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GEOGRAFIA Prof.

Italo Trigueiro 1
infantil e do ensino fundamental para a disciplina de
GEOGRAFIA (GERAL E BRASIL) Geografia.
Geografia do ceará
Prof. Italo Trigueiro
1. CONCEPÇÕES DO PENSAMENTO
GEOGRÁFICO E SUA INFLUÊNCIA NO ENSINO
DA GEOGRAFIA

DAS COISAS SEM SERVENTIA UMA DELAS É


A GEOGRAFIA

A Geografia é um desses negócios chatos que


inventaram para ser a palmatória intelectual das
E-mail: prof.italotrigueiro@gmail.com crianças. Não dá prazer nenhum brincar de ser
Facebook: www.facebook.com/italo.trigueiro recipiente de nomes difíceis e ainda ter que repetir
Intagram:@TRIGEIROIM tudo certinho na hora das provas. A tortura
geográfica, comum na maioria das escolas, é um
exercício constante de ver um mundo de coisas,
decorar o máximo e não aprender nada. São aquelas
palavras cheias de nós consonantais que, vez por
outra, o sujeito tem que repetir lá na frente, correndo
o risco de se engasgar com uma montanha e ser
“Eu viajo para conhecer a minha Geografia!” motivo de deboche a semana inteira.
(Walter Benjamin)
ATENÇÃO!! A utilidade que a criança vê em aprender geografia é
Este material abrange em média 80% do a mesma que tem o aquecedor do Lada apropriado
conteúdo do concurso. para derreter neve, no Nordeste brasileiro. No fundo,
é uma violência desmedida da sociedade inteira
contra a meninada que queria mesmo era brincar e
CONTEUDO PROGRAMÁTICO: fazer coisas divertidas. Ao invés de sentar para
1 Concepções do pensamento geográfico e sua ouvir assuntos estranhos à sua vida, talvez a
influência no ensino da Geografia. 1.1 Sociedade, criança preferisse conversar sobre sua casa com
lugar e paisagem no ensino da Geografia. 1.2 aqueles terríveis conflitos de espaço, ou sobre o
Currículo: cultura e territorialidade no ensino da bairro com suas ruas plenas de lembranças, ou da
Geografia. 1.3 Novas abordagens teórico- cidade com seus atrativos e desafios.
metodológicas no ensino da Geografia. 1.4 Novas
tecnologias de comunicação e informação no A infância para passear é uma reivindicação
ensino da Geografia. 1.5 Aspectos avaliativos no permanente, um outdoor estampado na testa de
ensino da Geografia. milhares de meninas e meninos. Botar os pés no
2 Geografia Política: as fronteiras e as formas de chão e sair por aí conhecendo os lugares: andando,
apropriação política do espaço. 2.1 O espaço como olhando com admiração e medo a loucura das
produto do homem. 2.2 Capitalismo. 2.3 construções adultas, sentindo o cheiro das árvores
Desenvolvimento e subdesenvolvimento. 2.4 e da fumaça das fábricas, tateando vitrinas como
Economia do pós-guerra. 2.5 O Brasil, a nova muros impenetráveis, ouvindo o rugir dos sapatos
ordem mundial e a globalização. 2.6 O comércio apressados nas horas de pique das praças centrais.
internacional. 2.7 O MERCOSUL - Origens do
processo de integração no Cone Sul: objetivos,
características e estágio atual de integração. 2.8 A Todavia, como dizia Rubem Alves, a infância é uma
coisa inútil, assim como tudo nesta sociedade da
economia mundial e do Brasil. 2.9 O problema da
produção e do consumo, onde a criança só vale
dívida externa. 2.10 Energia e transporte. 2.11 A
enquanto promessa de boa fortuna.
agropecuária. 2.12 O comércio. 2.13 A indústria.
2.14 Os serviços. 2.15 As relações de trabalho.
2.16 As desigualdades sociais e a exploração A Geografia que se aprende na escola,
humana. 2.17 A revolução técnico-científica. aparentemente inútil, tem uma utilidade ímpar
3 Geografia da população. 3.1 A população e as formas porque produz uma enorme massa informe de
de ocupação do espaço. 3.2 Os contrastes alienados. As pessoas não sabem que o espaço em
regionais do Brasil: biomas, domínios e que vivem tem um sentido que não aparece, porque
ecossistemas. 3.3 Urbanização e metropolização. detrás dos objetos sem história há histórias que
desconhecemos. É que estávamos pensando no
4 Geografia e gestão ambiental - O meio ambiente nas
relações internacionais: avanços conceituais e Himalaia enquanto o serviço de transportes
institucionais; política e gestão ambiental no Brasil. coletivos em João Pessoa foi pensado para
enriquecer os empresários e servir mal a população
4.1 Ecossistemas. 4.2 Impactos ambientais. 4.3
sem rodas. Em uma “cidade boa para viver”, talvez
Recursos naturais e devastação histórica. 4.4
Política ambiental. não seja de bom tom usar da Geografia para
perceber favelas pipocando aos quatro cantos, ou
5 Competências e habilidades propostas pelos para demonstrar que é possível de um mesmo ponto
Parâmetros Curriculares Nacionais do ensino
2 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
da verde “Paris brasileira” – o Bar da Pólvora –
admirar o pôr-do-sol e ver o lixão do Roger*, ou para
 Tempo Geológico: é usado para contar a história da
entender a origem dos “pegas” desiguais na
Epitácio Pessoa entre carros importados e carroças formação do Universo e da Terra e dos seus continentes
puxadas a burro. O mesmo espaço comporta jegues através da divisão em Éons, Eras, Épocas e Períodos.
e jatos.  Tempo Histórico: é usado para explicar as profundas
mudanças ocorridas no espaço geográfico. Apesar de
não haver consenso entre os estudiosos, convencionou-
As pessoas podem até não acreditar, mas a ciência se dividi-lo em séculos, períodos e idades.
geográfica tem uma utilidade que poucos
 Tempo Cíclico: é usado para explicar fenômenos que
conseguem ver, pois um dos papéis que cumpre é
justamente o de cegar a sociedade, desde a infância, acontecem em intervalos relativamente curtos, como os
de uma leitura da produção social deste espaço terremotos, as erupções vulcânicas, a migração de
cheio de contradições. pessoas de seu hábitat natural em determinadas épocas
do ano, os períodos de maior incidência de vendas no
comércio, etc.
Por outro lado, como em tudo mais, o fazer
científico só serve quando feito por prazer, coisa
esquecida nestes tempos cabeludos em que viver A Geografia é comumente dividida em dois blocos: a
para a felicidade é quase um crime, parafraseando Geografia Física e a Geografia Humana, configurando
Brecht. A Geografia, assim como a criança, é um assim a principal dicotomia da ciência, dicotomia esta
perigo para os homens sérios que fazem do lucro que vem sendo frequentemente debatida e que
seu sentido existencial, porque no meio da podemos chegar a um denominador comum partindo
brincadeira ela pode deixar muitos reis da seguinte pergunta: A Geografia Física é uma
completamente nus. *Lixão do Roger: depósito de lixo Ciência Humana? Já que atualmente é muito difícil
urbano da cidade de João Pessoa - PB. Das Coisas sem encontrarmos espaços puramente naturais, sem a
Serventia uma delas é a Geografia. Aula de Geografia. Manoel participação do homem! Sendo assim a divisão da
Fernandes de Sousa Neto. Ed. Bagagem, Campina Grande – Geografia é puramente didática, afim de uma melhor
PB, 2008. compreensão, pois fatores humanos e físicos estão
interligados no processo de organização do espaço.
A Geografia não é apenas o ―descrever da Terra‖ como
definiu Eratóstenes quase trezentos anos antes de GEOGRAFIA FÍSICA
Cristo. A Geografia tem suas raízes na investigação e
no entendimento da diferenciação dos lugares, regiões,
países e continentes, resultante das relações entre os Estuda os elementos naturais que compõem a
homens e entre estes e a natureza. Não houvesse paisagem. São aqueles construídos pela natureza: as
diferenciação de áreas, para usar uma expressão formas de relevo, a hidrografia, a vegetação, a
consagrada, certamente a Geografia não teria surgido. climatologia, a pedologia, etc.
O objeto de estudo da Geografia é o espaço
geográfico!
GEOGRAFIA HUMANA
Abrange os elementos culturais ou humanizados. São
O termo espaço tem vários significados. Pode significar
aqueles construídos pelos seres humanos, por
distância entre dois pontos, o conjunto de planetas e
exemplo, as residências, os prédios, as pontes, as
estrelas (espaço sideral), mas, para a Geografia
rodovias e as plantações. Os próprios seres humanos
significa uma determinada extensão da superfície
são elementos importantes da Geografia Humana.
terrestre que é organizada, produzida e modelada pelas
sociedades, através do trabalho, ao longo da história, de
maneira desigual a partir do uso de técnicas.

Toda organização espacial reflete as intervenções


humanas na natureza, quando derrubamos uma árvore
(primeira natureza) para fabricar-mos móveis (segunda
natureza) estamos nos apropriando do espaço e assim
criando o espaço geográfico. A organização espacial é
um meio de vida no presente (produção) e uma
condição de vida para o futuro (reprodução). As
modificações sofridas pelos meios naturais vão
depender do tipo de economia que tenha a sociedade
em questão. A economia industrial proporciona o
incremento de uma paisagem urbana enquanto que a
economia baseada na agricultura produz uma paisagem
rural. MÉTODO GEOGRÁFICO

 PRINCÍPIO DA EXTENSÃO: enunciado por Friedrich


Tudo o que existe ocupa espaço e se situa num tempo.
Ratzel, segundo o qual o geógrafo, ao estudar um dos
Ou seja, tudo o que acontece também se situa num
fatores geográficos ou uma área, deveria, inicialmente,
tempo e num espaço. O tempo pode ser separado em
procurar localizar e estabelecer os limites, usando os
diferentes escalas que facilitam o entendimento de sua
mapas disponíveis e o conhecimento direto da área.
intervenção nos espaços geográficos:
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 PRINCÍPIO DA GEOGRAFIA GERAL OU
ANALOGIA: enunciado por Karl Ritter, segundo o qual,
delimitada e observada uma área em estudo, ela
deveria ser comparada com o que se observa em outras
áreas, estabelecendo semelhanças e diferenças
existentes.
 PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE: enunciado por
Alexander von Humboldt, segundo o qual, observados
os fatos, devem-se procurar as causas que os
determinaram, estabelecendo relação de causa e efeito.
 PRINCÍPIO DA CONEXIDADE: enunciado por Jean
Brunhes, que chamava a atenção para o fato de que
fatores físicos e humanos, ao elaborarem as paisagens,
não agiriam separada e independentemente, havendo
interpenetração na ação dos vários fatores físicos entre
Claudio Ptolomeu
si, e ainda dos dois grandes grupos de fatores. Na
elaboração das paisagens, nenhum dos fatores físicos e
humanos age isoladamente: a ação é sempre feita de Até o final do século XVIII não é possível falar de
forma integrada com outros fatores. conhecimento geográfico como algo padronizado, com
 PRINCÍPIO DA ATIVIDADE: também enunciado por um mínimo que seja de unidade temática e de
Jean Brunhes, no qual o mestre francês assinala o continuidade nas formulações. Esse período é
1
caráter dinâmico do fato geográfico, já que o espaço denominado por Nélson Werneck Sodré de pré-
está em perpétua reorganização, em constante história da Geografia.
transformação, graças à ação ininterrupta dos vários
fatores. ANDRADE, M,C, Geografia, ciência da sociedade: A sistematização do conhecimento geográfico só vai
uma introdução à análise do pensamento geográfico. São ocorrer no início do século XIX. Apesar disso, um
Paulo: Atlas, 1987. conjunto de acontecimentos entre os séculos XV e XVIII
contribuiu para a sistematização do conhecimento
HISTÓRIA DA GEOGRAFIA geográfico. Entre eles podemos destacar:

A Geografia é um dos conhecimentos mais antigos que  Processo de navegações, que se inicia junto com a
existem; desde os povos primitivos já se fazia expansão capitalista mercantil, que fez com que se
Geografia. Sua origem remonta à Antiguidade Clássica, ―descobrisse‖ o real tamanho do planeta.
especificamente ao pensamento grego.  De acordo com Auro de Jesus, um repositório de
informações, uma espécie de arquivo geográfico sobre os
“A representação da Terra sempre interessou aos diversos lugares do planeta, o que seria importante para
Gregos: Homero evoca a forma do mundo na sua mensurar as reservas naturais de diversas áreas. Isso fez
descrição do escudo de Aquiles. No discurso do seu com que o Estado apresenta-se um maior interesse sobre
voo, Ícaro desfruta de uma perspectiva soberba do as pesquisas, criando às famosas Sociedades
mundo que ninguém pode ter permanecendo no Geográficas.
solo. Estas referências literárias nunca serão  Aprimoramento de Técnicas Cartográficas.
esquecidas. Por que os mitos gregos estão ligados  Mudanças Filosóficas e Científicas, como o
a lugares precisos, todos deveriam saber onde se surgimento do Iluminismo no século XVIII, o século das
desenrolaram. A partir do momento em que a Luzes ou da Razão, movimento intelectual em defesa
colonização e, mais tarde, a aventura de Alexandre das liberdades políticas, sociais, econômicas,
Magno difundiram-se, o povoamento grego em toda científicas. Vários participantes desse movimento
a bacia mediterrânea e no Próximo e Médio Oriente, contribuíram de forma decisiva para o processo de
diminuíram as hipóteses de alguém visitar esses sistematização da Geografia.
lugares e de ouvir falar deles por outras pessoas. A
geografia do sagrado tão intimamente integrada na
concepção que os Gregos faziam da sua história e
do seu futuro tem de se constituir com um objeto de
estudo.” CLAVAL, Paul. História da Geografia. Ed. 70.
Lisboa: 2006.p.23.
1
Nélson Werneck Sodré nasceu no Rio de Janeiro em 1911. Sua
A Geografia nasceu na Grécia e é inseparável da originalidade foi ter unido a carreira militar, na qual chegou a
hipótese geocêntrica. O que vai interessar aos gregos é general-de-brigada, à formação como sociólogo e historiador de
a descrição da Terra habitada, a ecumênica. Essa orientação marxista. Por esse prisma, e sempre admitindo na base de
definição apoia-se no próprio significado etimológico do todos os fenômenos seus fundamentos econômicos, ele sempre
termo Geografia – descrição da Terra. Os romanos enfatizou, em seus muitos e multifacetados livros, a importância da
retêm da Geografia apenas seu interesse prático. ideologia do colonialismo como fator de atraso que se opunha à
civilização no Brasil. Alguns títulos de sua bibliografia, como a
Ptolomeu escreve uma obra – Síntese Geográfica –
‘História da Imprensa no Brasil’, a ‘História da Literatura Brasileira’ e
que, vai constituir-se em um dos principais veículos que
a ‘História Militar do Brasil’, tornaram-se obras essenciais de
resgatam as descobertas do pensamento grego clássico referência, quer pelas particularidades temáticas, quer pelas
durante a Idade Média, onde resume a atualiza um criteriosas pesquisas que o levaram à coleta de dados de supremo
conjunto de saberes astronômicos e geográficos interesse. Nas décadas de 50 e 60, o autor compartilhou das teses
acumulados pelos gregos. nacionalistas defendidas pelo Instituto Superior de Estudos
Brasileiros, cujo departamento de história chefiou.
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Em meados do século XIX, Humboldt e Ritter fundaram
a geografia como ciência, ou seja, uma área do
conhecimento que passou a ser pesquisada e ensinada
nas universidades com a gradativa sistematização de
seu arcabouço teórico-metodológico. Humboldt,
conselheiro do Rei da Prússia, possuía uma formação
naturalista e realizou inúmeras viagens como a de 1799,
quando esteve em alguns países da América,
conhecendo parte da Amazônia, o México e os Estados
Unidos. Em 1825 conheceu os Montes Urais e a parte
asiática da Rússia. Essas duas viagens serviram como
base para a escrita da obra Quadros da natureza e
cosmo. A partir das obras de Humboldt e Ritter a
Geografia é estabelecida como ciência descritiva,
empírica, indutiva e de síntese, regulada na observação.
Humboldt unia o espírito enciclopedista e o esforço de
síntese para abarcar todo o Globo, toda a superfície
terrestre, sem privilegiar o homem, sendo o seu principal
Gravura de reunião da Real Sociedade Geográfica Inglesa no projeto o de reunir todo um conjunto de informações sob
século XIX. No fundo o mapa da África, continente que era uma mesma ordem sistemática. Já a Geografia de Ritter
extremamente explorado pelos europeus. In.: Geografia: um
mundo em transição. VESENTINI, José William. São Paulo:
pode ser considerada regional e antropocêntrica, que
Ática, 2009.p.19. tinha como meta chegar à harmonia entre a ação
humana e os desígnios divinos.
O pensamento filosófico de Imannuel Kant (1724-1804)
influenciou praticamente todas as correntes filosóficas
do século XIX e em especial a geografia. Comumente, A Geografia surge então apoiada tanto nos tratados
atribui-se à obra de Kant o papel de primeiro sistema naturalistas com abundantes descrições do meio natural
filosófico definidor da Geografia Moderna. O nome como nas pesquisas etnográficas, estando atrelada às
desse filósofo, muitas vezes, é associado à posição narrativas de viagens, não possuindo ainda um corpo de
racionalista e objetiva da ciência geográfica. interpretação individualizado.

“A História difere de Geografia apenas na Alguns autores defendiam a ciência geográfica como
consideração de tempo e área. A primeira é um estudo da superfície terrestre, outros em estudos da
relato de fenômenos que seguem um ao outro e têm paisagem (de uma forma organicista/ecologista,
relação com o tempo. A segunda é um relato de divididos em discussão da forma – morfológica, e
fenômenos um ao lado do outro no espaço.” Kant, discussão da relação entre os seus elementos –
1802, citado em Hartshorne, 1939, p.135. fisiologia), outros da diferenciação de áreas
(individualizando e comparando os lugares, chamada de
Para Kant, o conhecimento é dado pelos sentidos e a Geografia Regional), outros que conceberam como
geografia é a primeira parte do conhecimento do mundo, estudo do espaço, e outros ainda, como o estudo da
na realidade. Nesse mesmo período, surgem as relação homem meio ou entre a sociedade e a natureza.
Sob a lente do Positivismo ergueram-se os pilares da
primeiras Sociedades Geográficas, que vão se opor as
Universidades quanto ao conteúdo e forma de aplicação Geografia Tradicional. Um novo discurso surge dentro
da geografia e, ainda, quanto a sua abrangência. O da Geografia, que exigia um saber sistematizado e a
prussiano Karl Ritter (1779-1859) divide, com seu possibilidade de afirmações precisas. Tem início uma
contemporâneo e conterrâneo Friedrich Wilhelm série de estudos considerados com enfoque no homem
Heinrich Alexander von Humboldt (1769-1859), a e na sua relação com o meio natural. Como expoentes
condição de fundador da geografia moderna. A sua obra dessa nova fase o alemão Friedrich Ratzel e o francês
constitui prova de que a disciplina nasceu impregnada Vidal de La Blache.
pela preocupação com o tempo histórico.

A ciência geográfica não pode desprezar o elemento


histórico, se pretende ser verdadeiramente um
estudo do território e não uma obra abstrata, uma
moldura através da qual se veja o espaço vazio. Karl
Ritter, 1833.
Da esquerda para a direita Ritter, Humboldt, Ratzel e La
Blache.
É na Alemanha que a ciência geográfica e todas as
outras ciências desenvolveram-se sob as bases
DETERMINISMO
filosóficas do Iluminismo e do Kantismo. Os dois
vivenciaram a expansão do capitalismo na Europa e o
desenvolvimento tardio da Alemanha. É somente com a De um modo geral, o Determinismo trabalha com os
sedimentação das relações capitalistas e o fatos em toda a sua diversidade e, ao estabelecer
expansionismo napoleônico que a unificação nacional relações de causa e efeito, procura primeiramente
alemão se tornará realidade em 1815 com a formação raciocinar sobre as categorias gerais, para somente em
da Confederação Germânica. seguida chegar aos fatos concretos. Quando falamos de
Determinismo Geográfico, Friedrich Ratzel (1844-1904)
é apontado como a principal referência na vasta
bibliografia sobre o tema. Ratzel foi professor de
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Geografia da Universidade de Leipzig, na Saxônia. Vale coloniais, as características do novo Estado Alemão, ou
ressaltar que as concepções geográficas de Ratzel seja, uma organização militarizada da sociedade e do
forma influenciadas pelo Positivismo, seguindo um Estado herdada da Prússia e um expansionismo latente,
procedimento que buscava as ―leis― que explicariam o podem ser explicadas pela situação da Alemanha no
comportamento dos homens no planeta e pelas ideias contexto europeu.
de Charles Darwin na obra ‗A Origem das Espécies‟. O
homem está sempre relacionado ao meio natural,
Todavia, a formação do Estado Nacional alemão
porém, o Determinismo coloca o homem como um
careceu de estímulos, o que fez com que o discurso
elemento secundário na produção do espaço. A história
geográfico assumisse um sentimento de pátria através
das sociedades seria a história natural da luta pelo
de uma identidade nacional.
―espaço vital‖, uma luta por adaptação e pela defesa
e/ou conquista de territórios. Para os Deterministas, a
natureza determina as condições de vida da sociedade. Toda a vida do Estado tem as suas raízes na terra,
Para eles, quanto mais favorável for o meio natural mais numa terra marcada por três elementos
desenvolvido será o povo dessa região. fundamentais: a situação (Lage), o espaço (Raum) e
a própria Fronteira (Grenze). Friedrich Ratzel.
A ação e o pensamento de Ratzel inserem-se,
plenamente, no contexto fortemente nacionalista da sua Isto é, o país emerge como mais uma unidade do
época, envolvendo-se, apaixonadamente, nos debates capitalismo, só que sem a presença de colônias, há
sobre o papel da Alemanha no mundo. semelhança da França, Holanda, Inglaterra e mesmo
Portugal, em que estes eram detentores de impérios
coloniais. A deterioração do Estado é maior quando a
Podemos destacar três condições vivenciadas pela
Alemanha sufoca nas suas fronteiras, sem espaço para
Alemanha no período:
se expandir e para ―respirar‖. Rodeada por território já
habitado, a Alemanha sente a falta de terras, de
 Um território fragmentado. recursos de mercado e de matérias-primas. Ratzel
 Um desejo de unificação. definiu o objeto da geografia como o estudo das
 Ideais imperialistas. influências do meio sobre o homem. Esse foi um dos
caminhos assumidos por essa Geografai Determinista,
que apoiada na teoria evolucionista de Darwin, fez
Ratzel distinguia os povos naturais dos povos
emergir uma teoria positiva que se aplica ao homem,
civilizados, que eram mais independentes com relação
porém não é a única forma de Determinismo encontrado
ao meio. O território dos povos civilizados seria a
na Geografia.
expressão de uma ligação mais complexa entre
sociedade e natureza: POSSIBILISMO

Chamamos naturais certos povos não porque eles Vidal de La Blache definiu a base do Possibilismo –
vivem nas mais íntimas relações imagináveis com a termo divulgado por Lucien Febvre – na Geografia que
natureza, mas porque vivem sob a constrição da pressupõe o homem como um ser ativo que não só
natureza. A distinção entre povo natural e povo recebe a influência do meio, mas também atua sobre
civilizado não deve ser buscada no grau, mas no este, transformando-o.
seu modo de dependência com a natureza. A
civilização não é propriamente independência da Na proposta vidaliana, o caráter humano da
natureza no sentido de uma separação completa, geografia foi realçado, vinculando todos os estudos
mas no sentido de uma união mais multíplice e mais geográficos à Geografia Humana, que foi concebida
ampla. RATZEL, Friedrich. Povos naturais e povos civilizados. como o estudo da paisagem. GOMES, Paulo César da
In: MORAES, Antônio Carlos Robert (Org.). Ratzel. São Paulo: Costa. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
Ática, 1990. 2007, p. 149 (com adaptações).

O império alemão, em processo de constituição de uma As rivalidades entre França e Prússia datam de muito
nova nação (Alemanha), encontrava-se em relação aos tempo. Com a perda do território da Alsácia e da Lorena
outros estados-nações europeus atrasado do ponto de durante a Guerra Franco-Prussiana essa rivalidade
vista econômico. A inexistência de um Estado-Nacional ganha corpo e a geografia francesa se desenvolve para
e de uma monarquia absoluta dificultava a organização reagir a geografia alemã, sendo que esta era acusada
e a integração do território. Somente com a vitória da pelos franceses de ser uma Geografia do poder, ligada
Prússia sobre a Áustria, na Guerra Austro – Prussiana, aos interesses geopolíticos da recém unificada
que a Prússia se torna a potência hegemônica na Alemanha. La Blache falou sobre a politização
Alemanha. escrachada do discurso de Ratzel que evidenciava as
questões políticas e denunciou a expansão territorial
A fase seguinte consistiria em fazer com que outros alemã. Os franceses propunham uma geografia neutra,
estados aderissem ao seu projeto de guerra contra a onde os estudos regionais teriam grande influência. La
França por esta se opor à integração dos Estados do sul Blache criticou as formulações naturalistas da Geografia
na unificação e formação do novo país. alemã e defendeu a variabilidade de decisões humanas
em relação às naturais. Porém, apesar disso é possível
encontrar traços naturalistas em discursos de La Blache:
O chanceler prussiano Bismarck inicia, assim, o “a Geografia é uma ciência dos lugares, não dos
processo de unificação da Alemanha. Com os novos homens”.
ideais nacionalistas que se espalhavam por toda a
Europa e com a afirmação dos Estados e dos Impérios
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Não se tratava, portanto, de negar a influência do meio Na perspectiva de Hettner, a Geografia vai se tornar a
que é, por vezes, poderosa, mas sim de enfatizar como ciência que estuda a diferenciação de áreas da
os grupos humanos e o meio interagem mutuamente, superfície terrestre. As ideias de Hettner só vão
produzindo uma resultante geográfica entre meio natural encontrar divulgação na figura de Hartshorne, professor
e meio cultural. A partir destas críticas Vidal de La da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, que
Blache construiu sua proposta de Geografia, onde o procura desenvolver debates sobre a natureza da
objeto da Geografia como a relação homem-natureza, Geografia a partir dos livros A Natureza da Geografia
na perspectiva da paisagem. (1939) e Questões sobre a Natureza da Geografia
(1959). Hartshorne apresentou duas formas de estudo
em Geografia: Regional e Geral.
A Geografia tem como missão investigar como as
leis físicas ou biológicas que regem o Globo se
combinam e se modificam ao aplicarem-se às O pensamento geográfico ao transcorrer de sua
diversas partes da superfície terrestre. A Terra é o trajetória foi marcado e edificado por cinco principais
domínio do Homem. LA BLACHE, Paul Vidal de. Princípios categorias analíticas: espaço, lugar, território, paisagem
de Geografia Humana. Lisboa: COSMOS, 1954. e região.

Ele considerou o homem como um hóspede antigo das A veemência com que cada categoria permeou a ciência
várias áreas do planeta, onde ao longo do geográfica foi realizada na maioria das vezes de forma
desenvolvimento das sociedades foram criadas alternada, ora com a sobreposição de uma, ora pela
técnicas, hábitos e costumes, o que ele denominou ascensão ou declínio de determinada categoria. É
“gênero de vida”. La Blache (1913) tenta evidenciar importante destacar que, a eleição de uma categoria
como o homem, considerando o fator histórico, soube analítica não significou a exclusão das demais, se
tirar proveito do meio natural. dando por muitas vezes de modo simultâneo esses
estudos. Da mesma forma, estas mesmas categorias
acompanharam e influenciaram distintas correntes de
pensamento geográfico como observamos nos estudos
sobre a Geografia Tradicional.

GEOGRAFIA CONTEMPORÂNEA – A NOVA


GEOGRAFIA E A GEOGRAFIA CRÍTICA

Lucien Febvre. A Nova Geografia surge no pós-guerra mundial ao meio


MÉTODO REGIONAL OU GEOGRAFIA de uma fervorosa transformação socioespacial. A
RACIONALISTA mesma está assentada em três pilares de origem, que
são: a Suécia, a Inglaterra e os Estados Unidos. A
O método regional tem como principais expoentes Alfred Geografia quantitativa ou teórica, como também é
Hettner (1859-1941) e Richard Hartshorne (1899-1992) denominada a ciência citada acima, tem como
e tinha como objetivo desenvolver uma Geografia de metodologia o emprego do pragmatismo, ou seja, o
menor carga empírica e enfatizar o raciocínio dedutivo. pragmático aquilo que pode ter um efeito prático
qualquer.

Hartshone não aceitava a separação entre fenômenos


físicos e humanos, ele partir de uma distinção prévia O pragmatismo, doutrina filosófica do final dos anos 40
entre a paisagem natural primitiva e isolada de toda e 60 (pós-Revolução Industrial), caracteriza-se por
ação humana e a paisagem cultural. Já Hettner enfatizar a necessidade de aplicar as ideias com um
preocupava-se com o dualismo da Geografia, a propósito, por encarar a verdade do ponto de vista da
dicotomia entre a Geografia Física e Humana. utilidade e por considerar o pensamento como um guia
para a ação. A mesma emprega técnicas estatísticas,
tais como: fórmulas, tabelas e gráficos, na busca de
PAISAGEM CULTURAL explicar os fenômenos geográficos, e transforma as
pessoas e outros aspectos socioeconômicos em valores
numéricos quantitativos ou não-qualificativos. A estas
transformações onde tudo é reduzido a valores,
encontramos na realidade verdadeiras máscaras
sociais, criadas por tal Geografia. Podemos citar como
exemplos, as divulgações de cotas relacionadas à
distribuição de renda, Produto Interno Bruto, População
Economicamente Ativa, entre outros indicadores
socioeconômicos.

Essa escola considera a região um caso particular de


classificação, tal como a geografia teorética. O momento
em que surge essa escola apresenta um número
acentuado de alterações no espaço geográfico mundial
como o fim da Segunda Guerra e o início da Guerra
Cidade de La Paz, Bolívia. Fonte: Marília Colares. Fria, além do ―fim‖ dos impérios coloniais, marcando o
fim das conquistas territoriais e início das conquistas
socioeconômicas, com a ida das empresas
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multinacionais para o mundo subdesenvolvido. O foi o 3° ENG (Encontro Nacional de Geógrafos,
subdesenvolvimento é considerado com uma etapa realizado em junho de 1978, em Fortaleza.
necessária, sendo superado ao longo do tempo. No
Brasil, desenvolveu-se sob a denominação de Geografia
Os autores da Geografia Crítica vão fazer uma
Teorética. O exagero a quantificação deixava a
avaliação profunda das razões da crise; são os que
geografia alheia por exemplo, aos problemas sociais e
acham fundamental evidenciá-la. Vão além de um
de agressão ao meio ambiente.
questionamento puramente acadêmico do
pensamento tradicional, buscando as suas raízes
GEOGRAFIA CRÍTICA sociais. Ao nível acadêmico, criticam o empirismo
exacerbado da Geografia Tradicional, que manteve
suas análises presas ao mundo das aparências, e
Outra corrente geográfica iniciada na década de 1970
todas as outras decorrências da fundamentação
está relacionada à Geografia Crítica ou Radical. Ela
positivista (a busca de um objeto autonomizado, a
surge em decorrência de diversos fatores. Dentre eles,
ideia absoluta de lei, a não-diferenciação das
podemos destacar: as manifestações nos Estados
qualidades distintas dos fenômenos humanos, etc.).
Unidos contra a Guerra do Vietnã (nos anos 1960); a
Entretanto vão além, criticando a estrutura
luta pelos direitos civis (em diversos países); a
acadêmica, que possibilitou uma repetição dos
destruição do meio ambiente; os problemas da
equívocos: o “mandarinato”, o apego às velhas
urbanização; a pobreza nos países subdesenvolvidos; o
teorias, o cercamento da criatividade dos
racismo; os movimentos feministas; os movimentos
pesquisadores, o isolamento dos geógrafos, a má
estudantis; a desigualdade entre as classes sociais; e a
formação filosófica etc. E, mais ainda, a
desigualdade entre países ricos e pobres. Vários
despolitização ideológica do discurso geográfico,
adjetivos são utilizados para caracterizar essa corrente
que afasta do âmbito dessa disciplina a discussão
tais como: Geografia Crítica, Geografia Radical,
das questões sociais. MORAES, Antonio Carlos Robert.
Geografia Social, Geografia Marxista, Geografia Nova. Geografia: pequena história crítica – 21ª ed. – São Paulo:
Annablume, 2007.
Os métodos, as técnicas e os fundamentos da
Geografia Tradicional e da Geografia Teórico-
Quantitativa tornaram-se insuficientes para apreender a 1.1. SOCIEDADE, LUGAR E NO ENSINO DA
complexidade do espaço. A simples descrição e a GEGRAFIA.
construção e explicação, por meio de modelos,
utilizando-se de elementos da matemática e da
As experiências das pessoas em relação aos diversos
estatística, tornaram-se insuficientes para a explicação
espaços da cidade dependem de uma série de fatores,
de muitos problemas do espaço geográfico. Era preciso
sendo um deles as condições socioeconômicas. Os
realizar estudos voltados para a análise das ideologias e
espaços, urbanos e rurais, vivenciados por nós acabam
de novas questões políticas, econômicas e sociais.
tendo um significado particular – e individual -, pois
neles moramos, desenvolvemos atividades, nos
Assim, a partir dos anos 1970, sob influência das teorias relacionamos com outras pessoas com outras pessoas,
marxistas, surge uma tendência crítica à Geografia trocamos experiências, estudamos, trabalhamos e
Tradicional e à Geografia Teórico-Quantitativa, cujo desenvolvemos nossa vida cotidiana. Esse espaço
centro de preocupação passa a se as relações sociais e vivido concretamente é denominado lugar.
de produção e as relações sociedade-natureza na
produção do espaço geográfico, considerando o objeto
de estudo da Geografia o espaço social. LUGAR E O VALOR DO INDIVÍDUO

A nova corrente criticou a Geografia Tradicional e a Cada homem vale pelo lugar onde está: o seu valor
Geografia Teórico-Quantitativa afirmando que elas como produtor, consumidor, cidadão depende de
estavam a serviço da ação do Estado e das empresas sua localização no território. Seu valor vai mudando,
capitalistas. Assim, propõe uma Geografia das incessantemente, para melhor ou pior, em função
denúncias e lutas sociais, a Geografia Crítica ou das diferenças de acessibilidade (tempo, frequência,
Radical: não basta explicar o mundo, é preciso preço), mesmas virtualidades, a mesma formação,
transformá-lo. Nesse sentido, a Geografia ganhou até mesmo o mesmo salário têm valor diferente
conteúdos políticos que passaram a ser utilizados para segundo o lugar em que vivem: as oportunidades
a transformação da sociedade. A Geografia Crítica tem não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de ser
origens na vertente progressista da Geografia Regional mais ou menos cidadão depende, em larga
francesa. Foi Jean Dresch um exemplo de afirmação proporção, do ponto do território onde se está.
dessa vertente e de um discurso político crítico (Dresch Enquanto um lugar vem a ser condição de sua
escreveu as obras na década de 1930 e 1940). pobreza, um outro lugar poderia, no mesmo
momento histórico, facilitar o acesso àqueles bens e
serviços que lhes são teoricamente devidos, mas
Dentre os avanços realizados pela Geografia Crítica que, de fato, lhe faltam. [...]
estão aqueles associados à questão da organização
espacial, herdada da Nova Geografia. Trata-se no caso,
de ir além da descrição do espaço, procurando-se ver Há, em todas as cidades, uma parcela da população
as relações dialéticas entre as formas espaciais e os que não dispõe de condições para se transferir da
processos históricos que modelam os grupos sociais. casa em que mora, isto é, para mudar de bairro, e
Esse paradigma bebe no materialismo histórico e na que pode ver explicada a sua pobreza pelo fato de o
dialética marxista para obter a postura e a unidade bairro de sua residência não contar com serviços
dessa corrente. O marco da Geografia Crítica no Brasil públicos, vender serviços privados a alto preço,
8 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
obrigar os residentes a importantes despesas de Que formação em educação para a cidadania queremos
transportes. Nesse caso, pelo fato de não dispor de enquanto educadores? Estamos preparados para
mais recursos, o indivíduo é condenado a realizar essa tarefa?
permanecer num bairro desprovido de serviços e
onde, pelo fato de ser um bairro pobre, os produtos
O conceito de cidadania mudou ao longo dos tempos, e
e bens são comprados a preços mais altos, tudo
até hoje varia conforme a interpretação de cada autor,
isso contribuindo para que a sua pobreza seja ainda
dificultando ao professor conceber o tipo de formação
maior e sua capacidade de mobilidade dentro da
para a cidadania que deve exercer em sua práxis.
cidade seja igualmente menor. SANTOS, Milton. O
Vejamos:
Espaço do Cidadão. São Paulo: EDUSP, 2007.p.107-111.

· Na concepção da república, o ideal era o civismo,


[...] “A cidadania passa a ajudar o aluno à não ter baseava-se na noção de bem público, anterior e
medo do poder do Estado...nem tampouco independente dos desejos e interesses individuais;
ambicioná-lo como forma de subordinar seus
semelhantes. Esta pode ser a cidadania crítica que · Na concepção liberal de cidadania, os cidadãos
almejamos. Aquele que esqueceu suas utopias usam os seus direitos para promoverem os seus
interesses próprios, com certas limitações impostas
sufocou suas paixões e perdeu a capacidade de se
pela exigência de respeitarem os direitos dos
indignar diante de toda e qualquer injustiça social
não é um cidadão, mas também não é um marginal. outros;
É apenas um NADA que a nada nadifica” FERREIRA · Uma concepção democrática de cidadania liga-se
(p.229,1993) aos debates atuais sobre a pós-modernidade e à
crítica do racionalismo e do universalismo
presentes respectivamente no republicanismo e na
A Geografia é colocada pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN p.26,1998) como a ciência que tem concepção liberal, a concepção democrática do
como tarefa buscar [...] ―um ensino para a conquista da conceito de cidadania é caracterizada precisamente
cidadania brasileira‖ (p. 26). É legado à disciplina pela tensão entre a liberdade e a igualdade.
Geografia a tarefa de ―formar‖ cidadãos. Formar é
moldar algo que não tem forma. Bem, o aluno não FERNANDES (1998) ressalta que a evolução da
chega a escola vazio, ele traz uma gama de democratização das sociedades transferiu o foco dos
conhecimentos, de formação não acadêmica que direitos do homem da esfera do Estado para o interior
antecede aos conhecimentos construídos na escola, da sociedade civil. Para o autor, a cidadania diz
portanto, a escola e a Geografia não podem nem devem respeito, não só a capacidade de o indivíduo exercer os
ser o molde para formar cidadãos, seu papel é ajudar na seus direitos nas escolhas e nas decisões políticas,
construção da cidadania. A educação para a cidadania como ainda de assegurar a sua total dignidade no
surge, atualmente, como uma das principais metas do contexto das estruturas sociais mais amplas. Deste
Sistema Educativo. Porém, a análise de documentos modo, o exercício da cidadania implica autonomia e
oficiais (Lei de Diretrizes e Bases, Parâmetros liberdade responsável, participação na esfera política
Curriculares Nacionais e outros documentos emanados democrática e na vida pessoal e social. O cidadão
do Ministério da Educação) põe em relevo a diversidade deverá desenvolver atividade no sentido de lutar pela
de concepções existentes e a evolução do conceito de integração social, conservação do ambiente, justiça
educação para a cidadania. social, solidariedade, segurança, tolerância, afirmação
da sociedade civil versus arbitrário do poder.
Alguns a concebem como ―esclarecimentos quanto aos
direitos e deveres‖ ou ―educação cívica‖, outros como 1.2. CURRÍCULO: CULTURA E
―educação pessoal e social‖, é operacionalizada como TERRITORIALIDADE NO ENSINO DA
disciplina ou área curricular não disciplinar, através de GEOGRAFIA.
práticas diversificadas, porém, na maior parte dos
casos, os resultados têm demonstrado poucas As inovações no campo da geografia brasileira
mudanças nas mentalidades dos alunos. decorrentes do Movimento de Renovação no final da
década de 1970 se estendendo até meados da década
de 1980 impactaram fortemente o ensino de geografia
Ao professor é dada a tarefa de educar para a cidadania no país.
sem que lhe seja fornecida uma metodologia de ação e,
por isso, a educação para a cidadania continua a ser
vista, por muitos, como um domínio muito vago, uma O modo como se davam as reflexões entre sociedade e
utopia mesmo e, atendendo às pressões existentes natureza, assim como o grau mecanicista do ensino, a
(programas a cumprir, exames nacionais, provas sua modalidade descritiva e a ausência de um
globais, falta de meios, a questão da indisciplina, comprometimento social foram elucidados por esse
evasão escolar, espaços sem condições Movimento. Apenas a partir dos idos da década de 1990
pedagógicas...), uma meta difícil de atingir. é que as inovações se projetaram com maior força no
Brasil. E isso ocorreu de maneira diferenciada em
conformidade com as ligações das diferentes
Nesse contexto, a maioria dos professores vem à localidades do território com os centros universitários. A
educação para a cidadania como mais um problema formação de professores na área contribuiu para um
para resolver, mais uma tarefa a desempenhar que vai avanço na compreensão teórica, conceitual e
lhes trazer uma sobrecarga de trabalho. metodológica do ensino de geografia, mas há, ainda,
uma distância entre a produção acadêmica das
principais instituições e a prática cotidiana do ensino
nessas localidades.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 9
com um número de páginas limitado, e desde sua
A ênfase nos conceitos de território e territorialidade se produção até a sua distribuição muitas
justifica pelas demarcações de poder, legal e ilegal, nos informações/conteúdos já estão defasados. Outro ponto
espaços cotidianos vivenciados pelos alunos. Se por um relevante é o fato de não ser uma boa indicação para o
lado eles percebem as relações de poder demarcando tratamento de questões referentes às escalas
territórios, por outro não refletem sobre a historicidade e local/regional, exatamente pela abrangência do referido
as escalas que mantêm tais relações. O estudo desses mercado. Por outro lado, não se pode esquecer que o
conceitos deve trazer à tona a possibilidade de livro didático, às vezes, é o único livro que passa pelas
compreensão de territórios como relações sociais mãos do aluno e por isso tem um significado que o
projetadas no espaço, estáveis ou instáveis, podendo professor deve considerar. O livro didático poderia ser
formar-se e dissolver-se em rápido intervalo de tempo, usado então como fonte para a pesquisa, podendo se
tendo existência regular ou apenas periódica, podendo trabalhar na sala de aula com diversos livros, cada um
ser contínuos ou não, conter um poder exclusivo ou não, lendo um autor diferente sobre o mesmo tema, o que
como territorialidades flexíveis. Nessa perspectiva, ampliará as possibilidades de discussão;
território é um campo de forças, as relações de poder
espacialmente delimitadas e operando, sobre um · a análise e a discussão dos conteúdos
substrato referencial. Deve-se, para entender a noção, contextualizados e não sua memorização, o que pode
procurar nos cotidianos a compreensão de territórios ser alcançado, inclusive, considerando-se a referência
como propriedade coletiva, pública, além da idéia de
ao livro didático feita acima;
posse, de poder componentes importantes, assim como
a noção de limites, fronteiras, vizinhança, acesso,
convergência, territorialidade. A noção de territorialidade · que deve haver sempre a possibilidade de inserção
ainda deve ser explorada na lógica da ocupação e do inesperado, ou seja, de inserir temas não previstos
demarcação de poder legal e ilegal, e em diferentes que ganham relevância em razão de algum fato
horários e locais, de acordo com os interesses inusitado (atentados terroristas, desastres naturais,
estabelecidos. Sem essa construção conceitual fica guerras, copa do mundo, olimpíadas, viagens espaciais
muito difícil a adequada leitura do cotidiano e uma etc.) e que são motivadores do aprendizado em função
compreensão e posicionamento dos laços e relações da massificação dos meios de comunicação. Esses
que mantêm tais estruturas dimensionando uma temas despertam interesse por parte dos alunos, e
qualidade de vida conflituosa e insegura em grande precisam de explicação por parte do professor,
parte de situações, bairros, favelas, auto-estradas. superando uma leitura apenas informativa do fato;

1.3. NOVAS ABORDAGENS TEÓRICO- · a importância das aulas de campo, desde aquela ao
redor da escola, até outras de maior distância, pois a
METODOLÓGICAS NO ENSINO DE
compreensão da realidade será mais completa quanto
GEOGRAFIA maior for o contato do aluno com a concretude do real, o
É imprescindível para o atual ensino da Geografia, nas que lhe permitirá perceber a complexidade do mundo;
séries do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, que o
professor planeje e proponha situações nas quais os · a utilização das diferentes linguagens tecnológicas
alunos possam aprender e utilizar procedimentos como e recursos pedagógicos como: projetor de slides,
a observação, a analogia, a síntese, experimentação, laboratório de informática, mapas, globos, TV, vídeo ou
descrição, considerando a contextualização e a DVD, produção de maquetes e cartogramas, para a
singularidade dos processos, fatos, fenômenos e apreensão dos conceitos relativos à cartografia e à
conceitos geográficos. Além de analisar, explicar e representação, a fim de proporcionar aos alunos aulas
entender, eles também precisam aprender a representar dinâmicas, criativas e atraentes de acordo com a
os fenômenos geográficos presentes nos espaços e realidade da escola e da comunidade em questão;
construtores dos diferentes tipos de paisagens e
territórios.
· o trabalho lúdico como R.P.G., Batalha naval, War,
Imagem em ação, entre outros, que favoreçam o
Para isso, é necessário conhecer as formas e os meios raciocínio espacial e garantam maior dinamismo e
para o alcance desse propósito. No planejamento a ser interação durante as aulas. Tais apontamentos têm
realizado pelo professor, algumas premissas são de exigido dos profissionais comprometidos com o ensino
fundamental importância: a necessidade de conhecer a respostas, mesmo que parciais que contribuam para a
disciplina em seus aspectos teóricometodológicos, compreensão das transformações que ocorrem no
tendo o domínio conceitual; a dimensão pedagógica do mundo em toda a sua complexidade. A escola é um dos
seu fazer profissional; necessidade de conhecer os locais privilegiados onde alunos e professores
documentos oficiais, dentre os quais destacam-se os problematizam as implicações e as possibilidades de
PCN e o Projeto Político-Pedagógico da instituição na inferências, individuais ou coletivas, diante da realidade
qual ensinam, além de considerar o contexto onde se de um mundo que marcadamente atinge a todos pelas
insere a escola. Para tanto, é necessário que o incertezas e contradições.
professor reconheça:

No entanto, os cursos de formação inicial de


Como o ensino da Geografia é concebido atualmente? professores têm mantido o foco de atenção nas teorias
pedagógicas, nas teorias do desenvolvimento e da
· que o livro didático pode ser utilizado enquanto didática, genericamente apresentadas, sem se deterem
referencial de consulta para o aluno e para o professor, na questão que deveria ocupar o centro de preocupação
porém sem esquecer que este material é produzido no desses cursos: como ensinar. As universidades e
interior de um concorrente e lucrativo mercado editorial, faculdades, de um modo geral, formam bacharéis, que
10 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
podem conhecer Geografia, mas não formam preciso conhecer os avanços e os problemas de seus
professores de Geografia; não se preocupam com a alunos, bem como a adequação de suas propostas, de
prática, restringindo-se à teoria. Isso talvez explique por modo a aperfeiçoar sua ação pedagógica. A interface
que a seleção e o uso de materiais didáticos são com as demais disciplinas também deve ser observada,
geralmente tratados como questões tangenciais. A de modo a proporcionar estudos mais completos sobre
questão, no entanto, constitui assunto de capital um tema cuja compreensão, por parte dos alunos, pode
importância, sobretudo quando se compara o ser ampliada por meio das diferentes abordagens e
tradicionalmente praticado nas escolas ao desejável e explicações. Essas atividades levam em conta que o
necessário, desde a perspectiva do que hoje se coloca processo de ensino não pode ser dissociado do de
como desafio para a educação em geral, para o ensino aprendizagem, que ocorre em uma relação viva,
da Geografia no Ensino Médio em particular. dinâmica, dando significados a quem aprende e o
conteúdo a ser aprendido. Nesta abordagem, a
avaliação é concebida e usada a favor da aprendizagem
1.4. NOVAS TECNOLOGIAS DE do aluno, como instrumento auxiliar do trabalho do
COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO NO ENSINO professor, processando-se conti nuamente com a
DE GEOGRAFIA função de diagnóstico e acompanhamento.

A revolução técnico-científica-informacional, oriunda dos


adventos contemporâneos das NTICs (Novas GEOGRAFIA POLÍTICA: AS FRONTEIRAS E AS
Tecnologias da Informação e Comunicação), é FORMAS DE APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO
vivenciada atualmente através de inovações e
tecnologias que trazem o conforto, comodidade e bem
estar social, porém ainda de forma desigual. 2.1. O ESPAÇO COMO PRODUTO DO HOMEM
Durante muito tempo, a Geografia conviveu com uma
Embora muitas dessas tecnologias venham ganhando multiplicidade de definições que levavam a uma
notoriedade no cenário da sociedade de consumo, elas indefinição do seu objeto de estudo.
ainda não se popularizaram pela falta de informação e
disponibilidade financeira das classes sociais menos
favorecidas economicamente, como também pela
ausência de investimentos na logística estrutural, na
qualificação profissional ou mesmo pela resistência de
alguns profissionais da educação que ainda possuem
aversão ao novo e por isso ainda utilizam práticas
didáticas um pouco ultrapassadas, visto que muitos
professores ainda sintetizam uma aula pautada na
descrição e na memorização de conceitos, que são
somente utilizados na prova escrita e depois esquecidos
pelos alunos em sua vida prática, não os levando a
pensar, refletir e agir, através da consciência crítica e de
ações cidadãs que elevem a qualidade de vida da “De todas as disciplinas sociais, a Geografia foi a
sociedade . que mais se atrasou na definição do seu objeto e
passou mesmo a negligenciar completamente esse
problema” (Santos, 1980:113/114).
Em decorrência de tais fatos, os professores de
geografia, como cientistas sociais e educadores que
interagem de forma histórica e dialética nos A preocupação com o espaço geográfico era colocada
acontecimentos do mundo globalizado, são convocados num plano secundário. Hartshorne, influente geógrafo
americano, chegou mesmo a afirmar que “a Geografia
a pesquisar, interagir, questionar, criticar e finalmente
criar perspectivas sobre a estrutura e o contexto da deveria ser definida antes pelo seu método próprio
inclusão digital voltada ao uso das NTICs no ensino da de aproximação ou de enfoque do que em termos de
Geografia, de modo que este ensino se modifique para seu objeto” (SANTOS, 1980: 114).
atender ao paradigma societal contemporâneo, através
do suporte das ferramentas didático-tecnológicas, Não se quer com isto minimizar a importância do
objetivando tornar a aula de Geografia mais dinâmica, método. Como bem o diz Santos:
interessante e interativa ao aluno.
“Falar em objeto sem falar em método pode ser
1.5. ASPECTOS AVALIATIVOS NO ENSINO DE apenas o anúncio de um problema, sem, todavia,
GEOGRAFIA enunciá-lo. É indispensável uma preocupação
ontológica, um esforço interpretativo de dentro, o
que tanto contribui para identificar a natureza do
Quanto à avaliação, os alunos devem ser apreciados espaço, como para encontrar as categorias de
em suas conquistas, numa perspectiva de continuidade estudo que permitam corretamente analisá-lo”
aos seus estudos. A avaliação deve ser processual,
contínua e planejada considerando os conhecimentos
O espaço passou a ser concebido como um dado
que serão recontextualizados e utilizados em estudos
neutro, como uma unidade autônoma e homogênea,
posteriores. Continua sendo papel fundamental do
como algo estático que detém a função de mero suporte
professor considerar os conhecimentos que os alunos já
da ação social, isto é, como um palco onde se localizam
possuem para planejar situações de ensino e
e se desenvolvem as atividades do homem. Nesse
aprendizagem significativas e produtivas. Para isso, é
contexto, o espaço é humano apenas porque o homem
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 11
o habita; “o homem é um agente que modela o relevo
e não um ser social que produz o espaço à imagem
e semelhança da sociedade da qual participa”
(CARLOS, 1991:11).

Na verdade, estudar o espaço como uma unidade


autônoma e homogênea, como um suporte da ação do
homem, implica necessariamente em omitir as relações
que se estabelecem entre os homens, em negar as
diferenciações internas nelas existentes tais como
classes sociais e relações de dominação-subordinação,
em excluir as diferentes formas de produzir e em não
reconhecer as questões ideológicas e políticas que
estão contidas no espaço. Implica também em
desprovê-lo de sua dimensão histórica, na medida em
que a ação do homem é considerada como algo
genérico, desvinculada das condições concretas
materiais de vida que são, como se sabe,
historicamente datadas.

Contrapondo-se a visão do espaço enquanto palco,


enquanto algo exterior ao homem, desenvolve-se, nos
anos 70, uma nova corrente no interior do pensamento
geográfico intitulada de Geografia Crítica, fundamentada
no materialismo histórico e na dialética. Esta corrente
posiciona-se criticamente tanto em relação à Geografia
Tradicional e à Geografia Pragmática quanto à realidade
social e à ordem constituída.

2.2. CAPITALISMO
David Harvey. A Condição Pós-Moderna. Ed Loyola,
O Capitalismo é respeitável apenas enquanto capital 1989.p.220.
personificado. Como tal, ele partilha com o avarento
a paixão pela riqueza enquanto riqueza. No entanto, Desta forma a globalização pode ser encarada como a
aquilo que, no avarento, é mera idiossincrasia, é, no atual fase do sistema capitalista, caracterizado por
capitalista, consequência do mecanismo social, do várias dimensões de atuação – economia, política,
qual é apenas uma das forças propulsoras. Além cultural, social, etc. – e todas estão formando relações
disso, o desenvolvimento da produção capitalista dentro do espaço geográfico mundial.
torna constantemente necessário o sustento
crescente do volume de capital despendido num
determinado empreendimento industrial, e a A globalização como realidade tem as seguintes
competição faz cada capitalista sentir as leis características:
imanentes da produção capitalista como leis  A dominação através de medidas e imposições
coercitivas externas. Essas leis forçam cada econômicas (pagamento de dívidas externas siderais).
capitalista a manter constantemente o aumento do  A redução da violência bélica entre as potências
seu capital, para preservá-lo; no entanto, ele não líderes e o fomento de conflito entre algumas
consegue aumentá-lo, exceto por meio da subalternas.
acumulação progressiva. MARX, Karl. O capital, Nova  O desapontamento dos estados nacionais (perda do
Iorque, 1967.p.592. primado das políticas nacionais).
 A concentração do poder planetário em corporações

O capitalismo, desde sua origem, buscou integrar as transnacionais (poucas centenas).


 A produção do desemprego estrutural.
diversas regiões e economias do mundo. O
 População marginal que se desloca da periferia para o
desenvolvimento técnico que contribuiu para as grandes
navegações dos séculos XV e XVI tornou possível a centro e entre as próprias periferias.
 Produção de sérios riscos de catástrofes ecológica
interligação entre as regiões do planeta e criou
condições para vivermos um mundo ―unificado‖. As (porque a exportação de lixo ecológico para as zonas
relações entre os diversos pontos da Terra ampliaram- subalternas só atrasa os efeitos da catástrofe), de
se cada vez mais, ao longo dos séculos seguintes, com movimentos sociais violentos (porque marginaliza
o desenvolvimento dos meios de transportes e do amplos setores do sistema produtivo, sem esperanças
sistema de comunicações, como nos apresenta Harvey: de inclusão como na acumulação originária) ou de
crises financeiras (por efeito de uma acumulação que
em boa parte se baseia na especulação e no
encarecimento dos bens e dos serviços como resultado
exclusivo de proibições com as quais se intervém nos
mercados).
A REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA E A
FORMAÇÃO DO ESPAÇO MUNDIAL GLOBALIZADO
12 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
1925, mas a propriedade não duraria muito. Após um
Diversos estudiosos têm atribuído o atual estágio de longo período de euforia financeira, em 1929 ocorreu a
consolidação do espaço mundial, economicamente quebra da Bolsa de Nova Iorque, provocando pânico
globalizado, aos avanços científicos e tecnológicos nos mercados financeiros mundiais e falências
alcançados com a Terceira Revolução Industrial, bancárias.
também chamada de Revolução Técnico-Científica,
desencadeada na década de 50, que se caracteriza pela
integração efetiva entre ciência, tecnologia e produção.
Grande parte das descobertas científicas foi
transformada, em um curto período de tempo, em
inovações tecnológicas. Estas por sua vez, têm sido
incorporadas quase que imediatamente ao processo
produtivo na forma de novas máquinas, equipamentos e
materiais ou, ainda, na forma de novos bens de
consumo, fazendo diminuir a cada ano a distância que
separa as descobertas da ciência de sua aplicação nos
setores produtivos. Uma avalanche de inovações
tecnológicas foi transformada em bens de consumo e de
produção, fato que revela os maciços investimentos
feitos nas últimas décadas pelo Estado e pelas grandes
empresas privadas em pesquisas científicas e
tecnológicas, sobretudo nos países desenvolvidos.

Pode-se dizer que em aproximadamente três décadas o


valor desses investimentos quadruplicou, chegando à
cifra de centenas de bilhões de dólares anuais,
destinados principalmente as áreas de ciências exatas e
biológicas (química, física, medicina, biologia, entre
outras.). Já na área tecnológica, alguns dos setores que
despontaram na atualidade são: Começava um período de recessão conhecido como
Grande Depressão, que se alastraria pelo mundo
A Globalização como realidade tem as seguintes inteiro. O excesso de produção e as especulações com
características: ações foram alguns dos motivos dessa crise. A
consequência mais evidente foi a falência de muitas
• Informática: (Desenvolvimento de computadores e
empresas.
softwares).
• Robótica: (criação de robôs industriais e aparelhos
digitais). Começando pelos Estados Unidos, os países adotaram
medidas protecionistas contra as importações. O
• Genética: (Desenvolvimento de organismos – plantas
comércio mundial retrocedeu e os preços dos produtos
e animais – geneticamente modificados).
primários despencaram, deixando em má situação os
• Bioquímica: (Elaboração de novos tipos de países exportadores.
medicamentos e de defensores agrícolas, entre outros).
• Química Fina: (criação de fibras sintéticas, polímeros,
Nos Estados Unidos, a economia recuperou-se após a
etc.).
intervenção do governo. Em 1933, o presidente Franklin
• Eletrônica e Telecomunicações: (Desenvolvimento de Delano Roosevelt aplicou a política do New Deal, um
aparelhos eletrônicos domésticos, telefones celulares, plano de combate à crise que propunha a realização de
fibras óticas, etc.). obras públicas a fim de reativar a economia e acabar
• Novos Materiais: (Desenvolvimento de com o desemprego.
supercondutores, cerâmicas finas, ligas metálicas, etc.).
O papel do Estado começou a mudar nessa época. A
AS CRISES DO LIBERALISMO doutrina que melhor correspondia aos anseios da
burguesia no século XVIII era o liberalismo econômico,
que defendia a liberdade individual, a livre iniciativa e o
No início do século XX o capitalismo passa por diversos
direito à propriedade privada como princípios para
momentos delicados. Entre 1914-1918 tivemos a
assegurar o progresso. Segundo um deles, o do
Primeira Guerra Mundial e esse ambiente impediu o
laissez-faire, o Estado não deveria mais atuar nem
comércio e, em razão dos gastos com o conflito, os
intervir na economia, mas apenas garantir a livre
países abandonaram o padrão-ouro.
concorrência entre as empresas.

Em 1917, uma revolução comunista na Rússia retirou o


país da esfera econômica mundial com o objetivo de
construir um novo modelo econômico: o socialismo.
Nesse sistema, a classe dos capitalistas foi extinta, e o
controle da economia passou para o Estado.

Com o fim da Primeira Guerra, os países tentaram


retornar ao padrão-ouro, o que foi conseguido a partir de
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 13
capitalismo encontrava novas formas de expansão e de
acumulação de capital. As grandes empresas não se
preocupavam apenas em exportar seus produtos
industriais, mas também em se instalar em diversos
países, driblando tarifas alfandegárias, eliminando taxas
de fretes e contando com isenção de impostos para a
instalação industrial, com custos mais baixos e mão-de-
obra e matérias-primas.

Além disso, o avanço nos meios de transportes e de


Adam Smith, o pai do liberalismo. informação permitiu a organização do comércio, da
produção e dos investimentos em escala mundial. Hoje,
Na primeira metade do século XX, diante das qualquer produto pode chegar a qualquer destino em
constantes crises geradas por esse sistema econômico, curto intervalo de tempo, assim como uma mercadoria
muitos economistas começaram a defender a pode ser produzida com componentes fabricados em
intervenção do Estado como centralizador e regulador diversos países. Da mesma forma - e com maior
da economia. O economista John Maynard Keynes agilidade e rapidez -, os investimentos na bolsa de
sintetizou essas ideias propondo uma intervenção valores são realizados on-line, por computadores
estatal que conduzisse ao incremento da produção, dos conectados aos sistemas de telecomunicações.
investimentos públicos e dos empregos. Suas ideias
ficaram conhecidas como Keynesianismo. Sem interferir OS FLUXOS DE INFORMAÇÕES
na autonomia das empresas privadas, o Estado
capitalista tornou-se responsável pelo crescimento e
A ampliação do fluxo de informações foi considerável,
pela promoção de alguns benefícios sociais, o chamado
principalmente, a partir dos anos 1980, devido ao
Estado de Bem-Estar Social.
avanço das telecomunicações – produção e utilização
de satélites artificiais, centrais telefônicas, cabos de fibra
Além de regular a economia e intervir m crises óptica, telefones celulares, etc. A Internet e o acesso a
econômicas, o Estado passou a desenvolver uma dados por meio de terminais de computadores, como os
infraestrutura necessária para assegurar as atividades que existem em caixas eletrônicos de bancos, são
das grandes empresas. exemplos do avanço da telemática (conjunto se serviços
informáticos que possibilitam o fluxo de dados, textos,
A Grande Depressão, porém, deixou consequências imagens e sons, através de uma rede de
políticas graves na forma da ascenção de regimes como telecomunicações), que possibilita maior volume e maior
o nazismo na Alemanha. Por outro lado, o retrocesso da rapidez na transmissão de dados, voz, textos e imagens
integração dos mercados mundiais e as sequelas da em escala planetária. Conectar-se à rede mundial é
Primeira Guerra Mundial deixaram o ambiente pronto privilégio de poucos. Isso vale para o Brasil e para todo
para a Segunda Guerra, que começaria em 1939. o mundo. Menos de 1% dos usuários da rede está na
África: todo o continente africano possui menos linhas
telefônicas do que a cidade de Tóquio, no Japão.
Quando a Segunda Guerra Mundial estava para Justamente desse quadro decorre o termo exclusão
terminar, o governo americano convocou uma digital: são consideradas excluídas do processo digital
conferência para reorganizar a economia mundial. A as pessoas que não têm acesso aos meios físicos
Conferência de Bretton Woods, realizada em 1944 nos necessários para a informatização.
Estados Unidos, estabeleceu novas regras financeiras e
comerciais mundiais.
FLUXO DE CAPITAIS E MERCADORIAS

No final da guerra, europeus e japoneses, com seus


territórios e economias devastados, não teriam A circulação de capitais entre os países decorre,
condições de voltar ao padrão-ouro do século XIX. principalmente, de investimentos estrangeiros,
Apenas os Estados Unidos tinham condições de manter remessas de lucros, de empresas multinacionais,
uma moeda com valor fixado em ouro e conversível no pagamentos de juros de dívidas externas, empréstimos
metal. Ficou estabelecido que o dólar teria uma e envio de rendimentos de trabalhadores que estão fora
paridade fixa com o ouro e seria no metal. A substituição do país.
do padrão-ouro pelo padrão-dólar (1944-1971) na
Conferência de Bretton Woods fez do dólar dos Estados Os investimentos estrangeiros são formados por
Unidos a moeda de referência mundial e as moedas investimentos financeiros (aplicados na compra de
europeias teriam um câmbio estável como o dólar, títulos públicos, de ações de empresas ou de moedas) e
podendo flutuar no máximo 2% para cima ou para baixo. por investimentos financeiros compõe-se de capitais
especulativos. Os meios eletrônicos tornaram mais
Após as duas grandes guerras mundiais, na segunda rápida a velocidade das transações, possibilitando aos
metade do século XX, o capitalismo retomou o investidores manipular instantaneamente as suas
crescimento sobre novas bases tecnológicas. aplicações financeiras.

