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e territórios
Rogério Haesbaert
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4 Moraes (2013: 12) fala que “um ecletismo genérico permeia toda a sua produção”
e que há uma constante “convivência de posturas metodológicas díspares”, “varieda-
de de influências” esta que é defendida pelo próprio autor.
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5 Sobre essa sinonímia problemática entre território e espaço ele também afirma:
“Na verdade eu renunciei à busca dessa distinção entre espaço e território. […] Eu
uso um ou outro, alternativamente, definindo antes o que eu quero dizer com cada
um deles” (Santos, 2000: 26).
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6 A partir daí ele identifica diversas características — os espaços dos “países sub-
desenvolvidos” seria derivado [na associação com ‘uma vontade longínqua’], aberto
[desocupado ou desprezado], seletivo, descontínuo/fracionado, menos fluido, mais
instável e diferenciado (no jogo entre “tempos externos” e “tempos internos”).
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Santos expressa aqui um certo titubeio que permeia sua obra, entre o
território como espaço político do Estado-nação e a leitura mais am-
pla que envolve todo o espaço apropriado, “usado”. Em diversas ocasi-
ões ele defende a dupla conotação do território não somente como re-
curso, mais funcional, mas também como abrigo (comportando ainda
“uma parcela de emoção”), sem, entretanto, explicitar a origem dessa
caracterização na obra do geógrafo francês Jean Gottman (1973).
Essa visão ampla de território, ao mesmo tempo vinculada à fun-
cionalidade material econômico-política e aos referenciais simbólicos
de uma cultura, de alguma forma é uma marca do pensamento latino-
-americano sobre o tema, expressando práticas territoriais densas, so-
bretudo aquelas vivenciadas pelos chamados povos originários. Essa
abordagem será ainda mais enfatizada em obras como as de Carlos
Walter Porto-Gonçalves e a minha própria, analisadas a seguir.
Carlos Walter Porto-Gonçalves7 é outro geógrafo brasileiro que
tem dado uma relevante contribuição ao debate territorial, com re-
percussões em toda a América Latina, principalmente pelo seu en-
volvimento mais direto com diferentes movimentos sociais de re-
sistência (ou de r-existência, como ele propõe) e com o chamado
pensamento decolonial, através do diálogo com autores como Aníbal
Quijano, Walter Mignolo, Edgardo Lander, Enrique Leff e Boaventu-
ra de Sousa Santos.
A obra de Porto-Gonçalves não tem uma proposta de fundamen-
tação teórico-sistemática, como a de Milton Santos, mas, por outro
lado, aproxima-se da realidade das lutas sociais e, com isso, do ter-
ritório — e dos processos de des-territorialização — como categoria
da prática, através de um olhar mais atento para sua utilização no
cotidiano desses movimentos de resistência/r-existência.
Provavelmente, em grande parte por estar envolvido com essas
lutas, ele também expande a concepção de território, que se aproxima
assim da de espaço geográfico, embora mantendo sua matriz política,
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mente pode viver sem dominação”. Num diálogo com as lutas concre-
tas pelo território, mais especificamente em relação ao povo miskito,
na Nicarágua, ele afirma:
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O território não deve ser visto desde uma concepção positivista, como
faz o olhar ocidental, entendendo a terra em medições concretas,
como mais ou menos hectares, mas sim como um espaço vital integral
no qual estamos relacionados com os demais elementos do entorno
natural e espiritual, e onde tem grande relevância a espiritualidade
tanto de nossos ancestrais quanto dos nguen mapu, que no fundo são
considerados vitais, já que nos outorgam um vínculo [arraigo] com
nosso passado, com um território, com uma linhagem, com uma his-
tória comum. Isso entendemos como o nag mapu, o território do meio
[de en medio], no qual habitamos todos os seres vivos. (Llaitul e Arra-
te, 2014: 48, tradução livre)
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profundo, “‘man ples’ é também o verdadeiro homem, […] aquele que retém sua
completa identidade”, suas raízes (inclusive — e talvez sobretudo — com o território)
(Bonnemaison, 1984: 127).
11 Identifico essas “armadilhas” em referência “aos grandes debates filosóficos e/
ou científicos em torno de dualismos bem conhecidos, como aqueles entre espaço e
tempo […], material e ideal […], teoria e prática, sujeito e objeto, indivíduo e grupo
social e fixação e mobilidade” (Haesbaert, 2016: 20-21). A partir daí abordei as se-
guintes “armadilhas”: “do ‘território deshistoricizado/naturalizado (o “território sem
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12 Para Chávez (2007) “a geografia […] tem um peso muito grande […], o esquema
geográfico da geometria de poder ou geopolítico intenso que herdamos […] do século
XIX, está intacto com algumas pequenas mudanças […]” (Chávez, 2007: 4).
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BIBLIOGRAFIA
Affonso, S. 2016 O planejamento regional brasileiro pós-constituição
federal de 1988 (São Paulo: Annablume).
Bonnemaison, J. 1984 “The tree and the canoe: roots and mobility in
Vanuatu societies” em Peasant Studies, Vol. 25, N° 2, outubro.
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