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1. Introdução
Narrador:
Começa com o Pró-terra,
Financiando o gado e a cana,
As terras se valorizam,
A negociata se dana,
Lavouras são destruídas,
Famílias pobres, varridas
A ambição fica insana.
Chamada I
O ano é setenta e quatro,
Com dez de Revolução,
Os países do petróleo,
Tomaram resolução,
De cobrar de todo mundo,
Um gemido mais profundo,
Em troca da produção.
O governo brasileiro,
Sentindo esse contratempo,
Reuniu seu ministério,
E resolveu nesse momento,
Substituir gasolina,
Pelo produto da usina,
Que demonstrou seu talento.
Foi então que o Proálcool,
Botou dinheiro em ação
Pra cana suficiente
Partiu para promoção
De investimentos maiores
Pras terras que eram melhores
A incentivar a plantação.
Jogral:
- O Arrendatário terá
Na venda que ocorrerá
A preferência da terra
Narrador:
E diz mais Castelo Branco:
Jogral:
- Se o proprietário em segredo
Fizer a negociata
O arrendatário sem medo,
Antes do fim de um semestre,
Desfará o golpe de mestre,
Agindo o quanto mais cedo
- Basta o apurar o valor
Da propriedade em questão
Depositá-lo em cartório
Por mais que movam a ação,
E reafirmem o contrário,
Ele será o proprietário,
A quem a lei dá razão
2. O Estatuto da Terra
Tenor Solista:
Ao ilustre senhor que é Presidente
Dessa grande nação que é brasileira
General que usa estrelas da bandeira
Nos seus ombros sinal que é onipotente
Nós queremos pedir pela presente
Atenção às famílias da pobreza
Que em Pedras de Fogo com nobreza
Só das terras tirando o seu sustento
Vem agora erguer esse lamento
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Por desmandos dos donos da riqueza.
Coro:
Vem agora erguer esse lamento
Por desmandos dos donos da riqueza.
É o povo de Alagamar
Ai, ai, ui, ui!
Que já está ficando nu.
Tenor Solista:
Confiando em Sua Excelência
E no Exército pronto pra acudir
É que os grandes se botam a invadir
Estas terras que são de subsistência
O Estatuto da Terra
Manda INCRA definir
Onde a Reforma Agrária
Tem urgência de agir
É fácil de perceber
A forma de escorpião
Do ano sessenta e quatro
A favor foi do patrão
Jogral:
Ficamos todos danados!
Narrador:
Na Capela houve alvoroço,
Houve reza, houve missa,
Frei Hermano em seu sermão
Clamou contra injustiça:
Voz I:
Eles vão querer mais lucro
Mas montaram burro xucro
Vão se danar co’a justiça!
Vão lá pra Federação
Exijam as providências
E enquanto não atendidos
Não percam a paciência
O Arcebispo Dom José
Já me explicou como é
A luta da Não-Violência
Chamada II
Voz I e Jogral:
Primeiro é nunca matar
Segundo, jamais ferir
Terceiro, estar sempre atento
Quarto, sempre se unir
Quinto, desobediência
Das ordens de sua excelência
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Que podem nos destruir.
3. Canção da Não Violência I
Coro:
Primeiro é nunca matar
Segundo, jamais ferir
Terceiro, estar sempre atento
Quarto, sempre se unir
Quinto, desobediência (Unir)
Das ordens de sua excelência (Unir)
Que podem nos destruir.
Voz I
O Egito mudou de rei
Conta a história sagrada
Tanto perseguiu os hebreus
Que eles saíram na estrada
Desobedecendo a ordem
Com a divina contra ordem
De enfrentarem a jornada
Mas essa é a nossa Canaã
Pelo Estatuto da Terra
Nossa Terra Prometida
Quem sabe isso não erra
Vários anos no deserto
Em busca de solo fértil
Com medo de fazer guerra
Narrador:
Os moradores clamaram
Direto à Federação
Domingo estavam na feira
Só as mulheres que não
E elas viram pistoleiros
Feito caubóis verdadeiros
Descerem de um caminhão
4. Recitativo I
Tenor Solista:
Vinte e três apearam na Capela
Começando ligeiro a destelhá-la
E diante das mulheres a chorá-la
Um trator se chegou bem perto dela
Os capangas prenderam a janela
Em um cabo que à maquina ligaram
Num puxão suas taipas desabaram
Entre gritos, pavor, ranger de dentes
Em seguida os pedaços, os dementes
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Carregaram no carro e transportaram
Coro:
Em seguida os pedaços, os dementes
Carregaram no carro e transportaram
Narrador:
Frei Hermano chego lá
E riu da intenção brutal, disse:
Voz I:
O Posto de saúde funcionará
Ao normal debaixo do cajueiro
Voz I e Jogral:
Ai, ai, ui, ui!