O período posterior a Segunda Guerra Mundial Em 1961 o fluxo de mercadorias movimentou 61 bilhões
caracterizou-se pela expansão das Multinacionais e dos de dólares; em 2004, o valor das transações comerciais
investimentos de alguns países, hoje chamados de (importação e exportação) entre os países era de cerca
desenvolvidos, em diversas partes do globo. O de 18 trilhões de dólares, sendo os países
desenvolvidos, um grupo de pouco mais de 20,
14 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
responsáveis por mais de 12 trilhões. Mais da metade a praticam sofrem de uma vontade de ter sempre
desse volume está concentrado no bloco dos sete mais; de nada oferecer; de nada perder (...) No
países mais desenvolvidos, e na China que tem espírito do avaro as mãos cheias são sempre vistas
ampliado cada vez mais a sua participação no comércio como se estivessem vazias. Daí as unhas longas,
internacional nos últimos anos. um apetite infinito, uma vontade de subjugar coisas
e pessoas, gerando relações assimétricas que se
recriam e ampliam; uma vontade de poder
O processo de integração e de circulação de
insaciável. Vivemos em um mundo datado. A
mercadorias para além das fronteiras nacionais existe
globalização é essa data. São as suas definições e
há muito é só ele não é suficiente para caracterizar algo
contornos que constituem e limitam tudo o mais. (...)
novo. Em 1848, Marx e Engels, em o Manifesto
Comunista já alertavam para o avanço do capitalismo O grande paradigma da avareza é, hoje, a usura das
em escala planetária: multinacionais, cada vez menos numerosas e mais
poderosas, cujo patrimônio constrói-se a partir de
individualismos cada vez mais globais. As fusões
A necessidade de mercados cada vez mais extensos são o instrumento dessa vontade insaciável de
para seus produtos impele a burguesia para todo o sempre ser maior, mais forte e irresistível, de modo
globo terrestre. Ela deve estabelecer-se em toda a lucrar sempre mais e conquistar mais espaço...
parte (...) Através da exploração do mercado Por que essa fome de ter, sem outra finalidade
mundial, a burguesia deu caráter cosmopolita à senão ter ainda mais?
produção e ao consumo de todos os países. Em
lugar das velhas necessidades, satisfeitas pela
produção nacional, surgem necessidades novas, Levantam-se novos monopólios e oligopólios. Um
que para serem satisfeitas exigem produtos das país controla o dinheiro e a vida dos outros. Poucas
terras e dos climas mais distantes (...) Em lugar da corporações, cada vez em menor número,
antiga autossuficiência e do antigo isolamento local comandam a produção e as finanças do mundo. É
e nacional, desenvolve-se em todas as direções um assim que a globalização leva do relativismo do
intercâmbio universal, uma universal lucro ao absolutismo da usura; da competição à
interdependência das nações. competitividade; da multipolarização à potência
universal.
ESPAÇO GEOGRÁFICO E REDES
Realiza-se um sonho que o avaro pré-capitalista de
Molière certamente não terá tido: a possibilidade da
A organização do espaço geográfico por meio de redes avareza estrutural à escala do globo. A avareza
eliminou a necessidade de fixar as atividades agora se realiza plenamente, sem contrapartida
econômicas num determinado lugar. Isso vale para moral. Empresas (e governos e instituições
grande número de serviços, que podem ser prestados a supranacionais ao seu serviço) ditam ao mundo
partir de qualquer lugar no mundo para qualquer outro, regras e comportamentos, comandam os gostos,
bastando que esses locais estejam conectados. regulam o trabalho e as paixões, deformando, ao
preço do absurdo, o corpo e a alma das pessoas e
Em relação ao setor industrial, a produção pode estar das nações.
dividida em várias etapas, cada uma delas localizada
em um lugar. Um ou mais países fabricam partes do O antigo usuário assumia uma espécie qualquer de
produto, outros fazem a montagem, e a multinacional, a relação pessoal com o cliente que até poderia incluir
partir de sua sede, promove a distribuição no mercado a compaixão. O banco atual é impessoal, calculista e
mundial, faz a publicidade e difunde a sua marca. Nesse medido, frio por definição, e a usura que pratica
contexto, em que a produção e a distribuição de atinge a todos – pessoas físicas ou jurídicas – cujas
mercadorias se estruturam em redes, é possível, por atividades controla, já que realiza, hoje, todos os
exemplo, comprar uma bola de futebol com a marca de tipos de dinheiro... Ninguém, rico ou pobre, escapa à
uma empresa alemã, produzida numa fábrica do tirania do banqueiro. Tudo é cupidez e cálculo
Paquistão e exportada para o Brasil por uma empresa financeiro. Daí om convite silencioso e incessante
norte-americana. para que ninguém – pessoa jurídica ou física –
compartilhe seja o que for: é a era do egoísmo
TRANSNACIONAIS, MULTINACIONAIS OU superlativo. Desse modo, a avareza torna-se, em
EMPRESAS GLOBAIS. todas as dimensões e escalas, uma regra de vida,
outra moralidade.

A avareza é um tema antigo, imortalizado com a


figura ambígua de Harpagon, na comédia de Molière, Lembremos, outra vez, de que o mundo é datado.
mas é uma paixão sempre atual. Por isso, as ações eficazes são as condizentes com
o espírito da época. Como, pois, tratar a que tão da
consciência, no fim do século XX e início do século
Avaro e avareza são expressões que, na língua XXI? Devemos, talvez, partir da ideia de mundo e de
portuguesa, comportam inúmeros sinônimos. O tempo. Lembrando-nos, porém, de que o mundo não
avaro também se chama cauíla, sovina, unha-de- é somente constituído das coisas já feitas, mas de
fome, mão-de-vaca, mão-fechada, somítico, pão- tudo o que é ainda possível realizar. A História não é
duro. A avareza tem outros nomes: somiticaria, apenas o que existe, mas também a soma dos
sovinaria, avidez, mesquinharia, esganação. A possíveis.
avareza caracteriza-se por um excessivo e sólido
apego ao dinheiro, pelo modo de gastar, pela falta
de generosidade, mesquinhez, sofreguidão. Os que
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 15
A brutalidade com que agem os atores hegemônicos O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA GLOBAL
acaba por deixar à mostra a perversidade de suas
ações. É o feitiço voltado contra o feiticeiro, o No sistema capitalista, o Estado sempre desempenhou
ensinamento às massas de que o caminho apontado funções fundamentais à manutenção desse sistema:
não é bom. É dessa realidade, cada vez mais manter a lei e a ordem, preservar a propriedade privada,
sensível, que se nutrem as esperanças de edificação resolver conflitos entre grupos sociais e econômicos,
de um novo mundo, quando o tempo chegar. defender as fronteiras do país, estabelecer relações
SANTOS, Milton. Avareza, ano 2000. Em: SADER, Emir. 7 políticas e comerciais com outros Estados.
pecados do capital. Rio de Janeiro: Record, 1999.p.25-29.

Com algumas variações de país para país, o Estado foi


O pilar principal do capitalismo atual, de um mundo agregando uma série de outras funções, entre elas
marcado pela facilidade de comunicação e transporte de podemos destacar:
ideias e materiais, sem dúvida são as empresas
multinacionais.
• Instalação de empresas estatais, ligadas
principalmente ao setor de infraestrutura, como o
Elas têm seu surgimento marcado no final do século siderúrgico e o petroquímico.
XIX, sendo que os grupos vigentes hoje tiveram seu • Construção e manutenção de equipamentos de
surgimento no início do século XX. Porém, foi só depois
infraestrutura (rodovias, ferrovias, viadutos, portos,
da 2ª Guerra Mundial que estas empresas
aeroportos, usinas e redes de distribuição de energia
―supranacionais‖ tomaram sua posição de hegemonia elétrica, etc.).
na economia mundial, sendo que a renda anual das
maiores multinacionais supera o PIB de muitos países. • Participação acionária em empresas dos mais
variados setores.
• Investimentos em educação, saúde, moradia e
Essas empresas possuem atualmente um grau de pesquisa.
liberdade inédito, que se manifesta na mobilidade do
capital industrial, nos deslocamentos, na terceirização e • Criação do sistema de aposentadorias, pensões e
nas operações de aquisições e fusões. A globalização seguro-desemprego.
remove as barreiras à livre circulação do capital, que • Controle de circulação de moeda.
hoje se encontra em condições de definir estratégias • Realização de empréstimos a juros baixos e isenção
para a sua acumulação. de impostos para determinados grupos econômicos ou
sociais (subsídios).
Essas estratégias são na verdade cada vez mais • Estabelecimento da taxa de juros que serve de base
excludentes. O raio de ação das transnacionais se para as atividades financeiras, inclusive as bancárias.
concentra na órbita dos países desenvolvidos e alguns
poucos países subdesenvolvidos que alcançaram certo Nos anos 80, o Estado passou a ter um papel
estágio de desenvolvimento. No entanto, o caráter diferenciado devido a crises econômico-financeiras
setorial e diferenciado dessa inserção tem implicado, existentes em vários países subdesenvolvidos e dos
por um lado, na constituição de ilhas de excelência elevados déficits públicos de muitos países. Para os
conectadas às empresas transnacionais e, por outro teóricos das organizações financeiras internacionais
lado, na desindustrialização e o sucateamento de (Banco Mundial e FMI) e o governo norte-americano, a
grande parte do parque industrial constituído no período crise e a nova economia globalizada exigiam um Estado
anterior por meio da substituição de importações. que não interferisse no livre comércio, facilitasse a
atuação das grandes empresas, cobrasse menos
A GLOBALIZAÇÃO E O MERCADO DE TRABALHO impostos e reduzisse seus gastos, inclusive nos setores
sociais (saúde, educação, moradia, previdência). Essas
ideias propostas foram chamadas de neoliberais. O
A eliminação dos postos de trabalho representa o lado Estado, dentro do neoliberalismo deve intervir pouco na
mais perverso da globalização. Duas conferências de
economia, procurando eliminar barreiras ao comércio
cúpula do G-7 já trataram do problema mundial do
internacional, atrair investimentos estrangeiros,
desemprego e a posição dos chefes de Estado dos privatizar as empresas públicas, manter o equilíbrio
países mais ricos foi a mesma: nada a fazer, senão fiscal e controlar a inflação. Para os neoliberais não é
prosseguir os programas de ajuste com o rigor fiscal e
papel do Estado funções como o extrativismo mineral ou
no equilíbrio monetário. Mesmo que isto implique a
a extração petrolífera. Muitas dessas regras básicas,
continuidade das medíocres taxas de crescimento da formuladas em 1989 por economistas de instituições
economia mundial dos últimos vinte anos. A financeiras, ficaram conhecidas como Consenso de
precarização dos contratos de trabalho (tempo parcial, Washington.
tempo indeterminado), o aumento das jornadas, a
radioatividade, a informalidade, a redução dos salários e
a deterioração das condições de trabalho são outras Essas normas passaram a ser recomendadas para o
tantas formas de ataque aos trabalhadores. Em razão estabelecimento de uma agenda neoliberal de reformas
destes ataques, o perfil do mercado começa a nos países em desenvolvimento. A adoção das práticas
apresentar semelhanças (o crescimento do desemprego neoliberais levou vários Estados a enfraquecer os
nos países do G-7 é um fenômeno quase mecanismos de controle da economia e das fronteiras
generalizado.). comerciais, tornando os países subdesenvolvidos
vulneráveis à atuação das grandes corporações
multinacionais.
16 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
A CRISE NA ZONA DO EURO

A formação de uma crise financeira na zona do euro


deu-se, fundamentalmente, por problemas fiscais.
Alguns países, como a Grécia, gastaram mais dinheiro
do que conseguiram arrecadar por meio de impostos
nos últimos anos. Para seu financiamento, passaram a
acumular dívidas. Assim, a relação do endividamento
sobre o PIB de muitas nações do continente ultrapassou
significativamente o limite de 60% estabelecido no
Tratado de Maastricht, de 1992, que criou a zona do
euro. No caso da economia grega, exemplo mais grave
de descontrole das contas públicas, a razão dívida/PIB é
mais que o dobro desse limite. A desconfiança de que
os governos da região teriam dificuldade para honrar
suas dívidas fez com que os investidores passassem a
temer possuir ações, bem como títulos públicos e
privados europeus.

Os primeiros temores remontam a 2007, quando


A CRISE FINANCEIRA DE 2008 E O MUNDO ATUAL existiam suspeitas de que o mercado imobiliário dos
Estados Unidos vivia uma bolha. Temia-se que bancos
Em 2008, o mundo capitalista conheceu uma nova séria americanos e também europeus possuíssem ativos
crise financeira e econômica. Iniciada nos Estados altamente arriscados, lastreados em hipotecas de baixa
Unidos, em 2007, a crise foi classificada por analistas qualidade.
econômicos como a de maior estrago na economia
capitalista desde a intensificação do processo de A crise de 2008 confirmou as suspeitas e levou os
globalização, a partir os anos 1970. governos a injetarem trilhões de dólares nas economias
dos países mais afetados. No caso da Europa, a
As causas da crise estavam relacionadas à expressiva iniciativa agravou os déficits nacionais, já muito
expansão dos financiamentos para a compra de imóveis elevados. Em fevereiro de 2010, uma reportagem do
nos Estados Unidos, em razão dos juros baixos que o The New York Times revelou que a Grécia teria fechado
governo vinha mantendo desde o final do século XX. acordos com o banco Goldman Sachs com o objetivo de
esconder parte de sua dívida pública. A notícia levou a
Comissão Europeia a investigar o assunto e
A forte valorização no preço dos imóveis estimulou os desencadeou uma onda de desconfiança nos mercados.
que tomavam financiamentos a refinanciar suas dívidas, O clima de pessimismo foi agravado em abril pelo
recebendo uma diferença em dinheiro, em geral rebaixamento, por parte das agências de classificação
utilizada para consumir bens, enquanto o nível de de risco, das notas dos títulos soberanos da Grécia,
poupança caía acentuadamente. Diversos bancos Espanha e Portugal.
criaram títulos que tinham como garantia os
financiamentos para compra de imóveis (títulos
garantidos como hipotecas). Investidores que adquiriram Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha – que formam
esses títulos emitiam, por sua vez, outros títulos que o chamado grupo dos PIIGS – são os que se encontram
tinham como garantia os primeiros. Isso se espalhou por em posição mais delicada dentro da zona do euro, pois
todo o sistema financeiro. foram os que atuaram de forma mais indisciplinada nos
gastos públicos e se endividaram excessivamente. Além
de possuírem elevada relação dívida/PIB, esses países
Com o consumo em alta, a inflação aumentou. Para possuem pesados déficits orçamentários ante o
frear a inflação, o governo norte-americano aumentou tamanho de suas economias. Como não possuem
os juros, elevando as mensalidades dos imóveis. Assim, sobras de recursos (superávit), entraram no radar da
centenas de milhares de proprietários deixaram de desconfiança dos investidores. A desconfiança em
pagar os financiamentos, os preços dos imóveis relação à Europa pode disseminar pânico no mercado e
despencaram e os títulos se desvalorizaram fazer com que bancos fiquem excessivamente
acentuadamente. cautelosos ou até parem de liberar crédito para
empresas e clientes.
Em decorrência, houve a quebra de bancos, cortes de
empregos, desvalorização de empresas e redução de
oferta de crédito, afetando toda a cadeia de consumo –
com menos financiamentos para a compra de bens,
muitos consumidores ficaram sem recursos para
comprar mercadorias. Diversas estratégias de socorro a
bancos e empresas foram elaboradas. Os governos
norte-americano e de outros países desenvolvidos
disponibilizaram vultosos recursos financeiros para
salvar bancos e grandes empresas, visando conter a
crise.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 17

Os investidores, ao venderem ações e títulos europeus, Homem coloca fogo no corpo fora de uma agência em
provocam fuga de capitais da região. Sem poder Salônica, no norte da Grécia. O homem teve um pedido de
provocar uma maxidesvalorização do euro, haja vista renegociação de uma dívida no banco negado.
que isso prejudicaria aqueles países que têm as contas
controladas, a opção é impor sacrifícios à população, INFORMALIDADE, TERCIARIZAÇÃO E
como corte de salários e congelamento de benefícios TERCEIRIZAÇÃO.
sociais. Tudo isso implica menos dinheiro para fazer a
economia girar – justo num momento em que a zona do
euro precisa crescer e aumentar sua arrecadação para O crescimento das taxas de desemprego nas atividades
diminuir o endividamento. O risco é a criação de um formais devido ao neoliberalismo tem obrigado milhares
círculo vicioso, em que uma estagnação ou até mesmo de trabalhadores a procurar a economia informal para
uma recessão prejudique os esforços de ajuste fiscal – o ganhar algum dinheiro, sendo que a tendência atual é a
que levaria a medidas de austeridade ainda mais intensificação deste problema nos próximos anos.
severas, mais recessão, e assim por diante. Num A terciarização corresponde à tendência das economias
segundo momento, a Europa, como um dos maiores pós-industriais em transferir para o setor de serviços a
mercados consumidores do mundo, diminuiria o ritmo de maioria da população economicamente ativa, sendo que
importação de bens e serviços e prejudicaria a dinâmica até mesmo nos países subdesenvolvidos esta tendência
econômica global. A possibilidade de que governos e já se manifesta embora em ritmo diferente. A
empresas da região tornem-se insolventes faz com que terceirização também é uma tendência das economias
boa parte dos investidores simplesmente não queira industrializadas em transferir parte da produção de uma
ficar exposta ao risco de ações e títulos europeus. empresa para outra.

Dois pacotes de socorro foram aprovados com o intuito POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO
de ganhar tempo para a tarefa de reorganizar as contas
dos países mais endividados e restabelecer a confiança Vários movimentos surgiram em todo o mundo em razão
dos investidores na região. das consequências negativas da globalização. Tais
movimentos alertam para o controle das multinacionais
O primeiro voltava-se exclusivamente à Grécia e somou das economias de diversos países. Esses movimentos
cerca de 110 bilhões de euros. O montante, levantado vieram a tona nos anos 90, quando a OMC
pelo Fundo Monetário Internacional (€ 30 bilhões) e (Organização Mundial do Comércio) organizou a
pelos governos dos países da zona do euro (€ 80 Rodada do Milênio a fim de discutir as perspectivas do
bilhões), deve ser liberado de forma progressiva num comércio internacional para o século XXI, com
prazo de três anos. O segundo foi a constituição de um representantes de 130 países.
fundo emergencial de 750 bilhões de euros para UM MUNDO NOVO É POSSÍVEL
situações de crise na União Europeia.

“O mundo hoje também autoriza uma outra


Qualquer país da região estaria apto a recorrer a ele. A percepção da história por meio da contemplação da
maior parte, € 500 bilhões, virá de países europeus e o universalidade empírica constituída com a
restante, € 250 bilhões, do FMI. emergência das novas técnicas planetarizadas e as
possibilidades abertas a seu uso. A dialética entre
essa universalidade empírica e as particularidades
encorajará a superação das práxis invertidas, até
agora comandadas pela ideologia dominante, e a
possibilidade de ultrapassar o reino da necessidade,
abrindo lugar para a utopia e para a esperança. Nas
condições históricas do presente, essa nova
maneira de enxergar a globalização permitirá
distinguir, na totalidade, aquilo que já é dado e
existe como um fato consumado, e aquilo que já é
possível, mas ainda não realizado, vimos um e outro
de forma unitária. Lembremo-nos da lição de
Crise na Grécia: manifestantes entram em choque com a A.Schimdt (The concepot of nature in Marx, 1971)
polícia. quando dizia que “ a realidade é, além disso, tudo
aquilo em que ainda não nos tornamos, ou seja,
18 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
tudo aquilo em que a nós mesmos nos projetamos bens de consumo como de bens de capital, o que gera
como seres humanos, por intermédio dos mitos, das uma produção e um consumo per capita (por pessoa) de
escolhas, das decisões e das lutas” bens industrializados bastante elevados. São
normalmente as economias que estão na vanguarda da
pesquisa e da inovação tecnológica. Os setores de
A crise por que passa hoje o sistema, em diferentes
ponta da tecnologia - com a informática (especialmente
países e continentes, põe à mostra não apenas a
computadores), as telecomunicações, a química fina, os
perversidade, mas também a fraqueza de respectiva
novos materiais, etc.- são gerados nesses países e
construção. Isso, conforme vimos, já levando ao
aplicados com mais intensidade. · A população urbana é
descrédito dos discursos dominantes, mesmo que
bem maior que a rural, situando-se normalmente acima
outro discurso, de crítica e de proposição, ainda não
dos 75% da população total de cada país. Essas
haja sido elaborado de modo sistêmico. O processo
sociedades são urbanas e também pós-industriais, ou
de tomada de consciência – já o vimos – não é
seja, onde um moderno setor terciário da
homogêneo, n em segundo os lugares as classes
economia(comércio e serviços) já substitui o setor
sociais ou situações profissionais, nem quanto aos
secundário (indústrias) como o grande gerador de
indivíduos. A velocidade com que cada pessoa se
empregos e de rendimentos. Nesse setor terciário cabe
apropria da verdade contida na história é diferente,
um destaque especial para o ensino e a pesquisa
tanto quanto a profundidade e coerência dessa
tecnológica, que são de ótima qualidade e básicos para
apropriação. A descoberta individual é, já, um
explicar os níveis de qualificação da mão-de-obra
considerável passo à frente, ainda que possa
nacional e a constante inovação da tecnologia em toda
parecer ao seu portador um caminho penoso, à
a sociedade. · São países que em geral exportam
medida das resistências circundantes a esse novo
produtos manufaturados (industrializados) e tecnologia
modo de pensar. O passo seguinte é a obtenção de
avançada, importando produtos primários (minérios e
uma visão sistêmica, isto é, a possibilidade de
gêneros agrícolas). Eles em geral sediam as principais
enxergar as situações e as causas atuantes como
firma do planeta (Sony, GM, Shell, Nestlé, Renault, Fiat,
conjuntos e de localizá-los como um todo,
etc.) e os principais bancos internacionais, sendo assim
mostrando sua interdependência. A partir daí, a
os maiores investidores de capitais no exterior. · Sua
discussão silenciosa consigo mesmo e o debate
agropecuária ou setor primário da economia em geral
mais ou menos público com os demais ganham uma
ocupa uma posição extremamente pequena na renda
nova clareza e densidade, permitindo enxergar as
nacional de cada país (menos de 5% do total), embora
relações de causa e efeito com uma corrente
seja moderna ao utilizar técnicas avançadas de
contínua, em que cada situação se inclui numa rede
produção, como a biotecnologia e a criação e o cultivo
dinâmica, estruturada, à escala do mundo e à escala
intensivos, havendo ainda um excesso de produção
dos lugares” SANTOS, Milton. Por uma outra globalização :
do pensamento único à consciência universal. São Paulo, agrícola, que leva muitos governos a pagar ao agricultor
2008. Ed. Record. para não produzir determinados gêneros ( ou então
estabelecer cotas máximas para tais produtos e
regiões).
2.3. DESENVOLVIMENTO E
SUBDESENVOLVIMENTO Sociedades de consumo: As sociedades dos países
Consideram-se como Norte os países ricos ou capitalistas desenvolvidos são comumente chamadas
industrializados: o primeiro Mundo ou países capitalistas de sociedade de consumo. Tal expressão é usada
desenvolvidos, em primeiro lugar e também os países porque os habitantes desses países usufruem
mais industrializados do antigo mundo socialista ou intensamente todos os bens e serviços existentes no
Segundo Mundo, que desde o final dos anos 80 se mundo moderno. Muito mais que os outros países,
voltam novamente para o sistema capitalista. sejam os ex-socialistas ou os subdesenvolvidos.

O termo subdesenvolvimento surgiu após a Segunda Com frequência, o intenso consumo leva a grandes
Guerra Mundial, nos documentos dos organismos desperdícios. Ao observar por exemplo, a vitrina de uma
internacionais, como a ONU - Organização das Nações grande loja nos Estados Unidos ou na Europa ocidental,
Unidas - e a Unesco, principalmente, sendo depois vê-se que metade dos produtos expostos pode ser
usado com freqüência na imprensa. A ―descoberta‖ do considerada absolutamente inútil; 25% normalmente são
subdesenvolvimento deu-se com a descolonização e produtos nocivos à saúde e apenas cerca de 25% são
com a publicação pelos organismos internacionais de realmente úteis. Verifica-se, portanto, grande
dados estatísticos dos diversos países do mundo (índice concorrência de consumo supérfluo.
de mortalidade, salário, formas de alimentação,
habitação, consumo, distribuição da renda, etc.). Terceiro Mundo: A expressão Terceiro Mundo, apesar
de ser geralmente usada como sinônimo do conjunto de
O primeiro mundo: Pertencem a esse grupo de países países subdesenvolvidos, surgiu apenas em 1952,
denominado primeiro Mundo, que abrange cerca de quando o estudioso francês Alfred Sauvy a forjou com
15% da população mundial, Estados Unidos, Canadá, base numa comparação entre os países pobres de hoje
Japão, Israel, Austrália, Nova Zelândia e as nações da e o Terceiro Estado da França nas vésperas da
Europa ocidental. São países capitalistas muito revolução de 1789.
industrializados, alguns até considerados
superindustrializados (Estados Unidos, Japão e O terceiro estado era constituído pela burguesia, que
Alemanha principalmente). Suas características antes da revolução não participava do poder político, e
principais podem ser assim resumidas: · Apresentam pelo povo em geral - camponeses operários e demais
uma estrutura industrial completa, ou seja, possuem em trabalhadores urbanos. Tal termo era utilizado para
grande quantidade todo o tipo de indústrias, tanto de contrapor esses setores populacionais aos outros dois
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 19
estados, a nobreza e o clero, que dispunham de privilegiada ligada aos interesses metropolitanos; do
enormes privilégios na sociedade francesa da época. A outro, a imensa massa de trabalhadores mal
noção de Terceiro Mundo, portanto, surgiu para remunerada, intensamente explorada.
enfatizar a pobreza desses países, que abrangem maior
parte da humanidade, em contra posição à melhor
No início havia mão-de-obra escrava em grande parte
qualidade de vida e até a alguns privilégios que
dos atuais países subdesenvolvidos. A partir de meados
existiriam nos outros dois mundos ( os capitalistas
do século XIX, a escravidão começou a atrapalhar o
desenvolvidos e os ex-socialistas, hoje ―economias de
desenvolvimento da economia de mercado, pois o
transição‖).
escravo não era comprador e consumidor. Extinto o
regime servil, uma massa de trabalhadores com
Alguns autores passaram a ver no Terceiro Mundo uma baixíssimos salários substituiu os escravos. Dessa
semelhança com o proletariado dos países capitalistas, forma, a intensa exploração da força de trabalho
chamando os países desse conjunto de ―nações constitui uma das características do
proletárias‖. Essas imagens, contudo, são apenas subdesenvolvimento. Em alguns lugares, como a
parcialmente verdadeiras, já que nos países América Latina, os Europeus desprezaram as
subdesenvolvidos existe sempre uma minoria sociedades preexistentes e estabeleceram outras,
privilegiada que desfruta de padrões de vida trazendo trabalhadores escravos da África e a elite
elevadíssimos. Em contrapartida, nos outros dois dominante da própria Europa. Em outras áreas, onde
mundos sempre existiram camadas populacionais com havia populações muito numerosas - como foi o caso da
baixas rendas. África - , os dominadores europeus corromperam
algumas elites locais: provocaram rivalidades e conflitos
entre grupos sociais, conseguindo que certas camadas
Terceiro Mundo e subdesenvolvimento hoje passam a
dominantes já existentes fossem coniventes com a
ser utilizados como sinônimos, mas nem sempre foi
economia colonial, e recrutaram trabalhadores mal
assim. Muitos autores estabeleciam uma pequena
remunerados no próprio local.
diferença entre eles. Quanto ao subdesenvolvimento, ou
aos países subdesenvolvidos, é claro que diz respeito
especificadamente ao mundo capitalista: seria a Na Índia os colonizadores ingleses encontraram uma
periferia do sistema capitalista mundial, que possui sociedade extremamente complexa, que tinha um
como centro os países do Primeiro Mundo. O Terceiro desenvolvimento econômico bastante avançado para a
Mundo, por outro lado, seria mais amplo que o conjunto época, com uma produção manufatureira superior à
de países capitalistas subdesenvolvidos; ele abrangeria própria Inglaterra. Como o que interessava naquele
também os países ―Socialistas‖ mais pobres, menos momento era uma Índia comparadora de bens
industrializados (Mongólia, Albânia, China, Cuba, manufaturados ingleses e produtora somente de
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Laus, Camboja, e matérias-primas a serem vendidas a baixos preços, os
Vietnã). Mas com a crise do socialismo, com a volta ingleses acabaram destruindo essas oficinas
gradativa destes países ao mundo capitalistas, essa manufatureiras indianas.
diferença cai por terra.
Conclui-se que o que mais identifica os países
Sociedade e estado no subdesenvolvimento: Os desenvolvidos é o seu domínio, a nível mundial, em
países subdesenvolvidos resultaram da expansão do termos de poderio econômico, tecnológico em relação
capitalismo a partir da Europa ocidental, desde os aos países subdesenvolvidos. Essa hegemonia é
séculos XV e XVI. O capitalismo, que nasceu na monopolizada pelo ―Grupo dos sete‖ países mais ricos.
Europa, expandiu-se por toda a superfície do globo e Essas grandes potências realizam com freqüência
produziu um mundo interligado, dividido em áreas reuniões de cúpula nas quais são analisadas as grandes
centrais ou desenvolvidas e áreas periféricas ou questões internacionais a nível político, social e
subdesenvolvidas. Nos países desenvolvidos o econômico, as atitudes a tomar em relação às
capitalismo resultou de um processo endógeno solicitações do grupo subdesenvolvido. É importante
(interno), ou seja, desenvolveu-se a partir da própria ressaltar que um dos aspectos que mais caracteriza os
sociedade. No Terceiro Mundo o capitalismo foi posto países subdesenvolvidos é a sua estrutura econômica
de fora, isto é, resultou de um processo exógeno totalmente desarticulada. Dentre elas podem ser
(externo). Essa é uma das principais diferenças entre os citadas: · Economia subordinada à estrutura financeira
países desenvolvidos e os subdesenvolvidos. Os tipos internacional. · Economia caracterizada por dois
de sociedade que existiam nos atuais países circuitos antagônicos: tradicional e moderno.
subdesenvolvidos - por exemplo, as inúmeras
sociedades indígenas no território que hoje pertence ao
Brasil ou a sociedade milenar indiana - acabaram sendo 2.4. ECONOMIA DO PÓS-GUERRA
destruídos ou submetidos a um novo modelo social, A expressão nova ordem mundial tem sido utilizado
colonial, criado pelos europeus. Esse modelo era para se referir a um novo período no pensamento
voltado para o objetivo básico da colonização de político e no equilíbrio mundial de poder, além de uma
exploração: o desenvolvimento do capitalismo nos maior centralização deste poder. Apesar das diversas
países centrais. interpretações deste termo, ele é principalmente
associado com o conceito de governança global.
A exploração colonial visava à expansão do comércio e
à produção de minérios ou gêneros agrícolas baratos Foi o presidente norte-americano, Woodrow Wilson, que
para suprir o mercado mundial. Como conseqüência pela primeira vez desenvolveu um programa de reforma
desse objetivo mercantil, o modelo social instituído nas progressiva nas relações internacionais e liderou a
áreas colonizadas foi marcado por extremas construção daquilo que se convencionou denominar de
desigualdades: de um lado os poucos ricos, a minoria "uma nova ordem mundial" através da Liga das Nações.
20 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Nos EUA, a expressão foi usada literalmente pela Multiplicaram-se os movimentos democráticos na
primeira vez pelo presidente Franklin Delano Roosevelt, Hungria e na Tchecoslováquia. Na Polônia, o
em 1941, durante a II Guerra Mundial. Solidariedade passou à ofensiva e reconquistou a
legalidade. Mas foi na Alemanha, em 1989, que
aconteceram as transformações mais expressivas.
A nova ordem mundial também é um conceito sócio-
Aproveitando o clima de abertura, milhares de alemães-
econômico-político, que faz referência ao contexto
orientais começaram a deixar o país, a partir de agosto
histórico do mundo pós-Guerra Fria. Foi utilizada pelo
de 1989. As autoridades evitaram um conflito direto com
presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan na
a oposição, para afastar o risco de um banho de sangue
década de 1980, referindo-se ao processo de queda da
como o da Praça da Paz Celestial, ocorrido pouco
União Soviética e ao rearranjo geopolítico das potências
antes, em 4 de junho, em Pequim, capital da China. No
mundiais.
episódio, cerca de dois mil estudantes foram
violentamente atacados pelas forças de segurança
O período compreendido entre as décadas de 1970 e chinesas durante uma manifestação pela democracia.
1980 foi de crise econômica nos países socialistas, a Na Alemanha Oriental, o dirigente Erick Honecker ainda
começar pela União Soviética. O país enfrentava tentou conter o ímpeto de mudanças no país. Mandou
problemas como desemprego, falta de alimentos, reprimir algumas manifestações mas foi desencorajado
prostituição e consumo de drogas. A não ser pelos por Gorbatchev durante os festejos, em Berlim, do 40°
progressos do setor militar e espacial soviético, a aniversário de fundação da República Democrática
indústria no mundo socialista não acompanhava os Alemã, em outubro de 1989.
avanços tecnológicos do Ocidente. O obsoletismo do
parque industrial refletia-se no abastecimento da
população. Na União Soviética, o racionamento de
alimentos e a escassez de produtos como sabonete,
roupas e calçados provocavam grandes filas nas
principais cidades.

Em oposição ao quadro de crise, uma camada da


população, formada pelos funcionários da burocracia do
Estado e do Partido Comunista, tinha acesso a bens e
serviços fora do alcance do cidadão comum. Nos anos
80, sob o governo de Brejnev, mais do que em outras
épocas, o conceito de socialismo foi deturpado pelos A queda do Muro de Berlim foi festejada pelos governos
próprios dirigentes da União Soviética. A opinião pública e pela grande imprensa ocidental. Em poucos meses,
ocidental tomou conhecimento de denúncias de todos os regimes socialistas chegavam ao fim na
corrupção generalizada na cúpula do poder de Moscou, Europa. Na maioria dos casos, de forma pacífica. A
garantida pela repressão da KGB, a polícia política exceção foi a Romênia, que viveu um processo
soviética. sangrento por causa da resistência do dirigente, Nicolai
Ceausescu. Nos confrontos de rua estavam, de um
Acompanhando esses fatos, fica mais fácil entender a lado, a população e setores das Forças Armadas. Do
força do Solidariedade na Polônia durante a década de outro lado, a Guarda Nacional, fiel ao dirigente. O saldo
1980. Depois dele, diversos grupos de oposição foi de cerca de 10 mil mortos. Ceausescu e sua mulher,
brotaram em toda a Europa do Leste, organizando os Helena, acabaram presos e submetidos a um
movimentos sociais que culminariam no julgamento sumário. Condenados à morte, foram
desmantelamento do bloco socialista, em 1989. executados diante das câmeras de TV, no dia 25 de
dezembro de 1989.

Mas foi em abril de 1985 que surgiu um fato novo,


decisivo para o futuro do Leste Europeu. Mikhail Na Iugoslávia, o fim do muro foi o sinal para os
Gorbatchev chegava ao poder na URSS, com um amplo nacionalistas desafiarem o governo central. Em 1991, a
programa de reformas democráticas para o seu país. Eslovênia e a Croácia foram as primeiras repúblicas a
Um empreendimento que em poucos anos mudaria declarar independência. Em 1992, foi a vez da Bósnia-
sensivelmente a disposição geopolítica do planeta. O Herzegovina. Questões étnicas e conflitos nacionalistas
programa de Gorbatchev foi anunciado em 1986, transformaram a região no cenário de uma sangrenta
durante o 27° Congresso do Partido Comunista. guerra civil. No final de 95, um acordo de paz na Bósnia
traria uma certa estabilidade no convívio entre as
repúblicas surgidas com o fim da Federação Iugoslava.
Nos primeiros anos de governo, o líder tomou medidas
de impacto. Declarou moratória nuclear unilateral,
abrandou a censura à imprensa, libertou os presos O processo que conduziu ao fim do bloco socialista
políticos e, em 1988, iniciou a retirada das tropas europeu foi marcado pelo descontentamento popular
soviéticas do Afeganistão, depois de 9 anos de com o modelo vigente naqueles países. Além disso,
intervenção militar. No âmbito da política externa, durante todo o período de Guerra Fria, o ocidente
Gorbatchev revogou a chamada "doutrina Brejnev", procurou, de todas as formas, passar ao mundo
esvaziando as funções do Pacto de Varsóvia e socialista a imagem do capitalismo como a de um
desmilitarizando o teor das conversações internacionais sistema quase perfeito, com liberdade e boas condições
sobre assuntos estratégicos. de vida para todos. Muita gente no bloco socialista
acreditava que poderia usufruir apenas do lado bom do
capitalismo. Outras pessoas achavam a democracia
A "era Gorbatchev" logo provocou um novo capitalista um modelo de sistema equilibrado. Em pouco
comportamento político nos países da Europa do Leste. tempo, no entanto, o antigo bloco socialista começou a
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 21
sentir os problemas do desemprego, do desequilíbrio Químicos 13.477 6,7
social e da frustração profissional. Carnes 13.292 6,6
Produtos
Uma das conclusões que se pode tirar de todo esse 12.948 6,4
metalúrgicos
processo histórico é que a humanidade ainda está longe Máquinas e
do caminho mais adequado para a vida em sociedade. 8.187 4,1
equipamentos
Um sistema em seja possível reunir saúde, educação e
trabalho para toda a população do planeta. De qualquer Papel e
6.769 3,4
forma, como afirma o historiador Eric Hobsbawn: ―a celulose
única coisa que se pode afirmar com certeza a respeito Café 5.739 2,9
disso tudo é que enquanto existir o ser humano, existirá Equipamentos
história.‖ 4.815 2,4
elétricos
Calçados e
3.513 1,7
2.5. O BRASIL, A NOVA ORDEM MUNDIAL E A couro
GLOBALIZAÇÃO Tabaco e
2.762 1,4
derivados
Metais e
Nos primeiros anos do século XXI foram efetuados
pedras 2.279 1,1
diversos ajustes na economia do país. Parte dessas
preciosas
medidas de estabilização possibilitaram um crescimento
econômico que se traduziu em controle da inflação, Fonte: Balança Comercial Brasileira: 2014 – Min.
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2015.
crescimento do PIB, queda do desemprego urbano e
forte saldo comercial. Medidas como austeridade fiscal,
regime cambial baseado em câmbio livre e um superávit O comércio exterior brasileiro é multidirecional: as
primário forte foram medidas adotadas pelo Brasil, exportações e importações estruturam-se sobre vários
baseados no receituário do Consenso de Washington. eixos, com estabelecimento de diversas parcerias.
Assim, o Brasil pode ser considerado um global trader,
um parceiro global. Na condição de global trader, o
As características urbano-industriais da economia
Brasil está comprometido com a defesa dos princípios
brasileira refletem-se de forma bastante nítida, em suas
do multilateralismo e do liberalismo. Por isso, participa
relações com o mercado mundial. Durante a última etapa
atualmente das negociações da OMC (Organização
do processo de substituição de importações, essas
Mundial do Comércio) combatendo as iniciativas
relações foram profundamente alteradas em sua
protecionistas das potências econômicas globais.
natureza, com a predominância progressiva de
exportações de mercadorias industrializadas e semi-
industrializadas sobre as de produtos primários agrícolas 2.6. O COMÉRCIO INTERNACIONAL
ou minerais, embora os produtos primários continuem a
ocupar lugar de destaque na pauta de exportações
brasileira. Na segunda metade do século XX, o comércio
internacional apresentou um crescimento significativo.
O perfil das exportações primárias brasileiras continua Nesse período, instituições de âmbito global surgiram na
sendo o tradicional. Entre os itens minerais, destacam-se Conferência de Bretton Woods, nos Estados Unidos,
o ferro, o manganês, a bauxita e a cassiterita, entre os como Banco Mundial, FMI e GATT (Acordo Geral sobre
agrícolas, a soja, o café e o açúcar. Porém, já existe uma Tarifas e Comércio) atuaram no sentido de estimular e
tendência de agregar valor a vários desses itens. regular as relações financeiras e comerciais entre os
países do planeta. A partir desse momento, a
capacidade de produção continuou a ser ampliada de
A importância da indústria alimentícia tem aumentado forma expressiva nos EUA, Japão, Europa Ocidental e
devido a um crescente processamento básico dos naqueles que passaram a apresentar um processo de
produtos agrícolas antes de serem exportados; isso industrialização mais intenso a partir dos anos
também vem ocorrendo com produtos minerais, como o 1930/1940(Brasil, México e Argentina), dos anos
ferro-gusa e a alumina, que passam por um processo de 1960/1970 (Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong
semi-industrialização para garantir a competitividade no Kong) e dos anos 1980/1990 (China). A combinação
mercado mundial. desses fatores levou a atividade comercial em âmbito
mundial a crescer em ritmo maior do que a própria
PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS (2014) produção.
VALOR PARTICIPAÇÃO
PRODUTO A partir dos anos 1980/1990, no contexto de
(US$ milhões) (%)
intensificação do processo de globalização houve uma
Minérios 30.839 15,3 difusão de ideias neoliberais, que, em termos de
Petróleo e relações entre países, enfatizavam a necessidade de
22.890 11,3
combustíveis uma maior abertura econômica, o resultado disso foi um
Materiais de crescimento de aproximadamente 8% do PIB nas trocas
21.748 10,8 comerciais entre os países.
transportes
Soja e
17.115 8,5 RODADA DO URUGUAI E A OMC
derivados
Açúcar e
13.776 6,8
etanol Foi nesse contexto de globalização que o GATT acabou
22 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
sendo substituído pela OMC, em 1995, após a Rodada
Uruguaia, que se iniciou em 1986, na cidade de BLOCOS ECONÔMICOS
Montevidéu, e só foi concluída em 1994, na cidade de
Marrakesh (Marrocos).
Paralelamente às negociações multilaterais para a
liberalização comercial no âmbito da OMC, são
Com a Rodada Uruguaia, houve uma redução tarifária conduzidas diversas negociações de caráter regional,
significativa em diversos países do globo. Com a entre dois ou mais países (negociações bilaterais), para
Rodada Uruguaia e a criação da OMC, ficou definido formação de blocos econômicos ou para a intensificação
também o retorno das discussões sobre o comércio dos acordos nos blocos já constituídos. Podem-se
agrícola, sobretudo por causa da pressão de países que definir cinco modelos de integração econômica vigentes:
são grandes exportadores de gêneros agrícolas, como
 Área de Livre-comércio: Pressupõe acordos
Brasil, Argentina e Austrália, os quais, como veremos a
comerciais que visam exclusivamente à redução ou
seguir, pressionam os países europeus, o Japão e
eliminação de tarifas aduaneiras entre os países-
também os Estados Unidos a abrir seus mercados aos
membros do bloco. No intercâmbio de produtos,
produtos estrangeiros e a reduzir os subsídios que
entre os países participantes, ficam abolidas as
concedem a seus agricultores.
tarifas alfandegárias, porém cada país mantém suas
próprias tarifas em relação aos não-membros. Ex.:
Com a conclusão da Rodada Uruguaia e a criação da NAFTA.
OMC, ficou definido também que essa organização, na  União Aduaneira: Além da isenção de tarifas
qual cada um dos 148 membros tem um voto, seria alfandegárias, na circulação de mercadorias dentro
responsável pela resolução de conflitos e disputas da União, é estabelecida uma barreira alfandegária
comerciais entre os países-membros. Para a resolução comum contra os países não participantes, uma
de disputas, há um conjunto de princípios, normas e tarifa externa comum (TEC). É uma abertura de
procedimentos que envolvem os chamados Painéis, dos fronteiras para mercadorias, capitais e serviços,
quais participam especialistas sobre o tema de que trata mas não permite a livre circulação de trabalhadores.
o conflito ou a controvérsia. Além disso, a OMC pode Ex.: MERCOSUL. (União Aduaneira Incompleta).
oferecer assistência jurídica nos processos de conflitos.
 Mercado Comum: Visa à livre circulação de
pessoas, mercadorias, capitais e serviços. O único
A RODADA DE DOHA exemplo é a União Europeia, que, além de eliminar
as tarifas aduaneiras internas e adotar tarifas
comuns para o mercado fora do bloco, permite a
Com a criação da OMC, passou a existir, de certa
livre circulação de pessoas, mão-de-obra,
forma, um processo permanente de negociações, nas
investimentos e todo tipo de serviços entre os
quais os representantes dos países têm discutido a
países-membros. Ex.: UNIÃO EUROPÉIA.
redução das barreiras tarifárias, a eliminação do
protecionismo e as questões que envolvem as patentes  União Econômica e Monetária: é o caso, novamente,
e as barreiras não-tarifárias. A OMC tem a função de dos países da União Europeia, que, na fase atual,
analisar e julgar as eventuais divergências comerciais adotaram o euro como moeda única, administrada
existentes entre os países. Um exemplo dessa atuação pelo Banco Central Europeu. Nessa forma de
é o caso das patentes dos medicamentos. integração, é necessário que os países estipulem
limites de inflação e déficit público.
A CONFERÊNCIA DE CANCUN
DO BENELUX À UNIÃO EUROPEIA
Na Conferência Ministerial da OMC em Cancun, México,
em setembro de 2003, a divergência de opiniões em O BENELUX foi o grande precursor das diversas
relação a uma série de temas, com serviços, patentes e alianças formadas posteriormente. Criado em 1944,
compras governamentais, pendentes da Rodada de integrou a economia da Bélgica, da Holanda e de
Doha (incluindo a questão agrícola), opuseram, de Luxemburgo num único mercado.
modo geral, os países subdesenvolvidos (sobretudo
Brasil, Argentina, África do Sul, índia e China). Parte dos Em 1952, a CECA (Comunidade Europeia do Carvão e
países subdesenvolvidos chegou a formar um grupo, o do Aço), formada por seus países – Bélgica, Holanda,
G-20, cujos principais representantes são: o Brasil, Luxemburgo, França, Alemanha e Itália -, estabeleceu
China, Índia, Argentina, África do Sul e México. um mercado siderúrgico comum, promovendo a livre
circulação de matérias-primas e mercadorias ligadas à
Esse grupo é bastante heterogêneo e tem como pontos indústria siderúrgica, com o objetivo de reestruturar e
coincidentes, entre outros, o fato de ser pressionado acelerar o desenvolvimento da indústria de base. Os
pelos países desenvolvidos a abrir sua economia em países-membros da CECA ampliaram os objetivos
setores nos quais não é competitivo e de ter como dessa organização e criaram o mais eficiente bloco
objetivo pressionar os países desenvolvidos a abrir seus econômico entre países: a CEE (Comunidade
mercados aos produtos em que são competitivos, Econômica Europeia), em 1957, por meio do Tratado de
principalmente os de origem agropecuária. A proposta Roma. A CEE desde a sua criação, tinha um grande
do G-20 tem como eixo central a redução dos subsídios objetivo econômico a ser colocado em prática em médio
agrícolas praticados pelos países desenvolvidos e das prazo, baseado em quatro princípios fundamentais: a
taxas alfandegárias impostas à importação de produtos livre circulação de mercadorias, de serviços, de capitais
agropecuários. e de pessoas, entre todos os países-membros da
organização.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 23
MUNDO – BLOCOS ECONÔMICOS (INÍCIO
quatro DE 2010)
liberdades fundamentais proposta na década de
1950, sendo a CEE sendo substituída pela União
Europeia.

Fonte: ÍSOLA, Leda; CALDINI, Vera. Atlas geográfico Saraiva. São Paulo: Saraiva, 2009.p.183.

Ao entrar em vigor, em 1° de Novembro de 1993, o


O CARÁTER FUNDAMENTAL DA ALIANÇA Tratado da União Europeia, assinado em 7 de Fevereiro
FRANCO-GERMÂNICA de 1992, em Maastricht confere uma dimensão
diferenciada à integração europeia.
“A aliança entre a Alemanha e a França tem sido
crucial no encaminhamento do movimento por uma Contudo, o que os cidadãos recordarão do Tratado de
unidade europeia, especialmente desde o acordo Maastricht será provavelmente a decisão que trouxe
firmado em 1978 para criar o Sistema Monetário maior impacto prático à sua vida cotidiana: a realização
Europeu (SME) e o Mecanismo de Indexação da União Econômica e Monetária. Desde 1° de janeiro
Cambial (MIC). Estes dois grandes protagonistas de 1999, a UEM reúne todos os países que cumpriram
desejavam maior presença europeia no cenário um determinado número de critérios econômicos
mundial, preocupados com os perigos decorrentes, destinados a garantir a sua boa gestão financeira e a
a longo prazo, de um sistema econômico e político assegurar a estabilidade futura da moeda única: o euro.
europeu fragmentário, e acreditavam que os
fundamentos da paz e da estabilidade seriam
fortalecidos pelo mercado único, a unidade Última etapa lógica da realização do mercado interno, a
econômica e monetária europeia e um sistema introdução da moeda única, pelas repercussões
político europeu mais centralizado. Tanto a França pessoais que traz para cada cidadão e pelas
quanto a Alemanha esperavam extrair vantagens consequências econômicas e sociais de que se reveste,
econômicas de uma economia europeia unificada. tem um alcance eminentemente político. Pode-se
Na qualidade de maior potência industrial da Europa mesmo considerar que o euro será futuramente o
Ocidental, a Alemanha seria a principal beneficiária símbolo mais concreto da União Europeia junto com o
do mercado único e em particular da ampliação da cidadão europeu.
união Europeia, para incluir Estados da Europa
Oriental. Desde a queda do Muro de Berlim, a Apesar de a consolidação desse novo eixo econômico
expansão do comércio alemão com as economias ter propiciado efeitos positivos sobre as economias
do antigo bloco soviético e o aumento dos nacionais europeias, ainda há muitos obstáculos para a
investimentos alemães em todas elas trouxe esses unificação efetiva da Europa. Diferenças econômicas,
países para a esfera econômica da Alemanha.” oposição de alguns setores em diversos países,
GILPIN, Robert. O desafio do capitalismo global: a economia divergências, Estados divididos por guerras e conflitos
mundial no século XXI. Rio de Janeiro-São Paulo,2004. Ed.
seculares impedem a formação de um verdadeiro
Record.
Estado supranacional.

Entretanto a efetivação de tais princípios só veio a


acontecer mais recentemente. O aprofundamento da
competitividade no mercado internacional nas últimas
décadas do século XX, o desenvolvimento de novas
tecnologias de produção e a entrada de novos
competidores (países do sudeste e leste da Ásia –
Cingapura, Taiwan, Coréia do Sul e China), disputando
fatias cada vez mais expressivas do mercado,
sinalizaram à CEE a necessidade da concretização de
seus objetivos originais. Isso acontece em 1° de janeiro
de 1993, quando entraram em funcionamento de fato as
24 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
na UE foi resolvida gradativamente, à medida que foram
NAFTA direcionados investimentos das economias mais
vigorosas da UE (Alemanha, França e Reino Unido)
para os países menos desenvolvidos do bloco. Isso não
ocorreu com o Nafta em relação ao México. No Nafta,
vigora apenas o objetivo da livre circulação de
mercadorias, e desde a sua implantação, muitas
empresas dos EUA instalaram-se no México, atraídas
pela mão-de-obra bem mais barata e pela legislação
trabalhista mais flexível. Em razão disso, no setor
industrial norte-americano, milhares de postos de
trabalho foram fechados. Apesar de ter ocorrido uma
ampliação das exportações mexicanas, a dependência
da economia mexicana em relação à dos Estados
Unidos é muito grande – cerca de 85% das exportações
do México vão para os Estados Unidos e 68% das
Fonte: http://europa.eu.
importações são provenientes desse país.
“O primeiro passo em direção ao regionalismo
norte-americano fora o Acordo de Livre Comércio
O Nafta não trouxe avanços tecnológicos significativos
(Free Trade Agreement, ou FTA) entre os Estados
para o México, pois muitas das novas indústrias que se
Unidos e o Canadá, em 1988. No período pós-guerra,
instalaram são apenas montadoras, chamadas de
poderosas forças de mercado haviam transformado
maquiladoras.
as economias americana e canadense,
intensificando seus vínculos recíprocos. O comércio
e os investimentos transfronteiriços intensificados Na agricultura mexicana, os impactos sociais foram
tornaram-se particularmente importantes para a sensivelmente negativos, os cultivadores de trigo, batata
economia canadense. O FTA surgiu da resultante e arroz, passaram a sofrer a forte concorrência dos
reorientação da tendência histórica da política norte-americanos, tecnologicamente mais bem
econômica canadense e de sua posição política em preparados e fortemente amparados pelos subsídios do
relação ao grande vizinho do sul. A partir do século governo norte-americano. É inegável que a economia
XIX, o Canadá adotara uma “Política Nacional” cuja mexicana cresceu em pouco mais de uma década de
finalidade explícita era construir uma base industrial livre comércio. O PIB mexicano cresceu bastante com
e uma economia nacional independentes por trás de os investimentos norte-americanos no país, porém, a
altas barreiras tarifárias, política que não levou aos economia mexicana torna-se cada vez mais
resultados esperados. Pelo contrário, as tarifas dependentes das grandes empresas norte-americanas.
canadenses estimularam as empresas americanas a
investir pesadamente no Canadá e a criar toda uma
APEC
economia de implantação local de fábricas para
atender ao pequeno mercado canadense; com
efeito, mais de 80% do IDE no Canadá tem sido
americano. O exemplo mais destacado é o setor
automobilístico, que se tornou estreitamente
integrado nas duas economias após o Pacto
Automobilístico Americano-Canadense de 1965.”
GILPIN, Robert. O desafio do capitalismo global: a economia
mundial no século XXI. Rio de Janeiro-São Paulo,2004. Ed.
Record.p.320. p.267-268.

Em 1994, EUA, Canadá e México deram os primeiros


passos rumo à formação de uma economia
supranacional, com a criação do Nafta. Juntos, formam
um mercado de aproximadamente 424 milhões de
habitantes e respondem por um PIB de
aproximadamente 13,4 trilhões de US$, em 2004. O
acordo prevê a criação de uma zona de livre comércio,
na qual a abolição total das tarifas aduaneiras (de Fonte: http://europa.eu.
importação) seja colocada em prática em 2015.
Entretanto, uma grande quantidade de produtos já Em 1989, foi fundada a Cooperação Econômica Ásia-
circula livremente entre os três países, sem nenhuma Pacífico – APEC. Com sede em Cingapura, o bloco é
taxação. composto por 20 membros banhados pelo Pacífico e por
Hong Kong (região administrada pela China). Com o
Como não existe a perspectiva de formação de um tempo a associação pretende instalar uma zona de livre
mercado único nos moldes da União Europeia, a grande comércio entre seus membros. Foi estabelecido o ano
diferença socioeconômica entre o México e os outros de 2010 para o início da livre circulação de mercadorias
dois países do Nafta trouxe vários problemas para a e de capitais entre os países desenvolvidos do bloco e o
sociedade e a economia mexicanas, e também para ano de 2020 para sua liberalização entre as nações em
trabalhadores norte-americanos e canadenses. desenvolvimento. Apesar da crescente interdependência
econômica dos países do Pacífico Asiático sob a
hegemonia das grandes corporações japonesas, é muito
A questão da disparidade em termos socioeconômicos
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 25
difícil estabelecer uma integração semelhante à da não é uma posição confortável. Por um lado, nosso país
União Europeia, ou mesmo à do Nafta, por causa das e os demais países latino-americanos não têm
disputas comerciais entre as três principais lideranças condições de concorrer em pé de igualdade com as
do bloco – Estados Unidos, Japão e China. empresas dos Estados Unidos, no que diz respeito à
maior parte das atividades que formam o conjunto da
economia. Por outro lado, o país que se negar a
ALCA
participar da ALCA pode sofrer represálias comerciais
dos norte-americanos, que certamente o colocariam
numa difícil situação econômica.

A Área de Livre Comércio das Américas, proposta pelo Manifestação contra a criação da ALCA em Havana, Cuba.
presidente norte americano George Bush, em 1990 e Um fator que contribuiu para a estagnação do projeto de
retomada mais recentemente por Clinton e pelo filho do criação da ALCA foi a chegada ao poder, em diversos
presidente Bush, George W. Bush, foi consequência países da América Latina de governantes resistentes à
imediata do processo de globalização em sua proposta hegemonia norte-americana e à influência dessa
de regionalização comercial e abertura de mercados. superpotência nos assuntos internos dos países.

A Alca representa hoje uma necessidade norte-


americana em reafirmar sua liderança comercial sobre o 2.7. O MERCOSUL - ORIGENS DO PROCESSO
continente norte-americano, já que atualmente os EUA DE INTEGRAÇÃO DO CONE SUL: OBJETIVOS,
têm sua hegemonia comercial no mercado internacional CARACTERÍSTICAS E ESTÁGIO ATUAL DE
ameaçada. Hoje vários outros grupos econômicos estão INTEGRAÇÃO
em formação, entre eles a União Europeia, que tem um
mercado consumidor gigante assim como um grande
potencial de produção; além disso, a União Europeia
tem uma forte moeda, o euro.

Após um hiato de vários anos, durante o qual os


americanos polemizaram acerbadamente em torno
do Nafta, o governo Clinton voltou à ideia do livre
comércio hemisférico. Em dezembro de 1994, o
governo propôs na Conferência de Miami a
ampliação do arcabouço do Nafta para todo o
hemisfério. Naquela reunião de cúpula, os governos
nacionais concordaram em iniciar negociações para
a criação até 2005 de uma Área de Livre Comércio
das Américas, criaram-se grupos técnicos para
estabelecer um plano e foram iniciadas
negociações. Entretanto, a situação na América
Latina havia mudado significativamente entre a
iniciativa do Empreendimento das Américas
anunciada por Bush em 1990 e a proposta de área
de Livre Comércio das Américas feita por Clinton em
1994, e o entusiasmo dos governos latino-
americanos por um bloco econômico do hemisfério O Mercado Comum do Sul surgiu da conjunção de
ocidental já não era o mesmo. GILPIN, Robert. O desafio circunstâncias políticas e econômicas do contexto
do capitalismo global: a economia mundial no século XXI. Rio interno e externo que conduziram à aproximação
de Janeiro-São Paulo,2004. Ed. Record.p.320. p.329-330. redirecionou as relações entre esses países, até então
caracterizadas pela tradição de rivalidade. O Mercado
Comum do Sul começou a se formar em 1985, nos
A participação do Brasil na ALCA é polêmica. O governos de Raul Alfonsín (Argentina) e José Sarney
continente americano reúne, de um lado, dois países (Brasil), quando os dois se encontram e assinam a ATA
desenvolvidos e com alto índice de avanço tecnológico DE IGUAÇU. Em março de 1991, foi assinado o
– Estados Unidos e Canadá – e, de outro, países Tratado de Assunção, que ampliou para quatro o
subdesenvolvidos, alguns muito pobres, com economia número de países participantes, incluindo o Paraguai e
baseada na agricultura e/ou na extração mineral, como Uruguai.
Haiti, Guiana, Guatemala, Bolívia, Equador. Nesse
contexto o Brasil fica numa situação intermediária, do
ponto de vista de desenvolvimento econômico, e essa Esse tratado estabeleceu duas metas bases no
26 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
processo de consolidação eliminando as barreiras 2.8. A ECONOMIA MUNDIAL E DO BRASIL
alfandegárias para a circulação de mercadorias no
interior do bloco. A segunda foi a formação de uma
união alfandegária entre os membros com a adoção de Até o início dos anos 1990, os principais problemas da
uma tarifa externa comum. Essa tarifa externa comum é economia brasileira eram: endividamento externo
usada pelos países-membros sobre o produto crescente; grande atraso tecnológico em relação aos
importados de países fora do Mercosul ou de outros países desenvolvidos; déficit público elevado; escassez
blocos econômicos. de financiamento para a atividade produtiva e para a
ampliação da infraestrutura; inflação elevadíssima.
Em 1996, o Mercosul deu o seu primeiro passo para
uma possível ampliação na integração dos países do Foi no início da década de 1990 que o Brasil passou a
Cone Sul; foi o acordo com o Chile e a Bolívia formando adotar as receitas neoliberais abrindo seu mercado
parcerias comerciais. Este foi um importante passo no interno, reduzindo barreiras protecionistas e criando
alargamento das relações comerciais do bloco. A maiores facilidades para a entrada de mercadorias e
entrada da Venezuela como país-membro, fortaleceu o investimentos externos, como aplicações financeiras,
bloco, pois ela representa, em primeiro lugar, uma participação acionária em empresas nacionais ou
potência energética, possuindo a maior reserva de incorporação.
petróleo e gás natural da América do Sul e segundo a
Venezuela está estrategicamente próxima dos países da
A ideia era estimular a entrada do capital estrangeiro
América Central, México e EUA.
para retomar o crescimento econômico. Alegava-se que
a proteção às empresas nacionais tornava-as
Em 1999, passando apenas quatro anos da entrada em ineficientes e que a concorrência era saudável para
funcionamento do bloco, começaram a surgir graves estimular o desenvolvimento e recuperar o atraso de
divergências entre Brasil e Argentina, os mais alguns setores.
importantes membros do Mercosul. A crise econômica,
sobretudo na Argentina, levou algumas tarifas externas
comuns a serem suspensas pelos argentinos, e o O BRASIL NA ERA GLOBAL
comércio dentro do bloco apresentou uma queda
sensível. No entanto, com a retomada do crescimento O espaço nacional da economia internacional O
econômico nesses países, o comércio intrabloco voltou caso brasileiro ilustra perfeitamente a ideia segundo
a crescer, a partir de 2003. a qual, com a presente globalização, o território de
um país pode tornar-se um espaço nacional da
Apesar de para um enorme quantidade de produtos economia internacional (M. Santos, 1996). Michel
ainda não vigorar a TEC (Tarifa Externa Comum), que Chossudowsky (1997, p.77), a respeito do que
caracteriza de fato uma união aduaneira, o bloco tem chamam desterritorialização, nos fala de espaços
tomado iniciativas importantes nas negociações econômicos abertos. Apesar das sugestões pós-
comerciais no âmbito da OMC e com outros blocos, modernas, a que tantos especialistas se rendem, o
como a UE, que atendam aos interesses comuns dos território continua sendo uma realidade atuante (M.
países do Mercosul, além de alianças com outros países Santos e M. L. Silveira, 1997), ainda que o Estado
sul-americanos. Um exemplo foi o acordo assinado em nacional, igualmente sobrevivente, tenha mudado de
2007 com Israel para a formação de uma zona de livre figura e de definição segundo os países. A
comércio. O acordo prevê para 2017 que 95% das economia de todos os países conhece um processo
exportações Mercosul para Israel e 87% das mais vasto e profundo de internacionalização, mas
importações tenham imposto zero. este tem como base um espaço que é nacional e
cuja regulação continua sendo nacional, ainda que
guiada em função dos interesses de empresas
OBJETIVOS E METAS globais. Essa é a razão pela qual se pode falar
legitimamente de espaço nacional da economia
Dentre os objetivos do Mercosul, podem ser internacional. Santos, M.; Silveira M. L O Brasil Território e
destacados: Sociedade no Início do Século XXI. 9ª ed. Rio de Janeiro:
Record, 2006.

