, descreve a cena em que Olga é arrastada
a ser copiado), enquanto seus pais ambicionam do cárcere, para ser enviada à Gestapo, junto com
para eles um futuro melhor. outra estrangeira, Elisa Berger.
259
404. PUC-SP 407. Unicamp-SP
Os acontecimentos retratados no filme Memórias Leia o seguinte trecho extraído do romance Angús-
do cárcere, com base no livro de Graciliano Ramos, tia:
referem-se: Onde andariam os outros vagabundos daquele tem-
a) ao período da Revolução de Isidoro Lopes e à po? Naturalmente, a fome antiga me enfraqueceu
Marcha da Coluna Prestes. a memória. Lembro-me de vultos bisonhos que se
b) às conspirações de intelectuais, principalmente arrastavam como bichos, remoendo pragas. Que fim
nordestinos, no combate a Vargas. teriam levado? Mortos nos hospitais, nas cadeias,
debaixo dos bondes, nos rolos sangrentos das fave-
c) às tentativas de eliminar as oposições logo após
las. Alguns, raros, teriam conseguido, como eu, um
o Governo Provisório.
emprego público, seriam parafusos insignificantes na
d) às manobras de Vargas para sufocar as rebeliões máquina do Estado e estariam visitando outras favelas,
militares contra seu governo. desajeitados, ignorando tudo, olhando com assombro
e) à repressão aos comunistas no período posterior as pessoas e as coisas. Teriam as suas pequeninas
ao levante da Aliança Nacional Libertadora. almas de parafusos fazendo voltas num lugar só.
Graciliano Ramos, Angústia.
405. ITA-SP Rio de Janeiro: Ed. Record, 56ª ed., 2003, pp.140-1.
O romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, a) No momento da narração, a posição social do
publicado em 1934, é narrado em primeira pessoa narrador-personagem difere de sua condição de
pelo narrador-personagem Paulo Honório, que decide origem? Responda sim ou não e justifique.
escrever o livro em determinada altura da sua vida. O b) Na citação mostrada, o termo ‘parafusos’ remete
principal motivo que levou Paulo Honório a escrever ao verbo ‘parafusar’ que, além do significado mais
a sua história foi: conhecido, também tem o sentido de ‘pensar’,
a) o desejo de mostrar como ele conseguiu, com enorme ‘cismar’, ‘refletir’, ‘matutar’. Como esses dois
esforço, tornar-se um proprietário rural bem-sucedido, sentidos podem ser relacionados ao modo de ser
apesar de sua origem extremamente humilde. do narrador-personagem?
b) o desejo de mostrar como se formavam os conflitos c) De que maneira o segundo sentido do verbo
políticos e sociais no interior do Nordeste brasileiro, ‘parafusar’ está expresso na técnica narrativa de
tema recorrente na ficção da chamada “Geração Angústia?
de 1930”.
Texto para as questões 408 e 409.
c) a tristeza que toma conta dele depois que a fazen-
da São Bernardo deixa de ser produtiva, o que ela Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela
tinha sido graças ao seu empenho. divisão do trabalho.
Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos con-
d) tentar compreender o que teria levado Madalena
sentiram de boa vontade em contribuir para o de-
ao fim trágico da sua existência, bem como as ra-
senvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre
zões de a vida conjugal deles não ter se realizado
ficaria com a parte moral e as citações latinas; João
como ele gostaria.
Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sinta-
e) revelar quais foram os motivos pelos quais Mada- xe; prometi ao Arquimedes a composição tipográfica;
lena se matou, visto que ela se sentia culpada por para a composição literária convidei Lúcio Gomes de
ter traído o marido com Padilha, antigo proprietário Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. Eu
da São Bernardo. traçaria o plano, introduziria na história rudimentos
de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o
406. ITA-SP meu nome na capa. (...)
Leia o texto seguinte. Mas o otimismo levou água na fervura, compreendi
Graciliano Ramos: que não nos entendíamos.
Falo somente com o que falo: João Nogueira queria o romance em língua de
Com as mesmas vinte palavras Camões, com períodos formados de trás para diante.
girando ao redor do sol Calculem.
que as limpa do que não é faca: Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da
revolução de outubro, tornou-se uma fera, exige de-
de toda uma crosta viscosa, vassas rigorosas e castigos para os que não usaram
resto de janta abaianada, lenços vermelhos. Torceu-me a cara. (...)
que fica na lâmina e cega Afastei-o da combinação e concentrei as minhas
esperanças em Lúcio Gomes de Azevedo Gondim,
seu gosto da cicatriz clara.
periodista de boa índole e que escreve o que lhe
(...)
mandam.
João Cabral de Melo Neto
Trabalhamos alguns dias. (...)
a) No poema, João Cabral faz referência ao estilo A princípio tudo correu bem, não houve entre nós
de Graciliano Ramos. Destaque um trecho do nenhuma divergência. A conversa era longa, mas cada
excerto exposto e comente a caracterização feita um prestava atenção às próprias palavras, sem ligar
pelo autor do poema. importância ao que o outro dizia. Eu por mim, entu-
b) Justifique a colocação dos dois pontos após o siasmado com o assunto, esquecia constantemente
nome Graciliano Ramos no título do poema. a natureza de Gondim e chegava a considerá-lo uma
260
espécie de folha de papel destinada a receber as idéias 411. Unicamp-SP
confusas que me fervilhavam na cabeça. Em Angústia de Graciliano Ramos, encontramos se-
O resultado foi um desastre. Quinze dias depois do qüências instigantes:
nosso primeiro encontro, o redator do Cruzeiro apre- Penso em indivíduos e em objetos que não têm
sentou-me dois capítulos datilografados, tão cheios de relação com os desenhos: processos, orçamentos, o
besteiras que me zanguei: diretor, o secretário, políticos, sujeitos remediados que
– Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o me desprezam porque sou um pobre-diabo.
troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá Tipos bestas. Ficam dias inteiros fuxicando nos
ninguém que fale dessa forma! cafés e preguiçando, indecentes.
Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em (...)
Fomos morar na vila. Meteram-me na escola de
seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade
seu Antônio Justino, para desasnar, pois, como disse
e replicou amuado que um artista não pode escrever
Camilo quando me apresentou ao mestre, eu era um
como fala. cavalo de dez anos e não conhecia a mão direita.
– Não pode? perguntei com assombro. E por Aprendi leitura, o catecismo, a conjugação dos
quê? verbos. O professor dormia durante as lições. E a
Azevedo Gondim respondeu que não pode porque gente bocejava olhando as paredes, esperando que
não pode. uma réstia chegasse ao risco de lápis que marcava
– Foi assim que sempre se fez. A literatura é a duas horas. Saíamos em algazarra.
literatura, Seu Paulo. A gente discute, briga, trata de Graciliano Ramos, Angústia.
negócios naturalmente, mas arranjar palavras com Rio de Janeiro: Ed. Record, 56ª.ed., 2003, pp. 8-9 e 15.
tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, a) Que processos permitem as construções ‘pregui-
ninguém me lia. çando’ e ‘desasnar’ na língua?
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. São Paulo, Martins, 1969.
b) Se substituirmos ‘preguiçando’ por ‘descansando’
e ‘desasnar’ por ‘aprender’, observamos uma re-
408. UERJ
lação diferente com a poesia da língua. Explicite
Azevedo Gondim e o narrador possuem concepções di- essa diferença.
ferentes acerca da escrita literária. Apresente, resumi-
c) O uso de ‘desasnar’ pode nos remeter, entre outras
damente, as duas concepções, comprovando-as com
palavras, a ‘desemburrecer’ e ‘desemburrar’.
uma frase de cada personagem sobre o assunto.
No Dicionário Houaiss da língua portuguesa (ed.
409. UERJ Objetiva, 2001), o verbete ‘desemburrar’ apresenta
Na fala do narrador sobre a composição do livro, como acepções tanto ‘livrar-se da ignorância’,
estão claras algumas relações de dominação que quanto ‘perder o enfezamento’, e marca sua eti-
caracterizam a sociedade brasileira. Identifique, no mologia como des + emburrar. Seguindo nossa
segundo parágrafo, duas referências que expressem consulta, encontramos no verbete ‘emburrar’ o
essa dominação. ano de 1647 que, segundo a Chave do Dicionário
Houaiss, indica a“data em que [essa palavra] en-
410. Unicamp-SP trou no português”. A fonte dessa datação é a obra
No trecho a seguir, retirado de um dos capítulos de Thesouro da lingoa portuguesa, composta pelo
São Bernardo, de Graciliano Ramos, Paulo Honório Padre D. Bento Pereyra, publicada em Lisboa.
faz algumas considerações sobre as diferenças na Embora ‘desemburrecer’ não apareça no dicionário,
maneira de falar que acabam provocando desenten- encontramos ‘emburrecer’, cuja entrada no português ,
dimentos entre ele e Madalena. segundo o Dicionário Houaiss, data de 1998, atestada
pela obra de Celso Pedro Luft Dicionário prático de
No começo das nossas desavenças todas as
regência verbal, publicada em São Paulo.
noites aqui me sentava, arengando com Madalena.
Tínhamos desperdiçado tantas palavras! O verbete ‘desasnar’ data de 1713, atestado pela
– Para que serve a gente discutir, explicar-se? obra Vocabulário portuguez e latino de Rafael
Para quê? Bluteau, publicada em Coimbra-Lisboa.
Para que, realmente? O que eu dizia era simples, Tendo em vista as observações apresentadas – a
direto e procurava debalde em minha mulher concisão presença ou não desses verbetes no dicionário, as
e clareza. Usar aquele vocabulário, vasto, cheio de datas de entrada no português e as fontes que ates-
ciladas, não me seria possível. E se ela tentava a mi- tam essas entradas – o que se pode compreender
nha linguagem resumida, matuta, as expressões mais sobre a relação entre o dicionário e a língua?
inofensivas e concretas eram para mim semelhantes a
cobras: faziam voltas, picavam e tinham significação 412.
venenosa. Graciliano Ramos é uma das figuras mais importantes
a) Como é possível explicar, com base na história do grupo de escritores do Nordeste surgidos na década
pessoal das personagens, as diferenças na ma- de 1930. É considerado um dos maiores ficcionistas
neira de falar entre Paulo Honório e Madalena? brasileiros.
b) A diferença de linguagem é um sintoma do con- a) O texto é incorreto porque Graciliano Ramos não
flito existente entre essas duas personagens. De é da década de 1930.
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que maneira tal diferença contribui para o conflito b) O texto é incorreto porque Graciliano Ramos é
básico do romance? escritor mas não é ficcionista.

261
c) O texto não apresenta qualquer informação errô- a) Há um extremo apuro formal, onde se destacam as
nea. metáforas, sobretudo as hipérboles, em absoluta
d) O texto é incorreto porque Graciliano Ramos per- consonância com a prolixidade do texto.
tence ao grupo sulino. b) O estilo direto do texto está sintonizado com a
narrativa, que descreve uma cena de grande
413. movimentação e presença de personagens.
Vidas secas organiza-se em treze capítulos ou partes. c) O texto é seco e direto, confrontando um cenário de
A primeira e a última relatam, respectivamente, a che- exuberância natural com um personagem tímido,
gada à velha fazenda e a saída de lá. Essa construção, reservado e de poucas ambições.
segundo Antonio Candido, “forma um anel de ferro, em d) O texto é direto, econômico, interessa mais a
cujo círculo sem saída se fecha a vida esmagada da angústia interior dos personagens do que seus
pobre família de retirantes – agregados – retirantes”. próprios atos.
Considerando a análise de Antonio Candido e a leitura e) A fatalidade da situação é explorada ao limite má-
dos trechos anteriores, que idéia não se justifica pela ximo, com a natureza pactuando com as angústias
construção da obra? do personagem, mas, ao final, subjugando-se.
a) Nomadismo como saída para a sobrevivência.
b) A vida desenvolvida em ciclos que se repetem. 416. Mackenzie-SP
c) Previsão de destino assemelhado para proprietário Considera-se que na obra Vidas secas temos uma
e agregado. perfeita adequação da técnica literária à realidade
d) Instabilidade como única certeza. expressa. Assim, para demonstrar a ausência de pos-
e) Tragicidade como marca do destino dos migrantes. sibilidades de mudança, a narração é feita pela adoção
de todas as técnicas mencionadas abaixo, exceto:
414. UFPE a) uma construção por fragmentos, com fatos arran-
Em Vidas secas, romance de Graciliano Ramos, a jando-se sem se integrarem.
linguagem é econômica, despojada, precisa e clara. b) uso de quadros quase destacados nos quais os
Nesse caso, podemos afirmar que: fatos se arranjam sem se integrarem.
1. a linguagem simboliza a realidade nordestina. c) uma construção integrada, composta por fatos
2. a linguagem não é literária. também integrados.
3. a linguagem é adequada ao tema de que ela fala: d) uso de quadros destacados, sugerindo um mundo
a seca. incompreensível.
4. a linguagem é pobre. e) construções fragmentadas, sugerindo um mundo
Assinale o que achar correto. incompreensível e captadas por manifestações
a) Estão certas 3 e 4. isoladas.
b) Estão certas 1 e 3.
417. ITA-SP
c) Estão certas 1 e 4.
d) Estão certas 3 e 2. Assinale a melhor opção, considerando as seguintes
asserções sobre Fabiano, personagem de Vidas secas,
e) Estão certas as quatro afirmativas.
de Graciliano Ramos.
415. UFR-RJ I. Devido às dificuldades pelas quais passou no
Escrito por Graciliano Ramos em 1938, Vidas secas é sertão, tornou-se um homem rude, mandante da
uma obra-prima do Modernismo e mesmo de toda a lite- morte de vários inimigos seus.
ratura brasileira. Trata-se de narrativa pungente, onde o II. Comparava-se, com orgulho, aos animais, pois era
drama do nordestino, tangido de seu lar pela inclemência um homem errante que vivia fugindo da seca.
da seca, é contado de forma árida, seca e bastante realis- III. Sentia-se fraco para exigir seus direitos diante de
ta, numa sintonia bastante eficaz entre forma e conteúdo. patrões e autoridades, por isso não se considerava
O texto a seguir é um excerto de Vidas secas. um homem, mas um bicho.
Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. Está(ão) correta(s):
Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arre- a) apenas a I. d) I e III
piou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido
b) apenas a III. e) II e III
assim, desde que ele se entendera. E antes de se
entender, antes de nascer, sucedera o mesmo – anos c) I e II
bons misturados com anos ruins. A desgraça estava
418.
em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena
trabalhar. Ele marchando para a casa, trepando a Assinale a afirmação incorreta a respeito de Alguma
ladeira, espalhando seixos com as alpercatas – ela se poesia, de Carlos Drummond de Andrade:
avizinhando a galope, com vontade de matá-lo. a) O indivíduo é “um eu todo retorcido”, profunda-
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. mente deslocado em relação ao mundo exterior,
São Paulo: Martins, s/d. 28. ed., p. 59. um verdadeiro gauche.
Assinale a afirmativa que indica uma característica do b) O conhecimento amoroso, o amor é amargo, um
Modernismo e do estilo do autor, tomando por base amar/amaro, como ilustram os poemas Quadrilha
a leitura do texto. e Sentimental.
262
c) Publicado em 1930, Alguma poesia, volume que – Por que não haveriam de ser gente, possuir
constitui obra de estréia do autor, distancia-se do uma cama igual à de Seu Tomás da bolandeira? Fabia-
poema-piada e do prosaísmo, aspectos marcantes no franziu a testa: lá vinham os despropósitos. Sinha
da poesia modernista de 1922. Vitória insistiu e dominou-o. Por que haveriam de ser
d) O lirismo se faz presente nos poemas e marca o sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos?
estilo do autor. Mas apresenta-se contido, muito Com certeza existiam no mundo coisas extraordiná-
mais refletido que sentido, espécie de antilirismo rias. Podiam viver escondidos, como bichos? Fabiano
que faz de Drummond um dos poetas mais singu- respondeu que não podiam.
lares da nossa literatura. – O mundo é grande.
e) Há poemas que falam da própria poesia, isto é, Realmente para eles era bem pequeno, mas
poemas metalingüísticos. Neles, o poeta refere-se afirmavam que era grande – e marchavam, meio
ao ato e à necessidade de escrever e revela que a confiados, meio inquietos. Olharam os meninos que
poesia nasce dos seres, dos fatos, às vezes até do olhavam os montes distantes, onde havia seres mis-
inabitual, do incomum, do obscuro do cotidiano. teriosos. Em que estariam pensando? zumbiu Sinha
Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma
419. Unicap-PE objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa.
Assinale verdadeiro (V) ou falso (F). ( ) A cama de Seu Tomás é um símbolo. Símbolo é
Vidas secas, de Graciliano Ramos, inicia-se assim: “aquilo que substitui ou sugere algo”. Em Vidas
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam secas, a cama é símbolo de conforto, desejado
duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado por Sinha Vitória para si e para sua família.
o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinaria- ( ) A frase “Sinha Vitória insistiu e dominou-o” atesta
mente andavam pouco, mas como haviam repousado o feminismo existente no meio rural nordestino.
bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem ( ) A palavra bicho(s) aparece no texto três vezes. É
três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. uma alusão à condição de vida dos nordestinos
A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos interioranos, em tempo da seca, condição que,
galhos pelados da catinga rala. no texto em questão, é reafirmada outras vezes,
( ) O texto anterior situa, de imediato, o leitor no tema como em: “zumbiu Sinha Vitória”, “Fabiano rosnou
central da obra do alagoano: a realidade nordes- uma objeção”.
tina, o tempo da seca (como hoje), haja vista a ( ) Mas, em zumbiu, essa condição (de bicho) está
planície avermelhada, os juazeiros, o rio seco, os ainda mais intensificada, porque, além de essa
galhos pelados. palavra (zumbir) nomear ruídos emitidos por
( ) O juazeiro é árvore característica da caatinga nordes- animais, em alguns interiores nordestinos – (no
tina. Sua casca rica serve como sabão e dentifrício. É estado de Alagoas, por exemplo, onde Graciliano
uma árvore que, para os retirantes, fornece sombra nasceu) zumbi também designa a alma de certos
e, para o gado, além de sombra, alimento. animais.
( ) O poético no texto de Graciliano Ramos já pode ( ) A convicção de serem bichos está na mente
ser vivenciado na antítese implícita nos dois de Sinha Vitória: “Por que não haveriam de ser
adjetivos: avermelhada e verdes, pois é possível gente...?” e no “rosnado” de Fabiano: “Menino é
ler o primeiro como indício de morte, dada a sua bicho miúdo, não pensa” – frase que subentende:
proximidade com seca, e o segundo, como indício só bicho grande pensa. No entanto, mesmo com
de vida, uma vez que o juazeiro é uma das poucas essa convicção, as personagens de Vidas secas
plantas cuja folhagem, na seca, permanece viva são, intensamente, seres; símbolos de seres hu-
por muito tempo. manos, pois elas pensam, falam, indagam, têm
consciência da sua condição de bicho. E o único
( ) O emprego de um termo como juazeiro atesta
que tem consciência da sua condição (de bicho)
a universalidade de Vidas secas, confirmando
é o homem.
a validade da concepção de que é inteiramente
possível ler qualquer obra literária, desvinculando- Texto para as questões de 421 a 423.
a de motivos temporais e espaciais. Leia atentamente o trecho, extraído de Vidas secas, de
( ) A expressão galhos pelados da catinga rala é uma Graciliano Ramos, e responda as questões a seguir:
descrição objetiva do Nordeste castigado pela [Sinha Vitória] Pensou de novo na cama de varas e men-
seca, por onde os retirantes caminham: galhos talmente xingou Fabiano. Dormiam naquilo, tinham-se
pelados, porque sem folhas, e catinga rala porque acostumado, mas seria mais agradável dormirem numa
a vegetação, além de perder as folhas, é pouco cama de lastro de couro, como outras pessoas.
espessa, tem pouca densidade.
Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido.
420. Unicap-PE Fabiano, a princípio, concordara com ela, mastigara
Esta questão (de interpretação) refere-se a Vidas cálculos, tudo errado. Tanto para o couro, tanto para a
secas, de Graciliano Ramos. Com a chegada da armação. Bem. Poderiam adquirir o móvel necessário
seca, Fabiano, Sinha Vitória e os filhos iniciam uma economizando na roupa e no querosene. Sinha Vitória
nova fuga. O último capítulo dessa obra do alagoano respondera que isso era impossível, porque eles ves-
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tem este título: “Fuga”. Durante a caminhada, o casal tiam mal, as crianças andavam nuas, e recolhiam-se
ensaia “pedaços” de conversa. Reproduz-se, a seguir, todos ao anoitecer. Para bem dizer, não se acendiam
um trecho desses ensaios. candeeiros na casa.
263
421. Faenquil-SP e) tanto o enfoque trágico do destino do homem
No segundo parágrafo, o móvel necessário refere-se: ligado às raízes regionais quanto a análise dos
a) ao dinheiro necessário para comprar a cama. conflitos existenciais do homem urbano conferem
b) à cama desejada por Sinha Vitória. uma dimensão universal à sua obra.
c) ao couro e à armação que Fabiano desejava
425. Fuvest-SP
comprar.
d) ao querosene para a iluminação da casa e às rou- Procura da Poesia
pas que precisavam comprar para as crianças. Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
e) aos cálculos feitos por Fabiano para poder pagar
Diante dela, a vida é um sol estático,
todas as contas da casa.
não aquece nem ilumina.
422. Faenquil-SP (...)
Para bem dizer, não se acendiam candeeiros na casa. Penetra surdamente no reino das palavras.
Este trecho, no contexto do parágrafo, funciona como Lá estão os poemas que esperam ser escri-
uma resposta de: tos.
a) Fabiano, criticando o desejo de Sinha Vitória de Estão paralisados, mas não há desespero,
possuir uma cama. há calma e frescura na superfície intata.
b) Sinha Vitória, criticando a idéia de Fabiano de Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
economizar no querosene para poderem comprar (...)
a cama. Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.
c) Fabiano, aborrecendo-se com a insistência de No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da
Sinha Vitória, que não reconhecia seu esforço. poesia e a incitação a que se penetre “no reino das
d) Sinha Vitória, insistindo na idéia de que merecia palavras”, presentes no excerto, indicam que, para o
uma cama, pois nem candeeiro tinham. poeta de A rosa do povo:
e) Fabiano, prometendo a Sinha Vitória que tentaria a) praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz
adquirir uma cama para eles. de se opor ao mundo capitalista.
b) a procura da boa poesia começa pela estrita obser-
423. Faenquil-SP vância da variedade padrão da linguagem.
Considerando-se a situação em que vivia a família de c) fazer poesia é produzir enigmas verbais que não
Fabiano em Vidas secas, pode-se dizer que a cama podem nem devem ser interpretados.
representa:
d) as intenções sociais da poesia não a dispensam
a) uma crítica ao materialismo das personagens que, de ter em conta o que é próprio da linguagem.
quase não tendo o que comer, desejam possuir
e) os poemas metalingüísticos, nos quais a poesia
bens que não podem comprar.
fala apenas de si mesma, são superiores aos
b) uma tentativa de reação à seca e à miséria, pois poemas que falam também de outros assuntos.
é um símbolo de estabilidade e de conforto.
c) a dureza de Fabiano, homem rude e bruto, que 426. UFR-RJ
não oferecia nenhum conforto à família.
Leia o fragmento abaixo, retirado do romance Vidas
d) a força do amor entre Sinha Vitória e Fabiano, secas:
apesar de toda dificuldade e miséria. ... Na palma da mão as notas estavam úmidas de suor.
e) a futilidade de Sinha Vitória, pois, ao invés de se Desejava saber o tamanho da extorsão. Da última vez
preocupar em vestir os filhos, buscava conforto que fizera contas com o amo o prejuízo parecia menor.
para ela mesma. Alarmou-se. Ouvira falar em juros e prazos. Isto lhe
424. PUCCamp-SP dera uma impressão bastante penosa: sempre que os
A leitura de romances como Vidas secas, São Bernardo ou homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía
Angústia permite afirmar sobre Graciliano Ramos que: logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidente-
a) sua grande capacidade fabuladora e o tom lírico mente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram
de sua linguagem servem a uma obra dominada bonitas. Às vezes decorava algumas e empregava-
pelo impulso, em que se mesclam romantismo e as fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que
realismo, poesia e documento. um pobre da laia dele usar conversa de gente rica?
b) sua obra transcreve as limitações do regional ao evo- Sinha Terta é que tinha uma ponta de língua terrível.
luir para uma perspectiva universal, ao mesmo tempo Era: falava tão bem quanto as pessoas da cidade,
em que sua expressão parte para o experimentalis- Se ele soubesse falar como Sinha Terta, procuraria
mo e para as invenções vocabulares inovadoras. serviço em outra fazenda, haveira de arranjar-se. Não
c) sua obra, preocupada em fixar os costumes e sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, em-
as falas locais do meio rural e da cidade, é um baraçava-se como um menino, coçava os cotovelos,
registro fiel da realidade nordestina, quase um aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados. Tomar
documentário transfigurado em ficção. as coisas de um infeliz que não tinha nem onde cair
d) sua obra, toda condicionada pela realidade hu- morto! Não viam que isso não estava certo? Que iam
mana e social de uma árida região de coronéis e ganhar com semelhante procedimento? Hem? Que
cangaceiros, apresenta uma narrativa linear, mas iam ganhar?...
de linguagem exuberante, própria dos grandes RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 37 ed.
contadores de histórias. Rio de Janeiro: Record, 1977. p. 103
264
Graciliano Ramos apresenta em suas obras problemas Quais estão corretas?
do Nordeste do Brasil e, ao mesmo tempo, desenvolve a) Apenas I d) Apenas II e III
um trabalho universal por apresentar uma visão crítica b) Apenas I e II e) I, II e III
das relações humanas. A partir do trecho apresentado, c) Apenas I e III
pode-se afirmar que o autor:
a) denuncia a opressão social realizada através do 428. FEI-SP
abuso de poder político, que está representado na (Fabiano) “Com uma raiva excessiva, a que se mistu-
fala de Fabiano. rava alguma esperança, deu uma patada no chão”
b) critica o trabalhador rural nordestino, representado (Cachorra Baleia) “Defronte do carro de bois faltou-lhe
na figura de Fabiano, por sua ignorância e falta de a perna traseira.”
domínio da língua culta.
a) O que comparativamente significam os termos des-
c) deixa claro que a incapacidade de usar uma lin- tacados, dentro do contexto do livro Vidas secas?
guagem “boa” não isola Fabiano do mundo dos
b) Qual o autor desta obra?
que usam “palavras difíceis”, pois sua esperteza
pode-se concretizar de outras maneiras.
429. Unicamp-SP
d) mostra que a sociedade oferece oportunidades
Em Vidas secas, após ter vencido as dificuldades
iguais para os que possuem o domínio de uma
postas no início da narrativa, Fabiano afirma: Fabiano,
linguagem culta e para os que não o possuem, e
você é um homem.... Corrige-se logo depois: Você é
as pessoas mais trabalhadoras atingirão o posto
de classe dominante. um bicho, Fabiano. Em seguida, encontra-se com a
cadelinha, diz: Você é um bicho, Baleia.
e) mostra a relação estreita entre linguagem e poder,
Ao chamar a si mesmo e à Baleia de “bicho”, Fabiano
denunciando a opressão ao trabalhador nordes-
estabelece uma identificação com ela. Na leitura de
tino, transparente nas diferenças entre a língua
Vidas secas, pode-se perceber vários motivos para
falada pelo opressor e a falada pelo oprimido.
essa identificação. Cite dois desses motivos.
427. UFR-RJ
430. Fuvest-SP
Leia o fragmento abaixo, extraído de Vidas secas, de
Graciliano Ramos. A flor e a náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas,
Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. vou de branco pela rua cinzenta.
Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou- Melancolias, mercadorias espreitam-me.
se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, Devo seguir até o enjôo?
desde que ele se entendera. E antes de se entender, Posso, sem armas, revoltar-me?
antes de nascer, sucedera o mesmo – anos bons mistu-
rados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, Olhos sujos no relógio da torre:
talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações
marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando
e espera.
seixos com as alpercatas – ela se avizinhando a galo-
O tempo pobre, o poeta pobre
pe, com vontade de matá-lo. Virou o rosto para fugir à
fundem-se no mesmo impasse.
curiosidade dos filhos, benzeu-se. Não queria morrer.
Ainda tencionava correr o mundo, ver terras, conhecer Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
gente importante como seu Tomás da bolandeira. Era Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
uma sorte ruim, mas Fabiano desejava brigar com ela, (...)
sentir-se com força para brigar com ela e vencê-la. Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.
Não queria morrer. Estava escondido no mato como a) Em A rosa do povo, o poeta se declara anticapita-
tatu. Duro, lerdo como tatu. Mas um dia sairia da toca, lista. Nos três primeiros versos do excerto, esse
andaria com a cabeça levantada, seria homem. anticapitalismo se manifesta? Justifique sucinta-
– Um homem, Fabiano. mente sua resposta.
Coçou o queixo cabeludo, parou, reacendeu o cigarro. b) De acordo com os dois últimos versos do excerto,
Não, provavelmente não seria um homem: seria aquilo como se manifesta, no campo da linguagem, o
mesmo a vida inteira, cabra, governado pelos brancos, impasse de que fala o poeta? Explique resumida-
quase uma rês na fazenda alheia. mente.
Considere as seguintes afirmações sobre o fragmento 431. ITA-SP
acima.
O romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, publi-
I. Interessa ao narrador registrar, além da tragédia
cado em 1938, é um marco da ficção social brasileira,
natural provocada pela seca, a opressão social pois registra de forma bastante realista a vida mise-
que recai sobre Fabiano. rável de uma família de retirantes que vive no sertão
II. Para não demonstrar seus sentimentos diante da nordestino. A cachorra Baleia tem um papel especial
proximidade da desgraça, Fabiano evita o olhar no livro, pois é sobretudo na relação dos personagens
dos filhos. com esse animal que podemos perceber que elas não
PV2D-07-54

