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POR BRUNO RODRIGUES • COLUNA

Coluna Cidade Filosófica


Prometeu Acorrentado
(ÉSQUILO. Prometeu Acor- des. Desse modo, a visão prome-
rentado, v. 1283-8) téica é aquela que o faz livre e
Prometeu mesmo acorrenta- adiante sobre todos os demais
do se diz mais livre que Hermes deuses. Ao dar o fogo proibido
na sua função de submisso men- aos homens, Prometeu conce-
sageiro de Zeus. A liberdade de deu-lhes a luz divina, a razão para
Prometeu consiste na sua métis, tomar suas decisões e a vontade
sua astúcia, sua inteligência, isto para agir. A liberdade humana
é, no seu livre pensar que é fruto consiste no conjunto entre ação
do seu saber, que o faz sempre e reflexão. Viver é se deparar com
estar adiante dos demais. O or- a angústia da liberdade que te-
gulho do liberto Hermes é vão, mos dentro de nós diante das in-
pois ele está preso na própria ig- certezas do mundo que nos cer-
norância e não tem como saber, ca. Cabe-nos a escolha diante da
e nem mesmo arrancar, o que diz vida perante o tempo que nos é
Prometeu saber. Prometeu é re- dado. Como o próprio Prometeu
siliente perante as circunstânci- nos diz: “o tempo ensina enquan-
as em que se encontra quando to vai passando...”.
foi acorrentado por Hefesto. A Em minha próxima coluna,
tentativa de intimidá-lo pelo falarei de como Prometeu foi li-
poder das sentinelas de Zeus, berto de seus grilhões.
Krátos e Bía, de nada adiantou
para anular a perspicácia e a co-
Como vimos em nossa coluna dade dos homens, tornando-se, as- Hermes, mensageiro de Zeus: ragem de Prometeu frente ao seu
anterior, por ter roubado o fogo sim, o primeiro amigo da humani- destino. Ele se mantém firme e
divino e entregue aos homens, dade (philantrópos). Fica sabendo ainda: nunca eu paciente perante a força onipo-
Prometeu será condenado e casti- A liberdade é o tema que per- trocaria tente e opressora de Zeus. Nes-
gado por Zeus e será acorrentado passa toda a narrativa que move minha desdita pela tua sub- se sentido, Prometeu e Sócrates,
no Cáucaso por Hefesto. Essa será o mito de Prometeu. No Prome- missão. tragédia e filosofia, parecem li-
a sina de Prometeu: ficar acorren- teu Acorrentado do tragediógrafo Acho melhor ficar preso a este gados ou acorrentados por prin-
tado pela eternidade tendo uma grego Ésquilo, podemos ver rochedo cípio, Prometeu no seu saber
águia que todos os dias irá comer como, apesar de agrilhoado e sem que me ver transformado em adiante, Sócrates pelo seu saber
seu fígado. A representação de Pro- liberdade para agir, Prometeu fiel mensageiro que nada sabe. Ambos firmes
meteu e suas correntes inquebran- mantém-se a frente em sua visão, de Zeus, senhor dos deuses! perante o verdadeiro saber.
táveis é o paradigma da liberdade. sendo que o próprio destino de Assim mostrarei O saber que move Prometeu Por Luiz Maurício B. R. Menezes
Ao se permitir acorrentar, Prome- Zeus depende da liberdade de Pro- aos orgulhosos quão vazio é é aquele que o permite estar sem- Professor de Filosofia Antiga e Filo-
sofia Política da UEAP
teu defende a existência e a liber- meteu. E nisso, Prometeu desafia seu orgulho! pre além de todas as possibilida-