 Eliminação de barreiras trarifárias e não tarifárias na


movimentação de bens e serviços (cada país tem sua Não existe uma teoria única sobre as origens do
autonomia nas transações com terceiros); subdesenvolvimento ou sobre suas razões. Entretanto,
 Adoção de uma tarifa e de uma política de comércio diversos estudiosos concordam que os dois processos
externo também comuns; devem ser entendidos em sua dimensão histórica, na
 Livre movimentação de capital, trabalho e serviços qual a convergência de fatores externos e internos
entre os países-membros; explica as diferenças econômicas e sociais entre os
países do mundo.
A participação do Brasil no Mercosul tem o objetivo de
aprofundar e diversificar as relações econômicas com A origem do processo de formação dos atuais países
os países-membros, consolidando a sua posiçãono desenvolvidos e subdesenvolvidos remonta as Grandes
quadro regional, além de fortalecer e melhorar o Navegações Comerciais empreendidas pelos Estados-
desempenho do país no quadro internacional. Nações europeus, a partir do século XV. Nessa época,
esses Estados expandiram o comércio, explorando
produtos e recursos da América, da África e da Ásia, e
passaram a exercer forte domínio sobre os povos
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 27
desses continentes, controlando a extração e a se refere aos países subdesenvolvidos industrializados
produção neles realizadas. ou em fase de industrialização avançada. É comum,
também, alguns economistas e outros especialistas
utilizarem para esse grupo a expressão semiperiferia.
As terras conquistadas e dominadas (as colônias) não
possuíam autonomia administrativa, e seus recursos e
riquezas eram explorados intensamente em benefício Nesse grupo, bastante heterogêneo, encontram-se
de alguns países como Espanha, Portugal, Holanda, China, Rússia, Brasil, Índia e México, que têm
França e Inglaterra (metrópoles). Essa exploração economias mais dinâmicas, além de África do Sul,
proporcionou, de fato, um grande enriquecimento das Indonésia, Egito, Turquia, entre outros.
metrópoles. As poucas exceções a essa forma de
colonialismo foram Austrália, Nova Zelândia, Canadá e
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul formam um
Estados Unidos.
grupo com mais expressão entre os emergentes, os
BRICS, que passaram a ter um papel mais relevante
A divisão internacional do trabalho, em todas as etapas nas decisões tomadas no cenário econômico e
do desenvolvimento capitalista, foi sempre estabelecida geopolítico internacional, a partir da crise de
em razão das necessidades de acumulação de capital 2007/2008. Com efeito, tais países, especialmente
dos países centrais e mediante a submissão dos que China, Índia e Brasil, têm peso muito maior na
se encontravam no outro polo do sistema (colônias, economia global, atualmente do que tinham quando
numa primeira fase e, posteriormente, países, após a foram criadas as instituições do sistema econômico-
conquistada independência). financeiro do pós-Segunda Guerra, como o FMI e o
Banco Mundial. Além disso, a crise acabou afetando
mais intensamente as economias desenvolvidas do que
Os países periféricos voltaram-se à produção de bens
as emergentes.
que atendessem à demanda dos países
economicamente dominantes. Nessa primeira fase da
divisão internacional do trabalho capitalista, a periferia O NÓ DO DESENVOLVIMENTO
se dedicava à produção mineral ou agrária destinada à
exportação. O tipo de produto era determinado
exclusivamente pela necessidade de consumo dos Já no período Collor (1990-1992), o alinhamento com
países mais ricos. o neoliberalismo levou o governo a adotar políticas
de favorecimento do grande capital, como a isenção
No caso do Brasil, a cana-de-açúcar, o ouro, o café e
de Imposto de Renda sobre a distribuição de lucros,
outros poucos produtos de exportação marcaram as
fortalecendo um modelo de crescimento que
fases da economia, que se sucederam ao longo de
privilegia grandes empresas e corporações
quatro séculos, limitando o desenvolvimento de um
internacionais − uma política que aumentou a
mercado consumidor interno e de uma economia mais
desigualdade social, concentrando ainda mais a
dinâmica. As elites brasileiras, que deviam sua posição
riqueza no topo da pirâmide social. Seus efeitos
social e política ao fato de a economia do país estar
perduram até hoje: menos de 10% da população
voltada para o mercado externo, nunca se mobilizaram
brasileira fica com cerca de 50% da renda nacional.
para melhorar a capacidade de consumo e a qualidade
de vida da população, pois esta não constituía o seu
alvo, ou seja, o seu mercado. Vários mecanismos foram utilizados desde então
para reforçar políticas que beneficiam o grande
capital, preservam privilégios e colocam o Brasil
O termo subdesenvolvimento surgiu após a Segunda
entre os países mais desiguais do planeta.
Guerra Mundial, quando a ONU publicou uma série de
dados estatísticos sobre a situação socioeconômica
dos países. A partir de então, as diferenças No início de seu primeiro governo, em 1995,
econômicas e de qualidade de vida existentes entre os Fernando Henrique Cardoso ofereceu uma cesta de
países passaram a ser quantificadas. bondades para os mais ricos: redução da alíquota do
Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ) das
instituições financeiras de 25% para 15%; redução do
É comum referir-se às nações desenvolvidas como
adicional do IRPJ de 12% e 18% para 10%; redução
países do Norte e às subdesenvolvidas como países do
da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido de 30%
Sul. A divisão Norte-Sul simboliza a separação entre o
para 8%, depois elevada para 9%; dedução dos juros
mundo desenvolvido e o subdesenvolvido. Os países
sobre capital próprio, que permite às empresas pagar
desenvolvidos considerados centrais na economia
juros de mercado para seus acionistas sobre o
mundial estão situados quase todos no hemisfério
capital detido por cada um, como se fossem
norte, com exceção da Austrália e Nova Zelândia, além
empréstimos, reduzindo assim os impostos a pagar
do Chile, considerado recentemente como país
de 34% para 15%; redução da alíquota máxima do
desenvolvido pela OCDE. Os países do sul pertencem
Imposto de Renda de Pessoas Físicas de 35% para
ao mundo subdesenvolvido e constituem a periferia da
27,5%.
economia mundial.

Em 1999, em pleno segundo mandato, FHC lançou o


Alguns organismos, principalmente a ONU, utilizam o
Pacote Fiscal 51, aumentando os tributos sobre o
termos países em desenvolvimento para designar os
consumo, isto é, a tributação sobre os mais pobres.
países subdesenvolvidos, ressaltando sua
Como? Elevando em 50% a Cofins – de 2% para 3%;
potencialidade para atingirem um maior nível de
aumentando a base de incidência do PIS/Pasep e da
desenvolvimento. O uso da expressão ―em
Cofins; aumentando em 90% a CPMF, hoje extinta, de
desenvolvimento‖, porém, é bastante discutido.Outra
0,20% para 0,38%, entre outras medidas.
expressão muito utilizada é países emergentes, que
28 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
realizada a auditoria prevista na Constituição Federal
de 1988. De lá para cá, só estamos pagando mais
O fato é que no início do Plano Real um trabalhador
para os rentistas. BAVA, Silvio Caccia. Le Monde
começava a pagar Imposto de Renda a partir de 10,48
Diplomatique Brasil. Edição –Outubro de 2013.
salários mínimos; em 2005, a partir de 3,88 salários
mínimos. Em 1996, as famílias com menos de dois
salários mínimos gastavam 26% de sua renda para O modelo de industrialização por substituição de
pagar impostos; em 2002, esse percentual chegou a importações, promovido pelo governo Juscelino
46%. Já para as famílias com renda superior a 30 Kubitschek, esgotou-se nos anos 1980. As taxas de
salários mínimos, os índices eram de 7,3% em 1996, juros dispararam no mercado internacional,
passando para 16% em 2002.2 interrompendo os fluxos de financiamento que
alimentavam os investimentos estatais. Enquanto isso,
A tributação sobre o consumo representa hoje mais a dívida externa, aquela que havia sido contraída junto
de 50% da carga tributária bruta; a tributação sobre a a outros países e com instituições internacionais,
renda, 20,5%; a tributação sobre a propriedade, aumentava exponencialmente.
apenas 3,3%. Em nenhum país do mundo com o qual
o Brasil possa se comparar o Imposto de Renda é tão A grave crise econômica iniciada em 1988 e a
favorável aos mais ricos: nossa maior alíquota é de globalização da economia mundial foram os pontos de
27,5%, e a França acaba de aprovar em seu partida para o surgimento de um novo modelo
Parlamento o limite máximo de 66,6%. Essas econômico, que nasceu sem ―o pilar estatal‖ que
políticas tributárias permanecem intocadas até hoje. durante, muito tempo sustentara a tríplice aliança.

Se a arrecadação dos tributos mostra uma sociedade O processo de globalização promoveu a intensificação
profundamente desigual, o gasto público não faz dos fluxos internacionais de capitais nos mercados
mais do que reforçar isso. Em 2010, o total dos financeiros e a abertura das economias nacionais ao
impostos arrecadados pelo governo correspondeu a comércio global. Em toda a América Latina, os projetos
33,56% do PIB. Vejamos a quem se destinam esses de industrialização protegida deram lugar a ajustes
recursos. neoliberais.

Em 2011, o governo gastou R$ 708 bilhões, ou No Brasil, os governos Collor de Mello (1990-1992) e
45,05% dos impostos arrecadados, com o pagamento Itamar Franco (1992-1994) iniciaram a abertura da
dos juros e amortizações da dívida pública. Os economia nacional. Em 1991 iniciou-se o Programa
credores são bancos nacionais e estrangeiros (55%), Nacional de Desestatização, com grande participação
fundos de investimento (21%), fundos de pensão de capitais provenientes dos Estados Unidos, da
(16%) e empresas não financeiras (8%). Em 2012, se Espanha e de Portugal.
comparados os quatro primeiros meses com o gasto
no mesmo período em 2011, mesmo com a redução
da taxa Selic, o volume de recursos destinados a No entanto, foi durante o primeiro mandato de
pagar essa conta aumentou 40%, chegando a R$ Fernando Henrique Cardoso (1995-1998) que se
369,2 bilhões. É um cenário preocupante, já que consolidou um novo modelo econômico, assentado
nesse mesmo ano foram destinados, do Orçamento sobre a liberalização comercial e a atração de
Geral da União, 2,99% para a educação, 4,07% para a investimentos estrangeiros diretos, e cuja implantação
saúde e 2,85% para a assistência social. Nossa representou a desmontagem das estruturas produtivas
Constituição, em seu artigo 166, assegura que a estatais por meio de um vasto programa de
prioridade na execução orçamentária é o pagamento privatizações, era a consolidação do Consenso de
da dívida, e, quando forem necessários cortes no Washington.
orçamento para cumprir essa prioridade, eles se
aplicarão a outras rubricas, por exemplo, nas CONSENSO DE WASHINGTON E
políticas sociais. Com a mesma lógica, a Lei de TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS NO
Responsabilidade Fiscal só limita os gastos e BRASIL
investimentos sociais, dando liberdade total para o
aumento dos juros e o custeio da política monetária.
Em 1989, o economista John Williamson reuniu o
pensamento das grandes instituições financeiras (FMI,
Somando os estoques da dívida interna (R$ 2,637 Banco Mundial, BIRD) e do governo estadunidense,
trilhões) com a dívida externa (R$ 788 bilhões), o que pretendiam resolver a crise dos países
Brasil tem uma dívida bruta acumulada que subdesenvolvidos, particularmente da América Latina, e
corresponde a 78% do PIB, base de cálculo para a propor caminhos para o desenvolvimento. Surgia aí o
remuneração dos rentistas atuantes no setor Consenso de Washington, uma espécie de bula,
financeiro, que se estima sejam 22 mil famílias receituário, para o desenvolvimento, segundo o qual os
ampliadas e grandes bancos e corporações, em sua países latino-americanos deveriam:
maioria estrangeiros. Vale ressaltar que as tentativas
de fazer uma auditoria da dívida foram barradas pelo
 Realizar uma reforma fiscal, isto é, alterações nos
Senado em 1992, apesar das evidências de flagrantes
sistema de atribuição e arrecadação de impostos, para
ilegalidades e questionamentos sobre a composição
que as empresas pudessem pagar menos e adquirir
da dívida. Por iniciativa da sociedade civil, no ano
maior competitividade;
2000 foi realizado o Plebiscito da Dívida. Na ocasião,
votaram 6 milhões de brasileiros, que propuseram o  Executar a abertura comercial, com liberalização das
não pagamento da dívida pública enquanto não fosse exportações e das importações, ampliação das
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 29
facilidades para a entrada e saída de capitais e os problemas de desempenho do país: à exceção de
privatização de empresas estatais; alguns produtos, o componente tecnológico das
 Promover o corte de salários e a demissão dos exportações brasileiras é muito baixo, e o valor médio
funcionários públicos em excesso e realizar mudanças da tonelagem exportada vem retrocedendo desde
na previdência social, nas leis trabalhistas e no sistema meados de 1990. Apesar de todo esforço exportador, a
de aposentadoria, para diminuir a dívida do governo (a economia brasileira permanece com pouca capacidade
chamada dívida pública). de produzir e exportar produtos ligados à revolução
tecnocientífica, detentores de maior valor no comércio
mundial.
Para serem considerados confiáveis, diminuindo o
risco-país, os países deviam cumprir as normas e as
sugestões do Consenso de Washington. Nada era Assim, na pauta de importações, destacam-se os bens
obrigatório, mas seguir suas determinações básicas era de capital, os produtos químicos e farmacêuticos, os
condição para receber ajuda financeira externa e atrair veículos, o petróleo e os produtos de alta tecnologia.
capitais estrangeiros. Por outro lado, produtos têxteis, metalúrgicos,
agrícolas, pecuários e minerais ocupam lugar de
destaque na inserção do Brasil nos fluxos da economia
globalizada e na abertura de novos mercados.

EXPORTAÇÃO DOS SETORES INDUSTRIAIS POR


INTENSIDADE TECNOLÓGICA – PARTICIPAÇÃO %
(2012)

Os países que se orientaram pelo Consenso de


Washington obtiveram alguns êxitos como o maior
controle da inflação. Contudo, não foram obtidas
conquistas sociais, aumentando a desigualdade nesses
países.
Fonte: SECEX/MDIC
OS DESAFIOS DO COMÉRCIO EXTERIOR
INTERCÂMBIO MULTIDIRECIONAL
Até a década de 1960, os produtos primários e
semifaturados dominavam a pauta de exportações do
O comércio exterior brasileiro é multidirecional: as
país. Gradativamente, porém, manifestaram-se os
exportações e importações estruturam-se sobre vários
efeitos da substituição de importações: na década de
eixos, com o estabelecimento de diversas parcerias.
1980, os produtos industriais passaram a predominar
Assim, o Brasil busca ser um global trader, um
na pauta de exportações.
parceiro global.

No entanto, a partir da metade da década de 1990, os


Na condição de global trader, o Brasil está
produtos básicos e semifaturados voltaram a ter
comprometido com a defesa dos princípios do
participação cada vez mais significativa nas vendas
multilateralismo e do liberalismo no comércio
externas nacionais, sendo os principais responsáveis
internacional. Por isso, participa ativamente das
pelo crescimento do comércio externo e pelo saldo da
negociações da Organização Mundial do Comércio
balança comercial brasileira.
(OMC), combatendo as iniciativas protecionistas das
potências econômicas globais.

O Brasil não pertence aos megablocos econômicos


mais expressivos, mas depende dos mercados
europeus e norte-americano para expandir as
exportações. Incrementar o intercâmbio com os ―países
continentais‖ que não pertencem aos blocos da Europa
nem da América do Norte, como China e Índia, é uma
das estratégias para diminuir a excessiva dependência.
A aproximação com os demais BRICS também é
importante.

Entretanto, e apesar do crescimento das exportações, o


Brasil participa dos fluxos comerciais globais com
pouco mais de 1% do total. Existe uma explicação para
30 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Durante o ano de 2008, muito se falou sobre o fim da
dívida externa. Entretanto, ela continua existindo. O que
houve, na verdade, foi uma má interpretação da
seguinte frase: ―o Brasil deixou de ser um país devedor
para ser tornar um país credor‖. Isso quer dizer apenas
que as reservas internacionais, pela primeira vez,
tornaram-se maiores que a dívida externa brasileira.

E o Brasil não poderia simplesmente pagar a dívida


externa usando essas reservas internacionais? Esse
seria um procedimento muito arriscado, uma vez que as
reservas internacionais são sempre utilizadas para
socorrer a economia em tempos de crise. Em outras
palavras, caso houvesse uma nova crise, o país não
conseguiria sobreviver sem as suas reservas
internacionais. Além disso, existe uma imposição do FMI
(Fundo Monetário Internacional que gere as dívidas
externas) de não aceitação do pagamento total da
dívida externa de uma só vez.

2.9. O PROBLEMA DA DÍVIDA EXTERNA


NOTÍCIA DE JORNAL!!!! – 16-08- 2014
A Dívida Externa Brasileira, atualmente, é a segunda
maior entre os países subdesenvolvidos. Ela divide-se
em dívida pública e dívida privada. No final do ano de
2012, a dívida externa brasileira alcançou o valor de
312,8 bilhões de dólares, um crescimento de 6,24% em
relação ao ano anterior.

A sua origem vem da Independência do Brasil, mas foi


durante a ditadura, entre as décadas de 1960 e 1980,
que a dívida deu o seu maior salto. Antes do Golpe de
1964, a dívida externa no Brasil era de 12 bilhões de
dólares e, ao final da ditadura, ela já atingia a casa dos Mesmo com a economia patinando, a dívida externa
100 bilhões. A dívida se estabilizou somente depois dos bruta do Brasil está crescendo e chamando a atenção
governos FHC e Lula. dos especialistas. Passou de US$ 351,9 bilhões, em
2010, para US$ 523,7 bilhões em junho deste ano, valor
que supera os US$ 379 bilhões das reservas do país. O
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 31
aumento, no período, foi de 48%, levantando o temor de
que muitas empresas possam ficar em situação
vulnerável no caso de uma elevação acentuada nas
cotações do dólar em razão de acontecimentos como a
alta dos juros nos Estados Unidos.

Em 2008, grupos tidos como sólidos, como Sadia e


Aracruz, sofreram pesadas perdas com operações
malsucedidas no mercado de câmbio. Hoje, de acordo
com dados do Banco Central (BC), quem mais toma
dinheiro lá fora é o setor privado. Os empréstimos
intercompanhias, por exemplo, saltaram 107% de 2010
até junho deste ano, passando de US$ 95 bilhões para
US$ 197 bilhões. ―Os juros para crédito de longo prazo
aqui estão muito elevados, em média de 12% ao ano,
então, é natural que as empresas busquem recursos no
exterior, onde a taxa é de 2%‖, explicou Roberto Luis
Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira
de Bancos (Febraban).

O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton,


afirma, porém, que o risco cambial das empresas
brasileiras é pequeno. ―Não há exposição relevante à
variação cambial de incorporações não financeiras‖, Fonte: Mérenne-Schoumaker, Géographie de l‘énergie, p.4.
disse ele.
A disponibilidade de energia, principalmente mecânica e
O diretor acrescentou que, em valores ajustados, o elétrica, constitui hoje o principal fator de
nível de endividamento de empresas brasileiras em desenvolvimento. Na realização das atividades industriais
moeda estrangeira diminuiu nos últimos anos. Ele e comerciais ou do ambiente doméstico, tornou-se
argumentou que têm sido considerados os volumes inconcebível, para os seres humanos, a realização de
captados por filiais no exterior. Esses recursos somam suas atividades sem auxílio da eletricidade e do
US$ 115 bilhões, sendo que US$ 74 bilhões foram transporte mecanizado.
internalizados via empréstimos intercompanhias e
contabilizados nas estatísticas do BC. ―Os outros US$ A energia é o grande motor do sistema Terra. Os seres
39 bilhões, no entanto, ampliaram o estoque de ativos humanos aprenderam ao longo dos séculos a utilizar
estrangeiros das empresas‖, disse Hamilton, durante diversas formas de energia que são encontradas no
palestra, em São Paulo. planeta. Os recursos energéticos utilizados atualmente
pelas nações industrializadas são os combustíveis
fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural),
hidreletricidade, energia nuclear e outras formas menos
difundidas, como a geotérmica, solar, eólica, proveniente
2.10. ENERGIA E TRANSPORTE da biomassa, maré-motriz, etc. Até o século XVIII, a
evolução do consumo e o aprimoramento de novas
Entre as condições gerais que ampliam a capacidade tecnologias foram vagarosos e incontínuos.
social de gerar riquezas, uma das que mais se destacam
é a energia. A história da humanidade pode ser narrada
através do consumo de energia. Dos tempos pré- No momento conhecido como Revolução Industrial essa
históricos até as sociedades tecnológicas atuais, o evolução alterou substancialmente o quadro geral.
consumo médio aumentou em cerca de 90 vezes.
PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUTRIAL OU
PADRÕES DE CONSUMO DIÁRIO DE ENERGIA PER ENERGÉTICA?
CAPITA
Por volta de 1720, o emprego de bombas a vapor para
extração de água foi o início do processo de alteração do
ciclo energético mundial, mas foi com as inovações
produzidas por James Watt, que o uso desse princípio
permitiu a movimentação de máquinas na indústria e nos
meios de transportes.
A partir desse momento, o homem passou a utilizar as
chamadas fontes de energia modernas (carvão mineral,
petróleo, hidreletricidade, energia atômica, etc).
32 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
energia, que, por sua vez, ocorrem em consequência
das necessidades econômicas e sociais.

Os países mais ricos são os grandes consumidores de


energias devido a dinamismo da sua economia e ao
elevado padrão de consumo de sua população e
indústria. Os EUA são os maiores produtores de energia
do mundo, entretanto, como o consumo de energia é
elevado o país tem que importar energia, e junto com o
Japão são os maiores importadores de energia do
mundo.

CONSUMO FINAL DE ENERGIA NO MUNDO EM 2012

Máquina a vapor

CONTEXTO HISTÓRICO

O que signifca a frase “a revolução industrial


explodiu”? Significa que a certa altura da década de
1780, e pela primeira vez na história da humanidade,
foram retirados os grilhões do poder produtivo das
sociedades humanas, que daí em diante se tornaram
capazes de multiplicação rápida, constante, e até o
presente ilimitada, de homens, mercadorias e
serviços. Esse fato é hoje tecnicamente conhecido
pelos economistas como a “partida para o Fonte: Comitê Internacional de Bologne.
crescimento autossustentável”. Nenhuma sociedade
anterior tinha sido capaz de transpor o teto que uma
estrutura social pré-industrial, uma tecnologia e uma PETRÓLEO
ciência deficientes, e consequentemente o colapso, a
fome e a morte periódicas, impunham à produção. A
O petróleo é conhecido desde tempos remotos. A
“partida” não foi logicamente um desses fenômenos Bíblia já traz referências sobre a existência de lagos
que, como os terremotos e os cometas, assaltam o de asfalto. Nabucodonosor pavimentava estradas
mundo não-técnico de surpresa. HOBSBAWN, Eric J. A com esse produto na Babilônia, enquanto os
Era das Revoluções. Ed.Paz e Terra.
egípcios o utilizavam como impermeabilizante. Por
vários séculos o petróleo foi utilizado para
As fontes de energia primárias podem ser classificadas iluminação.
em renováveis e não-renováveis:
Apesar da técnica de perfuração de poços
 Renováveis: São as fontes que têm a possibilidade de profundos ser dominada desde 200 anos a.C., o
se renovar, como a energia solar, a hidráulica, a eólica, a objetivo exploratório era sempre agua potável.
das marés, a da biomassa, etc. Inúmeras destas renovam- Entretanto durante o século XVIII já eram cavados
se naturalmente e se administradas com o devido cuidado poços a profundidades de 50 metros que buscavam
podem durar indefinidamente. petróleo. A vantagem desse procedimento era que o
 Não-Renováveis: São fontes que se esgotam com o
petróleo assim produzido era mais “leve” do que o
uso. Para que acontecesse sua formação foram aflorante naturalmente, ou seja, com os seus
necessários milhões de anos e condições geológicas constituintes mais voláteis presentes. No entanto, a
específicas. Compreende os combustíveis fósseis e os construção desses poços era uma tarefa
minerais energéticos e radioativos (urânio e tório). extremamente arriscada devido à presença de gases
altamente inflamáveis. No início do século XIX, as
primeiras destilarias foram construídas, visando a
O CONCEITO DE ENERGIA E DESENVOLVIMENTO separação dos constituintes do petróleo.
ECONÔMICO Paralelamente era desenvolvido o lampião a
querosene, que produzia uma chama muito mais
2
Energia significa a capacidade de se realizar trabalho. brilhante e com menos fumaça do que os que
O desenvolvimento industrial, em particular, e o utilizavam petróleo bruto ou mesmo óleo de baleia.
econômico, em geral, estão intimamente ligados ao Na primeira metade do século XIX, foram
desenvolvimento das fontes de energia. Pode-se dizer construídas também as primeiras refinarias, que
que há uma interdependência: os progressos industrial e processavam o petróleo extraído dos poços
econômico resultam da ativação de novas fontes de cavados manualmente. TEIXEIRA, Wilson; TOLEDO, M.
Cristina Motta de; FAIRCHILD, Thomas Rich; TAIOLI, Fábio.
Decifrando a Terra. Companhia Editora Nacional. São Paulo:
2
Conceito conforme o Comitê Nacional Brasileiro da Conferência 2008.
Mundial de Energia – 2004.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 33
O petróleo é um hidrocarboneto que se apresenta sob a Os Estados Unidos figuram como principal importador,
forma fluida, formado por restos vegetais e animais em apesar de produzirem cerca de 8% do total mundial.
ambiente marinho. Os restos dos animais e vegetais
microscópicos (plâncton) que vivem na superfície são
RESERVAS MUNDIAS DE PETRÓLEO (BILHÕES DE BARRIS
depositados junto com a lama e areia no fundo do mar.
Para que tenha início o processo de formação do DE PETRÓLEO)
petróleo, é necessário que haja pouca circulação e
oxigenação no fundo das águas, de forma a impedir a
ação destruidora das bactérias aeróbias. Mares
interiores, baías fechadas e golfos são os ambientes
mais propícios à formação do petróleo. Normalmente
apresenta densidade menor que a da água, e sua cor
varia desde o incolor até o preto.

A mais importante rocha-fonte de óleo é formada por


sedimentos finos, ricos em matéria-orgânica, soterrados
a uma profundidade mínima de 500 m onde a rocha se
comprime, diminuindo sua porosidade e, com a alta
temperatura, induz os hidrocarbonetos a migrarem para
cima, para um ambiente de menor pressão e maior
porosidade. Esse movimento é chamado de migração Fonte: Petrobras.
primária.
Em algumas regiões, como no Oriente Médio, a maior
parte do petróleo encontra-se perto da superfície. Mas a
Para que se forme, é necessário haver pouca circulação
maior parte das reservas mundiais está alojada do fundo
e oxigenação no fundo das águas, de modo a impedir a
dos oceanos. Desde a década de 1950, a tecnologia de
proliferação das bactérias aeróbicas. Apesar de sua
extração de petróleo no subsolo oceânico (offshore)
origem marinha, o petróleo também, é encontrado no
vem evoluindo continuamente. Hoje, as plataformas
interior dos continentes, tal como ocorre na Rússia. Isso
marinhas representam pouco mais de 25% da produção
acontece porque o óleo migra através de fissuras a
no mundo e 68% a produção do Brasil.
interstícios das rochas permeáveis, até encontrar uma
barreira relativamente impermeável.
Arábia Saudita e Rússia figuram entre os maiores
produtores mundiais de petróleo, seguidas pelos
Estados Unidos, Irã e China.

BRASIL DOMINA TECNOLOGIA DE EXPLORAÇÃO


DE PETRÓLEO EM ÁGUAS PROFUNDAS

PRINCIPAIS RESERVAS DE PETRÓLEO DO MUNDO


A Petrobras é referência internacional na exploração de
petróleo em águas profundas, para a qual desenvolveu
As principais reservas mundiais de petróleo estão tecnologia própria, pioneira no mundo, sendo a líder
concentradas em algumas poucas regiões: o Oriente mundial deste setor. Tornou-se uma referência
Médio (cerca de 65%), Golfo do México, sul dos Estados tecnológica para o mundo do petróleo e confirmando a
Unidos, lago de Maracaibo (Venezuela), Sibéria liderança da Petrobras em águas profundas.
(Rússia) e Golfo de Bohai (China). A Arábia Saudita,
maior produtora, responde por 12,9% do total mundial.
34 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA

A Petrobras bateu sucessivos recordes de profundidade


por lâmina de água em extração de petróleo:

PROFUNDIDADE ANO
492 METROS 1988
781 METROS 1992
1709 METROS 1997
1877 METROS 2000
1886 METROS 2003

Em 2007 a Petrobras mantém o recorde mundial de


profundidade em perfuração no mar, com um poço em No início do século XX, o petróleo já era considerado riqueza
lâmina d'água de 2.777 metros. A Petrobras exporta fundamental, base do sistema de transporte automotivo e
tecnologia de exploração em águas profundas para geradora de inúmeras atividades indiretas.
vários países - a maioria dos métodos de colocação de
tubos a grandes profundidades, como a instalação de
risers flexíveis sem mergulhadores e os métodos de Os principais países exportadores, que pouco se
colocação vertical de sistemas de conexão em forma de beneficiavam com a exploração do produto, resolveram
"J" previamente amarrados à ANM, na realidade, foram mudar esse quadro e, em 1960, por meio do Acordo de
desenvolvidos em estreita colaboração com a Petrobras, Bagdá, criaram a O.P.E.P (Organização dos Países
e foram patenteados pela empresa francesa Coflexip. Exportadores de Petróleo), formada atualmente por 12
países: Arábia Saudita, Irã, Venezuela, Emirados Árabes,
Nigéria, Iraque, Indonésia, Líbia, Kuwait, Argélia, Qatar,
GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO Gabão e o Equador, que na década de 90 deixou a
organização mas, retornou em 2007. A O.P.E.P é na
A importância estratégica alcançada pelo petróleo ao realidade um cartel de países exportadores de petróleo.
longo do século XX provocou inúmeras crises de Essa organização determina cotas de produção para cada
proporções mundiais. Eclodiram muitos litígios país e elimina a concorrência estabelecendo um preço
envolvendo empresas e países, nos quais sempre comum.
estiveram em jogo a posse, o refino e a comercialização
do petróleo. A Guerra de Yom Kippur, em outubro de 1973, entre
árabes e israelenses, na qual os EUA e as potências
A exploração de petróleo no Golfo Pérsico começou em capitalistas apoiaram Israel, foi um bom pretexto para
1908, quando foram descobertos importantes lençóis esse aumento desse preço. A O.P.E.P, usando o petróleo
desse hidrocarboneto no Irã. Nessa época, foram como uma arma política, reduziu o fornecimento e
negociadas concessões a grandes companhias aumentou o preço de 2,9 para 11,65 dólares o barril, um
estrangerias, sobretudo por chefes tribais árabes. aumento de 301% em menos de três meses.

Até 1960, sete grandes empresas petrolíferas (cinco


norte-americanas, Standart Oil of New Jersey, hoje
conhecido como Exxon; Standart Oil of Califórnia, hoje
Chevron; Gulf que hoje é parte da Chevron; Mobil, que é
parte da Exxon e Texaco, também incorporada pela
Chevron; uma anglo-holandesa, Royal Dutch/Shell; e
uma britânica, British Petrolium, hoje Beyong Petrolium)
controlavam grande parte da exploração e
comercialização do petróleo, determinando aumento ou
redução de preços de acordo com suas conveniências.
Eram chamadas de “sete irmãs”, em virtude dos
acordos que faziam para a divisão do mercado mundial
e das estratégias conjuntas que adotavam.

Reunião da OPEP, 2009.


Esse episódio ficou conhecido como o primeiro choque
do petróleo. Em 1979 quando iniciou-se a revolução
islâmica no Irã, e em 1980, quando eclodiu a guerra entre
Irã e Iraque, ocorreu um novo choque do petróleo, onde o
barril sai de 13 para 34 dólares, ou seja, um incremento
de 161%me relação ao preço de 1973.

A Guerra do Golfo (1990) fez com que o preço


ultrapassasse os 40 dólares, porém com o fim do conflito
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 35
o preço voltou a estabilizar-se e fechou o momento em 20  O custo de geração de energia elétrica é menor em
dólares. relação ao carvão mineral e ao urânio.

Em 2000, quando George W. Bush e sua corja chegaram PROJETOS DE DUTOS NA BACIA DO MAR CÁSPIO
ao poder nos Estados Unidos, boa parte deles ligados a
indústria petrolífera, os interesses do governo norte-
americanos em relação ao petróleo se intensificaram,
como foi possível observar no caso da ocupação do
Iraque no ano de 2003.

O desenvolvimento das economias emergentes,


particularmente China e índia, pressionou a demanda
mundial e colocou o preço do petróleo no patamar de
US$147 o barril em 2008. A crise econômica, iniciada em
2007/2008, acarretou uma queda no preço do produto. No
início de 2010, o preço do barril era de aproximadamente
US$ 80 e fechou o ano de 2012 em uma cotação de US$
110.

EUA PRODUZIRÃO MAIS PETRÓLEO QUE OS


SAUDITAS

A expansão do óleo de xisto nos EUA deverá levar o


país a se tornar o maior produtor mundial de petróleo
até 2020, a frente da Arábia Saudita, uma mudança
radical que pode transformar não apenas o
abastecimento global de energia, mas também a
geopolítica, disse hoje a Agência Internacional de
Fonte: MAGNOLI, Demétrio. Relações Internacionais: teoria e
Energia (AIE) em seu relatório anual sobre a história. São Paulo: Saraiva, 2004.p.29.3
perspectiva para o setor de energia.

CARVÃO MINERAL
"Por volta de 2020, os EUA deverão se tornar o maior
produtor mundial de petróleo" e superar a Arábia
Saudita por algum tempo, disse a AIE. "O resultado é O carvão mineral é utilizado há mais de 2000 anos,
uma queda contínua nas importações de petróleo dos desde a época da ocupação romana da Inglaterra,
EUA (atualmente em 20% de sua necessidade) a um quando era usado para aquecer as residências dos
ponto que a América do Norte se torne um exportador romanos.
líquido de petróleo em torno de 2030."
O carvão é formado pelos restos soterrados de plantas
Dados da Administração de Informação de Energia que sofreram um lento processo de solidificação em um
(EIA, na sigla em inglês) dos EUA mostram que a ambiente anaeróbico.
produção local de petróleo cresceu 7%, para 10,76
milhões de barris de petróleo por dia, desde o último Levando em consideração o poder calorífico, diretamente
relatório da AIE, divulgado há cerca de um ano. Fonte: relacionado à quantidade de carbono, o carvão
Agência Estado. apresenta-se sob quatro formas:

GÁS NATURAL  Antrácito: possui de 90 % a 96% de carbono,


apresentando, portanto, maior poder calorífero. É o
O gás natural também é um hidrocarboneto e ocorre melhor e também o mais raro, pois corresponde a
frequentemente em associação ao petróleo. Por ser apenas 5% do consumo mundial.
menos denso, o gás ocupa em geral, a parte superior dos  Hulha: tipo mais abundante e mais consumido (80% do
depósitos petrolíferos. A Arábia Saudita, maior produtora, total), apresenta teor de carbono de 75% a 90% Bastante
responde por 12,9% da produção mundial. usado para a produção de coque (carvão siderúrgico).
 Linhito: possui teor de carbono e 65% a 75% (baixo

Na Bacia do Mar Cáspio existem inúmeros campos de poder calorífero). É o segundo estágio de
gás, a maior parte no deserto do Turcomenistão. desenvolvimento do carvão.
 Turfa: possui o menor teor de carbono (cerca de 55%)
e, portanto, o menor poder calorífero. É o primeiro
Em relação ao petróleo, o gás apresenta as seguintes
estágio de desenvolvimento do carvão.
vantagens:
 É menos poluente.
 As reservas conhecidas apresentam uma projeção de
duração maior que as de petróleo.
 O gás encontra-se melhor distribuído que o petróleo
pelos continentes.
36 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA

GÊNESE DA DEPRESSÃO MORFOLÓGICA

Fonte: LEINZ, Victor; AMARAL, Sérgio Estanislau do. Geologia


Geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978.p.209.
(Adaptado) In: Elian Alabi Lucci.

ENERGIA NUCLEAR
FORMAÇÃO DE UM PÂNTANO
A energia nuclear produzida pelas usinas atuais baseia-
235
se na fissão do núcleo do Urânio ( U) por
bombeamento de nêutrons, que libera três nêutrons de
calor.

PREENCHIMENTO DA DEPRESSÃO PELA TURFA

Fonte: TEIXEIRA, Wilson; TOLEDO, M.C.M.de; FAIRCHILD, T.R


& TAIOLI, F. Decifrando a Terra. São Paulo, Companhia Editora
Nacional, 2008.p.480.

O Urânio é o único elemento fissionável que ocorre


naturalmente, no entanto, para ser utilizado como fonte
geradora de energia deve ser concentrado até atingir um
conteúdo de urânio de 3%, na forma de UO2 gerando o
238
que chamamos de urânio enriquecido. O U também
ESTÁGIO FINAL pode ser fissionável, para isso, é necessário um
bombardeamento de nêutrons para que se transforme em
239
Pu (Plutônio).

O sistema de geração de energia por fissão nuclear são


chamados reatores, e fazem parte das usinas geradoras
de eletricidade, eles são de dois tipos:

 BWR (Boiling Water Reactor): Reator de água fervente.


 PWR (Pressurized Water Reactor): Reator de água
pressurizada.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 37

seus subprodutos, como leite e ovos). COELHO, M.A &


PAÍSES DEPENDENTES DE ENERGIA NUCLEAR TERRA, Lígia. Geografia Geral. São Paulo, Moderna, 2008.

País Energia gerada por usinas nucleares HIDRELETRICIDADE

França 75%
Nas usinas hidrelétricas, a eletricidade é obtida por meio
Lituânia 73% do aproveitamento das águas dos rios. A força
Bélgica 58% hidráulica movimenta uma turbina, que aciona o gerador
responsável pela transformação de energia hidráulica
Bulgária 47% em elétrica.
Eslováquia 47%
Suécia 47% O potencial hidrelétrico de um país ou de uma região
está diretamente condicionado pela morfologia do relevo
Ucrânia 44%
e pelo regime de chuvas.
Armênia 36%
Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica, 2000. A energia gerada nas usinas não depende de
combustíveis fósseis. Porém as grandes usinas
O ACIDENTE DE CHERNOBYL provocam impactos ambientais e sociais profundos,
resultantes do alargamento de vastas áreas e da
necessidade de remoção das pessoas que vivem nelas.
Em 26 de Abril de 1986, o núcleo de um dos reatores A usina de Três Gargantas, na China, é um bom
da usina atômica de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu exemplo disso. Mais de um milhão de pessoas tiveram
devido a uma falha no sistema de refrigeração. O de ser removidos em razão da construção da barragem,
mundo soube do acidente, que foi mantido em cuja represa forma um lago artificial de 632 quilômetros
sigilo, quando a radiação se espalhou e foi quadrados que inundou 160 cidades e povoados, além
percebida em outros países. O calor – entre 3000 e de destruir uma importante reserva arqueológica
4000ºC – incendiou o bloco de grafite, provocando chinesa. Instalada em uma área montanhosa a usina
uma explosão química e o desmoronamento parcial tem sido apontada como a responsável pela
do prédio. As terras num raio de 5 mil quilômetros intensificação dos processos erosivos e dos
ao redor da usina tiveram de ser abandonadas e deslizamentos de terra nas colinas ao redor da represa.
assim devem permanecer por várias décadas. Cerca
de 30 mil pessoas morreram desde então, em
consequência da radiação recebida. A nuvem de PRODUÇÃO E CONSUMO DE HIDRELETRICIDADE
radiação se espalhou por vários países europeus
(Alemanha, Polônia, Suécia, Finlândia e outras
repúblicas da antiga União Soviética), afetando a
saúde de milhões de pessoas (estima-se que 5
milhões de pessoas contraíram câncer),
contaminando as plantas e os animais (inclusive
38 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
para o aquecimento de água para uso em chuveiros, ou
gases para secagem de grãos ou uso em turbinas, esta
técnica utiliza um coletor solar que irá captar a energia e
um reservatório isolado termicamente onde o líquido ou
gás será acondicionado.

A energia solar pode também ser aproveitada por meio


das células fotovoltaicas, que geram uma corrente
elétrica capaz de carregar baterias. Ela apresenta
pontos positivos e negativos, entre eles podemos
destacar: Instalação relativamente simples e com
pequena manutenção. Não há resíduos e nem impactos
Fonte: Agência Internacional de Energia. Key World Energy ambientais, Não há consumo de combustível, Não há
Statistics 2007. gastos suplementares, após a instalação, como
positivos e Custo inicial elevado, Baixo rendimento na
Países que dispõem de uma densa rede fluvial em obtenção de energia elétrica, Necessidade de insolação
condições de aproveitamento energético como os adequada, como negativos.
Estados Unidos e o Brasil muitas vezes são capazes de
suprir uma parcela significativa da demanda interna.

ENERGIAS MODERNAS DE UM MUNDO MODERNO

 BIOLÓGICAS: São consideradas as possíveis fontes


do século XXI, em substituição as fontes mais utilizadas
nos dias atuais. Calcula-se que 30% do total da energia
3
consumida no planeta será oriunda da biomassa .
 BIOGÁS: É o gás liberado pela decomposição de
certas bactérias do esterco, da palha, do lixo, etc. O
equipamento utilizado para produzi-lo é chamado de
biodigestor. São apropriados para a utilização em
pequenas unidades. China e Índia são grandes
exemplos de países que adotam os biodigestores nas
zonas rurais e urbanas.
 SOLAR: É aquela aproveitada da incidência de raios  EÓLICA: É produzida pela movimentação das hélices
solares na superfície terrestre. Pode ser utilizada de pela ação dos ventos. Pode ser utilizada ainda, para
forma passiva simplesmente para o aquecimento de bombear água ou mover moinhos. Sua utilização vem
água ou mesmo de ambientes, sendo que, nos últimos crescendo bastante, e acredita-se que em 2020, cerca
anos, cada vez mais unidades coletoras de calor podem de 10% da energia das áreas mais desenvolvidas do
ser vistas sobre os telhados nas cidades. planeta seja oriunda da força dos ventos. A Europa
responde por aproximadamente 60% da geração atual,
com destaque para a Alemanha e Dinamarca. Entre os
pontos positivos podemos citar o fato de ser uma
promissora fonte de geração de energia elétrica, ter
apresentado uma redução significativa do custo do
equipamento, nas duas últimas décadas, não contribuir
para os problemas ligados ao efeito estufa e não existir
consumo de combustível. Entre os negativos
destacamos os altos investimentos para a transmissão
da energia elétrica gerada, os impactos sonoros (ruído
dos rotores) e visuais, além da interferência nos
sistemas de comunicação (rádio e TV).

A energia fototérmica está relacionada ao aquecimento


de líquidos ou gases pela absorção dos raios solares
ocasionando seu aquecimento. Geralmente empregada

3
Biomassa: é o conjunto de organismos que podem ser aproveitados
como fonte de energia – plantas das quais se extrai álcool, como a
cana-de-açúcar; lenha e carvão; alguns óleos vegetais, como a soja, a
mamona e o dendê; plâncton.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 39

Fonte: TEIXEIRA, Wilson; TOLEDO, M. Cristina Motta de;


FAIRCHILD, Thomas Rich; TAIOLI, Fábio. Decifrando a Terra.
Usina eólica na Califórnia, EUA. Companhia Editora Nacional. São Paulo: 2008.

 MARÉMOTRIZ: Em determinadas áreas as marés MEIOS DE TRANSPORTES


conseguem produzir enormes variações do nível das
águas. Desde a Idade Média este tipo de geração de Num mundo em que informações, dados, mercadorias,
energia é utilizada, um exemplo disso são as capitais e pessoas circulam de forma intensa e rápida
instalações no Rio Tejo, em Portugal. aa compreensão da estrutura material que dá suporte a
todos esses fluxos é condição fundamental para o
entendimento da dinâmica do espaço geográfico. Além
de conhecer a arquitetura das redes de
telecomunicações e de transportes e suas relações com
o ambiente em que estão inseridas, é necessário
analisar a participação das grandes empresas nesse
processo, o acesso aos benefícios tecnológicos pelos
grupos sociais, as desigualdades entre os países no
desenvolvimento e uso de novas tecnologias, a
intensificação da difusão de informações por diversos
meios e custo socioambiental da produção e
manutenção dessas redes.

A evolução dos meios de transportes foi um dos eventos


que possibilitaram ao ser humano ocupar todo o
planeta, explorar os recursos da natureza nos mais
diferentes lugares, ampliar o comércio e impulsionar
outras atividades econômicas. O desenvolvimento da
navegação marítima está diretamente relacionado com
a consolidação do capitalismo comercial e a ampliação
do horizonte geográfico europeu, a partir do século XV.
Sem as caravelas e o desenvolvimento da cartografia,
os portugueses e espanhóis no máximo contornariam a
 GEOTÉRMICA: Existem regiões onde a água aflora a costa da Europa e da África, mas jamais teriam
superfície da Terra em temperaturas elevadas na forma atravessado o oceano Atlântico.
de jatos (os gêiseres) ou na forma de lagos. A energia
responsável pelo aquecimento da água tem origem
vulcânica e é denominada energia geotérmica, sendo
utilizada para aquecimento domiciliar e para obter
energia elétrica. Em El Salvador, esta fonte de energia
supre 30% do consumo do país.

APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DE UM SISTEMA


ÍGNEO QUENTE

NAVEGAR É PRECISO
40 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
alcance de carga transportada. Aquele também seria o
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: século do avião, que se transformaria no principal meio
de transporte transnacional de passageiros e de cargas
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
leves.
Na Antiguidade, as rotas comerciais tinham grande
Quero para mim o espírito [d]esta frase, importância econômica. Atualmente, as empresas, ao
transformada a forma para a casar como eu sou: definirem a localização de suas unidades, levam em
conta os custos de transferência de bens (transportes) e
Viver não é necessário; o que é necessário é criar. de informações (comunicação). Por isso os sistemas de
transporte e comunicação têm importância crucial.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la
penso.
Só quero torná-la grande, De modo geral, distinguem-se cinco categorias de meios
ou modos de transportes: os dutos, as hidrovias, as
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo ferrovias, as rodovias e as aerovias.
e a (minha alma) a lenha desse fogo.
TRANSPORTE DUTOVIÁRIO
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha. O transporte por dutos é feito por uma rede de
Cada vez mais assim penso. canalizações por onde circulam produtos petrolíferos
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu (oleodutos), outros fluidos (como o oxigênio) e até
sangue produtos sólidos (minerais, carvão, etc.) em solução ou
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e em suspensão na água. Em geral, esse tipo de
contribuir transporte forma uma rede em árvore, com um tronco
central partindo dos terminais marítimos, conectado às
para a evolução da humanidade.
ramificações em direção aos depósitos e indústrias de
processamento e refino.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa
Raça.
O primeiro duto construído no planeta data de 1865
Fernando Pessoa interligando a Pensilvânia a uma estação de
carregamento de vagões ferroviários, oito quilômetros
O desenvolvimento das primeiras civilizações se de distância. O primeiro duto para longas distâncias foi
confunde com os caminhos traçados pelos rios, como se construído entre a Refinaria de Bayway, próximo de
verifica no Egito, China e Índia. A construção dos Nova Iorque, e a cidade de Pittsburg.
primeiros canais artificiais, interligando diferentes cursos
de rios, constituiu, já naquela época, as primeiras redes NAVEGAÇÃO OCEÂNICA
de transporte. O Canal Imperial – o maior canal artificial
do mundo –, por exemplo, foi construído sob a Dinastia
Sui para interligar os rios Amarelo (Huang He) e Azul As vias fluviais (rios) exibem vantagens de custo em
(Yang-Tsé) e escoar a produção agrícola entre o sul e o relação às ferrovias apenas em trajetos de milhares de
norte da China. quilômetros. Mesmo assim, não podem ser vistas como
competidoras das estradas de ferro, pois sua existência
está circunscrita às áreas atravessadas por rios
profunda durante o ano inteiro, sem fortes desníveis e
não sujeitos a prolongado conglomerado.

Alguns grandes rios – como o Reno, o Ródano, o


Danúbio e o Volga, na Europa; o Mississipi, nos Estados
Unidos e o Amazonas, no Brasil – desempenham
importantes funções nos transportes internacionais ou
regionais.

Na Europa de Noroeste, o transporte fluvial exibe


desenvolvimento singular em razão da existência de
planícies costeiras, principalmente na Holanda e na
Bélgica, recortadas por uma rede densa de canais. Além
disso, grandes cursos fluviais internacionais, dotados de
A circulação de mercadorias, pessoas informações
eclusas, têm foz nos mares do Norte e Báltico.
expandiu o comércio entre diferentes regiões do globo.
Os egípcios, por exemplo, estabeleceram suas relações
regulares com a Ásia desde 3.000 a.C. Caravanas A navegação oceânica constitui, em termos
buscavam na Síria e nos arredores do Mar Vermelho quantitativos, o principal modo de transporte
produtos como marfim, ouro, vinho e azeite. A Segunda intercontinental de cargas. As cargas subdividem-se em
Revolução Industrial, no final do século XIX, ocorreu três categorias: líquidos (petróleo e derivados), que
ajustada a uma efetiva modernização dos meios de representam amis de 40% do volume total; secos (como
transportes, com o desenvolvimento da navegação e da carvão, minérios, produtos florestais e agrícolas) e
ferrovia a vapor. O transporte rodoviário traçaria novas produtos finais (máquinas, equipamentos de transporte,
rotas no decorrer do século XX, possibilitando o maior alimentos e manufaturados em geral). O transporte
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 41
marítimo ganhou forte impulso no século XIX, com os
navios a vapor. A construção do Canal de Suez,
inaugurado em 1869, possibilitou a ligação entre os
mares Mediterrâneo e Vermelho, reduzindo as
distâncias e o custo dos trajetos entre a Europa e a
região do Oceano Índico. Mais tarde, o canal tornou-se
a principal rota de petroleiros entre a área produtora do
Golfo Pérsico e os mercados consumidores europeus.
No entanto, para que os navios petroleiros cheguem ao
Canal de Suez, é preciso transpor dois estreitos
estratégicos: o de Bab el Mande e o de Ormuz. O
estreito de Bab el Mandeb interliga o Mar Vermelho e o
Oceano Índico, numa estreita passagem de 50 O Full-Conteiner da Hyndai Faith nos portos brasileiros.
quilômetros que, caso fosse fechada, causaria enormes Numa época de crescente globalização econômica, a
prejuízos, pois forçaria as embarcações a contornar o situação das economias nacionais em relação aos
continente africano pelo Cabo da Boa Esperança. mares é crucial. Uma das notáveis vantagens
comparativas dos países asiáticos de industrialização
recente consiste no fato de estarem localizados em
O Estreito de Ormuz, por sua vez, serve como porta de
rotas oceânicas destacadas. Já o continente africano,
saída para o Oceano Índico de 88% do petróleo
em virtude do traçado de suas fronteiras políticas,
exportado do Golfo Pérsico.
apresenta a desvantagem de concentrar países sem
saídas marítimas. Nesses países, conectados a portos
A construção do Canal do Panamá, completada em estrangeiros por ferrovias arcaicas ou rodovias
1914, interligou os oceanos Atlântico e Pacífico por meio precárias, os custos toais de transporte chegam a
do istmo centro-americano. No início, o canal funcionou representar 40% do valor das exportações.
como rota entre a costa leste e oeste dos Estados
Unidos. Depois, tornou-se a principal via de circulação
TRANSPORTE AÉREO
entre o leste dos Estados Unidos e a Europa Ocidental,
de um lado, e os países da Bacia do Pacífico, do outro.
O transporte aéreo compartilha com a navegação
oceânica a característica de utilizar vias de circulação
Todo esse tráfego converge para um ponto estratégico,
naturais. Como inicialmente os aviões não tinham muita
o Estreito de Málaca, localizado entre a Malásia e a
autonomia de voo, as primeiras rotas internacionais
Indonésia. Com extensão de 800 quilômetros e variando
foram traçadas entre cidades mais próximas do
de 50 a 300 quilômetros de largura, é o maior estreito
percurso e sem se distanciar muito da costa dos
utilizado pela navegação internacional. Por ali passam
continentes ou de ilhas de apoio.
cerca de 50 mil navios por ano, o que representa 30%
do comércio mundial e 80% do Japão.
A aviação comercial desenvolve-se apenas após a
Segunda Guerra Mundial, estabelecendo uma nova
Embora as redes de oleodutos sejam uma alternativa
referência de velocidade de deslocamento. Para garantir
para o transporte de petróleo, como ocorre entre a
a segurança de voo, os aviões deslocam-se no interior
região do Mar Cáspio e a Europa Central, a opção por
de corredores aéreos estritamente definidos. As rotas
navio ainda é mais barata.
internacionais e os direitos de sobrevoo e aterrissagem
por razões geopolíticas, são objetos de negociações
A construção de cargueiros cada vez maiores é uma entre os Estados.
tendência para manter baixos os custos de fretes, mas
algumas classes de superpetroleiros e supergraneleiros,
Os elevados custos de deslocamento por via aérea
por causa do seu calado, não podem passar pelos
limitam os tipos de carga transportados às mercadorias
canais transoceânicos ou mesmo por certos estreitos do
finais de alto valor e baixo peso unitário e aos objetos de
Sudeste Asiático. Assim, as rotas pelo Cabo da Boa
entrega urgente. Produtos eletrônicos, joias, relógios,
Esperança, no sul da África, e pelo Estreito de
equipamentos médicos e científicos estão entre as
Magalhães, no sul da América, foram revalorizadas. Ao
mercadorias que geralmente seguem por avião. Apesar
mesmo tempo, velhos portos foram ampliados, com a
de o volume de mercadorias transportadas por via aérea
modernização de seus equipamentos, e surgiram
ser desprezível, esse modo de transporte de cargas
inúmeros novos terminais especializados.
torna-se bastante significativo quando medido em
termos de valor monetário: pouco mais de 40% do
A localização dos maiores portos oceânicos reflete a montante total do comércio internacional viaja pelos
distribuição dos principais fluxos mundiais de comércio e aviões.
a situação geográfica dos polos econômicos globais. O
Porto de Roterdã (Holanda), junto à foz do Rio Reno,
Ainda assim, o deslocamento de passageiros é mais
concentra grande parte do comércio das áreas mais
importante para a viação comercial que o transporte de
industrializadas da União Europeia e movimenta cerca
cargas. Há décadas, o avião suplantou o navio como
de 300 milhões de toneladas de carga ao ano. Apenas o
modo de transporte de pessoas por longas distâncias.
Porto de Cingapura, no estratégico Estreito de Málaca,
Em 2006, as companhias aéreas transportam 4,4
tem movimento comparável. Os principais portos do
bilhões de passageiros, e a tendência é de crescimento.
mundo distribuem-se nos países do Pacífico asiático, da
Calcula-se que até 2015 o número de passageiros do
Europa Ocidental e nos Estados Unidos.
tráfego aéreo crescerá 5%. O aumento da demanda
deflagrou uma tendência de construção de aeronaves
42 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
cada vez maiores e a implantação de vastos aeroportos polares são frequentes nas regiões com movimentação
sempre mais distantes das principais aglomerações pendular entre os grandes centros urbanos e os núcleos
urbanas. urbanos periféricos. As redes árvores estruturam-se a
partir de um tronco central, como se observa nas redes
de televisão a cabo e nos sistemas de distribuição de
O tráfego de passageiros organiza-se em torno de
água.
grandes rotas aéreas internacionais, que se concentram
nos países desenvolvidos, e das maiores rotas
nacionais, que se concentram em países de vastos As inovações técnicas nas áreas dos transportes e das
territórios. Nos Estados Unidos, encontram-se as mais comunicações tendem a conferir fluidez ao espaço
movimentadas rotas aéreas e os principais aeroportos geográfico nos quais a circulação de bens, pessoas e
do mundo em tráfego de passageiros. O elevado poder informações realiza-se em menos tempo e, portanto,
aquisitivo do mercado consumidor, as longas distâncias com menores custos, permitindo às economias
internas e o papel de liderança na economia mundial nacionais, regionais e locais atrair maiores
conjugam-se para garantir a supremacia estadunidense investimentos produtivos nos serviços, na indústria e na
na aviação civil. agropecuária.

FERROVIAS E RODOVIAS Os espaços de maior fluidez são aqueles nos quais a


circulação de bens, pessoas e informações realiza-se
me menos tempo de, portanto, com menores custos,
As vantagens de custo das ferrovias em relação às
permitindo às economias nacionais, regionais e locais
rodovias aparecem nos trajetos de extensão superior a
atrair maiores investimentos produtivos nos serviços, na
500 quilômetros. Nesse caso, os altos custos de
indústria e na agropecuária.
implantação de rede férrea e das estações e o tempo
consumido com cargas e descargas são compensados
pela economia geral do modo de transporte. Em A diminuição dos custos de transporte teve imenso
pequenas distâncias, as vantagens estão todas no impacto no comércio mundial. A substituição de
transporte rodoviário, que desloca mercadorias desde matérias-primas e maquinários. A diminuição dos custos
os pontos de distribuição até os de consumo. Nos de transporte teve um imenso impacto no comércio
mercados locais e em áreas de relevo acidentado, não mundial. A substituição de matérias-primas e
há concorrentes para uma densa rede rodoviária. Em maquinários volumosos e pesados diminui o gasto com
escala global, o transporte rodoviário cresce muito mais transporte necessário para cada dólar de importação ou
velozmente que o ferroviário. Nas últimas décadas, exportação. É o caso da substituição do aço por ligas
registra-se o declínio absoluto do número de leves e dos imensos painéis de controle por
passageiros transportado por trens. No caso das cargas, microprocessadores. O mesmo ocorreu na produção de
registra-se um pequeno crescimento, em termos de componentes de computadores, concentrada
tonelagem, mas com forte perda de participação relativa atualmente no Sudeste Asiático. Como esses
no mercado. Entre as grandes economias, a componentes são pequenos e leves, sua distribuição é
participação das ferrovias no deslocamento de cargas barata. Por isso, a distância não representa um
aumentou apenas nos Estados Unidos. Na União obstáculo para os fabricantes de computadores do
Europeia, a extensão das linhas férreas declinou pouco Japão e dos Estados Unidos, se os fornecedores de
mais de 170 mil quilômetros, em 1970, para cerca de Cingapura, por exemplo, apresentarem mais vantagens
160 mil quilômetros no fim da década de 1990. Nesse que os produtores de seus próprios países.
momento, as rodovias assumiram a liderança absoluta
no deslocamento de cargas. A divisão modal dos
Uma outra situação mais radical ocorre na produção de
transportes de carga depende em cada país, de fatores
programas de computadores, pois eles podem ser
naturais e das opções políticas e econômicas. Apesar
transportados entre os países simplesmente por
de tendência de forte crescimento do modo rodoviário,
transmissão pela linha telefônica. Não há necessidade
em países de dimensões continentais, como Estados
do uso de navio ou avião, baixando os custos do
Unidos, Rússia e China, as ferrovias continuam a
transporte a valores desprezíveis. No entanto, mesmo
deslocar parcela muito significativa das cargas. Nos
no transporte de cargas ocorreu uma série de inovações
países de pequena extensão, o transporte rodoviário é,
tecnológicas que transformaram essa atividade em um
em geral, predominante.
negócio altamente lucrativo. As inovações técnicas nas
áreas dos transportes e das comunicações tendem a
MALHA VIÁRIA E REDES DE TRANSPORTES conferir fluidez ao espaço geográfico.

Uma rede de transporte é formada por um conjunto de PRINCIPAIS AEROPORTOS EM MOVIMENTO DE


eixos de circulação de pessoas, informações, capitais e PASSAGEIROS - 2007
mercadorias, em um mesmo espaço geográfico. Vários POSIÇÃO CIDADE TOTAL
critérios podem ser utilizados para caracterizar as redes
1 Atlanta (EUA) 89.379.287
de transporte. Entre eles, destacam-se a densidade e a
conectividade da malha viária. 2 Chicago (EUA) 76.177.855
3 Londres (RUN) 68.068.304
A densidade da rede de transporte é medida pela 4 Tóquio (JAP) 66.823.414
quantidade de eixos de circulação concentrados em 5 Los Angeles (EUA) 61.896.075
determinada área. As redes de transporte podem ser
6 Paris (FRA) 59.922.177
classificadas quanto à forma da malha viária. As redes
reticulares (ou ortogonais) apresentam malhas viárias 7 Dallas (EUA) 59.786.476
homogêneas e garantem alta conectividade. As redes 8 Frankfurt (ALE) 54.161.856
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 43
9 Beijing (CHN) 53.583.664 desenvolveram as primeiras grandes civilizações. Com
10 Madri (ESP) 52.122.702 a evolução da agricultura, começou a haver excedente
de produção, o que possibilitou o desenvolvimento do
11 Denver (EUA) 49.863.352 comércio, inicialmente baseado na troca de produtos. As
12 Amsterdã (PBS) 47.794.994 técnicas agrícolas revelam como as sociedades
13 Nova Iorque (EUA) 47.042.419 interferem nos processos naturais, ―criando‖ solos
férteis. A prática ensinou muitas coisas, antes de a
14 Hong Kong (CHN) 47.961.011
ciência explicá-las. Mas só no século XIX iniciaram-se
15 Las Vegas (EUA) 46.184.515 as experiências com fertilizantes químicos, cuja
16 Houston (EUA) 42.998.040 produção se tornaria um negócio industrial no século
17 Phoenix (EUA) 42.897.315 XX.
18 Bangcoc (TAI) 41.210.998
19 Cingapura (CIN) 36.078.954 Graças à Revolução Industrial, evoluíram as técnicas
agrícolas, o que possibilitou o aumento da
20 Orlando (EUA) 36.480.765 produtividade, sem ser necessário ampliar a área de
Fonte: Airports Conucil International. cultivo. Esse desenvolvimento tecnológico aplicado à
Há 40 anos era muito dispendioso o processo de agricultura ficou conhecido como Revolução Agrícola,
escoamento, armazenamento e carregamento das que visava o aumento da produção de alimentos.
cargas nos navios ancorados nos portos. Isso começou
a mudar na década de 1950, quando a carroceria de um Esse aumento de produtividade foi necessário em
caminhão foi adaptada para ser separada da cabine e decorrência do aumento da população em geral, da
içada para os convés dos navios, sem a necessidade de elevação percentual da população urbana (cujas
trabalhadores para manipular a carga separadamente. atividades de subsistência eram limitadas a alguns
Desse primeiro compartimento surgiram os contêineres gêneros apenas) e da proporcional diminuição da
metálicos, que colocados nos trens ou empilhados a população rural, responsável pela produção de
bordo dos navios, aumentam a produtividade na alimentos. As bases técnicas da Revolução Agrícola
manipulação de cargas. foram propiciadas sobretudo pelas indústrias
fornecedoras de insumos para a agricultura (máquinas,
2.11. A AGROPECUÁRIA fertilizantes, etc.).