III. Fabiano tenta compreender o mundo, mas, res- se desumanizam, apesar de suas condições de vida.
pondendo ao conflito interno, rebela-se contra o Considerando essa idéia, explique qual a importância
seu destino. do capítulo “Baleia” no romance.
265
432. Trecho 1
A seguir, é apresentado um fragmento do romance Na planície avermelhada os juazeiros alargavam
Angústia, uma das obras basilares do modernista duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado
Graciliano Ramos. Autor da geração neo-realista, o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinaria-
Graciliano Ramos desenvolveu toda sua obra com mente andavam pouco, mas como haviam repousado
uma linguagem sem requintes artísticos, mas precisa bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem
e eficiente, e abordou temas profundamente compro- três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra.
metidos com a questão da justiça social. Após a leitura, A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos
marque a opção em que se descreve o único traço não galhos pelados da catinga rala.
encontrado no fragmento em questão.
Trecho 2
A minha camisa estufa no peito, é um desastre. ... E andavam para o sul, metidos naquele sonho.
Quando caminho, a cabeça baixa, como a procurar Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os
dinheiro perdido no chão, há sempre muito pano su- meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e
bindo-me na barriga, machucando-se, e é necessário necessárias. Eles, dois velhinhos, acabando-se como
puxá-lo, ajeitá-lo, sujeitá-lo com o cinto, que se afrou- uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que
iriam fazer? Retardaram-se, temerosos. Chegariam a
xa. Estes movimentos contínuos dão-me a aparência
uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos
de um boneco desengonçado, uma criatura mordida
nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O
pelas pulgas. A camisa sobe constantemente, não há
sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos,
meio de conservá-la estirada. Também não é possível como Fabiano, Sinha Vitória e os dois meninos.
manter a espinha direita. O diabo tomba para a frente,
a) Os dois trechos são, respectivamente, o início do
e lá vou marchando como se fosse encostar as mãos
primeiro capítulo e o final do último capítulo do
no chão. Levanto-me. Sou um bípede, é preciso ter romance Vidas secas, o que indica a circularidade
a dignidade dos bípedes. Um cachorro como Julião do enredo, que tem relação com a vida das famí-
Tavares andar empertigado, e eu curvar-me para a lias pobres nordestinas, ciclicamente obrigadas a
terra, como um bicho! Desentorto o espinhaço. Que se mudarem por causa das secas que atingem a
é que me pode acontecer? Se dr. Gouveia passar região em que vivem.
por mim, finjo não vê-lo. É impossível pagar o alu- b) Nos dois trechos e em todo o romance é possível
guel da casa. Não pago. Hei de furtar? Dr. Gouveia perceber a crítica do autor ao modelo político-
que se lixe. econômico brasileiro daquele momento histórico,
o que levou os críticos a enquadrarem no grupo
a) Por ser modernista, Graciliano Ramos ousa, ao de obras denominado “romance social de 1930”.
fazer registro pouco fiel da realidade, criar perso- c) Nesses trechos está presente o estilo literário
nagens exóticos, além do padrão convencional. característico das obras de Graciliano Ramos,
b) Sua linguagem é caracterizada pelo emprego de marcado, entre outros recursos, pelo uso de frases
períodos curtos, com farta pontuação e clareza de curtas, pela concisão vocabular e pela utilização
do discurso indireto livre.
raciocínio.
d) No primeiro trecho, os verbos no tempo pretérito
c) É significativa a porção da obra de Graciliano Ra-
indicam a longa caminhada das personagens
mos em que se privilegiam a análise e a descrição
pelo sertão nordestino em busca de um lugar
da emocionalidade interior das personagens. onde possam se instalar; no segundo, os verbos
d) Mostra a constante tematização do conflito entre no tempo futuro revelam os sonhos de Fabiano e
homem e meio social, no contexto de uma relação Sinha Vitória por uma vida melhor na cidade.
sempre tensa. e) O romance Vidas secas é considerado um clássi-
e) Na abordagem da problemática social, avulta o co da literatura brasileira pelo fato de Graciliano
senso crítico negativista do autor, o que permite Ramos tê-lo construído com enredo linear e
classificá-lo próximo do modelo machadiano. seqüência progressiva dos acontecimentos, com
personagens bem caracterizadas física e psicolo-
433. gicamente, com marcações temporais precisas e
Leia o texto a seguir. com a presença de um narrador-personagem, na
figura de Fabiano, que conta sua própria história
O romance regionalista atinge seu ponto culminante.
de luta contra a miséria no sertão nordestino.
Narrado em terceira pessoa, o livro centra-se no drama
de uma família nordestina fugindo da seca, girando 435. UFV-MG
em círculo, lutando para subsistir. O drama social e Sobre a construção dos personagens do romance
geográfico da miserável região e do homem que lá Vidas secas, é incorreto afirmar que:
vive configura-se literariamente num estilo seco, sem
a) no drama dos retirantes, Graciliano interessa-se
o menor traço de sentimentalismo.
pela investigação do aspecto social, da hostilidade
A que romance de Graciliano Ramos refere-se o texto da terra nordestina, ignorando o aspecto psicoló-
anterior? gico de seus personagens.
b) na narrativa, todos os personagens representam,
434. UEL-PR realmente, “vidas secas”: mostradas em linguagem
Leia os trechos a seguir, do romance Vidas secas, de sóbria, racional, lúcida, exprimem a visão de um
Graciliano Ramos, e indique a alternativa incorreta. mundo árido e sombrio.
266
c) Graciliano apresenta seus personagens com uma b) Coronel Lula de Holanda: coronel sem carisma,
visão fatalista, de total negação e destruição, enfim, símbolo da decadência dos engenhos de cana-
de anulação do homem, num mundo sem amor. de-açúcar, é exemplo da prepotência aliada à
d) o “herói” personagem é sempre um problema: hipocrisia religiosa.
retirante, não aceita o mundo, nem a si mesmo, c) Capitão Vitorino: alvo de chacotas e zombarias,
em sua dura realidade. faz-se defensor dos oprimidos, lutando contra
e) o autor constrói seus personagens como figuras qualquer tipo de injustiça.
humanas animalizadas, vítimas de um ambiente d) Antônio Silvino: personagem histórica, cangaceiro
de desencanto e indiferença, de uma terra áspera, que tira dos ricos para dar aos pobres, torna-se a
dura e cruel. esperança de libertação dos oprimidos.
e) Coronel José Paulino: latifundiário, coloca-se ao
436. UFV-MG lado dos cangaceiros na luta contra os poderosos
A respeito de Vidas secas, de Graciliano Ramos, políticos, na tentativa de instaurar uma nova
somente não podemos afirmar que: ordem social.
a) os personagens, Fabiano, Sinha Vitória e os filhos,
são convertidos em criaturas brutalizadas, numa 439. PUC-RS
sugestão de que a dureza do solo nordestino A personagem Lula de Holanda, criada por José
aproxima a vida humana da vida animal. Lins do Rego, no ciclo da cana-de-açúcar, repre-
b) a obra insere-se no chamado romance de 1930 por senta a:
uma total fidelidade aos experimentalismos lingüís- a) aristocracia decadente.
ticos da fase heróica do movimento modernista. b) burguesia operosa.
c) a narrativa denuncia o flagelo do sertão nordes- c) nobreza idealista.
tino, onde o homem, fundindo-se ao seu meio, é d) indústria insensível.
arrastado por um destino adverso e inútil.
e) intelectualidade rebelde.
d) o retirante Fabiano, incapaz de verbalizar seus próprios
pensamentos, expressa-se, quase sempre, através do 440. Fatec-SP
discurso indireto livre de um narrador onisciente. Entre as obras memorialistas de José Lins do Rego e
e) embora composta de pequenas narrativas isola- que pertencem ao ciclo da cana-de-açúcar, pode-se
das, a obra mantém a estrutura de um romance mencionar:
pela presença quase constante de seus persona- a) Doidinho.
gens e por uma sucessão temporal.
b) Cangaceiros.
437. Fuvest-SP c) Memórias do cárcere.
Sobre Fogo morto, é correto afirmar que: d) Incidente em Antares.
a) o caráter estanque de suas partes constitutivas
441. PUCCamp-SP
é sublinhado pela mudança do foco narrativo em
cada uma delas, indo da primeira à terceira pessoa Sobre José Lins do Rego, é correto afirmar que:
narrativa. a) definiu-se, certa vez, como “apenas um baiano ro-
b) a relativa descontinuidade de sua visão tripartite é mântico e sensual”, assumindo-se como contador
contrastada pela recorrência de temas e motivos de histórias de pescadores e marinheiros de sua
internos que atravessam todo o romance. terra.
c) o caráter descontínuo e inconcluso de seu enredo b) retratou em suas obras a dura relação entre o ho-
é compensado pelas reflexões do narrador perso- mem e o meio, em especial a condição subumana
nagem, que conferem finalização e acabamento do nordestino retirante.
ao romance. c) sempre se declarou escritor espontâneo e instinti-
d) o caráter estanque de sua divisão tripartite é, no vo, consciente de que sua obra continha muito de
entanto, convertido à unidade pela comunicabi- sua experiência pessoal em regiões da Paraíba e
lidade e entendimento mútuo das personagens de Pernambuco.
principais. d) escreve a saga da pequena burguesia depois de
e) a cada uma das classes sociais nele representa- 1930, num tom leve e descontraído de crônica de
das, o romance reserva um estilo de narrar próprio: costumes.
erudito para os senhores de engenho, oral-popular e) é considerado mais por ter publicado a obra marco
para as camadas humildes e cangaceiros. da literatura social nordestina, A bagaceira, do que
pelos méritos de grande escritor.
438. UFMG
Todas as alternativas expressam uma correta corres- 442. Fuvest-SP
pondência entre as personagens de Fogo morto, de Numa espécie de projeção utópica, sua personagem,
José Lins do Rego, e suas características, exceto: um tipo de idealista bobo e desacreditado, alude a
a) Mestre José Amaro: vítima do progresso da indus- mudanças na estrutura social do Nordeste com o
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trialização e do poder do latifundiário, vê na terra advento de outra ordem em que o privilégio ceda ao
e no cangaço a saída para uma vida melhor para princípio de justiça. Daí a crítica falar inclusive em
os oprimidos. figura quixotesca.
267
Dentre as personagens de Fogo morto, qual se enqua- a) verossimilhança – preciosismo – modernista
dra melhor nessa definição? b) configuração – nacionalismo – realista
a) Lula de Holanda c) indefinição – preciosismo – pré-modernista
b) Coronel José Paulino d) verossimilhança – regionalismo – de 30
c) Antônio Silvino e) indefinição – verossimilhança – naturalista
d) Mestre José Amaro
e) Vitorino Carneiro da Cunha 445. PUC-RS
Vitorino, personagem de_________, de José Lins do
443. Fatec-SP Rego, conversa com sua esposa sobre os motivos que
O trecho abaixo foi extraído da terceira parte do ro- o impelem a sair de casa, após ter sido surrado por
mance Fogo morto, de José Lins do Rego. questões políticas. Demonstra uma atitude _________
e _____________, já que pretende enfrentar o poder
Nunca mais que o cabriolé de seu Lula enchesse as
de José Paulino.
estradas com a música de suas campainhas. A família
a) Vidas secas – estéril – oportunista
do Santa Fé não ia mais à missa aos domingos. A
princípio correra que era doença no velho. Depois b) Fogo morto – ingênua – sonhadora
inventaram que o carro não podia rodar, de podre c) Vidas secas – valente – impulsiva
que estava. Os cavalos não agüentavam mais com d) Fogo morto – realista – ufanista
o peso do corpo. e) Menino de engenho – infantil – romântica
Sobre essa obra, podemos afirmar:
446. UEL-PR
a) o romance é o retrato da desintegração de seres
humanos, da decadência de uma sociedade na Nesses dois romancistas do Nordeste, a paisagem
sub-região açucareira, no Nordeste brasileiro. surge de maneira diferente. Num, a região canavieira
O encerramento das atividades do engenho está intimamente ligada às recordações da infância e
Santa Fé representa o fim de uma estrutura da adolescência, material de seus romances; no outro,
econômica. a natureza interessa ao romancista só enquanto pro-
põe o momento da realidade hostil que a personagem
b) o romance chama-se Fogo morto porque aborda
tem de enfrentar. Representam as duas tendências,
o problema das queimadas nas plantações de
respectivamente, as obras:
cana-de-açúcar.
a) Capitães da areia – Vidas secas.
c) Fogo morto enfoca a viagem de uma família nor-
destina que foge da seca em busca de um lugar b) O tempo e o vento – Doidinho.
melhor para sobreviver. c) Angústia – Fogo morto.
d) em Fogo morto, José Lins do Rego afasta-se do d) Menino de engenho – São Bernardo.
regionalismo que marcou suas obras anteriores e) Gabriela, cravo e canela – Clarissa.
– Menino de engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque
Ricardo e Usina. 447.
e) o romance é dividido em três partes. Na parte final, Assinale a altenativa que apresenta uma obra que não
o engenho Santa Fé é destruído por um incêndio pertence ao mesmo autor de Fogo morto.
provocado pelo cangaceiro Antônio Silvino. a) Menino de engenho d) Bangüê
b) O moleque Ricardo e) Vidas secas
Texto para as questões 444 e 445.
c) Riacho doce.
– Minha velha, amanhã tenho que ganhar os
campos. Não sou marica para ficar assim dentro de 448.
casa. As eleições estão aí e nestes últimos dias nada José Lins do Rego classificou seus romances em três
tenho feito. Vou dar uma queda no José Paulino que grupos. Quais são esses grupos?
vai ser um estouro.
– Vitorino, eu te acho ainda muito machucado. 449.
– Não tenho mais nada. Você viu o compadre e O romance Fogo morto divide-se em três partes, cada
o cego como estavam andando? Apanharam muito e uma delas centralizada em uma personagem. Quais
não ficaram de papo pro ar numa rede como mulher são essas partes?
parida. Um homem que se preza não deve se entregar.
Vou para a cabala, amanhã na feira de Serrinha. Quero 450.
olhar para a cara de Manuel Ferreira. Este cachorro Leia o texto a seguir.
vive na Serrinha roubando o povo com parte de que Menino de engenho
é deputado. É outra safadeza de José Paulino, deixar Coitado do Santa Fé! Já o conheci de fogo morto. E
que vá para a Assembléia do Estado um tipo como nada é mais triste do que engenho de fogo morto. Uma
Manuel Ferreira. Boto abaixo tudo isto. desolação de fim de vida, de ruína, que dá à paisagem
rural uma melancolia de cemitério abandonado. Na
444. PUC-RS bagaceira, crescendo, o mata-pasto de cobrir gente, o
Considerando a * das personagens, a linguagem sem melão entrando pelas fornalhas, os moradores fugindo
marcas significativas de * e a temática reveladora das para outros engenhos, tudo deixado para um canto, e até
estruturas históricas brasileiras, é possível associar o os bois de carro vendidos para dar de comer aos seus
texto de José Lins do Rego ao romance*. donos. Ao lado da prosperidade e da riqueza do meu avô,
268
eu vira ruir, até no prestígio de sua autoridade, aquele 452. Mackenzie-SP
simpático velhinho que era o Coronel Lula de Holanda, Assinale a alternativa incorreta.
com o seu Santa Fé caindo aos pedaços. Todo barbado, a) A temática regionalista, presente na literatura bra-
como aqueles velhos dos álbuns de retratos antigos, sem- sileira, foi tratada diferentemente pelos escritores,
pre que saía de casa era de cabriolé e de casimira preta. em função de traços específicos de cada momento
A sua vida parecia um mistério. Não plantava um pé de histórico.
cana e não pedia um tostão emprestado a ninguém.
b) O romance da segunda geração do Modernismo
REGO, José Lins do. Menino de engenho. 33. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. pp. 121-123.
brasileiro tem como aspecto relevante a temática
regionalista, como atestam as obras de José Lins
Destaque do texto uma passagem que indique o cará- do Rego.
ter memorialista do romance de José Lins do Rego.
c) Apesar de aparentemente paradoxal, a expressão
451. Mackenzie-SP regionalismo universalizante é adequadamente
usada pela crítica para caracterizar a obra de
Texto I Guimarães Rosa.
A violência habitual como forma de comportamento d) O aspecto pitoresco da cor local é elemento ideali-
ou meio de vida ocorre no Brasil através de diversos zado pelos escritores do século XX, quando tratam
tipos sociais, de que o mais conhecido é o cangaceiro da temática regionalista.
da região nordestina, devido a circunstâncias muitas
e) Obras de temática regionalista, como Os sertões,
vezes já comentadas. Mas o valentão armado, atuan-
de Euclides da Cunha, denunciam a marginaliza-
do isoladamente ou em bando, é fenômeno geral em
ção a que está submetido o homem do sertão.
todas as áreas onde a pressão da lei não se faz sentir,
e onde a ordem privada desempenha funções que em 453.
princípio caberiam ao poder público.
Leia os versos a seguir e responda à questão.
Como essas áreas são geralmente menos atingidas
pela influência imediata da civilização urbana, é natural Estranha neve: espuma, espumas apenas
que o regionalismo literário, que as descreve, tenha Que o vento espalha, bolha em baile no ar,
abordado desde cedo o jagunço e o bandido. Com vinda do Tietê alvoroçado
efeito, o nosso regionalismo nasceu ligado à descrição ao abrir as comportas,
da tropelia, da violência grupal e individual, “normais”, de espuma de dodecilbenzeno irredutível,
certo modo, nas sociedades rústicas do passado. emergindo das águas profanadas
Antonio Candido do rio-bandeirante, hoje rio despejo
de mil imundícies do progresso.
Texto II
ANDRADE, Carlos Drummond de. Discurso de primavera e algumas
O capitão Antônio Silvino voltava a tomar conta
sombras. Rio de Janeiro: Editora Record, 1994.
de seus pensamentos. Admirava a vida errante da-
quele homem, dando tiroteios, protegendo os pobres, Nos versos do poeta, “rio-bandeirante” significa:
tomando dos ricos. Este era o homem que vivia na a) a pequena importância do rio Tietê no processo
sua cabeça. Este era o seu herói. Para ele só havia de povoamento do interior de São Paulo.
uma grandeza no mundo, era a grandeza do homem b) a importante contribuição do rio Tietê para a ex-
que não temia o governo, do homem que enfrentava pansão da pecuária no sertão nordestino.
quatro estados, que dava dor de cabeça nos chefes de
c) que o rio Tietê serviu como via fluvial, ligando o
polícia, que matava soldados, que furava cercos, que
interior de São Paulo às minas de Cuiabá (mon-
tinha poder para adivinhar os perigos. Se um dia visse
ções).
o capitão Antônio Silvino seria um homem feliz.
José Lins do Rego – Fogo morto
d) a contribuição do rio Tietê para o escoamento da pro-
dução aurífera até os portos do Rio de Janeiro.
Considere as afirmações que seguem sobre os textos
e) a grande importância do rio Tietê para o desloca-
I e II.
mento dos tropeiros paulistas para a região Sul.
I. O comentário sobre o regionalismo literário brasilei-
ro, apresentado no texto I, diz respeito aos romances 454. PUC-SP
escritos tanto no século XIX como no século XX. Eu não sabia nada. Levava para o colégio um corpo
II. O texto II exemplifica o destaque dado pelo re- sacudido pelas paixões de homem feito e uma alma
gionalismo literário brasileiro ao valentão armado mais velha do que o meu corpo. Aquele Sérgio, de Raul
referido no texto I. Pompéia, entrava no internato de cabelos grandes e
III. É característica dos romances regionalistas brasi- com uma alma de anjo cheirando a virgindade. Eu não:
leiros terem o jagunço nordestino como protagonis- era sabendo de tudo, era adiantado nos anos, que ia
ta, como em Vidas secas, de Graciliano Ramos, e atravessar as portas do meu colégio.
Inocência, de Taunay. Menino perdido, menino de engenho.
Assinale:
O trecho citado, do romance Menino de engenho,
a) se todas estiverem corretas. de José Lins do Rego, prepara o leitor para a se-
b) se nenhuma estiver correta. gunda obra do ciclo da cana-de-açúcar, Doidinho,
PV2D-07-54

c) se apenas I estiver correta. ao mesmo tempo que retoma O Ateneu, de Raul


d) se apenas I e II estiverem corretas. Pompéia. Em que os romances Doidinho e O Ateneu
e) se apenas II e III estiverem corretas. se assemelham?
269
455. Fuvest-SP direto, um desses “erros gramaticais” tão freqüentes na
Leia atentamente o texto a seguir. espontaneidade da expressão popular oral e, a seguir,
Pedro Boleeiro chegou na porta do mestre José Amaro responda ao que se pede.
com um recado do coronel Lula. Era para o mestre a) Que “erro” foi cometido?
aparecer no engenho para conserto nos arreios do b) Que formulação o discurso direto teria sem esse
carro. O mestre ouviu o recado, deixou que o negro “erro”?
falasse à vontade. E depois, como não tivesse gostado,
foi-se abrindo com o outro. 457.
– Todo mundo pensa que o mestre José Amaro é A literatura aproveita-se constantemente dos textos
criado. Sou um oficial, Seu Pedro, sou um oficial que que já foram produzidos e os transforma, apresentan-
me prezo. O coronel Lula passa por aqui, me tira o do-os de outra maneira, sob outro ponto de vista. Leia
chapéu como um favor, nunca parou para saber como os textos a seguir, em que Alice Ruiz parodia o texto
vou passando. Tem o seu orgulho. Eu tenho o meu. de Carlos Drummond de Andrade, José.
Moro em terra dele, não lhe pago foro, porque aqui Texto I
morou meu pai, no tempo do seu sogro. Fui menino Drumundana
por aqui. Para que tanto orgulho? e agora maria?
José Lins do Rego, Fogo morto.
o amor acabou
a) Por que o romance se intitula Fogo morto? a filha casou
b) De autor(es) contemporâneo(s) de José Lins do o filho mudou
Rego, cite dois romances que, à semelhança de teu homem foi pra vida
Fogo morto, focalizam problemas sociais e econô- que tudo cria
micos do Nordeste. a fantasia
que você sonhou
456. Vunesp apagou
A palavra da velha conduzia o filho como se à luz do dia
empurrasse um cego na estrada. O Santo gritava,
gritava com um vozeirão de roqueira. Aparício e os e agora maria?
cabras chegavam para ele. E ele que tinha aos seus vai com as outras
pés milhares de criaturas parecia não enxergar os vai viver
cangaceiros de chapéu na cabeça. De repente, porém, com a hipocondria
como se os seus olhos se abrissem, olhou fixamente Alice Ruiz
para Aparício e os seus homens. E manso, tal uma
ventania que se abrandasse numa brisa mansinha, Texto II
fixou no terror das caatingas a sua atenção. Com a José
voz de homem para homem, não mais de santo para E agora, José?
impuros, foi dizendo: A festa acabou,
– Deus do céu e o meu santo mártir S. Sebastião a luz apagou,
te mandou para perto de mim. o povo sumiu,
E marchou para o meio dos cangaceiros, rom- a noite esfriou,
pendo por entre os romeiros que caíam a seus pés, e agora, José?
com a cabeça erguida e as barbas açoitadas pelo e agora, Você?
vento. Aparício, quando viu-o de perto, ajoelhou-se. Você que é sem nome,
O rifle caiu-lhe das mãos, enquanto o Santo punha- que zomba dos outros,
lhe na cabeça os dedos magros. Podia-se escutar os Você que faz versos,
rumores dos bichos da terra naquele silêncio de mundo que ama, protesta?
parado. E soturno, com a voz que saía de uma furna, o e agora, José?
Santo ergueu para o céu o seu canto. E as ladainhas (...)
irromperam de todos os recantos do arraial. Muitos Carlos Drummond de Andrade
cangaceiros começaram a chorar. Aparício, porém, Após leitura atenta dos dois poemas, percebe-se que,
possuiu-se de fúria, e era uma fera acuada, com por meio da paródia, Alice Ruiz apropria-se do texto de
milhares de cachorros na boca da toca. E ergueu-se. Drummond e dá um novo significado ao sentido original
E já com o rifle na mão esquerda fitou o Santo, cara do poema. Marque a alternativa que mostra com qual
a cara, e com a mão direita cheia de anéis puxou o finalidade a poetisa alterou a idéia de José.
punhal da bainha e disse aos berros: a) Debochar do desencanto e da falta de perspectiva
– Povo, eu não tenho medo. de José.
in REGO, José Lins do. Cangaceiros. 6. ed. b) Criticar o desamparo do homem comum na socie-
Rio de Janeiro: José Olympio, 1976, p.8.
dade capitalista.
José Lins do Rego (1901-1957) faz parte de uma c) Ridicularizar o sofrimento sentido pelo personagem
geração de romancistas engajados na realidade do poema.
cultural do nosso país. Sua prosa de ficção caracte- d) Mostrar-se contra o uso da linguagem coloquial
riza-se pelo forte tom de oralidade, de regionalismos dentro da literatura.
léxicos e sintáticos que aproximam seu discurso da e) Somar ao sentido crítico de José o desamparo de
fala popular. Localize, na primeira frase, em discurso mulheres contemporâneas.
270
458. Ufla-MG V. evitaram, sempre que possível, ao longo da ativi-
No gênero narrativo, temos, como uma de suas ma- dade literária, a abordagem de questões de ordem
nifestações, a novela. Classifica-se como novela o social e política.
livro A morte e a morte de Quincas Berro D’água, de a) I, II, V d) II, III
Jorge Amado. Todas as alternativas justificam essa
b) II, IV, V e) I, IV
afirmativa, exceto:
c) III, IV, V
a) O número de páginas é menor que o de outras
manifestações narrativas. 461. UFPE
b) Apresenta personagens e situações mais densas e Capitães de areia, de Jorge Amado, faz parte do Mo-
complexas, com passagem mais lenta do tempo. dernismo, dentro do romance regional de 30. Sobre
c) Temos a valorização de um evento, um corte mais essa obra, podemos afirmar que:
limitado da vida.
( ) Capitães de areia descreve a ação dos grupos
d) A passagem do tempo é mais rápida, às vezes um revolucionários e faz parte da primeira fase das
dia e uma noite. obras do autor, junto com Jubiabá.
e) O narrador assume uma maior importância como ( ) o livro narra a vida de meninos abandonados nas
contador de um fato passado. ruas de Salvador, os quais, apesar de marginais
(viviam de furto), ao final, organizam-se como um
459. Unirio-RJ
grupo político que defende idéias revolucionárias.
Publicado em 1956, Vila dos confins é exemplo de ro-
( ) a narrativa é precedida de cartas à redação de
mance regionalista. O fragmento de texto cuja temática
jornais e de reportagens sobre a necessidade de
não está voltada para o regional é:
se tomar providências em relação ao bando de
a) O fogo, bem defronte do rancho festivo, alumiava
delinqüentes juvenis (os capitães de areia), o que
o terreiro. Lúcio pôs-se a observar a agonia da
dá ares de veracidade à história.
lenha verde que se estorcia, estalava de dor, es-
toirava em protestos secos e se finava, chiando, ( ) a história dramática narrada no livro está dividida
espumando de raiva vegetal. (A bagaceira) em três partes, sendo a última “Canção da Bahia,
Canção da Liberdade”. “Porque a revolução é uma
b) O Senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que
pátria e uma bandeira” é a frase final que dá um
não seja: que situado sertão é por os campos
toque de esperança à obra.
gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo,
terras altas, demais do Urucúia. (Grande sertão: ( ) o personagem central, Pedro Bala, torna-se líder
veredas) político, comandando uma brigada de choque:
“Intervém em comícios, greves, lutas obreiras.
c) Sim senhor, hóspede que demorava demais,
tomava amizade à casa, ao curral, ao chiqueiro A luta mudou seus destinos... para que depois
das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma continuasse a mudar o destino de outras crianças
noite. (Vidas secas) abandonadas do país”.
d) E como se não bastasse a claridade das duas ho- 462. UEL-PR
ras, ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam
Assinale a alternativa correta a respeito de A morte e a
de calor. – A cabeça da menina planejava. (Legião
morte de Quincas Berro D’Água, de Jorge Amado.
estrangeira)
( ) O romance trata de uma mesma pessoa, que
e) Acompanha o Paraíba com as várzeas extensas
passa, no decorrer da trama, de Joaquim Soares
e entrava de caatinga. Ia encontrar as divisas de
Pernambuco nos tabuleiros de pedra de fogo. da Cunha, um funcionário exemplar, a Quincas
(Menino de Engenho) Berro D’Água, um beberrão ligado à boemia, a
vagabundos e a prostitutas.
460. Femp-PA ( ) Nesse romance, Jorge Amado retoma a temática
Quanto a aspectos da atividade literária de José Lins de algumas de suas obras anteriores e discute os
do Rego e Jorge Amado: problemas ligados ao ciclo do cacau no Nordes-
I. destacaram-se como contadores de histórias, em te.
que o homem simples do Nordeste, com seus ( ) Quincas Berro D’Água e Joaquim Soares da
defeitos e virtudes, é personagem constante. Cunha, devido a uma confusão da agência fune-
II. tornou-se marcante a presença da infância e da rária, tiveram suas identidades trocadas, e seus
adolescência em seus romances – daí o caráter cadáveres foram enviados às famílias erradas.
memorialista que suas obras de maior destaque ( ) Joaquim Soares da Cunha era odiado pela família
tiveram. e amado pelos boêmios, ao passo que Quincas
III. destacaram-se também na arte de fazer o verso Berro D’Água era idolatrado pela família e odiado
– especialmente o soneto. pelos boêmios.
IV. foram combatidos, por determinados setores da ( ) É um romance escrito em plena ditadura de Getúlio
crítica, pela utilização, em inúmeras passagens de Vargas, que se destina ao retrato da realidade
seus romances, de uma linguagem marcadamente social da época e, por isso, ignora traços de um
PV2D-07-54

coloquial. realismo fantástico.

271
463. Ufla-MG Texto para as questões 466 e 467.
Sobre o trecho: “Sempre que acontece alguma coisa importante, está
Era o cadáver de Quincas Berro D’Água, cachaceiro, ventando” — costumava dizer Ana Terra. Mas entre todos
debochado e jogador, sem família, sem lar, sem flores e os dias ventosos de sua vida, um havia que lhe ficara para
sem rezas. Não era Joaquim Soares da Cunha, correto sempre na memória, pois o que sucedera nele tivera a
funcionário da Mesa de Rendas Estadual, aposenta- força de mudar-lhe a sorte por completo. Mas em que dia
do após vinte e cinco anos de bons e leais serviços, da semana tinha aquilo acontecido? Em que mês? Em
esposo modelar, a quem todos tiravam o chapéu e que ano? Bom, devia ter sido em 1777: ela se lembrava
apertavam a mão. bem porque esse fora o ano da expulsão dos castelhanos
A morte e a morte de Quincas Berro D’água – Jorge Amado do território do Continente. Mas na estância onde Ana vivia
e de acordo com a compreensão da leitura desse livro, com os pais e os dois irmãos, ninguém sabia ler, e mesmo
marque a alternativa correta. naquele fim de mundo não existia calendário nem relógio.
Eles guardavam de memória os dias da semana; viam
a) Trata-se de uma comparação preconceituosa entre
as horas pela posição do sol; calculavam a passagem
duas pessoas que tinham, coincidentemente, o
dos meses pelas fases da lua; e era o cheiro do ar, o
mesmo nome.
aspecto das árvores e a temperatura que lhes diziam das
b) Demonstra a preferência do autor por personagens estações do ano. Ana Terra era capaz de jurar que aquilo
que representam pessoas sérias e bem vestidas. acontecera na primavera, porque o vento andava bem
c) Retrata, no pensamento da filha, a saudade e o doido, empurrando grandes nuvens brancas no céu, os
apreço que sente pelo pai, ainda que vagabundo. pessegueiros estavam floridos e as árvores que o inverno
d) Há uma crítica à importância que a sociedade dá despira se enchiam outra vez de brotos verdes.
a valores que constituem padrões criados por ela
mesma. 466. PUC-RS
e) Há na descrição da personagem o retrato de um O trecho em questão refere-se a um acontecimento de-
homem fraco que não soube aproveitar a sorte que terminante para a vida de Ana Terra, que desencadeia
a vida lhe proporcionara. toda a saga de O tempo e o vento, qual seja
a) a viagem para Santa Fé.
464. Fatec-SP b) o cerco ao sobrado.
Pode-se afirmar que Jorge Amado, cujos oitenta anos c) o nascimento de Pedro Terra.
foram largamente comemorados, apresenta duas verten-
d) o encontro com Pedro Missioneiro.
tes na sua produção literária. Seus primeiros romances
e) a morte de seu amado.
distinguem-se pela denúncia social, com matizes políticos
e depoimentos líricos a respeito dos desvalidos da vida.
467. PUC-RS
A partir dos anos 1950, seus romances abandonam os
A personagem Ana Terra, que dá nome a um dos ca-
esquemas de literatura ideológica e retratam os costumes
pítulos de O continente, tem sua imagem associada
provincianos, o pitoresco regional e o humorismo extraído
às idéias de:
do cotidiano. Assinale a alternativa que contém uma obra
de cada uma dessas fases, respectivamente. a) resistência, teimosia e irreverência.
a) Jubiabá – O país do carnaval. b) força, perseverança e fidelidade.
b) Tenda dos milagres – Gabriela, cravo e canela. c) aventura, amor e generosidade.
c) Capitães da areia – Teresa Batista cansada de d) obstinação, irresponsabilidade e irreverência.
guerra. e) delicadeza, beleza e aventura.
d) O cavaleiro da esperança – Terras do sem-fim.
468. UEM-PR
e) Tieta do agreste – Dona Flor e seus dois maridos.
Sobre o romance Incidente em Antares, de Érico Ve-
465. Mackenzie-SP ríssimo, assinale o que for correto.
O tempo e o vento: 01. Incidente em Antares, romance pertencente à
terceira fase da prosa de Érico Veríssimo, tem
a) apresenta-se como um romance histórico, dividido
elementos regionalistas nítidos, mas supera as
em três partes, com personagens reais, cujo tempo
preocupações do regionalismo ao utilizar a história
se limita ao período da Guerra do Paraguai.
do Rio Grande do Sul como recurso para retratar
b) constitui um poema épico, apresentando a coloniza- criticamente o momento pelo qual passava o Brasil
ção e o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. como um todo, utilizando, para tal fim, a mescla de
c) trata-se de um longo romance, que mostra o de- fatos históricos e ficcionais, sendo os últimos de
senvolvimento do Rio Grande do Sul, do século dois tipos: verossímeis ( realistas) e fantásticos.
XVIII ao XX, através das fictícias famílias Terra e 02. Incidente em Antares, romance considerado per-
Cambará. tencente à segunda fase da prosa de Érico Verís-
d) mostra-se como um dos pontos mais altos da litera- simo, pode ser descrito como um típico romance
tura regionalista romântica, trazendo personagens regionalista. Tal afirmação pode ser justificada
totalmente estereotipadas. através de exemplos tirados do texto, como a
e) é um livro de contos em que o autor, Érico Veríssi- minuciosa reconstituição do passado histórico de
mo, expõe a valentia do povo gaúcho, seus hábitos Antares, feito com base em documentos encon-
e cultura próprios. trados por pesquisadores.
272
04. Incidente em Antares é, basicamente, a saga e) A personagem Luzia, em razão de suas reações
de duas famílias, inicialmente inimigas, depois estranhas, que oscilam entre a crueldade e a
tornadas aliadas pelas circunstâncias. Da mesma sedução, dá origem, entre os habitantes de Santa
maneira O tempo e o vento é um romance histó- Fé, à lenda da Teiniaguá.
rico, centrado nas vidas das várias gerações das
famílias Vacariano e Campolargo. 470. UCPel-RS
08. Incidente em Antares é, basicamente, um romance Em relação a Érico Veríssimo, todas as alternativas
psicológico, empenhado em desvendar ao leitor as são corretas, exceto:
motivações inconscientes das suas personagens. a) Utiliza a técnica do contraponto, interpretando
Como exemplo, tem-se Valentina e Pedro Paulo, diversas histórias, influenciado por traduções que
com sua atração proibida, reprimida, que jamais realizou da obra de Aldous Huxley.
chega a se realizar, mas que é visível e plenamente b) Registra os valores e os costumes de uma pequena
analisada para o leitor. burguesia que se tornava, pouco a pouco, o setor
16. Incidente em Antares, romance da primeira fase da social mais representativo de Porto Alegre.
prosa de Érico Veríssimo, compõe, juntamente com c) Em O tempo e o vento, o ciclo se dá pela sucessão
Clarissa e Olhai os lírios do campo, uma trilogia que de duas famílias-chave, os Terra e os Cambará,
fez enorme sucesso junto ao público feminino, por que se aproximam várias vezes pelo casamento.
sua temática branda, lírica e afetuosa, sua lingua- d) Em Incidente em Antares, retoma a temática do interior,
gem poética e seu tratamento ingênuo e otimista agora sob uma perspectiva crítica, refletindo a realida-
de assuntos como a adolescência, a vida pacata de social e política do Brasil nos anos sessenta.
numa cidadezinha gaúcha, o primeiro amor.
e) Aborda, em toda sua obra, o caráter materialista da
32. A construção da personagem Quitéria Campolargo vida, vendo o homem como um produto biológico
é considerada “problemática” por muitos estu- sujeito inteiramente às pressões sociais e à carga
diosos: seu comportamento sofre uma mudança hereditária.
radical. De matrona poderosa, mandona, respei-
tada por todos, ela passa a defender os pobres e 471.
a tomar seu partido em praça pública, sem que
haja explicação clara dos motivos de tal mudança. Gabriela agitou-se no sono, o árabe transpusera a
Embora o contexto de sua mudança seja fantás- porta. Estava com a mão estendida, sem coragem de
tico, não se pode, logicamente, esperar que uma tocar o corpo dormido. Por que apressar-se? Se ela gri-
alteração tão grande de comportamento aconteça tasse, se fizesse um escândalo, fosse embora? Ficaria
numa personagem bem construída. sem cozinheira, outra igual a ela jamais encontraria. O
melhor era deixar o pacote na beira da cama. No outro
64. A relação das personagens Ritinha e Joãozinho
dia, demoraria mais em casa, ganhando sua confiança
Paz é comovente, e a metáfora escolhida pelo
pouco a pouco, terminaria por conquistá-la.
padre para significar a Joãozinho que a mulher está
Sua mão quase tremia pousando o embrulho.
a salvo vem enfatizar seu significado simbólico no
Gabriela sobressaltou-se, abriu os olhos, ia falar
contexto do romance: a viúva, grávida, despedin-
mas viu Nacib de pé, a fitá-la. Com a mão, instintivamen-
do-se do marido amado, é comparada à Virgem
te, procurou a coberta mas tudo que conseguiu – por
Maria, fugindo da perseguição de Herodes. acanhamento ou por malícia? – foi fazê-la escorregar da
Some os números dos itens corretos. cama. Levantou-se a meio, ficou sentada, sorria tímida.
Não buscava esconder o seio agora visível ao luar.
469. UFRGS-RS — Vim lhe trazer um presente, – gaguejou Nacib.
Assinale a alternativa correta em relação a O conti- Ia botar em sua cama. Cheguei agorinha...
nente, de Érico Veríssimo. Ela sorria, era de medo ou era para encorajar?
a) As mulheres, por não suportarem sozinhas os Tudo podia ser, ela parecia uma criança, as coxas
encargos dos filhos e da casa, lançam-se como e os seios à mostra como se não visse mal naquilo,
como se nada soubesse daquelas coisas, fosse toda
estratégicas guerreiras fortalecendo a ação dos
inocência. Tirou o embrulho da mão dele:
seus homens.
— Obrigada, moço, Deus lhe pague.
b) Descendente direta de Ana Terra, Bibiana, ao Desatou o nó, Nacib a percorria com os olhos, ela
casar-se com o capitão Rodrigo Cambará, rompe estendeu sorrindo o vestido sobre o corpo, acariciou-
com a tradição indígena, herdada de sua avó, e se com a mão:
sofre por não conseguir gerar um filho do sexo — Bonito...
masculino. Espiou os chinelos baratos, Nacib arfava.
c) O episódio “Um certo Capitão Rodrigo” gira em — O moço é tão bom...
torno da chegada a Santa Fé do forasteiro Rodrigo O desejo subia no peito de Nacib, apertava-lhe a
Cambará, que encarna o ideal da bravura do gaú- garganta. Seus olhos se escureciam, o perfume de
cho e tem o perfil de um homem dominado pelos cravo o tonteava, ela tomava do vestido para melhor
prazeres carnais. o ver, sua nudez cândida ressurgia.
d) O continente, título que evoca a conquista do ter- — Bonito... Fiquei acordada, esperando pro
ritório do Rio Grande do Sul, recobra um período moço me dizer a comida de amanhã. Ficou tarde,
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histórico que vai das missões jesuíticas no século vim deitar...


XVIII até a segunda metade do século XX, atin- — Tive muito trabalho – as palavras saíam-lhe
gindo a urbanização crescente em Porto Alegre. a custo.
273
— Coitadinho... Não tá cansado? Texto para as questões de 473 a 475.
Dobrava o vestido, colocava os chinelos no chão. I
— Me dê, penduro no prego.
No meio do caminho
Sua mão tocou a mão de Gabriela, ela riu:
No meio do caminho tinha uma pedra
— Mão mais fria...
Ele não pôde mais, segurou-lhe o braço, a outra tinha uma pedra no meio do caminho
mão procurou o seio crescendo ao luar. Ela o puxou tinha uma pedra
para si: no meio do caminho tinha uma pedra.
— Moço bonito... Nunca me esquecerei desse acontecimento
O perfume de cravo enchia o quarto, um calor vinha na vida de minhas retinas tão fatigadas.
do corpo de Gabriela, envolveu Nacib, queimava-lhe a Nunca me esquecerei que no meio do caminho
pele, o luar morria na cama. Num sussurro entre beijos, tinha uma pedra
a voz de Gabriela agonizava: tinha uma pedra no meio do caminho
— Moço bonito... no meio do caminho tinha uma pedra.
Jorge Amado, Gabriela, cravo e canela, Parte I. Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia, 1930
a) Qual é o aspecto da obra de Jorge Amado que o II
texto permite perceber?
b) Qual a imagem feminina que se pode abstrair do
trecho?
c) Na construção da cena, o narrador sugere ao leitor
sensações de vários tipos. Indique uma dessas
sensações.
472.
I. Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
Não é dia de eu ser sua...
Cecília Meireles
II. Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca
III. Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
Marcelino Freire, erudito, 2002
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém. Comemorou-se no dia 31 de outubro de 2002 o cente-
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o nário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade
convento, (1902-1987), o mais importante poeta brasileiro do século
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, XX. No meio do caminho é provavelmente o poema mais
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fer- polêmico de Drummond e do Modernismo: provocou
nandes verdadeiro escândalo entre os espíritos conservadores!
que não tinha entrado na história. Foi essa avalanche de opiniões que levou Drummond a
Carlos Drummond de Andrade publicar Uma pedra no meio do caminho – biografia de
Assinale a alternativa incorreta. um poema (Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1967), um
Sobre a relação entre os textos mostrados, afirma-se documento exemplar da sociologia do gosto literário.
que: São 194 páginas que reúnem críticas contundentes
a) há uma confluência entre eles, na afirmação do e ridicularizadoras, caricaturas, traduções e alguns
eterno desencontro, inerente à busca amorosa. elogios ao poema.
b) os dois primeiros unem-se num tom de lamento
poético, enquanto o terceiro, definindo-se pela 473. Ibmec-SP
incorporação, ao poético, do cotidiano prosaico, Aponte, dentre as alternativas seguintes, a que ca-
encaminha-se para o tom de ironia e de humor. racteriza o aspecto mais surpreendente do poema
c) os dois primeiros fragmentos, com métrica regular, drummondiano e que é capaz de explicar o impacto
opõem-se ao poema Quadrilha, que transgride a produzido na época de sua publicação.
métrica tradicional, o que vem confirmar a postura a) Trata-se da forma profundamente desrespeitosa com
ideológica dos textos. que Drummond se refere ao verso Nel mezzo del
d) no poema Quadrilha, a sucessão de especifica- camin di nostra vita, de Dante Alighieri, retomado por
ções dos três primeiros versos introduz a idéia de Olavo Bilac num de seus mais famosos sonetos.
desencontro, confirmada nos três últimos versos. b) As demasiadas repetições do verso No meio
e) os três textos unem-se pelo fato de apresentarem do caminho tinha uma pedra são extremamente
o tema por meio de um eu que fala e se assume, redutoras e empobrecedoras, do ponto de vista
contando e lamentando a própria história. semântico.
274
c) De acordo com a norma culta, o poema apresenta Entre todos esses poemas estabelece-se uma relação
incorreções inadmissíveis, tais como a regência de:
exótica do verbo “esquecer”. a) plágio.
d) O poema não passa de uma baboseira futurista, b) desmistificação.
marca indelével da fase de loucura que acometeu
c) reprodução.
Drummond, na época em que o escreveu.
d) intertextualidade.
e) O poema caracteriza a época contemporânea,
prosaica e muito agitada, em que poucos param e) usurpação.
para refletir sobre a existência. A mensagem, de
476.
tão simples, inquieta o leitor pelo modo redundante
com que se estrutura. Leia o poema Itabira, de Carlos Drummond de Andra-
de, para responder à questão.
474. Ibmec-SP Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê.
Na “biografia do poema”, Drummond afirma que “não Na cidade toda de ferro.
pretende expor nenhum fato de ordem moral, psicológi- As ferramentas batem como sinos.
ca ou filosófica” e que somente queria “dar a sensação Os meninos seguem para a escola.
de monotonia e chateação, a começar pelas palavras”. Os homens olham para o chão.
Segundo ele, o poema havia servido “para dividir no Os ingleses compram a mina.
Brasil as pessoas em duas categorias mentais”. De Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota
fato, o poema apresenta uma estrutura irônica, como incomparável.
se nota já nos versos iniciais: A crítica de caráter político encontrada no texto de
No meio do caminho tinha uma pedra Drummond está expressa no verso:
tinha uma pedra no meio do caminho a) Cada um de nós tem seu pedaço no pico do
A seguir, estão exposto versos de diversos autores. Cauê.
Em qual das passagens o autor empregou o mesmo b) As ferraduras batem como sinos.
recurso retórico usado por Drummond nos versos c) Os ingleses compram a mina.
expostos? d) Na cidade toda de ferro.
a) Ó mar salgado, quanto do teu sal e) Os meninos seguem para a escola.
São lágrimas de Portugal.
Fernando Pessoa 477. Mackenzie-SP
b) Mais dura, mais cruel, mais rigorosa Construção
Sois, Lisi, que o cometa, rocha ou muro Um grito pula no ar como foguete.
Mais rigoroso, mais cruel, mais duro Vem da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes
Que o Céu vê, cerca o Mar, a Terra goza. hirtos.
Jerônimo Baía O sol cai sobre as coisas em placa fervendo.
c) São Paulo – metrópole O sorveteiro corta a rua.
o metrô – bisturi que rasga E o vento brinca nos bigodes do construtor.
Carlos Drummond de Andrade
o ventre da noite...
Vocabulário
Clínio Jorge
caliça = resíduo de cal ou argamassa ressequida
d) Sou Ana, da cama
andaime = estrado provisório de tábuas, sustentado por
da cana, fulana, bacana armação de madeira ou metálica, sobre o qual os operários
Sou Ana de Amsterdam. trabalham nas construções
Chico Buarque hirto = completamente imóvel, estacado
e) Vão chegando as burguesinhas pobres, Assinale a afirmativa que caracteriza adequadamente
e as crianças das burguesinhas ricas, o estilo do poema.
e as mulheres do povo, e as lavadeiras a) Poesia em que os neologismos, depois de anos
Manuel Bandeira de ranço purista, entram no texto como um grito
de moleque paulistano.
475. Ibmec-SP b) Poesia de quem um dia se autodenominou “poeta
No último terceto de “Legado”, de Claro enigma (1950), menor”, reconhecendo em sua arte a atitude inti-
Carlos Drummond de Andrade faz alusão ao seu verso mista dos “crepusculares” do começo do século.
mais polêmico:
c) Poesia esquelética, em que as metáforas não são
De tudo quanto foi meu passo caprichoso
simples ornamentos, mas expressões insubstituí-
Na vida, restará, pois o resto se esfuma,
veis na configuração poética.
Uma pedra que havia no meio do caminho.
O texto II, em forma de homenagem, combina o nome do d) Poesia concreta, com uso construtivo dos espaços
poeta Drummond com seu verso mais famoso. Marcelino brancos e desprezo ao verso.
Freire utiliza a linguagem de novas mídias na construção e) Poesia de vertente intimista, que toca os limites
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de um poema, simultaneamente, verbal e visual. da música e tem o tom de fuga e de sonho.