E a missa será campal!
Chamada III
Voz II:
- Irmãos!
Narrador:
Gritou para o povo
O Arcebispo Dom José
Voz II:
Vou lhes contar uma história
Que não precisa de fé
Um pai às portas da morte
Querendo a família forte
Passou a mostrar como é
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O filho mais entroncado
Recebeu o feixe disposto
E o velho disse-lhe: Quebre!
O moço torceu o rosto
Retesou a musculatura
Dobrou em dois a estatura
Até afrouxar com desgosto
E as pontes se alargando
E mais rios se juntando
As margens vão se afastando
Essa enchente vai passar
E a união vai aumentando
Pro Nordeste caminhando
E o rio alaga o mar
Narrador e Jogral:
Ai, ai, ui, ui!
Foi pregar o Evangelho.
7. Nosso Irmão da Segurança I
Tenor Solo:
Queria que nosso irmão
Que é na segurança
Viesse viver neste chão
Comer farinha e feijão
E como um galo na rinha
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Lutar para ganhar o pão
Soprano Solista:
Veria que a segurança
Não se obtém com terror
Melhor que toda a repressão
Tivesse transformado
Metralhadora em arado
Tanque de guerra em trator
8. Recitativo III
Tenor Solista:
Mas em Pedras de Fogo
Houve outra frente
A Usina Olho d’Água enviou um aviso
Através de um oficial de juízo
Que chegou com soldados
E ar urgente
Narrador:
Todos tinham seis meses, e somente
Pra deixar as casas da fazenda
Era a lei que não tinha mais emenda
Porque a Usina queria plantar cana
E derrubaria casa ou cabana
Que a fosse impedir de aumentar a renda.
Voz III:
Não vamos guardar rancores!
Podem arrancar as casas
Jogral:
O Estatuto da Terra determina
Que em áreas que tem muitos posseiros,
Arrendatários ou então parceiros,
Se a tensão social nelas domina,
A Reforma Agrária é a medicina.
E por isso o Arcebispo concluiu:
Voz II:
Voltará o dinheiro de onde saiu.
Mucatú deverá, pela Reforma,
Combater qualquer que seja a forma,
E servir de exemplo a quem a seguiu.
Narrador:
Na Fazenda Retirada,
Piorava a situação:
Abel Joaquim Batista
E seu vizinho em ação
Antônio Oliveira Pinto,
Se viram formando um cinto
No avanço da opressão.
Os tratores arrasaram
As bananas, macaxeiras,
Da viúva Maria Henrique,
Com as lâminas e esteiras.
Em seu lugar nasceu a cana,
Que numa visão sacana,
Virou palha e, após, fogueira.
Voz III:
E se pedirem direitos,
Querendo indenização,
A usina vai rir de todos,
Dizendo tão loucos não.
Ninguém quer que vocês saiam
Soprano Solista:
Veria que a segurança
Não se obtém com terror
Melhor que toda a repressão
Tivesse transformado
Metralhadora em arado
Tanque de guerra em trator
Narrador:
Na Fazenda Alagamar
O dono, Antônio Galvão
Chegou mais três pistoleiros
E fez a provocação
Parou a caminhonete
E disse pros seus valetes:
Voz IV:
- Devastem a plantação!
Narrador:
Cinquenta e sete valentes
Enraizavam macaxeira
Na roça comunitária
Pra negociar lá na feira
E atender a despesa
Da luta que estava acesa
E não parecia ligeira
Os pistoleiros chegaram
Apontando seus trinta-e-oitos
Chamada IV
Narrador:
Os homens se entreolharam
Os calmos pros mais afoitos
Com alei da Não-Violência
Era preciso ter paciência
E aos bandidos dar coito.