BIOTECNOLOGIA E A NOVA REVOLUÇÃO


A agropecuária é o conjunto de técnicas de domínio e AGRÍCOLA
controle do desenvolvimento das plantas e dos animais
para o uso humano, sendo uma das atividades básicas
da humanidade, que provavelmente foi a responsável A biotecnologia é o conjunto de tecnologias aplicadas à
pela primeira grande transformação no espaço Biologia, utilizadas para manipular geneticamente
geográfico. plantas, animais e microrganismos por meio de seleção,
cruzamentos naturais e transformações no código
4 genético. A própria Revolução Verde contribuiu para o
Surgiu há cerca de 12 mil anos, no Neolítico , quando desenvolvimento da biotecnologia, como na criação de
as comunidades primitivas passaram de um modo de sementes híbridas .
5
vida nômade, baseado na caça e na coleta de
alimentos, para um modo de vida sedentário, viabilizado
pelo cultivo de plantas e pela domesticação de animais. Uma das aplicações modernas da biotecnologia
consiste na alteração da composição genética dos seres
vivos, quando se inserem, por exemplo, genes de outros
organismos vivos do DNA (Ácido Desoxirribonucléico)
dos vegetais. Por este processo, pode-se alterar o
tamanho das plantas, retardar a deterioração dos
produtos agrícolas após a colheita ou torná-los mais
resistentes a pragas, herbicidas e pesticidas. Os
vegetais derivados da alteração genética são chamados
transgênicos.
TRANSGÊNICOS

A biotecnologia bancada pelas gigantes transnacionais,


revolucionou a produção agrícola com os produtos
Pintura retratando o surgimento da agricultura no Neolítico. transgênicos. Plantas são modificadas geneticamente
para otimizar a produção agrícola, aumentando a
Inicialmente, foi praticada às margens dos grandes rios,
como o Tigre e o Eufrates, Nilo, o Yang-Tsé-Kiang e o
Ganges. Foi justamente nessas áreas que se 5
Sementes Híbridas resultam do cruzamento de uma mesma espécie
vegetal, com o objetivo de melhorar a qualidade a produtividade ou a
4
O neolítico é o período de pré-história que ocorreu entre 12000 a.C, aparência de um produto agrícola. Normalmente, possibilitam a
e 6000 a.C. Foi nesse período que o ser humano inventou e obtenção de safras maiores, mas a produção não pode ser reservada
desenvolveu a agricultura, iniciou a domesticação de animais, para o replantio: algumas se tornam estéreis, e outras produzem
tornou-se sedentário e aperfeiçoou técnicas de produção de descendentes que perdem suas características originais. Com isso, os
utensílios. A esse conjunto de inovações dá-se o nbome de produtores são obrigados a comprar sempre novas sementes da
Revolução do Neolítico. empresa que detém a patente.
44 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
produtividade, tornando as espécies modificadas mais  Meio ambiente: O cultivo de plantas geneticamente
nutritivas e resistentes às pragas. modificadas pode alterar a evolução natural com a
introdução de espécies que não existiam naturalmente e
provocar desequilíbrios no meio ambiente, como
A questão dos alimentos transgênicos provoca grande
empobrecimento da biodiversidade; eliminação de
polêmica no mundo todo, As opiniões são muito
insetos benéficos; desenvolvimento de ervas daninhas
contraditórias, e os questionamentos e defesas da
resistentes a agrotóxicos; poluição genética
questão não dão segurança ao público consumidor para
(contaminação por organismos por meio da
que ele possa se posicionar.
transferência do pólen de uma planta para outra); perda
da fertilidade do solo e até extinção de espécies.
 Econômicas: Grandes interesses estão em jogo: o
aumento das vendas e a redução de gastos
beneficiariam grupos empresariais transnacionais,
aumentando seus lucros; os pequenos proprietários só
teriam a perder, pois não têm acesso à tecnologia de
ponta; muitas sementes transgênicas são estéreis, o
que impede a reutilização de seus frutos como
sementes, obrigando os agricultores a comprar novas
sementes a cada safra, e tornando-os totalmente
dependentes das empresas fornecedoras; ao perigo
inerente à manipulação da herança genética, soma-se a
questão de que oito grandes laboratórios detêm a
tecnologia necessária à criação de organismos
transgênicos com segurança, daí que apenas eles
dominariam esse mercado, formando um oligopólio.
Dalcio Machado
QUESTÕES POLÍTICAS E BIOSSEGURANÇA
A ampla aplicação de modificações genéticas tem
suscitado diversas polêmicas entre países, agricultores O Protocolo de Cartagena firmado em 29 de janeiro de
6
e consumidores. Segundo seus defensores, os OGMs
2000, na Colômbia, entrou em vigor em 2003, e prevê
têm as seguintes vantagens:
entre outros pontos, os padrões mínimos de segurança
no transporte de transgênicos entre países; mecanismos
 Econômicas: Transformações nos vegetais para que permitirão maior controle sobre o comércio de
torná-los mais rentáveis, eliminando partes que não são transgênicos, como a rotulagem e a documentação
economicamente aproveitáveis; criação de plantas detalhada; princípio de preocupação a fim de proteger a
adaptadas a diversos ambientes (solo, clima, altitude, diversidade biológica natural dos impactos decorrentes
luminosidade); criação de novas matérias-primas; da criação de transgênicos.
redução do ciclo vegetativo das plantas e da área
cultivada; redução no uso de agrotóxicos e fertilizantes
O mercado europeu tem recusado produtos
por meio da criação de plantas mais resistentes.
transgênicos como, por exemplo, a soja, o que levou
 Científicas: Manipulação dos organismos e criação de países como os Estados Unidos, o Canadá e a
novos materiais, como o bioplástico; aumento da Argentina, em maio de 2003, a ajuizar uma ação formal
produtividade e da produção acarretando menores na OMC, protestando contra essa política europeia e
riscos e gastos; eliminação de trabalho mais pesados de alegando que ela representa uma barreira injusta ao
cultivo e colheita; não-utilização do solo, ainda tão comércio e que impede a livre escolha do consumidor.
necessário à produção, já que muitas plantas poderão O Parlamento europeu, cedendo às pressões, aprovou
ser produzidas em laboratório. uma lei em julho de 2003, que vincula a venda desse
 Saúde: Enriquecimento nutritivo dos alimentos; tipo de produto a uma rotulagem clara.
aumento, em certas plantas, da capacidade de
combater doenças e estimular o crescimento humano;
Em 2008, 188 países haviam assinado o protocolo. Os
criação de vacinas comestíveis.
Estados Unidos não o fizeram, pois é o principal
Dentre os argumentos dos que são contra a modificação produtor de transgênicos do mundo, além de fazerem
genética de animais e vegetais, pode-se mencionar: campanha pelam sua aceitação.

 Saúde: Como a alimentação é a base da vida


saudável, os alimentos transgênicos poderiam interferir
na saúde das pessoas, aumentando os casos de
doenças degenerativas e alergias; os alimentos ficariam
mais artificiais e, nesse sentido, menos nutritivos; não
se conhecem exatamente os efeitos adversos ou tóxicos
das plantas transgênicas sobre o organismo; algumas
pesquisas apontam toxicidade, aumento dos casos de
câncer, transferência de genes para parentes silvestres
através de cruzamento, surgimento de novas viroses,
etc.

6
OGMs (Organismos Geneticamente Modificados).
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 45

Fonte: ISAAA
AGRICULTURA, ECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

O uso de métodos ditos não-sustentáveis de agricultura


– como os que empregam fertilizantes químicos,
desmatamentos, irrigação excessiva ou imprópria,
agrotóxicos – tem provocado grandes agressões ao
meio ambiente: erosão, infertilidade, desertificação, PRODUÇÃO AGRÍCOLA E FOME
mudanças climáticas, contaminação dos solos,
aquíferos de rios e mares, e dos animais, entre eles o A finalidade primordial da agricultura é a produção de
homem. alimentos e matérias-primas. Entretanto, apesar de
todos os esforços e progressos realizados pelos seres
Grande parte de terras e florestas do planeta já estão humanos, o número de famintos no mundo, atualmente,
degradadas devido, em grande parte, à agricultura. Em continua elevado.
2004, a agricultura mundial foi responsável por cerca de
70% do consumo de água. O volume de água desviado A Fome não podem ser entendida somente como a falta
tem sido superior ao trabalho natural de reposição, de alimentos, que satisfaçam o apetite, a fome é além
permitindo projeções de escassez do produto para disso, a falta de elementos específicos como proteínas,
irrigação, até 2025. vitaminas, carboidratos e sais minerais, que são
indispensáveis ao funcionamento do organismo e à
Existem muitas alternativas à agricultura que não própria sobrevivência humana.
agridem o meio ambiente e tampouco a saúde das
pessoas. Em diversos locais do mundo, agricultores Atualmente, a produção de alimentos de origem
conseguem cultivar suas terras respeitando as agropecuária é capaz de suprir a necessidade mundial.
particularidades regionais, ecológicas e culturais. A Apesar da participação menor de produtos alimentícios
agricultura biológica ou orgânica, diversificada e no comércio mundial, o cultivo de alimentos aumentou
ecologicamente regeneradora, pode fornecer sustento no século XX em ritmo superior ao aumento da
sadio a milhões de pessoas. população. Ainda assim, entre 2000 e 2002, cerca de
850 milhões de pessoas, de acordo com a FAO, não
Desde meados da década de 1990, tem crescido tiveram acesso a alimentação adequada, e milhares de
também a procura por produtos sustentáveis, ou seja, crianças ainda morrem diariamente em consequência
produzidos de modo a integrar aspectos éticos, direta e indireta da fome.
ambientais e sociais – dimensões que caracterizam a
sustentabilidade. Além do cuidado com o meio
ambiente, esse tipo de produção deve garantir relações
de trabalho socialmente justas, como remuneração
adequada e moradia digna. Com isso os impactos
ambientais diminuem consideravelmente; no entanto,
vale lembrar que toda atividade produtiva nunca é isenta
de resíduos – sempre causa algum tipo de agressão ao
ambiente.

“Não é, somente, agindo sobre o corpo dos


flagelados, roendo-lhes as vísceras e abrindo
chagas e buracos na sua pele, que a fome aniquila a
46 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
vida do sertanejo, mas, também, atuando sobre o rato secos. Eles os guardaram como prova da crise
seu espírito, sobre a sua estrutura mental, sobre sua enfrentada pelo vilarejo.
conduta social. (...) Nenhuma calamidade é capaz de
desagregar tão profundamente e num sentido tão
„Estamos vivendo um grande problema e queremos
nocivo a personalidade humana como a fome
que as pessoas saibam disso‟, disse o padre Lal
quando alcançada os limites da verdadeira
Jinja. „Esperamos que ao verem esses rabos de
inanição.” Josué de Castro. Geografia da Fome.
ratos as pessoas entendam nosso sofrimento‟.

Não existe uma causa única para a fome mundial. Ela


O governo e agências humanitárias estão finalmente
pode ter origem em um conjunto de fatores de ordem
começando a se dar conta do problema, que já
natural, como secas e inundações; pode ser induzida
ultrapassa os limites de Theihkyong. De acordo com
por questões econômicas e sociais, como o
uma agência da ONU que atua no país, cerca de 125
endividamento externo, a falta de incentivo aos
mil pessoas já foram afetadas pela falta de comida e
pequenos agricultores e ao mercado interno, a estrutura
pela infestação dos ratos.
fundiária, etc., causas políticas, como conflitos armados
e guerras civis. A composição do prato de comida é
relevador das diferenças sociais entre os países. Alguns já começaram a receber ajuda, mas a menos
Enquanto quase 20% da população mundial passa que uma operação humanitária seja colocada em
fome, some excessivamente açúcares, gorduras e prática, os bengaleses da região correm risco de
proteínas de origem animal. A acentuada diferença perder o contato com o mundo e ficar sem comida
entre os perfis dietéticos não é somente entre países, durante meses.
mas também é uma diferença de condição de vida ao
longo da pirâmide social. Em países como o Brasil e o A invasão dos ratos acontece normalmente a cada
México, enquanto ainda existem pessoas que passam 50 anos, quando florescem as florestas de bambu
fome, no topo da pirâmide social vive uma elite com um que cobrem a região. As sementes de bambu são
padrão de consumo semelhante ao padrão ricas em proteínas e quando ingeridas pelos ratos
estadunidense ou europeu. fazem com que eles se reproduzam quatro vezes
mais do que o normal. DUMMETT, Mark. Correspondente
MAPA DAS ÁREAS ALIMENTARES DO BRASIL BBC. Estadão, 2009.
(JOSUÉ DE CASTRO)
POLÍTICA AGRÍCOLA E MERCADO MUNDIAL

Entre os temas mais polêmicos das reuniões da OMC,


estão as reivindicações dos países subdesenvolvidos,
que pedem redução dos subsídios para a produção
agrícola e o fim da proteção dos mercados internos dos
países desenvolvidos. A reforma da política agrícola dos
países desenvolvidos é um dos pontos mais importantes
nas negociações comerciais para o Brasil e outros
países exportadores de produtos agropecuários, já que
os produtos desses países perdem competitividade
nesses mercados.

No valor total do comércio mundial de mercadorias, os


produtos agrícolas representam cerca de 8,4%, quase a
metade do valor do intercâmbio de minérios e
combustíveis. Os alimentos formam 70% do valor dos
produtos agrícolas comercializados internacionalmente.
O restante é constituído por bebidas e matérias-primas
industriais.

CASTRO, Josué de. Geografia da Fome. 8ª ed- Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 2008. O mercado mundial de alimentos está apoiado sobre um
grupo relativamente pequeno de grandes exportadores
e de grandes importadores.
BENGALESES COMEM RATOS QUE DEVASTARAM
LAVOURAS
A União Europeia e os Estados Unidos são, de longe, os
maiores atores no mercado mundial de produtos
“Moradores da região de Chittagong, em agrícolas. A União Europeia deve ser considerada um
Bangladesh, na fronteira com a índia e Mianmar, único ator, pois mantém uma política agrícola comum,
estão sendo obrigados a comer ratos depois que que oferece subsídios e proteção tarifária para seus
eles invadiram a área e devastaram plantações produtores, além de participar com uma só voz das
inteiras [...] Os campos que cercam o local foram negociações internacionais sobre o comércio agrícola; é
varridos por um exército de roedores que teriam ainda o maior importador e o segundo maior exportador
entrado em Bangladesh vindos da índia [...] No agrícola do planeta.
centro da comunidade, que conta apenas com duas
igrejas e uma escola comunitária, os moradores se
reúnem para mostrar enormes cestos com rabos de
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 47
POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM (PAC) agrícola. Devido ao menor custo de produção em
relação à Europa, países como EUA, Austrália,
Argentina e Canadá passaram a conquistar o mercado
A Política Agrícola Comum da Europa unificada foi
europeu de produtos agropecuários.
criada em 1962. Desde a sua criação, baseia-se no
mecanismo de proteção agrícola por meio de taxação
dos produtos importados e subvenção à produção As avançadas tecnologias empregadas no campo norte-
comunitária e de subsídios à exportação para garantir a americano, além de aumentar progressivamente das
venda de excedentes. O apoio irrestrito à agricultura por lavouras e das criações, também acarretaram muitas
mais de 30 anos levou a União Europeia praticamente à transformações no espaço agrário do país. O elevado
autossuficiência em muitos gêneros básicos e à geração índice de aproveitamento das terras destinadas ao
de excedentes em diversos produtos, elevando a desenvolvimento das atividades agropecuárias, entre
capacidade de exportação agrícola desse conjunto de outros fatores, faz da produção norte-americana a maior
países. do mundo. A agricultura e a pecuária chegam a ocupar
AGRICULTURA NA EUROPA quase a metade de todo o território dos Estados Unidos,
sendo 26% ocupado por pastagens e 19% por lavouras.
Esses números são elevados se comparados, por
exemplo, à realidade brasileira, onde as lavouras
ocupam apenas 5,8% da área total do país.

ZONEAMENTO AGRÍCOLA NOS ESTADOS UNIDOS

Ainda são grandes as dificuldades para se atingir um


comércio agrícola mundial mais equilibrado. A
diminuição dos subsídios pagos aos produtores
agropecuários vem sendo discutida no âmbito da OMC  Ranching belt: região dominada pela pecuária
e faz parte da proposta de reforma no comércio extensiva e bastante influenciada pelas condições
internacional dos gêneros agrícolas. A União Europeia, naturais do clima árido.
devido às pressões internacionais contra a prática  Wheat belt: domínio das grandes monoculturas de
desleal de concorrência e a impossibilidade financeira trigo, em que a existência de extensas planícies favorece
de estender os subsídios aos novos países que a mecanização.
aderiram à comunidade nos últimos anos. A União  Cotton belt: área onde se planta principalmente o
Europeia liberou o comércio de alimentos transgênicos algodão, cultivado na região de clima mais quente desde
em 2003, inclusive o dos industrializados que utilizam o século XVII, no período colonial.
esse tipo de matéria-prima, desde que eles sejam  Dairy belt: área onde se desenvolvem a pecuária
identificados no rótulo do produto. leiteira e a policultura intensiva (hortaliças, frutas e
legumes), destinadas ao abastecimento das grandes
ESTADOS UNIDOS cidades.
 Corn belt: região produtora de milho e soja,
geralmente plantados em médias propriedades e
O país é o principal representante da agricultura associados à criação de suínos.
7
contemporânea , com produção excedente,  Culturas tropicais: praticadas em áreas de clima mais
especializada, e essencialmente especulativa e de quente, que se destacam pela presença de lavouras
mercado. A partir da segunda metade do século XIX, a como arroz, cana-de-açúcar e frutas cítricas.
agricultura dos Estados Unidos alcançou grande  Polícultura: região que se caracteriza pela existência
desenvolvimento. de vários cultivos, entre eles o tabaco e o milho.

A preocupação europeia com a produção industrial POLÍTICA AGRÍCOLA JAPONESA


acarretou uma crise generalizada em sua produção
A política econômica japonesa tradicionalmente defende
7
É a fase de maior emprego de técnicas na agricultura e na pecuária, o seu mercado doméstico dos produtos importados. A
apresentando elevado grau de especialização e integração com a renda derivada dos impostos de importação agrícola é
indústria, os mercados, os capitais ou investimentos) e a ciência. convertida em subsídios para os agricultores japoneses.
Caracteriza-se pelo emprego de pouca mão-de-obra, normalmente
assalariada. O uso cada vez maior de máquinas e produtos industriais
levou À industrialização das atividades agropecuárias.
48 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Calcula-se que apenas 40% dessas despesas totais do
processo de produção agrícola sejam pagas pelo Os países situados na África Subsaariana, apresentam,
agricultor. O restante vem sob a forma de empréstimos, em geral, índices de crescimento econômico baixos,
a juros abaixo do mercado, e de subvenção estatal. conflitos étnicos, guerras civis e economia dependente
do setor primário agromineiro-exportador. Nesses
O arroz é o único produto agrícola em que o Japão tem países, os resultados das políticas de combate à fome
autossuficiência. Isso acontece porque é o produto que são pouco animadores.
paga as taxas mais altas de importação e cujo cultivo
recebe mais subsídios. Argumenta-se, no Japão, que o A ocupação da África no século XIX, durante a
arroz é uma questão de segurança nacional. Apesar de expansão imperialista europeia, provocou a substituição
todos os subsídios estatais, o preço do arroz no das culturas de subsistência, nas regiões com solos
mercado japonês é cerca de nove vezes maior que o mais férteis, pelas monoculturas de exportação, que
mercado internacional. permanecem até os dias atuais. Esse modelo de
ocupação imperialista gerou concentração fundiária e
POLÍTICA DE SUBSÍDIOS impediu muitas populações de praticar a lavoura de
subsistência, ampliando os problemas sociais e levando
a fome a várias comunidades africanas.
“Os subsídios aplicados na Europa e Estados
Unidos estão diretamente vinculados à produção e
ao tamanho da propriedade e têm uma A agricultura de subsistência é ainda praticada no
consequência que se impõe sobre todas as demais: interior do continente, nas áreas de savanas, sendo
quanto maior é, mais consegues. Na União desenvolvida por meio de sistemas agrícolas arcaicos,
Europeia, mais de três quartas partes do apoio que utilizam por exemplos queimadas como parte da
outorgado pelo PAC (Política Agrícola Comum) se forma de produzir.
destinam aos 10% de maior tamanho entre os
beneficiários dos subsídios. Em 2003, seis 8
Na região do Magreb e no extremo sul da África do
processadores de açúcar compartilham um Sul, o cultivo de cereais, oliveira e videira é feito na faixa
pagamento de 831 milhões, porém nos Estados de clima mediterrâneo. No Magreb, as fazendas foram
Unidos, o padrão de distribuição é inclusive mais implantadas pelos franceses durante o processo de
tendencioso. Somente 40% dos agricultores colonização, a partir do século XIX, até estes serem
recebem algum tipo de subsídio e, dentro deste expulsos, na segunda metade do século XX. A atividade
grupo, os 5% mais ricos ficam com mais da metade agropecuária, nessa região, tem rendimento superior à
da soma de aproximadamente 470.000 dólares cada média africana.
um” ONU/PNUD. Relatório do desenvolvimento humano
2005.Madri: Mundi-Prensa, 2005. p.147. 9
Nas áreas mediterrâneas e nas regiões do Saara
próximas ao relevo montanhoso da cadeia do Atlas,
ATIVIDADES AGRÁRIAS NO MUNDO prevalece o pastoreio nômade (de ovelhas, cabras e
SUBDESENVOLVIDO camelos), com deslocamento do gado para as
montanhas durante a primavera e o verão, devido à
Os países subdesenvolvidos já foram caracterizados abundância de água formada pelo derretimento da neve
como exportadores de produtos agrícolas e de matérias- dos cumes mais elevados.
primas. Apesar de tal caracterização continuar válida
para a maioria dos países, desse grupo, atualmente são JARDINAGEM NA ÁSIA
os países desenvolvidos que respondem pelo maior
volume de exportação de produtos agrícolas.
É praticada no Sudeste da Ásia (Ásia das monções),
região superpovoada caracterizada por verões quentes
Desde a década de 1950, a participação dos produtos e super úmidos. Trata-se de uma agricultura tradicional
agrícolas subdesenvolvidos vem diminuindo que utiliza técnicas mais ou menos aperfeiçoadas
gradativamente. Em parte, isso se deve à expansão do (irrigação e adubação) e cuidados especiais em relação
comércio mundial de mercadorias e à diversificação dos aos vegetais e ao solo, atingindo boa produtividade por
produtos negociados internacionalmente, sobretudo nas hectare.
últimas décadas.

Apesar de o arroz ser a cultura dominante neste sistema


AGRICULTURA MUNDIAL – PARTICIPAÇÃO DO de cultivo, não se trata de uma monocultura, visto que
COMÉRCIO AGRÍCOLA MUNDIAL (1950-2003) diversos outros vegetais são cultivados.

Ano Exportações em Participação da


bilhões US$ agricultura (%)
1950 62,13 44,95 8
Magreb em área, “extremo do ocidente” ou “ilha do poente”;
1980 2.020,97 14,72 designa os últimos países de influência árabe muçulmana situados na
2000 6.226,68 8,80 parte mais ocidental do planeta (Marrocos, Argélia e Tunísia).
9
O Saara, situado no norte da África, é o maior deserto do mundo.
2003 7.293,87 9,24 Chama-se Sahel a faixa semi-árida que contorna o sul do Saara e
Fonte: OMC; Ministério da Agricultura, 2005. corresponde à sua área de expansão. Na região subsaariana, também
conhecida como África Negra, e no Nordeste – Etiópia, Eritréia e
Somália -, concentra-se o maior número de pessoas do mundo
AGRICULTURA AFRICANA sujeitas à fome ou à subalimentação.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 49
Entre as principais características deste modelo de rebanhos exigiram gradativamente o aperfeiçoamento
cultivo podemos destacar: das técnicas de criação.

 Propriedades muito pequenas e mão-de-obra A pecuária intensiva organiza-se para produzir a maior
abundante; quantidade de gado em menor tempo e espaço
 Predomínio das técnicas de adubação e irrigação possíveis. Os rebanhos são confinados e alimentados
(natural ou artificial); com ração ou ficam em pastos cultivados em pequenas
10
 Utilização da técnica de terraceamento , terraços extensões. Entre as técnicas mais modernas usadas
artificiais (aplainamento em degraus de superfícies pela pecuária estão a reprodução por inseminação
inclinadas, interrompendo um declive) que possibilitam a artificial, a ordenha mecânica de raças. A tecnologia de
retenção de água e sedimentos. Estes degraus são precisão também e utilizada para rastrear os rebanhos:
11
feitos em curvas de nível , seguido pontos de um a implantação de brincos com chips nos animais
terreno com a mesma altitude. A técnica, além de transfere informações via satélite para um banco de
permitir o cultivo em terrenos inclinados, preserva o dados do qual constam identidade, localização,
solo, evitando a erosão e mantendo sua fertilidade (pois desempenho e dados sanitários.
impede as águas das chuvas carreguem a camada
superficial do húmus).

Ordenha mecânica, usada para obter melhores resultados.

A exploração intensiva altera os ciclos naturais dos


animais. O gado preso e comprimido em espaço
superpovoado é alimentado com cereais, que poderiam
alimentar diretamente populações. Para prevenir
doenças provocadas pelo confinamento em espaço
restrito os animais recebem altas doses de antibióticos.

MAL DA VACA LOUCA

REFORMA AGRÁRIA E GERAÇÃO DE RENDA A encefalopatia espongiforme bovina, ou mal da


vaca louca, é uma doença priônica que afeta
Além dos conflitos e dos distúrbios sociais constantes, a bovinos. De evlução bastante rápida após o
dificuldade de acesso à terra é responsável pela surgimento dos sintomas, estes animais geralmente
peculiaridade das relações de trabalho existentes no não resistem mais do que seis meses. Dificuldade
meio rural. A reforma agrária é vista como um caminho de locomoção e nervosismo são as principais
para melhorar as relações de trabalho, minimizar os manifestações observáveis. Acredita-se que a
conflitos no meio rural e a desigualdade social nos gênese desta doença está no fornecimento de ração
países subdesenvolvidos, principalmente naqueles que para estes animais contendo carcaças de ovinos
apresentam percentual significativo da população sem o devido aquecimento, como era feito na
economicamente ativa no setor primário. Melhorar a década de 70 e 80. Como provavelmente alguns
renda dos trabalhadores e incorporá-los ao mercado de destes espécimes estariam infectados pelo Scrapie
consumo produz reflexos positivos no restante da (outra doença priônica); e pelo fato de que menos de
economia. Além disso, contribui para reduzir o êxodo uma grama de material do sistema nervoso é
rural e a consequente pressão no mercado de trabalho suficiente para contaminar um único indivíduo, esta
urbano. é a hipótese mais aceita até o momento. ARAGUAIA,
Mariana.

PECUÁRIA NO MUNDO Em países com grandes territórios é possível a prática


da pecuária extensiva, com o gado solto nos pastos,
sem utilização de muitos recursos técnicos. No entanto,
A domesticação de animais, com a reprodução e a a pecuária extensiva usa grande parte dos recursos da
criação em cativeiro, é uma das práticas mais antigas natureza, como terras, águas e vegetação.
das sociedades. Apesar de hoje encontrarmos criações
nômades de gado (ou pastoreio) em regiões da África e
da Ásia, o aumento da produção, a expansão das áreas Tradicionalmente, o gado bovino é criado de forma
cultivadas e a diminuição do espaço disponível para os extensiva em países com grande extensão territorial, em
regiões com vegetação rasteira ou herbácea nas quais a
densidade populacional é bem baixa e a pouca umidade
10
Terraceamento é a técnica utilizada na agricultura, principalmente não favorece a agricultura. São exemplos os campos e
na cultura do arroz, que consiste na construção de terraços artificiais o cerrado no Brasil, as pradarias no oeste dos Estados
com o aplainamento de superfícies inclinadas, para inundação e Unidos e as estepes na China. Entretanto, nas últimas
aproveitamento de sedimentos. décadas, extensas páreas de florestas brasileiras foram
11
Linhas que unem pontos de mesma altitude e permite a desmatadas para dar lugar a pastagens.
representação plana das elevações do relevo.
50 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
formas de produzir energia, bens e serviços, formas
de relacionar os homens entre eles, formas de
2.12. O COMÉRCIO informação, formas de discurso e interlocução.
TEORIAS GEOGRÁFICAS LIGAS À DISCUSSÃO DO
COMÉRCIO O casamento da técnica e da ciência, longamente
preparado desde o século XVIII, veio reforçar a
CHRISTALLER - 1933. (A Teoria da Localidades relação que desde então se esboçava entre ciência e
Centrais): Residência de níveis estratificados de produção. Em sua versão atual como tecnociência,
localidades centrais, nos quais os centros de um mesmo está situada a base material e ideológica em que se
nível hierárquico oferecem um conjunto semelhante de fundam o discurso e a prática da globalização.
bens e serviços e atuam sobre áreas semelhantes no SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo,
que diz respeito à dimensão territorial e ao volume da Razão e Emoção. São Paulo: EDUSP 2008.p.171
população.
Não podemos compreender o mundo em que vivemos,
Os mecanismos fundamentais que atuam gerando essa assim como a sua geografia (organização do espaço)
hierarquia de centros são de um lado, o alcance sem estudarmos a chamada Revolução Industrial. A
espacial máximo e, de outro, o alcance espacial mínimo. fabricação de bens necessários a vida em sociedade
Christaller – um lugar central não distribui somente bens teve início desde que o ser humano começou a
e serviços relativos a sua importância, mas também a transformar qualquer um dos elementos que a natureza
centros colocados em uma posição inferior. Não é lhe oferece em produtos úteis aos diferentes modos de
possível que todos os bens e serviços sejam oferecidos consumo, por exemplo, quando o homem retirou
em todas as localidades centrais, fazendo decorrer daí o madeira de florestas, usou a argila ou começou a utilizar
principio de hierarquia. O princípio básico é o de os minerais (cobre, ferro etc.) para confeccionar objetos,
mercado. tudo isso já representava de certo modo uma atividade
industrial embrionária.
Existem princípios gerais que regulam os números,
tamanho e distribuição dos núcleos de povoamento: As diferentes transformações da natureza em bens
grandes, médios e pequenas cidades, a ainda econômicos, conheceu diferentes momentos ao longo
minúsculos núcleos semi-rurais, todos são considerados da história. Na atualidade que domina a sociedade de
como localidades centrais. Todos são dotados de consumo, é a indústria um dos ramos mais dinâmicos e
funções centrais isto é, atividades de distribuição de um dos setores mais importantes da economia; ela
bens e serviços para uma população externa residente provoca o desenvolvimento de atividades que lhe são
na região complementar (hinterlândia, área de mercado, complementares, como fornecimento de matérias-
região de influência), em relação a qual localidade primas, energia e oferta de mão-de-obra. Forçando
central têm uma posição central. A centralidade de um inclusive a especialização e a qualificação da mesma
núcleo, por outro lado, refere-se ao seu grau de produz capitais e estimula o desenvolvimento do
importância a partir de suas funções centrais: maior a comércio dos transportes e dos serviços.
população extrema atendida pela localidade central, é
maior a sua centralidade. Christaller definiu ainda 2
outros conceitos, o alcance espacial (maximum range)
e o de alcance mínimo (minimum range Threshold). O
primeiro refere-se à área determinada por um raio; a
partir da localidade central dentro desta área os
consumidores efetivamente deslocam-se para a
localidade central visando a obtenção de bens e
serviços. A área em questão constitui a região
complementar. Para além dela, os consumidores
deslocam-se para outros centros que lhe estão mais
próximos, implicando em menores custos de transporte.
O alcance espacial mínimo, por sua vez, compreende a
área em torno de uma localidade central que engloba o
número mínimo de consumidores que são suficientes
para que uma atividade comercial onde serviços, uma Operários italianos em frente da fábrica de Fiação e Tecelagem
função central, possa economicamente se instalar. Mariângela em São Paulo (SP), em 1915.

2.13. A INDÚSTRIA Sua importância é tal que os países e as regiões


industrializadas assumem posições de destaque em
O espaço geográfico contemporâneo é resultante, em termos de desenvolvimento, fazendo com que aqueles
boa medida, das transformações promovidas pelas países e regiões que não se industrializam fiquem na
Revoluções Industriais. As atividades industriais que dependência dos industrializados.
ocorrem no interior das fábricas desdobram-se
posteriormente em outras atividades.
O conceito clássico de Indústria seria uma forma de
transformação da matéria-prima (mineral, agrária ou
O SISTEMA TÉCNICO ATUAL florestal, além de lâminas de ferro ou componentes
eletrônicos) em manufaturadas. Portanto a indústria é
As épocas se distinguem pelas formas de fazer, isto uma atividade econômica do setor secundário que
é, pelas técnicas. Os sistemas técnicos envolvem
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 51
transforma qualquer matéria-prima em bens ou A tecnologia, nesse caso quer dizer pesquisas,
mercadorias. aplicações de conhecimentos científicos, elaborações
de novos produtos (máquinas modernas, informáticas,
imagens, robóticas, biotecnologias etc). Globalização,
ESTÁGIOS DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL
quer dizer que para a indústria o importante hoje é estar
(ARTESANATO – MANUFATURA –
num mercado mundializado onde as relações
MAQUINOFATURA)
capitalistas se tornam mais fortes e lucrativas.

Para se falar de indústria é necessário contextualizar,


Integração, significa uma interdependência entre as
historicamente o seu surgimento a partir de um
empresas e os processos de produções
processo evolutivo e acumulativo, que teve origem na
complementares a uma economia global. Dentro de uma
Europa e se propagou para o mundo.
visão mais técnica, podemos afirmar que a
industrialização atual está baseada numa produção de
Numa visão simplificada, podemos afirmar que tudo vanguarda, com tecnologias denominadas de ponta.
começou com um sistema de produção muito antigo
denominado de artesanato, evoluindo para uma
REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS
manufatura que surgiu por volta do século XIV, em
algumas cidades da Inglaterra, Itália e Bélgica, sendo
posteriormente implantada em outros lugares. A invenção de máquinas para fazer o trabalho do
homem era uma história antiga, muito antiga. Mas
com a associação da máquina à força do vapor
Por volta de meados do século XVIII com o advento da
ocorreu uma modificação importante no método de
máquina, a manufatura foi pouco a pouco substituída
produção. O aparecimento da máquina movida a
pela produção industrial mecanizada originando a
vapor foi o nascimento do sistema fabril em grande
maquinofatura. E esta, na segunda metade do século
escala. Era possível ter fábricas sem máquinas, mas
XX, vem em parte sendo substituída pela utilização de
não era possível ter máquinas a vapor sem fábricas.
robôs na linha de produção industrial, em consequência
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de
do grande desenvolvimento eletrônico. Janeiro: LCT, 2008.

MANUFATURA A Revolução Industrial foi uma decorrência da evolução


Cada manufatura era de propriedade de um capitalista, do sistema capitalista, que instaurou a Divisão
que fornecia a oficina, as ferramentas e a matéria-prima Internacional do Trabalho (DIT), papel que cada lugar do
e pagava um salário aos artesãos, ficando com o espaço desempenha no capitalismo mundial. Entre os
produto do trabalho. Temos aí o embrião do sistema fatores que tornaram possível o advento da indústria
capitalista de produção, em que o trabalhador já não é europeia destacam-se:
dono dos meios de produção e, para sobreviver, precisa
vender sua força de trabalho a um capitalista, que
 Os capitais acumulados durante o período mercantil.
controla os meios de produção.
 As gigantescas jazidas de ferro e carvão inglesas.
 A população europeia, que se constituía em um
Foi nas manufaturas que as ferramentas manuais
mesmo momento em mão-de-obra e mercado
começaram a ser substituídas por máquinas, que
consumidor.
facilitavam todo o processo, melhorando a qualidade e
aumentando a quantidade de produtos.
A Primeira Revolução Industrial provocou intensas
transformações no espaço geográfico e na divisão do
A partir da segunda metade do século XVIII, a aplicação 12
trabalho . A organização do espaço, as relações
de novos conhecimentos permitiu uma série de
aperfeiçoamentos nas poucas máquinas existentes e
levou à invenção de inúmeras outras. A utilização de 12
O conceito [de divisão do trabalho] é usado, sobretudo, no estudo
máquinas, juntamente com a descoberta de novas da produção econômica. Na sociedade de caçadores-coletores, por
fontes de energia (carvão e água), possibilitou a exemplo, as divisões do trabalho são relativamente simples, uma vez
substituição do trabalho manual pelo trabalho mecânico que não é muito grande o número de tarefas a serem feitas. Em
em inúmeras atividades. Este conjunto de grandes comparação, sociedades industriais as têm extremamente
mudanças devidas à industrialização constituiu a complexas, principalmente porque a capacidade de produzir um
Revolução Industrial. vasto excedente de alimentos permite que a maioria das pessoas se
entregue a uma grande variedade de tarefas que pouco têm a ver
com as necessidades de sobrevivência. Da forma exposta pela
No mundo atual em que as relações homem-meio primeira vez por Émile Durkheim, as diferenças na divisão do
alteram-se principalmente em função das necessidades trabalho afetam de forma profunda aquilo que mantém coesas as
de uma sociedade mais globalizada e economicamente sociedades. Com divisões do trabalho simples, a coesão social baseia-
mais forte, o espaço mundial fragmenta-se em espaços se principalmente nas semelhanças das pessoas entre si e no fato de
muito diferenciados, quanto às formas de ocupações e terem um estilo de vida comum. Com as divisões do trabalho
de interações entre seus membros. complexas, porém, ela tem por fundamento a interdependência que
resulta da especialização. Num sentido irônico, as diferenças o que
nos mantêm unidos.
Diante deste quadro evolutivo e da necessidade de se
produzir cada vez mais é que a indústria atual está A divisão do trabalho figura também com destaque no estudo sobre
calçada na seguinte tríplice econômica: tecnologia, as desigualdades sociais. Do ponto de vista marxista, o capitalismo
globalização e integração. utiliza uma divisão do trabalho complexa para controlar melhor os
trabalhadores. O trabalho é dividido em grande número de tarefas
minunciosamente especializadas que requerem apenas o mínimo de
52 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
sociais e territoriais, a difusão de culturas e técnicas e o
aprofundamento da competição entre os países estão A partir de 1850, novas mudanças no modo de produzir
entre essas mudanças. Além delas podemos destacar estenderam-se a diversos países, como Estados
ainda a concentração populacional em determinados Unidos, Japão, França e Alemanha, iniciando a
espaços, o que transformou essas áreas em Segunda Revolução Industrial, que se estendeu até o
importantes regiões industriais. início do século XX.

O crescimento da produção industrial na Inglaterra e a A Segunda Revolução Industrial caracterizou-se por


necessidade de ampliar o mercado para além das transformações quantitativas e qualitativas. A
próprias fronteiras deram origem ao liberalismo eletricidade e o petróleo ampliaram a capacidade de
13
econômico , uma nova forma de pensar a economia. produção e energia e acrescentaram novas
O liberalismo considerava nociva a intervenção estatal possibilidades à tecnologia de produção, criando
na distribuição das riquezas e defendia a livre condições para o desenvolvimento de produtos e
concorrência entre as empresas e os países. Naquele invenções, como motor a combustão. Surgiram as
momento, as ideias liberais interessavam principalmente grandes siderúrgicas e metalúrgicas e indústria química
a Inglaterra, que não encontrava concorrentes a sua e automobilística. A marinha mercante multiplicou sua
altura. frota em diversos países europeus, nos Estados Unidos
e no Japão. As ferrovias se expandiram por todo o
mundo, como meio de transporte e atividade
SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
empresarial.

A ERA DO CAPITAL A indústria inglesa mantinha, em grande parte, os


equipamentos e maquinários tradicionais. Já os novos
Na década de 1860, uma nova palavra entrou no países que se industrializavam na Europa (como a
vocabulário econômico e político do mundo: Alemanha) e em outras regiões do mundo (como nos
14
“capitalismo ”. Portanto, parece apropriado chamar Estados Unidos e Japão) incorporavam as tecnologias
o presente volume de A Era do Capital, um titulo que que surgiam e instalavam suas indústrias em
também faz lembrar a todos nós que a mais consonância com as novas infraestruturas de transporte
importante obra do mais importante crítico do e energia, tornando-se, nesse sentido, mais
capitalismo, O Capital, de Karl Marx (1867), foi competitivos que a antiga potência. A utilização da
publicada nessa época. O triunfo global do eletricidade e do petróleo como combustível trouxe
capitalismo é o tema mais importante da História novos progressos.
nas décadas que se sucederam a 1848. Foi o triunfo No ciclo do petróleo, na primeira metade do século XX,
de uma sociedade que acreditou que o crescimento a indústria automobilística tomou impulso. Carros, trens
econômico repousava na competição da livre elétricos e aviões possibilitaram transportes mais
iniciativa privada, no sucesso de comprar tudo no rápidos e eficientes.
mercado mais barato (inclusive trabalho) e vender
no mais caro. Uma economia assim fundamentada e,
O empresário Henry Ford propôs diversas inovações no
portanto, repousando naturalmente nas sólidas
processo produtivo, com o objetivo de produzir mais em
fundações de uma burguesia composta daqueles
menos tempo. A sistematização desse processo foi feita
cuja energia, mérito e inteligência os elevou a tal
por Frederick Taylor, que procurou intensificar ainda
posição, deveria – assim se acreditava – não
mais o ritmo de trabalho nas fábricas. Propôs a
somente criar um mundo de plena distribuição
execução de tarefas em tempo cronometrado e a
material mas também de crescente esclarecimento,
fixação do trabalhador no seu ponto de serviço, com as
razão e oportunidade humana, de avanço das
peças movidas a esteira. Com essa medida reduziu-se o
ciências e das artes, em suma, um mundo de
tempo de deslocamento dos operários para troca de
contínuo progresso material e moral. HOBSBAWN, Eric
J. A Era Do Capital, 1848-1875. São Paulo: Paz e Terra, atividade ou de ferramentas.
2009.p.22

treinamento e qualificação. Esse fato permite aos empregadores


monitorar e controlar o processo de produção e substituir sem
dificuldades os trabalhadores, o que os priva de poder em suas
relações com os patrões. JOHNSON, Alan. Dicionário de Sociologia.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
13
Doutrina que serviu de substrato ideológico às revoluções
antiabsolutistas que ocorreram na Europa [Inglaterra e França,
basicamente] ao longo dos séculos XVII e XVIII, e à luta pela
independência dos Estados Unidos. O pensamento econômico liberal
constitui-se, a partir do século XVIII, no processo de Revolução
Industrial, com autores como Adam Smith, David Ricardo, Thomas
Malthus, etc. Os princípios do Laissez-faire aplicados aos comércio
internacional levaram à política do livre-cambismo, que condenava as
práticas mercantilistas, as barreiras alfandegárias e protecionistas. A expansão da industrialização para diversos países e a
SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de Economia. São Paulo: aplicação de novas tecnologias à produção e ao
Best Seller, 1999. transporte modificaram profundamente a orientação
14
Sua origem talvez preceda 1848, mas uma pesquisa mais detalhada liberal, característica da Primeira Revolução Industrial.
sugere que raramente tenha ocorrido antes de 1849 e dificilmente
tenha ganho amplo uso antes da década de 1860.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 53
Os novos setores industriais que dominavam o cenário Nessa nova forma de produzir, as diferentes etapas de
econômico dependiam de investimentos maiores que os produção, desde a entrada das matérias-primas até a
realizados até aquele momento, o que tornou saída do produto, são realizadas de forma combinada
necessária a união de vários empreendedores. À época, entre fornecedores, produtores e compradores.
boa parte das industriais passou a contar com a
participação do capital bancário e financeiro.
A matéria-prima que entra na fábrica corresponde
exatamente à quantidade de mercadorias que será
No final do século XIX, a fusão entre o capital industrial produzida e são elaboradas dentro de um prazo
e o capital financeiro e a união de indústrias levou ao estipulado de acordo com os pedidos dos compradores.
aparecimento de gigantescas empresas de alta
tecnologia para o período; originando os oligopólios e os
A difusão do modelo toyotista ampliou os fluxos de
monopólios. As pequenas empresas, que não
mercadorias, acelerando seu ritmo e fazendo novas
acompanharam a nova tendência do desenvolvimento
exigências ao setor de transportes. Além disso,
econômico capitalista, faliram ou foram absorvidas pelas
provocou aumento no fluxo de informações, por
grandes.
exemplo, entre as empresas fabricantes do produto
final, como as montadoras de automóveis e os
fornecedores de peças automotivas.

Com a eficiência das novas tecnologias de informação e


comunicação foi possível acelerar a distribuição de
grande quantidade de informações por diversos países,
criando uma interconexão dos lugares em tempo real.

Essas tecnologias trouxeram a possibilidade de uma


flexibilização da economia, ou seja, mais chances de
adaptação às finalidades propostas. Por esse motivo, o
O caráter desumano do trabalho no modelo de produção capitalismo financeiro passou a ser sinônimo de
fordista/taylorista foi denunciado por Charles Chaplin na sua
obra Tempos Modernos, 1936.
capitalismo flexível. Essa flexibilidade se manifestou na
expansão geográfica das empresas transnacionais, nos
TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O processos produtivos, na organização do trabalho e na
TOYOTISMO expansão do capital financeiro.

A Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico- TECNOLOGIAS DE PROCESSO DE PRODUÇÃO


Científica, começou a tomar forma no final da Segunda
Guerra Mundial, mas os seus efeitos se manifestaram
em todo o mundo, de forma mais intensa, nas últimas A Primeira Revolução Industrial marcou o surgimento da
décadas do século XX e início do século XXI. fábrica, que reuniu todos os trabalhadores, antes
dispersos, dentro de uma única unidade de produção
controlada pelo empresário industrial. As máquinas
Seus efeitos particulares na atividade industrial estão tornaram-se elementos fundamentais do sistema
relacionados ao: produtivo, e o trabalho foi dividido em etapas, feito por
trabalhadores contratados por um salário previamente
 Avanço nos sistemas de telecomunicações e estabelecido.
transportes.
 Desenvolvimento e utilização da informática, tanto nos A elevação da produtividade, porém, não depende
equipamentos (hardwares) quanto nos programas e apenas das máquinas, mas também das tecnologias de
sistemas operacionais (softwares). processo. Foi o que demonstraram os Estados Unidos,
 Desenvolvimento da microeletrônica e da robótica. no início do século XX, em plena Segunda Revolução
Industrial, com a introdução de novas forma de
organização do trabalho e técnicas de produção
Ao mesmo tempo que gera riquezas e amplia as taxas industrial, que possibilitaram a racionalidade extrema do
de lucro, a Revolução Técnico-Científica responde processo de trabalho no interior da fábrica: o taylorismo
também pelo desemprego de milhões de pessoas em e o fordismo.
todo o planeta, pois permite a produção de mais
produtos e serviços com menor número de
trabalhadores. TAYLORISMO E FORDISMO

No Japão, ocorreu a transformação do processo de O taylorismo, idealizado pelo engenheiro norte-


produção de mercadorias na era informacional. Por ser americano Frederick Winslow Taylor (1856-1915), partia
um país com território pequeno, dependente de da concepção de que o trabalho fabril era um conjunto
matérias-primas e com pouco espaço para estocagem de tarefas totalmente independentes umas das outras e
de produtos, o país alterou a produção. Essa nova que não exigia conhecimentos técnicos do trabalhador.
organização ficou conhecida como Just-in-time e foi Para Taylor, o conhecimento de todo o processo
implementada pela primeira vez nos anos 50 na fábrica produtivo era uma atribuição exclusiva do gerente, que
da Toyota. deveria determinar e fiscalizar cada etapa da tarefa a
ser feita no menor intervalo de tempo e sem perda de
qualidade. O objetivo principal era o aumento da
produtividade. Para isso, era necessário controlar todo o
54 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
processo produtivo, dos movimentos dos operários e microeletrônica, da robótica e da informática,
das máquinas e a correta utilização das ferramentas até intensivamente utilizados nesse sistema, viabilizam as
o fluxo das matérias-primas, peças e produtos frequentes mudanças. A flexibilidade de informações,
acabados. por exemplo, entre as empresas fabricantes do produto
final (as montadoras de automóveis) e os fornecedores
de peças (os fabricantes de peças automotivas).
O fordismo foi implantado pelo empresário Henry Ford
(1863-1947) no processo de produção de automóveis, Com o toyotismo, o processo de formação de rede de
no início do século XX. O modelo de produção fordista empresas intensificou-se. O agrupamento de
associava a linha de montagem às técnicas de fornecedores que subcontratam outras empresas agiliza
organização do taylorismo. No processo de produção a produção, reduz os custos e aumenta a produtividade.
fordista, a mercadoria, em processo de montagem, Contudo, pode levar à precarização do trabalho nas
deslocava-se no interior da fábrica para a realização de empresas subcontratadas.
cada etapa de produção. O trabalhador, especializado
em sua tarefa, cumpria-a num tempo predeterminado; o LOCALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA: FATORES
produto continuava a se deslocar até a instalação da DETERMINANTES
última peça.
Por muito tempo a localização das indústrias esteve
ligada à proximidade das jazidas de matérias-primas, do
mercado consumidor ou do litoral. Esse padrão de
localização caracterizou a Primeira e Segunda
Revolução Industrial.

A partir do término da Segunda Guerra Mundial, ocorreu


uma descentralização da produção industrial no mundo
e também no interior de cada país: as transnacionais se
espalharam pelo mundo, sendo as principais
responsáveis pela globalização econômica e pela
Revolução Técnico-Científica.

TRANSNACIONAIS
Linha de Montagem do Ford-T, conhecido no Brasil como Ford
Bigode. As corporações transnacionais são os principais atores
da economia mundial. Cerca de 70% do comércio
TOYOTISMO internacional é realizado pelas empresas transnacionais.

No Japão, o país com um território restrito, dependente


da importação de matérias-primas e com pouco espaço Os conglomerados transnacionais não são,
para estocagem de produtos, foi estruturado um novo verdadeiramente, empresas de muitos países. Eles têm
processo de produção. Esse sistema ficou conhecido um centro de decisões globais localizado no país-sede.
como just-in-time (tempo exato) e foi implementado pela A alta direção do conglomerado geralmente ocupa
primeira vez na metade do século XX, na fábrica da postos de importância nas esferas econômica e política
Toyota. desse país, para o qual é repatriada uma parte dos
lucros obtidos no mundo inteiro. A empresa
transnacional tem pátria. Os Estados Unidos, os países
No interior da fábrica as diferentes etapas da produção,
europeus, o Japão, a Coréia do Sul e a China são as
desde a entrada das matérias-primas até a saída do
pátrias da maior parte delas.
produto, são realizadas de forma combinada entre
fornecedores, produtores e compradores. A matéria-
prima que entra na fábrica corresponde exatamente à Estes conglomerados desenvolveram-se num primeiro
quantidade de mercadoria que será produzida, o que é momento nos Estados Unidos, onde o amplo mercado
feito dentro de um prazo estipulado e de acordo com o interno e a vasta disponibilidade de recursos naturais
pedido dos compradores. Além da eficiência, com contribuíram para a centralização de capitais. Assim,
controle de qualidade total dos produtos, o sistema jus- empresas mais poderosas adquiriram empresas
in-time permite diminuir custos de estocar e garantir o menores, chegando a formar monopólios ou oligopólios
lucro dos empresários. nacionais.

O trabalho especializado e rotineiro da linha de O crescimento de uma empresa global envolve um


montagem do sistema fordista foi substituído por um longo trajeto de centralização de capitais. O
sistema flexível, em que o trabalhador pode ser conglomerado alimentar suíço Nestlé exemplifica esse
deslocado para realizar diferentes funções, de acordo processo, que se desenvolve por meio da compra de
com as necessidades da produção de cada momento. empresas menores e conquista de novos mercados.

No novo sistema, a modificação e a atualização dos


modelos de mercadorias podem ser feitas a partir de
pequenas mudanças nos equipamentos da fábrica,
utilizando-se os mesmos maquinários. Os recursos da
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 55
INDÚSTRIA EXTRATIVISTA

Esse tipo de indústria retira os recursos da natureza


para serem utilizadas por outras indústrias. Ex.:
Mineralógica, Pesca, Extração de Madeira etc.

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

A indústria de transformação fabrica produtos


destinados a satisfazer as necessidades dos seres
humanos e/ ou de outras indústrias no mundo são
classificadas como de transformação, daí a necessidade
de uma fragmentação, daí temos: INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO

SETOR DE BASE OU BENS DE PRODUÇÃO OU São aquelas que refinam certos produtos. Ex.:
PESADA Petroquímica e Beneficiamento de Cereais.

 São aquelas indústrias que servem de base na INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO


confecção de produtos ou matéria-prima para outras
indústrias.
 Transformam grande quantidade de matéria-prima e
Esse tipo de indústria é responsável pelo planejamento
energia. e execução de grandes obras civis, tais como prédios,
viadutos, residências, e outros.
 Localizam-se próximo às fontes fornecedoras de
matéria-prima, e a portos e ferrovias para facilitar o
escoamento da produção. SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL E O MERCADO DE
TRABALHO
Ex.: Petroquímicas, Metalúrgicas, Siderúrgicas e as
de Cimento etc. Por cerca de duzentos anos predominou no mundo a
sociedade industrial. A maior parte dos empregos
vinculava-se direta ou indiretamente à indústria.
INDÚSTRIAS INTERMEDIÁRIAS OU CAPITAL

O ser humano, lentamente, foi se afastando do trabalho


 São as que produzem máquinas, equipamentos, pesado das indústrias. Com isso, cresceu o chamado
ferramentas ou autopeças para outras indústrias. setor de serviços, que faz parte dos setores terciário e
 Estão localizadas geralmente nos grandes centros quaternário. Novas relações humanas e econômicas
urbanos. estão substituindo as antigas formas de emprego.
 Tem o papel fundamental de equipar outras
indústrias, sejam leve ou pesada. Mas também surgiram novas profissões. Somente o
setor de informática criou nos últimos vinte anos cerca
Ex.: Tratores, Perfuradoras, Guindastes, Autopeças, de cinquenta novas atividades.
Componentes Eletrônicos, Motores etc.
Todas essas novidades afetam nosso dia a dia: horários
INDÚSTRIA DE BENS DE CONSUMO OU LEVE e locais de trabalho flexíveis, mudanças nas leis
trabalhistas (nem sempre a favor dos trabalhadores),
maior importância do conhecimento para a conquista de
 São as indústrias que transformam a matéria-prima
um posto de trabalho e, infelizmente, a sobrevivência
em produtos finais ou acabados.
ameaçada daqueles que não conseguiram se adaptar.
 As mesmas se encontram mais espalhadas nos
médios e grandes centros urbanos. (maior parte).
Os defensores das transformações argumentam que
 Estão vinculadas à abundância de mão-de-obra e ao
estamos vivendo uma fase de acomodação, ou seja,
mercado consumidor.
afirma que o desemprego que existe hoje não será tão
 A mesma é subdividida em: duráveis (Ex.: grave no futuro, graças as inovações tecnológicas.
Eletrodomésticos, Automóveis, Móveis etc.) e
semiduráveis (Ex.: Calçados, Vestuários etc.).
Os críticos lembram que essa situação coloca em risco
a estabilidade social, uma vez que grandes massas de
56 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
trabalhadores estão sendo excluídas do processo
produtivo.

INDÚSTRIA – CONCEITOS RELEVANTES

 Truste: Associação financeira construindo uma única


empresa, resultante da fusão de várias outras com o
objetivo de controlar o mercado. Ex.: General Motors.
 Cartel: Acordo comercial entre empresas produtoras,
as quais, embora conservem a autonomia interna,
organizaram-se em forma de sindicatos para distribuir
entre si as cotas de produção e os mercados e
determinar os preços suprimindo a livre concorrência.
Ex.: OPEP, indústrias automobilísticas, cimento no
Brasil.
 Holding: Conjunto de empresas dominadas por uma
empresa central que detém a maioria ou parte CENÁRIOS REGIONAIS NO PLANETA
significativa das ações de suas subsidiárias e
geralmente atua em vários setores da economia, Atualmente, há indústrias de diferentes tipos espalhadas
formando um conglomerado. pelo planeta. No entanto, alguns países e regiões (como
 Conglomerado: Grupo econômico, ajuntamento. Estados Unidos, União Europeia e Japão) se destacam
 Hi-Tech: Refere-se à tecnologia de ponta.
por terem sido quem primeiro se desenvolveu
industrialmente e hoje abrigam os maiores grupos
 Monopólio: Situação em que uma única empresa
industriais do mundo. Os países emergentes como os
controla a oferta e os preços de um determinado chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África
produto ou serviços, garantindo-lhe um do Sul), que também vêm se firmando como grandes
superfaturamento. exportadores de produtos industrializados, integram-se
 Oligopólio: Conjunto de empresas que domina, ao mercado mundial a partir de trajetórias muito
determinado setor da economia ou produto colocado no diferentes.
mercado.
 Joint-Venture: Associação econômica de riscos de
ESTADOS UNIDOS: A REORGANIZAÇÃO
duas empresas que geralmente podem ser de TERRITORIAL DA INDÚSTRIA
nacionalidades diferentes, porém de um mesmo setor
com objetivo de expansão de mercado.
 Commodites: Nas relações comerciais estrangeiras o
A industrialização estadunidense começou na porção
termo designa um tipo particular de mercadorias em Nordeste do país, onde se desenvolveram as indústrias
estado bruto ou matéria-prima de importância comercial. de consumo da Nova Inglaterra, impulsionadas pelos
Ex.: Lã, algodão, café, cobre, ferro etc. centros comerciais e bancários do Atlântico, como Nova
Iorque e Boston. Mas, desde o final da Guerra Civil
 Dumping: Venda de produtos a preço inferior ao seu
(1861-1865), o eixo industrial passou a se deslocar para
valor real com objeto de eliminar a concorrência e o interior, na direção das bacias carboníferas dos
conquistar o mercado. Montes Apalaches e das cidades da região dos Grandes
 Know-How: Refere-se aos diferentes tipos de Lagos.
conhecimentos técnicos, administrativos e culturais.
 Royalt: Valor pago ao detentor de uma marca,
Nas últimas décadas do século XIX emergiu uma
patente, processo de produção, produto ou obra original estrutura espacial centralizada por um vasto e nítido
pelos direitos de sua exploração comercial. polo industrial: o Manufacturing Belt, ou Cinturão
 Multinacionais (Transnacionais): São firmas Fabril, no nordeste e nos Grandes Lagos. Nessas áreas
(indústrias, bancos, empresas de transporte ou de desenvolveram-se as indústrias de bens de produção,
comunicações etc.) que possuem estabelecimentos em baseadas no carvão e minério de ferro, e nasceu a
inúmeros países, muitas vezes em todos os continentes. indústria automobilística. A navegação através do Rio
São Lourenço foi interligada por grandes obras de
Alguns autores falam em empresas transnacionais, que engenharia ao sistema lacustre, abrindo toda a região
estariam acima ou seriam independentes do poder dos às embarcações que cruzavam o Oceano Atlântico. Os
Estados-nações. Elas constituem na realidade as firmas centros siderúrgicos de Chicago e Pittsburgh se
multinacionais (não todas, mas algumas) que já não são interligaram à indústria mecânica, concentrada em
mais norte-americanas, japonesas ou alemãs e sim Detroit. Logo, essa área passou a representar cerca de
mundiais, ou seja, empresas cujas filiais não seguem as três quartos da produção industrial nacional.
diretrizes da matriz, pois possuem interesses próprios e
às vezes até conflitantes com o país no qual se Após a Segunda Guerra Mundial, um conjunto de
originaram. fatores contribuiu para abalar a supremacia industrial do
Manufacturing Belt. Um Volume crescente de
investimentos industriais passou a se dirigir para o sul e
para o oeste; a política de construção de estradas de
rodagem e os programas de desenvolvimento das
bacias dos rios Tennessee e Colúmbia dinamizaram
novas áreas; os campos petrolíferos do Golfo do México
e da Califórnia, com produção crescente, atraíram mais
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 57
investimentos e a reconstrução econômica do Japão, indústria. O maior centro industrial fica na megalópole
por seu turno; despertou o interesse comercial pela por Yokohama, Nagoya e Kyoto.
Bacia do Pacífico e, portanto, pela costa oeste.
POLOS INDUSTRIAIS JAPONESES
Essas transformações originaram o chamado San Belt,
o Cinturão do Sol, que abrange as variadas novas

áreas, emergentes do sul e do oeste. O dinamismo


econômico dessas áreas contrasta com a estagnação
ou mesmo regressão do Manufacturing Belt.

A metalurgia de não ferrosos beneficiou-se das vastas


reservas de cobre, chumbo, níquel e outros minerais da
área das Montanhas Rochosas, na região de Salt Lake
City. As indústrias siderúrgicas implantadas no pós-
guerra foram atraídas pelas reservas de ferro e carvão
de Birmingham, no estado do Alabama, ou para a região
de Los Angeles, na costa do Pacífico, onde a sucata é
utilizada como matéria-prima.

A eletrônica e a informática oferecem um bom exemplo


dessas novas localizações. Na Califórnia, formou-se o
célebre Vale do Silício. A concentração industrial
estrutura-se em torno da Baía de São Francisco, num
conjunto de pequenas localidades onde estão centenas
de empresas que produzem computadores (Apple e HP
– Hewlett Packard) e softwares para a internet.