275
478. UFBA a estranha idéia de família
viajando através da carne.
Retrato de família
Este retrato de família ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia: A rosa do povo.
In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Carlos Drummond de
está um tanto empoeirado. Andrade: obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. pp.180-181.
Já não se vê no rosto do pai
quanto dinheiro ele ganhou. São afirmações verdadeiras sobre o poema:
01. O sujeito poético, numa atitude contemplativa, per-
Nas mãos dos tios não se percebem cebe a realidade enfocada, contudo, em seguida,
as viagens que ambos fizeram. o objeto contemplado é ele próprio.
A avó ficou lisa, amarela, 02. O retrato, objeto que se interpõe entre o sujeito
sem memórias da monarquia. poético e a realidade sonhada, funciona como um
elemento dissipador de mágoas do passado em
Os meninos, como estão mudados. família.
O rosto de Pedro é tranqüilo, 04. O sujeito poético se vê como um indivíduo rebelde
usou os melhores sonhos. que se infiltra no mundo da família, para enxergá-la
E João não é mais mentiroso. no seu aspecto negativo, isto é, alienador.
O jardim tornou-se fantástico. 08. O objeto real focado – o retrato – se transforma
As flores são placas cinzentas. em abstração, quando os seus limites são quebra-
E a areia, sob pés extintos, dos, fundindo presente e passado na memória do
é um oceano de névoa. sujeito poético.
16. A realidade do retrato é ampliada, numa dimensão
No semicírculo das cadeiras temporal e espacial, por meio do fluxo da memória.
nota-se certo movimento.
32. O eu lírico, ao falar do retrato, destaca a ação
As crianças trocam de lugar,
corrosiva do tempo sobre os seres e os objetos
mas sem barulho: é um retrato.
do cotidiano.
Vinte anos é um grande tempo. 64. O retrato evoca uma imagem melancólica do
Modela qualquer imagem. passado, no sujeito poético, e, com isso, ele
Se uma figura vai murchando, passa a viver uma relação de desencanto com o
outra, sorrindo, se propõe. presente.
Some os números dos itens corretos.
Esses estranhos assentados,
meus parentes? Não acredito. 479. PUC-RS
São visitas se divertindo Não faças versos sobre acontecimentos.
numa sala que se abre pouco. Não há criação nem morte perante a poesia.
Ficaram traços da família Diante dela, a vida é um sol estático,
perdidos no jeito dos corpos. Não aquece nem ilumina.
Bastante para sugerir Uma das constantes na obra poética de Carlos
que um corpo é cheio de surpresas. Drummond de Andrade, como se verifica nos versos
acima, é:
A moldura deste retrato a) a louvação do homem social.
em vão prende suas personagens. b) o negativismo destrutivo.
Estão ali voluntariamente, c) a violação e a desintegração da palavra.
saberiam –– se preciso –– voar.
d) o questionamento da própria poesia.
Poderiam sutilizar-se e) o pessimismo lírico.
no claro-escuro do salão, Texto para as questões 480 e 481.
ir morar no fundo dos móveis
A questão refere-se à estrofe do “Poema de sete faces”,
ou no bolso de velhos coletes.
retirada de Alguma poesia:
Eu não devia te dizer
A casa tem muitas gavetas
mas essa lua
e papéis, escadas compridas.
mas esse conhaque
Quem sabe a malícia das coisas,
botam a gente comovido como o diabo.
quando a matéria se aborrece?
480. PUC-MG
O retrato não me responde,
No verso “botam a gente comovido como o diabo”,
ele me fita e se contempla
Drummond ressalta um aspecto marcante da poesia
nos meus olhos empoeirados.
modernista, ao fazer uso de:
E no cristal se multiplicam
a) linguagem popular.
os parentes mortos e vivos. b) vocabulário raro.
Já não distingo os que se foram c) termos difíceis.
dos que restaram. Percebo apenas d) palavras sofisticadas.

276
481. PUC-MG Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
Na estrofe, percebe-se a ausência quase total de (...)
pontuação. Essa aparente indiferença pela gramática Não dramatizes, não invoques,
foi assim explicada pelos modernistas: não indagues. Não percas tempo em mentir.
a) Alguns poetas não sabiam pontuar corretamente e (...)
preferiam deixar a pontuação por conta do leitor. Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
b) Os poetas achavam que pontuar era perder tempo
(...)
em uma época, para eles, marcada pela veloci-
Penetra surdamente no reino das palavras.
dade.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
c) Os poetas entendiam que os versos deveriam (...)
ser registrados exatamente como surgiam, sem Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
alterações e consertos. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
d) Os poetas não queriam que a pontuação direcio- Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
nasse a interpretação que o leitor faria do texto. Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
482. e seu poder de silêncio.
Aponte nos textos a seguir duas características do (...)
Modernismo. Chega mais perto e contempla as palavras.
I. Anedota búlgara Cada uma
Era uma vez um czar naturalista tem mil faces secretas sob a face neutra
que caçava homens. e te pergunta, sem interesse pela resposta,
Quando lhe disseram que também se caçam pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
borboletas e andorinhas,
ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião:
ficou muito espantado 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987.
e achou uma barbaridade. O poema de Carlos Drummond de Andrade apresenta
II. Hipótese um conjunto de instruções para o fazer poético que
E se Deus é canhoto podem ser distribuídas em duas partes, conforme a
e criou com a mão esquerda? mudança de atitude enunciativa do eu lírico. Explique
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo. em que consiste essa mudança.
III. Cota zero
485. Mackenzie-SP
Stop.
Leia com atenção o trecho a seguir.
A vida parou Um inseto cava
ou foi o automóvel? cava sem alarme
Calos Drummond de Andrade perfurando a terra
sem achar escape.
483. Umesp
É incorreto afirmar sobre a obra de Carlos Drummond Que fazer, exausto,
de Andrade que: em país bloqueado,
a) seu posicionamento individualista o afasta da enlace de noite
problemática do homem comum, do dia-a-dia. raiz e minério?
b) uma de suas temáticas é a reflexão em torno da
própria poesia. Eis que o labirinto
c) a lembrança de Itabira, sua terra natal, aparece (oh razão, mistério)
em parte de sua obra. presto se desata:
d) ocorre-lhe, muitas vezes, a mostragem de uma
angústia proveniente de acreditar que não há saída em verde, sozinha,
para a problemática existencial. antieuclidiana,
e) a ironia madura é uma das características mais uma orquídea forma-se.
marcantes de sua poesia. Carlos Drummond de Andrade, em sua Antologia po-
ética, classificou tematicamente sua poesia em nove
484. UERJ (modificado) compartimentos. Assinale aquele no qual se encaixa
Procura da poesia o poema mostrado.
Não faças versos sobre acontecimentos. a) A própria poesia
Não há criação nem morte perante a poesia.
b) Amigos
(...)
Não faças poesia com o corpo, c) O choque social
esse excelente, completo e confortável corpo, tão d) Exercícios lúdicos
PV2D-07-54

infenso à efusão lírica. e) O indivíduo

277
486. FEI-SP Transcreva do poema de Drummond um verso cujo
Assinale a série em que todas as obras são de Carlos sentido seja correspondente ao expresso por Aníbal
Drummond de Andrade. Machado em “livres na luz de limbo, anteriores ao mis-
a) Sentimento do mundo – A rosa do povo – Claro tério que ainda vão gerar” e justifique sua resposta.
enigma Texto para as questões 489 e 490.
b) Claro enigma – Clã do jabuti – Kiriale Muitas coisas se dizem, que não deviam ser ditas;
c) Confissões de minas – Câmara ardente – Broquéis muitas outras se calam, que não mereciam calar-se.
As palavras são as mesmas, em um e outro caso; só
d) Lição de coisas – Amar, verbo intransitivo – Contos
a conveniência delas, na circunstância, é que varia. E
de aprendiz
na variação, fica o dito por não dito. A menos que o
e) Brejo das almas – Paulicéia desvairada – Fazen- convicto (ou o teimoso) diga: “Digo e repito.”
deiro do ar Também cabe referir aquelas coisas manifestadas com
Texto para as questões 487 e 488. a ressalva: “Diga-se de passagem.” Em geral, são as
que não passam, as mais relevantes no discurso, e a
Procura da poesia matéria que parecia principal descolore em função do
Não faças versos sobre acontecimentos. que parecia acessório.
Não há criação nem morte perante a poesia. Dizer, bendizer, maldizer, confundem-se na massa de
(...) sons. Tudo escapando da mesma boca, mas vozes
Não faças poesia com o corpo, diferentes atropelam-se nesse anunciar-se de juízos,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão interesses, paixões e estados de espírito que se des-
infenso à efusão lírica. mentem uns aos outros.
Contradizer-se é ainda uma solução para o conflito
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz. que nossos impulsos sucessivos travam por meio e à
(...) custa de palavras.
Não dramatizes, não invoques, É tão incoerente essa trama verbal a desenvolver-se
não indagues. Não percas tempo em mentir. no tempo, que se procura dar-lhe nexo, apelando para
(...) fórmulas: “Como eu ia dizendo...” “O que é mesmo
Não recomponhas que eu estava dizendo?” O dizer de um precisa ser
tua sepultada e merencória infância. acionado pelo dizer do outro, e do acoplamento (lingua-
(...) gem espacial em curso) dos dizeres surge novo dizer,
que é o anterior e é outro. De modo que ninguém diz
Penetra surdamente no reino das palavras.
propriamente o que diz, mas só o que lhe ocorre (se
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
ocorre) dizer, ou lhe é soprado na ocasião.(...)
(...) Entre o dizível e o indizível balança a criação do poeta,
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. flutua o êxtase dos namorados. Dizer o que jamais
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. soube ser dito, aspiração de manipulador de vocábu-
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. los, que talvez nem saiba dizer o sabido. Haverá algo
Espera que cada um se realize e consume a dizer, absolutamente inefável, que nem os anjos
com seu poder de palavra conseguissem exprimir nem os homens entender?
e seu poder de silêncio. Andrade, Carlos Drummond de: “Dizer e suas conseqüências”.
(...) In Os dias lindos – Crônicas. 2ª ed.
Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1978, pp. 69-70.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
489. Vunesp
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta, Após a leitura, explique o que entendeu por:
pobre ou terrível, que lhe deres: “O dizer de um precisa ser acionado pelo dizer do
Trouxeste a chave? outro (...)”
ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião:
19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987 490. Vunesp
Identifique no texto, e depois transcreva, frases ou
487. UERJ (modificado) expressões em que Drummond se define como um
Reescreva o verso “esse excelente, completo e confor- “manipulador de vocábulos”.
tável corpo, tão infenso à efusão lírica.”, substituindo
por sinônimos as palavras destacadas e procedendo 491. UFPE
às alterações necessárias. São Paulo é um palco de bailados russos,
Sarabandam a tísica, a ambição, a inveja, os crimes,
488. UERJ E também as apoteoses da ilusão.
Aníbal Machado, autor mineiro contemporâneo de Mário de Andrade
Carlos Drummond de Andrade, também comenta, no Alguns anos vivi em Itabira
fragmento a seguir, o comportamento das palavras. Principalmente nasci em Itabira.
(As palavras) “Estão soltas, em férias. Nada significam Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
ainda. E enquanto esperam ser chamadas ao silêncio ...............................................................
do poema, adejam livres na luz de limbo, anteriores Itabira é apenas uma fotografia na parede.
ao mistério que ainda vão gerar.” Mas como dói!
Aníbal Machado Carlos Drummond de Andrade

278
Algumas semelhanças e diferenças podem ser obser- 494. PUC-RS
vadas entre Carlos Drummond de Andrade e Mário de O livro de Cecília Meireles que evoca os “tempos do
Andrade. Analise-as. ouro” denomina-se:
( ) Enquanto Mário de Andrade foi da geração de a) Romanceiro da Inconfidência.
1922, que deu início ao Modernismo, Drummond b) Baladas para el-Rei.
é considerado como sendo da geração de 1930, a
c) Vaga música.
qual, embora seguindo o que preconizava a geração
anterior, consolidou a liberdade da forma poética e d) Retrato natural.
usou tanto temas universais como intimistas. e) Romance de Santa Clara.
( ) Ambos celebram sua cidade natal (São Paulo e 495. Fuvest-SP
Itabira), embora desencantados e sem o ufanismo Como o próprio título indica, no Romanceiro da Incon-
dos parnasianos. fidência, de Cecília Meireles, os romances têm como
( ) A obra de ambos abrange prosa e poesia: Drum- referência nuclear a frustrada rebelião na Vila Rica do
mond escreveu crônicas, contos e poemas, e Mário século XVIII. No entanto, deve-se reconhecer que:
de Andrade escreveu poemas, contos, romances e a) a base histórica utilizada no poema converte-se no
uma rapsódia, como ele classificou, Macunaíma, lirismo transcendente e amargo que caracteriza as
o herói sem nenhum caráter. outras obras da autora.
( ) Mário de Andrade, em Clã do jabuti, inicia uma fase b) as intenções ideológicas da autora e a estrutura
de nacionalismo estético e pitoresco, que reflete a narrativa do poema emprestam ao texto as virtudes
busca do primitivismo, do ingênuo, do folclórico, da de uma elaborada prosa poética.
alma nacional. A mesma tendência pode-se verificar c) a imaginação poética dá à autora a possibilidade
em Drummond, a partir de A rosa do povo. de interferir no curso dos episódios essenciais da
( ) Ambos, como a última fase de sua poesia, apresen- rebelião, alterando-lhes o rumo.
taram como novidade poemas de temas eróticos, d) a matéria histórica tanto alimenta a expressão
reunidos em livros: O amor natural, de Drummond, poética no desenvolvimento dos fatos centrais
e Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade. quanto motiva o lirismo reflexivo.
e) a preocupação com a fidedignidade histórica e
492. com o tom épico atenua o sentimento dramático
Dentre os autores da geração literária de Cecília Mei- da vida, habitual na poesia da autora.
reles, destaca-se: Texto para as questões de 496 a 498.
a) Jorge Amado, autor de Menino de engenho, obra Embalo da canção
que, denunciando a exploração da mão-de-obra 01 Que a voz adormeça
infantil, deu início ao regionalismo crítico brasilei- 02 que canta a canção!
ro. 03 Nem o céu floresça
b) Vinícius de Moraes, poeta de inspiração parnasia- 04 nem floresça o chão.
na, que incorporou nos sonetos o experimentalis-
mo estético da segunda geração modernista. 05 (Só – minha cabeça,
c) Carlos Drummond de Andrade, poeta emotivo 06 Só – meu coração.
e confessional, que se manteve distante das 07 Solidão.)
conquistas estéticas da geração modernista de
1922. 08 Que não alvoreça
d) Graciliano Ramos, que escreveu romance de temá- 09 nova ocasião!
tica regionalista, denunciando a trágica condição 10 Que o tempo se esqueça
de sobrevivência dos retirantes nordestinos. 11 de recordação!
e) Guimarães Rosa, escritor de ficção intimista, que,
utilizando-se do fluxo de consciência, promoveu a 12 (Nem minha cabeça
ruptura da estrutura narrativa linear. 13 nem meu coração.
14 Solidão!
493. FMU-SP Cecília Meireles

A poesia de Cecília Meireles se caracteriza por: 496.


a) predominância de versos livres, linguagem elabo- Assinale a alternativa correta sobre o texto.
rada, temas políticos, concepção materialista do a) As formas verbais presentes na primeira estrofe
mundo. expressam certezas.
b) habilidade formal, imagens sensoriais, contempla- b) A redundância de paralelismos concretiza o ritmo
ção do mundo, musicalidade, espiritualismo. sugerido no título do poema.
c) versos tradicionalmente regulares, tom coloquial, c) O uso dos travessões (versos 5 e 6) atenua o
temas históricos, visão nacionalista do mundo. sentido de solidão.
d) sugestão, musicalidade, imagens sensoriais, visão d) Na terceira estrofe, a recordação do passado é
materialista do mundo. ironizada pelo eu.
PV2D-07-54

e) prosa poética, temas históricos ou de viagens, e) Na terceira estrofe, nova ocasião e recordação
cosmopolitismo, tom retórico, visão marxista do referem-se a experiências vividas num momento
mundo. do passado.
279
497. 500.
Assinale a afirmação correta sobre o texto. A bossa-nova é um estilo de música popular brasileira
a) Na primeira estrofe, o eu cita experiências do que se consolidou no final dos anos 50, [...] projetou-se
passado. sobre uma geração mais nova de compositores, que
b) alvorecer e florescer expressam o desejo de um inclui Caetano Veloso e Chico Buarque, e contou ainda
mundo melhor. com notáveis letristas, sendo que um dos mais famosos
c) Em nem floresça o chão, tem-se oração sem foi o poeta e diplomata Vinícius de Moraes.
sujeito. SADIE, Stanley. Dicionário Grove de Música. Edição concisa.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 125.
d) A quarta estrofe retoma a segunda para aprofundar
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a bos-
a idéia de solidão.
sa-nova, é correto afirmar que esse estilo:
e) A forma verbal adormeça expressa o apelo a um
a) manteve os valores da música tradicional, como o
tu, a quem o eu se dirige.
samba e o baião, praticados nos bailes populares
do Rio de Janeiro e de São Paulo.
498.
b) suplantou as características rítmicas e marcantes
Considerando o texto, assinale a alternativa correta
do samba por um maior refinamento rítmico, me-
sobre Cecília Meireles.
lódico e harmônico, com textos mais intimistas e
a) Reincorporou à lírica do Modernismo a temática coloquiais.
intimista, aliada à modulação de metros breves
c) possibilitou o enriquecimento do tradicional samba
mais tradicionais.
urbano no eixo Rio-São Paulo, por trazer a influ-
b) Influenciada pelo experimentalismo estético, bus- ência do rock norte-americano.
cou, na concisão dos versos livres, a objetividade
d) popularizou o uso de instrumentos eletroacústicos
expressiva.
como a guitarra e os teclados eletrônicos, bem
c) Conciliou o ideal de impassibilidade da expressão como promoveu o surgimento de grandes ban-
poética ao visionarismo de quadros bucólicos. das.
d) Sua linguagem prosaica representa o ponto alto e) facilitou a difusão da canção popular por desen-
da poesia modernista brasileira. volver uma harmonia simples e melodias de fácil
e) Inovou a poesia brasileira, desenvolvendo a temáti- memorização.
ca religiosa em sonetos de inspiração camoniana.
501.
499. UFPE
Instrução: para responder à questão, associar a Coluna
Eu não dei por esta mudança,
A, que apresenta informações relativas ao Modernis-
tão simples, tão certa, tão fácil; mo, aos autores indicados na Coluna B.
Em que espelho ficou perdida a minha face? Coluna A
Cecília Meireles
1. Em Os sapos, o poeta apresenta uma crítica con-
Vou-me embora pra Pasárgada, tumaz aos parnasianos.
Lá sou amigo do rei 2. A irreverência da primeira fase se traduz em Me-
Lá tenho a mulher que quero mórias sentimentais de João Miramar.
na cama que escolherei
3. A produção do poeta vincula-se à fase de recons-
Vou-me embora pra Pasárgada.
trução da estética.
Manuel Bandeira
4. O Simbolismo é revisitado em sua obra.
Sobre Cecília Meireles e Manuel Bandeira, podemos 5. A irreverência deu lugar ao lirismo romântico.
afirmar que:
Coluna B
( ) ambos são poetas que aderiram ao Modernismo,
( ) Oswald de Andrade
embora tenham experimentado outras tendências
estéticas anteriores. ( ) Carlos Drummond de Andrade
( ) Bandeira eliminou posteriormente os resíduos ( ) Vinícius de Moraes
parnasianos e simbolistas de sua poesia, os quais ( ) Manuel Bandeira
podem ser observados em Cinza das Horas e A numeração correta da Coluna B, de cima para
Carnaval. Como se lê em sua poesia, predominam baixo, é:
o lirismo do eu e o subjetivismo. a) 1 – 4 – 3 – 5 d) 5 – 2 – 3 – 4
( ) Bandeira empresta à sua poesia um caráter confi- b) 2 – 3 – 5 – 1 e) 2 – 3 – 5 – 4
dencial, mas, ao contrário dos poetas românticos, c) 1 – 2 – 4 – 5
observa-se que ironiza seus próprios desejos,
considerando-os ilusões. 502. UERJ
( ) Cecília Meireles, considerada uma neo-simbolista, (...)
é, contudo, bastante objetiva na construção de sua Atrás de portas fechadas,
temática poética. à luz de velas acesas,
( ) apesar da delicadeza de suas imagens e da proprie- entre sigilo e espionagem,
dade de seus símbolos, como no texto transcrito, a acontece a Inconfidência.
poesia de Cecília tem caráter inovador e futurista. (...)

280
05 LIBERDADE, AINDA QUE TARDE, A respeito da poesia de Vinícius de Moraes, assinale
ouve-se em redor da mesa. verdadeira (V) ou falsa (F) em cada afirmação a
E a bandeira já está viva, seguir.
e sobe, na noite imensa. ( ) Sob a forma de soneto, privilegia temáticas líricas,
E os seus tristes inventores sobretudo o amor e suas múltiplas manifesta-
10 já são réus – pois se atreveram ções.
a falar em Liberdade ( ) Celebra a sensualidade com versos que apresen-
(que ninguém sabe o que seja). tam imagens a respeito do sexo e do corpo.
Através de grossas portas,
( ) O cunho erótico dos poemas exclui a experiência
sentem-se luzes acesas,
mística do amor.
15 – e há indagações minuciosas
A seqüência correta é:
dentro das casas fronteiras.
“Que estão fazendo, tão tarde? a) V – F – F d) V – F – V
Que escrevem, conversam, pensam? b) V – V – F e) F – F – V
Mostram livros proibidos? c) F – V – F
20 Lêem notícias nas Gazetas?
Terão recebido cartas 504. UERJ
de potências estrangeiras?” (...)
(...) Atrás de portas fechadas,
Ó vitórias, festas, flores à luz de velas acesas,
das lutas da Independência! entre sigilo e espionagem,
25 Liberdade – essa palavra acontece a Inconfidência.
que o sonho humano alimenta: (...)
que não há ninguém que explique, 05 LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,
e ninguém que não entenda! ouve-se em redor da mesa.
(...) E a bandeira já está viva,
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. e sobe, na noite imensa.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
E os seus tristes inventores
O poema de Cecília Meireles enfoca um momento es- 10 já são réus – pois se atreveram
pecífico de tensão política e de oposição aos poderes a falar em Liberdade
estabelecidos na história do Brasil. (que ninguém sabe o que seja).
Os únicos versos que não apresentam explicitamente Através de grossas portas,
essa referência histórica estão transcritos na seguinte sentem-se luzes acesas,
alternativa: 15 – e há indagações minuciosas
a) entre sigilo e espionagem, / acontece a Inconfidên- dentro das casas fronteiras.
cia. (v. 3 e 4) “Que estão fazendo, tão tarde?
b) LIBERDADE, AINDA QUE TARDE, / ouve-se em Que escrevem, conversam, pensam?
redor da mesa. (v. 5 e 6) Mostram livros proibidos?
c) – e há indagações minuciosas / dentro das casas 20 Lêem notícias nas Gazetas?
fronteiras. (v. 15 e 16) Terão recebido cartas
d) Ó vitórias, festas, flores / das lutas da Independên- de potências estrangeiras?”
cia! (v. 23 e 24) (...)
Ó vitórias, festas, flores
503. das lutas da Independência!
25 Liberdade – essa palavra
Soneto de fidelidade
que o sonho humano alimenta:
Vinícius de Moraes
que não há ninguém que explique,
De tudo, ao meu amor serei atento
e ninguém que não entenda!
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
(...)
Que mesmo em face do maior encanto
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência.
Dele se encante mais meu pensamento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
A necessidade de transformação, em meio a uma
Quero vivê-lo em cada vão momento sociedade politicamente repressora, está presente em
E em seu louvor hei de espalhar meu canto todo o fragmento do poema apresentado.
E rir meu riso e derramar meu pranto Essa necessidade mostra-se, de forma mais clara, em:
Ao seu pesar ou seu contentamento.
a) a falar em Liberdade / (que ninguém sabe o que
seja). (v. 11 e 12)
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive b) Através de grossas portas, / sentem-se luzes
Quem sabe a solidão, fim de quem ama acesas, (v. 13 e 14)
c) Que estão fazendo, tão tarde? / Que escrevem,
PV2D-07-54

Eu possa me dizer do amor (que tive): conversam, pensam? (v. 17 e 18)


Que não seja imortal, posto que é chama d) Terão recebido cartas / de potências estrangeiras?
Mas que seja infinito enquanto dure. (v. 21 e 22)
281
505. estábulo/ Pequeno e singelo/ Com boi e charrua/
Com foice e martelo.
Leia as estrofes abaixo, de Vinícius de Moraes, e a
afirmação que as segue. 08. Em E agora José?/ A festa acabou,/ a luz apagou,/
01 Uma lua no céu apareceu o povo sumiu,/ a noite esfriou,/ e agora, José?,
02 cheia e branca; foi quando, emocionada Vinícius manifesta o desejo de morrer, uma das
03 a mulher a meu lado estremeceu características da literatura parnasiana.
04 e se entregou sem que eu dissesse nada. 16. Pensem nas crianças/ Mudas telepáticas/ Pensem
05 Larguei-as pela jovem madrugada nas meninas/ Cegas inexatas... são versos do
06 ambas cheias e brancas e sem véu poema A rosa de Hiroshima.
07 perdida uma, a outra abandonada Some os números dos itens corretos.
08 uma nua na terra, outra no céu.
Por meio de versos ______________ em que é per- 508. UFSCar-SP
ceptível um lirismo ______________ , típico de sua Balada das meninas de bicicleta
poesia, Vinícius de Moraes aproxima a mulher e a lua,
Meninas de bicicleta
fundindo-as, em alguns momentos, como acontece no
verso de número _____. Que fagueiras pedalais
Assinale a alternativa que preenche corretamente as Quero ser vosso poeta!
lacunas acima. Ó transitórias estátuas
a) octossílabos – amoroso – 06 Esfuziantes de azul
b) heptassílabos – social – 07 Louras com peles mulatas
Princesas da zona sul:
c) decassílabos – moralizante – 08
As vossas jovens figuras
d) octossílabos – despojado – 07
Retesadas nos selins
e) decassílabos – sensual – 06 Me prendem, com serem puras
Em redondilhas afins.
506. Unirio-RJ
Que lindas são vossas quilhas
A um passarinho
Quando as praias abordais!
Para que vieste
E as nervosas panturrilhas
Na minha janela
Na rotação dos pedais:
Meter o nariz?
Se foi por um verso Que douradas maravilhas!
Não sou mais poeta Bicicletai, meninada
Ando tão feliz! Aos ventos do Arpoador
Vinícius de Moraes Solta a flâmula agitada
Das cabeleiras em flor
a) Segundo o texto, qual é a condição fundamental Uma correndo à gandaia
para a criação poética? Outra com jeito de séria
b) Qual o gênero literário a que pertence o texto? Mostrando as pernas sem saia
Feitas da mesma matéria.
507. UFSC
Permanecei! vós que sois
Assinale as proposições em que o comentário está de O que o mundo não tem mais
acordo com o texto de Vinícius de Moraes.
Juventude de maiôs
01. De repente do riso fez-se o pranto/ Silencioso e Sobre máquinas de paz
branco como a bruma/ E das bocas unidas fez-se a Enxames de namoradas
espuma/ E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
Ao sol de Copacabana
Nesses versos, o poeta usa, a exemplo dos parna-
Centauresas transpiradas
sianos e simbolistas, vocabulário coloquial e simples,
Que o leque do mar abana!
próprio da linguagem cotidiana. Não há rimas.
A vós o canto que inflama
02. Notou que sua marmita/ Era o prato do patrão/ Que
Os meus trint’anos, meninas
sua cerveja preta/ Era o uísque do patrão/ Que seu
Velozes massas em chama
macacão de zuarte/ Era o terno do patrão/ Que o
Explodindo em vitaminas
casebre onde morava/ Era a mansão do patrão/
Que seus dois pés andarilhos/ Eram as rodas do Bem haja a vossa saúde
patrão/ Que a dureza do seu dia/ Era a noite do À humanidade inquieta
patrão/ (...) E o operário disse: Não! A exemplo Vós cuja ardente virtude
de padre José de Anchieta, do Barroco, que em Preservais muito amiúde
Sermões procurou mostrar as disparidades sócio- Com um selim de bicicleta
econômicas entre os índios e os colonizadores Vós que levais tantas raças
portugueses no século XIX, Vinícius de Moraes, no Nos corpos firmes e cruz:
poema Operário em construção, procurou registrar Meninas, soltai as alças
o contraste existente entre operário e patrão. Bicicletai seios nus!
04. O poeta reinterpreta o Natal, fazendo alusão ao No vosso rastro persiste
comunismo, nos seguintes versos: Nasceu num O mesmo eterno poeta

282
Um poeta – essa coisa triste Meireles, toma forma a partir de elementos instáveis,
Escravizada à beleza móveis e etéreos. A recriação poética dessa realidade
Que em vosso rastro persiste revela a visão de mundo da autora. – Assim sendo:
Levando sua tristeza a) identifique o tema que está presente no poema
No quadro da bicicleta. acima.
Vinícius de Moraes b) transcreva os termos que, no poema, caracterizam
Quais as características da poesia de Vinícius de o tema.
Moraes presentes no texto acima?
512. UFSCar-SP
509.
Leia o texto seguinte.
Soneto da devoção Reinvenção
Essa mulher que se arremessa, fria
A vida só é possível
E lúbrica em meus braços, e nos seios
reinventada.
Me arrebata e me beija e balbucia
Anda o sol pelas campinas
Versos, votos de amor e nomes feios.
e passeia a mão dourada
Essa mulher, flor de melancolia pelas águas, pelas folhas. . .
Que se ri dos meus pálidos receios Ah! tudo bolhas
A única entre todas a quem dei que vêm de fundas piscinas
Os carinhos que nunca a outra daria. de ilusionismo . . . — mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida
Essa mulher que a cada amor proclama a vida só é possível
A miséria e a grandeza de quem ama reinventada. [...]
E guarda a marca dos meus dentes nela. Cecília Meireles

Podemos dizer que, nesse trecho de um poema de


Essa mulher é um mundo! – uma cadela Cecília Meireles, encontramos traços de seu estilo:
Talvez... – mas na moldura de uma cama a) sempre marcado pelo momento histórico.
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
b) ligado ao vanguardismo da geração de 22.
Vinícius de Moraes, Poesia completa e prosa.
c) inspirado em temas genuinamente brasileiros.
Trace uma análise do poema de Vinícius de Moraes d) vinculado à estética simbolista.
tanto no aspecto formal quanto no que se refere ao e) de caráter épico, com inspiração camoniana.
conteúdo.
513. Vunesp
510. PUCCamp-SP
A questão faz referência a uma passagem do ro-
Uma mulher ao sol – eis todo o meu desejo mance Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
Vindas do sal do mar, os braços em cruz (1905-1975).
A flor dos lábios entreaberta para o beijo
A pele a fulgurar todo o pólen da luz Incidente em Antares
A quadra anterior introduz um soneto de Vinícius de Fez-se um novo silêncio. De fora vinham vozes
Moraes. Nesses versos, o leitor pode comprovar a humanas. De vez em quando se ouvia o zumbido
seguinte características da lírica amorosa do poeta: do elevador do hospital. Tombou uma pétala de uma
a) dilaceramento provocado pela paixão carnal e pela das rosas. Quitéria soltou um suspiro. Zózimo agora
ânsia de salvação religiosa. parecia adormecido. Tibério pensou em Cleo com uma
b) reconhecimento da fugacidade do tempo, revelada saudade tátil.
num momento de excitação sensual. – Neste quarto, Tibé – disse Quitéria – dentro
destas quatro paredes o Zózimo e eu temos falado
c) celebração da amada num quadro cotidiano,
em assuntos em que nunca tínhamos tocado antes.
valorizando-se o estilo típico dos modernistas
Nossa morte, por exemplo…
combativos.
– Pois não lhes gabo o gosto – resmungou Ti-
d) visão mística, na qual os desejos são sublimados bério.
e a natureza é divinizada. – Tibé, tens fama de valente. Vives contando bra-
e) exaltação erótica, integrada no mundo natural e vatas, proezas em revoluções e duelos… patacoadas!
elevada ao plano do sublime. No entanto tens medo de pensar na tua morte, tens
horror a encarar a realidade. – Tirou os óculos, limpou-
511. PUC-SP lhes as lentes com um lencinho, e depois prosseguiu:
Encostei-me a ti, sabendo que eras somente onda. – Que esperas mais da vida? Os nossos filhos estão
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida criados, não precisam mais de nós. Mais que isso: não
em ti. querem saber de nós, de nossas idéias, de nossas
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino manias, de nossa maneira de pensar e viver. Acho que
frágil, todo homem vê sua cara todas as manhãs no espelho,
fiquei sem poder chorar, quando caí.
PV2D-07-54

na hora de se barbear. Que é que o espelho diz? Diz


Cecília Meireles que o tempo passa sem parar. E que essas manchas
A realidade exterior, presente na poesia de Cecília que a gente tem no rosto (tu, eu, o Zózimo, todos os
283
que chegam à nossa idade), essas manchas pardas são bilhetinhos que a Magra escreve na nossa pele. Eu
leio todos os dias esses recados, mas tu, Tibé, tu és analfabeto ou então te fazes de desentendido.
Érico Veríssimo. Incidente em Antares. 12. ed. Porto Alegre: Editora Globo. 1974, p.104.

Um dos fatos mais terríveis para os seres humanos é a morte, que, por esta razão, torna-se tema dominante
nas artes de todos os tempos. Nas religiões, o tema da morte é também constante, pela busca de uma solu-
ção para o problema, por meio da afirmação da existência da alma e de divindades que acolheriam as almas
após a morte do corpo. Partindo deste comentário, releia atentamente o fragmento de Incidente em Antares e
estabeleça, interpretando o que diz Quitéria, a diferença entre o modo como ela considera a morte e o modo
como, na opinião da própria Quitéria, Tibério reage à idéia da morte.