DOM PEDRO JOSÉ CONTI • COLUNA Bispo de Macapá

A maior riqueza
Certo dia, uma criança se perdeu do Tempo Litúrgico chamado “Co- se evangelista que n os acompanha- pergunta. Se sabemos a resposta fi- nhos se confundem e podemos nos
em uma montanha. Depois de mui- mum”. Em geral, nos evangelhos rá, neste ano, nos Círculos Bíblicos camos contentes. Uma luz se acen- perder. Por exemplo, se buscamos as
to andar, bateu na porta de uma casa dominicais, encontramos o início da da nossa Diocese. João usa palavras de em nossa mente e em nosso co- riquezas deste mundo, qual será o
enorme, no meio da floresta. O ve- que somente se ração. Se não sabemos resp onder caminho mais fácil? Temos mestres
lho que veio abrir, vendo o menino entendem se ou nos sentimos insatisfeitos com a de sobra. Mas se buscamos um senti-
ficou surpreendido: - Andas perdi- conseguimos resposta, no mínimo, ficamos inco- do mais profundo em nossa vida, se
do, pequeno? fazer a ligação modados. Isso é bom também; faz- deixamos sobressair a nossa sede de
– Sim, e não sei voltar para casa. com as promes- nos participar do debate, obriga-nos Deus, como conseguir encontrá-lo?
– Entra, então, descansa comigo sas e os fatos do a olhar dentro de nós, para reconhe- Eis a resposta de Jesus: “Vinde ver”.
esta noite e come da minha ceia. Antigo Testa- cer a que ponto está a consciência e É um convite a ficar junto dele, escu-
Enquanto jantavam, puseram-se a mento, com re- a vivência da nossa fé. O evangelista tá-lo, descobri-lo. Essa “familiarida-
conversar. ferência, sobre- João quer cristãos testemunhas lu- de” vale para todos nós, seres hu-
– Eu sou – disse o velho – um tudo, aos livros minosas da verdade, mais luz que manos sociais, para nos conhecer-
sábio e quero salvar o mundo. Pro- do Êxodo e dos escuridão. mos, aprendermos a conviver e nos
pus-me essa missão e está quase ter- Profetas. No trecho evangélico deste do- amarmos. Muito mais, tudo isto, vale
minada. Descobri como se fabrica o Outro deta- mingo duas perguntas chamam a para Jesus, que na sua humanidade
ouro e, assim, todos os homens po- lhe desse evan- nossa atenção. Uma é de Jesus: “O revela a grandeza da divindade. Se
derão ter um tesouro e ser felizes. gelho são as que estais procurando?”. A outra é queremos ser cristãos mais felizes da
– Ouro? Para que ouro? Eu não perguntas. Os dos dois discípulos que começaram nossa fé, precisamos “demorar” mais
preciso dele. Eu sou rico, meu senhor. estudiosos as a segui-lo: “Mestre, onde moras?”. A com Jesus, na oração, na escuta da
Tenho pai, tenho mãe e até um ir- contaram: são primeira é, sem dúvida, uma pergun- sua palavra, na comunidade dos ir-
mãozinho. Sou muito rico de amor! missão de Jesus, os seus primeiros mais de 160! São perguntas de Je- ta existencial, porque todos nós pro- mãos. Muito depende do que real-
Ao ouvir essa resposta, o velho ficou gestos e palavras e os primeiros dis- sus, questionamentos dos adversá- curamos algo em nossa vida. A se- mente buscamos em nossa vida. Ri-
pensando. Olhou para os seus instru- cípulos chamados a segui-lo. Come- rios, dúvidas de quem quer enten- gunda revela o desejo profundo do queza s, bem-estar, prosperidade,
mentos de fazer ouro e depois para o çamos com um trecho do evangelho der o que está em jogo. Perguntas coração humano, quando percebe- saúde...Ouro? Talvez Jesus tenha
céu. E numa voz muito doce, disse mur- de João. É, outro João, o Batista, que pedem respostas, questionamentos mos que para encontrar o que bus- muito mais do que tudo isso para nos
murando: - Tu sabes mais do que eu. aponta o “Cordeiro de Deus” para servem para esclarecer, dúvidas para camos, precisamos conhecer, além da dar com generosidade, sem limites:
Antes de se iniciar o Tempo da os seus seguidores. Com isso, já en- conduzir a uma decisão. É difícil fi- meta, tamb&eacu te;m a direção e o ele mesmo, o seu amor sem fim. Mas
Quaresma, temos alguns domingos tramos na “linguagem” própria des- car indiferentes na frente de uma lugar. É nessa procura que os cami- será que nós o buscamos mesmo?

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www.jor nalagg az eta-a
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azeta-a Macapá (AP), Domingo e Segunda-feira, 14 e 15 de janeiro de 2017 31

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