A Universidade de Stanford forma grande parte dos


quadros científicos e técnicos que atuam nessas
empresas. No Texas, as cidades de Dallas, Houston e
Austin tornaram-se centros de emergentes de produção A industrialização japonesa ocorreu a partir de 1868,
industrial e tecnológica. início da Era Meiji, que corresponde ao reinado do
Imperador Mutsuhito (1868-1912).
15
UNIÃO EUROPEIA O período marcou o fim do xogunato e o surgimento
das empresas familiares denominadas zaiabatsus. As
zaiabatsus foram proibidas durante a ocupação norte-
Os países da UE apresentam diferenças significativas
americana, após a Segunda Guerra Mundial, mas
do ponto de vista industrial. Alemanha, França, Itália e
ressurgiram durante o processo de recuperação
Reino Unido, por exemplo, têm participação industrial
econômica japonesa. É o caso, por exemplo, das
absoluta elevada, enquanto Estônia, Letônia, Lituânia,
empresas Mitsubishi, Mitsui e Sumitomo.
Bulgária, Romênia e Eslováquia apresentam
desenvolvimento industrial abaixo da média.
Nos últimos cinquenta anos, o Japão não só
acompanhou o ritmo de desenvolvimento tecnológico
A entrada de países de menor desenvolvimento na EU
mundial como chegou a lidera-lo em alguns setores.
exige investimentos do conjunto de países do bloco,
Criou seus próprios tecnopolos e é o país que mais
principalmente em infraestrutura. Foi o que aconteceu
investiu no processo de robotização industrial no
com Portugal e Espanha, na década de 1990. A EU tem
planeta.
várias regiões industriais tradicionais muitas delas
surgidas ainda nos séculos XVIII e XIX. É o caso de
Manchester, Birmingham, Cardiff e várias cidades ao Nos mercado externo, o Japão passou a sofrer com a
longo do rio Tâmisa, no Reino Unido; dos vales do Reno competitividade industrial de seus vizinhos mais
e Ruhr, onde estão as cidades de Duisburgo, próximos, como a Coreia do Sul, Taiwan, China e
Dusseldorf, Essen e Colônia, na Alemanha; da região de outros. Ao mesmo tempo, encontrou limitações para a
Paris, Lyon e da Alsácia-Lorena (Metz e Estrasburgo), ampliação de seu mercado interno.
na França; das cidades de Milão, Turim E Gênova, no
norte da Itália. CHINA: UMA NOVA POTÊNCIA INDUSTRIAL
JAPÃO
A partir da década de 1960, uma profunda crise abalou
No Japão, os principais parques industriais situam-se praticamente todos os países socialistas, inclusive a
junto ao litoral do Pacífico, na costa leste. O intenso
comércio externo japonês, que inclui volumosas
exportações industriais (automóveis, eletroeletrônicos, 15
Xogunato: sistema de organização social e econômica do Japão que
equipamentos de telecomunicação) e importação de antecedeu a Era Meiji e dominou a história medieval japonesa. O
matérias-primas (minério de ferro, petróleo, carvão xogum era um chefe militar que governava de fato o Japão. As terras
mineral), determinou a concentração litorânea de sua pertenciam aos daimyos que se beneficiavam com a cobrança de
impostos dos camponeses.
58 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
China. A produtividade agrícola e os bens de consumo
eram insuficientes para atender a população, mas
CHINA, A MEGAPOTÊNCIA
nenhuma medida eficaz foi tomada para resolver os
problemas econômicos. Em 1976, logo após a morte de
Mao Tse-tung a China foi o primeiro país socialista a “No dia em que a China acordar...”, dizia-se
realizar transformações econômicas e a dinamizar a antigamente, deixando no ar a ideia de uma ameaça
economia. gigantesca sobre o planeta. Hoje temos plena
consciência de que aquele imenso país, de fato,
acordou. E é importante questionar as
Em 1978, sob a liderança de Deng Xiaoping, o Partido
consequências que seu impressionante despertar
Comunista Chinês reintroduziu a economia no mercado
pode ter para o mundo todo.
em quatro regiões da China, denominadas Zonas
Econômicas Especiais (ZEEs), e me quatorze cidade
litorâneas, que se transformaram em Zonas De Um colosso demográfico (1,3 bilhão de habitantes),
Comércio Aberto (ZCAs). a China só começou sua grande reforma econômica
após a morte de Mao Zedong, em 1976, e,
principalmente, a partir de 1978, quando Deng
As ZEEs foram idealizadas por Deng Xiaoping e
Xiaoping assumiu o poder. Baseado na abundância
implantadas a partir do início dos anos 1980. Nelas é
de uma mão-de-obra mal remunerada, na
permitido o funcionamento de uma economia nos
importação maciça de fábricas montadoras, na
moldes capitalistas. Constituíram o modelo chinês para
exportação de produtos baratos e no afluxo de
suplantar a estagnação econômica que, naquele
investimentos estrangeiros, seu modelo de
momento, atingia o conjunto dos países socialistas e os
desenvolvimento foi considerado, durante muito
afastava cada vez mais do nível de desenvolvimento do
tempo, como “bastante primitivo”, característico de
mundo capitalista.
um país atrasado e mantido, com mão de ferro, por
um partido único – até o controle de sua demografia
As ZCAs são regiões abertas ao comércio exterior e seria conduzido de forma autoritária.
também à entrada de multinacionais, desde que
respeitadas as restrições e que se associem ao governo
Com crescimento que superou os 9% ao ano, esse
ou a empresários chineses por meio de joint ventures.
“comunismo democrático de mercado” representou
um aumento do nível de vida para milhões de
As cidades escolhidas para a criação dessas zonas de famílias.
economia de mercado abriram-se para os investimentos
estrangeiros e nelas se estabeleceram medidas
No entanto – e apesar de continuar sendo comunista
semelhantes às adotadas nos Tigres Asiáticos: baixos
–, não só a China deixou de fazer medo como, na
impostos, isenção para a importação de máquinas e
euforia da globalização incipiente, foi apresentada
equipamentos industriais e facilidades para a remessa
para centenas de empresas, que para lá transferiram
de lucros ao exterior. Além disso, as empresas que se
suas fábricas (após terem demitido milhões de
instalaram nessas regiões contam com mão de obra
trabalhadores), como uma verdadeira sorte grande
industrial muito barata, o que torna o preço dos produtos
para investidores atentos. Em pouco tempo, graças
de baixo porte tecnológico imbatíveis no mercado
à rede de “zonas econômicas especiais”, instaladas
internacional. Num segundo momento, instalaram-se
ao longo de sua orla marítima, a China tornou-se
montadoras de automóveis como a Volkswagen e
uma fenomenal potência exportadora. E passou a
General Motors, e as de equipamentos eletroeletrônicos.
liderar os exportadores mundiais de têxteis-
vestuário, calçado, produtos eletrônicos e
Às multinacionais que se estabeleceram na China brinquedos. Seus produtos invadiram o mundo. Em
interessava, antes de tudo, entrar num país que abriga a particular, o mercado dos Estados Unidos,
quinta parte da população mundial e que pode se provocando em seu favor um desequilíbrio
transformar em pouco tempo num dos maiores gigantesco: em 2003, o déficit comercial norte-
mercados consumidores do mundo. americano para com Pequim chegou a 130 bilhões
de dólares!

Em pouquíssimo tempo, a China, que assustava


enquanto potência de exportações, tornou-se um
país importador cuja voracidade insaciável é
seriamente inquietante

CAPITALISMO CHINÊS

O furor de exportar provocaria uma decolagem


espetacular do crescimento que, nas últimas duas
décadas, superou os 9% ao ano! Esse “comunismo
democrático de mercado” também representou um
aumento do poder aquisitivo e do nível de vida para
milhões de famílias. E proporcionou a escalada de
um verdadeiro capitalismo chinês. Paralelamente, o
Estado se lançou numa modernização do país em
Porto de Xangai, o maior do planeta. ritmo acelerado, multiplicando a construção de
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 59
infraestruturas: portos, aeroportos, rodovias, acionista majoritário. A indústria bélica e a exploração
estradas de ferro, pontes, barragens, arranha-céus, de petróleo também permanecem exclusivas de
estádios para os Jogos Olímpicos de Pequim, em monopólios estatais.
2008, instalações para a Exposição Universal de
Xangai, em 2010 etc.
Mas se há problemas sérios a enfrentar nesses setores
e em outras atividades relacionadas às indústrias
Essa massa descomunal de obras e a nova febre de tradicionais, como a têxtil, a metalúrgica, a siderúrgica, a
consumo dos chineses acrescentaram uma nova alimentícia e a de calçados, existe dinamismo em
dimensão à economia: em pouquíssimo tempo, a setores modernos e inovadores, como as multinacionais
China, que assustava enquanto potência de da indústria eletrônica, a indústria de softwares e o setor
exportações invasora, tornou-se um país importador de serviços, grandes destaques da globalizada
cuja voracidade insaciável é seriamente inquietante. economia indiana.
No ano passado, foi o principal importador mundial
de cimento (importou 55% da produção mundial), de
carvão (40%), de aço (25%), de níquel (25%) e de
alumínio (14%). E o segundo principal importador
mundial de petróleo, depois dos Estados Unidos.
Essas importações maciças provocaram uma
explosão de preços nos mercados mundiais. Em
especial, os do petróleo.

Admitida na Organização Mundial do Comércio


(OMC) em 2001, a China é atualmente uma das
maiores economias do mundo – na realidade, a
sexta. Puxa o crescimento em escala planetária e
qualquer sobressalto que ocorra com ela tem um
impacto imediato sobre o conjunto da economia
mundial. “Apesar da velocidade de nosso
crescimento”, pondera o primeiro-ministro Wen
Jiabao, “a China ainda é um país em vias de
desenvolvimento e ainda nos faltam uns cinquenta Trem de passageiros para a cidade de Goverdhan, a 145
anos de crescimento para nos tornarmos um país quilômetros de Nova Délhi.
medianamente desenvolvido.”

A capital do país é Nova Délhi, mas é Mumbai (antiga


Segundo maior poluidor do planeta, a China se Bombaim) que se destaca como principal centro
tornará o primeiro, soltando massas descomunais financeiro e industrial. Ali se localizam empresas da
de gases de efeito-estufa que agravarão as indústria cinematográfica que mais produzem películas
mudanças climáticas. no mundo. O estúdio Bollywood – a Hollywood indiana –
chega a finalizar mais de 200 longas metragens por ano,
ÍNDIA de um total de quase 1000 produzidos em todo o país.

Com mais de 1,2 bilhão de habitantes, a Índia é, ao lado No sul destaca-se a cidade de Bangalore, tecnopolos
da China, o país com maior potencial de consumo e indiano que centraliza pesquisas de alta tecnologia
crescimento econômico do planeta. Depois de se tornar associadas às indústrias aeroespacial e de satélites, de
independente da Grã-Bretanha, após a Segunda Guerra aviões, softwares, supercomputadores e de
Mundial, os governos aderiram a um forte nacionalismo. biotecnologia, dentre outras. Na cidade moram mais
Na última década, realizou amplas reformas públicas, engenheiros especializados em novas tecnologias que
que dinamizaram a indústria nacional e garantiram a no Vale do Silício (EUA). Recebem salários quatros a
entrada, em grande escala, de investimentos diretos cinco vezes menores que os técnicos estrangeiros, fator
estrangeiros. Ao contrário de países latino-americanos, que leva as multinacionais a deslocarem seus centros
a Índia não trilhou os caminhos propostos pela de pesquisa e tecnologia para o tecnopolo indiano.
Consenso de Washington: realizou uma abertura de
mercado progressiva e uma privatização controlada.

Um dos grandes entraves ao desenvolvimento industrial


indiano está relacionado à infraestrutura. Há carências
na geração de energia e na rede de distribuição; as
ferrovias cobrem todo o país – herança do colonialismo
britânico –, mas estão obsoletas; o sistema portuário
precisa ser modernizado; a produção da indústria de
base é insuficiente para acompanhar o dinamismo
industrial. No entanto, o governo indiano não abriu mão
do controle desses setores, em razão de sua
importância estratégica. Algumas grandes indústrias
estatais dos setores automobilístico (Maruti e Tata), de
refino de petróleo, petroquímico e de alumínio foram
abertas à participação privada, mas o governo ainda é o
60 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Bangalore, sul da Num primeiro momento esse desenvolvimento esteve
focado nos países latino-americanos, sobretudo, Brasil,
Argentina e México, e a partir dos anos 1960 o eixo
desloca-se para o Extremo Oriente e Sudeste Asiático:
Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura (velos
tigres asiáticos). A partir dos anos 1980, os outros
países do Sudeste Asiático passaram a integrar o grupo:
Malásia, Tailândia, Indonésia, Vietnã e Filipinas (novos
tigres asiáticos).

AMÉRICA LATINA

No caso de Brasil, Argentina e México, a


industrialização baseou-se na substituição de
importações. Os bens de consumo, antes importados,
passaram a ser produzidos internamente. Daí o nome
Índia. ao processo de industrialização desses países: indústria
substitutiva de importação (ISI).
Esses fatores, aliados ao uso da língua inglesa por
grande parte da população e ao crescimento de Após a década de 1950, a substituição de importações
mercado interno, garantem a entrada dos investimentos apoiou-se na internacionalização do mercado interno.
externos, sobretudo no setor de serviços tecnológicos. Brasil, Argentina e México atraíram investimentos
internacionais, para acelerar o desenvolvimento da
Outro grande destaque está relacionado ao setor de indústria, oferecendo mão de obra barata e numerosa,
serviços. Empresas de outros países subcontratam investimentos estatais em infraestrutura e mercado
empresas indianas para serviços de telemarketing e call interno.
center, que incluem atendimento ao cliente e O modelo de substituição de importações teve suas
informações telefônicas, graças à qualificação da mão particularidades em cada país e entrou em crise em
de obra, aos baixos salários e à fluência em língua 1980 em razão de fatores como:
inglesa.
 Abertura da economia dos países subdesenvolvidos
ao comércio internacional, em boa parte motivada pela
pressão dos países desenvolvidos.
 Novas estratégias das multinacionais como a
produção de redes mundializadas, cujas etapas se
distribuem em países em que a redução de custo é
maior.
 Processo de privatização apoiado no modelo
neoliberal, que retirou da competência dos Estados o
controle de alguns setores industriais estratégicos.

Na década de 1990, os países industrializados da


América Latina seguiram em boa medida o receituário
do Consenso de Washington. Realizaram a privatização
da economia e abriram-se indiscriminadamente ao
mercado externo, incentivando a entrada de empresas
estrangeiras, que passaram a controlar setores como os
de energia, telecomunicações, transporte e indústria de
base.

VELHOS TIGRES ASIÁTICOS/ TIGRES DE


”PRIMEIRA GERAÇÃO”

A partir da década de 1960, quatro países da Ásia


Imagens de Call Centers na índia.
(Cingapura, Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan)
surpreenderam o mundo com um processo de
NEWLY INDUSTRILALIZED COUNTRIES industrialização espetacular. Com agilidade
administrativa, competitividade, participação crescente
A partir dos anos 1950, a produção industrial no mercado internacional e uma política agressiva de
disseminou-se por vários países subdesenvolvidos, que exportações, passaram a ser chamados de Tigres
foram agrupados sob a sigla NIC (Newly Industrialized Asiáticos. Diferentemente dos outros países
Countries), países recém-industrializados, ou ainda subdesenvolvidos que também se industrializavam
chamados de Novos Países Industrializados. durante esse período, os Tigres, excetuando-se a
Coreia do Sul, tinham um mercado interno reduzido e
não possuíam recursos minerais.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 61
Também de modo diferente dos países latino- às Nações Amigas, o Brasil continuou dependente do
americanos, os NICs asiáticos apoiaram-se na chamada exterior, porém, a partir deste momento, dos produtos
industrialização orientada para a exportação (IOE). As ingleses.
multinacionais que se estabeleceram nesses países, e
mesmo as empresas nacionais, tinham como objetivo
Inclusive por essas condições, a agricultura tornou-se a
principal o comércio externo. Daí a expressão
principal atividade econômica do Brasil, durante o
―plataformas de exportação‖ para designar os países
mercantilismo. Pelo pacto colonial, coube ao Brasil,
dessa região asiática, hoje ampliada com a presença da
fornecer à metrópole produtos agrícolas tropicais e seus
China, Vietnã, Malásia, Indonésia e Filipinas. Se no
derivados.
modelo de substituição de importações (ISI)
preponderou a participação do capital norte-americano e
do europeu, no de industrialização para a exportação No Brasil, a indústria deu seus primeiros passos ainda
(IOE) a principal fonte de investimentos foi o capital no século XIX, quando nos tornamos um Império, o café
japonês. No caso da China, porém, os investimentos se tornou o principal responsável pelas mudanças
norte-americanos também foram expressivos. sociais e econômicas do nosso país. A economia
cafeeira, dominante nesse período, dinamizou as
atividades urbanas, estimulou a imigração europeia e
Embora cada Tigre tenha traçado seu modelo de
gerou um empresariado nacional com capacidade de
desenvolvimento industrial, os Tigres tiveram
investir em alguns setores industriais.
conjuntamente forte apoio de seus respectivos
governos, que criaram a infraestrutura necessária,
financiaram as instalações industriais e investiram em Em 1850 devido à pressão da Inglaterra, houve o fim do
educação, tecnologia e treinamento de mão de obra. tráfico negreiro para o Brasil, o que atraiu vários
Ainda foram criadas as ZPEs (Zonas de Processamento imigrantes para as lavouras de café que andava em alta.
de Exportações), com isenção de impostos e terrenos
cedidos pelo Estado. Os imigrantes trouxeram hábitos de consumo de
produtos industrializados e alguma experiência em
A partir dos anos 1990, os Tigres de ―primeira geração‖ relação ao processo de produção industrial e ao
priorizaram a instalação de empresas de produtos de trabalho como operários. Aos poucos, formou-se um
alta tecnologia, como componentes para computadores mercado interno, que se ampliou, no final do século XIX,
e microeletrônicos, elevando os salários para se livrar com a abolição da escravidão e a intensificação do
das indústrias estrangeiras que fabricavam produtos de processo de imigração.
tecnologia pouco avançada e se instalavam em seu
território em razão apenas da mão de obra barata. Indústrias de alimentos, calçados, tecidos, confecções,
velas, fundições e bebidas se espalharam rapidamente,
NOVOS TIGRES ASIÁTICOS/TIGRES DE “SEGUNDA sobretudo no estado de São Paulo, centro da atividade
GERAÇÃO” cafeeira e principal porta de entrada dos imigrantes.
Apesar de todos os avanços da industrialização, a
economia ainda era comandada pela produção agrícola,
Os Tigres expandiram sua economia para países
especialmente de café.
vizinhos no Sudeste Asiático e criaram os Tigres de
Segunda Geração: Indonésia, Vietnã, Malásia, Tailândia
e Filipinas. Além dos investimentos dos quatro Tigres EXPANSÃO CAFEEIRA
originais, os Novos Tigres passaram a fazer parte das
redes de negócios de empresas dos Estados Unidos, do
Japão e outros países desenvolvidos. Nos territórios dos
Novos Tigres, foram instaladas indústrias tradicionais
como têxteis, alimentícias, de calçados, de brinquedos e
de produtos eletrônicos. Os países ofereciam mão de
obra menos qualificada que a encontrada nos quatro
Tigres originais, mas muito mais barata. Milhares de
pequenas empresas surgiram em cada um dos Novos
Tigres para produzir mercadorias e fornecer serviços
sob encomenda para outros lugares.

A Tailândia, por exemplo, exporta hoje mais produtos


têxteis e eletroeletrônicos do que arroz e borracha, seus
tradicionais itens de exportação. Um aspecto importante
do crescimento econômico desses países é o fato de
receberem investimentos dos primeiros Tigres Asiáticos, RODRIGUES, João Antônio. Atlas para estudos sociais. Rio de
o que reforça o dinamismo econômico dessa região do janeiro, 1977.p.26
Pacífico.
No início do século XX, a indústria continua a crescer e
Enquanto o Brasil foi colônia de Portugal (1500 a 1822) a aumentar sua participação na economia brasileira.
não houve desenvolvimento industrial em nosso país. A Algumas indústrias eram estrangeiras, mas
metrópole proibia o estabelecimento de fábricas em predominavam as nacionais, na maioria desenvolvidas
nosso território, para que os brasileiros consumissem os por imigrantes, muitas delas inicialmente a partir de
produtos manufaturados portugueses. Mesmo com a pequenas oficinas artesanais.
chegada da família real (1808) e a Abertura dos Portos
62 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
A IMIGRAÇÃO cimento, aço, materiais de transportes e extração
mineral.
A imigração em massa foi um dos traços mais
importantes das mudanças socioeconômicas A primeira metade da década de 1940, ainda no
ocorridas no Brasil a partir das últimas décadas do governo Vargas, foi decisiva para a criação de uma
século XIX. O Brasil foi um dos países receptores de infraestrutura industrial, com a fundação da Companhia
milhões de europeus e asiáticos que vieram para as Siderúrgica Nacional, da Companhia Vale do Rio Doce,
Américas em busca de oportunidade de trabalho e da Companhia Nacional de Álcalis, da Fábrica Nacional
ascensão social. Ao lado dele figuram outros os de Motores e outras. No segundo governo de Vargas
Estados Unidos, a Argentina e o Canadá. (1951-1954) foi criada a Petrobrás (1953). Todas as
empresas tinham participação majoritária do capital
estatal.
Cerca de 3,8 milhões de estrangeiros chegaram ao
Brasil entre 1887 e 1930. O período 1887-1914
concentrou o maior número de imigrantes, com a
cifra aproximada de 2,74 milhões, cerca de 72% do
total. Essa concentração se explica, além de outros
fatores, pela forte demanda de força de trabalho
naqueles anos para a lavoura de café. A Primeira
Guerra Mundial reduziu muito o fluxo de imigrantes.
Após o fim do conflito constatamos uma nova
corrente imigratória, que se prolonga até 1930.

A partir de 1930, a crise mundial iniciada em 1929,


assim como as mudanças políticas no Brasil e na
Europa, fizeram com que o ingresso de imigrantes
como força de trabalho deixasse de ser significativo.
FAUSTO, BORIS. História Concisa do Brasil. São Paulo:
EDUSP, 2009.p.154.

CRISE DE 1929 E O DESENVOLVIMENTO


INDUSTRIAL NO BRASIL – DE PAÍS AGRÁRIO A Propaganda do sedan Hudson, 1941, revista O Cruzeiro.
URBANO-INDUSTRIAL A grande e decisiva arrancada industrial ocorreu a partir
da década de 1950 com o chamado Plano de Metas no
governo Juscelino Kubitschek (1956-1961). A eleição
Num primeiro momento, a depressão econômica teve de JK representou o início do rompimento com a política
efeito devastador no Brasil. O país tinha sua base nacionalista de Vargas. O novo modelo nacionalista
econômica construída a partir da exportação de gêneros defendido por JK, concentrava-se no estímulo da
agrícolas. Com a crise, grande parte do volumoso produção local, não levando em conta a origem dos
estoque de café produzido no Brasil ficou sem mercado capitais investidos, esse fato marca o início da
consumidor. O Brasil não conseguiu conter o desastre internacionalização do parque industrial brasileiro.
econômico que abalou a classe cafeicultora, e por
consequência abalou as próprias estruturas políticas da
República Velha, abrindo caminho para a Revolução de
1930, que levaria Getúlio Vargas ao poder. Vargas toma
o poder por meio de um golpe de Estado contra o
domínio da oligarquia agrária que comandara o país na
primeira fase da República (1889-1930). Até 1920, o
contexto econômico do país não estimulava
significativamente o desenvolvimento industrial, mas a
crise introduziu mudanças nesse quadro. O violento
corte nas importações de bens de consumo criou uma O Plano de Metas que tinha com objetivo "crescer
conjuntura favorável ao investimento, por parte do cinquenta anos em cinco‖. Desenvolver a indústria de
empresariado, na indústria nacional. As indústrias base, investir na construção de estradas e de
brasileiras passaram a ocupar então boa parte do hidrelétricas e fazer crescer a extração de petróleo, tudo
mercado, que antes era praticamente abastecido só por com o objetivo de arrancar o Brasil de seu
produtos importados. Foi a partir daí (dos anos 1930- subdesenvolvimento e transformá-lo num país
1940) que a indústria transformou-se num setor industrializado. Os industriais brasileiros continuavam
importante da economia, alcançando taxas de investindo nos setores tradicionais (tecido, móveis,
crescimento superiores às do setor agrário. Por essa alimentos, roupas e construção civil), e as
razão, afirma-se que o primeiro momento da multinacionais entravam no Brasil pela primeira vez,
industrialização brasileira baseou-se na substituição de para a produção de bens de consumo.
importações. Além disso, o Estado passou a estimular
os empresários industriais, que, em 1931, já haviam se
organizado em São Paulo, com a criação da FIESP. O plano teve tanto consequências positivas quanto
Logo no primeiro ano do Governo Vargas a economia negativas para o país. Por um lado, deu-se a
diversificou-se tanto no setor industrial como no setor modernização da indústria; por outro, o forte
agrário. Ao lado das indústrias têxtil, alimentícia e de endividamento internacional por causa dos
confecção, apareceram outros setores, como os de empréstimos, que fizeram possível a realização do
plano e a dependência tecnológica. Isto sem falar no
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 63
grande êxodo rural, porque, à medida em que os institucionalizada‟, declinava, estabilizando-se em
centros urbanos se desenvolviam, as características da torno de 20 a 25% ano ano [...]
vida rural não progrediam e reformas não eram
implementadas. O Plano de Metas dividiu-se em 31
Em setembro de 1970, a Bolsa de Valores do Rio de
metas que privilegiavam 4 setores da economia
Janeiro bateu o recorde de volume de transações
brasileira: energia, transporte, indústrias de base e
em toda a sua história, negociando 24 milhões de
alimentação.
cruzeiros num só dia, fato que se repetiria no ano
seguinte. Emílio Garrastazu Médici. Dicionário Histórico-
A DITADURA E O MILAGRE ECONÔMICO Biográfico Brasileiro. FGV/CPDOC.

Durante a Ditadura Militar, a indústria doméstica A partir de 1967, retomou-se o processo de


continuava protegida da concorrência internacional desenvolvimento, graças à conjuntura favorável no
pelas elevadas tarifas de importação. Entretanto, a plano internacional, que contava com um excesso de
estrutura produtiva passou a ser dominada por três liquidez, ou seja, dólares à procura de aplicação.
agentes: o capital estatal (que predominava nos setores Aproveitando a situação, o ministro Delfim Netto lançou
de infraestrutura e de bens de produção), o capital o plano de combate à inflação, assentado em duas
privado nacional (dominava o setor de produção de bases: o endividamento externo para a obtenção da
bens de consumo não duráveis, tais como têxteis, tecnologia estrangeira e a concentração da renda para
alimentos, calçados, etc) e o capital transnacional (que criar um mercado consumidor. Esse plano garantiu um
destacava-se principalmente no setor de bens de crescimento econômico, mas condenou o mercado a se
consumo duráveis, que se tornou o mais dinâmico da desenvolver de uma forma distorcida, aumentando as
economia brasileira). desigualdades sociais. Outro lado negativo foi a perda
da soberania nacional, em razão da dominação da
A partir da segunda metade do século XX o setor nossa economia pelas multinacionais.
automobilístico torna-se o setor industrial de maior
destaque no cenário nacional, acompanhado de perto O PÓS-1985
pelos eletrodomésticos.
A década de 1980 ficou conhecida como a década
O ―sucesso‖ deste modelo econômico teve como perdida e foi caracterizada pela recessão, inflação e
suporte: a visão autoritária do regime militar, a abertura desemprego, gerados por uma economia estagnada
do Estado às elites capitalistas, a exploração da mão- após o segundo choque do petróleo de 1979. Nesse
de-obra, a grande concentração de renda e o elevado contexto, vários setores da sociedade apontavam o fim
endividamento externo. Já no fim da década de 1960, o do Regime Militar, como ―saída‖ para a crise, mas os
país amplia seu parque industrial e vem à tona o problemas continuaram (como a inflação elevada) com
chamado milagre econômico brasileiro (1968-1974), os governos civis no poder, fato que comprometeu a
período no qual a economia brasileira crescia a taxas nossa industrialização.
anuais de 9%, um crescimento comparado somente ao A grave crise econômica iniciada em 1988 e a
japonês e ao alemão do período 1950 e 1960. globalização da economia mundial foram os pontos de
partida para o surgimento de um novo modelo
econômico, que promoveu a intensificação dos fluxos
internacionais de capitais nos mercados financeiros e
abertura das economias nacionais ao comércio global.

Os governos de Fernando Collor de Melo (1990-1992) e


Itamar Franco (1992-1994) iniciaram essa abertura. Em
1991 iniciou-se o Programa Nacional de Desestatização,
com grande participação de capitais provenientes dos
Estados Unidos, Espanha e Portugal.

Em junho de 1994, a moeda brasileira passou a ser o


real. A mudança da moeda era parte de um plano
econômico maior, que tinha como objetivo central o
combate a inflação e a estabilização da economia
brasileira. A ilusão da moeda forte e do consumo fácil
fez com que o país entrasse as cegas na modernidade.
A construção da ponte Rio-Niterói (RJ), 1974, foi uma das
obras que mais marcaram o período do milagre econômico.
A verdade é que do século XX para o século XXI, o
MILAGRE ECONÔMICO? desenvolvimento industrial-tecnológico, colocou o Brasil
entre as maiores economias no Mundo, sendo
considerado um dos mercados emergentes nesse início
Entre 1968 e 1974, a economia brasileira sofreria
de século. Entretanto, grande parte da população ainda
uma notável expansão, refletida no crescimento
encontra-se excluída do mercado consumidor dos
acelerado do PIB. O período, que ficou conhecido
produtos industriais e o abismo entre os ricos e pobres
como „milagre brasileiro‟ em alusão aos „milagres‟
tem se acentuado ainda mais.
alemão e japonês, seria marcado por taxas de
crescimento excepcionalmente elevadas, que foram
mantidas, enquanto a inflação, „controlada e
64 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS INDÚSTRIAS NO Por isso, as grandes metrópoles são também os núcleos
BRASIL POR REGIÕES culturais mais desenvolvidos do país.

Até por volta da segunda metade do século XX o Brasil DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL


não possuía um mercado nacional consolidado muito
menos um espaço geográfico de fato integrado. Na
Atualmente, seguindo uma tendência mundial, o Brasil
verdade, o país mais se assemelha a um ―arquipélago‖
vem passando por um processo de descentralização
com a existência de verdadeiras ―ilhas‖ de economia
industrial, chamada por alguns autores de
primárias voltada para a exportação. A partir da década
desindustrialização, que vem ocorrendo
de 50, pela primeira vez na história, o Brasil deixa de ser
intrarregionalmente e também entre as regiões.
um país essencialmente agrário e a industrialização
passou a comandar a economia nacional.
Dentro da Região Sudeste há uma tendência de saída
do ABCD Paulista, buscando menores custos de
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS INDÚSTRIAS
produção do interior paulista, no Vale do Paraíba, ao
longo da Rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo à
Belo Horizonte. Estas áreas oferecem, além de
incentivos fiscais, menores custos de mão-de-obra,
transportes menos congestionados e por tratarem-se de
cidades-médias, melhor qualidade de vida, o que é vital
quando trata-se de tecnopolos.

A desconcentração industrial entre as regiões vem


determinando o crescimento de cidades-médias dotadas
de boa infraestrutura e com centros formadores de mão-
de-obra qualificada, geralmente universidades. Além
disso, percebe-se um movimento de indústrias
tradicionais, de uso intensivo de mão-de-obra, como a
de calçados e vestuários para o Nordeste, atraídas
sobretudo, pela mão-de-obra extremamente barata.

TECNOPÓLOS BRASILEIROS

Os “tecnopolos” são parques empresariais e


científicos especializados no desenvolvimento da alta
tecnologia e da chamada Tecnologia de Ponta
(química fina, robótica, informática, eletrônica, raio laser
etc). As regiões de Campinas (favorecida pela presença
da Unicamp), de São José dos Campos (onde está
localizado o Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA)
e São Carlos (que abriga a UFSCar e um campus da
CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL USP) são alguns dos centros industriais que ostentam a
tecnologia mais avançada do país.
Quanto à distribuição espacial da indústria, o que se
verifica é uma grande concentração de
estabelecimentos na região Sudeste. A concentração MAIORIA DAS INDÚSTRIAS INOVADORES ESTÁ EM
industrial na região, sobretudo, no Estado de São Paulo, SÃO PAULO
deve-se a fatores históricos que já conhecemos. Esses
fatores (a lavoura de café, entre outros) orientaram o
surgimento da atividade industrial nessa região. Mas um A ideia de que a economia paulista perde
outro fator também explica essa concentração espacial importância para as de outros estados está sendo
– é a interdependência que se estabelece entre as matizada pelos resultados da pesquisa Performance
várias empresas industriais. Por exemplo, a indústria Econômica das Regiões Brasileiras (Perb),
automobilística está ligada às metalúrgicas, às capitaneada pelo professor Aurílio Caiado, da
indústrias de autopeças, de tintas, de vidros etc. Universidade de Sorocaba. Os resultados mostram
que a saída de indústrias restringiu-se ao município
de São Paulo e seu entorno. Se em 1985 a capital
Além disso, a concentração industrial é acompanhada abrigava 15% de toda a indústria de transformação
pela concentração das demais atividades econômicas e do país, o índice em 2005 caiu para 6,1%. A pesquisa
extra-econômicas. Assim, a indústria, o comércio e o mostra que a perda de indústrias na capital paulista
sistema bancário e financeiro dependem uns dos outros. nem de longe é sinônimo de decadência, pois a
cidade consolida-se como o grande polo brasileiro
Por outro lado, a concentração das atividades de empresas que investem em inovação, aquelas
econômicas gera um grande número de empregos, cujos produtos têm mais valor agregado. Revista
atraindo população de outras regiões e criando grandes pesquisa Fapesp, n.157, mar.2009.
centros populacionais, que necessitam de serviços,
incluindo-se escolas, centros culturais e profissionais.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 65

2.14. OS SERVIÇOS
Em oposição a essa corrente havia o contratualismo
Setor terciário (também conhecido como setor de intervencionista, que apesar de verem a hipossuficiência
serviços) é aquele que engloba as atividades de do trabalhador e de estabelecer garantias legais
serviços e comércio de produtos. É um dos três setores mínimas que não poderiam ser renunciadas, permitiam
da economia, os outros sendo o Setor Primário que outros direitos fossem negociados segundo a
(agricultura, extração mineral, etc.) e o Setor Secundário vontade das partes. O trabalhador era protegido por
(industrialização). Os serviços são definidos na literatura garantias mínimas, conservando o poder de escolha
econômica moderna como ―bens intangíveis‖. para quem, onde e de que forma trabalhar, além de
poder negociar direitos supervenientes à garantia
O Setor Terciário envolve as provisões de serviços tanto mínima. Essa corrente de pensadores via na relação de
para outros negócios como para consumidores finais. trabalho uma relação contratual.
Estes podem estar envolvidos como transportes, vendas
e distribuição de bens dos produtores aos A importância de se estabelecer os exatos limites da
consumidores; podem ser também de outros serviços relação de trabalho reside na separação da
não-ligados diretamente ao produto final, como controle competência material entre a Justiça do Trabalho e a
de pragas e entretenimento. Os bens podem ser Justiça Comum. O art. 114 da CF estabelece que a
transformados também, como acontece em um Justiça do Trabalho é competente para ―processar e
restaurante ou em uma eletrônica. Assim, o foco esta na julgar as ações oriundas da relação de trabalho,
interação entre pessoas, proporcionando um produto ou abrangidos os entes de direito público externo e da
serviço que satisfaça os anseios de quem o(s) administração pública direta e indireta da União, dos
demandou. Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e também
outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho,
Como componentes do Setor Terciário, podemos citar: na forma da lei‖. Em outras palavras, é importante
Serviços bancários, Restaurantes, Hospitais, Serviços, delimitar precisamente o conceito de relação de trabalho
de consultoria, Corretagem de imóveis e Serviços para saber se a ação será proposta perante a Justiça do
públicos. Trabalho ou perante a Justiça Comum.

Estes últimos são considerados parte do Setor Terciário No Brasil há uma correspondência entre contrato de
enquanto providenciam serviços básicos à sociedade, trabalho e relação de trabalho, quando a CLT define
como educação, saúde, etc.; quando cuidam da contrato de trabalho como o acordo, tácito ou expresso,
construção da infra-estrura de um país, com a correspondente à relação de trabalho (art. 442 da CLT).
construção de estradas, pontes, etc., podem ser Assim, não encontramos dificuldades em afirmar que o
considerados como parte do Setor Secundário. contrato de trabalho é definitivamente uma espécie
desse gênero, abrangendo desse modo uma extensa
gama de subespécies contratuais: o trabalho
Os serviços são difíceis de serem classificados, pois são
subordinado, o contrato de empreitada, locação de
intangíveis e incontáveis. Assim, fica difícil para os
serviço, trabalho avulso, o estágio, o trabalho autônomo,
consumidores mensurarem e entenderem o valor do
o trabalho temporário.
serviço que estão pagando para obter. Como os
investimentos e serviços de consultoria, não há
garantias da obtenção de volta do capital investido. Uma grande discussão jurídica trava-se em torno da
inclusão do serviço público estatutário e do trabalho
prestado por profissional liberal, no gênero da relação
Assim, como fazer a diferenciação de dois hotéis que
de trabalho. O problema da exata definição da relação
oferecem o mesmo serviço por preços idênticos? A
de trabalho, se dá pela dificuldade de separá-la de
diferenciação e a qualidade no atendimento farão o
relação de consumo e de distingui-la da relação
consumidor se decidir por aquele que mais o agradar
administrativa.
com pequenos detalhes.

Alguns juristas sustentam que quando o trabalho é


prestado com pessoalidade, a relação de consumo se
2.15. AS RELAÇÕES DE TRABALHO confunde com a relação de trabalho, como no caso dos
profissionais liberais (advogado, médico, engenheiro).

A teoria da relação de trabalho surgiu e ganhou


projeção na Alemanha nazista, através do 2.16. AS DESIGUALDADES SOCIAIS E A
anticontratualismo, também na Itália fascista com o EXPLORAÇÃO HUMANA
institucionalismo. Esses sistemas visavam a economia
do Estado, onde o trabalhador e o empresário não
tinham liberdade de escolha, senão trabalhar e produzir. Pobreza e exclusão expressam ideias diferentes.
O trabalhador era um hipossuficiente. Seu estado de Sucintamente, a pobreza pode ser definida pela falta de
necessidade retirava-lhe o poder de escolha, obrigando- acesso à satisfação das necessidades consideradas
o a trabalhar para manter-se. Do outro lado, o mínimas para se ter uma vida digna e adequada na
empresário era obrigado a contribuir para a produção sociedade em que se vive. A exclusão, originalmente,
nacional. Os direitos e obrigações de cada um estavam não está associada à ideia de pobreza. Trata-se de um
dispostos num Estatuto editado pelo Estado. Não trermo que surgiu na luta de segmentos da sociedade
havendo o acordo de vontade que caracteriza o francesa contra a injustiça social ou mesmo a falta de
contrato, entendiam que se tratava de uma relação de igualdade plena de direitos.
trabalho não contratual.
66 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Não é simples estabelecer critérios para avaliar as 2.17. A REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA
condições de vida de uma população. Ao longo da
história, os padrões que indicam uma situação de
carência apresentaram enorme variação. Na Idade Nas três últimas décadas do século XX, a produção em
Média, o analfabetismo de adultos não era um indicador série do modelo fordista já se mostrava rígida e
de carência, pois quase todas as pessoas eram ineficiente para atender às demandas dos novos
analfabetas, inclusive as da nobreza. Da mesma forma, tempos. Por causa da inflexibilidade desse processo,
expectativas de vida inferiores a 50 anos, hoje vigentes que adota a divisão da produção em tarefas
apenas entre as populações mais pobres do mundo, especializadas, o resultado era uma produção
eram a regra nos países industrializados do século XX. padronizada e em massa. Esse modelo não
acompanhava as constantes e aceleradas mudanças
No início dos anos 90, o Programa das Nações Unidas tecnológicas. Para oferecer novos produtos, eram
para o Desenvolvimento (PNUD), divulgou um indicador necessárias novas máquinas e a reestruturação da linha
que atualmente serve de referência para estudos de montagem.
comparativos das condições de vida das populações do
mundo. Trata-se do Índice de Desenvolvimento Nos anos 1970, iniciou-se o que viria a ser conhecido
Humano ou, simplesmente IDH. como Terceira Revolução Industrial ou Revolução
Técnico-Científica e porque não dizer Informacional.
O IDH é construído com base em três grandes
indicadores, aos quais são atribuídos pesos iguais: 3 GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO.
expectativa de vida ao nascer(duração média de vida
em anos); o nível de instrução e PIB Per capita.
Atualmente, os estudiosos sobre as origens do ser
O IDH fornece uma medida bastante sensível das humano e sua evolução histórica apontam para o
condições de vida nos países pesquisados e ajuda a surgimento do ser humano no continente africano, de
identificar as regiões mais carentes do glob. Porém, onde migrou para os outros continentes, após passar
para medir diretamente a incidência de pobreza no pela Europa e Ásia.
interior dos diversos países e regiões do mundo, o
PNUD utiliza o Índice de Pobreza Humana (IPH), que
revela a parcela de pessoas que sofrem carências em
quatro dimensões básicas: a longevidade, o
conhecimento, a provisão econômica e a inclusão
social.

Devido à grande disparidade entre os países


desenvolvidos e os países subdesenvolvidos no que diz
respeito às condições de carência das populações, o
PNUD calcula a pobreza com base em padrões
diferentes. No caso dos países desenvolvidos, a ONU
calcula o chamado IPH-2, considerando os pobres as
pessoas que têm expectativa de vida inferior a 60 anos,
os analfabetos funcionais, os que ganham menos dea
Fonte: amora2009animais.pbworks.com
metade dos rendimentos pessoais médios e os que já
estão desempregados há doze meses.
Existem inúmeras teorias que buscam explicar como e
quando se deu a ocupação humana do continente
O PNUD sugere uma linha da pobreza (falta de
americano. A teoria malaio-polinésia afirma que a
rendimentos) diferenciada parea a América Latina e
chegada do ser humano à América se deu por meio de
Caribe, estabelecendo 2 dólares estadunidense como
embarcações primitivas que partiram da Malásia. A
valor mínimo necessário por um dia para pessoas
segunda conhecida como teoria australiana, diz que a
sobreviver. Para o Leste Europeu e as repúblicas da
América foi ocupada a partir de embarcações que
antiga União Soviética, tem sido usada uma linha de
atravessaram o Pacífico. E a terceira, a teoria asiática,
pobreza de 4 dólares por dia. Na comparação entre
mais aceita nos dias atuais, afirma que a América foi
países industrializados tem sido usado uma linha da
ocupada durante a quarta glaciação, quando o Estreito
pobreza correspondente à dos Estados Unidos, que é
de Bering foi congelado, possibilitando a passagem para
de 14,40 dólares por dia.
o Alasca.

Nos países subdesenvolvidos, o IPH-1 é dado pela


parcela de pessoas que têm expectativa de vida inferior
a 40 anos, pela taxa de analfabetismo de adultos, pela
porcentagem da população sem acesso à água potável
e aos serviços de saúde e pela incidência de crianças
menores de cinco anos com peso insuficiente. Em
diversos países africanos, mais da metade da
população vive nessas condições.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 67
a desprezar os valores, o conhecimento, a arte, a
crença, as formas de comunicação, enfim, a cultura do
―outro‖. A partir daí, são se consegue entender as
diferenças culturais existentes em relação ao grupo
étnico, o que pode provocar sentimentos de medo e
hostilidade.

Com isso surge o etnocentrismo, ou seja, o julgamento


do ―outro‖ baseado em valores e modelo de vida do
―eu‖. A parti daí, via de regra, não se consegue entender
os valores culturais e surgem os conflitos. O
etnocentrismo é um elemento básico do processo de
identificação de um grupo sociocultural. É um traço
comum às culturas e corresponde a forma de
Em 2004 foi divulgado novo estudo que pode alterar as legitimação de determinadas realidades. Esse
teorias até então estudadas. Trata-se de uma pesquisa etnocentrismo transforma-se num problema quando
russa, realizada no rio Yana, no Círculo Polar Ártico, justifica a opressão de outra comunidade étnica ou a
onde foram encontradas ferramentas de caça conquista de povos e territórios por grupos que se
confeccionadas há mais de 30 mil anos. O local fica consideram superiores.
próximo ao Estreito de Bering, a diferença central para a
teoria asiática está na data. Ao se espalharem pelo
Planeta, os seres humanos formaram as mais variadas
16
civilizações , que surgiram e desapareceram ao longo
da história.

CULTURA OU CIVILIZAÇÃO?

Nas transformações da ideia de cultura durante os


séculos XVIII e XIX, a discussão sobre cultura surgiu
associada a uma tentativa de distinguir entre
aspectos materiais e não-materiais da vida social,
entre a matéria e o espírito de uma sociedade. Até Bósnios-muçulmanos presos durante a Guerra da Bósnia,
que o uso moderno de cultura se sedimentasse, 1992.
cultura competiu com a ideia de civilização. Assim,
ora civilização, ora cultura serviam para significar os RELATIVISMO CULTURAL
aspectos materiais da vida social, o mesmo
ocorrendo com o universo de ideias, concepções,
crenças. Com o passar do tempo, cultura e No início do século XX, surgiram novas concepções
civilização ficaram quase sinônimas, se bem que antropológicas que se contrapuseram à questão da
usualmente se reserve civilização para fazer superioridade ou inferioridade dos povos.
referência a sociedades poderosas, de longa
tradição histórica e grande âmbito de influência. A alemão Frans Boaz foi o primeiro a ressaltar a
Além do mais, usa-se cultura para falar não apenas importância do estudo das diversas culturas em seu
em sociedades, mas também em grupos no seu próprio contexto, a partir de suas peculiaridades, ou
interior o que não ocorre com civilização. SANTOS, seja, considerando os fatores históricos, naturais e
José. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.p.35-36.
linguísticos que influenciavam o desenvolvimento de
Coleção Primeiros Passos.
cada uma delas, rompendo assim com a Teoria
Evolucionista e dando base ao Relativismo Cultural.
Nos primórdios da história, o indivíduo se identificava
basicamente com o clã e a aldeia em que vivia. As
chances de conhecer valores e características
diferentes eram reduzidas, dada a pouca frequência de
contato entre os grupos. Os contatos esporádicos entre
os grupos provocaram tanto choques quanto
assimilações culturais. Com o tempo, essas
assimilações e choques intensificaram-se em virtude
das migrações, das guerras, do desenvolvimento e do
crescimento das atividades comercial e industrial.

Do encontro de culturas decorre, de modo geral, a


avaliação recíproca, ou seja, o julgamento do valor da
cultura do ―outro‖. Assim, análise da cultura do ―outro‖
parte da sua cultura, da cultura do ―eu‖. Passa-se então,
Punk em Londres, Inglaterra.
16
Civilização é um conceito bastante complexo.Podemos afirmar
que a civilização é exspressa por uma cultura composta pelas
relações de trabalho, sociais e econômicas que a diferenciam de
outros povos.
68 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
DEMOGRAFIA GERAL
PAÍSES MAIS POPULOSOS DO MUNDO EM 2009
“Quantos habitantes o planeta pode suportar? 12
bilhões? 20 bilhões? Por que não 150 bilhões de PAÍS POPULAÇÃO (MILHÕES)
habitantes? O alto nível tecnológico encontrado hoje
e que tende a se expandir de forma exponencial, CHINA 1331
num futuro próximo, não nos permite afirmar qual o ÍNDIA 1200
número limite de seres humanos que podem viver
na Terra. A sobrevivência no futuro de um EUA 303
contingente populacional bem maior do que o que INDONÉSIA 228
termos hoje está atrelada a fatores políticos e
BRASIL 191
econômicos e, não, necessariamente naturais ou de
ordem tecnológica” Entrevista do professor Milton Santos, Fonte: Banco Mundial.
Milenium, Canal GNT, 1998.
POPULAÇÃO
É o ramo da Geografia Humana que estuda a população
e seus aspectos gerais. A questão populacional é alvo Corresponde ao conjunto de pessoas que ocupam um
de polêmica há pelo menos dois séculos. Muitos determinado espaço geográfico representado por um
problemas sociais e econômicos do mundo são por município, um país ou toda a Terra. Para facilitar o
vezes, creditados à quantidade de habitantes no estudo da população analisemos alguns conceitos
planeta. O crescimento populacional para as próximas fundamentais.
décadas suscita, ao mesmo, uma questão importante:
os recursos naturais existentes serão suficientes para
abastecer a população mundial? POPULAÇÃO ABSOLUTA

Muitos defendem que o crescimento da população é o Número total de habitantes de uma determinada área
responsável pela deterioração do ambiente e, (Estado, Cidade, País, etc.).
consequentemente, da qualidade de vida. Outros
acreditam que a tecnologia será capaz de fazer à POPULAÇÃO RELATIVA
demanda crescente por alimentos e recursos
necessários à manutenção da vida humana na Terra,
em condições aceitáveis. É o número de habitantes por Km², ou seja:

MULTIDÃO PLANETÁRIA

SUPERPOPULAÇÃO E SUBPOPULAÇÃO

Ocorre quando os recursos não podem ser explorados


eficientemente, de maneira a atender as necessidades
da população. Não há relação com densidade
demográfica. Um país pode ser pouco habitado e ser
superpovoado, enquanto outro pode ter uma
população absoluta elevada e não ser superpovoado.
Fonte: divisão populacional da ONU
Ex.: Bélgica (386 hab/Km²) é densamente povoada e
“O Homo sapiens surgiu há 100 mil anos. Há 10 mil não é superpovoada. A Índia é (312 hab/km²) é bem
anos, o Homo sapiens já se espalhara pelos cinco povoada e é considerada superpovoada, uma vez que
continentes, e seus múltiplos contingentes não apresenta suficiente desenvolvimento econômico
somavam, no mundo, segundo supõem alguns e tecnológico.
cientistas, cerca de 5 milhões de indivíduos (...) No
tempo de Cristo, a vida média do ser humano seria TAXAS DEMOGRÁFICAS
da ordem de 27 anos, assim permanecendo até ao
redor do ano 1000.Passaram-se alguns séculos,
chegou-se ao ano 1750 e a população do mundo TAXA DE NATALIDADE
alcançou cerca de 800 milhões de indivíduos. Ao se
iniciar a Era Industrial (1800 a 2000) calcula-se que Número de nascidos em um ano por mil habitantes. É a
havia cerca de 1 bilhão de habitantes na Terra. relação entre o número de nascimentos anuais e a
Descobriram-se a vacinação e a assepsia, a oferta população total, expressa por mil habitantes.
de alimentos cresceu, a vida média do ser humano
beirava talvez os 40 anos por volta de 1800. SANTOS,
Rubens R. dos. Uma visão do futuro – avaliação do que é
relevante na passagem do milênio. São Paulo: Nobel,1999.p.
148-149.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 69
TAXA DE MORTALIDADE AS REGIÕES DE MAIOR CRESCIMENTO
DEMOGRÁFICO
Número de óbitos em um ano por mil habitantes. É a
relação entre o número de óbitos anuais e a população Regiões de crescimento vegetativo (+2% ao ano). São
total, expressa por mil habitantes. áreas pré-industriais: sudeste da Ásia, Paquistão,
América Latina, índia e África Tropical.

AS REGIÕES DE MENOR CRESCIMENTO


DEMOGRÁFICO
TAXA DE FECUNDIDADE
As regiões em fase de industrialização e pós-industriais
oferecem taxas menores de crescimento vegetativo (1% a
É a estimativa que se faz do número de filhos que cada
1,5% ao ano) como EUA, Canadá, Austrália, Europa,
mulher poderia ter durante seu período de reprodução,
Rússia, etc.
considerando-se o número de filhos nascidos vivos de
mulheres entre 15 e 49 anos. Nos países ricos a média
de filhos é de 1,5 filhos por mulher, enquanto nos países TEORIA MALTHUSIANA
mais pobres chega a mais de 5 filhos por mulher.
A MISÉRIA A LEI NATURAL
CRESCIMENTO VEGETATIVO
“Então, adotando meus postulados como certos,
É a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de afirmo que o poder de crescimento da população é
mortalidade. indefinidamente maior do que o poder que tem a terra
de produzir meios de subsistências para o homem [...]
Por todo o reino animal e vegetal a natureza espalhou
largamente as sementes da vida, com a mão a mais
generosa e pródiga. Ela foi relativamente
• Se TN > TM, dizemos que o crescimento vegetativo foi parcimoniosa quanto ao espaço me à alimentação
positivo. necessários para criá-los. A miséria que
despoticamente permeia toda a lei da natureza limita
• Se TN < TM, dizemos que o crescimento vegetativo foi
estes mundos mediante determinadas restrições. Os
negativo.
reinos vegetal e animal se reduzem sob esta grande
lei limitadora. E a espécie humana não pode, por
RECENSEAMENTO OU CENSO simples esforços racionais, escapar dela” MALTHUS,
Thomas R. Ensaio sobre a população. São Paulo: Abril Cultural,
1983.p.282.
Levantamento estatístico de dados da população tais
como nascimento, óbitos, população total, etc.

Onde:

P = População.
Pop = População de referência anterior.
N = Número de nascimentos.
M = Número de óbitos.
I = Imigração ocorrida no período.
E = Emigração ocorrida no período. Em 1798, o pastor da igreja anglicana inglesa, Thomas
Robert Malthus (1766-1834) escreveu sua mais famosa
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E CRESCIMENTO obra sobre questões demográficas – Essay on the
DEMOGRÁFICO Principle of Population - Ensaio sobre o princípio da
população. Obra esta que influenciou durante anos outros
pensadores, inclusive Charles Darwin, criador da mais
Calcula-se que, neste início do século XXI, a cada ano, conhecida teoria da evolução biológica. Malthus
mais 80 milhões de pessoas passem a habitar a Terra, acreditava que a população tinha potencial de
uma população equivalente à da Alemanha. Esses crescimento ilimitado, e a natureza, inversamente,
novos habitantes concentram-se principalmente no recursos limitados para alimentá-la. Afirmava Malthus que
mundo subdesenvolvido (África, Ásia e América Latina). a população mundial crescia em progressão geométrica
A Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, teve (2,4,8,16,32,64...), enquanto a produção de alimentos
forte repercussão na organização socioespacial: houve crescia em progressão aritmética (2,4,6,8,10...). Baseada
intensa migração campo-cidade, além de mudanças nos na lei dos rendimentos decrescentes, segundo a qual o
hábitos e nas relações de trabalho. ingresso de trabalhadores no processo de produção de
alimentos nunca resulta num excedente de alimentos
proporcional a esse ingresso. Ele é sempre menor, Dessa
70 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
maneira, os alimentos tendem a não acompanhar o renda per capita e da preservação dos recursos
crescimento geométrico da população. naturais cometem um erro primário (...) a questão
população versus recursos não é matemática, e sim
qualitativa. Ela é determinada mais por questões
“A teoria dos rendimentos decrescentes de Malthus
sociais e culturais do que por variáveis geográficas ou
não foi capaz de prever o desenvolvimento das
demográficas. MINC, Carlos. Ecologia e cidadania. São Paulo:
técnicas de produção que surgiram a partir do século
Moderna, 1998. p. 73-74.
seguinte à publicação de sua clássica obra. Mesmo
tendo sido rejeitada posteriormente, em função do
progresso técnico verificado na produção agrícola Quando Malthus escreveu sua obra mais divulgada, no fim
dos países desenvolvidos, acompanhado pela queda do século XVIII, a população mundial aproximava-se de
dos índices de crescimento da população, essa teoria 950 milhões de habitantes. No século XVII, tinha
ainda exerce enorme influência, diante do quadro aumentado 160 milhões. No século XX, o crescimento foi
apresentado pela economia e pelo crescimento da quase de 4,5 bilhões de habitantes. Observe o gráfico:
população nos países subdesenvolvidos.” SCARLATO,
Francisco Capuano. População e Urbanização brasileira. In:
Geografia do Brasil. Jurandyr Ross. São Paulo, 1996,p.384-385. POPULAÇÃO MUNDIAL (1650-2000)
Para evitar problemas futuros, Malthus propôs algumas
medidas para o controle da natalidade, entre elas
destacam-se: casamento tardio, limitar o número de filhos
de acordo com os salários, abstinência sexual, elevação
dos preços das mercadorias, guerras, o que ele chamou
de controle moral. Apesar dos estudos da Teoria
Malthusiana terem gerado uma enorme repercussão,
Malthus cometeu alguns equívocos, o Desenvolvimento
econômico (indústria, urbanização e modernização), a
participação da mulher no mercado de trabalho, o custo
da formação do indivíduo etc., são fatores que favorecem
a queda, do crescimento demográfico. Parece lógico,
porém, não podemos responsabilizar o estado de pobreza
mundial, apenas ao crescimento populacional, as Fonte: MAGNOLI, Demétrio. Geia: fundamentos da geografia.
verdadeiras causas na realidade envolvem processos São Paulo, 2002. Ed. Moderna. p. 101.
políticos.
A primeira vista, a expansão demográfica mundial
Os ecologistas não fundamentam suas ações e confirmou as hipóteses de Malthus sobre o crescimento
propostas nas teses de Malthus (inglês, ministro da geométrico. De fato, quando se consideram os períodos
igreja anglicana, que viveu entre 1766 e 1834). Malthus de 50 anos, entre 1800 e 2000, a expansão demográfica
viu o rápido crescimento da população e da pobreza registrada foi até superior à prevista pela hipótese do
no início da Revolução Industrial e constatou a crescimento geométrico. Mas isso não significa que
ineficiência da conhecida “Lei dos pobres”, que Malthus estava correto, pelo contrário, se analisarmos
determinava um auxílio aos indigentes. Propôs a os dois últimos séculos, eles representam a prova
limitação da natalidade dos indigentes, apresentando definitiva do erro de Malthus.
um hipotético esquema segundo o qual a população
aumentava em progressão geométrica (1,2,4,8,16,32...)
TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
e a produção alimentar, no mesmo período,
aumentava em progressão aritmética (1,2,4,6,8, 10...).
A teoria da transição demográfica diz respeito às
mudanças na relação entre as taxas de natalidade e
A ecologia social, ao contrário do que se supõe, não
mortalidade verificadas a partir do final do século XVIII.
trabalha com o conceito de quem os recursos naturais
são estatísticos e fisicamente delimitados. O conceito
de recursos é histórico e depende de tecnologias A transição demográfica pode ser dividida em algumas
disponíveis e do seu emprego em formações sociais e fases dependendo da região:
concretas.
 A primeira fase da transição caracteriza-se pela queda
A contradição entre populações recursos deve ser da das taxas de mortalidade, devido às conquistas
analisada em profundidade, incorporando-se as obtidas pelos avanços médicos e pelo saneamento
dimensões histórica, social e tecnologia. A população básico.
não é um somatório de pessoas, como se fossem  A segunda fase, a mortalidade permanece baixa e a
objetos homogêneos com o mesmo poder econômico natalidade começa a apresentar leve redução,
e comportamento idêntico. As pessoas têm provocando um recuo no crescimento populacional.
comportamento distintos segundo o acesso das
 Na terceira fase, o crescimento populacional tende a
classes sociais aos recursos naturais e segundo o estabilizar-se.
nível de cultura e tecnológico de cada contingente
populacional que determina suas taxas de natalidade,
seus padrões de consumo e de desperdício.

Os defensores da esterilização em massa das


mulheres [por exemplo] em nome do crescimento da
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 71
como a índia, China e México resultaram em um grande
fracasso.

REFORMISTAS OU MARXISTAS

Na mesma época em que foi criada a teoria


neomalthusiana foi criada em oposição a ela a teoria
reformista, que chega a uma conclusão inversa as duas
outras teorias. Uma população jovem e com elevadas
taxas da natalidade não é causa e sim consequência do
subdesenvolvimento. Embora o tamanho da população e a
quantidade de alimentos produzidos sejam fatores
importantes quando estudamos o problema da fome, eles
por si só, são insuficientes para explicá-la. A proposta
reformista era de executar reformas econômicas e sociais
para liberar forças produtivas inaproveitadas e melhorar a
distribuição dos alimentos e dos recursos gerais, além de
combater os índices elevados de natalidade com
anticoncepcionais.
Fonte: ACHCAR, Gilbert (org.) El Atlas de Le Monde
Diplomatique. Edición Cono Sur. Buenos Aires, Espácio, As ideias reformistas aproximam-se das defendidas pelos
2003.p.52. marxistas, que também veem o crescimento acelerado da
Alguns países europeus conseguiram chegaram a natalidade entre as populações pobres como um produto
terceira fase no fim do século XX e hoje veem suas das relações de exploração, em que os mais pobres
populações sendo reduzidas como no caso da tenham necessidade de aumentar a sua prole como única
Alemanha que provavelmente verá sua população cair forma de elevar a renda familiar. Essa solução seria
de 80 milhões de habitantes nos dias de hoje para 50 também conveniente também para o sistema econômico,
milhões no anos de 2050. pois a acelerada natalidade, entre os pobres representa, ao
mesmo tempo, a reprodução dos trabalhadores, garantindo
para as empresas a oferta de mão-de-obra em abundância
TEORIA NEOLMALTHUSIANA
no futuro, formando o denominado ―exército de reserva
industrial‖.
É uma teoria que começa a se desenvolver nas
primeiras décadas do século XX, retomando os
A teoria reformista ou antimalthusiana relaciona ainda as
fundamentos da teoria malthusiana, que para muitos era
questões do trabalho infantil, do subemprego e até mesmo
considerada superada e que rapidamente consegue
da mendicância com essa necessidade de as populações
somar cada vez mais adeptos no correr do tempo, em
mais pobres buscarem na prole um meio de aumentar a
especial nos países desenvolvidos.
renda familiar.

De modo concreto, o neomalthusianismo somente


Os antimalthusianos afirmam que, melhorando as
afirmou-se entre os estudiosos da demografia nos pós-
condições de vida dos habitantes, um país teria suas taxas
guerra, particularmente nos primeiros anos da década
de natalidade diminuídas sensivelmente.
de 1950, quando as melhorias ligadas ao
desenvolvimento dos recursos da medicina foram
disseminadas pelos países subdesenvolvidos, O QUE É O “EXÉRCITO INDUSTRIAL DE RESERVA”?
acompanhando o processo de implantação do grande
capital transnacional. Isso fez diminuir a mortalidade
nesses países sem, no entanto, declinar a natalidade, “No modo de produção capitalista, afirma Marx, a
gerando o fenômeno populacional conhecido como reprodução dos homens faz parte do processo de
―explosão demográfica‖. reprodução do capital, em razão de que reprodução
dos homens significa, em verdade, reprodução da
força de trabalho. A explicação está no fato de que
Os neomalthusianos veem esse processo de crescimento sob o capitalismo a população é população para o
acelerado da população dos países subdesenvolvidos sob capital.
o enfoque de uma análise alarmista me catastrófica – como
ocorrera com Malthus nos séculos XVIII e XIX -, e
argumentam que, se esse crescimento não for barrado, os De onde o capital retira sua determinação sobre os
recursos disponíveis do planeta estarão, dentro de homens e, por conseguinte, sobre sua própria
algumas décadas, quase totalmente esgotados. reprodução? Do fato de que o processo de produção
capitalista se apoia na separação entre os meios de
produção e a força de trabalho.
Inúmeras campanhas foram realizadas por diversos
governos pós-2ª Guerra Mundial. A campanha denominada
Planificação Familiar, por exemplo, foi mais rigorosa em Embora detenha os meios de produção, cedo
alguns países, menos em outros, mas atingiu percebe a classe dos capitalistas que isso não lhe
concretamente quase todo o mundo subdesenvolvido, basta para a produção de mercadoria. Para produzir
porém, as teorias foram rejeitadas por alguns países, pela mercadorias, o capitalista necessita da aquisição da
igreja católica, pelos marxistas e outros, a política oficial de força de trabalho, de propriedade do operário. Para
controle de natalidade, embora adotada em alguns países substituir, o operário necessita dos meios de
72 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
subsistência que não pode produzir sem o concurso
dos meios de produção capitalista. AS GRANDES POPULAÇÕES ABSOLUTAS MUNDIAIS

Sendo uma economia de mercado, o capitalismo CHINA


exige ao capitalista e ao operário que estabeleçam
uma troca... O capitalista deve dar, em troca da
mercadoria força de trabalho, uma quantidade de
moedas (o salário), que constitui o preço dessa
mercadoria fixado pelas leis de mercado, no jogo da
oferta e da procura”. MOREIRA, Rui. O estudo da
população.