Capítulo 5
514. UEL-PR I. Ao retratar o sertão mineiro em sua obra-prima,
O Modernismo, em sentido amplo, tem fases dis- ele consegue recriá-lo, reinventá-lo através da
tintas, havendo mesmo que se considerar o fato de linguagem, e o resultado disso é a universalização
que as influências de suas convicções mais fortes se do regional.
fizeram sentir várias décadas depois da Semana de II. Ambientada em Canudos, sua principal obra o con-
Arte Moderna. Pense-se, por exemplo, na inspiração sagrou no gênero novelístico. Nela ele trabalha três
que Oswald de Andrade e sua Antropofagia oferece- elementos estruturais: a terra, o homem, a luta.
ram aos movimentos de contracultura da década de III. Quando publicou, em 1956, sua obra mais notá-
60, entre eles o Tropicalismo. vel – uma coletânea de crônicas tão primorosas
Na própria década de 20, a pluralidade já se quanto as de Rubem Braga –, ele deu uma nova
faz sentir, por exemplo, nos vários “nacionalismos”: dimensão à prosa regionalista.
Macunaíma é mais problemático e menos cívico que
Martim Cererê. Também quanto à forma literária, há É(São) correta(s) a(s) afirmação(ões):
muita diferença entre o verso piadístico e lúdico de a) II. d) II e III.
Oswald de Andrade e a intensidade subjetiva com a b) I. e) I, II e III.
qual é filtrada, por um ângulo tido como “futurista”, a c) III.
vida da metrópole nascente.
Na década de 30, vencidos os impulsos mais 516. PUC-SP
arrebatados de experimentalismo estético, a poesia e O conto “São Marcos”, que integra a obra Sagarana,
o romance amadurecem com uma geração de artistas de João Guimarães Rosa, apresenta linguagem
brilhantes. Na lírica, o sentimento da inadaptação ao
marcadamente sinestésica, isto é, que ativa os
mundo desemboca na figura do Gauche ou na do
órgãos sensoriais como meios de conhecimento da
visionário em cujos versos não faltam imagens surre-
realidade, em suas diferentes situações narrativas.
alistas. Na ficção, o peso da realidade se faz sentir em
No ponto culminante da narrativa, o narrador é
diversas obras regionalistas, sobretudo do Nordeste,
afetado em sua capacidade sensorial, particular-
muito marcadas pelos respectivos ciclos econômicos:
mente ligada:
da cana-de-açúcar e do cacau, por exemplo. Nem
faltaram, nessa mesma década e na seguinte, autores a) ao olfato, que lhe permite perceber o “cheiro de
mais intimistas, dedicados à sondagem do interior musgo. Cheiro de húmus. Cheiro de água podre”,
humano, e autores revolucionários, cujas linguagens, bem como o “odor maciço, doce ardido, do pau
particularizadas, deram novo fôlego à expressão d’alho”.
literária no Brasil. b) à visão, que lhe permite contemplar as plantas, as
São autores que, havendo estreado na década de aves, os insetos, as cores e os brilhos da natureza,
1940, acabaram por criar, em gêneros diferentes, como em “debaixo do angelim verde, de vagens
aquelas “linguagens extremamente particularizadas” verdes, um boi branco, de cauda branca”.
a que se refere a frase final do texto: c) ao tato, que se ativa “com o vento soprando do
a) Érico Veríssimo e Vinícius de Moraes. sudoeste, mas que mudará daqui a um nadinha,
b) Jorge de Lima e Ferreira Gullar. sem explicar a razão”, além de lhe permitir sentir
c) Érico Veríssimo e Guimarães Rosa. o “horror estranho que riçava-me a pele e os pê-
d) João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa. los”.
e) João Cabral de Melo Neto e Jorge de Lima. d) ao paladar, ativado na mastigação “de uma folha
cheirã da erva-cidreira, que sobe em tufos na beira
515. UFRN da estrada”, e usada, segundo a personagem, para
Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento “desinfetar”.
da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. e) à audição, que lhe faculta “distinguir o guincho
Viver é muito perigoso. do paturi do coincho do ariri, e até dissociar as
Com relação ao autor do fragmento acima, pode-se corridas das preás dos pulos das cotias, todas
dizer: brincando nas folhas secas”.
284
517. ITA-SP 521. UFPR
O conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Gui- A obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa:
marães Rosa, faz parte do livro Sagarana, de 1946. a) continua o regionalismo dos fins do século passa-
Nesse texto, o personagem central vive aquilo que do, sem grandes inovações.
aparentemente é um processo de conversão cristã, b) exprime problemas humanos, em estilo próprio,
que se inicia quando ele: baseado na contribuição lingüística regional.
a) é socorrido por um casal pobre, após ele ter sido ví- c) descreve tipos de várias regiões do Brasil, na
tima de uma emboscada, na qual quase morreu. tentativa de documentar a realidade brasileira.
b) conversa com um padre, que lhe diz que o que d) fixa os tipos regionais, com precisão científica.
aconteceu com ele foi um sinal de Deus para que
e) idealiza o tipo sertanejo, continuando a tradição
ele desse outra direção a sua vida.
de Alencar.
c) vive cerca de sete anos no povoado do Tombador,
levando uma vida de trabalho e de oração. 522. FMU-SP
d) resiste ao convite de Joãozinho Bem-Bem para O núcleo temático de Grande sertão: veredas, de
entrar no bando de cangaceiros, tentação essa a Guimarães Rosa, é:
que não foi fácil resistir.
a) as guerras dos jagunços.
e) enfrenta, sozinho, o bando de Joãozinho Bem-
Bem, que estava prestes a cometer uma atroci- b) a ânsia do Absoluto que coloca o narrador na en-
dade contra uma família de inocentes. cruzilhada entre Deus e o Diabo, o bem e o mal,
o ser e o não-ser.
518. Fazu-MG c) uma longa viagem através dos sertões, para cum-
Na ficção regionalista de Guimarães Rosa: prir um voto de vingança.
a) os elementos regionais são condutores de um sentido d) as desavenças entre famílias rivais.
profundo dos problemas existenciais do homem. e) o real-fantástico em parâmetros indefinidos, tendo
b) o virtuosismo da linguagem denota a preocupação como pano de fundo o rio São Francisco e o Sertão.
de transcrever literalmente a fala sertaneja.
523. PUCCamp-SP
c) o gênero épico é enfatizado pela narrativa sem
interferências líricas. Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento
da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.
d) o folclore brasileiro é ressaltado em detrimento do
Viver é muito perigoso.
caráter universal da obra.
e) os conflitos e tensões das personagens individuais Pelo fragmento de Grande sertão: veredas, de João
inexistem, uma vez que só interessa a complexi- Guimarães Rosa, percebe-se que neste romance,
dade da personagem maior, o Sertão. como em outros textos regionalistas do autor:
a) o conflito entre o “eu” e o mundo se realiza pela
519. UEL-PR interação entre as personagens e o sertão, que
Em relação ao modo como Guimarães Rosa retrata o acaba por ser mítico e metafísico.
sertão mineiro, é correto afirmar que o autor b) o sertão é um lugar perigoso, onde os habitantes
sofrem as agressões do meio hostil e adverso à
a) se apóia em tipos humanos e paisagens reais,
sobrevivência humana.
valendo-se, no entanto, de uma linguagem abso-
lutamente inventiva e pessoal. c) não existe uma região a que geograficamente se
possa chamar “sertão”: ela é fruto da projeção do
b) se vale sobretudo dos diálogos, em que busca re- inconsciente das personagens.
gistrar com exatidão o modo de falar do sertanejo.
d) a periculosidade da vida das personagens está cir-
c) se socorre de lendas e mitos populares, o que dá à cunscrita ao meio físico e social em que vivem.
sua prosa o caráter de uma válida documentação
e) há um conceito muito restrito de sertão, reduzido
folclórica.
a palco de lutas entre bandos de jagunços.
d) se vale da paisagem como cenário de histórias que, na
verdade, poucas marcas trazem da cultura regional. 524. Fuvest-SP
e) se filia à tradição do regionalismo naturalista, Diadorim me chamou, fomos caminhando, no meio da
buscando demonstrar teses de caráter científico queleléia do povo. Mesmo eu vi o Hermógenes: ele se
e determinista. amargou engulindo de boca fechada. – ‘Diadorim’ – eu
520. UFRGS-RS disse – ‘esse Hermógenes está em verde, nas portas
Grande sertão: veredas rompe com a narrativa conhe- da inveja...’ Mas Diadorim por certo não me ouviu bem,
cida como Romance de 1930 e estabelece um novo pelo que começou dizendo: – ‘Deus é servido...’
padrão para a narrativa longa brasileira. Entretanto, a No texto exposto, há elementos que permitem identifi-
obra de Guimarães Rosa não rompe com car o romance do qual foi extraído. O romance é:
a) a ambientação preferencialmente rural. a) Os sertões.
b) o foco narrativo na terceira pessoa. b) Grande sertão: veredas.
PV2D-07-54

c) a crítica ao latifúndio. c) O coronel e o lobisomem.


d) a denúncia social. d) O quinze.
e) a linguagem enxuta e discreta. e) Vidas secas.
285
525. UFRGS-RS aprova? Me declare tudo, franco – é alta mercê que me
Leia os trechos abaixo, extraídos do romance Grande faz: e pedir posso, encarecido. Este caso – por estúrdio
sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. que me vejam – é de minha certa importância. Tomara
1. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida não fosse... Mas, não diga que o senhor, assisado e
da gente se guarda em trechos diversos, cada um instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe
com seu signo e sentimento, uns com os outros agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já
acho que nem não misturam. sabia, esperava por ela – já o campo! Ah, a gente,
2. Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de na velhice, carece de ter uma aragem de descanso.
briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito.
em árvore, no quintal, no baixo do córrego. [...] Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo,
Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro; um este vosso servidor. Fosse lhe contar... Bem, o diabo
bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres,
viu –; e com máscara de cachorro. nos homens. Até: nas crianças – eu digo. Pois não é
3. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que o ditado: “menino – trem do diabo”? E nos usos, nas
não seja: [...] Lugar sertão se divulga: é onde plantas, nas águas, na terra, no vento... Estrumes...
os pastos carecem de fechos; onde um pode O diabo na rua, no meio do redemunho...
torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.
morador; é onde criminoso vive seu cristo-jesus,
arredado do arrocho de autoridade. 526. Unifesp
4. Eu queria decifrar as coisas que são importantes. A fala expressa no texto é de Riobaldo. De acordo com
E estou contando não é uma vida de sertanejo, o narrador, o diabo:
seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Que-
a) vive preferencialmente nas crianças, livre e fazen-
ria entender do medo e da coragem, e da gã que
empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo do as suas traquinagens.
ao suceder. b) é capaz de entrar no corpo humano e tomar posse
5. [...] sempre que se começa a ter amor a alguém, dele, vivendo aí e perturbando a vida do homem.
no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de c) só existe na mente das pessoas que nele acredi-
certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na tam, perturbando-as mesmo sem existir concreta-
idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino mente.
dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço d) não existe como entidade autônoma, antes reflete
fatal, carecendo de quer, e é um só facear com os piores estados emocionais do ser humano.
as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota
e) é uma condição humana e não está relacionado
é depois.
com as coisas da natureza.
Associe adequadamente as seis afirmações abaixo
com os cinco fragmentos transcritos acima. 527. Unifesp
( ) Sob o forte impacto do seu amor por Diadorim,
O texto de Guimarães Rosa mostra uma forma pecu-
Riobaldo procura entender a diferença desse amor
liar de escrita, denunciada pelos recursos lingüísticos
imposto pelo destino.
empregados pelo escritor. Dentre as características
( ) O narrador busca definições exemplares do sertão,
espaço que não se pode dimensionar. do texto, está:
( ) Trata-se das palavras iniciais do romance, que já dão a) o emprego da linguagem culta, na voz do narrador,
sinais da existência de um interlocutor presente. e o da linguagem regional, na voz da persona-
( ) Riobaldo ultrapassa a condição de homem da sua gem.
região, narrando o seu desejo de compreender b) a recriação da fala regional no vocabulário, na
os sentimentos e as forças que movem a vida sintaxe e na melodia da frase.
humana. c) o emprego da linguagem regional predominante-
( ) Trata-se de uma reflexão sobre a memória dos mente no campo do vocabulário.
episódios vividos pelos seres humanos. d) a apresentação da língua do sertão fiel à fala do
( ) O diabo, que Riobaldo vai enfrentar na cena do sertanejo.
pacto, pode assumir várias formas, como a de
animais. e) o uso da linguagem culta, sem regionalismos, mas
com novas construções sintáticas e rítmicas.
A seqüência correta de preenchimento dos parênteses,
de cima para baixo, é Texto para as questões de 528 a 530.
a) 3 – 2 – 5 – 4 – 1 – 3 Essas coisas todas se passaram tempos depois.
b) 5 – 3 – 2 – 4 – 1 – 2 Talhei de avanço, em minha história. O senhor tolere
c) 4 – 2 – 3 – 1 – 5 – 4 minhas más devassas no contar. É ignorância. Eu
d) 5 – 3 – 4 – 2 – 2 – 1 não converso com ninguém de fora, quase. Não sei
contar direito. Aprendi um pouco foi com o compadre
e) 4 – 1 – 3 – 1 – 5 – 2
meu Quelemém; mas ele quer saber tudo diverso:
Texto para as questões 526 e 527. quer não é o caso inteirado em si, mas a sobre-coisa,
Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os a outra coisa. Agora, neste dia nosso, com o senhor
crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o mesmo – me escutando com devoção assim – é que
homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não aos poucos vou indo aprendendo a contar corrigido.
tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor E para o dito volto.
286
528. Vunesp II. Por meio da personagem Miguilim, o autor nos
O romance, do qual o trecho acima foi extraído, veio a mostra que a vida rústica do sertanejo é pobre
público em 1956 e é uma das mais importantes obras como experiência – o que pode ser compensado
da literatura brasileira. Nele, um velho fazendeiro, pela imaginação poética de quem sabe desligar-se
recolhido a uma vida de paz e descanso, conta a um daquela vida.
interlocutor, forasteiro e homem da cidade, os episó- III. No momento final da narrativa, é em sentido literal
dios de seu movimento passado de jagunço. Levando e simbólico que um novo mundo se revela para
em conta o trecho transcrito, as ponderações feitas e o Miguilim – mundo que também se abre para uma
conhecimento da obra, responda à questão a seguir.
vida de novas experiências.
Qual é o assunto de que trata o trecho acima?
A leitura atenta da novela permite concluir que apenas:
529. Vunesp a) as afirmações I e III são corretas.
Qual é o nome do narrador personagem do romance? b) as afirmações I e II são corretas.
Quais os nomes de uma personagem ambígua da obra, c) as afirmações II e III são corretas.
que inicialmente se apresenta como homem e ao final
se revela mulher? d) a afirmação II é correta.
e) a afirmação III é correta.
530. Vunesp
Qual é o título do romance? Qual é o nome de seu autor? 534. ITA-SP
O poema abaixo consta do livro Paisagem com figuras,
531. UFG-GO de João Cabral de Melo Neto, publicado em 1955.
Diversos motivos narrativos compõem a trama de
Campo geral, texto da obra Manuelzão e Miguilim, de Cemitério Pernambucano
Guimarães Rosa. Qual o motivo narrativo principal para
Nesta terra ninguém jaz,
a composição do enredo desse conto?
pois também não jaz um rio
a) As desavenças entre Mãitina e a avó de Miguilim. noutro rio, nem o mar
b) A instabilidade sentimental da mãe de Miguilim. é cemitério de rios.
c) A observação do mundo pela ótica de Miguilim.
Nenhum dos mortos daqui
d) A rivalidade entre Tio Terez e o pai de Miguilim. vem vestido de caixão.
e) A solidariedade entre os irmãos de Miguilim Portanto, eles não se enterram,
são derramados no chão.
532. ITA-SP
O romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, Vêm em redes de varandas
publicado em 1977, pouco antes da morte da autora, abertas ao sol e à chuva.
é um dos livros mais famosos da ficção brasileira Trazem suas próprias moscas.
contemporânea. Podemos fazer algumas relações O chão lhes vai como luva.
entre esta obra e alguns livros importantes de nossa Mortos ao ar-livre, que eram,
tradição literária. Por exemplo: hoje à terra-livre estão.
I. Pode-se dizer que o livro de Clarice começa no São tão da terra que a terra
ponto em que Vidas secas termina, pois Graciliano nem sente sua intrusão.
Ramos mostra as personagens indo para uma
cidade grande, e a autora localiza a personagem Este texto mostra com clareza duas das marcas mais
central do livro vivendo numa metrópole. recorrentes da obra de João Cabral, que são:
II. Assim como em Memórias póstumas de Brás a) a presença do realismo de cunho social, que se
Cubas, o narrador de Clarice narra os fatos e nota nas referências ao mundo nordestino, aliada
comenta acerca da forma como está narrando. à racionalidade típica de boa parte da poesia
III. É possível pensar que Macabéa mantém alguns moderna.
traços da heroína romântica, não quanto à beleza
b) a presença do realismo de cunho social, mas
física, mas à inteligência e ao caráter, o que a aproxi-
associado a uma visão do mundo ainda herdeira
ma de algumas personagens de José de Alencar.
do Romantismo, o que se nota pela presença das
Está(ão) correta(s): imagens naturais.
a) apenas I. d) apenas II e III.
c) a preocupação em descrever a paisagem nordes-
b) apenas II. e) todas. tina e a intenção de reproduzir a fala popular.
c) apenas I e II.
d) o caráter mais racional e sóbrio da poesia, que
533. Fuvest-SP evita o derramamento emocional, aliado a certa
herança realista no que diz respeito à valorização
Considere atentamente as seguintes afirmações sobre a
novela Campo geral (Miguilim), de Guimarães Rosa: da cultura brasileira.
I. A sabedoria precoce do pequeno Dito é decisiva e) O rigor construtivo do poema, que deixa de lado
PV2D-07-54

para o aprendizado de Miguilim, seja nas experiên- a emoção e as convenções românticas, o que faz
cias imediatas do cotidiano, seja na investigação do desse texto um bom exemplo de poesia metalin-
valor e do sentido profundo dessas experiências. güística.
287
535. 538. PUC-SP
E o tucano, o vôo, reto, lento como se voou embora,
Em Primeiras estórias, de Guimarães Rosa:
xô, xô! mirável, cores pairantes, no garridir ; fez sonho.
a) é patente o fascínio pelo ilógico. Mas a gente nem podendo esfriar de ver. Já para o
b) há um apelo ao lúdico e ao mágico. outro imenso lado apontavam. De lá, o sol queria sair,
c) à oralidade sertaneja juntam-se termos eruditos, na região da estrela-d’alva. A beira do campo, escu-
arcaicos etc. ra, como um muro baixo, quebrava-se, num ponto,
d) o foco é o sertão do norte de Minas Gerais, mas dourado rombo, de bordas estilhaçadas. Por ali, se
há também contos urbanos. balançou para cima, suave, aos ligeiros vagarinhos,
e) todas as alternativas anteriores são verdadeiras. o meiosol, o disco, o liso, o sol, a luz por tudo. Agora,
era a bola de ouro a se equilibrar no azul de um fio. O
Texto para as questões 536 e 537. Tio olhava no relógio. Tanto tempo que isso, o Menino
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu nem exclamava. Apanhava com o olhar cada sílaba
do horizonte.
tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo
ausência: e o rio-rio-rio – o rio – pondo perpétuo [grifo Sobre o trecho acima, do conto Os cimos, de Guima-
nosso]. Eu sofria já o começo da velhice – esta vida era rães Rosa, é incorreto afirmar que:
só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, a) é texto descritivo caracterizador da natureza, repre-
cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E sentada pela presença da ave e do amanhecer.
ele? Por quê? Devia de padecer demais. b) utiliza recursos de linguagem poética como a
De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar o onomatopéia, a metáfora e a enumeração.
vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse c) descreve o tucano, utilizando frase nominal e de
sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas encadeamento de palavras com força adjetiva.
abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, d) apresenta um estilo repetitivo que confunde o
com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele esta- leitor e impede a manifestação da força poética
do texto.
va lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que
nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse – se e) pinta com luz e cor a linha do horizonte, onde em
dourado rombo, de bordas estilhaçadas, nasce o
as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.
sol.
ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias.
Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.
539. UFMG
536. UFRN Leia estes trechos:
Pode-se afirmar que, na expressão em destaque no Dizem-se, estórias. Assim mesmo, no tredo estado
fragmento textual, a manifestação da função poética em que tacteia, privo, mal-existente, o que é, cabida-
mente, é o filho tal-pai-tal; o “cão”, também, na prática
da linguagem evidencia o dinamismo do tempo.
verdade.
Esse dinamismo é representado por:
GUIMARÃES ROSA, João. A benfazeja. Primeiras estórias, 45. ed.
a) ritmo cadente e neologismo. O pecurrucho tinha cabeça chata e Macunaíma inda
b) assonância e reiteração de vocábulo. a achatava mais batendo nela todos os dias e falando
c) onomatopéia e uso de metáfora. pro guri:
d) efeitos de eco e uso de metonímia. – Meu filho, cresce depressa pra você ir pra São Paulo
ganhar muito dinheiro.
ANDRADE, Mário de. Macunaíma, 31. ed.
537. UFRN
Com base nessa leitura, é incorreto afirmar que os
No quadro do Modernismo literário no Brasil, a obra
dois trechos:
de Guimarães Rosa destaca-se pela inventividade da
a) assinalam a semelhança indiscutível entre pai e
criação estética. Considerando-se o fragmento em
filho.
análise, essa inventividade da narrativa roseana pode
b) reescrevem, à sua maneira, ditados e expressões
ser constatada meio do(a):
populares.
a) recriação do mundo sertanejo pela linguagem, a c) referem-se a situações que envolvem pai e filho.
partir da apropriação de recursos da oralidade. d) utilizam a linguagem coloquial do povo brasileiro.
b) aproveitamento de elementos pitorescos da cultura
regional que tematizam a visão de mundo simplista 540. UFES
do homem sertanejo. Urbanização e aspectos culturais
c) resgate de histórias que procedem do universo
A cidade sempre foi um signo que as artes – e a litera-
popular, contadas de modo original, opondo reali-
tura em particular, desde o período barroco até os dias
dade e fantasia. atuais – souberam interpretar. Desse modo, considere
d) sondagem da natureza universal da existência os textos a seguir citados e também os contextos
humana, através de referência a aspectos da históricos e literários aos quais eles pertencem, para
religiosidade popular. responder à questão.

288
541. Fuvest-SP
Texto XII, de Adolfo Caminha – Bom-Crioulo, 1895:
Tudo avultava desmesuradamente em sua ima- O romance é narrado na primeira pessoa, em ininter-
ginação de marinheiro de primeira viagem. Bom- rupto monólogo, por Riobaldo, velho fazendeiro do
Crioulo tinha prometido levá-Io aos teatros, ao norte de Minas, antigo jagunço, que conta a sua vida
Corcovado, à Tijuca, ao Passeio Público, a toda e a sua angústia.
parte. Haviam de morar juntos, num quarto da A. Candido e J. A. Castello
rua da Misericórdia, num comodozinho de quinze O autor do romance a que se refere o texto acima é
mil-réis onde coubessem duas camas de ferro, ou também o de:
mesmo uma só, larga, espaçosa[...] a) Chapadão do bugre.
Texto XIII, de Machado de Assis – “Pai contra mãe” b) O garimpeiro.
(Relíquias da casa velha, 1906): c) Vila dos confins.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinhei-
d) Sagarana.
ro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas
públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, e) O coronel e o lobisomem.
o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava 542. PUC-SP
e a quantia de gratificação. [...] Protestava-se com
Assinale, nas alternativas abaixo, todas extraídas do
todo o rigor da lei contra quem o acoutasse.
conto “São Marcos”, o trecho que indica a presença
Texto XIV, de Augusto dos Anjos – “As cismas do
de uma gradação.
destino” (Eu, 1912):
A noite fecundava o ovo dos vícios / Animais. Do a) “E as flores rubras, vermelhíssimas, ofuscantes,
carvão da treva imensa / Caía um ar danado de queimando os olhos, escaldantes de vermelhas,
doença / Sobre a cara geral dos edifícios! / / / Tal cor de guelras de traíra, de sangue de ave, de boca
uma horda feroz de cães famintos, / Atravessando e bâton.”
uma estação deserta, / Uivava dentro do eu, com a b) “E, nas ilhas, penínsulas, istmos e cabos, multi-
boca aberta, / A matilha espantada dos instintos! crescem taboqueiras, tabuas, taquaris, taquaras,
Texto XV, de Guimarães Rosa – “Campo geral” taquariúbas, taquaratingas e taquarassus.”
(Corpo de baile, 1956): c) “E, pois, foi aí que a coisa se deu, e foi de re-
O doutor era homem muito bom, levava o Miguilim, pente, [...] um ponto, um grão, um besouro, um
lá ele comprava uns óculos pequenos, entrava anu, um urubu, um golpe de noite... E escureceu
para a escola, depois aprendia ofício. – “Você tudo.”
mesmo quer ir?” d) “Vou. Pé por pé, pé por si... Peporpé, peporsi...
Miguilim não sabia. Fazia peso para não soluçar.
Pepp or pepp, epp or see …Pêpe orpepe, heppe
Sua alma, até ao fundo, se esfriava.
Orcy…”
Texto XVI, de Luis Fernando Verissimo – “Outra do
analista de Bagé” (O analista de Bagé, 1981): e) “Debaixo do angelim verde, de vagens verdes,
Diz que quando recebe um paciente novo no seu um boi branco, de cauda branca. E, ao longe,
consultório a primeira coisa que o analista de Bagé nas prateleiras dos morros cavalgavam-se três
faz é lhe dar um joelhaço. Em paciente homem, qualidades de azul.”
claro, pois em mulher, segundo ele, “só se bate 543. PUC-SP
pra descarregá energia”. Depois do joelhaço, o
A respeito do conto “São Marcos”, de João Guimarães
paciente é levado, dobrado ao meio, para o divã
Rosa, é incorreto afirmar que:
coberto com um pelego.
a) é um conto de linguagem marcadamente sinesté-
De acordo com o Texto XV, pode-se inferir que Miguilim sica, isto é, que ativa os órgãos sensoriais como
necessita de óculos para corrigir uma deficiência visual meios de conhecimento da realidade, em suas
diferentes situações narrativas.
(ametropia). Entre as ametropias estão a miopia e a
hipermetropia. Sobre essas ametropias, julgue como ver- b) refere as ações domingueiras do personagem
dadeiro (V) ou como falso (F) o que se afirma abaixo. narrador Izé, que se embrenha no mato, carre-
gando uma espingarda a tiracolo com o firme
I. A miopia é um defeito da visão que não permite
propósito de caçar irerês, narcejas, jaburus e
visão nítida de um objeto distante, pois, estando os frangos-d’água.
músculos ciliares relaxados, o foco imagem do olho
c) desenvolve um tenebroso caso de ação sobrenatu-
está antes da retina, portanto, formando a imagem
ral, por obra de um feiticeiro, que produz cegueira
de um objeto distante antes da retina. ( ) temporária no protagonista e da qual ele se safa
II. A lente corretora da miopia deve ser divergente e por meio de uma reza brava, sesga, milagrosa e
um míope não precisa usar lentes para perto. ( ) proibida.
III. A lente corretora da hipermetropia deve ser con- d) vem introduzido por uma epígrafe, extraída da
vergente. ( ) cultura popular, das cantigas do sertão e que con-
densa e dá, sugestivamente, o tom da narrativa.
A seqüência correta, de cima para baixo, é:
e) caracteriza o espaço dos bambus, lugar onde se
PV2D-07-54

a) F, F, F d) V, V, F encontram gravados os nomes dos reis leoninos


b) F, F, V e) V, V, V e onde se trava floral desafio entre o narrador e
c) F, V, V Quem será.
289
544. UEL-PR 547.
O trabalho com a linguagem por meio da recriação A partir da leitura do texto, responda:
de palavras e a descrição minuciosa da natureza, em – Severino retirante,
especial da fauna e da flora, são uma constante na deixe agora que lhe diga:
obra de João Guimarães Rosa. Esses elementos são
eu não sei bem a resposta
recursos estéticos importantes que contribuem para
da pergunta que fazia,
integrar as personagens aos ambientes onde vivem,
estabelecendo relações entre natureza e cultura. Em se não vale mais saltar
“Sarapalha”, conto inserido no livro Sagarana, de fora da ponte e da vida
1946, referências do mundo natural são usadas para nem conheço essa resposta,
representar o estado febril de Primo Argemiro. se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender,
Com base nessa afirmação, assinale a alternativa em
que a descrição da natureza mostra o efeito da maleita só com palavras, a vida,
sobre a personagem Argemiro. ainda mais quando ela é
esta que vê, severina
a) É aqui, perto do vau da Sarapalha: tem uma
fazenda, denegrida e desmantelada; uma cerca mas se responder não pude
de pedra seca, do tempo de escravos; um rego à pergunta que fazia,
murcho, um moinho parado; um cedro alto, na ela, a vida, a respondeu
frente da casa; e, lá dentro uma negra, já velha, com sua presença viva.
que capina e cozinha o feijão. E não há melhor resposta
b) Olha o rio, vendo a cerração se desmanchar. Do que o espetáculo da vida:
colmado dos juncos, se estira o vôo de uma garça, vê-la desfiar seu fio,
em direção à mata. Também, não pode olhar muito:
que também se chama vida,
ficam-lhe muitas garças pulando, diante dos olhos,
ver a fábrica que ela mesma,
que doem e choram, por si sós, longo tempo.
teimosamente, se fabrica,
c) É de-tardinha, quando as mutucas convidam as muri-
vê-la brotar como há pouco
çocas de volta para casa, e quando o carapana mais o
em nova vida explodida
mossorongo cinzento se recolhem, que ele aparece, o
pernilongo pampa, de pés de prata e asas de xadrez. mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
d) Estava olhando assim esquecido, para os olhos...
mesmo quando é uma explosão
olhos grandes escuros e meio de-quina, como os
de uma suaçuapara... para a boquinha vermelha, como a de há pouco, franzina;
como flor de suinã.... mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.
e) O cachorro está desatinado. Pára. Vai, volta, olha,
Morte e vida severina – João Cabral de Melo Neto
desolha... Não entende. Mas sabe que está acon-
tecendo alguma coisa. Latindo, choramingando, De acordo com o texto, pode-se deduzir:
chorando, quase uivando. a) Não há respostas para a vida severina.
Texto para as questões 545 e 546. b) A resposta da vida severina é uma fábrica franzina.
No conto A hora e vez de Augusto Matraga, de Guima- c) A resposta para a vida é o espetáculo da vida,
rães Rosa, o protagonista é um homem rude e cruel, mesmo severina.
que sofre violenta surra de capangas inimigos e é d) A vida desfia seu fio que em nada tem de vida
abandonado como morto, num brejo. severina.
Recolhido por um casal de matutos, Matraga passa e) A vida só se defende com palavras em todas as
por um lento e doloroso processo de recuperação, em circunstâncias.
meio ao qual recebe a visita de um padre, com quem
estabelece o seguinte diálogo: 548.
– Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruin- Considere as seguintes afirmações:
dade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?
I. Essa estória desenvolve simultaneamente um
– Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não
estudo sobre a psicologia juvenil urbana e um
tira o estribo do pé de arrependido nenhum... (...) Sua
comentário metalingüístico sobre o processo da
vida foi entortada no verde, mas não fique triste, de modo
criação artística, especialmente aquela de caráter
nenhum, porque a tristeza é aboio de chamar demônio,
mágico, gerada pelo improviso.
e o Reino do Céu, que é o que vale, ninguém tira de sua
algibeira, desde que você esteja com a graça de Deus, II. Estória de um ser que parece ter vindo ao mundo
que ele não regateia a nenhum coração contrito. para purificá-lo e que é escarnecido por uma comu-
nidade incapaz de compreender o alcance de seus
545. Fuvest-SP atos, de sua condição de pessoa iluminada.
A linguagem figurada amplamente empregada pelo padre III. Partindo de uma sugestão anedótica, calcada no
é adequada ao seu interlocutor? Justifique sua resposta. cotidiano urbano, Guimarães Rosa mais uma vez
tematiza a loucura, focalizando-a agora sob um
546. Fuvest-SP viés tragicômico.
Transcreva uma frase do texto que tenha sentido I, II e III referem-se, respectivamente, aos seguintes
equivalente ao da frase não regateia a nenhum co- contos de Primeiras estórias de João Guimarães
ração contrito. Rosa:
290
a) “Darandina”, “O espelho” e “Famigerado”; de sua jornada. Essas digressões são causos que
b) “Pirlimpsiquice”, “A benfazeja” e “Darandina”; pontuam a narrativa, criando uma atmosfera de
c) “A benfazeja”, “Darandina” e “A terceira margem suspense para o desfecho da história do burrinho
do rio”; pedrês e de Silvino e Badu.
d) “A menina de lá”, “Partida do audaz navegante” e III. O narrador da fábula faz uso de discurso direto
“Darandina”; e indireto, articulando-os de forma que o tempo
da narrativa seja percebido tanto num passado
e) “Darandina”, “Nada e a nossa condição”, “Sorôco,
(acontecido) como num presente (acontecendo).
sua mãe, sua filha”.
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
549. PUC-SP b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
Segundo Antonio Candido, referindo-se à obra de c) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
Guimarães Rosa, ser jagunço, torna-se, além de uma d) Todas as afirmativas estão corretas.
condição normal no mundo-sertão, uma opção de com- e) Todas as afirmativas estão incorretas.
portamento, definindo um certo modo de ser naquele
espaço. Daí a violência produzir resultados diferentes 551. UERJ
dos que esperamos na dimensão documentária e so-
cio-lógica, – tornando-se, por exemplo, instrumento de − Uai, eu?
redenção. Assim sendo, o ato de violência que em A hora Se o assunto é meu e seu, lhe digo, lhe conto;
e vez de Augusto Matraga justifica tal afirmação é: que vale enterrar minhocas? De como aqui me vi, sutil
assim, por tantas cargas d’água. No engano sem de-
a) seguir a personagem uma trajetória de vida des-
sengano: o de aprender prático o desfeitio da vida.
regrada, junto às mulheres, ao jogo de truque e
Sorte? A gente vai – nos passos da história que
às caçadas.
vem. Quem quer viver faz mágica. Ainda mais eu, que
b) ser ferido e marcado a ferro, após ter sido aban- sempre fui arrimo de pai bêbedo. Só que isso se deu, o
donado pela mulher e por seus capangas. que quando, deveras comigo, feliz e prosperado. Ah, que
c) cumprir penitência por meio da reza, do trabalho saudades que eu não tenha... Ah, meus bons maus-tem-
e do auxílio aos outros para redenção de seus pos! Eu trabalhava para um senhor Doutor Mimoso.
pecados. Sururjão, não; é solorgião. Inteiro na fama
d) integrar o bando de Joãozinho-Bem-Bem e – olh’alegre, justo, inteligentudo – de calibre de quilate
vingar-se dos inimigos, principalmente do Major de caráter. Bom até-onde-que, bom como cobertor,
Consilva. lençol e colcha, bom mesmo quando com dor-de-
e) reencontrar-se, em suas andanças, com Joãozinho cabeça: bom, feito mingau adoçado. Versando chefe
Bem-Bem, matá-lo e ser morto por ele. os solertes preceitos. Ordem, por fora; paciência por
dentro. Muito mediante fortes cálculos, imaginado de
550. UEL-PR ladino, só se diga. A fim de comigo ligeiro poder ir ver
Leia os trechos retirados de “O burrinho pedrês”, de seus chamados de seus doentes, tinha fechado um
Guimarães Rosa, e considere as afirmativas feitas. A piquete no quintal: lá pernoitavam, de diário, à mão,
seguir, assinale a opção correta. dois animais de sela – prontos para qualquer aurora.
Vindo a gente a par, nas ocasiões, ou eu atrás,
Era um burrinho pedrês, miúdo e resignado,
com a maleta dos remédios e petrechos, renquetren-
vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não
que, estudante andante. Pois ele comigo proseava, me
sei onde no sertão. Chamava-se Sete-de-Ouros, e já
alentando, cabidamente, por norteação – a conversa
fora tão bom, como outro não existiu e nem pode haver
manuscrita. Aquela conversa me dava muitos arredo-
igual. (...) Mas nada disso vale fala, porque a estória
res. Ô homem! Inteligente como agulha e linha, feito
de um burrinho, como a história de um homem grande,
pulga no escuro, como dinheiro não gastado. Atilado
é bem dada no resumo de um só dia de sua vida. (...)
todo em sagacidades e finuras – é de fimplus! de
Mas, nem bem Sinoca terminava, e já, morro abaixo,
tintínibus... – latim, o senhor sabe, aperfeiçoa... Isso,
chão a dentro, trambulhavam, emendados, três trons
para ele, era fritada de meio ovo. O que porém bem.
de trovões. (...)
ROSA, João Guimarães. Tutaméia: terceiras estórias.
– É para vigiar o Silvino, todo o tempo, que ele Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
quer mesmo matar o Badu e tomar rumo. Agora, A obra de Guimarães Rosa, citado como grande renova-
eu sei, tenho a certeza. Não perde os dois de olho, dor da expressão literária, é também reconhecida pela
Francolim Ferreira contribuição lingüística, devido à utilização de termos
(...) Badu agora dormia de verdade, sempre regionais, palavras novas, não-dicionarizadas, a que
agarrado à crina. Mas Sete-de-Ouros não descansou. chamamos neologismos, especialmente para expres-
Retomou a estrada, e, já noite alta, quando chegaram à sar situações ou opiniões de seus personagens.
Fazenda, ele se encostou, bem na escada da varanda, a) Retire do primeiro parágrafo um exemplo de neo-
esperando que o vaqueiro se resolvesse a descer. Ao logismo e explique, em uma frase completa, o seu
fim de um tempo, o cavaleiro acordou. (...) sentido no texto.
I. A aliteração em “dentro”, “trambulhavam”, “três b) Compare o adjetivo inteligentudo (par. 2) com
trons de trovões” alude ao barulho da trovoada, que barbudo, barrigudo, sortudo. Escreva duas formas
PV2D-07-54

prenuncia a tempestade e o perigo iminente. da língua padrão − a primeira com duas palavras;
II. Na fábula, são introduzidas algumas digressões a segunda com uma palavra − que equivalem se-
que vão sendo narradas por vaqueiros ao longo manticamente ao neologismo inteligentudo.
291
552. Fuvest-SP c) A morte, que ocupa e povoa a maior parte das ce-
Ao contista de Primeiras estórias, as manifestações nas da obra, é apresentada de maneira uniforme,
da loucura interessam não como casos clínicos, e sim única.
como campo propício à invasão do extraordinário, do d) A última fala do mestre Carpina corresponde à
mítico, do mágico – numa palavra, da poesia – que resposta à última pergunta feita pelo retirante Se-
irrompem no meio das acomodações cotidianas, ques- verino e traduz a defesa do que lhe parece difícil,
tionando o que é considerado normal. “a explosão de uma vida severina”.
Adaptado de Paulo Rónai e) Ao ouvir a conversa dos coveiros, Severino des-
a) O questionamento de que se fala na afirmação cobre que seguia seu próprio enterro.
acima ocorre no conto Darandina (em que se narra
a história do homem que sobe em uma palmeira)? 556. PUC-RS
Explique sucintamente. A partir do livro de estréia, __________, uma das
b) E no conto Tarantão, meu patrão (no qual se conta características do estilo de Clarice Lispector é a adje-
a cavalgada do velho João-de-Barros-Diniz-Rober- tivação __________.
tes, com seus acompanhantes, rumo à cidade), o a) O lustre – pictórica
referido questionamento ocorre?
b) A maçã no escuro – preciosa
Justifique resumidamente sua resposta.
c) A cidade sitiada – coloquial
553. Fuvest-SP d) Perto do coração selvagem – surpreendente
As meninas Nhinhinha e Brejeirinha são, respectiva- e) A legião estrangeira – popular
mente, personagens principais de “A menina de lá” e
de “Partida do audaz navegante”, contos de Primeiras 557. UFRGS-RS
estórias. Considere as seguintes afirmações.
a) Embora ambos os contos tenham como ambiente I. Adélia Prado é escritora de tendências feministas,
o meio rural, há, neles, elementos que permitam
que não demonstra atenção aos temas cotidianos
assinalar uma diferença de nível social entre
e religiosos.
essas personagens? Justifique sucintamente sua
resposta. II. Lygia Fagundes Telles vem construindo uma obra
ficcional em que predominam personagens do
b) Qual dessas personagens se vincula primordial-
mente à própria literatura e qual se relaciona sexo feminino atribuladas por problemas existen-
também, de modo explícito, à religião? Justifique ciais.
brevemente sua resposta. III. A obra de Clarice Lispector renova a ficção bra-
sileira com uma dimensão reflexiva voltada tanto
554. Fuvest-SP (modificado) para o fazer literário quanto para os processos de
O fragmento abaixo pertence à novela Campo Geral consciência.
(Miguilim), de João Guimarães Rosa.
E o Dito mesmo gostava, pedia: ‘Conta mais, conta Quais estão corretas?
mais...’ Miguilim contava, sem carecer de esforço, a) Apenas I.
estórias compridas, que ninguém nunca tinha sabido, b) Apenas II.
não esbarrava de contar, estava tão alegre, nervoso, c) Apenas III.
aquilo para ele era o entendimento maior.
d) Apenas II e III.
a) As qualidades atribuídas ao Miguilim contador
e) I, II e III.
de histórias aproximam-no ou distanciam-no do
modo de narrar que celebrizou Guimarães Rosa?
Justifique sua resposta. 558. UFC-CE
b) O desfecho da novela sugeriria que Miguilim Clarice Lispector se dizia uma escritora “sentidora”. O
encontrará limitações para desenvolver suas termo se justifica porque Clarice:
qualidades de contador de histórias? Justifique I. registrava impressões, idéias e sentimentos,
sua resposta. guiando-se pelo fluxo da consciência.
II. sondava a mente das personagens, privilegiando
555. assim a seqüência das ações e suas causas.
Todas as afirmações abaixo, a respeito de Morte e III. separava com rigor os mundos interno e externo
vida severina, de João Cabral de Melo Neto, são das personagens, a imaginação e a realidade.
corretas, exceto:
a) É o drama de um retirante nordestino que, premi- A análise das afirmativas nos permite afirmar corre-
do pela seca, foge em busca da vida, e por onde tamente que:
passa só encontra a morte. a) apenas I é verdadeira.
b) Severino, retirante ou peregrino, em sua fuga b) apenas II é verdadeira.
em direção ao Recife, seguindo como guia o Rio
c) apenas III é verdadeira.
Capibaribe, pensa em desistir da viagem, mas,
impulsionado pelo espectro da morte, prossegue d) I e II são verdadeiras.
em direção a seu destino. e) I e III são verdadeiras.