12. Querem Que a Gente Guerreie
Coro:
Querem que a gente guerreie
Pra descer o pau no povo
Ou eles vem medo
Mas eu daqui não me movo
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Arranquem logo as manivas (Não me movo)
As ordens são positivas (Não me movo)
A gente planta de novo
Mas eu daqui não me movo
A gente planta de novo
Narrador:
E assim os três bandoleiros
Tiraram doze mil plantas
E Antônio Galvão gritou:
Voz IV:
- Plantar de novo não adianta!
Dezembro solto o meu gado
Faço um estrago danado,
Brincou, eu corto a garganta.
Jogral:
De repente estourou a novidade,
Mucatú entregou-se a uma festa
Que por toda região se desembesta
E se espalha por todas as cidades:
É que a luta com sua intensidade
Pelos mil e duzentos hectares,
Que do campo saltara até os altares,
Tinha tido uma vitória desmedida:
A desapropriação foi conseguida
E de dez mil e duzentos hectares!
Narrador:
Na Fazenda Alagamar
O entusiasmo foi grande.
Mais o proprietário agride
A Não-Violência se expande.
Sempre a uma sua maldade
Surge uma dura bondade
De modo que a causa ande.
Jogral:
- Esses homens estavam sozinhos não!
Narrador:
O tenente disse:
Voz I:
- Só esses foram os denunciados
Portanto, subam no jipe,
Os outros ‘tão dispensados.
Narrador:
Porém, o povo insistiu:
Jogral:
- Tenente, você ouviu,
Todos aqui são culpados.
Voz I:
Então eles entrem no jipe,
E o resto que siga a pé.
Jogral:
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- O tenente me desculpe,
O senhor sabe como é,
Eles não são mais que a gente.
Vá indo de jipe na frente,
Nós vamos tudinho a pé.
Narrador:
O tenente, percebendo,
Quer não poderia com cem,
Engatou o jipe em primeira
E disse:
Voz I:
- Está muito bem.
Vamos pra Itabaiana,
Pagar a cana em cana
E eu acho que eu vou também...
Chamada V
Narrador:
Mal iniciou-se a marcha
O povo danou-se a cantar.
A chuva caiu nessa hora,
Seguiram bem devagar
E com a água tão fria,
Cresceu em muito a alegria,
Foram-se andando a dançar.
14. Ó Minha Gente I
Tenor Solista:
Ó Minha gente
Que é isso agora
Tanta alegria
Nessa terra não se chora?
Coro:
Chorar na chuva gostosa
Chorar nessa alegria
Sentir a terra cheirosa
Chorar no romper do dia
Soprano Solista:
Ó Minha gente
Que é isso agora
Tanta alegria
Nessa terra não se chora?
Coro:
Chorava, ô Seu José
Chorava e ainda se chora
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Mas só os que longe da gente
Ficaram então de fora
Tenor Solista:
Ó Minha gente
Que é isso agora
Tanta alegria
Nessa terra não se chora?
Coro:
Chorar pra que, meu amigo?
Pra que se a vitória é certa?
Se essa nossa caminhada
Mudará a nossa história
Soprano Solista:
Ó Minha gente
Que é isso agora
Tanta alegria
Nessa terra não se chora?
Coro:
Meu povo eu chega vejo
Que será desse país
Quando todo mundo forte
Se juntar também me diz
Narrador:
Já era noite fechada
O juiz cantou de esperar.
E o delegado, sozinho,
Foi quem viu o povo chegar.
Avistou o jipe na frente,
Atrás o horror de gente,
Danou-se a gaguejar.
Voz II:
- Mas é homem e mulher,
Velho, criança, menino!
O que é isso, seu tenente?
Jamais vi tal desatino!
Jogral:
(Tudo sorrindo calado,
Sem medo, desassombrado,
Pra enfrentar seu destino.)
Narrador:
O delegado então disse;
Voz II:
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- Hôme, vocês vão s’embora.