TEORIA ECONEOMALTHUSIANA

Os adeptos dessa teoria alertam para o mundo para


a relação entre os homens e a natureza. Os
defensores dessa teoria alertam para os riscos A China é conhecida por sua gigantesca população
ambientais decorrentes do crescimento exagerado absoluta que já ultrapassa 1 bilhão e 300 milhões de
da população a qual exercerá cada vez mais pressão habitantes nos dias atuais. Porém, esse crescimento inclui
aos recursos naturais. Uma das formas de controle uma enorme quantidade de variáveis. Entre elas podemos
seria colocar em prática o plano do destacar:
desenvolvimento sustentável, que visam atende
melhor as necessidades dos seres humanos e
 A população chinesa historicamente passou longos
mantendo um certo equilíbrio ambiental. Os
econeomalthusianos exercem forte influência na períodos de isolamento e com uma grande disponibilidade
opinião pública, ancorados na força do movimento de água e alimentos, o que certamente colaborou para
ambientalista mundial. uma queda de mortalidade.
 Nos períodos de guerra, escassez e de epidemias, a
população diminuía mas logo crescia novamente devido
FATORES DE DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO aos recursos existentes.
 A China que conhecemos não é formada por uma única
A população mundial encontra-se irregularmente etnia. Além da majoritária que é a etnia Han, existem
distribuída no espaço geográfico, fato explicado pela outras que também ajudaram a incrementar esse
conjunção dos fatores naturais, econômicos e históricos. crescimento.
Com relação aos elementos naturais, o clima, o relevo, a
hidrografia em variadas interações explicam em diversos
casos os vazios e os adensamentos populacionais. Os
fatores econômicos têm desempenhado um importante
papel na ocupação dos lugares no planeta, que estão
intimamente ligados às atividades econômicas
desenvolvidas na área. Com relação aos fatos históricos
têm uma relevância enorme no processo de ocupação do
planeta.

MAIORES AGLOMERAÇÕES HUMANAS


Mulher de etnia Yi, homem de etnia Manchu e família de etnia
Mongol.
As maiores aglomerações humanas e urbanas estão
localizadas em três regiões do planeta, na Ásia das Entre 1948 e 1949, organizou-se a República Popular da
Monções que engloba a índia, o Paquistão, países da China. De linha socialista, onde o governo promoveu
Indochina e a Indonésia. A Europa Centro-Ocidental, onde melhorias no sistema sanitário e de saúde que tiveram
localizam-se os maiores adensamentos populacionais da impacto imediato sobre o ritmo de crescimento
França, Alemanha, Suíça, Itália, Inglaterra e Países populacional propiciando sua aceleração depois de um
Baixos. O Nordeste dos Estados Unidos, onde localiza-se século de guerras, epidemias e agitação.
a megalópole Boston-Washington e a região dos Grandes
Lagos.
Além disso o governo condenou o controle de
natalidade e proibiu a importação de qualquer método
MENORES AGLOMERAÇÕES HUMANAS contraceptivo adotados no Ocidente.

Os vazios demográficos do globo correspondem às regiões O crescimento exagerado acabou gerando um


onde as condições naturais são extremamente desequilíbrio na produção e estocagem de alimentos,
desfavoráveis à ocupação humana. São estas quatro alterando o abastecimento da população que passou
regiões, as Áreas Áridas, como o Saara, Namib e Calaari por fases de racionamento de comida gerando a morte
na África, o deserto do Atacama no Chile e os desertos de de milhões de chineses.
Gobi, Tar e da Arábia na Ásia. As Altas Montanhas como a
Cordilheira dos Andes e o Himalaia. As Florestas Tropicais
e as Regiões Polares.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 73
ainda são tratados de forma subumana. Eles têm um
acesso restrito à educação e não podem desfrutar de
nenhum sistema de seguridade social. Nos últimos
anos, diversos movimentos reivindicatórios e os dalits
têm contado com apoio de diversos grupos
internacionais ligados aos direitos humanos. Em pouco
tempo a população indiana superará a população
chinesa.

3.1. OS CONTRASTES REGIONAIS NO BRASIL

Regionalizar significa estabelecer regiões com base em


Período da Grande Fome, 1946. critérios que considerem características históricas,
culturais e socioeconômicas, que se inter-relacionem e,
portanto, dão um caráter de individualidade à região,
Em 1979, o governo lançou a campanha do filho único,
distinguindo-se das demais.
centrada principalmente na etnia Han, que consistia em:

É preciso ressaltar, no entanto, que as regiões não são


 Incentivar com homenagens governamentais os casais
imutáveis. Em função do dinamismo na transformação das
que aderissem à campanha.
paisagens e, portanto, das características do território, os
 Licença-Maternidade de um ou dois anos para quem seus limites e mesmo suas particularidades podem se
aderisse à campanha. alterar, conforme os processos históricos, as modificações
 Incentivos financeiros para a educação de filhos nos padrões tecnológicos, os usos do território e os
únicos. interesses do Estado e do poder econômico e, até
Para quem não aderisse a campanha, o governo mesmo, o deslocamento de contingentes populacionais.
aplicava pesadas multas para quem tivesse o segundo
filho e um aumento do número de casos de aborto A DIVISÃO DO IBGE (MACRORREGIÕES)
forçados pelo governo e realizados em clínicas privadas
e estatais, onde também se realizavam laqueaduras e
vasectomias. Isso fez com que aumentasse A República Federativa do Brasil compõe-se atualmente
exponencialmente o número de crianças abandonadas de um total de 27 unidades político-administrativas, sendo
na China. 26 estados e o Distrito Federal.

ÍNDIA Durante o período colonial, as distâncias entre os lugares


eram praticamente intransponíveis. Não havia integração
do território. Cada área desenvolvia-se de forma isolada
com raríssimas exceções.

Na atualidade, ao contrário, quase todo o espaço


geográfico brasileiro está integrado, registrando intensos
fluxos de pessoas, mercadorias, dinheiro e serviços entre
suas diversas regiões.

A divisão regional adotada pelo IBGE (Instituto Brasileiro


de Geografia e Estatística) em 1969 considerou os novos
conhecimentos adquiridos sobre o país e também as
transformações ocorridas em função de desenvolvimento
urbano e industrial. Foi elaborada com base no conceito
Taj Mahal, mausoléu situado em Agra, é uma das Sete de regiões homogêneas, combinando aspectos naturais,
Maravilhas do Mundo Moderno. sociais e econômicos e respeitando os limites dos
estados. Por ela, o país está dividido em 5 macrorregiões.
Formada por uma infinidade de divisões sociais e A divisão regional do Brasil não foi sempre a mesma. A
religiosas, a sociedade indiana apresenta uma primeira proposta de regionalização foi apresentada em
complexidade explícita em função de seu sistema de 1913 e depois dela outras propostas surgiram tentando
castas, que foi abolido nos anos 50 mas, que na prática, adaptar a divisão regional às novas condições
ainda existe. A mais influente e que ocupa um papel econômicas, sociais e políticas do país. A atual
central na hierarquia social é formada pelos brâmanes regionalização é dos anos 70 com algumas adaptações
(sacerdotes, professores e filósofos) e xátrias na Constituição de 1988.
(descendentes de guerreiros e militares). Esses grupos
detêm o poder político e econômico do país. Em
seguida aparecem os vaixás (comerciantes) e os sudras
(trabalhadores braçais).

Essas castas guardam uma forte discriminação em


relação aos dalits, considerados párias, impuros ou
intocáveis, uma vez que exercem os piores trabalhos e
74 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
REGIONALIZAÇÃO ATUAL

Fonte: IBGE, Anuário estatístico do Brasil 1999, p. 1-43.


Fonte: www.camara.gov.br

A região Sudeste agrupa os três estados mais populosos


do país – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, O processo de desmembramento de estados é
além do Espírito Santo, que juntos apresentam uma justificado pelo povoamento e pela valorização das
população de 80.353.724 de habitantes. No Sudeste regiões interiores do país.
encontram-se a maior metrópole do país – São Paulo – e
a capital mais antiga do país que também ocupa a A autonomia política e a instalação de administrações
posição de 2ª metrópole nacional – Rio de Janeiro. estaduais funcionam como fundamentos para o
planejamento econômico e social. Mas a criação de
A região Nordeste compreende 53.078.137 milhões de novas unidades da federação também é uma resposta a
habitantes e nove estados, onde temos entre eles a demandas das elites regionais, que adquirem por essa
primeira capital colonial, Salvador, e onde podemos via maior poder político, novos instrumentos de pressão
destacar ainda a presença de Fortaleza e Recife como sobre o governo central e uma rede de cargos políticos
Metrópoles Nacionais. sobre os quais se armam máquinas eleitorais.

A região Sul é a menor região do país em extensão Em abril de 2010, a Câmara dos Deputados aprovou a
territorial abriga 27.384.815 de habitantes, onde temos realização de um plebiscito sobre a criação de dois
nossas fronteiras com Argentina, Uruguai e Paraguai. novos estados: Carajás e Tapajós. A aprovação seria
um grande golpe para o governo paraense, que perderia
A região Centro-Oeste com 14.050.340 de habitantes, importante parte de sua arrecadação.
abarca os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul e o Distrito Federal, onde temos a capital do país
– Brasília. DIVISÃO DO ESTADO DO PARÁ: COMO FICA?

A região Norte, com 15.865.678 de habitantes é a maior


região em extensão territorial do país, abarcando
territórios de 7 estados.

A REPÚBLICA E O SISTEMA FEDERATIVO

O Brasil República substituiu o Estado Unitário que foi


criado pela constituição de 1824, pelo Estado Federal,
onde o poder central é equilibrado pelos poderes
regionais, onde temos em cada unidade da federação
autonomia. A expressão desse equilíbrio é dada pela
organização do poder legislativo, dividido em duas casas:
Fonte: www.dignow.org
Câmara dos Deputados e Senado.
A DIVISÃO GEOECONÔMICA

REGIONALIZAÇÃO FUTURA?
Há outra divisão regional do território brasileiro que não
acompanha os limites estaduais, havendo estados que
possuem parte do território em uma região e parte em
outra. Trata-se da divisão elaborada em 1967 pelo
geógrafo Pedro Pinchas Geiger. É uma classificação
que considera a formação histórico-econômica do Brasil
e a recente modernização econômica, que se
manifestou nos espaços urbano e rural, estabelecendo
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 75
novas formas de relacionamento entre os lugares do O Centro-Sul do país, que se desenvolveu
território brasileiro e criando uma nova dinâmica no economicamente depois do Nordeste, é uma região mais
relacionamento entre a sociedade e a natureza. Assim, industrializada, onde se destacam cidades como Brasília,
o oeste do Maranhão integra a Amazônia e o restante o Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Rio e Janeiro e
Nordeste, com atuação, respectivamente, da SUDAM e São Paulo.
da SUDENE. O Norte de Minas Gerais (Vale do
Jequitinhonha) integra o Nordeste, com atuação da
SUDENE e do BNB e o restante o Centro-Sul. O Norte
do Mato Grosso e o Tocantins são amazônicos e o
restante dos territórios integra a região Centro-Sul.

Engarrafamento em São Paulo.

 Maior densidade rodoferroviária.


 Melhores e maiores universidades.
 Maiores cidades.

AMAZÔNIA

A Amazônia, imensa região que abrange o norte e uma


parte do centro do país, ainda é a região menos povoada
do Brasil, embora nas últimas décadas venha passando
por um intenso processo de povoamento. Durante vários
séculos, permaneceu esquecida porque os colonizadores
não encontraram na região quase nada de importante
para explorar. Até hoje, a Amazônia apresenta grandes
vazios demográficos, áreas com baixíssimas densidades
demográficas – às vezes, até menos de um habitante por
quilômetro quadrado. Nela, encontramos os mais Vista aérea de parte da cidade de São Paulo.
numerosos grupos indígenas, os habitantes originais de
nosso país. Em todo caso, o povoamento vem NORDESTE
avançando: em 1970, a densidade demográfica regional
era de 0,9 hab/km² e, em 2008, já era de 4hab/km².
 Graves problemas sociais (pobreza, fome, etc.).
 Piores indicadores sociais do país.
AMAZÔNIA TRANSNACIONAL: UMA NOVA ESCALA
 Sub-Regiões com características diferentes.
DE AÇÃO

SUB-REGIÕES NORDESTINAS
O novo valor estratégico atribuído à natureza
amazônica tornou patente que ela não se restringe à
Amazônia Brasileira, mas, sim, envolve a extensa
Amazônia sul-americana. Os ecossistemas florestais
não obedecem os limites políticos dos países, e
muitas nascentes dos rios amazônicos localizam-se
fora do território nacional. Esta situação, que em
outras partes do planeta geram conflitos geopolíticos
entre nações, no caso da Amazônia pode e deve ser
fundamento para uso conjunto e complementar dos
recursos em prol do desenvolvimento regional, tal
como ocorre com a formação de blocos
supranacionais no mundo contemporâneo. BECKER,
Bertha K. Amazônia: geopolítica na virada do III milênio. Rio de
Janeiro: Garamond, 2003.p.53.

CENTRO-SUL
76 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Observando a região nordestina de Leste para o Oeste, temos
Zona da Mata (extremamente úmida), Agreste (Subumido),
 Agreste: Apresenta características naturais tanto da
Sertão (Semiárido) e o Meio Norte (Bastante úmido).
Zona da Mata como do Sertão, pois nos seus trechos
 Zona da Mata: Ocupa a parte oriental da região mais úmidos desenvolve-se a floresta Tropical, enquanto
Nordeste, área dominada pelo clima tropical úmido nas áreas mais secas predomina a Caatinga.
(quente e chuvoso). O índice pluviométrico é de
aproximadamente 2.000 mm/ano e as médias térmicas Nessa sub-região destacam-se as pequenas e médias
variam entre 24ºC e 26º C. O ambiente quente e úmido propriedades rurais policultoras, que produzem
principalmente mandioca, feijão, milho e hortaliças, além
favoreceu o desenvolvimento da floresta Tropical, mata
de criar gado para o fornecimento de leite e seus
exuberante e com grande diversidade de espécies.
Originalmente a floresta ocupava grande parte dessa derivados. O desenvolvimento das atividades
sub-região. A Zona da Mata apresenta-se como a região agropecuárias no Agreste contribuiu para o crescimento
de cidades como Campina Grande (PB), Caruaru e
mais importante do Nordeste do ponto de vista
Garanhuns (PE) Arapiraca (AL) e Feira de Santana (BA).
econômico. Nela concentram-se dois segmentos
industriais: indústrias têxtil e alimentícia, agroindustriais
(sobretudo usinas de açúcar e álcool) e indústrias REGIÃO METROPOLITANA DO AGRESTE
extrativistas minerais. ALAGOANO

Além das atividades industriais, na Zona da Mata


desenvolvem-se importantes atividades econômicas
ligadas ao meio rural, predominando os latifúndios
monocultores de cana-de-açúcar, fumo e cacau, que
atendem ao consumo industrial e ao comércio exterior.

A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DA CANA

A palavra “nordeste” é hoje uma palavra desfigurada


pela expressão “obras do Nordeste” que quer dizer
“obras contra as secas”. E quase não sugere senão Fonte: Estado de Alagoas – Secretaria de Estado da Cultura –
as secas. Os sertões de areia seca rangendo debaixo Superintendência de Identidade e Diversidade Cultural
dos pés. Os sertões de paisagens duras doendo nos
olhos. Os mandacarus. Os bois e os cavalos  Sertão: Compreende as áreas dominadas pelo clima
angulosos. As sombras leves como umas almas do semiárido, que apresenta temperaturas elevadas (entre
outro mundo com medo do sol. Mas esse Nordeste 24ºC e 28º C) e duas estações bem definidas: uma seca
de figuras de homens e de bichos se alongando outra chuvosa. O Sertão é a maior sub-região nordestina
quase em figuras de El Greco é apenas um lado do ocupando mais de 50% do território nordestino,
Nordeste. O outro Nordeste. Mais velho que ele é o chegando até o litoral, nos estados do Rio Grande do
Nordeste de árvores gordas, de sombras profundas, Norte e do Ceará.
de bois pachorrentos, de gente vagarosa e às vezes
arredondada quase em sanchos-panças pelo mel de
engenho, pelo peixe cozido com pirão, pelo trabalho A economia sertaneja baseia-se na agropecuária,
parado e sempre o mesmo, pela opilação, pela atividade que sofre diretamente os impactos das
aguardente, pela garapa de cana, pelo feijão de coco, condições climáticas, sobretudo na época das estiagens.
pelos vermes, pela erisipela, pelo ócio, pelas Pecuária bovina e agricultura de subsistência são as
doenças que fazem a pessoa inchar, pelo próprio mal principais atividades econômicas da área.
de comer terra. Um Nordeste onde nunca deixa de
haver um mancha de água: um avanço de mar, um A TRISTE PARTIDA
rio, um riacho, o esverdeado de uma lagoa. Onde a Setembro passou com oitubro e novembro
água faz da terra mais mole o que quer: inventa ilhas,
Já tamo em dezembro
desmancha istmos e cabos, altera a seu gosto a
geografia convencional dos compêndios. Um Meu Deus que é de nós
Nordeste com a cal das casas de telha tirada das Assim fala o pobre do sêco Nordeste
pedras do mar, com uma população numerosa Com medo da peste
vivendo de peixe, de marisco, de caranguejo, com as
Da fome feroz
mulheres dos mucambos lavando as panelas e os
Patativa do Assaré
meninos na água dos rios, com alguns caturras ainda
iluminando as casas de azeite de peixe. Um Nordeste
oleoso onde noite de lua parece escorrer um óleo O Polígono das Secas compreende a área do Nordeste
gordo das coisas e das pessoas. Da terra. Do cabelo brasileiro reconhecida pela legislação como sujeita à
preto das mulatas e das caboclas. Das árvores repetidas crises de prolongamento das estiagens e,
lambuzadas de resinas. Das águas. Do corpo pardo consequentemente, objeto de especiais providências do
dos homens que trabalham dentro do mar e dos rios, setor público. Constitui-se o Polígono das Secas de
na bagaceira dos engenhos, no cais do Apolo, nos diferentes zonas geográficas, com distintos índices de
trapiches de Maceió. Esse Nordeste da terra gorda e aridez. Em algumas delas o balanço hídrico é
de ar oleoso é o Nordeste da cana-de-açúcar. acentuadamente negativo, onde somente se desenvolve
FREYRE, Gilberto. Nordeste: aspectos da influência da cana a caatinga hiperxerófila sobre solos finos. Em outras,
sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil. 7ed. São verifica-se balanço hídrico ligeiramente negativo,
Paulo: Global, 2004. desenvolvendo-se a caatinga hipoxerófila. Existem
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 77
também áreas no Polígono, de balanço hídrico positivo e
presença de solos bem desenvolvidos. Contudo, na área
delimitada pela poligonal, ocorrem, periodicamente,
secas anômalas que se traduzem na maioria das vezes
em grandes calamidades, ocasionando sérios danos à
agropecuária nordestina e graves problemas sociais.
O Polígono das Secas foi criado pela lei nº. 1348 de 10-
2-1951. Desde o império, o governo brasileiro adota uma
postura de combate aos efeitos da seca, valendo-se da
construção de açudes para represar os rios locais e,
assim, conseguir reservatórios de água para tornar
perenes os rios temporários. Em 1909, foi criada a
Inspetoria de Obras contra as Secas (IOCS) que mais
tarde transformou-se em DNOCS (Departamento
Nacional de Obras Contra a Seca).

POLÍGONO DAS SECAS

Trabalho feminino da colheita de babaçu.

O PRECONCEITO CONTRA O NORDESTINO

“O Nordeste, como recorte espacial, como uma


identidade regional à parte, nem sempre existiu,
como faz crer quase toda a produção artística,
literária e acadêmica contemporâneas, que
normalmente se referem ao Nordeste como este
tendo existido desde o período colonial; os
portugueses já teriam desembarcado no Nordeste e
teria sido esta a área onde primeiro se efetivou a
implantação da colonização portuguesa, com o
sucesso da produção açucareira. Esta designação
Fonte: INPE/Centro de Pesquisas da Universidade de São Nordeste para nomear uma região específica do
Paulo. país, tendo pretensamente uma história particular,
só vai surgir, no entanto, muito recentemente, na
 Meio Norte: Formada pelos estados do Piauí e década de 10 do século XX. Antes, a divisão regional
Maranhão, é uma área de transição entre o Sertão e a do Brasil se fazia apenas entre o Norte, que abrangia
Amazônia. Os índices de pluviosidade são elevados na todo o atual Nordeste e toda a atual Amazônia e o
porção oeste e diminuem em direção ao leste e sul. Sul que abarcava toda a parte do Brasil que ficava
Encerra a Zona dos Cocais, área de vegetação peculiar, abaixo do estado da Bahia. Por isso, ainda hoje, os
caracterizada por extensos babaçuais. nordestinos são comumente chamados de nortistas
em São Paulo ou em outros estados do Sul e do
Sudeste e os moradores destas regiões dizem que
vão passar férias no Norte, para se referirem ao
Nordeste. Isto indica, também, que a criação da ideia
de Nordeste e, consequentemente, da ideia de ser
nordestino, surgiram nesta própria área, foram
produzidas pelas elites políticas e pelos letrados
deste próprio espaço, não foi uma criação feita de
fora, por membros das elites de outras regiões. O
sentimento, as práticas e os discursos regionalistas
que irão dar origem à região que conhecemos, hoje,
como Nordeste, emergiram entre as elites ligadas às
atividades agrícolas e agrárias tradicionais, como à
produção do açúcar, do algodão ou ligadas à
pecuária, mesmo que muitos destes vivessem nas
cidades, exercessem profissões liberais ou fossem
comerciantes, de parte do então chamado Norte do
país, no final do século XIX. Este regionalismo,
como vimos, é fruto da própria forma como se
constituiu o Estado Nacional brasileiro,
caracterizando, por um lado, pela centralização das
78 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
decisões, e por outro, por sua presença episódica e empresas de comércio eletrônico) de serviços
sua incapacidade de dar soluções para os (provedores de acesso à Internet, agências de
problemas que afetam os interesses das elites de publicidade e consultorias), industriais (empresas que
certas áreas do país, notadamente daquelas que utilizam robôs e sistemas informatizados) e a situação da
representavam áreas que eram ou se tornaram agropecuária em relação à mecanização e a integração a
periféricas do ponto de vista econômico ou que indústria. Milton Santos divide o território nacional em
ficavam distantes do centro das decisões políticas.” ―quatro brasis‖, considerando também o processo
JÚNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. Preconceito contra a histórico de ocupação da área.
origem geográfica e de lugar: as fronteiras da discórdia. São
Paulo: Ed. Cortez, 2007, p. 90.
Neste ponto da história do território brasileiro,
parece lícito propor, a partir das premissas
levantadas aqui, uma discussão em torno da
possibilidade de propormos uma divisão regional
baseada, simultaneamente, numa atualidade marcada
pela difusão diferencial do meio-técnico-científico-
informacional e nas heranças do passado. Fonte:
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e
sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro/São Paulo:
Record, 2001.p.268.

AMAZÔNIA

A Amazônia é formada nessa regionalização pelos


estados do Pará, Amapá, Roraima, Amazonas, Acre e
Rondônia. É uma região de pequena densidade
demográfica e poucos recursos tecnológicos. São raras
as áreas destinadas à agricultura mecanizada e outras
atividades modernas. Foi a última a ampliar sua
A REGIONALIZAÇÃO DE ACORDO COM O MEIO mecanização, tanto na produção econômica quanto no
TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL próprio território.
REGIÃO CONCENTRADA

Abrangendo São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,


Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul, é composta por um denso sistema de fluxos, em
razão dos elevados índices de urbanização, por
atividades comerciais intensas e alto padrão de consumo
de muitas empresas e de parte da população. É o centro
de tomada de decisões do território brasileiro, abrigando
atividades modernas e globalizadas, como alguns
setores financeiros e de serviços.

Fonte: SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O


Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio
de Janeiro/São Paulo: Record, 2001.p.268.

De acordo com o professor Milton Santos, no contexto da Os maiores centros urbanos se tornaram polos de comércio e de
Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico- serviços. Na foto, prédios com helipontos, na Vila Olímpia, em
Científica e do processo de globalização, aparece uma São Paulo.
configuração espacial que pode ser denominada meio
técnico-científico-informacional. Tendo em mente REGIÃO NORDESTE
essa configuração, o professor Milton Santos apresentou
essa proposta de regionalização para o território
brasileiro que leva em consideração uma série de Excetuando-se o período de grande desenvolvimento da
aspectos: a quantidade de recursos tecnológicos economia canavieira (séculos XVI e XVII), de modo geral
avançados (redes de telecomunicações e de energia, nela a circulação de pessoas, produtos, informação,
equipamentos de informática); o volume de atividades dinheiro sempre foi precária, em razão da agricultura
econômicas modernas na área financeira (bancos, bolsa pouco intensiva e da urbanização irregular em alguns
de valores, financeiras), comercial (shoppings centers,
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 79
pontos do território sem falar é claro das relações sociais Há muitas oportunidades aqui. Faltam desde
que aí se estabelecem. restaurantes até profissionais de informática, diz
Paulo Fachin, presidente da Ceagro, produtora de
grãos e revendedora de insumos. Paranaense de
A influência do fenômeno da globalização e a
Toledo, Fachin era plantador de batatas e tinha dois
instalação do meio técnico-científico-informacional
tratores e um caminhão quando foi para Balsas, em
em certas manchas do território regional, como nas
1986. Hoje, a Ceagro fatura 300 milhões de reais por
áreas irrigadas (o caso do vale do São Francisco),
ano.
vão-se dar sobre um quadro socioespacial
praticamente engessado. Essa situação abre a
perspectiva de importantes fraturas na história
social, com mudanças brutais dos papéis
econômicos e políticos de grupos e pessoas e
também lugares. Fonte: SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria
Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI.
Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2001.p.268.

Moderna produção de grãos em Uruçuí (PI). Fonte:


www.veja.com.br

REGIÃO CENTRO-OESTE

Nela estão presentes algumas características da


modernização em função de uma agropecuária
modernizada, marcadamente exportadora e com ampla
Num bom pedaço do sertão nordestino, o cenário de utilização de insumos agrícolas, comercializados por
pobreza está mudando. Numa área formada pelas grandes empresas multinacionais. É possível afirmar que
zonas de cerrado de Maranhão, Piauí, Tocantins e o Centro-Oeste também está integrado à globalização.
Bahia, culturas de soja, milho e algodão cada vez
mais se misturam à paisagem. Apelidada de
MAPITOBA por alguns e BAMATOPI por outros, a O Brasil é considerado um dos 12 países com
região já responde por 10% da soja produzida no megadiversidade, ou seja, possui em seu território
país e desponta como uma das maiores potências proporção relativamente grande da biodiversidade
no agronegócio. Com 2 milhões de habitantes, esse global. Fato esse que advém não só da grande
pedaço de Brasil ainda apresenta um PIB modesto: extensão territorial do país, como da sua localização na
6 bilhões de dólares, equivalente ao de Belém. Mas a zona tropical, com grandes áreas de floresta tropical
17
geração de riqueza está se acelerando. úmida, bioma que abriga proporção extremamente
grande do total de espécies que ocorrem no planeta.
Os produtores de grãos estabelecidos há mais
tempo são migrantes do centro-sul do Brasil, em
sua maioria gaúchos e paranaenses. A eles se
somou recentemente uma leva de investidores
estrangeiros e empresas do agronegócio. Foram
eles que fizeram 70% das aquisições de terras na
região em 2008.

Hoje, quem percorre a rodovia BR-230, no sul do


Maranhão, vê bolsões de produção agrícola
entremeando extensões com vegetação de cerrado.
"É tanta gente que chega a Balsas que surgem dois
ou três novos bairros por ano", diz Francisco
Coelho, prefeito da cidade. Balsas é caótica e
paradoxal. Ao mesmo tempo que boa parte das ruas
não é asfaltada e a telefonia celular ainda é precária,
um hipermercado e um restaurante japonês são
ícones da chegada da modernidade. Enquanto 17
bairros mais velhos estampam a pobreza Bioma: Termo que designa grandes ecossistemas de aspecto mais
nordestina, casas elegantes e jardins bem cuidados ou menos homogêneo e com condições climáticas semelhantes. São
surgem em outros cantos. Um loteamento para 3 400 os ecossistemas maiores e mais complexos, como os mares, oceanos
casas, o Cidade Nova, está prestes a ser lançado e e florestas tropicais, as responsáveis pela unidade global de todos os
seres vivos da Terra. O Brasil apresenta vários tipos diferentes de
será o primeiro bairro planejado do município.
biomas: O Pantanal, a Floresta Amazônica, etc.
80 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
18
Colômbia), e denominou-a Hiléia . Já outro nome do
naturalismo, o também alemão Carl Philipp von Martius,
em sua obra Flora brasiliensis, denominou a floresta
equatorial como Náiade, deusa grega dos rios e das
fontes.

A Amazônia é a maior floresta do mundo, ocupando


cerca de 5,5 milhões de quilômetros quadrados (60% de
toda a floresta recobre o Brasil).

O elemento de maior destaque dessa floresta é sem


dúvidas a sua biodiversidade, cerca ⅓ do número de
espécies do planeta, mas que chega a intrigar
pesquisadores de todo o mundo quanto à possibilidade
de catalogar um número tão significativo de espécies.

No Brasil, ocupa a quase totalidade da região norte, a


porção setentrional de Mato Grosso e a porção ocidental
do Maranhão. Devido a existência na Amazônia de uma
topografia em três níveis, a floresta também apresenta-
se em três estratos, que são:
OS GRANDES DOMÍNIOS DE VEGETAÇÃO: O CASO
BRASILEIRO OS SUBTIPOS DA FLORESTA

O Brasil é um país com grandes extensões


territoriais. São 8,5 milhões de Km² submetidos a
uma mistura de condições climáticas que permite o
desenvolvimento de uma grande diversidade de
ambientes. As formações vegetais que ocupam
maior extensão territorial são as florestas. Há uma
grande variedade dessas formações na bacia
amazônica, na região costeira, no Sul do país e nas
regiões subtropicais. Mesmo os cerrados e
caatingas possuem dentro de sua área de domínio
formações florestais que acompanham as
drenagens. A palavra floresta é, portanto um termo A. IGAPÓ (CAAIGAPÓ): Ocorre em solo
genérico para designar um tipo de formação no qual permanentemente alagado, em terrenos baixos
o elemento dominante são as árvores e que forma próximos dos rios. Via de regra o solo e a água dos
dossel. CONTI, José Bueno & FURLAN, Sueli Angelo. igapós são ácidos. Ex.: Taxi, Arapati e a Mamorana.
Geoecologia: o clima, os solos e a biota. In.: Geografia do
Brasil. ROSS, Jurandyr.L.S. São Paulo: EDUSP.p.155.

A história da flora brasileira resultou numa grande


diversidade de associações ou distribuição espacial das
associações vegetais. Há diferentes critérios de
classificação da vegetação brasileira e sua distribuição.
Cada autor seleciona, conforme o seu enfoque, critérios
que podem ser fisionômicos, ecológicos, bioclimáticos,
etc.

De forma genérica existem no Brasil, a Floresta


Amazônica, a Mata Atlântica, a Mata de Araucária ou
Mata dos Pinheiros, a Mata dos Cocais e as Matas
Mata de Igapó no Rio Madeira.
Ciliares constituem as formações florestais arbóreas.
Entre as formações arbustivas destacam-se a B. VÁRZEA: Localizam-se sobre os terrenos
Caatinga, o Cerrado e os Campos. Aparecem ainda em periodicamente alagados e sua composição florística
nosso território o Complexo do Pantanal e a Vegetação varia de acordo com a duração do período em que ela é
Litorânea. alagada, o que é determinado pela altura em relação ao
nível de base dos rios. É uma formação intermediária
entre as matas de igapó e de terra firme. Ex.: Cumaru-
FLORESTA EQUATORIAL (AMAZÔNICA) de-Cheiro, Seringueira e Pau-Mulato.
C. TERRA FIRME (CAAETÊ): A mata de terra firme
O naturalista alemão, Alexander von Humboldt realizou compreende a maior parte da floresta. São regiões que
expedições científicas pela Amazônia (Venezuela e

18
Hiléia: da palavra grega hyle, que significa “matéria”, “madeira” ou
“floresta”.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 81
não sofrem inundações por estarem situadas nas áreas Amazonas até o oeste do Maranhão, leste e sudeste do
mais elevadas do terreno. Como o solo está livre das Pará, Tocantins, Mato Grosso e Rondônia.
inundações, as árvores mais altas da floresta, tem aí
entre 40 e 60m de altura. O entrelaçamento das copas
As florestas nessas regiões estão se transformando em
quase impede a passagem de luz e água.
cerrados e o regime das chuvas tem-se alterado com a
diminuição das precipitações, aumento da erosão e
No meio da floresta aparecem tipos especiais de prejuízo à biodiversidade da região.
associações locais, que se diferenciam pela sua
composição florística e ecológica. São os campos e
a “caatinga” amazônica, que ocorrem no alto rio
Negro e no alto Solimões. São formações abertas,
sempre verdes e com folhagem xeromórfica. São
inteiramente diferentes das caatingas nordestinas,
predominando nos campos limpos (próximo a Boa
Vista) e nas manchas de cerrados. No Amapá, na
ilha de Marajó e nas planícies amazônicas onde não
se instalou a floresta aparecem as campinaranas,
predominantemente de gramíneas. Os campos
cerrados forma “ilhas” de vegetação do tipo
savânica no litoral (ilha de Marajó), no baixo
Amazonas (Pará, entre os cursos superiores dos
rios Jari e Trombetas e no sul do Pará e Amazonas,
na altura do médio Tapajós, entre os rios Purus e
Madeira). CONTI, José Bueno & FURLAN, Sueli Angelo.
Geoecologia – O Clima, os solos e a biota. In: Geografia do
Brasil. ROSS, Jurandyr.L.S. São Paulo: EDUSP.p.164.

AMAZÔNIA LEGAL
Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli A. Atlas do Brasil:
disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp,
2005.p.70.

PARA ALÉM DO ARCO DO FOGO

A constatação de que a natureza da expansão das


atividades agropecuárias desenvolvidas na
Amazônia, aí incluído o crescimento da área de
pastagens, obedece, atualmente, a uma lógica
diversa daquela que ocorreu na abertura da
fronteira, tendendo claramente à intensificação do
processo produtivo tanto na pecuária quanto na
agricultura, principalmente no cerrado mato-
grossense, permite afirmar que a designação “Arco
do Fogo”, ou “Arco do Desmatamento”, ou “Arco de
Terras Degradadas” é ultrapassada ou constitui uma
maneira reducionista de captar a realidade do uso
A Amazônia legal foi delimitada pelo governo brasileiro da terra na região amazônica, onde é justo neste
em 1966 como região política para a execução de arco que ocorrem as inovações.
planos de desenvolvimento e ações de assistência e
fiscalização, engloba os sete estados da Região norte, Tal designação parece estar fortemente ancorada na
além do Mato Grosso e parte do Maranhão e Goiás. A intepretação de satélite captada à distância, isto é,
área de 3,8 milhões de quilômetros quadrados, tem 23 do alto, sem o embasamento necessário e
milhões de habitantes. imprescindível dos processos históricos que
moldaram as formas de ocupação e uso do território
ARCO DO DESMATAMENTO amazônico, ao longo do tempo. BECKER, Bertha
Koiffmann. Amazônia: geopolítica na virada no III milênio. Rio
de Janeiro: Garamond, 2009.
O chamado Arco do Desmatamento é uma região em
que a grande diversidade de ocupação e de atividade
vem acarretando intenso processo de queimadas e VIGILÂNCIA NA AMAZÔNIA
desflorestamentos. As finalidades são a extração de
madeira, a abertura de área para a pecuária ou para a O Sistema de Vigilância da Amazônia ou SIVAM é um
agricultur (soja) etc. Trata-se de um grande cinturão que projeto elaborado pelos órgãos de defesa do Brasil, com
contorna a floresta, principalmente no limite com o a finalidade de monitorar o espaço aéreo da Amazônia.
Cerrado. Também conhecido como Arco do Fogo ou, Conta com uma parte civil, o Sistema de Proteção da
mais recentemente, como Arco de Povoamento Amazônia, ou SIPAM. Este projeto vinha a atender um
Adensado, estende-se desde a desembocadura do Rio antigo anseio das forças armadas que desejavam
garantir a presença das forças armadas brasileira na
82 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Amazônia, com a finalidade de fazer frente a
manifestações de líderes internacionais contra os
direitos do povo brasileiro sobre esta região. Os
sucessivos projetos de internacionalização da Amazônia
fortaleceram esta percepção de ameaça sobre a
soberania territorial da Amazônia Brasileira. Para fazer
frente a este tipo de ameaça, as Forças Armadas,
juntamente com pesquisadores civis da região
Amazônica propuseram a construção de uma ampla
infraestrutura de apoio à vigilância aérea e comunicação
na região amazônica. Como parte do projeto SIVAM foi
construída a infraestrutura necessária para suportar a
fixação de enormes antenas de radar, sistemas de
comunicação, bem como de modernas aparelhagens
eletrônicas. Também faz parte desta infraestrutura a
integração com o satélite brasileiro de sensoriamento O QUE É A MATA ATLÂNTICA?
remoto, que permite fiscalizar o desmatamento na
Amazônia.
O primeiro nome dado pelos portugueses à extensa
muralha verde que separava o mar das terras
ESQUEMA TERRITORIAL DO SIVAM interiores foi Mata Atlântica. Hoje esse é um nome
genérico com que popularmente é conhecida uma
grande variedade de matas tropicais úmidas que
ocorrem de forma azonal nas regiões costeiras do
Brasil, acompanhando a distribuição da umidade
trazida pelos ventos alísios de sudeste.

O mecanismo de distribuição da umidade da Massa


Polar Atlântica é o responsável pelam exuberância e
diversidade dessas florestas. Os ventos carregados
de umidade são barrados por diversos acidentes
orográficos na zona costeira, descarregando
grandes volumes de água. As regiões de maior
pluviosidade do Brasil encontram-se em sua região
Sudeste.

A floresta atlântica é fisionomicamente semelhante


às matas amazônicas. São igualmente densas, com
árvores altas em setores mais baixos do relevo,
apesar de as árvores amazônicas apresentarem, em
média, desenvolvimento maior. Os troncos são
cobertos por grande diversidade de epífitas, um
FLORESTA TROPICAL (MATA ATLÂNTICA) aspecto típico dessas florestas.

Essa floresta é também uma formação exuberante que A existência de grupos semelhantes de espécies
se assemelha bastante à floresta equatorial. É entre a Amazônia e a Mata Atlântica sugere que
heterogênea, intrincada, densa e aparece em diferentes essas florestas se comunicaram em alguma fase de
pontos do país, de temperaturas elevadas e alto teor de sua história. A história desse parentesco é muito
umidade. Floresta latifoliada, ela é assim definida antiga e as semelhanças taxonômicas se dão entre
porque apresenta folhas grandes e largas e está situada famílias e gêneros.
ao longo do litoral oriental intertropical brasileiro, que vai
do Rio Grande do Norte até o norte de São Paulo, onde As florestas atlânticas guardam, apesar de séculos
entra para o interior. Nas áreas de maior presença de de destruição, a maior biodiversidade por hectare
umidade é denominada floresta latifoliada úmida de entre as florestas tropicais. Como se poderia
encosta. Essa formação foi altamente devastada ao explicar essa característica, hoje objeto central de
longo da história do Brasil. movimentos sociais em prol da proteção dessa
floresta?

Ecologicamente, a distribuição azonal e em altitudes


variáveis favorece a diversificação de espécies, que
estão adaptadas às diferentes condições
topográficas, de solo e de umidade. Além disso,
durante as glaciações essas florestas mudaram de
área nos ciclos climáticos secos e úmidos. Essas
mudanças ou pulsações da floresta influenciaram a
formação dos padrões atuais.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 83
A grande quantidade de matéria orgânica em eram sua área original. Atualmente a vegetação nativa
decomposição sobre o solo dá à Mata Atlântica corresponde a apenas 5% da área original.
fertilidade suficiente para suprir toda a rica
vegetação. Este fato também é notado em toda a
floresta amazônica, onde um solo pobre mantém
uma floresta riquíssima em espécies, gralhas à
rápida reciclagem da enorme quantidade de matéria
orgânica que se acumula no húmus. A reciclagem
dos nutrientes é um dos aspectos mais importantes
para a revivescência da floresta. As plantas
arbóreas, que formam um grupo significativo, estão
representadas principalmente por canelas, capuívas,
paus-de-santa-rita, figueiras, jequitibás, cedros,
quaresmeiras, ipês, cássias, palmeiras e embaúbas.
As florestas pluviais costeiras, apesar de sua
grande heterogeneidade de formações, podem ser
divididas em duas grandes regiões: o trecho norte
do Brasil e o trecho sul. Esses dois setores se
separam por uma faixa de climas mais secos na
região de Cabo Frio (RJ). O trecho norte dessas
florestas compreende as florestas costeiras
propriamente ditas e as matas dos tabuleiros que se
estendiam originalmente de Natal até o baixo do rio
Doce (MG-ES). No Estado da Bahia as florestas
pluviais se expandiram, acompanhando as
drenagens, quilômetros para o interior. CONTI, José
Bueno & FURLAN, Sueli Angelo. Geoecologia – O Clima, os MATA DOS COCAIS
solos e a biota. In: Gerafia do Brasil. ROSS, Jurandyr.L.S. São
Paulo: EDUSP.p.171-172.

MATA DE ARAUCÁRIA SUBTROPICAL OU PINHAIS

O Curi ou Cury é a árvore símbolo do Estado do


Paraná. Curitiba, segundo os povos guaranis, era o
lugar da araucária, mas quando chegamos a essa
cidade hoje, poucos são os remanescentes da única
formação de coníferas do Brasil: as florestas de
araucária. CONTI, José Bueno & FURLAN, Sueli Angelo.
Geoecologia – O Clima, os solos e a biota. In: Geografia do
Brasil. ROSS, Jurandyr.L.S. São Paulo: EDUSP.p.184.

Mata dos Cocais, Teresina (PI).

Esta formação vegetal está encravada entre a Floresta


Amazônica, o Cerrado e a Caatinga. É, portanto, uma
A bandeira é composta por fundo verde que representa
mata de transição entre as formações bastante distintas,
as matas do estado. Uma faixa diagonal branca
constituída por palmeiras ou palmáceas, com grande
(simbolizando a paz), apresenta em seu centro uma
predominância do babaçu e ocorrência esporádica de
esfera azul (simbolizando o céu) com cinco estrelas de
carnaúbas. Tanto o extrativismo do babaçu como o da
cinco pontas brancas, representando o Cruzeiro do Sul.
carnaúba não implicam em devastação, pois se
Dentro da esfera azul há uma faixa branca com a
aproveitam apenas os cocos e as folhas, que são
inscrição PARANÁ na cor verde. No lado esquerdo da
continuamente reproduzidas pelas palmeiras. No
esfera há um ramo de erva-mate e no lado direito um de
entanto, a expansão pecuarista particularmente nos
pinheiro-do-paraná, árvore símbolo da araucária.
estados de Tocantins e do Maranhão, tem produzido
grande destruição da vegetação com a criação de áreas
A floresta aciculifoliada subtropical é uma formação de pasto. Isso tem levado ao agravamento das
vegetal típica de clima subtropical, menos quente e condições de vida de milhões de pessoas, que
úmido que o equatorial. Por isso suas folhas são finas e dependem do extrativismo. Óleo de babaçu é utilizado
alongadas, a fim de evitar excessiva perda de umidade. na fabricação de sabões e sabonetes e, como,
Estendia-se originalmente do sul de São Paulo ao norte lubrificantes, nas indústrias de aparelhos de alta
do Rio Grande do Sul. As serras e planaltos do Sudeste precisão, como, por exemplo, na indústria de balanças.
84 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Depois de retirado o óleo da semente, esta constitui um
excelente alimento para o gado.

CERRADO

Ecologicamente podemos dividir a caatinga em cinco


variações:

 Caatinga Seca não-arbórea.


O cerrado na visão de Percy Lau  Caatinga Seca arbórea.
 Caatinga Arbustiva densa.
Essa formação ocupava originalmente cerca de 25% do  Caatinga de Relevo mais elevado.
território brasileiro, sendo a segunda maior cobertura  Caatinga do chapadão do Moxotó.
vegetal do país. É caracterizado pelo domínio de
pequenas árvores e arbustos bastante retorcidos com
casca grossa (cortiça), que retém mais água,
geralmente caducifólias e com raízes profundas. Muito PANTANAL
parecido com a savana africana. A origem dos cerrados
ainda é uma incógnita. Para alguns ele resulta do clima,
já que a alternância entre as estações úmida e seca é
muito forte. Para outros sua origem está ligada ao solo
extremamente ácido e pobre. Ocorre no Brasil nas áreas
de menor umidade, como é o caso do Planalto Central
(Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
além de trechos do Maranhão, Piauí, Minas Gerais, São
Paulo e Paraná).

Desenho de Marlene Mourão (Peninha) sobre a paisagem


pantaneira.

O Pantanal corresponde a uma grande depressão


localizada no interior do Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul ocupando uma área de aproximadamente 100 mil
quilômetros quadrados. Sua altitude média é de 100m,
sendo a maior planície inundável do planeta.

A complexa vegetação do Pantanal (caatinga, cerrado e


vegetação de grande porte), surgiu em uma faixa de
Vegetação de Cerrado no Parque Nacional da Serra da
terras quase totalmente recoberta por água, abriga uma
Canastra (MG). rica fauna. Daí o porquê de o Pantanal ser tido como um
―santuário ecológico‖ e requerer tantos cuidados, não só
pela sua riqueza ecológica em quanto ecossistema, mas
CAATINGA também é reconhecida a sua fragilidade as ações
humanas.
As caatingas compreendem diferentes tipos de CAMPOS
associações vegetais que formam matas secas e
campos. A caatinga é propriamente uma mata seca
Formações rasteiras ou herbáceas, constituídas por
caducifólia. Somente o juazeiro (destacado na imagem
gramíneas que atingem até 60 cm de altura. Sua origem
abaixo), que possui raízes muito profundas para
pode estar associada a solos rasos ou temperaturas
capturar água do subsolo, e algumas palmeiras não
baixas em regiões de altitudes elevadas, áreas sujeitas
perdem as folhas.
a inundação periódica ou ainda solos arenosos.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 85
Os campos mais famosos do Brasil localizam-se no O processo de urbanização ocorre quando, num
extremo sul, na Campanha Gaúcha. Em Mato Grosso determinado momento histórico, a população residente
do Sul, destacam-se os campos de Vacaria e, no nas cidades cresce num ritmo mais acelerado que o dá
restante do país, aparecem manchas isoladas na população total do país. Nesse caso, a taxa de
Amazônia, no Pantanal e nas regiões serranas do crescimento da população urbana é maior que a da
Sudeste e do planalto das Guianas. população rural. Atualmente, metade da população
mundial vive em cidades. De acordo com a ONU, 2008
foi o ano em que a maioria das pessoas do planeta
VEGETAÇÃO LITORÂNEA
passou a viver em áreas urbanas.

Nas praias e dunas, é muito importante a ocorrência de


As cidades resultam de um processo de ocupação e
vegetação rasteira, responsável pela fixação da areia,
organização do espaço com algumas características
impedindo que seja transportada pelo vento. A restinga
comuns. A cidade é a mais complexa forma de
é uma formação vegetal que se desenvolve na areia
transformação do espaço geográfico realizada pelos
com predomínio de arbustos e ocorrência de algumas
seres humanos. Hoje, é praticamente impossível
árvores como o chapéu-de-sol, o coqueiro e a goiabeira.
imaginar a vida fora das cidades ou mesmo fugir da
influência urbana. A urbanização, no entanto, é um fato
Os mangues são nichos ecológicos (porção restrita relativamente novo.
de um habitat onde vigoram condições especiais de
ambiente. Não se trata de conceito de lugar, mas da
Pelos critérios da ONU, para ser considerada cidade,
posição particular que a espécie ocupa na comunidade
uma aglomeração urbana deve contar com mais de 20
devido às suas adaptações estruturais, seus
mil habitantes. Contudo, esse critério quantitativo varia
ajustamentos fisiológicos e aos padrões de
de um país para outro e é muito relativo. Na Islândia,
comportamento responsáveis pela reprodução de
uma aglomeração com apenas 300 habitantes já é
milhares de espécies de peixes, moluscos e crustáceos.
classificada como cidade; na Grécia são necessários 10
mil habitantes; no Brasil, toda sede de município onde
3.2. URBANIZAÇÃO E METROPOLIZAÇÃO exista uma prefeitura, uma Câmara de Vereadores e a
Comarca do Poder Judiciário são consideradas cidades,
PLANETA FAVELA mesmo que tenha poucos habitantes.
Em 2008 pela primeira vez na história, o número de
“A Terra urbanizou-se ainda mais depressa do que habitantes vivendo em cidade superou o número de
previra o Clube de Roma em seu relatório em 1972, pessoas que vivem no campo. Um milhão de pessoas a
Limits os Grownth [Limites do Crescimento], mais por semana. É esse o ritmo do crescimento das
sabidamente malthusiano. Em 1950, havia 86 cidades do mundo. Em 1950, havia 86 cidades com
cidades no mundo com mais de 1 milhão de mais de 1 milhão de habitantes; atualmente há 400.
habitantes; hoje são 400, e em 2015 serão pelo Naquele ano, Nova York era uma megacidade solitária
menos 550. Com efeito, as cidades absorveram no planeta; hoje há 25, dois terços delas concentrados
quase dois terços da explosão populacional global nos países em desenvolvimento. Foram necessários
desde 1950 e hoje o crescimento é de 1 milhão de 100 mil anos para que, a população urbana - cerca de
bebês e migrantes por semana. A força de trabalho 3,4 bilhões - superasse a do campo. Mas em 2025 o
urbana no mundo mais que dobrou desde 1980, e a porcentual da população urbana já será de 61%,
população urbana atual de 3,2 bilhões de pessoas é segundo projeções da Organização das Nações Unidas
maior do que a população total do mundo quando (ONU).
J.F.Kennedy tomou posse. Enquanto isso, o campo,
no mundo todo, chegou à sua população máxima e A parte mais vistosa desse processo de urbanização é a
encolherá a partir de 2020. Em consequência, as explosão das megacidades. Pela definição da ONU, as
cidades serão responsáveis por quase 10 bilhões de megalópoles têm mais de 10 milhões de habitantes em
habitantes, espera-se que aconteça em 2050.” DAVIS, seus limites geográficos formais. E uma voracidade que
Mike. Planeta Favela. São Paulo: Boitempo, 2006. cria manchas urbanas que podem englobar dezenas de
municípios. Nas últimas décadas, a conurbação de São
CRESCIMENTO POPULACIONAL MUNDIAL Paulo a Campinas, por exemplo, foi tão intensa que
criou a primeira macrometrópole do Hemisfério Sul,
superando as previsões de que Lagos, na Nigéria,
chegaria antes.

Nas próximas décadas, nada deverá frear o Terceiro


Mundo como o maior gerador de megalópoles. A indiana
Mumbai saltou do 14° lugar no ranking mundial em 1975
para 4° em 2007 e será, em 2025, a 2ª megacidade da
Terra, com 26,3 milhões de habitantes. No ano passado,
Karachi, no Paquistão, entrou direto no 12° lugar, com
12,1 milhões; o mesmo ocorreu com Istambul, na
Turquia, Lagos, na Nigéria, e Guangdong, na China. Já
o clube das megacidades do Primeiro Mundo tende à
estabilização. Em 1975, Paris era a 7° mancha urbana
Fonte: ONU. do mundo, com 8,5 milhões de habitantes. Em 2005, já
tinha caído para a 21ª posição e em 2025 será a 23ª,
com 10 milhões. Londres, megacidade do século 19,
86 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
deixou o grupo, porque cresceu muito menos que as
outras.

Da esquerda para a direita Henri Lefèbvre, Max Weber e


Karl Marx.

Não é que não existam ainda hoje essas relações,


mas mudaram de conteúdo e forma. Hoje as cidades
podem não manter intercâmbio importante com sua
vizinha imediata e, no entanto, manter relações
intensas com outras muito distantes, mesmo fora de
Vista de Londres, Inglaterra. seu país. Por exemplo, uma indústria mecânica
localizada na cidade de Sertãozinho, que pertence à
CIDADE E CIDADANIA (ORIGENS) Sexta Região Administrativa do Estado de São
Paulo, composta por oitenta municípios, mantém
relações comerciais, tanto de compra como de
As cidades são aglomerados urbanos que surgem, venda, com apenas seis cidades locais; no entanto,
crescem e se desenvolvem segundo uma dinâmica ela mantém relações intensas com a capital do
especial, definida por circunstâncias históricas e Estado e com outros países, já que exporta grande
socioeconômicas. A primeira é a sedentarização da parte de sua produção anual de máquinas. SANTOS,
sociedade, não é possível a construção de estruturas Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: EDUSP,
fixas em uma sociedade nômade, e a segunda 2008.p.55.
condição, foram os excedentes agrícolas, que liberaram
certa quantidade de pessoas para as cidades. Tais
condições ocorreram em várias partes do mundo, em REDE URBANA MUNDIAL
algumas delas por volta de 3.500 a.C., como na
Mesopotâmia (Ur, Uruk e Babilônia) e no Egito (Mênfis). As cidades estão ligadas entre si por uma estrutura de
transportes e meios de comunicação, formando uma
rede onde se estabelecem fluxos de mercadorias,
pessoas e informações. As relações nessa rede urbana
são hierárquicas, pois algumas cidades exercem papel
de comando, estando no topo da hierarquia urbana: são
as metrópoles e as cidades globais.

METRÓPOLES E CIDADES GLOBAIS

As metrópoles são cidades populosas adaptadas à


Fonte: economia globalizada, que não necessariamente
www.biblioteca.templodeapolo.net/imagens/cidades/mapa_uruk formam uma megacidade. Em geral, preservam suas
tradições, sua arquitetura e seu patrimônio histórico,
principalmente na Europa.
Muitos estudiosos defendem diversos conceitos quando
escrevem sobre cidade, não havendo consenso entre os
conceitos. Henri Lefèbvre definiu cidade como ―a As metrópoles são polos de onde se estende uma
projeção da sociedade sobre um dado território‖. Max extensa zona de influência sobre outras cidades de uma
Weber acreditava que a cidade é uma comunidade que vasta região. Constituem grandes centros de atração de
atingiu certa autonomia e pode, assim, controlar sua investimentos e estão articuladas com as cidades
vida econômica. Ele afirma que as cidades são uma das globais; em alguns casos, podem ser classificadas como
razões mais fortes para a existência do capitalismo e tais.
justifica sua afirmativa afirmando que no Oriente as CIDADES GLOBAIS
cidades não tinham autonomia para criar negócios. Karl
Marx afirmava também que o capitalismo, em seus
Nas últimas décadas, alguns grandes centros urbanos
primórdios, é revolucionário na histórica da humanidade,
passaram a exercer forte influência em escala mundial
pois entre outras coisas, aumentou o número de
graças ao desenvolvimento da tecnologia de
pessoas que habitam as cidades, que têm então o
transmissão de dados, à presença de numerosas sedes
caráter transformador, e fez crescer o trabalho livre.
de transnacionais e dinâmicas bolsas de valores.
Ainda para Marx, a cidade é o ponto de encontro e de
Transformaram-se em cidades globais.
confronto das classes sociais. As cidades concentram a
maior parte das contradições impostas pelo capitalismo.
Essas cidades forma uma rede de cidades globais ou
mundiais. Elas são o principal elo do país com o
exterior, em função de seu dinamismo econômico e da
sua infraestrutura diversificada e moderna, com
eficientes equipamentos de telecomunicações portos e
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 87
aeroportos, redes de hotéis, importantes centros de Uma megalópole é uma extensa região urbanizada,
compras, etc. pluri-polarizada por metrópoles conurbadas.
Correspondem às mais importantes e maiores
aglomerações urbanas da atualidade. São encontradas
É por meio da rede de cidades globais que a
em regiões de intenso desenvolvimento urbano, e nelas
economia global é administrada, coordenada,
as áreas rurais estão praticamente (senão totalmente)
planejada e servida. SAKKEN, Saskia.
ausentes. O conjunto da megalópole apresenta uma
forte integração econômica e intensos fluxos de pessoas
Características dessas cidades globais: e mercadorias. Meios de transporte rápidos — trens
expressos, autopistas e pontes aéreas — sustentam
 Dotadas de boa infraestrutura, comandam as esses fluxos.
atividades prdutivas.
 São polos financeiros, comerciais e de serviços. Por Além das megalópoles tradicionais concentradas em um
elas transita a maior parte do dinheiro que alimenta os único país, surgem novas formas de urbanização que já
mercados financeiros internacionais. Contam com estão sendo estudadas. É o caso da megalópole
investimento em tecnologia de ponta. Renana que se estende de Amsterdã na Holanda até
 Sediam grandes empresas transnacionais.
Stuttgart, na Alemanha, como observamos no mapa a
seguir:
 Têm profunda integração com a economia global,
irradiam progressos tecnológicos e polarizam os fluxos
das redes mundiais.
 Integram-se às redes mundiais por um conjunto de
atividades que caracterizam a fase econômica atual,
como serviços especializados e alta tecnologia para a
indústria e para o comércio: escritórios, consultorias,
publicidade, financiamentos, telecomunicações, etc.

Considerando essas características, a maior parte das


megacidades não sçao cidades globais É o caso da
maior parte das megacidades dos países
subdesenvolvidos, que possuem precária infraestrutura
de transportes e de comunicações e nas quais
predomina a população de baixa renda.

MEGALÓPOLES E CONURBAÇÕES Fonte: www.1.bp.blogspot.com

Em alguns países as metrópoles cresceram tanto que CONURBAÇÕES BINACIONAIS


deram origem às regiões metropolitanas, formadas
pelas metrópoles e cidades menores vizinhas, que Nem sempre, o dinamismo econômico, comercial e
cresceram em direção à cidade maior, atraídas pelo seu humano aliados ao crescimento urbano cria
poder econômico. Esse fenômeno é conhecido como megalópoles. Existem casos que envolvem países, onde
conurbação. cidades fronteiriças apresentam uma dinâmica
econômica e cultural, mas, não são megalópoles. É o
Conurbação é a unificação da malha urbana de duas ou caso da região das montanhas Cascade, entre o
mais cidades, em conseqüência de seu crescimento Estados Unidos e o Canadá.
geográfico. Geralmente esse processo dá origem à
formação de regiões metropolitanas. Contudo, o Essa área já é chamada por muitos de megalópole do
surgimento de uma região metropolitana não é século XXI e é constituída de importantes centros como
necessariamente vinculado ao processo de conurbação. Vancouver, Seattle e Portland.

O processo de conurbação é caracterizado por um


crescimento que expande a cidade, prolongando-a para
fora de seu perímetro absorvendo aglomerados rurais e
outras cidades. Estas, até então com vida política e
administrativa autônoma, acabam comportando-se
como parte integrante da metrópole.

Com a expansão e a integração, desaparecem os


limites físicos entre os diferentes núcleos urbanos.
Ocorre então uma dicotomia entre o espaço edificado e
a estrutura político-administrativa.

Em muitos países essas regiões metropolitanas


cresceram tanto que se conurbaram com outras regiões
metropolitanas. Surgindo assim as megalópoles.
88 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Desde o final do século XIX, até um pouco mais da
metade do século XX (1970), vários autores obedeciam
a um esquema tradicional de hierarquia, no qual os
centros maiores (metrópoles) dominavam
economicamente os centros menores e vilas.

Atualmente com a chamada Revolução Científica


Tecnológica tivemos um maior aprimoramento nos
sistemas de transportes e das telecomunicações, pois,
com o aumento da capacidade dos computadores,
softwares e satélites, a utilização do fax e dos cabos de
fibras ópticas permitiram que as informações
econômicas, financeiras e o fluxo de capital se
tornassem mais globalizados.

A hierarquização refere-se aos papéis exercidos pelas


cidades na organização socioeconômica-espacial do
Fonte: ATLAS geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. território brasileiro, e também na organização espacial
mundial – caso das cidades globais e megacidades.
MEGACIDADES E HIPERCIDADES OU Esses papéis dependem em boa parte, dos fluxos de
METACIDADES pessoas, informações, capitais, serviços e mercadorias
que se dirigem à cidade e dela saem. Desse modo na
formação de uma rede urbana, acaba se estruturando
A megacidade é um conceito novo e utilizado para também uma hierarquia urbana.
caracterizar as grandes cidades do ponto de vista
quantitativo, ou seja, são todas as áreas urbanas que
segundo a ONU possui população igual ou superior a 10 MODELO CLÁSSICO DE HIERARQUIA URBANA
milhões de habitantes. Portanto o conceito de
megacidades não envolve aspectos ligados ao poder
político nem econômico.

A ONU, através de sua agência Habitat, responsável


pelo estudo das cidades, afirma que diversas regiões
metropolitanas do planeta irão ultrapassar a barreira de
20 milhões de habitantes e continuar a crescer para, em
poucas décadas se aproximar dos 30 milhões de
habitantes. Tóquio, Mumbaí, Lagos, Dacca e São Paulo,
nessa ordem, serão as maiores cidades do mundo em
2015. Essas metacidades, segundo pesquisadores,
serão tão importantes que seu poder de influência vai
gradativamente se equiparar em poder aos comandos e
às decisões dos governos dos países onde estão ESQUEMA ATUAL DE HIERARQUIA URBANA
localizados.

TECNOPÓLOS

Lagos, Nigéria. Os tecnopolos são parques ou polos tecnológicos ou


ainda parques científicos, é o exemplo mais acabado de
HIERARQUIA URBANA geografia industrial da revolução técnico-científica ou
informacional. Esses novos centros industriais têm
relação com a Terceira Revolução Industrial, como as
A hierarquia urbana irá ser analisada por dois ângulos: regiões carboníferas tinham com a 1ª Revolução
um esquema denominado clássico e o outro Industrial ou as jazidas petrolíferas com a 2ª Revolução
denominado de contemporâneo.
Industrial. Constituem os pontos de interconexão da
rede mundial de conhecimentos e os principais centros
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 89
irradiadores das inovações que caracterizam a atual tensões da mais variada origem a que estão sumetidas
revolução tecnológica. as populações urbanas. Manifestando-se sob diversas
formas, esta violência traz consigo outros
complicadores, constituindo-se um só tempo em causa
PROBLEMAS URBANOS
e efeito.