292
559. UEL-PR 563. Fuvest-SP
Eu estava agora tão maior que me via mais. Tão grande A respeito de Clarice Lispector, nos contos de Laços
como uma paisagem ao longe. Eu era ao longe. (...) de família, seria correto afirmar que:
como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se a) parte freqüentemente de acontecimentos surpre-
me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. endentes para banalizá-los.
O fragmento anterior revela a crise do ato de criação, b) elabora o cotidiano em busca de seu significado
a dificuldade de colocar em palavras as sensações oculto.
mais profundas e silenciosas – o que é um dos traços
c) é altamente intimista, vasculhando o âmago das
característicos da prosa ficcional de:
personagens com rara argúcia.
a) Clarice Lispector.
d) é regionalista hermética.
b) Mário de Andrade.
e) opera na área da memória, da auto-análise e do
c) Érico Veríssimo. devaneio.
d) Euclides da Cunha.
e) Marques Rebelo. 564. UFES
É correto afirmar que, nos contos de Laços de família,
560. UFMG de Clarice Lispector:
Todas as alternativas apresentam características de a) tal como em Gota d’água, de Chico Buarque &
Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, exceto: Paulo Pontes, aparecem personagens proletários
a) Ausência de fronteiras rígidas entre os gêneros, e malandros do submundo carioca.
revelada na mistura de prosa e poesia. b) tal como em O país d’el rey, de Roberto Almada,
b) Linguagem caracterizada por oralidade e coloquia- busca-se no Brasil urbano e pós-moderno o espa-
lismo, segundo o Modernismo de 22. ço privilegiado para a ação.
c) Narração introspectiva, marcada por uma subjeti- c) tal como em Noite na taverna, de Álvares de
vidade que se projeta sobre o mundo narrado. Azevedo, ocorrem casos de homicídio, suicídio e
d) Relativização do tempo cronológico, com embara- antropofagia.
lhamento de passado e presente. d) tal como em Quincas Borba, de Machado de Assis,
são insistentes as chamadas e referências a um
561. UFSM suposto leitor.
Era uma velha sequinha que, doce e obstinada, não e) tal como em O burrinho pedrês, de Guimarães
parecia compreender que estava só no mundo. Os Rosa, os personagens não se envolvem em ques-
olhos lacrimejavam sempre, as mãos repousavam tões de caráter político-partidário.
sobre o vestido preto e opaco, velho documento de
sua vida. No tecido já endurecido encontravam-se 565. PUCCamp-SP
pequenas crostas de pão coladas pela baba que lhe Leia com atenção os seguintes excertos de contos do
ressurgia agora em lembrança do berço. livro Laços de família, de Clarice Lispector.
Pelo fragmento citado, percebe-se que, na obra de
Clarice Lispector: Mas ninguém poderia adivinhar o que ela pensava.
E para aqueles que junto da porta ainda a olharam
a) as personagens estão constantemente chorando
uma vez, a aniversariante era apenas o que parecia
a perda de um ente querido.
ser: sentada à cabeceira da mesa imunda, com a mão
b) o menor abandonado é objeto de paixão e solida- fechada sobre a toalha como encerrando um cetro,
riedade. e com aquela mudez que era a sua última palavra.
c) o estilo naturalista é marcado pelas referências à (“Feliz aniversário”)
decomposição da matéria. Olhando os móveis limpos, seu coração se aperta-
d) as personagens, envolvidas em seu próprio va um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia
mundo, estranham ou ignoram o mundo circun- lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto – ela
dante. o abafava com a mesma habilidade que as lides em
e) as mulheres, em geral, aspiram a entrar no mer- casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer
cado de trabalho. compras ou levar objetos para consertar, cuidando do
lar e da família à revelia deles. (“Amor”)
562. UFC-CE Em ambos os excertos, destaca-se um dos temas
Sobre Clarice Lispector e sua obra, pode-se afirmar estruturadores do livro Laços de família, já que nele
corretamente que: a autora:
a) Laços de família foi sua primeira obra publicada. a) explora o imaginário feminino, cuja natureza idea-
b) Perto do coração selvagem é uma obra neo-rea- lizante liberta a mulher de qualquer preocupação
lista. existencial.
c) os temas ligados à existência desaparecem em b) denuncia o conformismo burguês da mulher, fazen-
Laços de família. do-nos ver que seus inúteis devaneios a afastam
d) seus escritos reúnem crônicas, romances e narra- da realidade.
PV2D-07-54

tivas infanto-juvenis. c) satiriza a hipocrisia dos laços familiares, propondo


e) a história literária situa a escritora na segunda fase em lugar deles a harmonia de um mundo politica-
do Modernismo brasileiro. mente mais aberto e mais democrático.
293
d) desvela as tensões entre o universo íntimo e com- 566. Unirio-RJ
plexo da mulher e as condições objetivas do coti- O sentido de “... os fatos eram apenas um rasgão no
diano em que ela deve desempenhar seu papel. vestido,” (par. 1) é:
e) revela a solidez íntima da mulher, mais preparada a) trariam conseqüências desastrosas.
para o sucesso das relações familiares do que o
homem, obcecado por valores materiais. b) representavam uma preocupação dolorosa.
c) apresentavam uma solução passageira.
Texto para as questões de 566 a 572. d) causariam sofrimento irreversível.
A partida dos homens e) não continham a solução para seus problemas.
1 Aproximou-se da janela, sentiu frio nos ombros
nus, olhou a terra onde as plantas viviam quietas. O 567. Unirio-RJ
globo movia-se e ela estava sobre ele de pé. Junto A dificuldade que a personagem encontra, inicialmente,
a uma janela, o céu por cima, claro, infinito. Era de penetrar no seu íntimo se dá por:
inútil abrigar-se na dor de cada caso, revoltar-se a) medo de descobrir suas verdades.
contra os acontecimentos, porque os fatos eram b) interferência de um elemento externo.
apenas um rasgão no vestido, de novo a seta muda
c) dificuldade de se desligar do passado.
indicando o fundo das coisas, um rio que seca e
deixa ver o leito nu. d) desconhecimento de seus verdadeiros sentimen-
2 A frescura da tarde arrepiou sua pele, Joana não tos.
conseguiu pensar nitidamente – havia alguma e) falta de um parâmetro em sua vida.
coisa no jardim que a deslocava para fora de seu
centro, fazia-a vacilar... Ficou de sobreaviso. Algo 568. Unirio-RJ
tenta mover-se dentro dela, respondendo, e pelas A expressão que representa a primeira sensação,
paredes escuras de seu corpo subiam ondas leves, indício de presentificação do passado, é:
frescas, antigas. Quase assustada quis trazer a a) “... a seta muda...” (par. 1)
sensação à consciência, porém cada vez mais era
arrastada para trás numa doce vertigem, por dedos b) “... o fundo das coisas,” (par. 1)
suaves. Como se fosse de manhã. Perscrutou-se, c) “A frescura da tarde...” (par. 2)
subitamente atenta como se tivesse avançado d) “... ondas leves, frescas, antigas.” (par. 2)
demais. De manhã? e) “... doce vertigem,” (par. 2)
3 De manhã. Onde estivera alguma vez, em que terra
estranha e milagrosa já pousara para agora sentir- 569. Unirio-RJ
lhe o perfume? Folhas secas sobre a terra úmida.
A expressão que marca o mergulho de Joana no seu
O coração apertou-se-lhe devagar, abriu-se, ela não
respirou um momento esperando... Era de manhã, interior e caracteriza o passado é:
sabia que era de manhã... Recuando como pela mão a) “... o fundo das coisas,” (par. 1)
frágil de uma criança, ouviu, abafado como em so- b) “... o leito nu.” (par. 1)
nho, galinhas arranhando a terra. Uma terra quente,
seca... O relógio batendo tin-dlen...tin...dlen... o sol c) “De manhã.” (par. 3)
chovendo em pequenas rosas amarelas e vermelhas d) “... alguma vez,” (par. 3)
sobre as casas... Deus, o que era aquilo senão ela e) “não sempre...” (par. 3)
mesma? mas quando? não sempre...
4 As ondas cor-de-rosa escureciam, o sonho fugia. 570. Unirio-RJ
Que foi que perdi? que foi que perdi? Não era Que passagem traduz um momento de conflito interior
Otávio, já longe, não era o amante, o homem infeliz de Joana?
nunca existira. Ocorreu-lhe que este deveria estar a) “Joana não conseguiu pensar nitidamente” (par. 2)
preso, afastou o pensamento impaciente, fugindo,
b) “Onde estivera alguma vez,” (par. 3)
precipitando-se... Como se tudo participasse da
mesma loucura, ouvindo subitamente um galo pró- c) “Recuando como pela mão frágil de uma criança,”
ximo lançar seu grito violento e solitário. Mas não (par. 3)
é de madrugada, disse trêmula, alisando a testa d) “Que foi que eu perdi? Que foi que eu perdi?” (par. 4)
fria... O galo não sabia que ia morrer! O galo não e) “Havia flores em alguma parte?” (par. 4)
sabia que ia morrer! Sim, sim: papai que é que eu
faço? Ah, perdera o compasso de um minueto... 571. Unirio-RJ
Sim... o relógio batera tin dlen, ela erguera-se na Que passagem traduz, simultaneamente, integração
ponta dos pés e o mundo girava muito mais leve e reinício?
naquele momento. Havia flores em alguma parte? a) “O galo não sabia que ia morrer!” (par. 4)
e uma grande vontade de se dissolver até mistu-
b) “ela erguera-se na ponta dos pés” (par. 4)
rar seus fios com o começo das coisas. Formar
uma só substância, rósea e branda – respirando c) “... o mundo girava muito mais leve...” (par. 4)
mansamente como um ventre que se ergue e se d) “... uma grande vontade de se dissolver...”
abaixa, que se ergue e se abaixa... (...) (par. 4)
Clarice Lispector. Perto do coração selvagem e) “Havia flores em alguma parte?” (par. 4)
294
572. Unirio-RJ A mãe, cansada, deu de ombros.
Quanto à narrativa do texto, assinale a afirmativa Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a gali-
improcedente. nha passou a morar com a família. A menina, de volta
do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a
a) Há aprofundamento no eu, num mergulho atem-
corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda
poral. se lembrava: “E dizer que a obriguei a correr naquele
b) Há poucos fatos ligados à ação propriamente estado!” A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos,
dita. menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o
c) A não-linearidade aponta uma preocupação em terraço dos fundos, usando suas duas capacidades:
manter o elo autor-leitor. a da apatia e a do sobressalto.
d) A narrativa está centrada num momento de violên- No excerto acima, do conto “Uma galinha”, Clarice
Lispector, a autora de Laços de família:
cia interior da personagem.
a) utiliza a ave para projetar nela a condição da mu-
e) ambiente e descrição não apresentam uma feição
lher enquanto fêmea reprodutora, dona de casa e
puramente descritiva, mas subjetiva, interiorizada. ser reflexivo.
b) alegoriza a condição da mulher moderna, emanci-
573. Fatec-SP
pada das estritas funções domésticas, e no entanto
Lóri estava suavemente espantada. Então isso saudosa delas.
era a felicidade. De início sentiu-se vazia. Depois seus c) estabelece uma analogia entre a criação artística e
olhos ficaram úmidos, era a felicidade, mas como sou o parto, mostrando o quanto há neles de sofrimento
mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O e o nenhum reconhecimento que obtêm no mundo
amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos moderno.
poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felici- d) afasta-se do tema que estrutura seu livro e pratica
dade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que uma forma singular de humor, num conto ao mes-
já está começando a me doer como uma angústia, mo tempo cruel e anedótico.
como um grande silêncio de espaços? A quem dou e) vale-se de uma galinha para simbolizar nela a
minha felicidade, que já está começando a me rasgar crise de uma família de classe média cujos laços
um pouco e me assusta. Não quero ser feliz prefiro a afetivos há muito se desataram.
mediocridade.
Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou livro dos prazeres Texto para as questões de 575 a 580.
Considere as seguinte características de estilo: Amor
I. Exacerbação do momento interior, que a escri- Um pouco cansada, com as compras deforman-
tora explora de modo a produzir, pela intensa do o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depo-
auto-análise da personagem, uma nova e aguda sitou o volume no colo e o bonde começou a andar.
consciência da vida. Recostou-se então no banco procurando conforto, num
II. Transfiguração da realidade pela análise psicoló- suspiro de meia satisfação.
gica da reação da personagem, que se objetiva na Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verda-
descrição exterior dos fatos narrados. deira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam
III. Emprego de uma técnica própria de descrição inti- para si, malcriados, instantes cada vez mais completos.
mista, que se alinha com um projeto de educação A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado
existencial, traço marcante da obra de Clarice. dava estouros. O calor era forte no apartamento que
Identificam-se no texto as características apontadas estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo
em: nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que
se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o
a) I e II.
calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as
b) I e III.
sementes que tinha na mão, não outras, mas essas
c) II e III. apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida con-
d) I, somente. versa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo
e) II, somente. o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com co-
midas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de
574. PUCCamp-SP fome, o canto importuno das empregadas do edifício.
Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e
um ovo! ela quer o nosso bem! forte, sua corrente de vida.
Todos correram de novo à cozinha e rodearam Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa
mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, hora da tarde a árvores que plantara riam dela. Quando
esta não era nem suave nem arisca, nem alegre nem nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No
triste, não era nada, era uma galinha. O que não su- entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo
geria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a engrossara um pouco e era de se ver o modo como
filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente cortava blusas para os meninos, a grande tesoura
um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vaga-
uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com mente artístico encaminhara-se há muito no sentido de
certa brusquidão: tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu
PV2D-07-54

– Se você mandar matar esta galinha nunca mais gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara
comerei galinha na minha vida! a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo
– Eu também! jurou a menina com ardor. era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se
295
emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia a) assumir plenamente a organização de um lar.
ser feita pela mão do homem. b) dar espaço real à sua íntima desordem.
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de c) esquecer sua juventude anterior, sua doença de
sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexa- vida.
mente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num
d) plantar sementes, mesmo que árvores não cres-
destino de mulher, com a surpresa de nele caber como
cessem.
se o tivesse inventado. O homem com quem casara
era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram e) ficar sozinha à tarde para recuperar suas forças.
filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe 579. Unifesp
estranha como uma doença de vida. […] O gosto de Ana pelo decorativo revela uma forma de:
575. Unifesp a) cuidar harmoniosamente da família, eliminando os
problemas.
De acordo com o texto, pode-se afirmar que a perso-
nagem Ana: b) engajar a família na análise e superação dos
problemas, íntimos ou não.
a) sintetiza as qualidades da mulher burguesa e rica,
que se responsabiliza pelo lar e em momento c) sublimar os problemas de natureza íntima, criando
algum questiona suas atribuições. uma aparente harmonia.
b) é símbolo da mãe e da esposa de classe baixa, d) canalizar todas as tensões para a arrumação da
que vê nas tarefas do lar a verdadeira forma de casa, já que ela e a família não tinham proble-
ser feliz, mas almeja ser independente. mas.
c) representa a mulher de classe média que cuida de e) aperfeiçoar a casa e a família, fazendo com que
suas tarefas, mas não sente prazer nisso, pois é todos se comportassem de forma semelhante.
incomodada por sua família. 580. Unifesp
d) é produto de uma sociedade feminista, o que O narrador afirma que Ana caiu num destino de mulher.
se pode confirmar pela autonomia que tem para No texto, esse destino é descrito com o objetivo de
realizar suas tarefas. propor uma reflexão sobre:
e) constitui a referência do lar de classe média, no a) a juventude e a velhice.
qual tem como missão a tarefa de organizá-lo e b) a importância de ser mãe.
de cuidar dos familiares.
c) as diferenças sociais.
576. Unifesp d) o papel da mulher na sociedade.
No texto, afirma-se que Ana “plantara as sementes” e) a família como verdadeira instituição social.
e “E cresciam árvores”. Mais adiante: “Certa hora da
tarde as árvores que plantara riam dela”. Essa última 581. UFRGS-RS
frase, tomada em conjunto com as anteriores, traz ao A hora da estrela
texto um tom de: Clarice Lispector

a) comicidade. d) ironia. A moça tinha ombros curvos como os de uma


cerzideira. Aprendera em pequena a cerzir. Ela se
b) profecia. e) indignação.
realizaria muito mais se desse ao delicado lador de
c) perplexidade.
restaurar fios, quem sabe se de seda. Ou de luxo:
cetim bem brilhoso, um beijo de almas. Cerzideirinha
577. Unifesp
mosquito. Carregar em costas de formiga um grão de
“Certa hora da tarde era mais perigosa.”
açúcar. Ela era de leve como uma idiota, só que não
De acordo com o texto, essa informação deve ser
era. Não sabia que era infeliz.
entendida como
(...) Nascera inteiramente raquítica, herança do
a) um cansaço que envolvia Ana, depois de ter-se sertão - os maus antecedentes de que falei. Com dois
dedicado intensamente às tarefas do lar. anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres
b) um desconforto de Ana, pois sua importância se ruins no sertão de Alagoas, lá onde o diabo perdera
perdia nesse período, quando não era requisitada as botas.
nas tarefas do lar. (...) Macabéa era na verdade uma figura me-
c) uma irritação de Ana em relação à família, por não dieval enquanto Olímpico de Jesus se julgava peça-
ter o reconhecimento devido pelas tarefas que chave, dessa que abrem qualquer porta. Macabéa
exercia. simplesmente não era técnica, ela era só ela. (...) Mas
d) uma forma de Ana reafirmar seu papel e sua impor- Macabéa de um modo geral não se preocupava com
tância no seio familiar, pois todos dependiam dela. o próprio futuro: ter futuro era luxo.
e) um incômodo que Ana sentia, devido tanto ao Sobre A hora da estrela, de Clarice Lispector, é correto
excesso de tarefas que desempenhava quanto ao afirmar que:
modo rotineiro de realizá-las. a) a narrativa mistura vários planos de realidade, que
permitem uma visão multifacetada da personagem
578. Unifesp central.
“No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir b) Macabéa é uma nordestina retirante, e o desfecho
a raiz firme das coisas.” A forma encontrada por ela de sua história é semelhante ao de Fabiano e de
para atingir esse objetivo foi: Sinha Vitória, personagem de Graciliano Ramos.
296
c) a heroína do livro, como a maioria dos brasileiros – É de bom tamanho,
em situação de privação, revolta-se contra as nem largo nem fundo
injustiças. é a parte que te cabe
d) a escritora usa uma linguagem técnica com pre- deste latifúndio
domínio de termos exatos, para advertir sobre
– Não é cova grande
problemas sanitários brasileiros.
é cova medida
e) a narrativa põe em destaque a disposição de é a terra que querias
Macabéa em lutar pela igualdade e pela ascensão ver dividida
social.
( ) A técnica despojada realça o aspecto dramático
582. Fuvest-SP das quadras que iniciam o Funeral do Lavrador,
Será que eu enriqueceria este relato se usasse alguns em que se pode observar o desejo do autor de
difíceis termos técnicos? Mas aí que está: esta história extrair o máximo de significação de cada palavra,
não tem nenhuma técnica, nem de estilo, ela é ao numa linguagem despida de ornamentos.
deus-dará. Eu que também não mancharia por nada ( ) No trecho anterior, todas as quadras são intro-
deste mundo com palavras brilhantes e falsas uma duzidas por um travessão, simbolizando a fala
vida parca como a da datilógrafa. dos lavradores presentes ao enterro, como uma
Clarice Lispector, A hora da estrela. espécie de reza, que descreve, para os que ouvem,
Em A hora da estrela, o narrador questiona-se quanto quem era o morto.
ao modo e, até, à possibilidade de narrar a história. ( ) No subtítulo, Auto evidencia a influência do te-
De acordo com o trecho acima, isso deriva do fato de atro medieval vicentino; natal tem a ver com o
ser ele um narrador: nascimento que mudará a vida do personagem e
a) iniciante, que não domina as técnicas necessárias pernambucano remete ao lugar onde se desenrola
ao relato literário. a narrativa. As injustiças sociais são descritas
pelo eu-poético com distanciamento, em terceira
b) pós-moderno, para quem as preocupações de
pessoa.
estilo são ultrapassadas.
( ) O Auto Morte e vida severina narra a trajetória de
c) impessoal, que aspira a um grau de objetividade
um sertanejo que abandona sua terra de origem,
máxima ao relato.
com destino ao litoral, onde, afinal, apenas encon-
d) objetivista, que se preocupa apenas com a preci-
tra o desespero e a morte.
são técnica do relato.
( ) Ao usar o nome próprio Severino como adjetivo,
e) autocrítico, que percebe a inadequação de um
para caracterizar a morte e a vida, o eu lírico repre-
estilo sofisticado para narrar a vida popular.
senta todos os retirantes que sofrem com a seca
583. PUC-SP e perdem sua identidade pela sina que os iguala.
Assinale a alternativa que não está de acordo com a
585. Fuvest-SP
personagem Macabéa, do romance A hora da estrela,
de Clarice Lispector. Devo registrar aqui uma alegria. É que a moça num
a) Nordestina pobre, anônima e semi-analfabeta, aflitivo domingo sem farofa teve uma inesperada fe-
era impotente para a vida e não fazia falta a nin- licidade que era inexplicável: no cais do porto viu um
arco-íris. Experimentando o leve êxtase, ambicionou
guém.
logo outro: queria ver, como uma vez em Maceió,
b) Tinha a “felicidade pura dos idiotas” e “vivia num espocarem mudos fogos de artifício. Ela quis mais
atordoado limbo entre céu e inferno”. porque é mesmo uma verdade que quando se dá a
c) Personagem-título do romance, embora feita de mão, essa gentinha quer todo o resto, o zé-povinho
matéria rala, tornou-se, na vida, a grande estrela sonha com fome de tudo. E quer mas sem direito
com que sempre sonhou. algum, pois não é?
d) Ingênua, acreditou no que a cartomante lhe disse, Clarice Lispector, A hora da estrela
mas acabou sendo atropelada e morta por um Considerando-se no contexto da obra o trecho desta-
Mercedes amarelo. cado, é correto afirmar que, nele, o narrador:
e) Viveu um conto de fadas às avessas, delineando a) assume momentaneamente as convicções elitistas
um contraponto bíblico sem, contudo, apresentar que, no entanto, procura ocultar no restante da
a coragem e o heroísmo dos fortes. narrativa.
b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos
584. UFPE
da própria Macabéa diante dos fogos de artifício.
As três quadras mostradas abaixo são de João Cabral c) hesita quanto ao modo correto de interpretar a
de Melo Neto, poeta pernambucano, da chamada ge- reação de Macabéa frente ao espetáculo.
ração de 45, autor de Morte e vida severina, obra que
d) adota uma atitude panfletária, criticando direta-
tem como subtítulo Auto de natal pernambucano.
mente as injustiças sociais e cobrando sua supe-
– Essa cova em que estás, ração.
com palmos medida e) retoma uma frase feita, que expressa preconceito
PV2D-07-54

É a conta menor antipopular, desenvolvendo-a na direção da iro-


que tiraste em vida nia.

297
586. UniCOC-SP 588. UniCOC-SP
Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: Leia o seguinte trecho da obra A hora da estrela, de
a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso mesmo: Clarice Lispector:
não tinha. Se der para me entenderem, está bem [...] Ele – Pois é.
Ela – Pois é o quê?
Tendo em vista o fragmento acima e a leitura da obra
Ele – Eu só disse pois é!
A hora da estrela de Clarice Lispector, assinale a
Ela – Mas “pois é” o quê?
alternativa incorreta:
Ele – Melhor mudar de conversa porque você não
a) O escritor narrador é onipotente, porque cria um me entende.
destino, mas não é onisciente, pois a verdade que (...)
inventa ele não a conhece inteira: sua protagonista Ele – E então?
escapa-lhe das mãos. Ela – Então o quê?
b) A obra conta várias histórias: a história da nordes- Ele – Olhe, eu vou embora porque você é im-
tina, a história de Rodrigo, que se vê refletido na possível!
personagem, e a história de como escrever um
livro com uma personagem e fatos ralos. A partir da leitura do excerto e da obra, assinale a
c) A mais ostensiva marca de existência de Maca- alternativa incorreta.
béa é ser uma explícita negação: nem bonita, a) Diferentemente de Macabéa, Olímpico não assume
nem culta, nem inteligente, nem inteligente, sua incapacidade de falar sobre sua vida interior,
nem independente financeiramente, nem ligada mas, igualmente à sua conterrânea, também não
amorosamente a um homem que a conduzisse consegue se expressar.
e a amparasse, Macabéa percorre o romance b) Nos questionamentos de Macabéa e Olímpico,
acumulando camadas narrativas dessa negação. as respostas não conseguem se coadunar com
Enfim, “era incompetente para a vida”. as perguntas, levando cada um para o seu lado,
d) Ao narrar as “fracas aventuras” da personagem, isolando-os progressivamente.
Rodrigo S. M. fala de si mesmo, transformando-se, c) O questionamento de Macabéa sobre o significado
portanto, também em personagem do texto. Te- de palavras vai de encontro à experiência fictícia
mos, então, a personagem narrada em 3a pessoa de Rodrigo S.M. de escrever a história, já que ele
e um escritor-narrador-personagem. se posiciona como um narrador seguro e hábil com
e) Olímpico, Glória e Carlota revelam um traço co- as palavras.
mum com Macabéa: são personagens que não d) O relacionamento de Macabéa e Olímpico está, em
apresentam superioridade discursiva, o que invia- grande parte, baseado no poder e no efeito das
biliza a integração de todos na cultura urbana. palavras que eles não conhecem. Um dos proble-
587. UFRGS-RS mas é a inabilidade dele em perceber o esforço de
Assinale com (V) verdadeiro ou (F) falso as afirmações Macabéa para dizer algo bonito e interessante.
a seguir, referentes ao romance A hora da estrela, de e) Ao perguntar a Olímpico o significado de palavras
Clarice Lispector. muitas ouvidas na Rádio Relógio, sem saber,
( ) Embora o título principal do romance seja A hora Macabéa desafia a competência lingüística dele e,
da estrela, a autora propõe uma série de títulos conseqüentemente, enfurece-o.
alternativos.
589.
( ) Clarice evidencia preocupações incomuns em
sua obra, como a reflexão sobre a linguagem e a Observe as afirmações abaixo.
busca do sentido secreto que se esconde por trás I. O enredo deste conto remete à idéia de que a
do aparentemente visível. aquisição da civilidade pode ocorrer a qualquer
( ) Antes de iniciar o relato da história de Macabéa, o momento.
narrador faz comentários sobre as dificuldades ine- II. Este conto problematiza a acumulação de bens
rentes ao ato de escrever e sobre o seu receio quanto apresentando a possibilidade do despojamento
ao destino da personagem que está criando. material.
III. Estudo de psicologia social, este conto comenta o
( ) A narração do romance é feita por três vozes dis-
comportamento coletivo.
tintas: a de Rodrigo S. M., a de Macabéa e a de
IV. A narração da última cavalgada do protagonista
Olímpico.
assemelha-se a uma paródia das novelas de
( ) Uma das distrações de Macabéa, durante a ma- cavalaria medieval.
drugada, é ligar o radinho emprestado por uma V. Análise metalingüística sobre o processo de cria-
colega de quarto e sintonizar a Rádio Relógio, que ção artística, incluindo-se aí o papel importante do
assinala com um tique-taque cada minuto. improviso.
A seqüência correta de preenchimento dos parênteses, Os comentários acima correspondem, respectivamen-
de cima para baixo, é: te, aos seguintes contos de Primeiras estórias, de
a) V – F – V – F – V Guimarães Rosa:
b) V – V – F – F – V a) Os irmãos Dagobé, Nada e nossa condição, Da-
c) F – V – F – V – F randina, Tarantão, meu patrão e Pirlimpsiquice
d) V – F – F – F – V b) A menina de lá, Substância, A terceira margem do
e) F – F – V – V – F rio, Os cimos e A partida do audaz navegante
298
c) Luas-de-mel, As margens da alegria, Fatalidade, 593. PUC-RS
Seqüência e Pirlimpsiquice Entre a paisagem
d) Os irmãos Dagobé, A benfazeja, Sorôco, sua mãe, o rio fluía
sua filha, Tarantão, meu patrão e Famigerado como uma espada de líquido espesso;
e) Famigerado, Nada e nossa condição, O cavalo como um cão
que bebia cerveja, O espelho e Um moço muito humilde e espesso.
branco Entre a paisagem
(fluía)
590. UEBA de homens plantados na lama;
Leia atentamente os trechos abaixo. de casas de lama
I. Poeta modernista da 3ª geração, criou uma “poesia plantadas em ilhas
substantiva” em que da palavra se retiram os resí- coaguladas na lama;
duos sentimentais. É autor do antológico poema paisagem de anfíbios
Morte e vida severina. de lama e lama
II. Ficcionista da geração de 45 do Modernismo bra- Como demonstram as estrofes anteriores, é no livro O
sileiro, criou uma obra com timbre personalíssimo cão sem plumas que João Cabral de Melo Neto inicia
em que se destacam o uso intensivo da metáfora a temática centrada no:
insólita, a entrega ao fluxo da consciência e a rup- a) social.
tura com o enredo factual. Entre tantos, escreveu b) eu.
Laços de família. c) poético.
Estamos falando, respectivamente, de: d) objeto.
a) João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector. e) despojamento.
b) Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meire-
les. 594. UFPE
c) Murilo Mendes e Rachel de Queiroz. O cão sem plumas é um poema de João Cabral de
d) Jorge de Lima e Lígia Fagundes Telles. Melo Neto que pode ser lido como uma denúncia da
e) Vinícius de Moraes e Adélia Prado. degradação do rio Capibaribe, provocada pela poluição
ambiental. Considere correta(s) a(s) proposição(ões)
591. PUC-RS na(s) qual(is) se transcrevem versos do poema onde
Entre a paisagem / (fluía) / de homens plantados essa denúncia é evidente; caso contrário, considere
na lama; / de casas de lama / plantadas em ilhas a(s) proposição (ões) errada(s):
/ coaguladas na lama; / paisagem de anfíbios / de ( ) “A cidade é passada pelo rio como uma rua é
lama e lama. / Como o rio, / aqueles homens / são passada por um cachorro”.
como cães sem plumas. / Um cão sem plumas / é ( ) “Aquele rio nada sabia da água do copo de
mais / que um cão saqueado; / é mais que um cão água”.
assassinado. ( ) “Aquele rio jamais se abre aos peixes”
As estrofes acima são exemplos do traço de ...... e
( ) [O rio tinha] “Algo da estagnação dos palácios ca-
de ...... que existe no poema de João Cabral de Melo
riados, comidos de mofo e erva-de-passarinho”.
Neto.
( ) [Aquele rio] “abre-se em flores pobres e negras”.
a) rebeldia – ódio pela sociedade
b) melancolia – indiferença pelo mundo 595. PUC-RS
c) ternura – paixão pela existência O lápis, o esquadro, o papel;
d) compaixão – solidariedade ao homem o desenho, o projeto, o número:
e) saudade – medo do quotidiano o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.
592. Mackenzie-SP A estrofe acima ilustra a assertiva de que a poesia
de João Cabral de Melo Neto revela um rigor ... e a
Leia as afirmações abaixo a respeito da obra de João
preocupação com o ....
Cabral de Melo Neto:
a) técnico – problema social
I. A Espanha e suas paisagens ocupam parte impor-
b) semântico – fazer poético
tante de sua poesia.
c) estilístico – ambiente regional
II. Apresenta preocupação com a estética e a arqui-
d) formal – momento político
tetura da poesia.
e) métrico – conflito estético
III. A própria arte e suas várias manifestações apare-
cem como tema constante em seus poemas. 596. UFSCar-SP
Assinale:
a) se todas são corretas. O sertanejo falando
b) se apenas II e III são corretas. A fala a nível do sertanejo engana:
c) se apenas I e III são corretas. as palavras dele vêm, como rebuçadas
PV2D-07-54

d) se apenas I e II são corretas. (palavras confeito, pílula), na glace


e) se nenhuma é correta. de uma entonação lisa, de adocicada.
299
Enquanto que sob ela, dura e endurece 598. UEL-PR
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea, A recorrência temática verificada nos textos e nas ima-
dessa árvore pedrenta (o sertanejo) gens destaca mazelas presentes no cenário social brasi-
incapaz de não se expressar em pedra. leiro. Sobre o tema, considere as afirmativas a seguir.
I. No poema Morte e vida severina, a descrição do
Daí porque o sertanejo fala pouco: biótipo próprio aos “Severinos” remete para uma
as palavras de pedra ulceram a boca outra forma de morte: a negação da existência
e no idioma pedra se fala doloroso; pela privação das condições materiais, a morte
o natural desse idioma fala à força. severina.
Daí também porque ele fala devagar: II. Na pintura Os retirantes, Portinari aborda a miséria
tem de pegar as palavras com cuidado, a partir de um foco diferenciado, que situa os indi-
confeitá-las na língua, rebuçá-las; víduos como sujeitos ativos de suas histórias.
pois toma tempo todo esse trabalho. III. Em Graciliano Ramos, o abraço dos esfarrapados
João Cabral de Melo Neto. A educação pela pedra. revela a inquietação dos que ousam superar o
Nova Fronteira, 1996, p. 16. pavor e temem retornar ao estado de prostração
Esse poema consta na primeira parte de A educação anterior.
pela pedra, considerada pelo autor sua obra máxima. IV. A fotografia de Sebastião Salgado contextualiza as
Depois de uma leitura atenta, responda: mudanças observadas na paisagem nordestina,
a) Qual o contraste entre a busca da palavra e o re- decisivas para conter o fluxo migratório.
sultado de sua execução na boca do sertanejo? Estão corretas apenas as afirmativas:
b) A que se refere, no texto, a palavra ela, no primeiro a) I e III.
verso da segunda estrofe? Justifique sua respos-
b) I e IV.
ta.
c) II e III.
d) I, II e IV.
597. UFPE
e) II, III e IV.
Correlacione os autores abaixo com trechos de algu-
mas de suas obras, apresentados a seguir.
599. Fuvest-SP
1. Gilberto Freyre
– Finado Severino,
2. Ariano Suassuna quando passares em Jordão
3. João Cabral de Melo Neto e os demônios te atalharem
4. Carlos Drummond de Andrade perguntando o que é que levas...
( ) Essa cova em que estás / Com palmos medida, (...)
É a conta menor / que tiraste em vida. – Dize que levas somente
É de bom tamanho / nem largo nem fundo, coisas de não:
É a parte que te cabe/ deste latifúndio. fome, sede, privação.
( ) E agora José? / A festa acabou, As “coisas de sim” estão, correspondentemente, em:
A luz apagou, / o povo sumiu, a) vacuidade – repleção – carência.
A noite esfriou, / e agora José? b) fartura – carência – vacuidade.
( ) A singular predisposição do português para a c) repleção – carência – saciedade.
colonização híbrida e escravocrata dos trópicos
d) satisfação – saciedade – fartura.
explica em grande parte o seu passado étnico,
ou antes, cultural, de povo indefinido entre Eu- e) vacuidade – fartura – repleção.
ropa e África. A influência africana fervendo sob
a européia dá um acre requeime à vida sexual, 600. UFMG
à alimentação, à religião. A indecisão étnica e Sobre o adjetivo severina, da expressão Morte e vida
cultural entre a Europa e a África parece ter sido severina que intitula a peça de João Cabral de Melo
a mesma em Portugal como em outros trechos Neto, todas as afirmativas estão certas, exceto:
da península. a) Refere-se aos migrantes nordestinos que, revolta-
( ) Chicó: Que latomia é essa para o meu lado? dos, lutam contra o sistema latifundiário que oprime
Você quer me agourar? o camponês.
João Grilo: (erguendo-se) Ah, e você está vivo? b) Pode ser sinônimo de vida árida, estéril, carente
Chicó: Estou, que é que você está pensando? de bens materiais e de afetividade.
Não é besta não? c) Designa a vida e a morte dos retirantes que a seca
escorraça do sertão e o latifúndio escorraça da
A seqüência correta é:
terra.
a) 1, 2, 3, 4
d) Qualifica a existência negada, a vida daqueles
b) 3, 2, 4, 1 seres marginalizados determinada pela morte.
c) 4, 2, 1, 3 e) Dá nome à vida de homens anônimos, que se
d) 1, 3, 2, 4 repetem física e espiritualmente, sem condições
e) 3, 4, 1, 2 concretas de mudança.

300
601. Fuvest-SP a) Explique o porquê das adjetivações “de natal” e
É correto afirmar que, em Morte e vida severina: “pernambucano”, contidas no subtítulo, conside-
a) a alternância das falas de ricos e de pobres, em rando o enredo da peça.
contraste, imprime à dinâmica geral do poema o b) Qual é o sentido do adjetivo “severina” aplicado à
ritmo da luta de classes. “morte e vida”?
b) a visão do mar aberto, quando Severino finalmente c) Comumente usa-se a expressão “vida e morte”;
chega ao Recife, representa para o retirante a no título da peça de João Cabral, entretanto, a
primeira afirmação da vida contra a morte. seqüência é “morte e vida”. Explique o porquê
c) o caráter de afirmação da vida, apesar de toda a dessa inversão.
miséria, comprova-se pela ausência da idéia de
suicídio. 604. Fuvest-SP
d) as falas finais do retirante, após o nascimento de Em A hora da estrela, o narrador apresenta a seguinte
seu filho, configuram o momento afirmativo, por reflexão: Pois na hora da morte a pessoa se torna
excelência, do poema. brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de
cada um e é quando como no canto coral se ouvem
e) a viagem do retirante, que atravessa ambientes
agudos sibilantes.
menos e mais hostis, mostra-lhe que a miséria é a
Com base nela, responda às questões abaixo.
mesma, apesar dessas variações do meio físico.
a) Por que o romance tem o título de A hora da es-
602. Fuvest-SP trela?
Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão b) Por que é irônica a relação entre o título e a história
de que vida incomoda bastante, alma que não cabe de Macabéa?
bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imagina-
vazinha, toda supersticiosa, que se por acaso viesse 605. Fuvest-SP
alguma vez a sentir um gosto bem bom de viver – se Leia com atenção os seguintes versos de João Cabral
desencantaria de súbito de princesa que era e se de Melo Neto em Morte e vida severina.
transformaria em bicho rasteiro.
– E belo porque com o novo
a) Descreva o recurso poético utilizado pela autora todo o velho contagia.
em imaginavazinha, forma que escapa à gramá- Belo porque corrompe
tica da língua. com sangue novo a anemia.
b) Justifique o uso de imaginavazinha, utilizando Infecciona a miséria
dados do contexto em que se acha e consideran- com a vida nova e sadia.
do também a posição do narrador em relação à Com oásis, o deserto,
personagem central, em A hora da estrela. com ventos, a calmaria.
603. Unicamp-SP a) Contextualize esses versos no poema de João
Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, Cabral, indicando o evento a que se referem e a
traz como subtítulo “auto de natal pernambucano”. Sa- relação desse evento com a fala final de Seu José
bendo-se que a palavra auto “designa toda peça breve, ao retirante.
de tema religioso ou profano, em circulação durante a b) Que valor deu o poeta aos verbos contagiar,
Idade Média” (Massaud Moisés, Dicionário de Termos corromper e infeccionar no contexto da estrofe
Literários), responda às questões a seguir. transcrita? Explique.

