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O Mandarim Fi-Xú
Xin-Xin, o Criado Chinês (Vestido à chinês pobre, entra com passo miudinho e com as
mãos metidas nas mangas do quimono1. Faz vénias a torto e a direito.) – Excelentíssimos,
preclaríssimos2, ilustríssimos e veneradíssimos3 senhores! Estamos no Reino do Sol
Poente. Quem cá manda é o velho Mandarim Fi-Xú. Aqui, as pessoas andam muito tristes
porque a vida é sempre igual e nada pode mudar. No dicionário do reino, foram riscadas as
palavras: criar, inventar, imaginar e sonhar. Ai de quem ouse modificar o que quer que seja.
Quem o fizer, será punido, severamente, pelas terríveis leis do “Está Quieto”, do “Não
Mexas em Nada”, do “Deixa-te Disso”.
Mandarim Fi-Xú (Entra majestosamente. Vem vestido à chinês rico. Sobe a escadaria e
vai sentar-se no trono.)
Nun-Ta-Turo, o Espião Sombra (Faz várias vénias.) – Psst! Psst! Saiba o digníssimo
Mandarim que trago novas do inimigo. Disfarcei-me na sombra do sol e consegui entrar no
laboratório do Sábio Mi-Hú-Dô!
Nun-Ta-Turo – Quer mesmo que eu diga? Então, lá vai! No Reino do Sol Nascente estão
a inventar... uma Roda Quadrada!
Mandarim – O quê? Roda Quadrada!? Água! Terra! Fogo! Ar! Vinde em meu auxílio! Uma
Roda Quadrada? Ai... que não estou bom! Uma Roda Quadrada? (Dá-lhe um chilique4.)
Sábio – E de que maneira! Com este invento, acabaram-se os furos nos pneus e os
automóveis andarão pelo ar!
Rainha – Parabéns, Sábio, assim é que deve ser! São as boas invenções que fazem o
mundo girar para a frente. A imaginação é o sol da vida!
José Vaz, O Mandarim Fi-Xú, Vila Nova de Gaia, Edições Gailivro, 2000, pp. 9-19 (texto com supressões)
Vocabulário
1
quimono – túnica tradicional japonesa; 2 preclaríssimos – famosos;
3
veneradíssimos – muito respeitados; 4 chilique – desmaio; 5 colérico – furioso.