Se todos vão pra cadeia,
Quem é que fica de fora?
Tomem aqui cem cruzeiros,
Comprem logo dois candeeiros,
Vão pras suas casas, agora!
Narrador:
Uma visão esquisita,
No meio da noite, formosa.
Uma multidão caminhava
Na chuva diluviosa,
Só com aqueles candeeiros
Servindo-lhes como luzeiros,
Dançando coco de roda.
15. Ó Minha Gente II
Coro:
Chorar pra que, meu amigo?
Pra que se a vitória é certa?
Se essa nossa caminhada
Mudará a nossa história
Narrador:
De repente, porém, um susto
E essa festa acabou.
Diante do córgo cheio
O entusiasmo encruou
A água estava ruidosa,
Passando bem volumosa
E o pavor espalhou.
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16. Vamos Arrochar as Mãos
Coro:
Vamos arrochar as mãos
E Juntar bem nossos braços
Avançar na correnteza
Sem afrouxar nossos laços
Podem ver que o aperreio
Está bem firme num freio
Vamos arrochar as mãos
E Juntar bem nossos braços
Jogral:
De setembro a maio a desgraça dura
E apodrece a água que era tão pura.
Tenor Solista:
Se alguém olha para o rio
Não vê sua imagem
Voz III:
Eu vi lá em Mata-de-Vara
De São Miguel de Taipú
A roça cheia de zebu.
Pra mim foi um tapa na cara.
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Voz IV:
E essa visão não é rara,
O mesmo se dá em Lameiro
E não será o derradeiro
Ligar que não sobra nada
Voz I:
O mesmo houve em Alvorada.
Jogral:
Isso não tem paradeiro.
Chamada VI
Voz II:
Antes da Revolução
Nenhum dos grandes queria
Trabalhador que aderia
À sindicalização.
18. O Sindicato I
Tenor Solista:
Hoje não tem exceção
Pois todo latifundiário
Quer exatamente o contrário
Coro:
Por que o Sindicato agora
É o que mais colabora
Pra o povo ficar precário.
Voz III:
Fundou-se o Funrural
Numa grande melhoria
Deu-se aposentadoria
E assistência social,
Dentista mais hospital.
19. O Sindicato II
Tenor Solista:
Mas eu não sou cabra moço
Posso dizer sem sobroço
Que agiram com sutileza
Coro:
E deram a sobremesa
Pra gente esquecer o almoço.
Voz II:
Pro nosso órgão de classe
Foi golpe quase fatal.
Quiseram com o Funrural
Que a nossa união acabasse
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E o Sindicato ficasse
Um mamulengo idiota
Pro grande fazer marmota
Com essa nossa miséria
Que é coisa muito mais séria
Que o esparadrapo que bota.
O Sindicato é escola
Pra ensinar o direito
Dos que trabalham no eito
E não precisam de esmola.
O Sindicato de veras
Tinha muita energia
E a consciência crescia.
Mas isso é de outras eras
Não somos aquelas feras
Que os proprietários temiam.
20. O Sindicato III
Coro:
Somos só gatos que miam
A desfiar ladainhas
Rezando Salve-Rainhas
Do jeito que eles queriam.
Voz IV:
Na Índia existiu um homem
Que livrou o país da Inglaterra.
Magrinho, porém brilhante,
Do tipo que fala e não erra.
Seu nome famoso era Gandhi
E o seu exemplo foi grande
Pra quem quer livrar sua terra.
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O que é preciso é ter calma
E soltar a força da alma
De maneira vigorosa.
Narrador:
Geisel pergunta e não lhe escondem:
Chamada VIII
Voz II:
- É dez mil hectares, lhe respondem,
Se não der, a eleição aqui irá abaixo.
Voz I:
- Pode ser que se possa voar mais baixo
E dois mil hectares já bastassem,
O proprietário e o povo se alegrassem
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E o problema perdesse a intensidade.
Voz II:
Talvez não houvesse essa necessidade
Se pra eleição sete dias não faltassem.
22. Canto Final
Coro:
O povo de Alagamar
Festejou essa conquista
Mas sabe que dois não é dez
Não tem defeito na vista
Continua Não-Violento
Nunca será conformista
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