Capítulo 6
606. UFPR 607. ITA-SP
O Concretismo brasileiro apóia-se, principalmente, Decretando o fim do verso e abolindo (a) (o) ..., esses
numa estrutura dinâmica “verbivocovisual”. Assinale vanguardistas procuram elaborar novas formas de
a alternativa que não corresponde às características comunicação poética em que predomine o aspecto
material do signo, de acordo com as transformações
dessa estrutura.
ocorridas na vida moderna. Neste sentido (a) (o)…,
a) Estruturação ótico-sonora funcional explora basicamente (a) (o) ..., jogando com formas,
b) As palavras tornam-se polivalentes, estabelecendo cores, decomposição e montagem das palavras etc.,
novas formas de inter-relacionamento criando estruturas que se relacionam visualmente.
a) sintaxe tradicional – concretismo – significante
c) A estrutura globalizante gera um significado
b) metrificação – poesia-práxis – significado
d) Preferência pelo verso regular ímpar e musical
c) lirismo – poema-processo – concreto
e) Apesar de sua existência múltipla, apresenta d) versificação – neoconcretismo – sonoridade
unidade e) sintaxe – bossa-nova – ritmo
PV2D-07-54

301
608. FCMSC-SP I. ( )
Sobre o Concretismo, está errado afirmar que: Nasce o sol, e não dura mais que um dia;
a) baseou-se, em sua formulação teórica, nos ensi- Depois da luz se segue a noite escura;
namentos de Mallarmé, Pound e Joyce. Em tristes sombras morre a formosura,
b) teria semelhanças, ou seria comparável ao Em contínuas tristezas a alegria.
movimento denominado Pau-Brasil, de 30 anos II. ( )
antes. Escutai-me, leitor, a minha história
c) a brevidade e a concisão de seus poemas retomam É fantasia sim, porém amei-a.
a linha evolutiva do poema-minuto, de Oswald de Sonhei-a em sua palidez marmórea,
Andrade, na década de 20.
Como a ninfa seios nus... Não sonho glória,
d) Mário de Andrade foi figura poética de proa e líder Escrevi porque a alma tinha cheia
do movimento.
Numa insônia que o spleen entristecia
e) indiscutivelmente poético, esse movimento, se não
De vibrações convulsas de ironia!
atingiu a prosa, pelo menos influenciou a música
e a pintura. III. ( )
Assim eu quereria o meu último poema
609. FCC-SP Que fosse terno dizendo as coisas mais simples
… a composição de elementos básicos de linguagem e menos
organizados ótico-acusticamente no espaço gráfico [intencionais
por fatores de proximidade e semelhança, como uma Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
espécie de ideologia para uma dada emoção, visando Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
à apresentação direta – presentificação – do objeto. A pureza das chamas em que se consomem os
Um poeta identificado com a filosofia desse movimento diamantes
estético é: [mais límpidos
a) João Cabral de Melo Neto. A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
b) Paulo Mendes Campos. IV. ( )
c) Décio Pignatari. Pelas regiões tenuíssimas da bruma
d) Geir Campos. vagam as Virgens e as Estrelas raras...
Como o leve aroma das searas
610.
todo o horizonte em derredor perfuma.
Considere o texto: V. ( )
Posições do corpo um corpo cai morto
Sob o azul um morto cai corpo
sobre o azul
um cai morto
subazul
um corpo cai
subsol
subsolo um morto um
Cassiano Ricardo morto corpo
Todas as características que se seguem encontram-se um cai
no poema acima, exceto: corpo
a) o aproveitamento do espaço concreto, em que a morto
palavra se dimensiona visualmente.
b) a presença de sintaxe antidiscursiva, suprimindo 612. FCMSC-SP
os elementos de ligação tradicionais da frase. Forma
c) incorporação de temas e formas do folclore, numa Reforma
aproximação com ufanismo romântico. Disforma
Transforma
d) tendência à criação vocabular, à sintaxe apurada
Conforma
e à maior concisão de linguagem.
Informa
e) técnica da repetição, como elemento decisivo para
Forma
a fixação da mensagem nuclear do poema.
Esse poema de José Lino Grünewald é escrito dentro
611. Unimep-SP dos princípios do Concretismo, movimento poético
Observando a linguagem e as idéias, relacione os brasileiro da década de 50, neste século XX. No
Concretismo:
textos às corretes literárias.
I. a poesia não fica apenas no âmbito do consumo
a) Simbolismo auditivo.
b) Modernismo II. à noção de poesia se incorpora um novo elemento:
c) Romantismo o visual.
d) Concretismo III. o apelo à comunicação não-verbal exerce papel
e) Barroco fundamental.
302
Escreveu-se corretamente em: Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema,
a) I e II apenas. é correto afirmar que são neoconcretistas apenas as
b) I e III apenas. imagens:
c) II e III apenas. a) I e II.
d) I, II e III. b) I e III.
e) nenhuma das frases. c) II e IV.
d) I, II e IV.
613. Vunesp e) II, III e IV.
Por que é então que este livro
tão longamente é enviado 615. UEL-PR
a quem faz uma poesia Leia a estrofe inicial, transcrita abaixo, do poema A
de distinta liga de aço? bomba suja, de Ferreira Gullar.
Envio-o ao leitor contra, Introduzo na poesia
Enviou-o ao leitor maugrado a palavra diarréia.
e intolerante, o que Pound Não pela palavra fria
diz de todos o mais grato; mas pelo que ela semeia.
àquele que me sabendo GULLAR, Ferreira. Toda Poesia.
não poder ser de seu lado, É correto afirmar que nesse poema se encontra:
soube ler com acuidade
a) o intuito de correlacionar aspectos estéticos com
poetas revolucionados.
elementos comumente considerados pouco líricos,
O trecho faz parte do poema-dedicatória A Augusto de o que se faz presente também na obra de João
Campos (Agrestes, 1985). O poeta, autor também de Cabral de Melo Neto.
Auto do Frade, Museu de tudo, A escola das facas, A b) o gosto pelo escândalo, através da supervaloriza-
educação pela pedra etc., refere-se a Augusto de Cam- ção de elementos lexicais que causam impacto ao
pos como leitor ideal e alude à corrente poética a que romper com a tradição da versificação em língua
este pertence. O autor do trecho e a corrente poética portuguesa.
desse virtual leitor são, respectivamente:
c) o primeiro momento na poesia brasileira em que se
a) Ferreira Gullar e Concretismo. recorre a termos ou a idéias considerados pouco
b) Haroldo de Campos e Neoconcretismo. líricos.
c) Caetano Veloso e Tropicalismo. d) uma forte influência parnasiana, que se traduz na ex-
d) João Cabral de Melo Neto e Concretismo. pressão “palavra fria”, tão utilizada por Olavo Bilac.
e) Carlos Drummond de Andrade e “geração de e) uma preocupação metalingüística incomum na
45”. geração à qual pertence Ferreira Gullar.

614. UEL-PR 616. UFSM-RS


O movimento neoconcreto, no Brasil, surge em 1959, a Vestibular
partir do manifesto escrito por Ferreira Gullar. Algumas Paulo Roberto Parreiras
de suas características são o distanciamento da arte desapareceu de casa.
figurativa e a aproximação com o geométrico, inclusive Trajava calças cinza e camisa branca
buscando o rompimento entre o espaço vivencial e o e tinha dezesseis anos.
da obra. Analise as imagens a seguir. Parecia com teu filho, teu irmão,
teu sobrinho, parecia
com o filho do vizinho
mas não era. Era Paulo
Roberto Parreiras
que não passou no vestibular.

Recebeu a notícia quinta-feira à tarde,


ficou triste
e sumiu.
De vergonha? de raiva?
GULLAR, Ferreira. Dentro da noite veloz.
Assinale (F) falso ou (V) verdadeiro para as afirmações
abaixo. Após o preenchimento, assinale a alternativa
que corresponde à opção correta.
( ) Vestibular, pelo seu estilo despojado, pela ausên-
cia de metro e rima, enquadra-se numa concepção
poética moderna.
( ) A ausência de uma linguagem figurada, de re-
PV2D-07-54

cursos métricos e rítmicos retira de Vestibular as


características de um texto poemático.

303
( ) A poesia está nos fatos (Oswald de Andrade, em 619. Unitau-SP
Poesia Pau-Brasil); o aspecto poético presente em Segundo o poeta Mário Chamie, o movimento poético
Vestibular encontra-se na angústia e na preocupa- que opõe à palavra-coisa, do concretismo, a palavra-
ção geradas por um fato corriqueiro. energia, que não considera o poema como um objeto
( ) O emprego do pronome possessivo “teu” em vez de estático e fechado e, sim, como um produto dinâmico
“seu” denota uma proximidade entre autor e leitor. passível de transformação pela influência ou manipu-
( ) Vestibular é um poema narrativo, marcado por lação do leitor, é:
simplicidade e coloquialidade. a) o hermetismo.
a) V – F – V – F – V d) V – V – V – F – V b) o cubismo.
b) V – F – V – V – V e) F – V – V – F – F c) o simbolismo.
c) V – F – F – V – V d) o dadaísmo.
e) a poesia-práxis.
Texto para as questões 617 e 618.
Meu povo, meu poema 620. UFPR
Meu povo e meu poema crescem juntos O poema que se segue integra o volume intitulado
como cresce no fruto Muitas vozes, publicado por Ferreira Gullar no ano
a árvore nova de 1999.
Ouvindo apenas
No povo meu poema vai nascendo
e gato e passarinho
como no canavial
e gato
nasce verde o açúcar
e passarinho (na manhã
veloz
No povo meu poema está maduro
e azul
como o sol
de ventania e ar
na garganta do futuro
vores
Meu povo em meu poema voando)
se reflete e cão
como a espiga se funde em terra fértil latindo e gato e passarinho
(só
Ao povo seu poema aqui devolvo rumores
menos como quem canta de cão
do que planta e gato
Ferreira Gullar e passarinho
ouço
617. Cesgranrio-RJ
deitado
Assinale a opção que contém a idéia central da primeira no quarto
estrofe do poema de Ferreira Gullar.
às dez da manhã
a) O poema, por meio do povo, se solidifica para o de um novembro
futuro. no Brasil)
b) A poesia atinge sua função social plena.
Acerca do poema acima reproduzido, considere as
c) A visão do futuro vai-se potencializar pela união seguintes afirmativas:
entre povo e poema.
I. No plano da linguagem poética, pelo menos um dos
d) O poema é o alimento do povo que o conduz ao procedimentos empregados pelo autor em Muitas
crescimento. vozes encontra-se exemplificado em “Ouvindo
e) A essência do povo e a realização da forma poética apenas”: o texto espacializado (a linguagem de
estão dissociadas. base visual).
618. Cesgranrio-RJ II. O sujeito lírico de “Ouvindo apenas” mantém-se
desligado do mundo objetivo, mostrando-se in-
Muitas vezes, em um mesmo poema, encontram-se
sensível a estímulos físicos.
traços que se repetem em outras estéticas literárias,
III. O emprego de quadras e tercetos isométricos
como se percebe no texto, de Ferreira Gullar.
associa “Ouvindo apenas” ao modelo estrutural
Assinale o que não se encontra nesse texto.
do soneto.
a) Dualismo e antíteses, como no Barroco.
IV. O poema justapõe dois registros da realidade: fora
b) Valorização de elementos da natureza, como no dos parênteses, os elementos da realidade são
Romantismo. relacionados de forma objetiva; dentro dos parên-
c) Inversão sintática, herança dos poetas latinos, teses, fica evidenciada a atuação do componente
como no Parnasianismo. subjetivo.
d) Presença da metáfora e das cores, como no Sim- V. Embora use recursos do fazer poético concretista,
bolismo. Ferreira Gullar harmoniza a ousadia formal com a
e) Uso do verso livre, como no Modernismo. representação da emoção.
304
Assinale a alternativa correta. 623. UFES
a) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras. Na poesia concreta, ocorrem a distribuição dos itens
b) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadei- lexicais na ordem sintática, a ausência de integração
ras. entre as frases, o corte no interior das palavras, a inten-
c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. sificação do uso de repetições sonoras, a abolição do
d) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras. verso, a não-linearidade, o uso construtivo dos espaços
e) Somente as afirmativas II, IV e V são verdadeiras. em branco, entre outros recursos e procedimentos,
constituindo uma constelação de significados.
621. PUC-PR
Leia o poema a seguir:

o bicho alfabeto
tem vinte e três patas
ou quase

por onde ele passa


nascem palavras
e frases

com frases
se fazem asas
palavras
o vento leve

o bicho alfabeto
passa No poema acima, dada a ausência de conectores e de
fica o que não se escreve sinais de pontuação, comente como se estabelecem
Paulo Leminski os nexos de coerência, relacione-os ao efeito visual e,
Identifique a alternativa correta. a partir disso, desenvolva uma interpretação.
a) A metalinguagem, presente no poema transcrito, é
624. Vunesp
um recurso exclusivo da poesia contemporânea.
Sabemos que a poesia concreta adota, entre outros
b) Aproximando o alfabeto a um ser capaz de se
movimentar o poeta favorece a idéia central do procedimentos, a valorização do poema no espaço
poema: tudo o que tem a ver com palavras está branco da página. Com apoio das artes gráficas, os
sujeito a mudanças. textos ganham em expressividade visual. Baseado
c) Paulo Leminski, representante da poesia margi- neste comentário, releia o poema de Arnaldo Antunes,
nal, enfatiza no poema a inutilidade da palavra como foi originalmente editado na figura adiante, e
escrita. reponda ao que se pede.
d) Ao apresentar o alfabeto como um bicho com nú-
mero ímpar de patas, Leminski cria a idéia de um
desequilíbrio que prejudica a expressão poética.
e) A ausência de metáforas e de rimas é característica
não apenas do poema citado, mas de toda a obra
de Paulo Leminski.

622. PUC-SP
beba coca cola
babe cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
cloaca
Décio Pignatari

Alfredo Bosi afirma que, no contexto da poesia brasilei-


ra, o Concretismo afirmou-se como antítese à vertente ANTUNES, Arnaldo. Tudos. 3ª ed. São Paulo: Iluminuras, 1993.
intimista e estetizante dos anos 40 e repropôs lemas,
formas e, não raro, atitudes peculiares ao Modernismo a) Em que sentido esse texto poderia se enquadrar
de 1922 em sua fase mais polêmica e mais aderente nos parâmetros da poesia concreta?
PV2D-07-54

às vanguardas européias. Leia atentamente o poema b) Justifique sua resposta fazendo uma descrição de,
acima a aponte as características da poesia concreta pelo menos, um procedimento gráfico expressivo
presentes nele. na construção do poema.
305
Texto para as questões 625 e 626. O princípio elaborado por Lavoisier diz que: na nature-
Poética de Anchieta za nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Anchieta escrevia na areia, O que teria levado Carlos de Oliveira a dar a esse
E a maré levava... poema o título de Lavoisier?
Anchieta escrevia na areia, Texto para as questões 628 e 629.
E a maré levava... Samba da caixa preta
(da série Poesia numa hora dessas?)
O bom jesuíta havia assim criado Nosso amor explodiu no ar
uma espécie de antecipação e foi destroço pra tudo que é
do computador ...
lado.
Zuca Sardanga
Recuperaram aquele colar
e um bilhete chamuscado
625. Mackenzie-SP dizendo “não tente me achar,
Assinale a alternativa correta. entre nós está tudo acabado.”
a) No poema, valoriza-se a obra do jesuíta pelo fato E dentro da caixa preta
de, já no século XVI, Anchieta ter inventado uma o meu coração a pulsar.
técnica que seria utilizada somente no século Oi, a pulsar.
XX. Luís Fernando Veríssimo
b) O poema deixa evidente que não há diferenças 628. Mackenzie-SP
entre “escrever na areia” e “escrever no computa-
O texto:
dor”, já que os registros serão sempre apagados
da memória histórica. a) sugere que, mesmo após o término, tenham res-
tado marcas de um relacionamento amoroso.
c) Explicita-se, no texto, o seguinte aspecto da
manifestação artística: as qualidades literárias de b) expõe a contradição entre as fases de conflito (Nosso
um autor dependem, essencialmente, do suporte amor explodiu no ar) e aquelas de perfeita harmonia
utilizado. entre os amantes (o meu coração a pulsar).
d) No texto está subentendida a idéia de efemeridade c) atribui às freqüentes ações de terroristas a impos-
do registro gráfico, dada a facilidade com que se sibilidade do amor nos dias atuais.
podem “perder” os textos. d) refere-se, por meio do verbo “explodir”, ao momen-
e) Ao evidenciar a inutilidade da produção jesuítica to em que um amor desabrochou, e, em seguida,
no verso E a maré levava..., o texto desqualifica o narra o seu desfecho trágico.
teor poético da obra de Anchieta. e) denota o sarcasmo do “eu” em face da perda da
mulher amada em um acidente aéreo.
626. Mackenzie-SP
A primeira estrofe do poema recupera, da tradição 629. Mackenzie-SP
poética medieval, o seguinte traço: É correto afirmar que o Samba da caixa preta:
a) a idealização da natureza, presente nas cantigas a) minimiza a intensidade da ruptura amorosa por
de amor. meio da exploração de imagens que transmitem
b) a progressão textual lógico-argumentativa, típica tranqüilidade.
das cantigas de amigo. b) se apropria de traços de letras de samba, princi-
c) o vocabulário erudito das novelas de cavalaria. palmente pelo uso de Oi, expressão comum em
performances musicais desse gênero.
d) a ironia corrosiva das cantigas de maldizer.
c) apresenta subtítulo que reflete a adequação do
e) o ritmo cantante da métrica popular, presente nos
tipo de texto à situação em que foi produzido.
cancioneiros.
d) comprova, por meio do trecho entre aspas, que o
627. Unicamp-SP ser amado já havia tentado escapar do eu lírico
Leia com atenção o poema de Carlos de Oliveira e muitas vezes.
responda às questões que se seguem. e) confere maior destaque às características das
personagens e dos espaços do que às da situação
Lavoisier
em foco.
Na poesia,
natureza variável 630. UFES
das palavras, O chamado palavrão (“palavra grosseira e/ou obscena”),
nada se perde quando usado em textos literários, pode produzir diver-
ou cria, sos efeitos no leitor, da rejeição à surpresa, do asco ao
tudo se transforma: humor, do desprezo à reflexão, e até mesmo uma certa
cada poema, indiferença, dado o desgaste provocado pelo seu uso
no seu perfil cada vez mais indiscriminado na vida cotidiana.
incerto Explique que diferenças, ou semelhanças, há no uso
e caligráfico, do palavrão nos textos abaixo, de Gregório de Matos
já sonha (Define a sua cidade) e de Rubem Fonseca (Intestino
outra forma. grosso).
306
“Se de dous ff composta está a nossa Bahia, errada a b) adequado às intenções de crítica e de denúncia
ortografia, a grande dano está posta: eu quero fazer do mundo contemporâneo.
aposta e quero um tostão perder, que isso a há de c) inadequado para abordar o tema romântico do exí-
perverter, se o furtar e o foder bem não são os ff que lio de uma perspectiva crítica e contemporânea.
tem esta cidade ao meu ver.” d) aceitável por se tratar de texto literário, mas ina-
“Você não acha que a pornografia falada está desa- dequado à intenção jornalística do autor.
parecendo? Nos campos de futebol coros de meninas
e) inadequado porque os escritores brasileiros
entoam esportivamente canções como esta, que ouvi
contemporâneo não falam nem escrevem dessa
domingo: Um, dois, três, / quatro, cinco, mil. / Eu quero
maneira.
que o Flu / vá pra puta que o pariu. Ambas as palavras,
puta e pariu, derivam do palavrão-chave, que é foder. 634. FCMSC-SP
É evidente que, no caso, as palavras estão tendo um
Obras de Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Clarice Lis-
efeito catártico, de alívio de tensões e pressões.”
pector e Lygia Fagundes Telles atestam o fato de que:
631. a) a linguagem (desagregadora) e a visão do mundo
(reivindicatória, anárquica) dos modernistas de
Relacione as obras abaixo com seus respectivos primeira geração constituem a fonte primeira de
autores. inspiração dos contistas contemporâneos.
I Quarup ( ) Fernando Gabeira b) a poesia de caráter social e reivindicatória tem
II. O que é isso, companheiro? ( ) Lygia Fagundes caracterizado a criação literária dos autores mo-
Teles dernos.
III. O vampiro de Curitiba ( ) Dalton Trevisan c) estilos muito semelhantes, com traços de neo-
IV. Feliz ano velho ( ) Antônio Callado romantismo, dominam a criação literária contem-
V. As meninas ( ) Marcelo Rubens porânea.
Paiva d) o conto, de tendências diversas (de denúncia
a) I, II, III, V, IV. d) II, V, III, I, IV. social, intimista, de especulação da existência),
b) V, IV, III, II, I. e) IV, V, II, I, III. tem sido uma constante da produção literária
contemporânea.
c) III, V, I, IV, II.
e) romances politicamente comprometidos, neonatu-
632. ralistas, de denúncia das mazelas da sociedade,
O Paraná também apresenta autores de renome na- constituem o aspecto mais importante da literatura
cional e internacional. Dentre esses, há um contista da geração de 1930.
conhecido em vários países do mundo, em cujas
635. FGV-SP
línguas foram traduzidas obras de sua autoria como O
vampiro de Curitiba, Cemitério de elefantes e Novelas Observe o trecho a seguir, retirado de Cemitério de
nada exemplares. elefantes, de Dalton Trevisan.
Essa consideração inicial associa-se a: Há um cemitério de bêbados na minha cidade.
Nos fundos do mercado de peixe e à margem do
a) Paulo Leminski.
rio ergue-se o velho ingazeiro – ali os bêbados são
b) Cristóvão Tezza. felizes. A população considera os animais sagrados,
c) Emiliano Perneta. provê as suas necessidades de cachaça e peixe com
d) Dalton Trevisan. pirão de farinha.
e) Emílio de Meneses. No trivial, contentam-se com as sobras do mer-
cado.
633. UFR-RJ Quando ronca a barriga, ao ponto de perturbar-lhes
Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres a sesta, saem do abrigo e, arrastando os pesados pés,
amanhecem emborcados pra atrapalhar os jogos. Tem atiram-se à luta pela vida. Enterram-se no mangue até
uma pedrinha cor-de-bife que faz “tuim” na cabeça da os joelhos na caça ao caranguejo ou, tromba vermelha
gente. Tem também muros de bloco (sem pintura, é no ar, espiam a queda dos ingás maduros.
claro, que tinta é a maior frescura quando falta mistura), Elefantes mal feridos coçam perebas, sem ne-
onde pousam cacos de vidro pra espantar malaco. nhuma queixa, escarrapachados sobre as raízes
Minha terra tem HK, AR15, M21, 45 e 38 (na minha que servem de cama e cadeira, a beber e beliscar
terra, 32 é uma piada). As sirenes que aqui apitam pedacinho de peixe.
apitam de repente e sem hora marcada. Elas não são A respeito desse trecho, assinale a alternativa correta.
mais das fábricas, que fecharam. São mesmo é dos a) O tratamento dado ao tema é sarcástico e até
camburões, que vêm fazer aleijados, trazer tranqüili- satírico.
dade e aflição. b) Os pormenores da descrição são índices da revolta
BONASSI, Fernando. “15 cenas de descobrimento de Brasis”. In: das personagens.
MORICONI, Ítalo (org). Os cem melhores contos brasileiros do século.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 607. c) O tema caracteriza o texto como um conto policial.
Sobre o uso do nível de linguagem empregado no texto, d) O texto trata de um fato do cotidiano narrado com
PV2D-07-54

é correto afirmar que é: traços do Neo-realismo.


a) inaceitável, por ser tratar de um texto literário, cujo e) No fragmento, predomina um narrador na primeira
nível de linguagem exigido é o culto. pessoa.
307
Texto para as questões de 636 a 640. 638.
– Vem, Dudu! De acordo com o texto considere as seguintes afir-
O cachorrinho não ia. Dona Casemira preparava mações.
a comida do cachorrinho e levava até ele. I. O autor vale-se, basicamente, de três espaços
– Está com fome, Dudu? distintos no desenvolvimento da narrativa.
Dona Casemira botava o prato de comida na frente II. O tempo da narrativa não está organizado de modo
do cachorrinho. linear.
– Come tudo, viu, Dudu? III. As repetições de palavras intentam um efeito de
Dona Casemira passava o dia inteiro falando ingenuidade, a ser quebrado por um fino humor.
com Dudu. Dessas afirmações, apenas:
– Que dia feio, hein, Dudu? a) I está correta.
– Vamos ver nossa novela, Dudu?
b) II está correta.
– Vamos dar uma volta, Dudu?
Dona Casemira e seu cachorrinho viveram juntos c) I e II estão corretas.
durante sete, oito anos. Até que Dona Casemira mor- d) I e III estão corretas.
reu. E no velório de Dona Casemira, lá estava o cachor- e) II e III estão corretas.
rinho sentado num canto, com o olhar parado. A certa
altura do velório o cachorrinho suspirou e disse: 639.
– Pobre da Dona Casemira...
Assinale a alternativa em que se analisa corretamente
Os parentes e amigos se entreolharam. Quem dis-
o tipo de humor criado pelo texto.
sera aquilo? Não havia dúvida. Tinha sido o cachorro.
– O que... o que foi o que você disse? – perguntou a) Combinação entre o macabro e o ridículo.
um neto mais decidido, enquanto os outros recuavam, b) Contraste entre o lírico e o grotesco.
espantados. c) Seqüência de clímax e anticlímax.
– Pobre da Dona Casemira – repetiu o cachorro. d) Contraste entre o macabro e o irônico.
– De certa maneira, me sinto um pouco culpado... e) Combinação entre o fantástico e o irônico.
– Culpado por quê?
– Por nunca ter respondido às perguntas dela. (...) 640.
Agora é tarde. Indique a seqüência segundo a qual se apresentam no
A sensação foi enorme. Um cachorro falando! texto os excepcionais atributos de Dudu.
Chamem a TV! a) Remorso; análise de discurso; interlocução.
– E por que – perguntou o neto mais decidido
b) Constrangimento; remorso; emprego equivocado
– você nunca respondeu?
de expressão.
– É que eu sempre interpretei como sendo per-
guntas retóricas...” c) Análise de discurso; emprego equivocado de
Luís Fernando Veríssimo, O analista de Bagé.
expressão; melancolia.
d) Equívoco de expressão; conhecimento de figura
636.
de linguagem; remorso.
O narrador do texto acima:
e) Melancolia; interlocução; conhecimento de figura
a) permanece isento em relação aos fatos narrados, de linguagem.
jamais os comentando ou neles interferindo.
b) dá nome, a certa altura, ao sentimento que expe- 641. UFES
rimentava diante da vida da protagonista.
atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistorilo-
c) indica não ser indiferente à solidão em que vivia
qualubrimendmultipuorganiperiodi
Dona Casemira.
plastipublirapareciprorustisagasimplitenavelovera-
d) é onisciente em relação a Dudu, mas não o é em vivaunivoracidade
relação à dona do cachorro. city
e) participa discretamente da ação narrada, sem o cité
que não seria possível desenvolvê-la.
O primeiro dos três “versos” do poema “cidade /
637. city / cité”, de Augusto de Campos, compõe-se de
Na narrativa, a verossimilhança: uma longa “palavra” em que se pode subentender
a) deve-se à linguagem de dicção infantil, que carac- o termo “cidade” após “atro[cidade]”, “cadu[cidade]”,
teriza a história como um típico caso comentado “capa[cidade]”, “causti[cidade]”, “dupli[cidade]” e,
entre crianças. assim por diante, até “voracidade”, a que se seguem
b) cede lugar ao elemento supra-real, que possibilita os “versos” “city” e “cité”. Com base nessa obra, é
os efeitos de imprevisível humor. correto afirmar que:
c) deve-se à cena do velório, por meio da qual se a) a poesia concreta defendia o êxodo urbano, ou
esclarecem os fatos até então enigmáticos. seja, a fuga da cidade para o campo em busca de
d) quebra-se durante o velório, com a interferência condições mais saudáveis de vida.
dos parentes e amigos. b) o caráter cosmopolita da poesia concreta se pode
e) cede lugar ao humor na cena do velório, reconsti- ilustrar com a presença plurilíngüe de vocábulos
tuindo-se imprevisivelmente na última frase. como “cidade”, “city” e “cité”.
308
c) o poema de Augusto de Campos busca, a um tem- c) desvelamento das modificações dos padrões de
po, a “fero[cidade]” e a “simpli[cidade]” da Bossa comportamento sexual e dos conflitos daí decor-
Nova e da Tropicália, respectivamente. rentes.
d) os poemas concretistas privilegiaram o trabalho d) representação dos tipos sociais em suas próprias lin-
com versos de métrica regular e bastante extensos guagens, respeitando estilo e código adequados.
(como em “velo[cidade]” e “multipli[cidade]”. e) utilização de técnicas ultramodernas de comuni-
e) o termo “voracidade” (“atributo daquele que cação sem abrir mão de uma utopia comunitária.
devora”), fechando o verso, confirma o caráter
monótono e homogêneo que a cidade possui. 644. Fuvest-SP
Os acontecimentos foram sabidos e compreendi-
642. PUCCamp-SP dos mediante minha observação pessoal, direta,
Possa ser que ele diga oxente Getúlio, mas você ou então, segundo o testemunho de alguns dos
não recebeu o meu recado, que é isso, Getúlio, vá envolvidos. Às vezes interpretei episódios e
sentando aí e vamos resolver esse assunto, você é comportamentos – não fosse eu um advogado
meus pecados, seu Getúlio. Uma coisa dessas. Eu acostumado, profissionalmente, ao exercício da
digo: o senhor não entendeu o que eu falei. Eu falei que hermenêutica.
o homem que o senhor mandou em Paulo Afonso – e O trecho acima, de A grande arte, pretende emprestar
me diga logo, mandou ou não mandou? Me diga logo, credibilidade ou verossimilhança à seguinte técnica
me diga logo! Mandei seu Getúlio, mas a coisa correu compositiva desse romance:
diferente, vamos conversar. (...) Aquele homem que o
a) criação de enredos interligados e produção de
senhor mandou nessa condição, no hudso preto com
suspense.
Amaro, que nem estava lá na hora e estava dormindo
na Chefatura ou olhando os crentes na rua Duque de b) mistura de narrador-personagem e narrador onis-
Caxias, que ele apreciava os cantos dos crentes, eu ciente.
acho, pois então, aquele homem que o senhor mandou c) junção de monólogo interior e narrativa em terceira
não é mais aquele. Eu era ele, agora eu sou eu. pessoa.
Nesse trecho do romance Sargento Getúlio, de João d) associação de ponto de vista subjetivo e objetivi-
Ubaldo Ribeiro: dade científica.
a) o narrador-protagonista imagina o que dirá ao e) multiplicação dos focos narrativos e produção do
chefe que lhe deu a espinhosa missão, se este suspense.
fingir que não se lembra das ordens proferidas
ou se disser que a missão fora atribuída a outra Texto para as questões de 645 a 647.
pessoa. A nuvem
b) o narrador protagonista, sabendo que caíra numa – Fico admirado como é que você, morando
armadilha política, pensa em explicar-se com o nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira
chefe, mostrando-lhe o quanto os perigos cor- sem reclamar, sem protestar, sem espinafrar!
ridos reduziram o ímpeto e a valentia do antigo E meu amigo falou de água, telefone, Light em
sargento. geral, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos
c) o narrador cede a palavra ao protagonista, entran- na rua, etc. etc. etc.
do em seus pensamentos e revelando o que faria Meu amigo está, como dizem as pessoas exa-
Getúlio tão logo este se visse cara a cara com o geradas, grávido de razões. Mas que posso fazer?
chefe que lhe dera a missão de trazer o preso a Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se
Aracaju. eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem
d) Getúlio, enraivecido com a recente morte de é que vai agüentar me ler? Acho que o leitor gosta de
Amaro, tece planos de vingança contra o chefe ver suas queixas no jornal, mas em termos.
que lhe ordenara uma viagem da qual ele não Além disso, a verdade não está apenas nos
poderia voltar, a menos que renunciasse à própria buracos das ruas e outras mazelas. Não é verda-
identidade. de que as amendoeiras neste inverno deram um
e) Getúlio projeta um possível diálogo com seu show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar?
chefe, a cujas evasivas responderá com fatos e a E ficaria demasiado feio eu confessar que há uma
quem revelará sentir-se outro homem, depois da jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses
verdadeira saga que foi sua viagem de volta com encantamentos de moça por um senhor maduro
o preso. duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que
importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo
643. UFRGS-RS terna e gravemente; sem melancolia, porque sem
As características apontadas a seguir estão presentes ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na
nos contos de Rubem Fonseca, à exceção de: brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as
a) problematização do homem urbano e da impossi- cinzas de meu crepúsculo.
bilidade do relacionamento afetivo estável. E olhem só que tipo de frase estou escrevendo!
PV2D-07-54

b) dissecação das causas da violência urbana e os Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para
efeitos desta na vida e na psicologia do brasi- o chão – e seus tradicionais buracos.
leiro. Rubem Braga – Ai de ti, Copacabana!
309
645. Fatec-SP Texto II
É correto afirmar que, a partir da crítica que o amigo A Chegada
lhe dirige, o narrador cronista: E quando cheguei à tarde na minha casa lá no 27,
a) sente-se obrigado a escrever sobre assuntos ela já me aguardava andando pelo gramado, veio me
exigidos pelo público. abrir o portão pra que eu entrasse com o carro, e logo
que saí da garagem subimos juntos a escada pro terraço,
b) reflete sobre a oposição entre literatura e realidade.
e assim que entramos nele abri as cortinas do centro e
c) reflete sobre diversos aspectos da realidade e sua nos sentamos nas cadeiras de vime, ficando com nossos
representação na literatura. olhos voltados pro alto do lado oposto, lá onde o sol ia se
d) defende a posição de que a literatura não deve pondo, e estávamos os dois em silêncio quando ela me
ocupar-se com problemas sociais. perguntou “que que você tem?”, mas eu, muito disperso,
e) sente que deve mudar seus temas, pois sua escrita continuei distante e quieto, o pensamento solto na ver-
não está acompanhando os novos tempos. melhidão lá do poente, e só foi mesmo pela insistência
646. Fatec-SP da pergunta que respondi “você já jantou?” e como ela
Em E olhem só que tipo de frase estou escrevendo! dissesse “mais tarde” eu então me levantei e fui sem
Tome tenência, velho Braga, o narrador: pressa pra cozinha (ela veio atrás), tirei um tomate da
geladeira, fui até a pia e passei uma água nele, (...)
a) chama a atenção dos leitores para a beleza do
Raduan Nassar, Um copo de cólera.
estilo que empregou.
b) revela ter consciência de que cometeu excessos 648. UFF-RJ
com a linguagem metafórica.
a) A diferença de pontuação nos textos I e II revela
c) exalta o estilo por ele conquistado e convida-se a
características de escritores que se expressam
reverenciá-lo.
segundo estéticas de composição literária distin-
d) percebe que, por estar velho, seu estilo também tas. Identifique, pela forma de expressão de cada
envelheceu. fragmento, a estética literária a que se vinculam.
e) dá-se conta de que sua linguagem não será en- b) Compare duas diferentes possibilidades de pon-
tendida pelo leitor comum. tuação – uma feita por Machado de Assis e outra
647. Fatec-SP por Raduan Nassar – em estruturas com funções
Com relação ao gênero do texto ao lado, é correto semelhantes, apontando o efeito de sentido que
afirmar que a crônica: produzem.
a) parte do assunto cotidiano e acaba por criar refle-
xões mais amplas. 649. UFF-RJ
b) tem como função informar o leitor sobre os proble- Com base no fragmento de Raduan Nassar (texto II):
mas cotidianos. a) transcreva um exemplo de regência verbal de uso
c) apresenta uma linguagem distante da coloquial, coloquial.
afastando o público leitor. b) reescreva a frase – “que que você tem?” – de
d) tem um modelo fixo, com um diálogo inicial seguido acordo com a modalidade escrita culta.
de argumentação objetiva. c) identifique, no trecho abaixo, um termo que re-
e) consiste na apresentação de situações pouco presenta um recurso de ênfase característico de
realistas, em linguagem metafórica. estilização da oralidade e dispensável na modali-
dade escrita: e logo que saí da garagem subimos
Texto para as questões 648 e 649.
juntos a escada pro terraço, e assim que entramos
Pontuar é sinalizar gramatical e expressivamente um
nele abri as cortinas do centro e nos sentamos nas
texto.
Celso Cunha, Gramática do Português Contemporâneo, p.618.
cadeiras de vime, texto II, (linhas 3 - 4 - 5).
Texto I
650. Fuvest-SP
– Que bom vento o trouxe a Catumbi a semelhante
hora? perguntou Duarte, dando à voz uma expressão I. (Fabiano) ouvira falar em juros e prazos. Isto lhe
de prazer, aconselhada não menos pelo interesse que dera uma impressão bastante penosa: sempre que
pelo bom-tom. os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele
– Não sei se o vento que me trouxe é bom ou mau, saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evi-
respondeu o major sorrindo por baixo do espesso bigo- dentemente só serviam para encobrir ladroeiras.
de grisalho; sei que foi um vento rijo. Vai sair? Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e
– Vou ao Rio Comprido. empregava-as fora de propósito. Depois esque-
– Já sei; vai à casa da viúva Meneses. Minha mu- cia-as. Para que um pobre da laia dele deve usar
lher e as pequenas já devem estar: eu irei mais tarde, conversa de gente rica?
se puder. Creio que é cedo, não? Lopo Alves tirou o II. Havia coisas que (Macabéa) não sabia o que
chapéu e viu que eram nove horas e meia. Passou a significavam. Uma era “efeméride”. E não é que
mão pelo bigode, levantou-se, deu alguns passos na seu Raimundo só mandava copiar com sua letra
sala, tornou a sentar-se e disse: linda a palavra efemérides ou efeméricas? Achava
– Dou-lhe uma notícia, que certamente não espera. o termo efemérides absolutamente misterioso.
Saiba que fiz... fiz um drama. Quando o copiava prestava atenção a cada letra
– Um drama! Exclamou o bacharel. (...) Enquanto isso a mocinha se apaixonara pela
Machado de Assis, Contos. palavra efemérides.
310
O tema comum aos dois textos é a relação das per- 653. UFSCar-SP
sonagens com a linguagem culta. Desse ponto de O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive
vista, explique: nas mais antigas recordações de minha infância: belo,
a) em que Fabiano e Macabéa se assemelham; imenso, no alto do morro, atrás de casa. Agora vem
b) em que se distinguem um do outro. uma carta dizendo que ele caiu.
Eu me lembro do outro cajueiro que era menor, e
651. Vunesp morreu há muito mais tempo. Eu me lembro dos pés
No trecho a seguir transcrito, publicado no Pasquim de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espa-
(18.06.70), Caetano Veloso realiza, na prática, o que das-de-são-jorge (que nós chamávamos simplesmente
sugere programaticamente em três versos do poema “tala”) e da alta saboneteira que era nossa alegria e a
Língua. Depois de ler tal trecho, indique os três versos cobiça de toda a meninada do bairro, porque fornecia
mencionados e justifique sua resposta: centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lem-
deus, brotas. deus, circuladô de fuló do poeta dos campos.
bro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens
fulano deus. senhor dos lírios. deus, senhor do medo que
coloridas, lembro-me da parreira que cobria o cara-
tenho dos hippies e de algumas cores. senhor das flores,
manchão, e dos canteiros de flores humildes, “beijos”,
dos círculos, dos hexágonos. senhor dos circos, dos curto-
violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao
circuitos, dos coitos, das menstruações. deus do momento
em que eu não entendo o nazismo e os soldados outra lado de casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como
coisa do nazismo. do momento em que eu sinto saudade, árvores sagradas protegendo a família. Cada menino
do momento em que eu sinto muita saudade porque as que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco,
pessoas não se incomodam mais e já não querem senão a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e
deus, as poucas pessoas. deus dos índios sem história e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas
das praias. deus do círculo da aldeia, do ciclo da história. do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio
da mesa. deus, porque não aprendi a te invocar: brotas na brisa da tarde.
não seja a maldição que minha mãe talvez temeu. Rubem Braga: Cajueiro. In: O Verão e as Mulheres. 5a ed.
Rio de Janeiro: Record, 1991, p. 84-5.
em Alegria, Alegria (uma caetanave organizada por
O trecho remete-nos a um dos temas preferidos
Waly Salomão). Rio de Janeiro: ~3 Pedra Q Ronca
pelos escritores românticos, que é também um tema
Ed., s/d., pp. 67-68.
Língua corrente em vários poetas modernistas e muito cul-
Gosto de sentir a minha língua roçar tivado por nossos cronistas. Esse tema, dominante
A língua de Luís de Camões no trecho, é:
Gosto de ser e de estar a) a exuberância da natureza tropical.
E quero me dedicar b) a diversidade das árvores frutíferas brasileiras.
A criar confusões de prosódia c) o contraste entre o ambiente selvagem e o am-
E uma profusão de paródias biente urbano.
Que encurtem dores
d) a saudade da infância.
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa e) a necessidade de comunicação por carta.
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa 654. FGV-SP
Assim como o amor está para a amizade Leia os dois textos a seguir. O texto I contém as duas
E quem há de negar que está lhe é superior estrofes finais da letra da canção Arranha-céu, de
E quem há de negar que esta lhe é superior Orestes Barbosa e Sílvio Caldas. O texto II apresenta
E deixa os portugais morrerem à míngua uma tradução do poema nº 85, do poeta romano Catu-
Minha pátria é minha língua lo, do séc. I a.C. Compare os dois poemas e responda
às questões.
652. Fuvest-SP
Texto I
Ana Clara fazendo amor. Lião fazendo comício. Mãe-
(...)
zinha fazendo análise. As freirinhas fazendo doce,
Cansei de olhar as reclames
sinto daqui o cheiro quente de doce de abóbora. Faço
filosofia. Ser ou estar. (...) Na cidade me desintegro E disse ao peito: Não ames,
porque na cidade eu não sou, eu estou: estou com- Que esta mulher não te quer.
petindo. (...) Ora, se sacrifico o ser para apenas estar, Descansa. Fecha a vidraça.
acabo me desintegrando (essencial e essência) até Esquece aquela desgraça,
a pulverização total. Vaidade das vaidades. Apenas Esquece aquela mulher.
vaidade. A conclusão é bíblica, mas responde a todas
as perguntas deste mundo desintegrado e confuso. Deitei-me então sobre o peito,
a) Fundamentando-se no texto dado, identifique a téc- Vieste em sonho ao meu leito
nica narrativa básica de composição de As meninas, E eu acordei – que aflição!
de Lygia Fagundes Telles. Justifique sua resposta. Pensando que te abraçava,
PV2D-07-54