Como conseqüência direta do crescimento das grandes


cidades, as regiões urbanas de maior porte enfrentam 4 GEOGRAFIA E GESTÃO AMBIENTAL - O
os mais variados problemas, alguns dos quais MEIO AMBIENTE NAS RELAÇÕES
assumindo projeções de maior gravidade nos países INTERNACIONAIS: AVANÇOS CONCEITUAIS E
subdesenvolvidos. INSTITUCIONAIS; POLÍTICA E GESTÃO
AMBIENTAL NO BRASIL.
 Habitação: a demanda nos centros urbanos aumenta
em progressão geométrica, gerando uma especulação
imobiliária incontrolável que, literalmente, empurra as As atividades humanas intensificaram a deterioração da
populações menos abastadas rumo à perfieria dos natureza principalmente nos últimos 250 anos, desde a
centros urbanos. Os preços dos imóveis tornam-se cada Revolução Industrial, que alterou a produção e a fonte
vez mais restritos. de energia que passou a ser o carvão mineral e
posteriormente o petróleo, mas, a problemática
 Saneamento Básico: muitos centros urbanos de
ambiental tomou uma enorme relevância principalmente
grande porte não dispõem de saneamento básico ao longo do século XX.
indispensável ao atendimento de toda a sua população,
principalmente da que reside na periferia. Quando há a
proliferação de doenças e pragas, nos bairros sem infra- “O excessivo crescimento tecnológico criou um
estrutura necessária, a situação torna-se gravíssima. meio ambiente no qual a vida se tornou física e
 Transporte: mesmo as cidades planejadas enfrentam
mentalmente doentia. Ar poluído, ruídos irritantes,
congestionamentos de tráfego, poluentes químicos,
problemas com a circulação de pessoas e mercadorias
riscos de radiação e muitas outras fontes de
através dos meios de transportes disponíveis. Veículos
estresse físico e psicológico passaram a fazer parte
e pedestres disputam espaços cada vez mais restritos
da vida cotidiana da maioria das pessoas.
nas ruas e avenidas. A precariedade do transporte de
massa é parte integrante da problemática de muitas
regiões densamente urbanizadas, agravada com a Esses múltiplos riscos para a saúde não são apenas
migração pendular (Commuting). Tentativas de solução subprodutos casuais do progresso tecnológico; são
vêm sendo encaminhadas através de sistemas de características integrantes de um sistema
metrôs, conexões de linhas de ônibus, etc. econômico obcecado com o crescimento e a
expansão, e que continua a intensificar sua alta
tecnologia numa tentativa de aumentar a
produtividade. [...] A tecnologia humana está
desintegrando e perturbando seriamente os
processos ecológicos que sustentam nosso meio
ambiente natural e que são a própria base de nossa
existência.” Fritjof Capra. O ponto de mutação. São Paulo,
Cultrix, 2004.

A exploração desenfreada alcançou níveis alarmantes,


ocasionando inúmeras e profundas alterações nas
paisagens terrestres. O modelo de desenvolvimento
baseado em inovações tecnológicas, na busca do lucro
incessante e no aumento dos níveis de consumo,
precisa ser substituído por outro, que leve a uma
harmoniosa convivência entre sociedade e natureza.

Passageiros em um ônibus público, em Fatchpur, Índia. Houve uma espécie de abandono da compreensão de
que a natureza é uma totalidade, e que as agressões
 Abastecimento: o afluxo de pessoas para os centros ambientais afetam diretamente as sociedades. A
urbanos tem comprometido seriamente a manutenção biosfera está interligada com as outras esferas e a
de um eficiente sistema de abastecimento, constituindo- interferência humana sobre uma delas afetará também
se em mais um componente do complexo dos as outras, e consequentemente atingirá os seres vivos.
problemas gerados nas cidades.
 Poluição Ambiental: causada principalmente pelo
monóxido de carbono expelido pelos veículos
automotores e também através dos resíduos das
fábricas, lançados na atmosfera pelas chaminés ou
detritos poluentes dos rios, a poluição ambiental
constitui-se um grande problema nas regiões urbanas,
especialmente nos países subdesenvolvidos.
 Violência: associada a outros graves problemas, a
violência urbana é um fato incontestável, refletindo as
90 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Originalmente, o bioma das florestas tropicais úmidas
cobria vastas extensões da América do Sul e Central,
África e Ásia, além da Oceania, porém, a degradação
em demasia reduziu bastante essa área de atuação.

Kaiteur Falls – Guiana.


19
É na biosfera que a Ecologia , termo utilizado pela
EFEITOS DE BORDA NA FRAGMENTAÇÃO DE
primeira vez pelo biólogo alemão Ernst Haeckel em
ECOSSISTEMAS
1866, encontra seu objeto de estudo. O ecossistema é
uma porção da biosfera na qual se estabelecem as
relações entre organismos e o meio inorgânico, que
deveriam ser harmoniosas. A biosfera é na realidade o
ecossistema global. Os ecossistemas podem ser
classificados em três grupos de acordo com os
ambientes planetários: terrestres, de água doce e de
água salgada. Os ecossistemas terrestres, que ocupam
vastas porções das terras emersas são chamados de
biomas.
A explosiva expansão populacional e econômica da
humanidade nos últimos séculos transformou o que
“Na escala global, a maior como unidade terrestre antes eram grandes áreas contínuas de florestas em
ou unidade ecossistêmica é o bioma. O conceito de paisagens em mosaico, formadas por manchas
bioma se baseia no desenvolvimento da remanescentes das florestas originais, cercadas por
comunidade. Os biomas são identificados como a áreas alteradas pelo homem de várias formas:
comunidade madura ou associação de espécies plantações, pastagens, assentamentos urbanos.
dominantes numa determinada condição climática Este processo, ao qual chamamos de fragmentação
vigente. Os biomas mundiais são regiões florestal, acelerou-se imensamente no século XX. O
homogêneas onde interagem vários fatores, mas resultado é que hoje, na maioria das regiões do
nos quais a relação entre vegetação, clima e solos mundo, pobres e ricas, temperadas e tropicais, as
tem influência principal”. Geografia do Brasil, Jurandyr florestas originais estão reduzidas a uma grande
Ross. coleção de “ilhas” de mata, cada vez menores e
mais isoladas, cercadas por áreas abertas. Ainda
PAÍSES COM MAIOR BIODIVERSIDADE mais preocupante, a fragmentação florestal tem se
acelerado muito nas últimas décadas nas grandes
áreas de florestas tropicais ainda remanescentes no
mundo, na Amazônia, no oeste da África e no
sudeste da Ásia. A primeira percepção que teríamos
é que um fragmento é simplesmente uma amostra
da floresta original, ou seja, que a mata pequena
seria essencialmente idêntica à grande floresta,
apenas menor. Infelizmente, porém, essa é uma
expectativa ingênua. O Projeto Dinâmica Biológica
de Fragmentos Florestais (PDBFF), um grandioso
programa de pesquisa que vem sendo realizado ao
norte de Manaus, vem estudando, há várias
décadas, o que acontece com fragmentos de
floresta Amazônica de 1, 10, 100 e 1000 hectares,
Fonte: FERREIRA, Graça. M. L. Atlas geográfico: espaço após terem sido isolados. Vários dos resultados
mundial. São Paulo: Moderna, 2003.p.80. obtidos têm sido inesperados e perturbadores. A
floresta morre de fora para dentro, vitimada por um
Entre os anos de 1970 e 2003 a biodiversidade do conjunto de processos conhecidos como “efeitos de
planeta foi reduzida em cerca de 30%. As populações borda”. A partir do momento em que uma pequena
de espécies tropicais foram as mais atingidas, com mata passa a estar cercada por áreas abertas, uma
perdas que se aproximam de 55% nesse período. série de alterações microclimáticas começam a
ocorrer em cadeia, na periferia do fragmento.
Primeiro, mais luz solar chega ao solo do que no
19
Palavra ecologia reúne as noções de “casa” (em grego oikos) e de interior da floresta fechada. Isso não só já faz com
“estudo” (em grego, logos). É a ciência que estuda as relações entre que a mata seja mais clara, mas, também, resulta em
os organismos e o seu meio ambiente.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 91
um aumento da temperatura do solo, o qual por sua doze quilômetros quadrados (1.200 hectares). Na
vez aquece o ar. Com o ar mais quente, a umidade Floresta da Tijuca, então, não poderiam caber os
se perde por evaporação, tornando-o mais seco. territórios nem mesmo de três onças, e na grande
Com o aumento da insolação e o ressecamento, maioria dos fragmentos florestais hoje
proliferam plantas heliófilas arbustivas. Uma outra remanescentes no Brasil não caberia o de uma
alteração, com efeitos inesperadamente drásticos, é sequer. Não é de se estranhar, então, que não haja
o aumento de exposição ao vento. As árvores no mais onças na Floresta da Tijuca, e que a espécie
interior da floresta estão protegidas contra a força esteja numa situação tão crítica em nosso país. A
dos ventos por suas vizinhas: quase não venta no mensagem de tudo isso é bastante simples: há duas
interior da mata. Já as árvores da borda estão maneiras de se matar uma onça. A primeira, rápida e
completamente expostas. Em árvores da floresta direta, pode ser a tiros ou com iscas envenenadas.
amazônica, muito altas, mas com raízes muito A segunda, mais sutil, é destruindo seu habitat de
superficiais, os efeitos são particularmente maneira a preservar apenas um remanescente de
desastrosos. A cada ventania as árvores externas floresta menor que a área que uma população de
tombam em grande quantidade, por sua vez onças precisa para sobreviver. As duas maneiras
expondo suas vizinhas internas para serem as são igualmente eficientes; a segunda é apenas um
próximas; a borda vai entrando cada vez mais para pouco mais lenta. Lyndon Johnson Batista de Souza.
dentro da floresta, que vai aos poucos morrendo e Biólogo (PI).
se encolhendo. Com a mudança completa da
estrutura dos fragmentos, os animais começam a
ser também afetados; a composição da comunidade FLORESTAS EM DECRÉSCIMO NO PLANETA
animal também muda drasticamente. Espécies
exóticas podem invadir o interior da mata
acarretando na diminuição da biodiversidade local.
Populações pequenas e isoladas tendem a praticar
endogamia aumentando a homozigose e a
incidência de genes deletérios. Todo este amplo e
variado conjunto de mudanças, que é coletivamente
conhecido como efeitos de borda, vão entrando até
distâncias de dezenas ou centenas de metros para
dentro do fragmento. Quando estes são pequenos,
de 1 a 10 hectares, os efeitos de borda afetam toda a Fonte: Relatório de desenvolvimento humano 2007/2008.
superfície do fragmento, realizando uma triste Coimbra, Edições Almedina, AS, 2007.p.158.
façanha: ir de mata a capoeira, sem precisar cortar.
Mesmo em fragmentos muitos maiores, da ordem de As consequências socioambientais dessa interferência
centenas de hectares, a degradação causada pelo humana são muitas:
efeito de borda é bastante perceptível, e tende a
penetrar cada vez mais na mata. Os fragmentos,
mesmo os bastante grandes, são muito diferentes  Aumento da erosão, que leva a um empobrecimento
da mata original, na estrutura da sua vegetação, dos solos, como resultado da retirada de sua camada
assim como na composição de sua fauna e flora, superficial.
pelo simples fato de serem fragmentos.  Assoreamento de rios e lagos, como resultado da
elevação da sedimentação, que provoca desequilíbrio
A maioria dos fragmentos de mata restantes no nesses ecossistemas aquáticos, além de causar
Brasil são em média de 10 hectares, e portanto não enchentes e, com frequência, trazer dificuldade para a
devem servir de muita coisa para uma população de navegação.
uma espécie de grande porte que esteja isolada  Rebaixamento do aquífero resultante da menor
nele. Embora existam áreas bem maiores, como por infiltração da água das chuvas no subsolo.
exemplo, o Parque Nacional da Tijuca no Rio de  Diminuição dos índices pluviométricos, em
Janeiro, com um pouco mais de 3.000 hectares (30 consequência do fim da evapotranspiração; estima-se
2
Km ), e o do Iguaçu, no Paraná, com que metade das chuvas que caem sobre as florestas
2
aproximadamente 185.000 hectares (1.850 Km ), uma tropicais é resultante da evapotranspiração.
pergunta não quer calar: será que com áreas assim  Elevação das temperaturas locais e regionais.
não seríamos capazes de preservar qualquer
 Agravamento dos processos de desertificação.
espécie de animal? A triste resposta é que não. Para
entender porque, é só compreendermos o que tem
acontecido com a onça pintada (Panthera onca) no POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
Brasil.
A poluição atmosférica é provocada por fontes
Onças são animais grandes, que se alimentam de estacionárias, como indústrias e usinas termelétricas, e
presas grandes que por sua vez já não são tão fontes móveis, como caminhões, ônibus e automóveis
comuns assim. Em vista disso, cada onça (ou casal menores. É um dos principais problemas de saúde
de onças) necessita de uma área muito extensa para pública, principalmente nas grandes aglomerações
sobreviver, área essa que não é sobreposta com a urbanas. Na zona rural, a prática de queimadas em
de outras onças (ou casais), uma vez que são canaviais e os incêndios em florestas e outras
territoriais. Traduzindo em números, no Iguaçu formações vegetais são os principais responsáveis pela
tínhamos, até recentemente, cerca de 150 onças poluição atmosférica. Com o lançamento de gases e
2
numa área de 1.850 Km , o que dá uma densidade partículas sólidas na atmosfera, tanto pode ocorrer um
populacional de aproximadamente uma onça por desequilíbrio nas proporções de gases que já a
92 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
compõem (caso da elevação da concentração de
dióxido de carbono) quanto podem surgir gases É verdade que no último milênio ocorreram dois
estranhos a ela, como é o caso do dióxido de enxofre, momentos de variação de temperatura como agora. Um
dos óxidos de nitrogênio e do monóxido de carbono. ficou conhecido como Período Medieval Quente (no
Ocorre também, o aumento de elementos ou partículas início do milênio), o outro conhecido como Pequena
que naturalmente não aparecem na composição Idade do Gelo (no fim da Idade Média). Acredita-se que
atmosférica, caso do chumbo, das potências industriais tenham sido causados por alterações na circulação
dos aerossóis, das fumaças negras, dos oceânica do Atlântico e variações da atividade marítima.
hidrocarbonetos, dos solventes, etc.
MUDANÇAS NA TEMPERATURA DO PLANETA
CONCENTRAÇÃO DE GASES DO EFEITO ESTUFA
(PARTÍCULAS POR MILHÃO – PPM)
Para os participantes do IPCC (Painel
Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas),
porém, o que está acontecendo agora é diferente. Os
gases que se acumulam na atmosfera como resultado
da atividade do homem são transparentes à luz visível,
como um vidro de uma estufa, permitindo que os raios
solares aqueçam a superfície terrestre.

Quando a Terra devolve o calor em excesso, não é mais


sob forma de luz, mas de radiação infravermelha. Como
LOVELOCK, James. Gaia: cura para um planeta doente. São os gases poluentes absorvem essa radiação como
Paulo: Cultrix, 2006.p.169. calor, parte fica retida na atmosfera, resultando num
AQUECIMENTO GLOBAL aumento da temperatura como podemos observar no
gráfico abaixo:
Uma das consequências da ação humana sobre o meio
ambiente é a elevação da temperatura média global,
provocada pela intensificação do efeito estufa. O efeito
estufa é um fenômeno conhecido desde o fim do século
XIX. Porém, é somente no século XX que as pesquisas
tornaram-se mais confiáveis. Pesquisas apontam para
um acréscimo de 3°C na temperatura média até 2050,
quando a concentração de dióxido de carbono na
atmosfera duplicará.

EFEITO ESTUFA

O Efeito Estufa é um dos principais fatores para a Fonte: Centro de Análise e Informações sobre Dióxido de
manutenção da temperatura do planeta. Mas sua Carbono.
intensificação se acelerou no século XX, o que está
alterando ciclos biológicos. Um exemplo perturbador é o Segundo dados do IPCC existem mudanças
do ozônio (O3), que existe em todas as camadas do ar. consideráveis no mundo inteiro. Entre 1995 e 2006,
O aumento da quantidade do gás em baixas altitudes estão 11 dos 12 anos mais quentes já registrados desde
agrava o efeito estufa, pois aumenta a retenção de 1850. O mar está subindo, e o ritmo dessa elevação
energia solar. Porém, a relação entre o aumento das está aumentando, no decorrer do século XX, as águas
emissões de CO2 e as alterações climáticas não é subiram 17 cm.
consenso entre os pesquisadores.
Existem ainda previsões de mudanças climáticas em
A CRÍTICA DOS CÉTICOS todos os continentes:

De acordo com um grupo de cientistas intitulados  África: A falta de recursos e os problemas políticos
céticos, o clima terrestre está em constante fazem da África o continente mais vulnerável às
transformação. Estudos mostram que o planeta passa mudanças. A seca pode condenar 250 milhões de
por períodos de calor e de frio intensos, decorrentes de pessoas à sede por volta de 2020 e agravar ainda mais
mudanças astronômicas combinadas com a variação na a fome.
concentração de gases do efeito estufa e com a  Europa: No sul, centro e leste europeu, as altas
quantidade de radiação solar refletida pela neve e pelo temperaturas e as secas reduzirão à disponibilidade de
gelo. água e a produtividade agrícola, aumentando as ondas
de calor. No norte, o aquecimento pode provocar
Os céticos estão certos em uma coisa: é difícil prever o inundações e erosões.
comportamento do clima terrestre. Pequenas variações  Ásia: O derretimento do gelo do Himalaia deve causar
na crosta do planeta e nos mares afetam a atmosfera de inundações e avalanches e ameaçará os recursos
maneira drástica. Uma variação menor ou maior das hídricos principalmente nas regiões mais povoadas do
correntes oceânicas pode provocar o aparecimento de sul, leste e sudeste da Ásia, provocando doenças.
gelo em certos lugares e causar tempestades em
outros.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 93
 América: Na América do Norte, a produção de todos, buscava um equilíbrio entre as posições
culturas irrigadas pode aumentar até 20%. Por outro antagônicas surgidas em 1972.
lado, o derretimento das geleiras das montanhas a
oeste provocará inundações no verão e seca no inverno.
O aquecimento poderá ainda levar ao deslocamento de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA TODOS
espécies tropicais em direção aos polos. Na América
Latina, parte da floresta Amazônica pode tornar-se uma “A satisfação das necessidades essenciais depende
extensão do Cerrado, enquanto o núcleo da Caatinga em grande parte de que se consiga o crescimento
poderá virar um deserto. A vazão do rio Amazonas deve potencial pleno, e o desenvolvimento sustentável
diminuir, ameaçando a biodiversidade. Mais chuva pode exige claramente que haja crescimento econômico
acabar com os grãos do sul. em regiões onde tais necessidades não estão sendo
 Oceania: A situação é bem problemática para as ilhas atendidas. Onde já são atendidas, ele [o
da Oceania. Tesouros ambientais como a Grande desenvolvimento sustentável] é compatível com o
Barreira de Corais pode ser atingida e até desaparecer crescimento econômico desde que esse
 Regiões Polares: A cobertura gelada na Groenlândia crescimento reflita os princípios ambientais de
e o gelo do Ártico podem desaparecer quase totalmente sustentabilidade e da não-exploração dos outros.
no verão, antes de o século XXI acabar, e podem sumir Mas o simples crescimento econômico não basta.
ecossistemas. Uma grande atividade produtiva pode coexistir com
a pobreza disseminada, e isso constitui um risco
para o meio ambiente. Por isso o desenvolvimento
CONFERÊNCIAS E TRATADOS EM DEFESA DO sustentável exige que as sociedades atendam às
MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO necessidades humanas, tanto aumentando o
SUSTENTÁVEL / GEOPOLÍTICA AMBIENTAL potencial de produção quanto assegurando à todos
as mesmas oportunidades”. BRUNDTLAND, Gro Harlem.
O ano de 1968 marca o surgimento de uma das Nosso futuro comum: Comissão Mundial sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: FGV, 1991.p.47.
primeiras tentativas de interpretar o sistema global sob
20
uma perspectiva ecológica, era o Clube de Roma , que
propôs mudanças de rumo global destinada a produzir  RIO 92 (ECO 92) - A Conferencia das Nações Unidas
um equilíbrio entre economia e meio ambiente. Em 1971 para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais
o Clube de Roma divulgou um relatório chamado os comumente chamada de ―Fórum Global‖, realizou-se no
limites do crescimento, que se tornou um marco na Rio de Janeiro, de 3 a 14 de janeiro de 1992. O seu
discussão ambiental. Em 1972, na Conferência das desafio principal, segundo o secretário geral Maurice
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (em Strong, era o de ―estabelecer a fundação de uma
Estocolmo) foi reconhecido o relacionamento entre os associação global entre os países em vias de
conceitos de conservação ambiental e desenvolvimento, desenvolvimento e os países mais industrializados,
nesse momento surgiram as ideias de poluição da tendo como base as suas necessidades mútuas e os
pobreza e ecodesenvolvimentismo. seus interesses comuns, com o intuito de assegurar o
futuro do planeta. Da Rio-92, ou Eco-92, resultaram
 ESTOCOLMO (1972) - Em 1972 foi realizada a metas e compromissos, como por exemplo, a Agenda
Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o 21, a Convenção da Biodiversidade, a Convenção do
Meio Ambiente, em Estocolmo (Suécia). Nesse evento Clima e a Declaração Sobre Florestas.
surgiram as primeiras polêmicas sobre o antagonismo
entre desenvolvimento e meio ambiente. Ainda nesse
ano, em Massachusetts Institute of Technology (MIT),
dos Estados Unidos, divulgou o resultado de um estudo
que ficou conhecido como Desenvolvimento Zero. Tal
estudo alertava o mundo para os problemas ambientais
globais causados pela sociedade urbano-industrial e
propunha o congelamento do crescimento econômico
como única solução para evitar que o aumento dos
impactos ambientais levasse a uma tragédia ecológica
mundial. Dois grupos se formaram nesse evento, os
defensores do ―desenvolvimento zero‖ e os defensores
do ―desenvolvimento a qualquer custo‖.
 NORUEGA (1983) - A Assembleia Geral da ONU
indicou a então primeira ministra da Noruega, Gro
Harlem Brundtland, para presidir uma comissão
encarregada de estudar os impactos ambientais
mundiais. Em 1987 foi publicado pela Comissão Mundial
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD)
da ONU um estudo denominado Nosso Futuro  JOHANNESBURGO 2002 (RIO+10) - A Cúpula
Comum, mais conhecido como Relatório Brundtland. Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável (Cúpula
Esse estudo, que defendia o desenvolvimento para da Terra), conhecida como Rio+10, foi realizada em
Johannesburgo, África do Sul, entre os dias 26 de
20 agosto e 04 de setembro, reunindo 191 países. O
O Clube de Roma congregou cientistas, economistas e altos
principal objetivo do encontro foi realizar um balanço
funcionários governamentais, com a finalidade de interpretar aquilo
dos resultados práticos obtidos depois da Rio-92.
que foi denominado “sistema global”. A perspectiva da ecologia
parecia adequada para a produção de um estudo sobre as tendências  RIO DE JANEIRO 2012 (RIO + 20) – Ao organizar a
de longo prazo da sociedade industrial. Rio + 20, a intenção das Nações Unidas era debater
94 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
também como a crise econômica mundial pode ser uma
boa oportunidade para rever o modelo econômico atual.
As mudanças propostas deveriam se apoiar em três
pilares: economia, sociedade e meio ambiente. Assim, à
lista de questões ambientais a ONU adicionou a fome e
a crise econômica mundial. Por isso o documento final
da conferência ficou conhecido como economia verde.

 MÉXICO (COP 16) - Os líderes do BASIC (grupo


formado por Brasil, África do Sul, Índia e China)
ressaltaram os pontos que consideram inegociáveis nas
discussões: o comprometimento com a prorrogação do
Protocolo de Kyoto, que expira em 2012; a aceleração
do desenvolvimento do fundo de curto prazo para
países em desenvolvimento e a transferência de
tecnologia. Também Foi aprovada a criação do
mecanismo REDD, sigla em inglês para Redução de
CONFERÊNCIAS DAS PARTES Emissões e Degradação Florestal. Ainda em Cancún,
foi criado o Fundo Verde, no qual países ricos
comprometeram-se a depositar 30 bilhões de dólares
 COP 1 – Conferência das Partes realizada em Berlim até o fim 2012 para ajudar países pobres a adotarem
no ano de 1995. São as reuniões anuais da Convenção medidas na área ambiental.
do Clima para concretizar o tratado. Ela inaugurou as
 DURBAN (COP 17) – Na COP 17, África do Sul, ficou
discussões sobre a redução das emissões de GEEs.
decidido que o protocolo de Kyoto terá sua vigência
 COP 3 – Realizada em 1997, em Kyoto, no Japão. prorrogada até 2017. É adotada a plataforma Durban,
Culminou com a adoção do Protocolo de Kyoto, que novo acordo em que todos os países terão metas
estabelece metas de redução para as nações ricas, obrigatórias para a redução das emissões de carbono a
chamadas países do Anexo 1. partir de 2015.
 COP 6 – Em Haia, na Holanda, no ano 2000 foram PROTOCOLO DE KYOTO
suspensas as negociações pela falta de acordo entre a
União Europeia e os Estados Unidos, em relação a
forma de absorção do carbono. O Protocolo de Kyoto, anexado à Convenção sobre
Mudanças Climáticas Globais, em 1997, representou
 COP 6 ½ (BONN) e COP 7 (MARRAKESH) – As
uma importante alteração nas políticas globais para o
negociações são retomadas a partir de 2001, porém, os
meio ambiente. O protocolo de Kyoto previa que os
Estados Unidos saem das negociações sob a alegação
países mais industrializados do planeta deveriam reduzir
de que os custos são muito elevados.
suas emissões de CO2 até 2012 em 5,2% em relação
 COP 11 – Realizada em Montreal, no Canadá, coloca aos níveis de 1990. Além disso, o protocolo criou ainda
em vigor o Protocolo de Kyoto com a adesão da Rússia. um sistema de comércio de emissões entre os países,
Os Estados Unidos não aceitam fixar metas para reduzir porém, somente entre os países desenvolvidos, que
as emissões. passaram a ter duas opções:
 COP 13 – Realizada em Bali, na Indonésia, pela
primeira vez as florestas entraram na pauta de
 Investir na redução das emissões.
discussões. O Mapa do Caminho de Bali estipula como
chegar a um novo acordo em Copenhagen.  Comprar de outros países créditos de carbono.
 COPENHAGEN 2009 (COP 15) – A 15ª Conferência
das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre OS CRÉDITOS DE CARBONO
Mudanças Climáticas aconteceu entre os dias 07 e 18 Créditos de carbono são certificados que autorizam
de dezembro de 2009 na Dinamarca. O evento foi o direito de poluir. O princípio é simples. As
considerado o mais importante da breve história dos agências de proteção ambiental reguladoras emitem
acordos multilaterais sobre questões ambientais. O certificados autorizando emissões de toneladas de
principal ponto discutido foi o Tratado que substituirá o dióxido de enxofre, monóxido de carbono e outros
de Kyoto, que findará em 2012. gases poluentes. Inicialmente, selecionam-se
indústrias que mais poluem no país, e são
estabelecidas metas para a redução de suas
emissões. As empresas recebem bônus negociáveis
na proporção de suas responsabilidades. Cada
bônus, cotado em dólares, equivale a uma tonelada
de poluentes. Quem não cumpre as metas de
redução progressiva estabelecidas por lei tem que
comprar certificados das empresas mais bem
sucedidas. O sistema tem a vantagem de permitir
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 95
que cada empresa estabeleça seu próprio ritmo de  A universalização do saneamento básico e do ensino.
adequação às leis ambientais. ddisponível em  A participação mais ativa das ONG´s, dos sindicatos e
<www.ambientebrasil.com.br>. Acesso em 4 de jul.2007. dos trabalhadores na vida da sociedade.
 O planejamento e o uso sustentado dos recursos do
TRATADO DE KYOTO solo, das formações vegetais e dos rios, lagos e
oceanos.
 A conservação da biodiversidade.
O Protocolo de Kyoto entrou em vigor em 16 de
fevereiro de 2005, passando a ser um tratado, com 141  A redução da emissão de poluentes na atmosfera.
assinaturas e o compromisso dos países signatários –
dentre os quais o Brasil – na redução da emissão de A CAMADA DE OZÔNIO
gases intensificadores do efeito estufa em 5,2%, até
2012. As regras do Tratado de Kyoto estabelecem cotas
de redução de gases maiores para os países A camada de ozônio não existia na atmosfera primitiva
industrializados do primeiro mundo e, cotas menores, da Terra, por conta da ausência de oxigênios. O ozônio
para os países em desenvolvimento. O Tratado de (O3) forma-se naturalmente na atmosfera pela ação dos
Kyoto também permite – através dos MDLS raios solares, que atingem o oxigênio (O2). Em
(Mecanismos de Desenvolvimento Limpo) – que condições naturais, há um equilíbrio entre a formação
empresas do primeiro mundo invistam em países de ozônio e a sua destruição. As concentrações de
pobres, financiando entidades ambientais, em projetos ozônio da estratosfera apareceram junto com a
ecologicamente ―limpos‖ nos campos de geração de oxigenação da atmosfera terrestre e funcionaram como
energia e de meio ambiente. uma barreira que filtra os raios ultravioletas.

Esses investimentos possibilitam que essas empresas Nos anos 1970, os cientistas Mario Molina e Sherwood
compensem a poluição que produzem e ainda Rowland levantaram a hipótese de que o cloro
permitem, a essas mesmas empresas, aumentarem proveniente de clorofluorcarbonetos poderiam destruir o
suas emissões de CO2 para cada 6 dólares investidos ozônio estratosférico. Esses gases, conhecidos como
21
em projetos no terceiro mundo. Contudo, vale lembrar Freons ou pela sigla CFC são utilizados
que só serão aceitos projetos e investimentos principalmente como substâncias refrigerantes em
aprovados pela ONU e outros órgãos de certificação. geladeiras, condicionadores de ar e em aerossóis, como
propelentes. No fim dos anos 70, o governo norte-
americano proibiu o uso de CFC como propelente de
Em março de 2001, George W. Bush contestou o acordo aerossóis. Porém, a ação política internacional começou
de Kyoto, alegando que as determinações do acordo com eficácia em 1985, com a assinatura do Protocolo de
seriam prejudiciais à economia norte-americana Viena para a proteção da camada de ozônio. Dois anos
principalmente, pelo fato do país estar atravessando mais tarde foi firmado o Protocolo de Montreal, que
uma grave crise energética. Bush alegou ainda que o regula a produção de CFCs.
acordo era pouco rigoroso com os países em
desenvolvimento, portanto ele não ratificaria o protocolo
de Kyoto. A posição norte-americana reduziu CHUVAS ÁCIDAS
substancialmente a chance de sucesso do acordo. A
primeira etapa de Kyoto venceu em 2012 sem alcançar Em áreas de atmosfera muito comprometida, é comum
inúmeros de seus objetivos. Apesar da discordância de a formação de nevoeiro causado pela poluição. Às
alguns países desenvolvidos chegou-se a uma vezes ocorrem as chamadas chuvas ácidas, que, além
conclusão em Durban, COP 17: o prazo de validade da dos males à saúde, provocam corrosões nos metais,
primeira etapa do Protocolo de Kyoto será 2017. Foi nas pedras calcárias, das construções, etc.
assinado aí a Plataforma Durban, um documento que
fixou uma agenda que culminará na criação em 2015,
de um novo acordo que obriga todas as nações – e não
apenas aquelas listadas em Kyoto – a cumprir metas de
redução nas emissões a partir de 2020. Na prática a
Plataforma Durban é só uma promessa.

AGENDA 21

A Agenda 21 é o principal documento da Rio-92, este As chuvas ácidas não são precipitações de água
documento foi assinado por 170 países, incluindo o carregadas de ácido sulfúrico e/ou ácido nítrico. Esses
Brasil, e é a proposta mais consistente que existe sobre ácidos se formam na atmosfera através de reações
como alcançar o desenvolvimento sustentável. A químicas provocadas pela presença de dois gases muito
Agenda é uma espécie de roteiro de ações concretas, poluentes, respectivamente, o dióxido de enxofre,
com metas, recursos e responsabilidades definidas e emitido por usinas elétricas e por determinadas
serve de guia para as ações do governo e de todas as indústrias e óxidos de nitrogênio, emanados de motores
comunidades que procuram o desenvolvimento sem a combustão, fornos industriais, aviões, etc. Em contato
prejudicar o meio ambiente. A Agenda 21 pode ser com a água da atmosfera, o dióxido de enxofre dá
realizada numa escala menor como cidades, bairros, origem ao ácido sulfúrico e óxidos de nitrogênio reagem
clubes, escolas e etc. para formar o ácido nítrico.

Entre os principais objetivos da Agenda 21, destacam-


21
se: Marca registrada da empresa norte-americana DuPont.
96 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
 Conservacionistas: considerada a mais radical, essa
corrente defende o controle do crescimento populacional
e a diminuição do tirmo da expansão econômica como
forma de conter os problemas ambientais. São essas
ações que inspiram a ação dos movimentos
22
ambientalistas.
 Ecodesenvolvimentistas: busca a transformação da
sociedade por meio de uma mudança nos padrões de
comportamento. Os que defendem esse ponto de vista
acreditam que a principal causa da degradação
ambiental reside nas próprias características do
capitalismo atual.
 Ecocapitalistas: Esse grupo acredita que o atual nível
de degradação da natureza não chega a ser tão
alarmante a ponto de colocar em risco a vida humana
INVERSÃO TÉRMICA no planeta. Por isso, eles ainda consideram viável a
contínua exploração dos recursos naturais.

Como decorrência do aumento do acúmulo de poluentes


BIODIVERSIDADE SOB AMEAÇA
na atmosfera, as grandes cidades frequentemente
parecem estar mergulhadas em densa névoa. Este
fenômeno é particularmente notável em dias em que Existem no planeta cerca de 2 milhões de espécies
ocorre alteração na circulação vertical do ar, processo vivas já catalogadas, mas estima-se que o número real
conhecido como inversão térmica. seja bem maior – entre 5 milhões e 30 milhões. A cada
ano são descobertas novas espécies de animais e
plantas em algum lugar do planeta.
As camadas inferiores do ar são normalmente mais
quentes que as superiores devido à irradiação do calor
do solo. Como as camadas mais quentes são menos Tão importante quanto animais, plantas e
densas que as frias, elas tendem a subir, enquanto as microorganismos tomados isoladamente é a maneira
camadas frias tendem a descer. como eles interagem para formar a estrutura e o
funcionamento de um ecossitema. Assim, para proteger
as espécies ameaçadas, é necessário preservar o seu
Assim, há uma circulação vertical do ar em
ecossistema. Além disso, evitar a extinção de espécies
consequência dos poluentes.
e garantir sua diversidade genética e biológica é
fundamental para as populações que dependem delas
A inversão térmica ocorre nos dias frios, quando as economicamente. Um alerta mundial foi dado no ano de
camadas inferiores de ar permanecem frias e mais 2005 com a publicação do documento Avaliação
densas, não havendo circulação vertical do ar, se não Ecossitêmica do Milênio, um diagnóstico solicitado pela
houver ventos fortes que desloquem essa camada Organização das Nações Unidas sobre a saúde do
horizontalmente, ocorrerá a formação de uma névoa planeta e sua relação com a manutenção da vida
com altas taxas de poluentes, que só será dispersa por humana. Realizado por 1.360 cientistas de
novas alterações meteorológicas. aproximadamente 100 países, o relatório conclui que a
Terra está passando por um novo período de extinções
Durante as inversões térmicas, observa-se uma série de em massa.Os pesquisadores estimaram que estejam
alterações fisiológicas no homem, como irritação dos desaparecendo por ano cerca de 27 mil espécies nem
olhos e das vias respiratórias, em consequência da ação sequer catalogadas e descritas pela ciência. O relatório
combinada de diversos poluentes, cujas taxas se tornam da União Internacional para a Conservação da Natureza
maiores. (IUCN), rede de organizações de mais de 160 países,
estima que mais de 17 mil espécies existentes estejam
ameaçadas de extinção. A contagem feita em 2009,
referente só a pássaros, informa que estão ameaçados
1.222 espécies, cerca de 20% do total conhecido.

MATAR A NATUREZA É MATAR O LUCRO

22
Os movimentos ambientalistas surgiram a partir do agravamento
CORRENTES AMBIENTALISTAS E MOVIMENTOS
dos problemas ambientais planetários. A partir dos anos 60 e 70,
AMBIENTALISTAS esses movimentos tiveram um enorme crescimento, atuando em
O agravamento dos problemas ambientais tem diversas causas, como a proteção da vida silvestre,no combate a
despertado uma preocupação cada vez maior na poluição, e etc. Esses movimentos atuam geralmente por meio de
sociedade. Contudo, não há consenso entre os ONGs. Entre as mais conhecidas podemos destacar o Greenpeace e a
ambientalistas, que se dividem em três correntes WWF, no Brasil, a mais reconhecida é a S.O.S Mata Atlântica.
ambientalistas:
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 97
Até pouco tempo atrás, as empresas costumavam devido à pavimentação de ruas e ao grande número de
atrelar seu nome às causas verdes, principalmente edificações; verticalização da orla.
como estratégias de marketing.(...) demonstrar
preocupação com o planeta era um forma de ilustrar POR QUE OCORRE O EFEITO ILHA DE CALOR
a imagem da companhia e atrair os consumidores
para as suas marcas. (...) Hoje, os custos de ações
como essas vão para a lista de investimentos, já que
podem signifcar lucros e crescimento nos negócios.
(...) O que mudou? Para entender o fenômeno, tome-
se como exemplo a Coca-Cola, uma das marcas
mais valiosas do mundo.

Há dez anos, quando anunciou uma série de


investimentos inéditos em projetos ambientais, a
Coca-Cola não estava preocupada com o
derretimento das geleiras do Ártico nem queria
salvar os ursos-polares ameaçados de extinção.
Diante de estudos que apontavam para a Fonte: FAPESP
crescenteescassez de água doce no planeta, a
empresa se convenceu de que ignorar o problema Esse problema ambiental é consequência de um
poderia ser perigoso para o futuro de seu negócio. A planejamento urbano deficiente ou inexistente.
água é a matéria-prima para a fabricação dos mais Temperaturas maiores são detectadas nos centros de
de 3.000 produtos da marca. A companhia injetou várias metrópoles, ocorrendo um decréscimo da
bilhões de dólares na criação de métodos e temperatura em relação às periferias.
programas de reutilização e tratamento de água em
suas fábricas, em mais de 200 países. (...) “(...) a
escassez de água, a extinção das espécies e o Além dos problemas atmosféricos os grandes centros
despejo de produtos tóxicos afetaram urbanos apresentam outros problemas como o acúmulo
profundamente o funcionamento da sociedade e de lixo e esgotos, os frequentes congestionamentos, a
também o das empresas, disse o economista poluição sonora e a poluição visual.
Andrew Winston (...). VEJA, 9/6/2010. Gabriela Carelli.

AMBIENTALISMO E LUCRO

Custa caro, tanto para empresas quanto para os


governos, promover alterações profundas no modo de
fabricar, comercializar e consumir produtos. Segundo a
Agência Internacional de Energia (IEA), para reduzir
pela, metade as emissões de carbono até 2050, com a
tecnologia que possuímos hoje, o mundo teria de
investir até lá, 316 trilhões de dólares. Por outro lado
pesquisas apontam que, a longo prazo, desenvolver
novas tecnologias limpas pode ser lucrativo para as
empresas, tanto por tornar possível que a produção
tenha gastos menores, qaunto por atender uma faixa
crescente de consumidores que preferem produtos de
empresas socialmente responsáveis. É a economia A Poluição Visual se caracteriza pelo excesso de
verde. elementos que compões uma paisagem urbana, mas
esses elementos não são naturais, em geral um monte
Hoje, as ações do desenvolvimento sustentável de cartazes, propagandas, banners, totens, placas e
encontram um mercado muito mais amplo e um valor também algumas pinturas feitas em muros.
monetário definido. O ambientalismo passou a dar lucro. OS BIOMAS E A CONSERVAÇÃO NO BRASIL
É o caspo da reciclagem. O Brasil é o campeão na
reciclagem de latas de alumínio, reaproveita, por ano, 23
cerca de 15 bilhões de latas, que rendem 382 milhões As Unidades de Conservação (UC‟s) são espaços
de reais. Em garrafas PET, são 253 mil toneladas por territoriais com características naturais relevantes,
ano e um lucro de 310 milhões de reais. legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos
de conservação e de limites definidos, sob regime
especial de administração.
METRÓPOLES E A POLUIÇÃO

A interferência humana no ambiente tem provocado


alterações climáticas nos grandes centros urbanos ou 23
Unidades de Conservação da Natureza: As unidades de
metrópoles, que resultaram na formação de um clima conservação ambiental são espaços geralmente formados por áreas
local. Nas regiões urbanas centrais, as temperaturas contínuas, estabelecidas com a finalidade de preservar ou conservar
tendem a aumentar por diversas razões: redução a flora, fauna, os recursos hídricos, as características geológicas e
drástica das áreas verdes; impermeabilização do solo geomorfológicas, as belezas naturais, enfim, a integridade do
ambiente.
98 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
As unidades de conservação integrantes do S.N.U.C UNIDADE DE PROTEÇÃO INTEGRAL
(Sistema Nacional de Unidades de Conservação)
dividem-se em dois grupos, com as seguintes categorias
São unidades que têm como objetivo básico a
de manejo:
preservação da natureza, não sendo permitido a
exploração dos seus recursos naturais de forma direta.
UNIDADES DE UNIDADES DE USO As únicas atividades humanas permitidas são de cunho
PROTEÇÃO INTEGRAL SUSTENTÁVEL científico, cultural ou recreativo, assim mesmo de forma
Área de Proteção controlada. Fazem parte desse grupo:
Estação Ecológica
Ambiental
Área de Proteção  Monumentos Naturais.
Reserva Biológica
Estadual  Refúgios de Vida Silvestre.
Área de Relevante  Estações Ecológicas.
Parque Nacional
Interesse Ecológico  Reservas Biológicas.
Parque Estadual Floresta Nacional  Parques Nacionais.
Monumento Natural Floresta Estadual
Refúgio de Vida Silvestre Reserva Extrativista UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL
---------------------------- Reserva de Fauna
Reserva de São unidades cujo objetivo principal é compatibilizar a
---------------------------- Desenvolvimento conservação da natureza com o uso sustentável. Nelas
Sustentável são permitidos determinados tipos de atividades e de
Reserva Particular do exploração, desde que sejam utilizadas técnicas de
---------------------------- manejo adequadas de forma a garantir a
Patrimônio Natural
Fonte: www.ambientebrasil.com.br
sustentabilidade dos seus recursos naturais. Compõe
esse grupo:

No Brasil existem aproximadamente 300 Uc‘s que


 Florestas Nacionais.
estavam sob a responsabilidade do IBAMA (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais  Reservas extrativistas.
Renováveis). A partir de 2007, as Uc‘s passaram a ser  Áreas de Proteção Ambiental.
administradas pelo Instituto Chico Mendes de  Reservas Particulares do patrimônio natural.
Conservação da Biodiversidade, uma autarquia ligada
 Áreas de relevantes interesses ecológicos.
ao MMA e ao SISNAMA (Sistema Nacional do Meio
Ambiente). Além das unidades sob gestão do Instituto  Reservas de fauna.
Chico Mendes, existem ainda cerca de 600 Uc‘s criadas  Reservas de desenvolvimento sustentável.
e mantidas pelos governos estaduais.
24
O Brasil apresenta hoje dois Hotspot , o mais
degradado é a Mata Atlântica, que está reduzida a
aproximadamente 8% de sua área total, e é habitat de
1.300 espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios,
das quais 567 são endêmicas, como o mico-leão-
dourado, e 90 estão ameaçadas de extinção. O segundo
maior bioma do país está reduzido a 22% de sua área
original de acordo com o Conservation International. O
Cerrado abriga 4.400 espécies de plantas endêmicas e
mamíferos de grande porte, como a onça-pintada e o
tamanduá-bandeira.

5. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
PROSPOSTAS PELOS PARÂMETROS
CURRÍCULARES NACIONAIS DO ENSINO
INFANTIL E DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA
A DISCIPLINA DE GEOGRAFIA

Na região Amazônica existem mais de 260 áreas sob A Geografia, na proposta dos Parâmetros Curriculares
proteção legal, que somam cerca de 676 mil km², ou Nacionais, tem um tratamento específico como área,
13% da Amazônia brasileira. No Cerrado aparecem uma vez que oferece instrumentos essenciais para
mais de 60 unidades de conservação que atingem cerca
de 160 mil km², ou 8% do território do Cerrado. A Mata
24
Atlântica é o bioma no país que conta com o maior O conceito de Hotspot foi concebido em 1988, pelo ecólogo inglês
número de áreas de conservação, são Norman Myers. Ele definiu os hotspots como ecossistemas que
aproximadamente 800. O Pantanal é a área que cobrem uma pequena parcela da superfície da Terra, mas abrigam
apresenta o menor número de unidades de uma alta porcentagem da biodiversidade global [...] Mais tarde, o
conservação, são apenas 2 áreas, o Parque Nacional do conceito foi refinado [...] Dois fatores determinam a classificação de
Pantanal e a Estação Ecológica Taiamã. uma área como hotspot: o número de espécies endêmicas (que
existem ali e em nenhuma outra parte do planeta) e o grau de
ameaça.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 99
compreensão e intervenção na realidade social. Por  as propostas pedagógicas separam a Geografia
meio dela podemos compreender como diferentes humana da Geografia física em relação àquilo que deve
sociedades interagem com a natureza na construção de ser apreendido como conteúdo específico: ou a
seu espaço, as singularidades do lugar em que vivemos, abordagem é essencialmente social e a natureza é um
o que o diferencia e o aproxima de outros lugares e, apêndice, um recurso natural, ou então se trabalha a
assim, adquirirmos uma consciência maior dos vínculos gênese dos fenômenos naturais de forma pura,
afetivos e de identidade que estabelecemos com ele. analisando suas leis, em detrimento da possibilidade
Também podemos conhecer as múltiplas relações de exclusiva da Geografia de interpretar os fenômenos
um lugar com outros lugares, distantes no tempo e no numa abordagem socioambiental;
espaço, e perceber as marcas do passado no presente.  a memorização tem sido o exercício fundamental
O documento de Geografia propõe um trabalho praticado no ensino de Geografia, mesmo nas
pedagógico que visa à ampliação das capacidades dos abordagens mais avançadas. Apesar da proposta de
alunos, do ensino fundamental, de observar, conhecer, problematização, de estudo do meio e da forte ênfase
explicar, comparar e representar as características do que se dá ao papel dos sujeitos sociais na construção
lugar em que vivem e de diferentes paisagens e do território e do espaço, o que se avalia ao final de
espaços geográficos. cada estudo é se o aluno memorizou ou não os
fenômenos e conceitos trabalhados e não aquilo que
pôde identificar e compreender das múltiplas relações aí
A primeira parte descreve a trajetória da Geografia, existentes;
como ciência e como disciplina escolar, mostrando suas
tendências atuais e sua importância na formação do  a noção de escala espaço-temporal muitas vezes
cidadão. Apontam-se os conceitos, os procedimentos e não é clara, ou seja, não se explicita como os temas de
as atitudes a serem ensinados, para que os alunos se âmbito local estão presentes naqueles de âmbito
aproximem e compreendam a dinâmica desta área de universal e vice-versa, e como o espaço geográfico
conhecimento, em termos de suas teorias e explicações. materializa diferentes tempos (da sociedade e da
natureza).

Na segunda parte, encontra-se uma descrição de como


pode ser o trabalho com essa disciplina para as OBJETIVOS GERAIS DE GEOGRAFIA PARA O
primeiras quatro séries, apresentando objetivos, ENSINO FUNDAMENTAL
conteúdos e critérios de avaliação. No final, o
documento traz uma série de indicações sobre a Espera-se que, ao longo dos oito anos do ensino
organização do trabalho escolar do ponto de vista fundamental, os alunos construam um conjunto de
didático. Nas orientações didáticas, os princípios e os conhecimentos referentes a conceitos, procedimentos e
procedimentos de Geografia são apresentados como atitudes relacionados à Geografia, que lhes permitam
recursos a serem utilizados pelo professor no ser capazes de:
planejamento de suas aulas e na definição das
atividades a serem propostas para os alunos.
 conhecer a organização do espaço geográfico e o
funcionamento da natureza em suas múltiplas relações,
Segundo a análise feita pela Fundação Carlos Chagas, de modo a compreender o papel das sociedades em
observa-se, sobretudo nas propostas curriculares sua construção e na produção do território, da paisagem
produzidas nas últimas décadas, que o ensino de e do lugar;
Geografia apresenta problemas tanto de ordem
 identificar e avaliar as ações dos homens em
epistemológica e de pressupostos teóricos como outros
sociedade e suas consequências em diferentes espaços
referentes à escolha dos conteúdos. No geral, são eles:
e tempos, de modo a construir referenciais que
possibilitem uma participação propositiva e reativa nas
 abandono de conteúdos fundamentais da Geografia, questões socioambientais locais;
tais como as categorias de nação, território, lugar,  compreender a espacialidade e temporalidade dos
paisagem e até mesmo de espaço geográfico, bem fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e
como do estudo dos elementos físicos e biológicos que interações;
se encontram aí presentes;  compreender que as melhorias nas condições de
 são comuns modismos que buscam sensibilizar os vida, os direitos políticos, os avanços técnicos e
alunos para temáticas mais atuais, sem uma tecnológicos e as transformações socioculturais são
preocupação real de promover uma compreensão dos conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que
múltiplos fatores que delas são causas ou decorrências, ainda não são usufruídas por todos os seres humanos
o que provoca um ―envelhecimento‖ rápido dos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em
conteúdos. Um exemplo é a adaptação forçada das democratizá-las;
questões ambientais em currículos e livros didáticos que  conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa
ainda preservam um discurso da Geografia Tradicional e da Geografia para compreender o espaço, a paisagem,
não têm como objetivo uma compreensão processual e o território e o lugar, seus processos de construção,
crítica dessas questões, vindo a se transformar na identificando suas relações, problemas e contradições;
aprendizagem de slogans;
 fazer leituras de imagens, de dados e de
 há uma preocupação maior com conteúdos documentos de diferentes fontes de informação, de
conceituais do que com conteúdos procedimentais. O modo a interpretar, analisar e relacionar informações
objetivo do ensino fica restrito, assim, à aprendizagem sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens;
de fenômenos e conceitos, desconsiderando a
aprendizagem de procedimentos fundamentais para a  saber utilizar a linguagem cartográfica para obter
compreensão dos métodos e explicações com os quais informações e representar a espacialidade dos
a própria Geografia trabalha; fenômenos geográficos;
100 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
 valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a como os princípios ativos na natureza, nas quais
sociodiversidade, reconhecendo-a como um direito dos as relações causais serviriam como explicação, é
povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da o
democracia.
a) positivismo.
No primeiro ciclo, o estudo da Geografia deve abordar b) possibilismo.
principalmente questões relativas à presença e ao papel c) ambientalismo.
da natureza e sua relação com a ação dos indivíduos,
dos grupos sociais e, de forma geral, da sociedade na d) historicismo.
construção do espaço geográfico. Para tanto, a
paisagem local e o espaço vivido são as referências 04. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
para o professor organizar seu trabalho. SEDUC/CE-2010) A postura do ensino da
geografia no ensino médio foi, durante muito
No segundo ciclo, o estudo da Geografia deve abordar tempo, pautada pela descrição e explicação
principalmente as diferentes relações entre as cidades e fragmentada dos fenômenos espaciais, levando
o campo em suas dimensões sociais, culturais e ao aluno uma proposta metodológica centrada
ambientais e considerando o papel do trabalho, das na memorização de fatos e locais. Tal proposta
tecnologias, da informação, da comunicação e do esteve centrada em uma geografia considerada
transporte. O objetivo central é que os alunos construam
conhecimentos a respeito das categorias de paisagem a) crítica.
urbana e paisagem rural, como foram constituídas ao b) humanística.
longo do tempo e ainda o são, e como sintetizam
c) física.
múltiplos espaços geográficos.
d) tradicional.

QUESTÕES CORRELATAS 05. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –


SEDUC/CE-2010) Um dos pressupostos da
01. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – geografia crítica foi a substituição da concepção
SEDUC/CE-2010) Segundo os Parâmetros de espaço absoluto por um conceito de espaço
Curriculares Nacionais (PCN), no ensino médio, o no qual os fenômenos naturais e sociais têm
aluno deve construir competências que permitam interdependência e conexão. Esse tipo de espaço
a análise da realidade, revelando as causas e os é denominado
efeitos, a intensidade, a heterogeneidade e o
contexto espacial dos fenômenos que a) urbano.
configuram a sociedade. Assim, espera-se que o
b) relacional.
ensino médio permita ao aluno:
c) econômico.
d) dialético.
a) a continuidade do ensino fundamental de maneira a
aprofundar seus conteúdos.
b) a preparação específica para a aprovação em exame 06. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
de seleção do ensino superior. SEDUC/CE-2010) Para abordar e definir
procedimentos de ensino da geografia, é
c) uma formação autônoma e crítica capaz de estruturar importante a compreensão do processo histórico
a cidadania. das concepções epistemológicas da geografia.
d) a difusão de técnicas que potencializem os Nesse sentido, tornam-se obrigatórias as leituras
procedimentos de ensino. de autores como Yves Lacoste, David Harvey,
Milton Santos, entre outros. A proposta desses
02. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – autores consiste em
SEDUC/CE-2010) No ensino de geografia, um
trabalho envolvendo mapas propicia ao aluno um a) atribuir ao positivismo à consolidação da geografia
instrumental de trabalho fundamental para o crítica.
processo de construção de conhecimento. Para
b) estaurar o pensamento espacial enquanto análise
esse tipo de trabalho, recomenda-se
absoluta e estática.
c) reivindicar o pensamento espacial como prática
a) a utilização de mapas prontos e bem acabados. social.
b) a construção de mapas pelos próprios alunos, com a d) proporcionar uma reflexão centrada no determinismo.
orientação do professor.
c) o uso de mapas construídos por especialistas, os
07. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
quais podem proporcionar aos alunos a identificação SEDUC/CE-2010) As novas abordagens para o
de novas simbologias. ensino, no Brasil, estão centradas em
d) a análise do mapa-múndi, para identificação de competências e habilidades, em todos os níveis
países e capitais. e em todas as áreas de ensino. No ensino médio,
a formação de competências e habilidades
03. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – relacionadas ao ensino de geografia é
SEDUC/CE-2010) O pensamento filosófico que apresentada em três níveis: (1) representação e
entendia a sociedade regida por leis naturais, comunicação, (2) investigação e compreensão, e
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 101
(3) contextualização sociocultural. Esses níveis a) redução, projeção e escala.
podem ser abordados de maneira integrada, na b) sistema de signos, sistema orbital e escala.
busca de uma concepção do espaço geográfico
c) projeção, escala e sistema orbital.
articulado na apresentação de argumentos e
contextualizados espacialmente, devidamente d) sistema de signos, redução e projeção.
representados e fazendo-se comunicar para a
sociedade. Na análise das dimensões do espaço, 12. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
entre os instrumentos de auxílio no SEDUC/CE-2010) A psicogênese da noção de
desenvolvimento de competências e habilidades espaço passa por níveis próprios da evolução
do nível 1 do ensino de geografia citados nas geral da criança na construção do conhecimento:
opções, não se incluem do vivido ao percebido, e desse ao concebido.
Nessa argumentação, o espaço vivido refere-se
a) os mapas mentais. ao espaço físico, o qual é vivenciado por meio
b) as representações temáticas.
c) as cartas topográficas. a) da percepção e do deslocamento.
d) os gráficos de população. b) do movimento e do deslocamento.
c) do movimento e da abstração.
08. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – d) da abstração e da percepção.
SEDUC/CE-2010) Na análise das dimensões do
espaço, os instrumentos que podem auxiliar o 13. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
desenvolvimento de competências e habilidades SEDUC/CE-2010)
do nível 3 do ensino de geografia são os gráficos

a) de renda e consumo.
b) de pluviosidade.
c) de topografia.
d) termo-pluviométricos.

09. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –


SEDUC/CE-2010) Em geografia, existe um Considere que, na figura acima, cada ponto indicado
conceito-chave que permite a apreensão de pelas letras A, B, C, D e E representa uma
diferenças e particularidades no espaço estação de metrô, e o trem se desloca no sentido
geográfico e que se articula com território, de A para E. Nesse caso, a tradução no espaço
natureza e sociedade, quando essas dimensões representado implica o registro de pontos no
são consideradas em diferentes escalas de espaço. Portanto, as localizações são
análise. Trata-se do conceitochave
de a) contínuas com ausência de relações topológicas.
b) estáticas, com o espaço dividido em segmentos.
a) lugar. c) estáticas com ausência de topologia.
b) território. d) contínuas, com o espaço formando um todo.
c) região.
d) cidade. 14. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
SEDUC/CE-2010) Embora ao longo do tempo
permaneça sempre a ideia de espaço como
10. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
objeto da geografia, é o espaço no sentido mais
SEDUC/CE-2010) Em educação, existe uma
amplo, e a sua apropriação pelos povos, quer
relação entre os tipos de planejamento e os
dizer, o território no sentido mais restrito, o tema
contextos do planejamento. Plano de aula e
a ser trabalhado. A delimitação dos conteúdos
plano da escola são dois tipos de planejamento.
não pode ser feita isolada do contexto das
Os contextos do planejamento a que esses
problemáticas atuais do mundo. H. C. Callai. A
planos estão relacionados são, respectivamente, geografia e a escola: muda a geografia? Muda a escola?
Terra Livre: S. Paulo, n.º 16, 1.º semestre/2001, p. 150
a) políticas públicas e plano da educação. (com adaptações).
b) cotidiano pedagógico e projeto político pedagógico.
c) cotidiano pedagógico e plano de ensino. Um procedimento de ensino alinhado com o texto
acima consiste em
d) currículo e procedimentos gerais da disciplina e plano
de ensino.
a) diagnosticar quais conteúdos deverão ser
memorizados.
11. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
SEDUC/CE-2010) Os três elementos básicos b) estabelecer uma série de conceitos fundamentais
utilizados pela linguagem cartográfica para a para compreender a realidade do território e da
transmissão da informação por meio do mapa sociedade.
são c) difundir e estabelecer normativas de cobrança para
os conteúdos da geografia tradicional.
102 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
d) desenvolver atividades direcionadas aos conteúdos
preestabelecidos nos livros didáticos, mesmo que a) No método de elaboração conjunta, o professor é o
por vezes distantes da realidade do aluno. condutor geral da aula, porém, aberto às solicitações
e interferência dos alunos.
15. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – b) A aula expositiva é o melhor método para assimilação
SEDUC/CE-2010) O espaço concebido trata da dos conteúdos pelos alunos.
possibilidade de estabelecimento de relações c) A aula expositiva demanda técnicas diferenciadas e
espaciais entre elementos por meio de sua mais elaboradas para que os alunos alcancem os
representação. Assim, o aluno pode raciocinar objetivos estabelecidos.
acerca de determinada área retratada em um
d) O professor deve verificar as condições prévias dos
mapa
alunos em termos de conteúdo antes de propor uma
tarefa orientada.
a) sem tê-la visto antes.
b) pela relação do vivido e do percebido. 20. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
c) com atividade de campo na área. SEDUC/CE-2010) A atividade de estudo do meio
d) pelo percebido.
a) constitui um método de trabalho independente.
16. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – b) visa ao entretenimento dos alunos.
SEDUC/CE-2010) A concepção de aluno, c) vai além da descrição da paisagem visitada.
enquanto sujeito da aprendizagem, é um grande
d) não necessita de preparação, se o trabalho for
desafio aos professores. Associado a essa
realizado nas imediações da escola.
concepção, e tendo como meta a construção do
espaço vivido, uma proposta diferenciada de
atividade de ensino de geografia é 21. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
SEDUC/CE-2010) Entre as técnicas associadas à
ordem metodológica conhecida como método
a) A a interpretação de mapas.
socializado, estão
b) a leitura de gráficos sociais.
c) o estudo dirigido.
a) o estudo dirigido, a entrevista e a tempestade mental.
d) a atividade de campo.
b) a palestra, o painel e o seminário.
c) o ensino por fichas, o grupo de cochicho e a
17. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – pesquisa.
SEDUC/CE-2010) Os métodos de ensino
d) o trabalho de campo, a instrução programada e o
estudo dirigido.
a) são orientados para determinados objetivos.
b) fazem parte das atividades do professor e dos alunos. 22. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
c) demandam pouco ordenamento das ações dos SEDUC/CE-2010) A instância das práticas
alunos, uma vez que compete ao professor cotidianas é muito importante para o ensino de
estabelecê-los. conceitos geográficos e cartográficos. A esse
d) expressam a compreensão condicional do processo respeito, assinale a opção correta.
de ensino na sociedade.
a) A utilização de um guia de percurso urbano pode
18. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – transformar-se em material de apoio aos professores
SEDUC/CE-2010) O ensino e a aprendizagem se para atividades fora da sala de aula.
organizam a partir da relação de três elementos b) Uma atividade realizada com música substitui a
essenciais, de influência recíproca quanto à problematização/reflexão/sistematização proposta
determinação dos resultados educacionais. A pelo professor.
esse respeito, assinale a opção correta. c) Lançar mão da literatura juvenil nas aulas de
geografia, como meio de corrigir a rispidez da
a) Os conteúdos são responsáveis por antecipar passagem do universo lúdico para o de informações
resultados e processos que se esperam do trabalho intelectuais, dispensa o livro didático.
do professor e dos alunos. d) Um filme convencional não possui limites enquanto
b) A relação objetivo-conteúdo é determinada pela representação do espaço. Por isso, constitui
motivação dos alunos. excelente recurso para tratar temas da geografia
entrelaçados do espaço e do tempo.
c) A assimilação do objeto da relação ensino-
aprendizagem depende das condições reais de
realização das atividades. 23. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
d) O meio para assegurar a assimilação do SEDUC/CE-2010) Com relação ao ensino de
conhecimento está estabelecido pelo conteúdo, geografia e à globalização, assinale a opção
independentemente da abordagem utilizada. correta.

19. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – a) A Na atualidade, os recursos tecnológicos são os


SEDUC/CE-2010) Com relação aos diferentes instrumentos de informação mais importantes para a
métodos de ensino, assinale a opção correta. sala de aula.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 103
b) Alfabetização digital ou domínio tecnológico constitui observar para a compreensão do espaço na
a solução para os problemas educacionais na era da educação. Trata-se do conceito de
aldeia global.
c) A Internet, no âmbito da utilização da tecnologia da a) sociedade.
informação nas aulas de geografia, dispõe de
b) paisagem.
informações apropriadas e educativas haja vista que
sua atualização ocorre em tempo real. c) território.
d) As práticas pedagógicas associadas à tecnologia de d) tempo.
informação e comunicação ajudam a estabelecer as
relações entre o local e o global. 28. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
SEDUC/CE-2010) Os tipos de organização dos
24. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – métodos, técnicas e aplicações do aprendizado,
SEDUC/CE-2010) Segundo a Política e Diretrizes a instrução programada e o ensino por módulos
Nacionais para o ensino médio, dois são organizações do método
instrumentos legais e norteadores das atividades
do professor no contexto social e na estrutura do a) coletivo.
ensino são b) individualizado.
c) socializado.
a) A a LDB e os PCN. d) memorizado.
b) os PCN e o PNE.
c) o PNE e a LDB. 29. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
d) os PCN e o FUNDEB. SEDUC/CE-2010) O tipo de organização do
método socioindividualizado propõe um grupo
25. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – de técnicas, entre as quais, estão
SEDUC/CE-2010) Entre os conceitos essenciais
de cartografia que devem ser trabalhados pelo a) o método de projeto e o painel.
professor nas representações espaciais b) as unidades didáticas e o painel integrado.
oportunizadas pelo acesso aos mapas virtuais
estão c) o trabalho de campo e as unidades experimentais.
d) a palestra e o estudo dirigido.
a) as cores e as grades.
b) o GPS e as cores. 30. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
SEDUC/CE-2010) A técnica de aprendizado que
c) os signos e as grades. proporciona representação de situações da vida
d) os signos e as escalas. real ou da literatura e melhor entendimento e
compreensão dos elementos é
26. (Professor de Geografia - UnB/CESPE –
SEDUC/CE-2010) Acerca do tratamento didático- a) a dramatização.
pedagógico da geografia, após o movimento de b) a entrevista.
renovação conhecido como Geografia Crítica,
assinale a opção correta. c) o painel integrado.
d) a palestra.
a) A Observa-se forte predomínio de um ensino alinhado
com apenas uma orientação paradigmática da 31. (Professor de Geografia - IMPARH – PMF/CE-
geografia. 2009) Conforme os Parâmetros Curriculares
b) Nota-se que pouco foi modificado para contribuir para Nacionais, a abordagem dos conteúdos da
a difusão da dimensão social de construção do Geografia insere-se na perspectiva de seu
espaço geográfico. conceito-chave, o espaço. Enquanto categoria de
análise abstrata, o espaço adquire uma
c) No processo educativo, os aspectos importantes são
concretude representada pelos seguintes
os dados, as informações, o elenco de curiosidades,
elementos:
os conhecimentos gerais e as localizações.
d) O tratamento cartográfico e as práticas em sala de
aula tornaram-se obsoletas em função da utilização a) Relevo, clima e paisagem.
das novas tecnologias da informação. b) População, território e paisagem.
c) Relevo, território e população.
27. (Professor de Geografia - UnB/CESPE – d) Paisagem, território e lugar.
SEDUC/CE-2010) É o espaço apropriado. A sua
constituição cotidiana tem, como base, as 32. (Professor de Geografia - IMPARH – PMF/CE-
relações de poder e de identidade de diferentes 2009) Todo processo de colonização tem por
grupos sociais que o integram. Por isso seu origem a expansão territorial de um dado grupo
conceito está inter-relacionado com os conceitos humano que avança sobre um espaço novo com
de lugar e região. o intuito de incorporá-lo à sua área de habitação.
Tomando por base a instalação do espaço
Essa é a descrição de um conceito central da colonial brasileiro, considere as afirmativas:
ciência geográfica, o qual o professor deve
104 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
c) I e IV.
I. A expansão do capitalismo comercial d) II e III.
fundamentou o móvel do processo colonizador.
II. A ocupação do território colonial estruturou-se 35. (Professor de Geografia - IMPARH – PMF/CE-
num padrão voltado para fora, isto é, a 2009) Dentre os objetivos gerais traçados por um
apropriação dos espaços exprime a lógica professor de Geografia para uma 8ª série do
metropolitana. Ensino Fundamental, um deles foi:
III. A manutenção do trabalho livre como relação da “Compreender a produção do spaço no mundo
produção básica constitui-se no principal contemporâneo, suas transformações e
elemento das relações sociais de produção. particularidades”. Para atingir este objetivo, o
professor deverá:
Está (ão) correta (s):
a) I e II. a) transmitir aos alunos os conceitos de
desenvolvimento, subdesenvolvimento e
b) II e III.
globalização da economia;
c) Apenas a I.
b) analisar a produção do espaço de forma crítica,
d) Apenas a II. incentivando os questionamentos e investigações
33. (Professor de Geografia - IMPARH – PMF/CE- dos alunos;
2009) “Admitindo-se que a geografia estude as c) sugerir aos alunos um trabalho de pesquisa
relações sociedade/natureza, os geógrafos bibliográfica em jornais e revistas que depois será
encaminharam as suas reflexões em direções apresentado sob forma de seminários;
diversas, ora influenciados pelos interesses de
d) apresentar de forma objetiva aos alunos os principais
seus países, ora de sua classe social e de sua
fatores formadores do espaço geográfico para
formação ideológica”. (Andrade, Manoel Correia. Uma
geografia para o século XXI: Geografia e Sociedade, 1994, depois relacioná-los entre si.
p.21)
36. Para o geógrafo Milton Santos paisagem é “o
Analisando o texto, assinale a alternativa que vem domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não
ao encontro das ideias de Ratzel: é formada apenas por volumes, mas também de
cores, movimentos, odores, sons (...). A
dimensão da paisagem é a dimensão da
a) Dirigia seus estudos para problemas sociais. percepção, o que chega aos sentidos.”
b) A geografia defendeu ideias ligadas ao Metamorfose do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec,
estabelecimento de um espaço vital e analisou 1996, p.61-62.
problemas ligados à instabilidade de fronteiras
políticas e acesso aos oceanos. Considerando essa afirmação, analise as sentenças
c) Consolidava seu império colonial, preocupava-se com a seguir:
os problemas regionais.
d) Dirigia seus estudos aos problemas sociais, como o I. A simples observação da paisagem não nos traz
da colonização e das migrações rural/urbana. explicações sobre as funções das edificações, da
organização dos sistemas de produção e de
34. (Professor de Geografia - IMPARH – PMF/CE- tecnologias empregadas.
2009) Considere as seguintes formas de II. Apenas os elementos naturais são suficientes
abordagem da natureza nas aulas de Geografia: para entendermos o espaço geográfico, visível
através das paisagens.
I. A natureza deve ser tratada como um recurso III. Ao considerarmos os elementos naturais, as
apropriado conforme os interesses econômicos funções dos espaços construídos, as relações e
da sociedade e não como uma realidade regida as estruturas econômicas, sociais e políticas,
por leis e processos naturais. estamos tratando do espaço geográfico e não
II. Estudar a natureza através dos domínios naturais apenas das paisagens.
permite compreender seus diversos aspectos IV. As paisagens geográficas envolvem não somente
integrados, levando a uma visão de conjunto. os aspectos naturais, mas também os aspectos
III. Ao se discutirem fenômenos naturais como visíveis da cultura das sociedades.
terremotos ou tempestades tropicais, deve-se
destacar que as repercussões desses eventos Está correto apenas o que se afirma em:
são diferentes conforme o grau de a) I e II
desenvolvimento do país.
b) II e III
IV. Deve-se dar destaque especial ao papel
c) II e IV
determinante das condições naturais, sobretudo
clima e relevo, na organização do espaço pela d) I, II e IV
sociedade. e) I, III e IV

Estão corretas APENAS 37. O patrimônio cultural brasileiro é dos mais


a) I e II. variados e apresenta íntima relação com o
espaço geográfico. Ao lado e abaixo temos dois
b) I e III.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 105
momentos da arquitetura brasileira que remetem As invenções apresentadas no quadro afetaram o
a esta reflexão. mundo contemporâneo, em especial, no que se
Sobre isso, podemos afirmar: refere à circulação de ideias, pessoas e
mercadorias. Em conjunto, essas invenções
tiveram efeito principalmente sobre a ampliação
da:

a) intervenção estatal
b) integração territorial
c) distribuição da riqueza
d) mobilidade ocupacional

39. Toda paisagem que reflete uma porção do


espaço ostenta marcas de um passado mais ou
menos remoto, apagado ou modificado de
maneira desigual, mas sempre presente. Olivier
Dolfus, 1991.
(www.vitruvius.com.br - 05/08)
De acordo com o texto, podemos afirmar:
a) A paisagem é um conceito geográfico caracterizado
pela combinação do território com a cultura, como a) A paisagem é um conjunto de formas heterogêneas
comprova a arte gótica exposta nas duas imagens. de idades diferentes.
b) A produção do espaço é uma ação exclusivamente b) A paisagem é estática, ao passo que o espaço é
antrópica em que o meio físico não apresenta dinâmico.
relevância em sua construção. c) As formas antigas da paisagem são sempre
c) O espaço é uma acumulação desigual de tempos, suprimidas, devido a seu envelhecimento técnico e
como pode ser observado nas arquiteturas barroca e social.
moderna, expostas nas imagens. d) As paisagens refletem, sempre, as marcas das
d) O espaço é estático, a cultura, dinâmica e o papel da desigualdades sociais, por serem produzidas sob o
geografia é fazer a descrição do momento presente, modo de produção capitalista.
como ocorrem nas imagens do século XX, expostas e) A paisagem é uma representação do espaço, mas
acima. não é espaço, portanto, exibe as formas, mas
e) A globalização impôs tal padronização cultural aos esconde a essência de sua produção.
lugares que extinguiu a preservação da arquitetura
histórica, legando ao território, uma convivência 40. (FATEC) A comunicação via internet,
exclusiva com a arte contemporânea. especialmente nos bate-papos, possibilitou um
novo canal de comunicação entre as pessoas, e
38. (UERJ) o Brasil tem se consolidado como um mercado
de elevada utilização de sites sociais. Em agosto
de 2011, do total de 61,2 milhões de pessoas com
IMPORTANTES INVENÇÕES DOS SÉCULOS XIX E
acesso à internet no trabalho ou em domicílios,
XX
45,4 milhões foram usuários ativos.
INVENÇÕES ANO INVENTORES EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE USUÁRIOS ATIVOS*,
Alexander Graham Bell (escocês, BRASIL – TRABALHO E DOMICÍLIOS – AGOSTO DE
Telefone 1876 residente no Canadá e nos 2010 E AGOSTO DE 2011
EUA)
Carro 1886 Gottlieb Daimler (alemão)
Rádio 1896 Guglielmo Marconi (italiano)
1903
Irmãos Wright (norte-americanos):
1
“Flyer 1”
Avião 9
Alberto Santos Dumont
0
(brasileiro): “14 Bis”
6
Marinha dos EUA e Universidade
Computador 1945
de Harvard: “Harvard Mark 1”
Comunidade científica da URSS:
Satélite 1957
“Sputnik”
Comunidade científica dos Fonte: netView -- iBOPe nie
Internet 1969 en Online(http://www.ibope.com.br/calandraWeb
EUA: “Arpanet”
*Usuário ativo é a pessoa com 2 anos ou mais de idade que
Adaptado de BOMENY, Helena e outros. Tempos modernos, acessou a internet pelo menos uma vez em agosto.
tempos de sociologia. São Paulo: Editora do Brasil, 2010.
De acordo com as informações do texto e do
gráfico, analise as afirmações:
106 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
I. Considerando somente os usuários ativos em César da Costa Gomes. Geografia e modernidade. Rio de
domicílios, entre agosto de 2010 e agosto de 2011, Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 149 (com adaptações).
houve um aumento de 15%, aproximadamente.
II. Considerando somente os usuários ativos no A partir do texto acima, assinale a opção
trabalho, entre agosto de 2010 e agosto de 2011, correta acerca da história do pensamento
houve um aumento acima de 10%. geográfico e da institucionalização da geografia
III. Em agosto de 2011, do total de 61,2 milhões de como ciência.
pessoas com acesso no trabalho ou em domicílios,
15,8 milhões não foram usuários ativos.
a) A institucionalização da geografia como disciplina
É correto o que se afirma em acadêmica originou-se na França, com os estudos
a) I, apenas. regionais empreendidos pelos herdeiros do Iluminismo
b) II, apenas. do século XVIII, como Vidal de La Blache.
c) I e III, apenas. b) A geografia firmou-se como domínio disciplinar
d) II e III, apenas. específico na Antiguidade, com obras de geógrafos
e) I, II e III. como Estrabão e Ptolomeu, que delimitaram o objeto
41. Sobre Espaço Geográfico, assinale a opção de estudo próprio da nova disciplina que surgia: o
verdadeira: espaço terrestre.
c) Grande parte dos historiadores da geografia
a) são as áreas que não sofreram intervenção humana, atribui a Alexander von Humboldt a
o que atualmente, com o nível de conhecimento do responsabilidade pelo estabelecimento das novas
homem sobre o mundo, é inexistente; regras do pensamento geográfico moderno, visto que
b) é a base natural ou física sobre o qual se exerce ele rompeu com o enciclopedismo francês e
soberania, sendo definido por suas fronteiras abandonou as narrativas de viagens e as
administrativas; cosmografias.
c) é um conceito bastante controvertido, hoje em dia, d) A geografia moderna tornou-se científica com a
mas se refere a uma relação íntima ou emocional dos ascensão do possibilismo, cujos ideais, já em meados
habitantes com seu território; do século XIX, superaram as ideias deterministas e
naturalistas em voga no início do século.
d) somente surge após o território ser trabalhado, usado
e modificado ou transformado pelas sociedades e) A geografia científica, que surgiu a partir do século
humanas, ou quando estas imprimem na paisagem as XIX, com as obras de Alexander von Humboldt e Carl
marcas de sua atuação e organização social; Ritter, foi influenciada pelo saber geográfico
anteriormente produzido e pelo sistema filosófico de
Emmanuel Kant, que considerava a geografia uma
42. (UESPI) O esboço esquemático, apresentado a ciência ao mesmo tempo geral/sistemática e
seguir, é característico das sociedades: empírica/regional.

44. De acordo com a composição “Triste Partida”


de Patativa do Assaré, nas estrofes que dizem

No topo da serra
Oiando pra terra
Seu berço, seu lar
[...]
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu lugar...

a) socialistas.
a categoria geográfica “lugar” que aparece no
b) fordistas. fragmento do texto está empregada
c) informacionais.
d) comunistas. a) com o sentido de paisagem, pois é do topo da
e) monárquicas. serra que o retirante delimita visualmente o que ele
denomina como o seu lugar.
43. Os primeiros anos da modernidade são b) erroneamente porque ninguém pode ter o
marcados pela produção de uma enorme sentimento de identidade e de pertencimento a uma
quantidade de dados e de informações dificilmente terra inóspita que só lhe causa sofrimento. O lugar é
tratáveis de maneira sistemática pela ciência da para cada pessoa o espaço onde consegue se
época. A ausência de segmentação no seio da reproduzir economicamente.
ciência impossibilitava a análise de certos temas c) com o sentido de território, pois trata-se de um
particulares nascidos desses dados. Assim, a espaço apropriado pelo fazendeiro, o qual exerce
partir do início do século XIX, os domínios sobre o mesmo uma relação de poder.
disciplinares específicos organizaram-se definindo
seu objeto próprio em torno dessas questões. Paulo
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 107
d) corretamente porque está impregnada de emoções 47. (UPE)
e de afetividade. Há uma identidade de pertencimento
para com esta parcela do espaço.
Europa e EUA querem barrar „tentação
e) com conotação de região natural, pois trata-se do protecionista‟
Sertão nordestino de abrangência do clima semiárido
de chuvas escassas e irregulares e da presença da
vegetação de caatinga. A Proposta dos governos americano e europeu é a
de que países emergentes e ricos congelem tarifas
de importação por tempo indeterminado
45. Leia o texto a seguir:
Europa e Estados Unidos propõem que todos os
[...] Fechado ao sul pelo morro, descendo países emergentes, além dos próprios ricos,
escancelado de gargantas até o rio, fechavam-no, congelem suas tarifas de importação por um tempo
a oeste, uma muralha e um vale. De fato, infletindo indeterminado como forma de barrar a "tentação
naquele rumo, o Vaza-Barris, comprimido entre as protecionista". A proposta está sendo feita depois
últimas casas e as escarpas a pique dos morros que ficou claro, para a comunidade internacional,
sobranceiros, torcia para o norte feito um cañon que a Rodada Doha da Organização Mundial do
fundo. A sua curva forte rodeava, circunvalando- Comércio (OMC) não será concluída no curto ou
a, depressão em que se erigia o povoado, que se médio prazo. Nesta terça- feira, 21, o diretor-geral da
trancava a leste pelas colinas, a oeste e norte entidade, Pascal Lamy, confirmou que a pressão
pelas ladeiras das terras mais altas, que dali se protecionista no mundo cresce de forma perigosa, à
intumescem até aos contrafortes extremos do medida que as repercussões da crise insistem em
Cambaio e do Caipá; e ao sul pela montanha. [...] afetar a economia mundial. Sem conseguir um
CUNHA, Euclides da. Os Sertões. Disponível acordo para liberalizar o comércio nos países
em: <http://www.dominiopublico.gov.br/dowload/texto/bv000 emergentes, como Brasil, China e Índia, os governos
091.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2007.
de Estados Unidos e Europa querem pelo menos
que essas três grandes economias se comprometam
O texto acima descreve um(a): a não mais elevar suas tarifas de importação. 21 de
junho de 2011 | 18h 17. Jornal O Estado de São Paulo.
Adaptado.
a) Paisagem.
b) Território.
O protecionismo, tratado no texto acima, se
c) Região. caracteriza pela adoção isolada ou conjunta de
d) Lugar. algumas medidas. Identifique-as entre os itens a
seguir:
46. (UNIMONTES) Após a Segunda Guerra Mundial,
além de se formarem os grandes blocos, diversos I. Cláusulas ambientais e trabalhistas
países se reuniram em organizações geopolíticas e II. Barreiras fitozoossanitárias
econômicas, constituindo blocos econômicos III. Cláusulas culturais
regionais de diversos tipos. Fonte: TERRA, L. e IV. Barreiras tarifárias
COELHO, M. de A. Geografia Geral e Geografia do Brasil: O V. Barreiras não tarifárias
espaço natural e socioeconômico. São Paulo: Moderna, 2005.

Apenas estão CORRETOS


Considerando a integração econômica que ocorre
no interior dos blocos regionais, relacione as
colunas. a) I e II.
b) III e V.
1 - Mercado comum c) II e IV.
2 - Zona de livre comércio d) I, IV e V.
3 - União aduaneira e) I, II, IV e V.
(XX) Circulação de bens com taxas alfandegárias
reduzidas ou eliminadas.
48. (IFMT) No mundo economicamente globalizado
(XX) Padronização de tarifas para diversos itens do século XXI, os países formam grupos
relacionadas ao comércio com países que não diferenciados, de acordo com seus interesses e
pertencem ao bloco. possibilidades de inclusão. Numa visão desse
(XX) Livre circulação comercial e financeira de mundo, avalie as assertivas abaixo.
pessoas, bens e serviços.
1. Reino Unido e Suécia são países que fazem parte
Assinale a sequência correta. da União Europeia, mesmo não aderindo ao euro
como moeda única, por receio de perder a sua
soberania.
a) 1, 2, 3.
2. Para ser país membro da União Europeia, é
b) 3, 2, 1.
preciso seguir metas de controle de inflação e
c) 2, 3, 1. orçamentos, além de ser um Estado democrático e
d) 2,1, 3. estabelecer políticas migratórias comuns aos outros
membros do bloco.
108 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
3. Os países que integram o BRIC apresentam como vendas. http://veja.abril.com.br/noticia/economia/argentina-
características comuns: nações com grande aumenta-barreiras-comerciais-contra-o-brasil)
potencial de desenvolvimento econômico, grande
população e extensão territorial. No grupo, estão II. [outubro de 2011] A decisão do Brasil de elevar o
Brasil, Rússia, Índia e Chile. Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para
4. A economia da China está entre as que mais veículos importados foi questionada durante
crescem no mundo de hoje. Entre os seus parceiros, reunião do comitê de acesso a mercados da
estão os Estados Unidos, que instalaram grandes Organização Mundial do Comércio (OMC). Durante o
fábricas de empresas americanas no território encontro, representantes de Japão, Austrália, Coreia
chinês, nas chamadas zonas especiais criadas pelo do Sul, Estados Unidos e União Euro- peia – que
governo chinês. abrigam algumas das maiores montadoras do
mundo – pediram à delegação brasileira explicações
Assinale a alternativa correta. sobre a medida. http://oglobo.globo.com/economia

a) Apenas a alternativa 1 está correta. Sobre os textos, é correto afirmar que


b) Apenas as alternativas 1 e 3 estão corretas.
c) Apenas as alternativas 3 e 4 estão corretas. a) ambos expressam medidas protecionistas que visam
d) Apenas as alternativas 1, 2 e 3 estão corretas. salvaguardar as indústrias nacionais.
e) Apenas as alternativas 1, 2 e 4 estão corretas.
b) ambos têm como objetivo criar superávits nas
balanças comerciais argentina e brasileira.
49. (FGV-SP) As commodities representaram 71% do c) I mostra uma medida protecionista e II é uma
valor exportado pelo Brasil de janeiro a maio. Nos retaliação brasileira aos subsídios agrícolas dos países
cinco primeiros meses do ano passado essa ricos.
participação era de 67%. As vendas ao exterior
desses produtos avançaram 39,1%, muito mais que d) I representa o rompimento dos acordos firmados pelo
as dos manufaturados, 15,1%. Os cálculos são da Mercosul e II é uma medida protecionista do Brasil.
Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), e) I é medida fortemente condenada pela OMC e II tem
obedecendo a critérios diferentes dos seguidos pelo caráter paliativo para balanças comerciais deficitárias.
Ministério do Desenvolvimento, já que incluem
commodities classificadas como
semimanufaturados e mesmo alguns produtos
GABARITO
considerados manufaturados pelas estatísticas
oficiais. Entre esses itens estão açúcar refinado,
combustíveis, café solúvel e alumínio em barras. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
http://www.iedi.org.br/artigos/imprensa/2011/71_das_exportaco
C B A D B C D A C B
es_do_pais.html
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
A reportagem revela uma mudança gradual no perfil D B D B A D A C D C
das exportações brasileiras. Sobre esse tema, é 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
correto afirmar: B A D A D B C B C A
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
a) Apesar do aumento da participação das commodities D A B D B E C B E C
na pauta de exportações, o Brasil apresenta superávit
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
na balança comercial dos produtos manufaturados.
b) O aumento da exportação brasileira de commodities, D C E D A C E E B A
mencionado na reportagem, está fortemente baseado
no crescimento da demanda asiática. GEOGRAFIA DO CEARÁ
c) Nos últimos anos, o Brasil vem aumentando
exponencialmente a sua participação no comércio de O estado do Ceará localiza-se entre os paralelos
produtos de alta e média intensidade tecnológica. de 2º43´e 7º52´de latitude Sul e os meridianos de
37º14´e 41º24´ Oeste. Isso o coloca por inteiro na Zona
d) A mudança revelada pela reportagem resulta da Intertropical, com elevadas temperaturas, chuvas mal
maior diversificação do setor produtivo brasileiro. distribuídas e grande quantidade de insolação. O Estado
e) O câmbio valorizado foi um dos fatores que compreende uma área de 148.825,60Km², sendo o 4º
contribuíram para o aumento das vendas externas, tanto maior estado da região Nordeste do Brasil atrás de
de commodities como de manufaturados. Bahia, Maranhão e Piauí. A maior parte da área do
Estado situa-se na zona semi-árido nordestino em
50. (FGV-SP) Considere os textos. virtude de condições climáticas dominantes. Entretanto,
em função de fatores geográficos locais, como altitude e
maritimidade. Vale ressaltar ainda que existem 2.914Km
I. [maio de 2011] O governo da presidente Cristina de litígio com o Piauí. Fortaleza, a capital do Estado é a
Kirchner aplica uma saraivada de medidas que terceira metrópole regional do Nordeste e integra o
restringem ou atrasam a entrada de produtos grupo das Regiões Metropolitanas do país.
brasileiros no mercado argentino. Segundo a
consultoria portenha Abeceb, do total de
exportações realizadas pelo Brasil para a Argentina,
23,9% são alvo de barreiras – quase um quarto das
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 109
terrenos sedimentares detríticos, que foram depositados
ao longo da história geológica.

GEOLOGIA DO ESTADO

Podemos dividir o estado do Ceará em três


unidades morfo-estruturais:

 Domínio dos Depósitos Sedimentares


Cenozoicos: Planícies fluviais, formas litorâneas e
Fonte: www.ipece.gov.ce tabuleiros.
 Domínio das Bacias Sedimentares Paleo-
Mesozoicas: Chapada do Araripe, Chapada do Apodi e
Tomando-se por base seus pontos extremos,
Cuesta da Ibiapaba.
temos como sendo a seguinte a posição astronômica do
seu território:  Domínio dos Escudos e Maciços
Cristalinos: Planaltos Residuais e Depressão
 Extremo norte: Ponta de Jericoacoara, a 2°
Sertaneja.
46' de latitude sul;
 Extremo sul: BR-116 (Penaforte), a 7° 52' de
latitude sul; DOMÍNIO DOS DEPÓSITOS SEDIMENTARES
CENOZÓICOS
 Extremo leste: Praia de Manibú (Icapuí) /
Timbau (RN) a 37°14' de longitude ocidental; PLANÍCIE COSTEIRA
 Extremo oeste: área de litígio CE/PI (Serra de É uma superfície composta por terrenos de
Ibiapaba), a 41° 24' de longitude ocidental. neoformação, que sofreram influências marinhas,
eólicas, fluviais e pluviais. Abrangem uma faixa quase
contínua posicionada entre o mar e os tabuleiros
ESTRUTURA GEOLÓGICA costeiros, interrompidas apenas pela foz dos rios que
O estado do Ceará apresenta oito unidades deságuam no oceano, como o Jaguaribe, Choró e
geoambientais que são subdivididas de acordo com as Acaraú, por exemplo. São formações quaternárias
características geomorfológicas que são resultantes de representadas pelas praias, e planícies fluvio-marinhas.
uma herança da evolução geocronológica, no nosso
caso, de origem natural Quaternária. No contexto
nordestino, o Ceará apresenta uma diversificação mais
acentuada se comparado a outros estados da região.
Predominam os terrenos cristalinos pré-cambrianos
sobre os terrenos sedimentares. O embasamento
cristalino do estado ocupa quase toda a área central
com predomínio de granitos, gnaisses, migmatitos e
outras rochas cristalinas. No sertão estão expostas ou
elevam-se acima do solo como inselbergs, lajedos e
matacões, onde, normalmente a semi-aridez climática é
maior.
O Estado do Ceará se apresenta bastante
diversificado quanto à sua constituição geológica, Faixa de praia do litoral cearense
demonstrando grande variedade de tipos de rochas, de
diferentes idades. Nas dividas com os estados que faz
PLANÍCIES FLUVIAIS
limite aparecem as bacias sedimentares Paleo-
Mesozóicas e nas áreas litorâneas também existem Também conhecida como área de várzea, essa
planície é resultado do processo de deposição efetuada
110 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
pelos rios durante o período Quaternário das eras MACIÇOS RESIDUAIS
geológicas. São basicamente constituídos por São elevações ou conjunto delas (serras)
sedimentos arenosos, argilosos e siltosos em faixas dispersas pelas depressões sertanejas. São rochas
estreitas ao longo das margens dos rios. cristalinas que variam de 450m a 1154m. Destacam-se
entre essas elevações as Serras de Baturité,
PLANÍCIES FLUVIO-MARINHAS Uruburetama, Maranguape, Meruoca. Mais ao centro do
Estado, a serra das Matas (ponto culminante do estado -
São desembocaduras fluviais que podem
Pico da Serra Branca, com 1154m). Serra do Machado
apresentar manguezais com superfícies aplainadas e
e outras. A altitude influencia para uma melhor condição
encharcadas. Estão localizados próximo ao baixo curso
climática em algumas dessas regiões serranas, são
dos rios e aos estuários, nas regiões de contato entre o
verdadeiras ilhas de umidade dentro do contexto de
oceano e o continente. Nessas planícies formam-se os
semiaridez do nosso Estado.
manguezais, que são ecossistemas extremamente
importantes para a manutenção tanto da fauna como da
flora da região. Os manguezais funcionam como habitat
de inúmeros animais aquáticos e terrestres.
Nas planícies costeiras, além dos ecossistemas
manguezais aparecem ainda praias e dunas
configurando assim uma diversidade na paisagem muito
intensa.

Bloco-diagrama mostrando maciços residuais nas


proximidades da cidade de Fortaleza. Fonte: Atlas
Escolar do Ceará.
Foz do Rio Pacoti. Divisa dos municípios de
Fortaleza e Aquiraz. HIPSOMETRIA
PONTOS ALTITUDE LOCALIZAÇÃO
GLACÍS PRÉ-LITORÂNEOS / TABULEIROS
S. das Matas 1.154m Catunda
COSTEIROS
São relevos plano com trechos suavemente S. Olho D‘água 1.129m Monsenhor Tabosa
ondulado que acompanha toda a orla do Estado,
Pico Alto 1.114m Mulungu/Guaramiranga
localizando-se entre a planície costeira e a depressão
sertaneja. Apresentam extensão que podem chegar a Uruburetama 1.081m Itapipoca/Itapajé
atingir 60 Km de largura, sendo mais ampla próximo aos
vales do baixo Jaguaribe e do Rio Acaraú. São Fonte:IBGE-CE-1999.
constituídos por sedimentos areno-argilosos e arenosos
da Formação Barreiras (Plio-Quaternário), sobrepostos PLANALTOS SEDIMENTARES
ao embasamento cristalino e em pequenos trechos CHAPADA DO APODI
sobre rochas do Cretáceo.
Limite CE/RN. Apresenta altitudes modestas,
variando entre 100 e 200m. É constituída por rochas
sedimentares dos tipos calcário e arenito do Grupo
Apodi (Cretáceo). Não apresenta condições climáticas
úmidas e toda sua extensão está inserida no clima
semiárido.

Formação Barreiras em Canoa Quebrada, Aracati, litoral


Leste.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 111
Geografia e Estatística (IBGE), transformando-o em lei
pelo Congresso Nacional, a quem cabe legislar sobre o
assunto. Os piauienses, contudo, dizem ter direito a
incorporar terras que hoje pertencem ao Ceará, entre
eles distritos do município de Poranga.
O Diário do Nordeste ouviu os representantes
dos órgãos técnicos, IBGE e Instituto de Pesquisa e
Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), que estão
subsidiando os agentes políticos com os estudos
municipais. E constatou que, embora consolidados em
escutas às comunidades, os critérios técnicos não são
baseados em lei, o que solidifica a dúvida existente.
O chefe da divisão estadual do IBGE no Ceará,
Francisco Lopes, destaca que o grande ponto de
discórdia é um decreto ainda da época do Império que
determina um ponto específico da Serra da Ibiapaba
Imagem de Satélite da Chapada do Apodi, na divisa do
como marco divisório entre os dois estados. Regra na
Ceará com o Rio Grande do Norte.
qual se apega a Assembleia do Piauí para querer
incorporar territórios hoje cearenses. D.N. 26/01/2010.
PLANALTO DA IBIAPABA
Também chamado de Serra Grande ou Serra da CHAPADA DO ARARIPE
Ibiapaba, este relevo apresenta na realidade uma forma
Apresenta-se como uma superfície tabuliforme,
de cuesta. O relevo é dissimétrico e os elementos que o
com disposição leste-oeste de próximos 180 Km e
compõe são o reverso, inclinado para o oeste; a cornija, norte-sul de próximos 70Km. Situada na região Sul do
no topo; e a frente de declive acentuado, que compõe a Estado, esse relevo apresenta níveis altimétricos entre
vertente voltada para o leste. Suas altitudes giram em
850 e 900m. É formado por rochas sedimentares
torno de 900m registrando alguns poucos pontos com
pertencentes a Bacia Sedimentar do Araripe, do período
mais de 900m. Cretáceo. Aparecem inúmeras nascentes de água no
Vale do Cariri.
NOTÍCIAS DO CEARÁ
Diário do Nordeste – 26/01/2010 BLOCO DIAGRAMA DO SETOR LESTE DA BACIA
ESTUDOS TÉCNICOS NÃO SOLUCIONAM OS DO ARARIPE
LITÍGIOS

O imbróglio em que se transformou o problema


secular de litígio entre Ceará e Piauí parece ainda estar
longe do fim. Enquanto as lideranças políticas não Fonte: Neumann, 2001. In: Ceará: o novo olhar
chegam a um acordo depois de anunciarem que quase geográfico. As unidades morfo-estruturais do Ceará.
tudo estaria resolvido, os órgãos técnicos informam que Antonio Jeovah de Andrade Meireles. Fortaleza,
os parâmetros apresentados para a formação de um Demócrito Rocha, 2007.p. 157.
consenso são baseados em visitas às comunidades e
não possuem amparo em lei. Assim, a questão corre o
risco de ir parar no Supremo Tribunal Federal (STF) e DEPRESSÃO SERTANEJA
desencadear uma série de novas ações, visto que o Ocupa a maioria do território cearense. São
problema se repete em quase todos os locais de divisa áreas planas suavemente onduladas com altitudes
do Ceará com outros estados nordestinos. inferiores a 500m. Superfície de aplainamento em
Recentemente, as assembleias legislativas do condições de semiaridez onde predomina o
Ceará e do Piauí formaram comissões para atuarem em intemperismo físico resultando em áreas pediplanadas
conjunto no intuito de buscar solução para o problema, com relevos residuais tipo inselbergues, chamados de
porém o consenso buscado parece estar longe. O relevos residuais.
deputado piauiense Antônio Uchoa, presidente da As áreas de depressão sertaneja sofrem
comissão criada no legislativo daquele estado, declarou, períodos secos prolongados com elevada evaporação
nos últimos dias, que, na falta do acordo, o Piauí deveria hídrica, alternando períodos secos e chuvosos, como
entrar com uma ação no STF para incorporar territórios ocorre nas seguintes regiões: Inhamuns, Irauçuba,
que hoje pertencem ao Ceará. Canindé, Sertão Central e Médio Jaguaribe.
A ideia dos líderes políticos daqui era não mexer
nos territórios de nenhum dos dois estados, apenas
confirmando o marco utilizado pelo Instituto Brasileiro de
112 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA

Presença de Inselbergs na cidade de Quixadá, no


Imagem aérea do rio Acaraú na cidade de
Sertão Central.
Sobral.

HIDROGRAFIA
 Curu: A bacia do rio Curu ocupa uma área de
O Estado do Ceará, cuja característica aproximadamente 9.000 km² e é formado pelo rio Curu e
hidroclimática principal é a semiaridez e a consequente seus afluentes, destacando-se o riacho Maniçobinha na
intermitência de seus escoamentos hídricos superficiais margem esquerda e o rio Canindé na margem direita. O
é composto por sete bacias hidrográficas (Jaguaribe, rio Curu tem suas nascentes na serra do Machado e
Acaraú, Curu, Coreaú, Parnaíba, Metropolitana e Litoral) seus afluentes nascem nos maciços de Baturité e
cujas características iremos analisar abaixo: Uruburetama.
 Jaguaribe: É a maior bacia hidrográfica do  Coreaú: Drena uma área de aproximadamente
estado, ocupando aproximadamente 48% do território 10.500 km² das quais as de maior representatividade
cearense. O rio Jaguaribe é o maior curso de água do hídrica são as do rio Coreaú, que tem suas nascentes
estado e é o grande responsável pelo abastecimento de localizadas na cuesta da Ibiapaba. Vários são os açudes
boa parte da população cearense. O rio Jaguaribe tem construídos nesta bacia, destacando-se o Gangorra e o
suas nascentes na serra da Joaninha (Tauá), e percorre Angicos, localizados respectivamente nos municípios de
aproximadamente 600 km até desaguar no Oceano Granja e Coreaú.
Atlântico. Podemos dividir a bacia do Jaguaribe em três
 Metropolitana: São 16 sub-bacias
sub-bacias: Baixo Jaguaribe - Este trecho do rio
hidrográficas, que perfazem um total de 15.085 km² de
Jaguaribe possui aproximadamente 140 km de
área, sendo elas: São Gonçalo, Jereraú, Cauipe, Juá,
extensão, apresentando extensa planície aluvial
Ceará, Maranguape, Cocó, Coaçú, Pacoti, Catu,
resultante do alargamento do vale a jusante, e tem
Caponga Funda, Caponga Roseira, Malcozinhado,
como principal afluente o rio Palhano. Médio Jaguaribe
Choró, Uruaú e Pirangi. Os rios mais extensos (cujas
- Este trecho do rio Jaguaribe tem aproximadamente
bacias são maiores) são: Choró, com 200 km; Pirangi,
170 km de extensão, e seus principais afluentes são o
com 177,5 km; e Pacoti, com 112,5 km, todos em
rio Figueiredo e os riachos Manuel Dias Lopes e do
sentido sudoeste-nordeste.
Sangue. Alto Jaguaribe - O rio Jaguaribe é perenizado
pela vazão liberada pelo açude Orós, a montante da  Litoral: São cinco sub-bacias que drenam no
bacia, até a confluência com o açude Castanhão, o sentido sul-norte, desaguando no Atlântico. As principais
maior do Estado, pertencente a esta bacia. É a sub- bacias são as dos rios Aracatimirim, Aracatiaçú, Mundaú
bacia do rio Jaguaribe localizada a montante do açude e Trairi.
Orós (incluindo-o), no sudoeste do Ceará. O trecho do
rio Jaguaribe correspondente à bacia é de PORTOS, UMA REALIDADE NO DINAMISMO
aproximadamente 330 km de extensão, tendo como ECONÔMICO DO ESTADO
principais afluentes os seguintes rios e riachos: Devido ao litoral pouco recortado do estado do
Carrapateiras, Trici, Puiú, Jucá, Condado, Conceição, Ceará, os portos de maior importância são artificiais, o
Cariús e Trussu. Porto do Pecém e o Porto do Mucuripe. Portanto, a
 Parnaíba: Ocupa áreas dos estados do Ceará atracação dos navios é prejudicada e os portos sofrem
e Piauí. No nosso território, essa bacia ocupa uma área constantes processos de assoreamento. No momento, o
de aproximadamente 16.900 km², sendo formada pelas porto do Pecém já opera mais de 57% das exportações
bacias dos rios Poti e Macambira. É a única bacia do estado e 60,1% em tonelagem. O calado do porto é
hidrográfica que não faz parte totalmente do território de aproximadamente 15 metros, ou seja, levando em
cearense. consideração que o porto do Mucuripe possui apenas 10
 Acaraú: A bacia do rio Acaraú ocupa uma área metros de calado, 75% dos navios que atracam não
de aproximadamente 14.000 km². A nascente do rio poderiam vir para o estado, porque não poderiam
localiza-se na serra das Matas, no município de atracar no Mucuripe.
Monsenhor Tabosa. Esta bacia abarca importantes
açudes do estado como o Araras e o Ayres de Sousa,
respectivamente localizados nos municípios de Varjota e
Sobral.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 113

Vista do Açude Araras, da cidade de Varjota, região


Noroeste do Ceará.

CLIMA
Existe uma grande variação de pluviosidade no
Estado do Ceará. Nas áreas mais elevadas superam os
Visão da concentração industrial na área portuária do
1700 mm/ano (barlavento da Serra de Baturité e da
Mucuripe. Fonte: Atlas Escolar do Ceará.
Ibiapaba). No litoral oscilam entre 1000 e 1350 mm/ano.
No sertão variam entre 550 e 850 mm/ano podendo
DO TRABALHADOR À INTEGRAÇÃO atingir níveis inferiores como no Sertão dos Inhamuns e
Este canal que está sendo construído pela em Irauçuba. A irregularidade e a má distribuição
Secretaria de Recursos Hídricos é um eixo de também são características do clima do Estado. Chove
integração que trará água do açude Castanhão para a principalmente entre fevereiro e maio quando a CIT
região Metropolitana de Fortaleza e o Complexo (Convergência Intertropical) atua mais no território
Industrial e Portuário do Pecém, beneficiando as cearense. O clima absolutamente predominante é o
diversas comunidades ao longo do percurso. O canal semiárido, porém ocorrem ainda variações. Conforme
possui uma extensão total de 255 quilômetros, com mostra o mapa, o Estado mapa apresenta 5 variações
cinco metros de largura na base e oito entre as duas de clima, caracterizados por variações nas condições de
margens, e paredes com altura de três metros. Esta temperatura e pluviosidade: Clima Tropical subquente
canalização vai passar por 11 municípios dispostos úmido, Clima Tropical quente e úmido, Clima
entre a região Jaguaribana e a Grande Fortaleza, Tropical quente e subumido, Clima Tropical
trazendo água para múltiplos usos. O canal vai passar semiárido brando e Clima Tropical semiárido.
por Alto Santo e Jaguaribara, dois dos quatros  Clima Tropical Subquente úmido: Atua nas
municípios que o Castanhão abrange. Prossegue ainda áreas onde os índices pluviométricos superam os 1350
por Morada Nova, Russas, Ibicuitinga, Ocara, Cascavel, mm/ano e as temperaturas médias não ultrapassam os
Pacajus, Horizonte, Itaitinga e Pacatuba. A obra está 22°C. Este tipo de clima é característico das áreas mais
orçada em 300 milhões de dólares. Segundo o elevadas dos Estado como os municípios que estão no
secretário titular da SRH do Ceará, Edinardo Rodrigues, Maciço de Baturité e na Cuesta da Ibiapaba.
o canal depois de construído abastecerá a Grande  Clima Tropical quente e úmido: Localizado
Fortaleza por aproximadamente 30 anos. nas regiões serranas, onde os índices pluviométricos
são os maiores do Estado chegando por muitas vezes a
EIXOS DA INTEGRAÇÃO superar os 1350 mm/ano e as temperaturas médias
chegam a ultrapassar os 22°C. Este tipo climático
Açude Castanhão ao Açude Curral Velho – 54,7 Km
predomina nas Serras de Uruburetama, Meruoca,
Açude Curral Velho à Serra do Félix – 45,9 Km Baturité, Ibiapaba e em áreas serranas de menor
Serra do Félix ao Açude Pacajus – 66,3 Km altitude como em Maranguape e Pacatuba.
Açude Pacajus ao Açude Gavião – 33,9 Km  Clima Tropical quente subumido: Ocorre no
Açude Gavião ao Pecém – 55,1 Km reverso da Ibiapaba, na Chapada do Araripe, nas Serras
do Pereiro, Uruburetama, Meruoca e em grande parte
Total – 255,9 Km do litoral, incluindo a capital Fortaleza. Os índices
pluviométricos variam em torno de 1000 a 1350 mm
anuais e as temperaturas médias são maiores que
PRINCIPAIS AÇÚDES DO ESTADO
24°C.
AÇUDE MUNICÍPIO CAPACIDADE (m³)  Clima Tropical semiárido brando: Tem sua
área de autuação na parte da região litorânea e nas
Castanhão Alto Santo 6.700.000.000
áreas próximas ao litoral mais rebaixadas no entorno
Orós Orós 1.940.000.000 das serras. Os índices pluviométricos variam entre 850
mm e 1000 mm/ano a e as médias térmicas variam
Banabuiú Banabuiú 1.700.000.000 entre 24° e 26°C, onde a ocorrência dos ventos alísios e
Araras Varjota 891.000.000 as brisas marítimas e terrestres amenizam a
temperatura e formam uma sensação térmicas menos
Fonte: Programa de Gerenciamento das Águas desgastante.
territoriais GOGERH/DNOCS, 1999.  Clima Tropical semiárido: Ocupa a maior
parte do Estado e principalmente a região interiorana,
onde o índice pluviométrico e inferior a 850mm/ano e as
temperaturas médias sempre superam os 26°C.
114 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
PRECIPITAÇÕES
Nas áreas mais elevadas do Estado do Ceará, os
índices pluviométricos são mais elevados, alcançando
cerca de 1700mm/ano.(Baturité, Mulungu, Viçosa do
Ceará, São Benedito, etc.) Os ventos úmidos litorâneos
ao se chocarem com a ―barreira‖ formada pelas
montanhas, são forçados a subir, formando nuvens que
dão origem às chuvas orográficas ou chuvas de relevo.

CHUVAS OROGRÁFICAS OU DE RELEVO


As áreas montanhosas, além de barrearem a
penetração de massas de ar para o continente,
provocam ascensão do ar úmido dos oceanos. À
medida que aumenta a altitude, há um maior Ocupa maior parte do território cearense
resfriamento que provoca a condensação do vapor ocorrendo nas áreas de predomínio do clima semi-árido,
d‟água que se precipita nas encostas. Dependendo caracterizado pela irregularidade e escassez das
da altitude de elevação, as chuvas são barradas pelo chuvas, elevadas temperaturas e altas taxas de
relevo, pois não conseguem ultrapassar esta evaporação. Devido a tais condições, as espécies da
barreira natural. Desse modo, no outro flanco não caatinga perdem as folhas, durante o período seco,
ocorrem precipitações, sendo essas áreas muito portanto são caducifólias. Apresenta ainda variações
secas, e até podem formar desertos, e áreas dos padrões fisionômicos, destacando-se a caatinga
extremamente secas como, por exemplo, a relação arbórea e a caatinga arbustiva. As principais espécies
existente entre a serra de Uruburetama e a cidade de são: jurema, marmeleiro, xiquexique, mandacaru e
Irauçuba. Fonte: Adaptação, COIMBRA, Pedro. Uma facheiro.
análise do Espaço Geográfico. Ed. Harbra, 2002.
No litoral, os índices pluviométricos também são MATA ÚMIDA
elevados, oscilando entre 1000 e 1350 mm/ano. A Localiza-se nas áreas de maiores precipitações,
proximidade do oceano favorece a maior umidade das como nas serras úmidas de Baturité e Maranguape,
áreas litorâneas. Já no sertão, que abrange a maior onde ocorrem as chuvas orográficas. As temperaturas
parte do território os índices variam entre 550 e 850 são amenas devido à influência da altitude. Essa
mm/ano, podendo ser menores que 550 mm em cobertura vegetal é formada pro uma grande variedade
algumas regiões como, por exemplo, em Irauçuba. Além de espécies, onde dominam árvores que alcançam até
de uma grande variedade espacial a pluviosidade no 30 metros, onde predominam as plantas latifoliadas e
Estado do Ceará é muito variável no decorrer do ano, subperenefólias. São espécies desse substrato o pau
apresentando um período curto chuvoso (quando o d‘arco amarelo, ingá, jatobá e samambaiais.
Estado fica sob a influência da Zona de Convergência
Intertropical).
MATA SECA
Encontra-se nas áreas de altitudes mais baixas
ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL
próximas as matas úmidas. Esta mata aparece nas
É o principal sistema atmosférico causador de serras de Baturité, Meruoca, Uruburetama, Araripe e
precipitações. A Zona de Convergência Intertropical se etc. A maioria das árvores é de grande porte, latifoliadas
forma na confluência dos ventos alísios de NE e SE, e subcaducifólias. As espécies mais importantes são:
onde ocorre ascendência do ar, formação de pau d‘arco roxo, angico e timbaúba.
nebulosidade e muita chuva. Esta zona se localiza
próximo à linha do Equador e no transcorrer do ano
migra para o Hemisfério Norte e Hemisfério Sul, CARRASCO
atingindo sua posição mais meridional no verão/outono, Denominada de Carrasco, este complexo
quando ocorrem as maiores precipitações no Estado, vegetacional ocorre no Planalto da Ibiapaba e na
período este denominado popularmente de inverno. Chapada do Araripe. Trata-se de um complexo arbustivo
Fonte: SILVA, José Borzacchiello. Ed.Grafset, com uma mistura de espécies de Caatinga e Cerrado.
2004.2ªEd. Os principais exemplares são: mororó, freijó, murici e
câmara.
VEGETAÇÃO
A semiaridez do clima cearense é visível na CERRADÃO
paisagem vegetal das caatingas que recobrem quase Desenvolve-se na Chapada do Araripe nas áreas
todo o território do estado. As caatingas são mais elevadas. É uma vegetação florestal com caules
características dos sertões, porém, avançam pelo litoral, tortuosos e folhas largas. A faveira, o pequi, o cajuí são
com aspectos variados, dependendo das condições as espécies vegetais desse tipo de vegetação.
edafoclimáticas. Além das caatingas, destacam-se na
vegetação do Estado do Ceará, as seguintes formações:
MATA CILIAR
Mata úmida, Mata Seca, Carrasco, Cerradão, Mata
Ciliar, Vegetação de Mangue e Complexo As espécies vegetais que compõem a mata ciliar
vegetacional da Zona Litorânea. localizam-se nas planícies fluviais dos baixos cursos dos
rios mais importantes do estado do Ceará.

CAATINGA
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 115

FORMAÇÃO E OCUPAÇÃO DO ESPAÇO CEARENSE


Em 1534, o reino português – buscando efetivar
a colonização do território brasileiro – resolveu dividir
sua colônia em faixas territoriais que seriam entregues
aos donatários. A Capitania do Siará Grande foi
entregue à Antônio Cardozo de Barros, porém, este
donatário não se preocupou em colonizá-la, pois o
Ceará não oferecia riquezas o bastante.

CAPITANIAS HEREDITÁRIAS

VEGETAÇÃO DE MANGUE
A vegetação de mangue estende-se pelas áreas
de inundáveis das planícies flúvio-marinhas. No Estado
do Ceará ocorrem cinco tipos de mangues:
 Siriúba e Canoé -> Mangues Pretos.
 Vermelho ou Sapateiro.
 Branco ou Rajadinho. -> Mangues Verdadeiros.
 Ratinho ou Botão.

SOLOS
Nas depressões sertanejas os solos pouco
evoluídos e pedregosos, pouco profundos, alternando O processo de ocupação do território cearense
com rasos e, em algumas áreas profundos. Nos insere-se dentro do processo de colonização
maciços residuais úmidos e nos planaltos sedimentares, portuguesa, porém, de forma tardia se comparado a
úmidos os solos são mais evoluídos. Mesmo mais ocupação dos territórios de Pernambuco e Bahia. A
favoráveis, a declividade do relevo é fator restritivo, pois pecuária teve importância fundamental dentro do
impõe limitações. O manejo inadequado acelera os contexto cearense, onde as fazendas de gado postadas
processos de degradação dos mesmos, como a nas margens dos rios tem um destaque acentuado no
desertificação. nosso processo de formação.
Acompanhando os vales dos rios, baianos e
NOTÍCIAS SOBRE O CEARÁ pernambucanos viriam formar as correntes
Fortaleza sediou a II Conferência exploratórias como a corrente do sertão de dentro,
Internacional sobre Clima e Sustentabilidade dominada pelos baianos e a do sertão de fora,
formada pelos pernambucanos”. Capistrano de
Abreu. Capítulos da História Colonial, 1976.

Além da pecuária o cultivo de algodão é


imprescindível para entendermos como essa ocupação
ocorreu. As tentativas iniciais de ocupação do Ceará
deram-se a partir do século XVII, com as expedições de
Pero Coelho, em 1603 e Martim Soares Moreno em
MAPA DA DESERTIFICAÇÃO DO CEARÁ 1612, as duas com o objetivo de defender o território
cearense contra os ataques dos invasores holandeses.
Mathias Becekt, fundou em 1649, nas margens do
riacho Pajeú o forte Schonneborch, que passou a
chamar-se Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção
quando em 1654 os portugueses expulsaram os
holandeses desta região. Essa ―Fortaleza‖ vai dar início
a ocupação de forma efetiva da capital do estado nos
dias atuais.
O fim do século XVIII mostra que boa parte do
território cearense já encontrava-se ocupado pelos
colonizadores através da concessão de sesmaria, como
na região do vale do Jaguaribe e o vale do rio Salgado,
além do sertão dos Inhamuns. O estado tinha ligação
direta com as cidades de Olinda, Igaraçu, Goiana e
Recife, todas em Pernambuco, devido ao comércio
ligado a atividade pecuarista.
A fundação das primieras vilas e cidades do
estado tinha como objetivo as atividades militar,
religiosa e administrativa. Até o fim do século XVIII o
Fonte: Diário do Nordeste. Ceará contava apenas com 12 vilas, entre elas algumas
apresentavam destaque: Aracati (1748); Icó (1738),
116 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA
Sobral (1773) e Aquiraz (1713). Porém, vilas como MALHA URBANA CEARENSE (2009)
Aquiraz apresentaram um desenvolvimento lento e só
foram elevadas à condição de cidade no século XX.
O eixo Aracati-Icó é considerado por diversos
historiadores como a principal área econômica do
estado durante o século XVIII e a primeira metade do
século XIX, daí em diante o algodão vai ter presença
fundamental no desenrolar da economia cearense. A
exportação do algodão vai ter reflexos também na
mudança da hierarquia urbana cearense. A cidade de
Fortaleza passa a ser o centro exportador do produto
aumentando assim o seu raio de influência para além
das cidades de Baturité e Uruburetama. As cidades do
interior do estado passaram a enviar algodão para
Fortaleza, fazendo com que a mesma desbancasse a
cidade de Aracati, até então a principal cidade do
estado.
De uma forma mais abrangente, podemos
afirmar que o desenvolvimento de atividades
econômicas ligadas ao setor primário da economia e a
construção de importantes ferrovias a partir de 1800
resultaram no crescimentos dos centros urbanos
cearenses.

Fonte: http://www.geografia.ufc.br/Image2.gif

REESTRUTURAÇÃO SOCIO-ESPACIAL PÓS-2ª


GUERRA MUNDIAL
Os primeiros incentivos a industrialização do
estado do Ceará ocorreram na década de 60 com a
Os casarões fazem parte da paisagem de Icó, criação da SUDENE (Superintendência de
evidenciando sua importância no passado do estado do Desenvolvimento do Nordeste). A reestruturação socio-
Ceará. Fonte: www.monumenta.gov.br espacial do estado do Ceará está inserida no contexto
de modernidade do sistema capitalista, onde após a
A partir dos anos 50 do século passado o estado Segunda Grande Guerra, a estagnação do algodão leva
passa por diversas transformações sociais e o estado a essa mudança em sua estrutura.
econômicas que vão resultar em diversas mudanças no Já na segunda metade do século XX, a
contexto cearense. As elevadas taxas de crescimento economia brasileira atravessou um período de intensa
da população e principalmente da população urbana vão expansão e diversificação da indústria. A causa disso foi
representar um marco na transição rural-urbano para o provocada por uma política governamental de
estado. substituição de importações. Nesse período, o Ceará
sofreu mudanças importantes, no plano institucional, no
sentido de elevar suas taxas de crescimento econômico.
FRAGMENTAÇÃO E DIVISÃO POLÍTICA DO ESTADO
Pode-se destacar com isso a criação do Banco
Em 1823, o Ceará possuía 18 municípios que
do Nordeste do Brasil (1952), a Universidade Federal do
com o passar dos anos transformaram-se em 184 até os
Ceará (1955), a Superintendência do Desenvolvimento
dias atuais. Os desmembramentos ocorridos ao longo
do Nordeste, SUDENE (1959), a conclusão do porto do
da história do estado, decorrentes de amancipações
Mucuripe (1965) e o advento da energia de Paulo
políticas resultou em fragmentação do estado. As
Afonso (1965).
diferenças entre as unidades territoriais podem ser
representadas pela maior ou menor disputa pelo poder O Estado é o principal agente desta mudança,
político da área em questão. Existem no nosso estado que se manifestará de forma tardia, porém, a
municípios minúsculos como Pacujá (65,8km²), Eusébio necessidade de desenvolver a indústria e o setor de
(78,8km²) e municípios com uma extensão territorial serviços é uma das prioridades de governos como o de
elevada como nos casos de Santa Quitéria (4.270km²) e Parsifal Barroso (1958) e Virgílio Távora (1962). Através
Quixeramobim (3.957,4km²). A avaliação do território da absorção de novas técnicas e tecnologias já em uso
cearense e das alterações na malha urbana do estado em países tidos como desenvolvidos, a indústria
apresentam uma próxima relação com o desenrolar da cearense e demais ramos produtivos passam a ganhar
economia cearense, marcado pela criação de gado, força na economia regional e nacional.
cultura do algodão, extração e exploração da carnaúba. Neste período iniciava-se o processo de
descentralização da indústria nacional. A grande Recife
e Salvador foram as primeiras áreas do Nordeste
beneficiadas. Apenas na década de 1970, mais
precisamente em 1972 com a implantação do Distrito
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 117
Industrial de Maracanaú é que pode-se falar na
efetivação da industrialização cearense.
O ano de 1986 pode ser considerado um marco
na história recente do estado do Ceará. Naquele ano o
jovem empresário e ex-presidente do Centro Industrial
do Ceará (CIC), Tasso Jereissati, é eleito governador,
em uma coligação que envolvia partidos de oposição e
esquerda. Mais do que uma simples alternância, a
vitória de Tasso sobre os ―coronéis‖ inaugurou um novo
ciclo de poder (neocoronelismo), cuja pretensão foi
inserir o Ceará na modernidade política, industrial e
econômica. O então jovem governador insere o estado
num mito de modernidade com a prática de diversas
medidas neoliberais, como austeridade fiscal e guerra
fiscal, atraindo novas indústrias e beneficiando os
industriais do Ceará. Tabuleiro irrigado de Russas.

PECUÁRIA
O binômio gado-algodão foi, historicamente, o
principal fator econômico do Estado. A pecuária bovina
extensiva ainda é bastante praticada com os maiores
efetivos no Sertão Central e Inhamuns, e no corredor
Ex-Senador Tasso Jereissati. Sobral-Santa Quitéria-Canindé. A criação de ovinos e
caprinos (adaptados ao semiárido) é importante como
ATIVIDADES ECONÔMICAS fonte de proteína no sertão e melhora a qualidade de
Predominam as atividades industriais e os vida do rebanho estadual.
serviços, sendo o setor secundário o que apresenta o “O binômio gado-algodão vai ter em
maior crescimento. Fortaleza seu grande centro, assim como a cana-de-
açúcar teve o Crato e carne do sol teve Aracati”
SILVA, José B. da. Os incomodados não se retiram:
PARTICIPAÇÃO DOS SETORES ECONÔMICOS NA uma análise dos movimentos sociais em Fortaleza.,
COMPOSIÇÃO DO PIB (EM %) 1992.
Setores 1970 1980 1990 2000
Agropecuária 15,78 9,42 9,65 5,58 TURISMO
A diversidade da paisagem do Ceará é um forte
Indústria 18,57 25,44 29,54 41,15
atrativo para a atividade turística no Estado. Sua
Serviços 65,65 65,14 60,92 53,27 localização privilegiada e suas belas praias garantem
dias ensolarados quase que o ano todo. O turismo é
Fonte: IPLANCE.
uma atividade extremamente lucrativa e crescente nos
dias atuais. Vários equipamentos culturais foram
AGRICULTURA construídos no Estado visando a atração de turistas, são
A maior parte da população agrícola vive em exemplos disso o Centro Dragão do Mar de Arte e
pequenas propriedades agrícolas, que em geral Cultura e o seu entorno a famosa Praia de Iracema, o
possuem caráter subsistencial e utilizam técnicas Mercado Central e a feirinha da Beira-Mar, entre outros.
arcaicas de produção. A agricultura e a pecuária
juntamente com as demais atividades primárias ocupam
mais de um terço da mão-de-obra do estado. No caso
da agricultura que sozinha ocupa 22% da mão-de-obra
sua representatividade no PNB do Estado é de menos
de 10% o que é expedido pelo seu caráter ainda
subsistencial e tradicional. Após a decadência do
algodão, a castanha de caju configura-se como o
principal produto de exportação do estado. Os produtos
ligados ao setor de fruticultura e floricultura se
consolidam na economia cearense. Indicam que a
agricultura, apesar de sua pequena participação na
Beach Park. Um dos maiores parques aquáticos
composição do PIB estadual, dá lugar a um setor
do Brasil.
moderno, dinâmico e competitivo representado pelos
projetos de irrigação, novas áreas de produção,
inovação no processo de produção. POPULAÇÃO
O Ceará de acordo com o censo de 2010 conta
com 8.217.085 habitantes, sendo terceiro mais populoso
da região Nordeste sendo superado apenas por Bahia e
Pernambuco e o oitavo do Brasil.
118 Prof. Italo Trigueiro GEOGRAFIA

ESTADOS POP.RESIDENTE Observa-se, atualmente, significativa mudança


no perfil da estrutura etária da população cearense.
São Paulo 41.055.734 Embora a base da pirâmide ainda seja larga, cerca de
Minas Gerais 19.479.356 45% de jovens, ela vem diminuindo em função da queda
da taxa de natalidade. Começa a ocorrer a transição
Rio de Janeiro 15.561.720 demográfica (queda da mortalidade infantil e da
Bahia 13.950.146 natalidade com o aumento da esperança de vida e o
consequente envelhecimento da população). O sexo
Rio Grande do Sul 10.963.219 feminino predomina entre os adultos.
Paraná 10.387.378
Pernambuco 8.502.603 EVOLUÇÃO DA PIRÂMIDE ETÁRIA DO CEARÁ 1970,
1980, 19991 e 2000.
Ceará 8.217.085
Pará 7.110.465
Maranhão 6.184.538
Fonte: IBGE
A RMF (Região Metropolitana de Fortaleza), a
RMC (Região Metropolitana do Cariri) e o Noroeste
(Área de Sobral) apresentam as maiores concentrações
populacionais. As mesorregiões do Jaguaribe e o
Centro-Sul são as mais vazias, podemos descrever o
Estado do Ceará como sendo um Estado populoso com
grandes vazios demográficos.
Fortaleza é a quinta maior cidade em termos
populacionais do Brasil, superada por São Paulo, Rio de
Janeiro, Salvador e Brasília, e a segunda maior da
região Nordeste atrás somente de Salvador. Junto com
as outras 14 cidades (Horizonte, Pacajus, Pacatuba,
Chorozinho, São Gonçalo do Amarante, Aquiraz,
Eusébio, Itaitinga, Guaiúba, Maranguape, Maracanaú,
Caucaia, Cascavel e Pindoretama) a Região
Metropolitana Fortaleza chega a ter mais de 3.500.000
milhões de habitantes de acordo com os últimos censos.
MUNICÍPIOS POPULAÇÃO
Fortaleza 2.505.552
Caucaia 334.364
Aquiraz 71.400
Maranguape 110.523
Pacatuba 71.839
Maracanaú 201.693
Guaiúba 23.853
Eusébio 41.307
Itaitinga 32.678
São Gonçalo do Amarante 42.962
Horizonte 54.362
Pacajus 59.689
Chorozinho 18.759
Pindoretama 18.322
Cascavel 67.956
Total 3.655.259
Censo, 2010.

A densidade demográfica do Estado é de 55,2


hab/Km² (2010). Em Fortaleza se aproxima dos 8.000
hab/km² enquanto em alguns municípios é inferior a 15
hab/km². Dos municípios mais populosos do estado, 9
estão na Região Metropolitana.
GEOGRAFIA Prof. Italo Trigueiro 119

Fonte: Atlas Escolar do Ceará, 2004.


Fonte: IPECE.
URBANIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL
O estado do Ceará registra hoje, índices de A cidade de Fortaleza apresenta feições de
aproximadamente 75% de urbanização, índice este cidade moderna em função de grandes obras de infra-
menor que o nacional que é de aproximadamente 85%. estrutura realizadas e em realização como o Aeroporto
A população do estado do Ceará passou a ter maioria Internacional Pinto Martins, a ponte sobre o rio Ceará, a
urbana a partir dos anos 80, evidenciando um atraso de Via Estruturante em direção ao poente, a duplicação da
aproximadamente 40 anos em relação a urbanização CE-040(Sol nascente) até Aquiraz, o Complexo
nacional. Industrial e Portuário do Pecém com previsão de uma
Refinaria de petróleo, uma siderúrgica e uma Usina
termoelétrica, e a construção do METROFOR. A
influência de Fortaleza.

REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI

A Região do Cariri se destaca pela presença de


três municípios polos que constituem os Centros
Secundários (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha). Os
municípios limítrofes a esse eixo são Caririaçu, Farias
Brito, Jardim, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do
Cariri.
Os critérios utilizados para seleção dessa região
foram a forte concentração de investimentos públicos;
as atividades produtivas competitivas para o Estado;
seu elevado poder de atração de investimentos; a
geração de empregos formais; a capacidade de
REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA alavancar o desenvolvimento endógeno da região,
Quando criada no ano de 1974, a RMF (Região estimulando as vantagens comparativas e competitivas
Metropolitana de Fortaleza) contava apenas com 5 regionais; as atividades produtivas com características
municípios (Fortaleza, Aquiraz, Pacatuba, Maranguape não restritas a um único município; e, o processo de
e Caucaia). No ano de 1983 o distrito de Maracanaú polarização regional constituído por mais de um
emancipou-se de Maranguape e passou a fazer parte da município. Fonte: SITE DA SECRETARIA DAS
RMF, Eusébio seguiu o exemplo de Maracanaú CIDADES
emancipou-se de Aquiraz no ano de 1987. As últimas
adesões a RMF foram das cidades de Pindoretama e
Cascavel, formando hoje um conjunto de 15 municípios.
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