b) Nesse trecho, apontam alguns dos temas recor- Alucinado, apertava


rentes no romance. Identifique pelo menos dois Eu mesmo meu coração.
deles, ilustrando-os com passagens do texto.
In: Chão de estrelas, J. Ozon Editor, s/d.
311
Texto II Um verso plagiado do Vinícius eu entenderia. Um
Odeio e amo. Talvez tu me perguntes por que verso original, e bom desse jeito, é traição. Só não
procedo assim. sendo sincero você seria tão inteligente!
Não sei, mas sinto isto dentro de mim e me 20 – Mas...
angustio. 21 – Não fale mais comigo.
Tradução de Lauro Mistura. 22 Pronto. O amor acabou, agora você pode ser criati-
As características dos textos II e III permitem aproxi- vo sem remorso. Você está infeliz, mas console-se.
má-los de textos: Pense em como isso melhorará o seu estilo.
Adap.: Verissimo, Luis Fernando. O Estado de S. Paulo: 25/07/1999.
a) Futuristas. d) Românticos.
b) Concretistas. e) Modernistas.
655. UFRJ
c) Naturalistas.
A partir da leitura do texto, depreende-se que:
Texto para as questões 655 e 656.
a) os textos literários cujo tema é o amor tratam de
Amor
um sentimento utópico.
01 A verdade é que devemos tudo aos amores infe-
lizes, aos amores que não dão certo. A poesia se b) os poemas feitos nos momentos de amor são
faz antes ou depois do amor, ninguém jamais fez criativos e interessantes.
um bom poema durante um amor feliz. Pois se o c) fazer poemas sobre o amor exige um afastamento
amor está tão bom, pra que interrompê-lo? O amor da relação amorosa.
feliz não é assunto de poesia. Literatura é quan- d) só a reciprocidade no relacionamento amoroso
do o amor ainda não veio ou quando já acabou, enseja um bom texto poético.
literatura durante é mentira. Ou ela é empolgação e) os textos verdadeiramente literários são os que
ou é remorso, revolta, saudade, tédio, divagação tratam da temática amorosa.
desesperada – enfim, tudo que dá bom texto.
02 Desconfie de quem explica um estado de exaltação 656. UFRJ
criativa dizendo que está amando. Algo deve estar Os diálogos, nesse texto, têm a função de:
errado. a) caracterizar o discurso indireto na narrativa.
03 – Você está amando, mas ela não está correspon-
b) refutar o ponto de vista do autor por meio dos
dendo, é isso?
personagens.
04 – Não, não. Ela também me ama. É maravilhoso.
05 – É maravilhoso, mas você sabe que não pode c) reproduzir o ponto de vista dos personagens sobre
durar, é isso? Seu poema é sobre a transitoriedade o amor.
de todas as coisas, sobre o efêmero, sobre o fim d) servir de recurso para a argumentação às idéias
inevitável da felicidade num mundo em que... do autor.
06 – Não! É sobre a felicidade sem fim! e) demonstrar o alto grau de alienação daquele que
07 – Não pode ser. se sente amando.
08 – Mas é. Acabei o poema e vou fazer uma canção.
657.
Depois, talvez, uma cantata. E estou pensando
num romance. Tudo inspirado no nosso amor. Não A principal preocupação do teatro jesuítico do século
posso parar de criar. Estou transbordando de amor XVI era:
e idéia. Crio dia e noite. a) divulgar a língua portuguesa aos nativos.
09 – E a mulher amada? b) “civilizar” os indígenas e dar educação religiosa.
10 – Quem? Ah, ela. Bom, ela sabe que a atenção c) desenvolver o gosto pela cultura.
que não lhe dou, dou ao nosso amor perfeito. d) desenvolver o teatro profissional no país.
11 Está explicado. Ele não canta a amada ou seu
amor. Está fascinado por ele mesmo, amando. E 658.
o poema certamente é ruim.
Anchieta fazia autos, como o Auto da pregação uni-
12 Porque o amor, para ser de verdade, tem de em-
versal. O auto sempre apresenta um fundo religioso.
burrecer. Só devem lhe ocorrer bobagens para
Quem também escreveu autos foi:
dizer ou escrever durante um caso de amor. Ou
é kitch, de mau gosto, piegas ou copiado, ou não a) Machado de Assis.
é amor. Qualquer sinal de originalidade pode até b) Bocage.
ser suspeito. c) Gil Vicente.
13 – Esses seus versos para mim... Estão ótimos. d) Tomás Antônio Gonzaga.
14 – Obrigado. e) Martins Pena.
15 – Essas juras de amor, essas rimas, essa métrica...
De onde você tirou tudo isso? 659. UFPR
16 – Eu mesmo inventei. Pensando em você. Dias Gomes, Ariano Suassuna, Oduvaldo Vianna Filho
17 – Seu falso! e Plínio Marcos são dramaturgos brasileiros contem-
18 – O quê? porâneos que escreveram, respectivamente:
19 – Só deixando de pensar em mim por algumas
a) O Santo Inquérito, O auto da compadecida, Rasga
horas você faria uma coisa assim pensando em
coração, Navalha na carne.
mim. Só tomando distância, escrevendo e reescre-
vendo, raciocinando e burilando, você faria isto. b) O pagador de promessas, Os ossos do barão, O
assalto, O abajur lilás.
312
c) O berço do herói, A pena e a lei, O último carro, b) A peça é uma comédia de costumes, apresentando
Quando as máquinas param. aspectos típicos e pitorescos do cotidiano de uma
d) As primícias, Álbum de família, À prova de fogo, sociedade.
Barrela. c) O noviço é uma obra típica do Romantismo por apre-
e) O rei de Ramos, Farsa da boa preguiça, Senhora sentar a idealização da realidade e sentimentalismo.
da boca do lixo, Homens de papel. d) Alguns temas da peça são a denúncia de ines-
crupulosos, questionamento de vocação forçada
660. e condenação do patronato.
As primeiras companhias teatrais brasileiras surgiram: e) Destacam-se como características românticas na
a) no século XVI. obra a presença do final feliz e o maniqueísmo.
b) no século XVII.
c) no século XVIII. 666.
d) no século XIX. Assinale a seqüência de obras que completa as afir-
e) no século XX. mativas a seguir.
I. O autor de Os dois ou o inglês maquinista é o
661. mesmo de:
São nomes dos primórdios do teatro de caráter na- II. O autor de O demônio familiar é o mesmo de:
cional: III. O autor de O moço loiro é o mesmo de:
a) João Caetano e Martins Pena. IV. O autor de A capital federal é o mesmo de:
b) Gil Vicente e Plínio Marcos.
a) O noviço; Iracema; A Moreninha; O dote.
c) Dias Gomes e Ariano Suassuna.
b) O Judas em Sábado de Aleluia; Mãe; O dote; As
d) Martins Pena e Padre Anchieta. doutoras.
e) Padre Anchieta e Machado de Assis. c) Caiu o ministério; Leonor de Mendonça; Senhora;
A torre em concurso.
662.
d) Os irmãos das almas; Lucíola; A torre em concurso;
Assinale a alternativa que apresenta uma obra que não As doutoras.
pertence a Martins Pena, dramaturgo do Romantismo
brasileiro. 667.
a) O juiz de paz na roça Assinale a alternativa que apresente um dramaturgo
b) O noviço do século XX.
c) Auto da Compadecida a) José de Alencar d) João Caetano
d) O Judas em Sábado de Aleluia b) Gil Vicente e) Dias Gomes
e) Quem casa, quer casa c) Martins Pena
663. UCPR 668. UEL-PR
Coube a_____atingir o ponto mais alto do teatro român- As teses amplas do nacionalismo cênico estribam-
tico brasileiro. Numa linguagem simples e correta, retra- se em dois postulados: prestígio à dramaturgia brasi-
tou os variados tipos da sociedade do século XIX. leira e procura de um estilo brasileiro de encenação.
a) Martins Pena Assim exposto, o programa não pode deixar de ser
b) Procópio Ferreira aceito por todos que têm consciência estética. Faz
c) Joaquim Manuel de Macedo parte daquilo que se chamaria consenso geral, tão
d) Machado de Assis óbvios são os seus propósitos. Sabe-se que não há
e) Cornélio Pena grande teatro sem uma correspondente literatura dra-
mática. [...] Com respeito ao Brasil, a conclusão parece
664. crucial, assimilado o ensinamento da história: haverá
A obra tem como momento histórico da ação a época um teatro brasileiro de mérito quando se impuser uma
da Revolução Farroupilha (RS–1834). Estamos falando dramaturgia independente e autêntica.
de _______, peça teatral de Martins Pena. Esse é um dado da questão. Como, todavia, o tea-
a) O juiz de paz na roça tro não se contém no texto e se realiza no espetáculo,
deve-se concluir também que a encenação precisa
b) O noviço
ser brasileira. Isto é, não mera cópia das conquistas
c) Os meirinhos técnicas e expressivas dos diretores e intérpretes
d) Quem casa, quer casa europeus e norte americanos, mas o resultado do
e) O caixeiro da taverna aprofundamento da sensibilidade nacional.
MAGALDI, Sábato. Iniciação ao Teatro. 5. ed.
665. São Paulo: Ática. 1994. p. 90-91.
Assinale a alternativa incorreta com relação à obra O Com base no texto e nos conhecimentos sobre o teatro
noviço, de Martins Pena. brasileiro, é correto afirmar:
PV2D-07-54

a) A ação de O noviço apresenta evidentes elementos a) O desenvolvimento da dramaturgia exige uma


de farsa, que se observam na ação rápida, irreve- postura histórica de resgate de tradições, como fez
rente e debochada e no tom caricatural. a cultura romana com relação aos textos gregos.
313
b) A conquista de uma dramaturgia autêntica e inde- não me traga pais que não podem comprar sapatos
pendente, por si só, é suficiente para garantir o ca- para os filhos...
ráter orgânico e nacionalista do teatro brasileiro. Abelardo II: Esse está se queixando de barriga
c) A exemplo dos gregos, o teatro brasileiro é na- cheia. Não tem prole numerosa. Só uma filha... Família
cional, porque sempre produziu suas obras em pequena!
consonância com o seu público contemporâneo. Abelardo I: Não confunda, seu Abelardo! Família
d) Um brasileiro que se dispõe a interpretar Shakes- é uma coisa distinta. Prole é de proletário. A família
peare deverá imitar os grandes atores ingleses requer a propriedade e vice-versa. Quem não tem
para conseguir a fidelidade da interpretação. propriedades deve ter prole. Para trabalhar, os filhos
são a fortuna do pobre...
e) O surgimento de um teatro brasileiro autêntico
depende do desenvolvimento de valores cênicos 672.
e de uma dramaturgia nacionais. Comente o início da segunda fala de Abelardo I.
669. 673.
Peça de Nélson Rodrigues, desenvolve-se em dife- Pelo fragmento apresentado, você diria que o texto
rentes planos; o da vida real, concreta, objetiva; e o de Oswald de Andrade pertence ao teatro de temática
da imaginação, desregrada, libertada. Consiste no social? Justifique a resposta.
que se pode chamar de “tragédia de memória”, e afir-
mou-se como um marco do teatro moderno brasileiro. 674. UFRN
Trata-se de: Observe atentamente as seguintes declarações:
a) Álbum de família. 1. Sucesso em matéria de crítica e público, Gota
b) A falecida. D’água é uma adaptação que Nelson Rodrigues
c) Vestido de noiva. fez da Medéia, de Eurípedes, transportando-a para
d) Eles não usam black-tie. uma favela do subúrbio carioca.
e) Navalha na carne. 2. Martins Pena, com sua comédia de costumes
permeada por sutil sátira social e realismo ingê-
Texto para as questões 670 e 671. nuo, pode ser considerado o responsável pela
consolidação do teatro brasileiro.
Ato Primeiro
3. Em Eles não usam Black-tie, marco da dramaturgia
Cena I brasileira, Oduvaldo Viana aborda a luta de ope-
Ambrósio, só de calça preta e chambre – No rários por condições de vida menos ultrajantes.
mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam- 4. Na peça O pagador de promessas, Dias Gomes
na cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não apresenta o drama de um homem simples que,
tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem buscando salvar seu animal de estimação, luta
pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da contra toda uma sociedade.
fortuna. Vontade forte, perseverança e pertinácia são O total correspondente à soma dos números que
poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a antecedem as declarações incorretas é:
empregar todos os meios, não consegue enriquecer-
se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, eu era a) 8 d) 5
pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. b) 7 e) 4
O como não importa; no bom resultado está o mérito... c) 6
Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se
em algum tempo tiver que responder pelos meus atos, 675.
o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis De Vestido de Noiva, peça de teatro de Nelson Ro-
criminais fizeram-se para os pobres... drigues, considerando o tema desenvolvido, não se
pode dizer que aborda.
670.
a) o passado e o destino de Alaíde por meio de suas
O fragmento acima pertence à obra O noviço. Nele, lembranças desregradas.
Ambrósio apresenta seus métodos e sua cosmovisão
social. Indique o trecho que justifica a seguinte sen- b) o delírio de Alaíde caracterizado pela desordem da
tença: Os fins justificam os meios. memória e confusão entre a realidade e o sonho.
c) o mistério da imaginação e da crise subconsciente
671. identificada na superposição das figuras de Alaíde
e de Madame Clessi.
Explique a afirmação presente nas três últimas orações
d) o embate entre Alaíde, com suas obsessões e
do excerto. Lúcia, a mulher-de-véu, antagonista e um dos
Texto para as questões 672 e 673. móveis da ação.
e) a vida passada de Alaíde revelada no casual achado
Leia atentamente este fragmento da peça O rei da vela,
de um velho diário e de um maço de fotografias.
de Oswald de Andrade.
Abelardo I: Não faça entrar mais ninguém hoje,
676. Unicamp-SP
Abelardo.
Abelardo II: A jaula está cheia... Seu Abelardo! Considera-se a estréia da peça Vestido de noiva
Abelardo I: Mas esta cena basta para nos identifi- (1943), de Nelson Rodrigues, um marco na renovação
car perante o público. Não preciso mais falar com ne- do teatro brasileiro. Cite a principal novidade estrutural
nhum dos meus clientes. São todos iguais. Sobretudo da peça e comente.
314
677. Unicamp-SP sobre a vida de Getúlio Vargas. No trecho transcrito, a
Por que no encerramento da peça uma rubrica indica personagem Autor introduz a personagem Lacerda,
que a Marcha Nupcial e a Marcha Fúnebre devem ser que passa a discorrer sobre o melhor modo de depor o
executadas simultaneamente? presidente. Releia o trecho e, a seguir, responda.
a) Ao sugerir a seus correligionários que levantem
As questões 678 e 679 tomam por base um
fragmento de peça teatral Dr. Getúlio, sua vida e a “bandeira moralista” para abalar o governo, a
sua glória, de Dias Gomes (1922-1999) e Ferreira personagem acaba incorrendo numa contradição
Gullar (1930). também de ordem moral. Analisando a própria fala
Segunda Parte de Lacerda, demonstre essa contradição.
[...] b) Explique, com base no contexto, o significado dos
Cessa a Bateria versos “...a famosa classe média / que sonha ter
Autor em virtudes / o que lhe falta em dinheiro”.
E enquanto essas coincidências 679. Vunesp
iam assim coincidindo,
As repetições de elementos podem tornar-se expres-
num clube então existente,
um homem muito ladino sivas, particularmente quando apresentam implicações
fazia uma conferência de ordem semântica e estilística nas frases em que
sobre um tema pertinente, ocorrem. Releia com atenção a fala da personagem
com este título: “Como Lacerda e, a seguir:
se depõe um Presidente”. a) demonstre que a rima em – agem na última seqüência
Volta a Bateria. Entram homens e mulheres, todos com da fala de Lacerda (de “Gatunagem” até “os gatunos
lanternas. Entre eles, vêm também as Aves de Rapina. agem”) não é somente um processo de repetição de
Lacerda entra no meio do grupo que percorre o palco sons, mas tem implicações no plano do conteúdo;
dançando e logo forma um círculo, no centro do qual, b) explique a razão pela qual a personagem se serve
sobre um praticável, fica o conferencista. intensamente de repetições e redundâncias em seu
Lacerda discurso.
É simples:
em primeiro lugar 680. Vunesp
é preciso levantar A questão baseia-se numa cena do texto dramático
a bandeira moralista: Auto da compadecida.
mostrar que o Governo é corrupto, Chicó — Mas padre, não vejo nada de mal em se
composto de chantagistas, benzer o bicho.
de ladrões, João Grilo — No dia em que chegou o motor novo
de rufiões, do major Antônio Morais o senhor não benzeu?
cafetões e vigaristas, Padre — Motor é diferente, é uma coisa que todo
de tubarões, mundo benze. Cachorro é que eu nunca ouvi falar.
charlatães, Chicó — Eu acho cachorro uma coisa muito me-
maganões lhor do que motor.
e descuidistas. Padre — É, mas quem vai ficar engraçado sou
Isto é muito importante. eu, benzendo o cachorro. Benzer motor é fácil, todo
Com a bandeira moralista mundo faz isso, mas benzer cachorro?
ganha-se então por inteiro João Grilo — É, Chicó, o padre tem razão. Quem
a famosa classe média, vai ficar engraçado é ele e uma coisa é benzer motor
que sonha ter em virtudes do major Antônio Morais e outra benzer o cachorro do
o que lhe falta em dinheiro. major Antônio Morais.
E como a virtude é rara Padre (mão em concha no ouvido) — Como?
e difícil de provar, João Grilo — Eu disse que uma coisa era o motor
torna-se fácil apontar e outra o cachorro do major Antônio Morais.
corrupção no governo. Padre — E o dono do cachorro de quem vocês
Gatunagem, estão falando é Antônio Morais?
malandragem, João Grilo — É. Eu não queria vir, com medo
ladroagem, de que o senhor se zangasse, mas o major é rico e
tratantagem poderoso e eu trabalho na mina dele. Com medo de
(Discursa) perder meu emprego, fui forçado a obedecer, mas disse
Enquanto o povo dorme, os gatunos agem. a Chicó: o padre vai se zangar.
In: Gomes, Dias & Gullar, Ferreira. Dr. Getúlio, sua vida e sua glória. Padre (desfazendo-se em sorrisos) — Zangar
nada, João! Quem é um ministro de Deus para ter
678. Vunesp direito de se zangar? Falei por falar, mas também vocês
A ação da peça teatral Dr. Getúlio, sua vida e sua glória, não tinham dito de quem era o cachorro!
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de Dias Gomes e Ferreira Gullar, se desenvolve numa João Grilo (cortante) — Quer dizer que benze,
quadra de escola de samba como ensaio de um enredo não é?

315
Padre (a Chicó) — Você o que é que acha?
Chicó — Eu não acho nada mais.
Padre — Nem eu. Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus.
Ariano Suassuna, Teatro Moderno. Auto da compadecida.

A espontaneidade dos diálogos, a força poética de seu texto e a capacidade de exprimir o espírito popular
de nossa gente fazem com que o escritor Ariano Suassuna (1927) seja reconhecido como um dos principais
autores brasileiros contemporâneos. Diz o crítico Sábato Magaldi que a religiosidade de Ariano pode espantar
aos cultores de um catolicismo acomodatício, mas responde às exigências daqueles que se conduzem por
uma fé verdadeira.
Com base nessa observação, responda às questões a seguir.
a) Por que, segundo aquele padre, é fácil benzer um motor?
b) Em que sentido o fragmento apresentado encerra uma crítica ácida ao modo como o padre comanda a
sua paróquia?

316
Língua Portuguesa 5 – Gabarito
01. C 02. B 33. D a “A luta”, e não “A terra”, que
03. F, V, V, V, F 34. a) A terceira parte de Os ser- nasce da reportagem escrita por
04. F, V, V, V, F tões, de Euclides da Cunha, Euclides da Cunha, enquanto
denomina-se “A luta”. correspondente de O Estado
05. A
b) “Canudos não se rendeu” de São Paulo. “A terra” e “O
06. a) “Não tem o raquitismo exaus-
c) “(...) rugiam raivosamente homem” foram partes anexadas
tivo dos mestiços neurastê-
(...)” posteriormente à cobertura in
nicos do litoral.”
loco das operações militares
b) O autor é claramente influen- d) O que descrevia era tão
em Canudos. A segunda decla-
ciado pelo Determinismo, o dolorosamente absurdo que
ração é falsa, por afirmar que
qual afirma que o meio (A poucos acreditariam.
Os sertões “Adotam um estilo
terra), a raça (O homem) e 35. a) Determinismo. de oratória religiosa, quando
o momento histórico (A luta) b) Explicava as ações humanas descrevem as crenças dos ja-
determinam o comporta- a partir de três fundamentos: gunços.”. Se Oratória se define
mento humano. o meio, a raça e o momento. como a prática ou a arte do
c) Na verdade, o fenômeno A adesão de Euclides da bem dizer, com vistas a ensinar,
social é a miséria, a igno- Cunha às teses determinis- persuadir e comover, a oratória
rância, o fanatismo religioso tas aparece em vários pon- religiosa se expressa sob as
e a marginalização política a tos do livro. No trecho citado, formas de sermão, homilia,
que ficam sujeitos os serta- o meio ambiente (no caso, o panegírico e oração fúnebre, e
nejos nordestinos. clima quente) age de forma serve para incutir no ouvinte os
07. B 08. B decisiva na determinação dogmas e as verdades de uma
09. 23 (01 + 02 + 04 + 16) da conformação moral dos determinada religião. Não é isso
habitantes (marcada pela que se observa em Os sertões.
10. E 11. C
apatia e pela incapacidade O cientificismo de Euclides da
12. a) Ironiza o fato de muitos
natural ao trabalho intelec- Cunha o impede de defender
acreditarem que o Brasil
tual). crenças religiosas e o leva a
se resume a seu litoral e a
c) O Naturalismo, cujas idéias considerar o messianismo de
algumas cidades.
tomavam por base concep- Canudos um retrocesso do
b) Esse momento literário
ções científicas, entre as cristianismo ao judaísmo. A ter-
acaba por focalizar ques-
quais as do Determinismo. ceira declaração é verdadeira,
tões que estavam além do
36. A natureza é mostrada de forma pois, em Os sertões ,“A luta”
eixo Rio – São Paulo, ou
viva e atuante (superando o focaliza episódios heróicos de
ainda, distante das questões
sentido puramente científico do viagem e guerra, a exemplo
burguesas apenas, atingin-
relato), influenciando no desen- das construções épicas. O
do a periferia das grandes
rolar dos acontecimentos que envio de tropas caracteriza o
cidades, como fez Lima
e) As 4expressões
teriam lugar ali. deslocamento geográfico dos
Barreto. combatentes e o teor bélico da
que indicam a ação da nature-
13. Graça Aranha: Canaã; Lima campanha. O próprio escritor
za são: “a caatinga o afoga”,
Barreto: Clara dos anjos; Mon- refere-se a Canudos como a
“agride”, “estonteia”, “enlaça”,
teiro Lobato: Urupês; Euclides “Tróia de taipa dos jagunços”,
“repulsa” etc. Repare que essas
da Cunha: À margem da histó- reconhecendo a grandiosidade
imagens mostram uma nature-
ria. épica dos feitos. A quarta decla-
za plena de contradições, que,
14. B 15. A 16. D ração é igualmente verdadeira,
ajuizadas, serão as causas
17. D 18. C mais profundas da guerra que pois Os sertões desenvolvem
19. A simplicidade. o livro narra. considerações de ordem cientí-
20. 51 (01 + 02 + 16 + 32) fica e abrigam proposições que
37. M, J, M
serão sustentadas durante toda
21. C 22. D 23. B 38. B 39. C a obra. Como se sabe, uma tese
24. D 25. D 26. E 40. Deve ser assinalada a declara- pode ser de natureza literária,
27. C 28. A 29. B ção O porte físico do jagunço filosófica, científica e reunir
30. E 31. B contraria o aprimoramento subsídios múltiplos. Em “A luta”,
32. A estrada não é descrita, tendo evolutivo da espécie. observam-se as contribuições
em vista a riquesa natural da 41. Corretas: III e IV. da Antropologia, da Geografia,
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área, mas em seus aspectos 42. A primeira das quatro decla- da Sociologia, da Psicologia, da
àridos e difíceis. rações está errada, porque é Biologia e de outros campos de
317
conhecimento, arregimentados desilude-se por não conseguir 76. B 77. A 78. A
para defender, por exemplo, realizar as reformar radicais 79. B 80. E
a proposição de que a guerra com que sonhara. 81. Angústia diante da vida: em
animaliza o civilizado. 59. F, V, V, F, F todo o poema e já a partir do
43. a) O romance Vidas Secas, de 60. Corretas: 01, 02, 16, 32. título.
Graciliano Ramos, pois trata 61. B Imagem da decomposição da
de forma crítica e realista carne: nas duas últimas estro-
62. a) O requerimento escrito por
a realidade dos retirantes fes
Policarpo sugerindo a ado-
nordestinos retratados na
ção do tupi-guarani como Linguagem exótica: palavras
família de Fabiano.
língua oficial e a adoção como carbono, amoníaco, epi-
b) Porque, ainda que influen- de hábitos indígenas, como gênese, hipocondríaco, verme,
ciado pelo determinismo cumprimentar as pessoas podre, carnificina.
do século XIX, Euclides chorando. Como pode se observar, Augus-
da Cunha retrata de forma
b) Policarpo é integro e idea- to dos Anjos não negligencia
realista e crítica a realidade
lista. Parte de um ideal de a forma: usa soneto e versos
do sertão.
pátria e choca-se com a decassílabos.
44. C 45. A 46. E pátria real, que o consome. 82. B 83. E
47. E 48. D 49. C 63. O poema, na seqüência, rela- 84. a) Mamparreiro = vadio, pregui-
50. Quaresma estudou a nossa ciona as três partes de que se çoso.
geografia, conhecia o nome dos compõe a obra máxima de Eu- b) Para Lobato, fazendeiro
nossos heróis, a língua tupi, o clides da Cunha. Até a palavra no interior de São Paulo, a
folclore, sempre com um eleva- chão, o texto alude à 1ª parte explicação para a apatia, a
do sentimento de patriotismo. de Os sertões – A terra –, até indolência e a incapacidade
51. E 52. B 53. A a 1ª palavra meses, a alusão é produtiva do Jeca encon-
54. B 55. D à 2ª parte – O Homem – e daí trava-se nas facilidades de
56. a) Lima Barreto é considerado até o final revela-se a 3ª parte sobrevivência proporciona-
autor pré-modernista porque – A Luta – e algumas das suas das pela mandioca, milho e
antecipa características do implicações. cana. Se em Urupês e Velha
modernismo como: nacio- 64. E Praga (1914) Lobato atribuía
nalismo crítico, linguagem 65. Essa afirmação está correta. O preponderância às teses
coloquial. esforço da obra para penetrar raciais e climáticas para a
b) Triste fim de Policarpo Qua- fundo na realidade brasileira é pobreza, chegando a culpar
resma / Recordações do percebido principalmente por o trabalhador do campo por
escrivão Isaías Caminha / meio da crítica às figuras carrei- sua condição, nos artigos de
Clara dos Anjos ristas, pedantes, bajuladoras e 1918 refletia sobre a questão
57. a) Armando Borges é médico. incompetentes que se utilizam nacional do saneamento. E
É um mau-caráter, engana do patriotismo ingênuo para através de uma explicação
os outros e apropria-se de subir socialmente e exercer médica-científica que Lobato,
artigos médicos alheios. Ao poder. preocupado com a repro-
caracterizar seu estilo de 66. a) O homem do violão é Ricar- dução da força de trabalho
escrever como “clássico”, do Coração dos Outros. improdutiva, mudaria a sua
Lima Barreto reforça a idéia concepção do caboclo bra-
b) Porque ele era o professor
de que a personagem repre- sileiro. A inficiência do Jeca
de violão de Policarpo.
senta a tradição, o academi- não era mais uma questão
c) Ao requerimento apresenta- de inferioridade racial, mas
cismo vazio e falso.
do pelo major para transfor- sim um problema médico-
b) O romance caracteriza-se mar em tupi-guarani a nossa sanitário. O caipira é doente.
pela linguagem coloquial, língua oficial. Ele é pobre porque é doente
oposta, portanto, à lingua-
67. V, V, V, V, V, F e assim não produz. Esta
gem de Armando Borges.
68. B mudança de concepção pas-
Essa característica pode ser
69. O autor a que se refere o texto sava pela crença positiva de
considerada antecipação do
é Lima Barreto. Dentre seus Lobato na ciência.
Modernismo.
romances, destacam-se Recor- 85. B 86. C 87. D
58. Porque Policarpo idealizou a
pátria a partir de seus estudos dações do escrivão Isaías Ca- 88. A 89. E 90. B
da geografia, do folclore, da lín- minha e Triste fim de Policarpo 91. D 92. C
gua, da música, da agricultura Quaresma. 93. A preocupação com a observa-
e da política do Brasil. No final, 70. B 71. E 72. C ção e com a interpretação da
vê que tudo resultara inútil e 73. E 74. C 75. A realidade brasileira.
318
94. F, F, F, V, V, V za-se do fato de não ser livre, b) Nos dois textos, há o des-
95. A 96. C 97. E de não “ter não sei quê do pojamento (apontado no
98. D 99. A vôo suave” dentro do seu ser item anterior). Em Caeiro,
(última estrofe). a simplicidade da “forma”
100. O excerto de Álvaro de Cam-
125. As interrogações refletem o é também “conteúdo”, in-
pos relaciona-se ao futurismo,
intenso questionamento do eu tenção, programa. Por isso,
que valoriza a superexitação
lírico. Haver uma única e longa realiza uma poesia inten-
vertiginiosa dos sentidos, pro-
resposta sugeriria a impossi- cionamente prosáica, com
vocada pela velocidade, pelo
bilidade de respostas fáceis o livre andamento da pro-
delírio, pelo ritmo febril da
ou diretas a esse processo de sa, enfática, redundante,
sociedade industrial.
auto-análise. com os recursos retóricos
101. A
126. C 127. A 128. E de quem visa a convencer
102. a) Fernando Pessoa, com tal e não a encantar ou como-
poema, denuncia os erros, 129. A
ver, mesmo que, muitas
prejuízos e sofrimentos 130. a) O pronome ele tem como
vezes, encante exatamente
decorrentes das Grandes referente o poeta, enquan-
pela simplicidade. É a lin-
Navegações no cotidiano to eles é referência aos
guagem de um camponês
da vida portuguesa. leitores (os que lêem).
inculto.
b) O adjetivo “pequena” apon- b) Em relação a ele há duas
138. E
ta para a idéia de visão de dores, a sofrida e a fingida,
139. a) Ao pedir que o sepultem
mundo limitada, incapaci- já que em relação a eles
“sem cruz”, Alberto Caeiro
dade de retirar lições de há qualquer dor que não
explicita sua rejeição ao
vida, mesmo em situações seja sentida e identificada,
cristianismo ao dizer, na
adversas. devido a sua inconsciência
seqüência, que “foi buscar
103. a) Apenas o caos, o acaso. diante da vida.
os deuses”. Mostra uma
b) Não haveria regras, apenas 131. D recusa ao monoteísmo e
a liberdade, postura oposta 132. Esses versos pertencem a uma aceitação implícita ao
à dos clássicos, que se- Alberto Caeiro. Como pode- paganismo.
guem regras e são rígidos mos perceber, Alberto Caeiro b) A palavra “deuses” mostra
na forma. escreve com uma linguagem a recusa de Caeiro à nação
104. D 105. Futurismo simples e com um vocabulário de um princípio unitário,
limitado de um poeta campo- abstrato, antecedente. Vai
106. E 107. E 108. B
nês pouco ilustrado. Pratica nessa mesma direção o
109. D 110. B 111. E sentido do verso “A na-
o realismo sensorial, numa
112. C 113. A 114. C atitude de rejeição às atitudes tureza é partes sem um
115. B 116. E 117. E da poesia simbolista. todo”. O que interessa a
118. D 119. B 120. D 133. Os títulos fazem referência aos Caeiro são as coisas em si,
121. Ambos os textos são meta- heterônim os do autor, os concretas e singulares, as
lingüísticos, pois discutem o flores, as árvores, os rios,
quais são faces da persona-
e não o conceito generali-
próprio fazer artístico. lidade do poeta que buscou
zante que as engloba sob
122. A sensação de desapontamen- apresentar a complexidade e
o nome de “natureza”.
to é comum, segundo Rachel a multiplicidade do homem.
140. B 141. C 142. D
de Queiroz, porque o texto 134. D 135. D
produzido não corresponde 143. B 144. D
136. A
ao esforço despendido em sua 145. a) As marcas formais que
137. a) Alberto Caeiro representa o
produção. realçam a monotonia a
“camponês sábio”, o “guar-
que se refere o tema do
123. A ave simboliza a liberdade e dador de rebanhos”; o poe-
poema são: as rimas, que
para isso é preciso ter asa. No ta que se insurge contra a se repetem ao longo de
plano imagético, as asas es- poesia, contra tudo o que todo o poema (ia/ou/ia/ou);
tariam sugeridas na letra “V”, certa tradição consagrou o último verso de cada
que remete às asas abertas como poética (a rima, a estrofe, que é exatamente
de um pássaro. Esse “vôo” da métrica, a linguagem figu- o mesmo (“Desde ontem
letra V se expande pelo texto rada, as metáforas). É um a cidade mudou.”), funcio-
na retomada fonética do som pensador que se expressa nando como uma espécie
/v/ em palavras como “suave”, em versos e que propõe de refrão; e, finalmente
“leve”, “amavio”, “vida”, “vôo”. uma “filosofia” contra a es- (e mais fracamente), a
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124. Ao ver o vôo da ave, o eu lírico peculação filosófica, contra distribuição em quadras
se entristece (1a estrofe), já a abstração, contra a meta- da organização estrófica
que dessa forma conscienti- física, contra o misticismo. do poema.
319
b) A quebra da monotonia, podem ser associadas a Alber- 182. F, V, V, V, F
para o poeta, é provocada to Caeiro, pela maneira como, 183. 10 (02 + 08) 184. D
pela morte do dono da em ambas, o “guardador de 185. A 186. D 187. C
tabacaria em frente da rebanhos” trata a Natureza:
188. A 189. B 190. C
qual ele passava todos os como algo concreto, acabado
191. D 192. A 193. C
dias. em si, sem nenhum significado
exterior ou interior. 194. D 195. C 196. B
c) A morte do dono da ta-
bacaria vem quebrar a 159. a) A entrada para a Academia 197. E 198. E 199. A
monotonia da vida do eu Italiana de Letras. 200. D 201. D 202. D
lírico porque o local e seu b) Álvaro de Campos se 203. D 204. A 205. C
dono serviam para ele mostra desiludido com a 206. a) A presença do índio.
como ponto de referência rendição do poeta italiano b) “que nem”, “gatão”.
(“Um ponto de referência ao chamado acadêmico. 207. Versos livres e linguagem
de quem sou.”); assim, c) O texto I, de Marinetti, evi- coloquial.
essa perda representa para dencia o posicionamento dos 208. a) Meus oito anos, de Casimi-
ele igualmente perda de futuristas contrários à vida ro de Abreu.
parte de sua identidade (“é acadêmica, razão pela qual
morte aquilo onde estou.”), b) Metrificação irregular, co-
Álvaro de Campos manifesta loquialismo (plano formal);
bem como reconhecimento sua desilusão diante do que
de sua insignificância no apelo ao cotidiano do eu
considera um retrocesso, lírico, prosaísmo (situa-
mundo que o rodeia (“Se uma traição do fundador do
morrer, não falto”). ções).
movimento aos seus próprios
146. O futurismo faz apologia ao c) “Fazendo grandes planos/E
princípios.
mundo moderno, à máquina, à chutando lata”. Há a con-
160. A 161. D 162. D tradição entre uma coisa
velocidade. Os segmentos que
163. C 164. C 165. D séria, pensar no futuro, e o
justificam: “um motor exprime
166. A 167. C descompromisso de chutar
/ ser completo como uma
máquina / triunfante como um 168. Corretas: 2 e 3. 169. A lata.
automóvel / calores de carvão” 170. C 171. D 172. E 209. A 210. D 211. C
etc. 173. C 174. A 175. D 212. D 213. B 214. C
147. A 148. C 149. D 176. O texto Hagar, o Horrível per- 215. E 216. E 217. E
150. B mite uma leitura irônica do Ro- 218. V, F, V, F
151. a) Álvaro de Campos mantismo e do Parnasianismo 219. F, F, F, V
b) Alberto Caeiro pela presença da natureza, pela 220. A 221. E 222. A
expressão enfática de emoções 223. D 224. D 225. B
c) Ricardo Reis
(o emprego das exclamações) 226. A 227. D
152. E 153. B 154. A
e pela preocupação formal (“é 228. Os recursos formais valoriza-
155. A 156. B só colocar rima nisso aí”) como dos pela linguagem modernis-
157. a) Para o poeta, o piano é característica da expressão ta são: linguagem coloquial,
um artifício imitador da poética. liberdade formal. Esses re-
natureza, uma intromissão O texto Radical Chic, em uma cursos podem ser associados
humana (aliás, inútil) na combinação de linguagem ver- à experiência de que trata o
busca da perfeição (asso- poema: a busca de liberdade
bal e não-verbal, trabalha ironi-
ciada à natureza). no aproveitamento das vivên-
camente com uma se-qüência
b) O piano representa a pró- de idéias que se desconstroem cias mais corriqueiras.
pria arte na sua ânsia de se no último quadro, buscando a 229. E 230. C
aproximar da essência na expressão do humor – uma 231. 45 (01 + 04 + 08 + 32)
natureza para exprimi-la. das características presentes 232. C 233. E 234. B
158. A primeira e a terceira estrofes no Modernismo.
do Poema X podem ser asso- 235. D 236. E 237. B
177. D 178. A
ciadas a Fernando Pessoa. A 238. D
179. V, V, F, F, V
primeira, por indicar a possibi- 239. Para Mário de Andrade, dan-
lidade de entrever algum sig- 180. a) Sim. O poeta usa a lin- çar com religião é dançar de
nificado além do identificável guagem para falar sobre a forma espontânea, prazerosa
imediatamente pelos sentidos; linguagem. e feliz.
a terceira, pela expressivida- b) Versos livres, oralidade e 240. a) o que falta pra certos
de melancólica e abstrata. A liberdade temática. moços de tendência mo-
segunda e a quarta estrofes 181. B dernista brasileiros é isso:

320
gostarem de verdade da 247. B 248. C 249. E promete a ser fiel a uma
vida. Eu não posso com- 250. D 251. D 252. A das filhas de Vei, a Sol;
preender um homem de 253. C 254. C 255. B porém, ao brincar com uma
gabinete e vocês todos, portuguesa, ele quebra
256. E 257. A 258. C
do Rio, de Minas, do Norte sua promessa. Dentro do
259. C 260. B 261. C
me parecem um pouco de contexto da obra, entregar-
gabinete demais; estudar é 262. E
se à portuguesa revela a
bom e eu também estudo. 263. V, V, V, V, V
opção de Macunaíma pela
Mas depois do estudo do 264. C 265. A 266. E sedução dos valores euro-
livro e do gozo do livro, ou 267. B 268. D 269. B peus. Ele, portanto, deixa
antes vem o estudo e gozo 270. V, F, V, F de afirmar uma identidade
da ação corporal. Fique 271. V, V, F, F tropical (solar) própria, o
sabendo duma coisa, se
272. C 273. C que configuraria a “opção
não sabe ainda: é com
274. a) Os três povos que forma- pela América”.
essa gente que se apren-
de a sentir e não com a ram nossa raça. b) Possíveis respostas: (1)
inteligência e a erudição b) A nacionalidade é explora- Macunaíma é o herói sem
livresca. da neste episódio por meio nenhum caráter e, como ele
b) Mário de Andrade vê uma do mito das três raças que nos representa (os brasilei-
incorporação de elementos a constituem. A mistura é ros), a civilização européia
e valores da cultura popular abençoada, na medida em não poderia esculhambar
à cultura erudita. que os três homens do epi- o “nosso caráter”. (2) Pelo
sódio são irmãos. Pode-se fato de que, no contexto
241. a) Uma interpretação possível
perceber aí, portanto, uma do livro, Macunaíma é que
é “não há, de jeito nenhum,
alusão à suposta democra- esculhamba os valores
caminho para os amantes
cia racial brasileira. europeus. (3) A afirmação
da Terra”. Outra interpre-
tação é de que “não há 275. a) Sim, Brás Cubas aspira ao expressa o despeito do
caminho idêntico para os gozo, ao poder e à glória, herói. No capítulo em ques-
amantes da Terra”. evidenciando uma trajetó- tão, ele procura um jeito de
ria individualista e indis- ir atrás de Piaimã, que foi
b) A interpretação mais ade-
ciplinada que o afasta de se curar na Europa. Tenta,
quada é “não há caminho
ideologias, permitindo-lhe sem sucesso, uma bolsa
idêntico para os amantes
“se abandonar a todo re-
da Terra” pois, de acordo do governo para custear
pertório de idéias, gestos
com o texto, como as terras sua viagem. Não ir à Eu-
e formas que encontre em
do Rio, de Minas e do Norte ropa, portanto, não ocorre
seu caminho.”
são admiráveis, longas por convicção patriótica.
caminhadas por esses b) Sim. “Macunaíma, o he-
278. A 279. E 280. C
caminhos seriam sempre rói sem nenhum caráter”
demonstra um comporta- 281. C 282. E 283. A
interessantes. Já a inter-
mento contraditório, mul- 284. A 285. C 286. D
pretação de que “não há,
de jeito nenhum, caminho tifacetado e de conduta 287. A 288. E 289. D
para os amantes da Terra” complexa, guiado pelo 290. A 291. B 292. C
torna o texto sem sentido. prazer, pelo medo e pelo
293. E 294. C 295. B
oportunismo.
242. a) Albino: “fraco e submisso” 296. B 297. A 298. D
276. O subtítulo “o herói sem ne-
José: “dignidade custora de 299. F, F, V, V, V
nhum caráter” remete a “herói
um gesto de rebeldia.” 300. E 301. D 302. B
descaracterizado” (malan-
Joaquim Prestes: “autorita- dragem, esperteza), distin- 303. C 304. D 305. B
rismo caprichoso e arbitrá- guindo-o do herói indianista 306. A Antropofagia propõe a
rio que se arroga todos os romântico. Trata-se de um pro- seleção e o aproveitamento
direitos.” tagonista sem características das influências culturais que
b) Sim, pois o poço representa consolidadas (o país é jovem, formaram nossa nação, so-
os riscos e a submissão que o povo está em formação) e mando-as e mesclando-as
engolem os trabalhadores. sem característica única de- com a nossa cultura, com a
243. a) Porque o personagem tem vido ao hibridismo em mescla
nossa raiz, propondo uma
sua existência vinculada ao cultural (rural urbano, tradição,
releitura de nossa História a
trabalho. modernidade).
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partir desta ótica.


b) Sentia-se um vagabundo. 277. a) Não. No episódio em ques-
307. E 308. C
244. B 245. A 246. B tão, Macunaíma se com-
321
309. a) Quanto à forma, o texto o quarto verso do texto 337. “Bebi o café que eu mesmo
caracteriza-se como prosa, (Que pena!). preparei.”
quanto ao conteúdo, pode c) O poema, como um todo, 338. C 339. E
ser considerado como po- estabelece com o Manifes- 340. A defesa da liberdade de expres-
esia, tendo em vista as to uma relação de reforço. são absorvendo o coloquialismo
subjetividades, o realismo Critica o índio cristianizado, e as características da Língua
fantástico ou ao menos im- europeizado. Mostra o ani- Portuguesa falada no Brasil.
provável, além do gênero quilamento do pensamento 341. D 342. B 343. A
lenda. selvagem pela cultura ra-
344. D 345. E
b) Não só pelo título, mas até cional do Ocidente, mas
346. O texto I pertence ao Roman-
mesmo pelo conteúdo, o com aproveitamento ide-
tismo, e o texto II ao Moder-
texto remete a Macunaíma ológico das sugestões de
nismo. A relação amorosa,
(Mário de Andrade), pelo cor local (índio vestido de
no texto I, caracteriza-se pelo
registro da mitologia brasi- Senador do Império; Con-
lirismo e pela idealização. No
leira. tra o índio de tocheiro).
texto II, a relação se caracte-
310. E Há, ainda, uma investida riza pela irreverência.
311. “triturando-os” – “digerindo-os” contra a idealização do
347. O poeta acostuma-se e passa
312. O trecho destacado aponta índio, na construção ale- a aceitar Teresa como criatura
para procedimentos significa- górica de Alencar e dos ro- de Deus e natural.
tivos do projeto modernista: mânticos (Ou figurando nas
348. a) A interjeição “Meu Deus!”
óperas de Alencar cheio de
– a reflexão crítica sobre o indica a insatisfação e a
bons sentimentos).
passado; surpresa do poeta.
315. a) No texto I, há o sincretismo
– a afirmação da cultura b) A seqüência “um cão”,
religioso que aponta para
nacional; “um gato”, “um rato”, “um
a antropofagia também
– a síntese das influências homem” recebe o nome de
na utilização de um voca-
externas e internas, resul- gradação.
bulário que mistura várias
tante da avaliação crítica da 349. a) O texto remete ao poema
fontes lingüísticas.
cultura nacional (conforme Canção do exílio, de Gon-
b) No texto I, Macunaíma
Movimento antropófago). çalves Dias, especialmente
se revela nas suas prá-
313. Inventividade, utilização de ne- nos primeiros versos, mas
ticas religiosas, com sua
ologismos, frases curtas, perí- é possível, ainda, notarmos
linguagem peculiar. Já o
odos independentes, fragmen- referências a Carlos Drum-
texto II apresenta ironia
tação (fleches de memória), mond de Andrade, no tre-
com relação ao discurso
entre outras características cho “intensa poesia”, e ao
bem elaborado, mas pobre
inovadoras. livro Rosa do povo. Cite-se,
de conteúdo. Macunaíma
314. a) O quarto verso do poema também, que o último verso
utiliza uma linguagem que
exprime o ressentimento do texto faz lembrar Gui-
não é sua e soa de forma
do enunciador diante da marães Rosa e o ambiente
falsa.
aculturação do índio bra- básico de sua obra Grande
316. Os dois traços aparecem na sertão: Veredas, além da
sileiro pelo colonizador
paródia do discurso religioso. A referência à futura eleição
português.
vertente “destrutiva” pode ser de Guimarães Rosa à Aca-
b) Os três últimos versos do
observada na desconstrução demia Brasileira de Letras,
poema estabelecem uma
do Pai Nosso; a “construtiva” nos versos 2, 3, 4, 5 e 6.
relação antitética com os
fica evidente na reconstrução
três primeiros. Nestes, b) Não, pois se trata de re-
poética dessa prece, acres-
o autor aponta o que é dondilhas maiores (sete
a realidade histórica de centando-lhe novos elementos
sílabas), como no poe-
descaracterização da cul- que garantem a dimensão
ma Canção do exílio, de
tura indígena; naqueles, estética do poema. Gonçalves Dias, ao qual
afigura-se uma história po- 317. E 318. A 319. E Manuel Bandeira parodia.
tencial e mágica, sonhada 320. A 321. D 322. D 350. a) Há o uso dos diminutivos
pelo poeta, em que o índio 323. C 324. C 325. B que remetem à linguagem
pudesse ter influenciado a 326. E 327. D 328. D infantil (“ternurinhas”,”bich
cultura européia. (O índio inho”), além de uma certa
329. C 330. A
teria despido/O português). “informalidade gramatical
Cabe, ainda, lembrar que 331. V, V, F, F, V
em “dor de coração”, “Le-
os três últimos versos, de 332. E 333. C 334. A
vava ele”, “Pra” e a maneira
natureza volitiva, reforçam 335. E 336. D prosaica, simples, franca

322
com que confessa sua 378. C alagoano, que desperta
paixão. 379. 31 (01 + 02 + 04 + 08 + 16) admiração do poeta per-
b) A “dor de coração” que 380. D 381. E 382. C nambucano: a concisão,
lhe dava era proveniente a economia vocabular,
383. A 384. D 385. D
de um sentimento de re- a proverbial “secura” de
386. 14 (02 + 04 + 08) 387. D
jeição, de indiferença do sua dicção exata, objetiva,
388. O texto de Murilo Mendes é apegada ao essencial e
porquinho, assim como da
uma paródia de “Canção do refratária à adjetivação, à
namorada, a tudo que o eu
exílio”, de Gonçalves Dias. En- subordinação, ao ornamen-
lírico fazia para demonstrar
quanto o texto romântico traz tal.
seu sentimento (“não fazia
uma visão ufanista da pátria,
caso nenhum das minhas b) Os dois-pontos, pospostos
Murilo Mendes, em sua “Can-
ternurinhas”). ao nome do romancista,
ção do exílio”, traz uma visão
351. A 352. E 353. D indicam a enumeração de
crítica da terra natal. Exibe a
354. C 355. A 356. C seus atributos, das qua-
face realista do Brasil: país da
lidades que constituem
357. E 358. B 359. C miscigenação, dominado pela
o texto do poema e seu
360. C 361. D 362. D cultura estrangeira, com sua
conteúdo.
363. C 364. E 365. C fauna e sua flora em extinção.
407. a) Sim, Luís da Silva, narrador
366. C 367. C Após traçar esse retrato da
de Angústia, era descen-
pátria, revela um sentimento
368. a) Beppino, que já havia anda- dente de antigos proprietá-
de saudade da pátria verda-
do de automóvel no enterro rios rurais, mas empobrece
deira.
de sua tia Peronetta, relata e vive do baixo salário que
ao amigo Gaetaninho a 389. a) O texto de Murilo Mendes
recebe como funcionário
sensação prazerosa de pode ser associado ao
público.
passear de carro. surrealismo pelas imagens
b) Como o próprio narrador se
oníricas que constrói.
b) A narrativa gira em torno define, ele e os outros iguais
do desejo de Gaetaninho b) O autor desestrutura o
a ele são parafusos sem
e dos meninos pobres do senso e instaura o con-
utilidade, ou seja, são indi-
Brás de andar de carro, já tra-senso com a relação
víduos incapazes de agir, de
que eles tinham acesso, que estabelece entre os
mudar a situação. São seres
quando muito, ao bonde. verbos e os substantivos,
insignificantes na máquina
Ironicamente, Gaetani- como se pode notar no 2o,
social, frustrados e inquie-
nho só anda de automóvel no 3o e no 4o versos, entre
tos, pois têm consciência de
quando morre atropelado outros.
que nada vai mudar.
pelo bonde. 390. Deodoro usa linguagem co-
c) A narrativa afirma que
c) Os nomes das persona- loquial, descontraída e ina-
parafusos fazem “voltas
gens da narrativa (Beppino, dequada, uma vez que seu
num lugar só”. Há no texto
Gaetaninho, Filomena) ca- interlocutor é o imperador. Já
imagens, como a da cobra,
racterizam as personagens o imperador embora utilize
por exemplo, que sempre
como imigrantes (ou filhos uma linguagem mais contida,
se voltam numa construção
de) italianos que vivem em revela, em seu discurso, uma
típica de alguém obcecado
bairros de nítida ambienta- postura de descaso incompa-
por certos temas (reflexo
ção ítalo-paulistana – Brás, tível com sua posição e com a
de sua desordem interior).
Bexiga e Barra Funda – e gravidade da situação. Esses
O próprio título da obra já
que constituem o próprio diferentes registros de língua
remete a uma idéia fixa,a
título da obra. ironizam e criticam o fato his-
uma dor que não cessa,
tórico em questão.
369. a) No primeiro texto, o efeito o eterno retorno de um
é cômico; no segundo, 391. D 392. A 393. C sofrimento.
aumenta a expressividade 394. D 395. C 396. A 408. Gondim considera que, para
da descrição. 397. C 398. E 399. C haver literatura, a linguagem
b) Alcântara Machado é mo- 400. E 401. E 402. B precisa distanciar-se da fala
dernista e satiriza o roman- 403. V, F, V, F, V cotidiana.
ce romântico, enquanto 404. E 405. D Uma dentre as possibilida-
Alencar é escritor românti- des:
406. a) “Com as mesmas vinte
co. • um artista não pode escre-
palavras / girando ao redor
370. A 371. D 372. A do sol”. Estes versos con- ver como fala.
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373. D 374. D 375. B figuram um dos principais • Se eu fosse escrever como


376. D 377. F, V, V, V, F atributos do romancista falo, ninguém me leria.
323
O narrador considera que o na língua pode ser anterior 432. A
texto literário deve se aproxi- àquela registrada no dicio- 433. O texto anterior refere-se ao
mar da fala cotidiana. nário, pois a palavra pode romance Vidas secas.
Há lá ninguém que fale dessa ter sido usada na linguagem 434. E 435. A 436. B
forma! oral bem antes de ser utiliza-
437. B 438. E 439. A
409. Duas dentre as referências: da na linguagem escrita.
440. A 441. C 442. E
• a posse do capital pelo 412. C 413. C 414. B
443. A 444. D 445. B
narrador; 415. D 416. C 417. E
446. D
• o poder de comando do 418. B 419. V, V, V, F, V
447. E
narrador; 420. V, F, V, V, V
448. Ciclo da cana-de-açucar (Me-
• a divisão do trabalho na 421. B 422. B 423. B
nino de engenho, Doidinho,
composição da obra; 424. E 425. D 426. E Bangüê, O moleque Ricardo,
• a posterior propriedade 427. B Usina); ciclo do cangaço, mis-
sobre o produto final, ou 428. a) A animalização das per- ticismo e seca (Pedra bonita e
seja, o livro; sonagens humanas que Cangaceiro); obras indepen-
• a escola, representada acaba por deixar a per- dentes (Pureza, Riacho doce,
no texto pelas normas da sonagem Baleia quase Água-mãe e Eurídice).
gramática escolar; “humana”. 449. 1a – “O mestre José Amaro”:
• a autoridade religiosa. b) Graciliano Ramos. nesta primeira parte, caracte-
410. a) Enquanto Paulo Honório 429. A dificuldade para se comuni- riza-se o seleiro José Amaro,
teve pouca escolaridade, car e defender seus direitos sua mulher e sua filha louca.
Madalena era professora. e o aspecto abrutalhado de 2a – “O engenho de seu Lula”:
b) Paulo Honório é um empre- Fabiano. narra-se o apogeu e a deca-
endedor capitalista. Rara- 430. a) D r u m m o n d s e m o s t r a dência do engenho Santa Fé
mente teve suas vontades anticapitalista ao demons- e de seu proprietário, o coronel
contrariadas. O conflito trar consciência de classe Lula de Holanda.
surge quando se casa com (“preso à minha classe 3 a – “Capitão Vitorino”: a
Madalena, que era mais e a algumas roupas”) e terceira parte da obra trata
humanista e sensível, con- ao utilizar o jogo entre as de um dos heróis quixotescos
trapondo-se ao marido. palavras “mercadorias” e de nossa literatura, o capitão
“melancolias” numa crítica Vitorio Carneiro da Cunha,
411. a) A palavra “preguiçando” é
ao consumismo. compadre de José Amaro.
formada por sufixação e
“desasnar” é formada por b) Há clara dificuldade de 450. “... eu vira ruir,...”
parassíntese. comunicação (“muros sur- 451. D 452. D 453. B
b) “Ficar preguiçando” dá dos”), já que há outras ca- 454. Ambos são narrativas em
idéia de que os indivíduos madas semânticas (“sob a primeira pessoa, montadas a
a que o narrador se refere pele das palavras, há cifras partir de lembranças infantis
não trabalham, mas se a e códigos”) nas palavras. de vivências em internatos.
palavra for substituída por Há o sentido conotativo 455. a) O livro apresenta a decadên-
“descansando” dá idéia de que nem sempre é com- cia de um ciclo econômico
que os indivíduos fazem partilhado por todos, ainda no Nordeste, e Fogo morto
uma pausa no trabalho, mais na linguagem poética indica o fim de um ciclo: o
que é depois retomado. em que isso se potenciali- dos engenhos de açúcar.
No caso de “desasnar”, a za. b) Vidas secas, de Graciliano
palavra significa deixar de 431. O capítulo “Baleia” deu origem Ramos, e Terras do sem-
ser asno, com conotação ao romance Vidas secas. Nele, fim, de Jorge Amado.
negativa, grosseira. Já Baleia adoece e Fabiano a 456. a) Cometeu-se um “erro” de
“aprender” tem conotação mata, temendo que sofra de concordância verbal. Com
positiva. hidrofobia e passe a doença efeito, o sujeito composto
para os meninos. Esse ca- “Deus do céu e o meu santo
c) Podemos compreender que
pítulo é importante porque a mártir S. Sebastião” exigirá
os dicionários são registros
cachorrinha, humanizada pelo
de palavras usadas na lín- o verbo no plural, já que
narrador, é um parâmetro de
gua. O uso das palavras esse verbo vem posposto
humanidade que ora se con-
é constatado em fontes trapõe à desumanidade dos ao sujeito.
escritas. Daí pode ser pos- seres humanos, ora parece b) – Deus do céu e o meu santo
sível concluir que a “data representar um veículo de mártir S. Sebastião te man-
de entrada” de uma palavra humanização. daram para perto de mim.
324
457. E 458. B 459. D dizer, Drummond mostra, em 511. a) Desvalimento.
460. E 461. V, V, V, V, V especial na frase “O dizer de b) Onda, nuvem, frágil, ele-
462. V, F, F, F, F 463. D um precisa ser acionado pelo mentos etéreos que não
dizer do outro”, como aquilo dão sustentação a ninguém:
464. C 465. C 466. D
que se diz depende da circuns- fugazes, voláteis, deixam o
467. B 468. 65 (01 + 64) tância em que se diz e para poeta só e desvalido quando
469. C 470. E quem se diz. Nesse sentido, passam.
471. a) O erotismo, que estaria o diálogo, isto é, a interação
512. D
presente em praticamente entre as pessoas é a fonte
513. Há diferença entre os modos
todas as obras do escritor, que faz florescer, que aciona a
de Quitéria e Tibério reagirem
principalmente a partir de linguagem, enriquecendo-a e
transformando-a. Observe que diante da presença da morte.
Gabriela, cravo e canela.
embora esta questão se con- Ela mostra-se aberta aos
b) No texto, a mulher aparece
centre em apenas um pedaço sinais de envelhecimento e
como um misto de ingenui-
do texto, ela pede uma leitura da passagem do tempo, reco-
dade infantil e sensualida-
do seu conjunto, justamente nhecendo a naturalidade da
de vibrante: “Tudo podia
por tratar-se de um pedaço morte – como em “Os nossos
ser, ela parecia uma crian-
– síntese, que engloba o texto filhos estão criados, não preci-
ça, as coxas e os seios à
como um todo. sam mais de nós” –, enquanto
mostra como se não visse
Tibério, segundo a visão de
mal naquilo, como se nada 490. “Entre o dizível e o indizível,
Quitéria, prefere se manter
soubesse daquelas coisas, balança a criação do poeta...”;
distante dos indícios de proxi-
fosse toda inocência”. “Dizer o que jamais soube ser
midade do fim da vida, como
c) De fato, para envolver e dito...”; “Haverá algo a dizer,
em “tens medo de pensar na
aproximar o leitor do ero- absolutamente infalível...”
tua morte”.
tismo da cena, o narrador Especialmente no último pa-
rágrafo do texto, Drummond 514. D 515. B 516. B
apela para o olfato (o cheiro
deixa de falar da relação entre 517. B 518. A 519. A
de cravo que exala de Ga-
briela) e para o tato (as mãos as pessoas em geral e os dize- 520. A 521. B 522. B
titubeantes de Nacib). res para, de forma indireta mas 523. A 524. B 525. B
perceptível, colocar-se como 526. D 527. B
472. E 473. E 474. B
manipulador de vocábulos,
475. D 476. C 477. C 528. No trecho acima, o narrador
como poeta, como alguém em
478. 57 (01 + 08 + 16 + 32) fala de suas próprias dificul-
constante luta pela expressão,
dades para contar a história.
479. D 480. A 481. D pela linguagem.
529. O narrador-personagem é
482. Entre outras, destacam-se a 491. V, V, V, F, F 492. D
Riobaldo. A personagem am-
síntese, o uso de versos livres 493. B 494. A 495. D bígua é Reinaldo, chamado
e o humor.
496. B 497. D 498. A de Diadorim apenas por Rio-
483. A
499. V, V, V, F, F 500. B baldo, sendo Diadorina sua
484. O eu lírico passa da recusa/ verdadeira identidade.
501. B
rejeição à proposta/recomen-
502. C 503. B 504. A 530. Grande sertão: veredas. Seu
dação.
505. E autor é Guimarães Rosa.
485. A 486. A
506. a) Ser triste, infeliz. 531. C 532. B 533. A
487. Uma dentre as alternativas:
b) Gênero lírico. 534. A 535. E 536. B
– avesso à emoção lírica;
507. 20 (04 + 16) 537. A 538. D 539. A
– contrário ao arrebatamento
508. Os elementos típicos da obra 540. E 541. D 542. C
lírico;
de Vinícius de Moraes são: o 543. B 544. B
– incompatível com a veemên-
erotismo, o tom coloquial, o 545. Sim. O padre faz uso da lin-
cia lírica.
elogio da beleza feminina: a guagem regionalista, própria
488. Uma dentre os versos: “Lá
exploração de formas tradi- do homem do sertão; ade-
estão os poemas que esperam
cionais (no caso, versos em quada à compreensão do seu
ser escritos.”, “Ei-los sós e mu-
redondilha maior), as referên- interlocutor, Augusto Matraga,
dos, em estado de dicionário.”
cias ao cotidiano. homem rude, criado e vivido
Em ambos os trechos, as no sertão.
palavras nada significam ou 509. Há rigor formal (soneto decas-
sílabo) e o conteúdo é uma das 546. A frase do texto que tem o sen-
comunicam, porque estão
tido equivalente é: Deus mede
isoladas e inativas. marcas do autor: a mistura en-
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a espora pela rédea, e não tira


489. Nesta crônica sobre as con- tre o amor e a sensualidade.
o estribo do pé de arrependido
dições e as contradições do 510. E
nenhum...
325
547. C 548. B 549. E b) Brejeirinha, a contadora de “doloroso”, feito “à força”)
550. D histórias, é uma espécie de e a realização da fala que
551. a) Desfeitio Sherazade, a princesa dos sai numa entonação “lisa”,
contos das Mil e uma noi- “adocicada”.
Na expressão “o desfeitio
da vida”, pode-se ressaltar tes, narradora de capacida- b) “Ela” retoma o termo “gla-
o sentido de que a vida não de inventiva interminável. ce”. Há uma referência ima-
tem feição ou configuração Ninhinha é a criança pri- gética: a dureza da palavra
certa. mordial, mágica, a quem o pedra está mascarada na
imaginário religioso popular doçura das palavras con-
b) Uma dentre as formas:
e familiar atribui poderes feitadas, adocicadas por
• muito inteligente
miraculosos, entre eles o essa glace.
• bastante inteligente
de profetizar a própria mor- 597. E 598. A 599. D
• bem inteligente te e antever o caixãozinho 600. A 601. E
• deveras inteligente cor-de-rosa, com enfeites 602. a) “Imaginavazinha” é uma
• assaz inteligente verdinhos. invenção lingüística de
• inteligentíssimo 554. a) Guimarães e Miguilim Clarice Lispector, proce-
552. a) “Darandina”, de Guimarães aproximaram-se. Guima- dimento comum no tipo
Rosa, aborda as fronteiras rães caracterizou-se pela de escrita criativa que ela
entre a normalidade e a versatilidade na arte de pratica, fundindo poesia e
loucura. O ponto climático contar estórias compridas, prosa. Acrescendo ao pre-
da história ocorre no mo- sem carecer de esforço e térito imperfeito do verbo
mento em que o pretenso que ninguém nunca tinha imaginar o sufixo -zinha,
louco desce da escada e sabido. formador de diminutivos,
exclama enfaticamente b) É possível responder a o verbo ganha uma carga
Viva a luta! Viva a liberda- esse item de duas manei- de afetividade notável e
de! e é ovacionado pela ras, ambas interpretati- provoca um efeito de “es-
multidão, o que leva o vas: tranhamento” lingüístico.
leitor ao questionamento – Sair do Mutum tolhe a b) A forma diminutiva insólita
da loucura. capacidade de contador revela a empatia e a comi-
b) O conto Tarantão, meu de estórias, pois ele passa seração do narrador, Rodri-
patrão mostra um velho de a enxergar claramente a re- go S. M., por sua persona-
escasso juízo que sai em alidade, em nítida oposição gem. Tudo se passa como
sua última cavalgada para realidade X imaginação. se a ternura aproximasse o
matar o sobrinho Magrinho. – Não tolhe, porque suas narrador da personagem,
Depois de muitas aven- reflexões podem se tornar no instante em que ela
turas, surge o anticlímax, reminiscências de um mun- manifesta essa mínima hu-
sem o esperado desfecho do mágico a ser resguarda- manidade, sua imaginação
trágico, novamente ques- do. limitada e dolorosa.
tionando o leitor sobre a 555. C 556. D 557. D 603. a) De Natal: celebração da
loucura. 558. A 559. A 560. B natalidade, do nascimento,
553. a) Ninhinha está vinculada a 561. D 562. D 563. B da vida.
um espaço rural mais afas- 564. E 565. D 566. E Pernambucano: adaptação
tado e primitivo. É também 567. B 568. D 569. C dos tradicionais autos de
um espaço mítico, que se Natal da Idade Média (que
570. D 571. E 572. C
instaura já a partir dos topô- celebravam o nascimento
573. B 574. A 575. E
nimos: Serra do Mim, lugar de Cristo) às condições
576. D 577. B 578. A
chamado Temor-de-Deus. físicas e sociais de Per-
579. C 580. D 581. A nambuco.
Brejeirinha associa-se a
um espaço ainda rural, mas 582. E 583. C b) Severina: severa, cruel.
com articulação mais com- 584. V, V, F, F, V
c) Trajetória da morte (ne-
plexa: a presença do primo 585. E 586. E 587. A gação da vida, como, por
Zito, as referências à caixa 588. C 589. A 590. A exemplo, as dificuldades da
de fósforo, ao chiclete e 591. D 592. A 593. A existência “severina”: misé-
às narrativas inventadas 594. F, V, V, V, V 595. A ria, fome etc.) para a vida
pela protagonista, que nos 596. a) Há um contraste entre a (reafirmação do mistério da
remetem a outras séries dificuldade na busca da pa- beleza da vida e renovação
literárias. lavra (que é um processo das esperanças).

326
604. a) A obra A hora da estrela e palavras a partir da troca de inscrito nos versos de verve
alude, metaforicamente, apenas alguns fonemas. fescenina do intitulado Boca
à morte, ao instante de 623. Ao dividir as palavras, o poeta do Inferno.
fulguração rápida, mas sugere as idéias de terra, ter, O teor político e sacrílego do
reveladora de todo um erra, ara e o termo rat. Isso poema de Gregório, em espe-
sentido da existência. É a gera a coerência do texto, já cial a partir do palavrão nele
epifania. que esses termos remetem ao contido, se esvazia no trecho
b) A hora da estrela, banal campo semântico da questão de Rubem Fonseca. Aqui,
e reveladora, é o instante agrícola e da divisão de terra. a banalização do chamado
maior de Macabéa, anôni- A má distribuição de terras está palavrão se acentua já no fato
ma, estatelada na rua, mas explícita na divisão irregular de ser enunciado por “coros de
objeto da atenção fugaz das palavras no poema. meninas”, a que, supostamen-
dos transeuntes anôni- 624. a) Na disposição espacial das te, se reservaria uma imagem
mos. palavras. de pureza e casticismo ver-
605. a) Os versos transcritos ocor- náculo. Além da banalização
b) A ampliação das palavras
que desgasta a contundência
rem no episódio propria- “pensa” e “nunca”.
do palavrão, o trecho tam-
mente “natalino” da peça de 625. D 626. E bém aponta para o “efeito
João Cabral: o nascimento
627. Carlos de Oliveira, poeta catártico”, coletivo, de seu uso.
da criança. Este episódio
português contemporâneo, Poder-se-ia ampliar a resposta
funciona, no contexto da
trabalha o fato de a literatura indicando traços estilísticos
obra, como defesa da vida,
explorar sempre um mesmo da literatura contemporânea
ainda que se trate de uma
universo de palavras (“nada se presentes no trecho, como o
defesa fraca e hesitante
cria, nada se perde”) para criar coloquialismo da linguagem,
(apenas mais uma “vida
seus poemas; no entanto, os a presença “naturalizada” de
severina”).
poemas estão em constante termos chulos e a reflexão de
Por isso, o mestre carpina busca de novas formas (“tudo caráter metalingüístico.
toma o evento como argu- se transforma”). 631. D 632. D 633. B
mento contra o pretendido
628. A 629. B 634. D 635. A 636. C
suicídio do retirante.
630. É possível estabelecer compa- 637. B 638. D 639. E
b) Os verbos em questão têm,
rações – de ordem lingüística 640. E 641. B 642. E
no contexto, o seu sentido
e, inevitavelmente, literária
alterado, invertido: em vez 643. E 644. B 645. C
– entre o uso do palavrão “fo-
das ações deletérias (des- 646. B 647. A
der”, no poema Define a sua
trutivas) que habitualmen- 648. a) Texto I: Realismo
cidade, de Gregório de Matos,
te indicam, eles ganham Texto II: Modernismo
e “puta que o pariu”, “puta”,
sentido positivo, pois ope- b) O candidato deverá apre-
“pariu” e/ou “foder”, no trecho
ram em favor do “novo” (a sentar duas possibilidades
do conto Intestino grosso, de
nova vida, a esperança de de pontuação, como por
Rubem Fonseca.
redenção social) contra o exemplo:
Basicamente, em Gregório,
“velho” (o status quo injus-
o vocábulo aponta para uma Marcação de diálogo: o
to, opressor, desumano).
corrosiva e desbocada crítica emprego do travessão no
606. D 607. A 608. D texto I marca a fala dife-
à situação de permissiva licen-
609. C 610. C ciosidade reinante na Bahia, renciada de cada persona-
611. E, C, B, A, D 612. D então colônia portuguesa. À gem; o uso das aspas no
613. D 614. B 615. A crítica a tais abusos e desre- texto II apresenta o diálogo
616. B 617. C 618. A gramentos morais, o poema incorporado ao fluxo da
619. E 620. B 621. B acrescenta a denúncia de narrativa.
622. A disposição gráfica do poema roubo e, por extensão, con- Uso do ponto: no texto I indi-
no papel, buscando uma espa- siderado o contexto histórico ca o término de um período
cialização e uma visualização em que se localiza a obra da narrativa, enquanto sua
do texto, conforme algumas gregoriana, de desmandos e substituição pela vírgula
experiências do Cubismo e de corrupção, ao reunir num no texto II destaca a lem-
do Futurismo. Além disso, o sintagma os dois “ff” – “furtar brança de seqüência de
poema submete as palavras e foder”. Poder-se-ia ampliar a ações.
do slogan publicitário “Beba resposta indicando traços esti- 649. a) E quando cheguei à tarde
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Coca-Cola” a um processo de lísticos do Barroco presentes na minha casa lá no 27


desmontagem e remontagem, no poema, como o hipérbato, (Regência do verbo che-
dando origem a novas sílabas e o jogo cultista-conceptista gar).
327
b) Que você tem? O engajamento político de momentos. A Marcha Fúnebre
O que você tem? Lião (Lião fazendo comí- indica a morte de Alaíde, e a
O que é que você tem? cio). Marcha Nupcial, o casamento
653. D 654. D 655. C de Lúcia com Pedro.
Que é que você tem?
656. D 657. B 658. C 678. a) A proposta serve para
Que tem você?
659. A 660. C 661. A fins imorais, já que visa a
c) e assim que entramos
caluniar o governo para
nele. 662. C 663. A 664. A
manipular a classe média.
650. a) Macabéa e Fabiano asse- 665. C 666. A 667. E
b) A classe média se vê como
melham-se no desconheci- 668. E 669. C guardiã da moralidade,
mento da linguagem culta 670. O como não importa: no bom como espécie de com-
e no fascínio que sentem resultado está o mérito. pensação de sua falta de
por palavras ‘misteriosas’, 671. Quem é rico não precisa jus- recursos.
cujos sentidos, de certa tificar seus atos, já que a lei é 679. a) A repetição sonora indica
forma, ignoram. feita apenas para os pobres. que a semelhança, além de
b) Macabéa quer, a todo 672. Destacar a ruptura no clima de fonética, também é semân-
custo, aprender a usar as fantasia do teatro: o persona- tica: atividades imorais.
palavras que ouve, fasci- gem esclarece ao público que b) Busca impressionar os as-
nada por elas. Já Fabiano, ele representa um tipo social; sistentes, já que uma men-
reconhecendo a linguagem Mas esta cena basta para nos tira muito repetida pode ser
como instrumento de domi- identificar perante o público. tomada como verdade.
nação, às vezes decorava-
673. Sim. (Destacar o conceito de 680. a) Segundo o padre, “Benzer
as e empregava-as para
família ligado à propriedade motor é fácil, todo mundo
depois esquecê-las.
que o personagem expõe: faz isso...”, “... é uma coisa
651. E quero me dedicar quem não tem propriedade que todo mundo benze”.
A criar confusão de prosódia não tem família; pobre não tem O autor critica o fato de o
E uma profusão de paródias. família, tem prole. padre se deixar levar pelas
– manuseio livre da língua 674. E 675. E convenções.
(confusão de prosódia) 676. A peça rompe com a regra b) O padre porta-se como sub-
– o texto de, Caetano Veloso clássica do teatro que prevê serviente e interesseiro, ao
utiliza profusamente as as três unidades: uma ação, curvar-se diante do poder
paródias um tempo e um espaço. O de mando do “major”; si-
652. a) Monólogo interior como dramaturgo divide a ação em multaneamente, despreza
forma de expressar o fluxo três planos (da memória, da a simplicidade e a boa-fé
de consciência. alucinação e da realidade) que dos dois populares que o
b) A desintegração de Ana se interpenetram ao longo da procuram para benzer o
Clara pela prostituição e obra. cão.
drogas (Ana Clara fazendo 677. A obra aproxima os símbolos
amor). de amor e morte em vários

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